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Figurações contemporâneas do humano antropoceno e inteligência artificial

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Solidão e coragem

Solidão e coragem

Marcelo Jasmin

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Dentre os muitos horizontes de expectativa que podemos observar nesta década do século XXI, dois deles trazem perspectivas inovadoras que alteram, substancialmente, as tradicionais figurações modernas do humano. De um ponto de vista bastante otimista, ecomodernistas e transhumanistas acreditam que o futuro será povoado por uma espécie de humanos mais racionais, eficientes, capazes de moldar os seus destinos e os do planeta a partir do desenvolvimento tecnológico promissor. No primeiro caso, dos ecomodernistas e assemelhados, trata-se da continuidade da crença moderna e iluminista do progresso humano, especialmente marcada pelo crescente e interminável domínio da razão humana sobre a natureza, aí incluídas correções de rumo das mazelas das quais nos tornamos conscientes pela ciência das mudanças climáticas e do aquecimento global. No segundo caso, transhumanistas imaginam que os humanos passarão por um upgrade de suas capacidades até aqui conhecidas, pela superação dos limites biológicos do corpo tal como tradicionalmente concebido, através da introdução de próteses e aditivos cibernéticos que permitiriam à espécie descolar-se definitivamente de suas limitações terrenas e materiais.

Em direção inversa, tanto no campo das mudanças climáticas quanto naquele da inteligência artificial, outros horizontes projetam catástrofes climáticas irreversíveis e a subordinação dos membros da espécie à hybris derivada da potência antropogênica na alteração dos ciclos de serviço do planeta ou às máquinas cuja capacidade de autoaprendizagem ultrapassa, em muito, qualquer inteligência humana. O conceito de antropoceno parece implicar, em boa parte de suas versões menos otimistas, a inocuidade da capacidade racional que a humanidade teria demonstrado, historicamente, até então, para resolver os dilemas e obstáculos criados pelo ecúmeno ou por ela mesma. A inteligência artificial, no

campo do deep learning, parece apontar para a possibilidade da transformação do humano de agente em paciente das rotinas autoprogressivas das máquinas de alto desempenho e com extraordinária capacidade de processamento.

Interessa examinar como esses diversos horizontes de expectativas observáveis no mundo contemporâneo concebem o humano e como tais figurações se relacionam, continuam ou se afastam das imagens da humanidade associadas à modernidade ocidental.

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