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Rastreamento da cadeia de valor da saúde: ganhos para o setor e o utente
from Infopharma nº3
by editorialmic
Rastreabilidade da cadeia de valor da saúde: ganhos para o setor e o utente
PERANTE UMA PROCURA PREMENTE, EM VOLUME E URGÊNCIA DE RESPOSTA, É NECESSÁRIO ANALISAR E REFORÇAR OS MECANISMOS DE RASTREABILIDADE DAS CADEIAS DE ABASTECIMENTO NA SAÚDE, POTENCIANDO AINDA POUPANÇAS PARA OS DIFERENTES AGENTES DO SETOR.
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Autor: João de Castro Guimarães, Diretor Executivo da GS1 Portugal
No atual contexto pandémico, a sobrecarga registada sobre as cadeias de produção e distribuição de medicamentos e dispositivos médicos tem sido evidente, uma conjuntura lamentavelmente propícia ao aumento da contrafação e distribuição de produtos destas categorias não conforme com os requisitos legais previstos.
Este risco é particularmente premente no que se refere à cadeia de distribuição e administração da vacina de imunização contra a infeção por COVID-19, em operacionalização. Várias têm sido as denúncias, a nível global, de situações irregulares. Conforme destaca um estudo elaborado e recentemente apresentado pela consultora Deloitte, intitulado “Securing trust in the global COVID-19 supply chain”, a codificação de todo o processo de distribuição e administração de vacinas, a nível global, seria a chave para garantir a rastreabilidade de toda a cadeia de valor, identificando irregularidades e garantindo a segurança e saúde dos indivíduos vacinados.
Para além de ser, evidentemente, um negócio ilícito, a contrafação de vacinas, medicamentos ou dispositivos médicos representa uma ameaça de saúde pública ao colocar em perigo a segurança e saúde dos pacientes e utilizadores destes produtos. Só é possível conter este tipo de atividade criminosa com o envolvimento de todos os agentes, sejam fabricantes, autoridades reguladoras e de fiscalização, profissionais de saúde, entidades alfandegárias, sistema judicial e, em última instância, cada um de nós, individualmente.
Sobretudo nas atuais circunstâncias, em contexto pandémico, perante uma procura premente, em volume e urgência de resposta, é absolutamente necessário analisar e reforçar os mecanismos de rastreabilidade das cadeias de abastecimento.
De forma geral, com o objetivo de melhorar a deteção de produtos falsificados na União Europeia, a indústria farmacêutica tem vindo a introduzir um sistema de serialização
que prevê mecanismos de controlo em determinados pontos da cadeia de abastecimento, ao mesmo tempo que outros dispositivos garantem a inviolabilidade da embalagem de todos os medicamentos sujeitos a receita médica.
Esta identificação automática e inequívoca de pessoas, locais, equipamentos, dispositivos médicos e medicamentos através de standards globais, como os que o Sistema GS1 integra, é essencial na prevenção da contrafação e de erros médicos, bem como na garantia da qualidade e segurança dos medicamentos disponibilizados ou administrados aos consumidores ou pacientes.
Os benefícios potenciais de uma efetiva integração da cadeia de valor da saúde no nosso país, pela via da adoção de uma codificação úniForam estudados pela consultora Augusto Mateus & Associados, em 2014, e demonstrados no Hospital Dr. José de Almeida, do Grupo Lusíadas Saúde, de Cascais. Nesta unidade Hospitalar, em 2016, foi implementado o sistema integrado do medi-
ca, compatível com standards globais, conforme preconiza, a nível global, o estudo da Deloitte anteriormente referido, não constituem novidade. camento, assente na codificação, em parceria com a GS1 Portugal. Este sistema permitiu concluir que a adoção de codificadores únicos no circuito do medicamento, em contexto hospitalar, permite uma redução de 28% no tempo médio gasto na administração de medicamentos pela equipa de enfermagem, por utente. O que permitiu que cada enfermeiro, por turno de oito horas, passasse a dispor de mais 22 minutos e meio para a prestação de cuidados assistenciais e para o relacionamento com o doente, libertando-se de procedimentos administrativos.
Em termos macro, o estudo da Augusto Mateus & Associados destaca outras poupanças para todos os elos desta cadeia de valor, transversais a todas as tipologias de operadores, cujo valor acumulado
para a economia como um todo pode chegar, segundo apurou, aos 561 milhões de euros no cenário sem serialização ou 791 milhões de euros no cenário com serialização (considerando um horizonte temporal de 10 anos).
Os resultados projetados para a economia nacional para um horizonte temporal de 10 anos demonstraram um forte potencial de obtenção de ganhos líquidos com a adoção dos standards globais em Portugal. Os benefícios suplantam entre 6 e 26 vezes os custos/investimentos da adoção dos standards globais, gerando uma poupança para a economia que poderá oscilar entre 239 e 561 milhões de euros. Com serialização, as poupanças líquidas poderão sair ainda mais repara beneficiar desta alteração de paradigma. Seguem-se os grossistas, a indústria farmacêutica e a indústria dos dispositivos médicos, com poupanças acumuladas que podem atingir, respetivamente, 99 milhões de euros, 68 milhões de euros e 60 milhões de euros.
Ora, sendo reconhecidos os benefícios – para a economia e para os cidadãos – de uma cadeia de abastecimento integrada e rastreável e estando estudado o respetivo impacto financeiro, o esforço de colaboração entre todos tem de continuar e carece de aprofundamento. A situação pandémica, apesar de ter agilizado muitos processos, por força da crise sanitária, veio demonstrar que há ainda muito por fazer. Estamos – como sempre estivemos – disponíveis para ajudar. •
forçadas, entre 113,5 e 230 milhões de euros.
Os resultados daquele estudo revelaram que um dos elos da cadeia de valor que previsivelmente mais tem a ganhar com a adoção simples dos standards serão as farmácias, no seu conjunto, podendo obter, no limite, poupanças de 129 milhões de euros, perfilando-se como o segundo elo mais bem posicionado, logo a seguir às unidades hospitalares,