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O papel das farmácias no apoio ao doente crónico
from Infopharma nº3
by editorialmic
O papel das farmácias no acompanhamento do doente crónico
MAIS DO QUE SIMPLES DISPENSADORAS DE MEDICAMENTOS, AS FARMÁCIAS COMUNITÁRIAS ASSUMEM-SE CADA VEZ MAIS COMO UM ELEMENTO ESSENCIAL NO ACOMPANHAMENTO DOS DOENTES CRÓNICOS NO ÂMBITO DE UM MODELO INTEGRADO DE PRESTAÇÃO DE CUIDADOS DE SAÚDE.
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Autor: Associação de Farmácias de Portugal
As farmácias comunitárias são fornecedoras naturais de medicamentos à população. Mas ao longo das décadas mais recentes o exercício da profissão farmacêutica tem vindo a adaptar-se, retirando de alguma forma o foco do medicamento, para passar a centrar-se fundamentalmente no doente.
Esta alteração de posicionamento, coincide com o surgimento de um conjunto diferenciado dos serviços prestados pelas farmácias comunitárias. Serviços esses que têm vindo a contribuir favoravelmente para o estado geral de saúde e bem-estar da população, e em particular dos utentes crónicos e idosos, tendo em conta as especificidades das suas doenças.
O acompanhamento mais próximo que passou a ser feito pelas farmácias comunitárias à luz deste novo paradigma ganha especial relevância se for tida em conta a elevada proporção da população portuguesa que sofre de alguma doença de natureza crónica. Um inquérito realizado pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), cujos resultados foram divulgados no início de 2019, aponta para que mais de metade da população portuguesa (57,8%) sofra de pelo menos uma doença crónica, isto considerando uma lista de 20 doenças. Ou seja, estaremos a falar de um universo de em torno de 3,9 milhões de indivíduos que se assumem como doentes crónicos.
Quando se fala em doença crónica estão em causa, por exemplo, a hipertensão arterial e o colesterol elevado, as mais apontadas pela população. Mas também a diabetes, a dor crónica, a osteoporose ou as alergias. Estes são apenas alguns exemplos.
Naquilo que diz respeito aos serviços e ao trabalho desenvolvido pelos
farmacêuticos e pelas farmácias comunitárias no sentido de ir ao encontro das necessidades destes utentes, o campo de atuação é alargado (ver caixa na página seguinte).
Uma das áreas essenciais da prestação de cuidados de saúde em que o farmacêutico tem vindo a demonstrar o valor da sua intervenção, com resultados positivos para a saúde dos doentes, prende-se com o apoio na gestão da polimedicação, muito ligada sobretudo aos idosos, e na garantia de que a toma/administração da medicação é feita de forma correta pelos doentes. Ao assegurar isso, o farmacêutico no fundo está a contribuir para que o utente consiga fazer um controlo mais eficaz da sua doença.
Tal é possível, nomeadamente pelo facto de as farmácias terem acesso ao histórico dos doentes, com informação atualizada sobre os medicamentos que tomam periodicamente. Isso permite-lhes ainda avaliar se os doentes possuem a quantidade suficiente para assegurarem o cumprimento da terapêutica e evitar eventuais falhas na toma.
O foco na proximidade a estes doentes permite ainda ao farmacêutico realizar um trabalho de aconselhamento durante as manifestações de episódios pontuais de doença crónica, ajudando-os assim a controlar melhor a doença entre consultas. Ou, perante a identificação de eventuais sintomas de risco, do agravamento da doença ou da sua descompensação, a fazerem o adequado encaminhamento dos doentes para o médico ou a urgência. Uma das áreas essenciais da prestação de cuidados de saúde em que o farmacêutico tem vindo a demonstrar o valor da sua intervenção, prende-se com o apoio na gestão da polimedicação
IMPORTANTES ALIADOS DURANTE A PANDEMIA
Este tipo de acompanhamento prestado pelas farmácias comunitárias tem sido particularmente relevante no contexto da pandemia. Perante as dificuldades sentidas pelos doentes
em agendar as regulares consultas de especialidade ou consultas de medicina familiar em centros de saúde, os farmacêuticos comunitários constituíram-se como importantes aliados para garantir uma resposta às suas necessidades.
Ao ajudarem os utentes a automonitorizarem as suas doenças crónicas têm contribuído para que o reencaminhamento para os cuidados primários e hospitalares ocorra apenas quando estritamente necessário, evitando exposições desnecessárias e riscos para a saúde dos utentes. Por outro lado, este serviço permitiu ainda descongestionar o Serviço Nacional de Saúde (SNS), libertando-o para dar resposta às situações mais prioritárias.
Um serviço prestado pelas farmácias que também se tem mostrado muito valioso, sobretudo em contexto de pandemia, é a entrega de medicação ao domicílio que evita deslocações e os riscos que tal acarreta para a própria saúde do doente crónico.
Perante as dificuldades em agendar as regulares consultas de especialidade ou consultas de medicina familiar em centros de saúde, os farmacêuticos comunitários constituíram-se “portos de abrigo” para os utentes durante a pandemia
Esse papel foi ainda reforçado no contexto da pandemia através da “Operação Luz Verde”, ao abrigo da qual foi possível fazer chegar de forma mais fácil aos doentes os medicamentos hospitalares – muitas vezes sem terem de sair das próprias casas – através das farmácias comunitárias, prevenindo assim a interrupção da terapêutica. •
CINCO SERVIÇOS QUE AS FARMÁCIAS PRESTAM AO DOENTE CRÓNICO
1. Acompanhamento do diabético
É um serviço de gestão da doença, neste caso, focado na monitorização e controlo da diabetes. O objetivo é acompanhar a pessoa com diabetes, considerando duas perspetivas, nomeadamente, do ponto de vista farmacológico, garantindo a efetividade e segurança da terapêutica farmacológica, e do ponto de vista não farmacológico, salvaguardando uma alimentação saudável e a prática de exercício físico.
2. Acompanhamento
Farmacoterapêutico
Trata-se de uma prática profissional farmacêutica centrada no doente, desenvolvida com o objetivo de contribuir para a melhoria do seu estado de saúde e qualidade de vida. Com base numa abordagem global das necessidades de saúde do doente, o farmacêutico estuda, intervém e acompanha, de forma integrada, o perfil farmacoterapêutico, patologias e preocupações de saúde. Pretende-se identificar, prevenir e resolver resultados clínicos negativos da farmacoterapia.
3. Revisão da medicação
É uma avaliação estruturada da medicação do doente com o objetivo de otimizar o uso dos medicamentos e melhorar os resultados em saúde. Implica a deteção de resultados clínicos negativos (inefetividades e inseguranças da terapêutica) e a realização de intervenções farmacêuticas no sentido de os resolver. Essa revisão da medicação pode ser efetuada por si ou integrada noutro serviço, como por exemplo no âmbito do acompanhamento farmacoterapêutico ou da preparação individualizada da medicação.
4. Reconciliação terapêutica
Trata-se de um processo de avaliação do regime terapêutico de um doente, sempre que ocorra alteração do mesmo, com o objetivo de evitar erros de medicação, tais como: omissões, duplicações, doses inadequadas, interações, ou problemas de adesão. Este processo deve incluir a comparação entre a medicação atual e o regime terapêutico prévio e deve ocorrer em cada momento da transição entre cuidados de saúde, em que a medicação é ajustada, tendo ainda em conta a automedicação. Trata-se de um serviço sobretudo aplicado ao ambiente hospitalar.
5. Preparação Individualizada da Medicação
Está em causa um serviço a partir do qual o farmacêutico organiza as formas farmacêuticas sólidas, para uso oral, de acordo com a posologia prescrita, por exemplo, em um dispositivo de múltiplos compartimentos (ou em fita organizada por toma em alvéolos), selado de forma estanque na farmácia e descartado após a sua utilização. Inclui-se ainda neste serviço a informação – prestada sobre a forma escrita ou de pictogramas e oralmente – referente ao uso responsável do medicamento, tendo por objetivo auxiliar o utente na correta administração dos medicamentos e promover uma melhor adesão à terapêutica.