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Quando o Bournout se instala
from Infopharma nº3
by editorialmic
Quando o Burnout se instala
GESTORES E PROFISSIONAIS DE SAÚDE DEVEM TRABALHAR CONJUNTAMENTE, DE MODO A CRIAR ESTRATÉGIAS DE MELHORIA ORGANIZACIONAL E CONDIÇÕES LABORAIS, A FIM DE DESENVOLVER MEDIDAS QUE REDUZAM A EXAUSTÃO FÍSICA E PSICOLÓGICA, PREVENINDO O BURNOUT.
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Autor: Luís Pinheiro, Licenciado em Administração de Unidades de Saúde
Síndrome de Esgotamento Profissional ou Burnout é um “state of mental and physical exhaustion caused by one’s professional life” – definição atribuída pelo Professor e Psicanalista americano Herbert
Freudenberger – como um conjunto de sinais e sintomas associados ao colapso físico e emocional que ocorrem após a exaustão extrema, diminuição de recursos e forças disponíveis para a realização de tarefas.
Não surge subitamente devido a um único fator de stress, deriva de uma sequência prolongada de tempo.
Cristina Maslach, Professora e Psicóloga, através da sua investigação desenvolveu o Maslach Burnout Inventory, caracterizando o Burnout através de três pontos: elevado esgotamento emocional, elevada despersonalização e baixa realização profissional, conduzindo ao desgaste pessoal, profissional e da saúde. Os seus efeitos podem prejudicar o indivíduo a três níveis: Individual (físico, mental, profissional e social); Profissional (atendimento negligente e lento, contacto impessoal com colegas de trabalho e/ ou pacientes/clientes); Organizacional (conflito com membros da equipa, rotatividade, absentismo e diminuição de qualidade dos serviços prestados).
Várias profissões apresentam vulnerabilidade a diferentes fatores indutores de Burnout. Os profissionais da área da saúde estão sujeitos a contextos laborais e organizacionais bastante exigentes e stressantes que podem desencadear a síndrome. “A síndrome de Burnout, nos profissionais de saúde, é uma realidade preocupante, uma vez que compromete a qualidade do serviço prestado ao utente e à rede social envolvida (Rosa, 2005, cit in Santos, 2015)”. Devido às relações interpessoais tensas e hierárquicas nas instituições de saúde e ao contacto constante com pessoas debilitadas e/ou doentes, encontram-se mais expostos a esta síndrome.
O Burnout reflete-se no desempenho individual, influenciando a rentabilidade e valor do trabalho, aumentando o cansaço e a des-
Burnout
motivação, em simultâneo, o que diminui os níveis de rendimento, de compromisso e satisfação profissional. Tendencialmente, tal irá afetar negativamente não só a organização como o trabalhador, refletindo-se na qualidade de vida, no trabalho e na deterioração da vida pessoal. O impacto é tal que o profissional diminui significativamente o seu desempenho e a qualidade do atendimento ao utente, existindo uma maior predisposição a erros, a ser menos cuidadoso e proativo na resolução de problemas. “A exaustão é a característica central do burnout e em simultâneo a manifestação mais óbvia desta síndrome complexa (Maslach et. al., 2001)”. São identificados cinco fatores de risco: a sobrecarga de trabalho, falta de controlo, ausência de recompensas, conflitos com os colegas e sentimento de injustiça. A síndrome de Burnout tem sido constantemente descrita como um fenómeno complexo, resultado da interação de diversas variáveis com influência negativa para os prestadores de cuidados, para as organizações de saúde e para os próprios utentes. Devido à atual conjuntura pandémica, os profissionais de saúde estão sujeitos a uma enorme pressão. Turnos extremamente extensos, poucas ou nenhumas folgas, atingindo níveis de stress acima do comum, promovendo um desgaste físico e emocional nunca vivido. Num cenário anterior à pandemia, os fatores que catapultavam o desenvolvimento da síndrome partiam, diversas vezes, do seio das organizações onde o profissional está inserido e também do próprio contexto em termos individuais. As consequências e danos do Burnout, refletem-se negativamente na organização, no profissional, nos utentes e na qualidade de vida pessoal de cada um, conforme referido anteriormente. A prevenção é fundamental para mitigar todos os efeitos negativos que esta síndrome acarreta, a fim de melhorar a qualidade de vida, a prevenção de danos para o utente e a melhoria da prestação de serviço. As organizações, hoje mais que nunca, devem estar atentas aos sinais que os seus trabalhadores apresentam, de maneira a implementar medidas preventivas e de ajuda, perante as primeiras manifestações do Burnout, que se traduzem em elevada exaustão física, emocional e despersonalização.
A intensificação do ritmo de trabalho, constantes mudanças, as exigências profissionais e a situação de pandemia que vivemos, têm como consequência novos riscos psicossociais, que comprometem o bem-estar e produtividade dos profissionais. Em suma, gestores e profissionais de Saúde devem trabalhar conjuntamente, de modo a criar estratégias de melhoria organizacional e condições laborais, a fim de desenvolver medidas que reduzam a exaustão física e psicológica.
A 28 de maio de 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) aprovou, na Classificação Internacional de Doenças (CID), o Síndrome do Esgotamento Profissional enquanto problema associado ao emprego e desemprego. Esta classificação entrará em vigor em 2022, sendo definido por “uma síndrome que resulta de stress crónico no local de trabalho que não foi bem gerido […] refere-se especificamente a fenómenos no contexto profissional e não deve ser aplicado para descrever experiências noutras áreas da vida”. •