Revista J.P | Edição 155

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DE CONVERSA EM CONVERSA POR ANTONIO BIVAR

MITO E FAMA Ser mito não é para qualquer um, defende nosso colunista neste mês. Aqui, uma reflexão sobre os verdadeiros mitos pelo mundo

N

o dicionário, a palavra “mito”, substantivo masculino, tem uma vastidão de significados. Aqui me detenho a um deles: o “personagem real exagerado pela imaginação popular”. Mito é o povo que cria. Mito é a torcida popular. Na Inglaterra, em Oxford, na segunda década do século passado, dois futuros gigantes da literatura, J. R. R. Tolkien e C. S. Lewis, discutiam o mito. Lewis entendia que mito era mentira, falso. Tolkien, também filólogo, defendia e explicava que a mentira estava no exagero, mas que no cerne, na fundação, estava a verdade do mito. Jesus, por exemplo, foi transformado em mito. A Bíblia, em si, o Velho Testamento, principalmente, é um livro de mitos. Deus não existiria se o homem não o tivesse chamado assim. Uma rosa não seria uma rosa, se o homem não tivesse lhe dado esse nome. Uma estrela não seria uma estrela, e assim por diante. Mas, por trás do homem que engrandece o incrível, o fantástico, o extraordinário, está o mito. Que não seria mi-

tificado, não fosse incrível, fantástico, extraordinário. Simples assim. Mês passado perdemos João Gilberto. Não fosse ele teria existido a bossa nova? Não tivesse Ronaldo Bôscoli ter dado o nome “bossa nova” ao movimento, a batida minimalista inventada por João Gilberto sem dúvida existiria, mas um movimento não se faz sozinho, assim como uma só andorinha não faz verão, e sem um nome, movimento não existe. Em “Desafinado”, João Gilberto canta “Que isto é bossa nova, que isto é muito natural”. Décadas antes, Carmen Miranda em “O Samba e o Tan-

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