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A coragem da verdade

Helton Adverse

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Servindo-me do título do último curso que Foucault ministrou no Collège de France, pretendo examinar a função política da verdade, levando em consideração duas capacidades humanas: a memória e o pensamento. Ambas exigem de nós a virtude da coragem quando são ameaçadas pelo uso sistemático da mentira e pela ideologia. Mais precisamente, estamos diante de um novo sentido político da virtude da coragem. Tradicionalmente, desde Platão e Aristóteles, a coragem é identificada como uma virtude indispensável à vida política, seja porque corresponde à firme adesão aos valores da cidade, seja porque exigem a superação do interesse individual em favor do bem comum. Mais tarde, no Renascimento, Maquiavel também inclui a coragem entre as qualidades indispensáveis ao agente político, integrando o que ele denominava de virtù. Na contemporaneidade, quando observamos uma profunda mudança no espaço político e nas relações de poder, a coragem continua sendo necessária à vida política, mas se manifesta agora como disposição a conservar a faculdade de pensar em um mundo onde a superficialidade, os clichés e a ignorância querem ocupar o lugar da reflexão, e a mentira quer ocupar o lugar da realidade.

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