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Doenças crónicas e pandemia: prevenir para não ter que remediar

DOZE MESES VOLVIDOS DESDE O INÍCIO DA PANDEMIA HÁ DUAS LUTAS PARA TRAVAR AO NÍVEL DA SAÚDE MUNDIAL. É PRECISO ENVOLVER TODOS NA CONTENÇÃO DA PANDEMIA E, POR OUTRO LADO, É URGENTE OLHAR COM ATENÇÃO REDOBRADA PARA AS DOENÇAS CRÓNICAS, COMO A DIABETES, A OBESIDADE, O CANCRO OU A DOENÇA CARDIOVASCULAR.

Autor: Alexandra Bento, Bastonária da Ordem dos Nutricionistas

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Assinala-se um ano desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a COVID-19 como uma pandemia global. Doze meses volvidos, os portugueses, como toda a população do mundo, adaptaram-se de alguma maneira.

Passámos a trabalhar a partir de nossas casas, nas profissões em que tal é possível, e muitos outros viram-se confrontados com o conceito de layoff. Alguns setores paralisaram, outros abrandaram, outros reinventaram-se ou intensificaram, outros quiçá nunca mais voltarão a existir. Muitas vidas ficaram em suspenso, mas o mundo não parou. Continuamos a ter as outras doenças, com a particularidade de que, com todas as alterações decorrentes da pandemia COVID-19, ser elevada a probabilidade de que estas se tenham agravado.

O confinamento obrigatório e as respetivas medidas de isolamento social, apesar de evidentemente necessárias, podem ter sido uma das causas a agravar a situação para os doentes crónicos que, previsivelmente, diminuíram a atividade física e deterioram os seus hábitos alimentares, a par da redução da atividade assistencial aos “doentes não-COVID”.

Acresce que, no início desta pandemia muitos portugueses teriam receio de regressar às consultas. Ora, sabemos que inicialmente o medo era maior, a doença era desconhecida e a desinformação crescia pelo mundo fora. No entanto, um ano volvido continuamos a viver com esta doença, podendo inferir que este receio continue a afastar os portugueses do acompanhamento das outras doenças, transmissíveis e não transmissíveis. É o caso de muitas doenças crónicas, imensamente prevalentes no nosso país, com destaque para a obesidade, também considerada como pandemia pela OMS.

Este facto é particularmente preocupante quando vemos que as doenças crónicas são um dos principais fatores de risco para a COVID-19. Como temos visto, pessoas com obesidade, por exemplo, correm maior risco de internamento hospitalar em caso de infeção e apresentam uma maior mortalidade.

Por isso, doze meses volvidos, temos duas lutas para travar ao nível da saúde mundial: é preciso estarmos todos envolvidos na contenção desta nova pandemia; e, por outro lado, é urgente que olhemos com atenção redobrada para as doenças crónicas, como a diabetes, a obesidade, o cancro ou a doença cardiovascular. O mundo não parou: as doenças crónicas, como tantas outras, não ficaram de quarentena. Agravam-se, agravaram-se certamente, e precisamos de lhes prestar a nossa máxima atenção.

Este panorama lembra-nos que para melhor vencermos as antigas e as novas preocupações é fundamental que a estratégia de saúde que tem vindo a ser implementada não negligencie os anteriores problemas, sublinhando a alimentação saudável e adequada como um grande determinante de saúde pública e a prevenção como a sua chave de sucesso.

“O mundo não parou: as doenças crónicas, como tantas outras, não ficaram de quarentena. Agravam-se, agravaram-se certamente, e precisamos de lhes prestar a nossa máxima atenção”

Contudo, no nosso país, continuamos a gastar em tratamento e a poupar em prevenção. Por cada 100 euros gastos em saúde, apenas entre 1 e 2 euros correspondem à prevenção, de acordo com dados do Eurostat.

Em muitas circunstâncias prevenir é melhor do que remediar! E, no momento particular que atravessamos, conseguimos melhor compreender esta circunstância. Para que daqui a um ou dois anos não nos estejamos a lamentar pelas ações não tomadas ou esquecidas por força da pandemia, é necessário agir já, e agir bem. Os portugueses contam com os nutricionistas para a implementação, in loco, de uma estratégia de saúde que não se esqueça que o mundo não para. Esperamos contar com todos para nos protegermos a todos das consequências colaterais desta pandemia. •

“No nosso país, continuamos a gastar em tratamento e a poupar em prevenção. Por cada 100 euros gastos em saúde, apenas entre 1 e 2 euros correspondem à prevenção, de acordo com dados da Eurostat”

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