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Os efeitos da pandemia na saúde mental

A INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA, DESDE O INÍCIO DA PANDEMIA, VAI OFERECENDO RESPOSTA ÀS DIFERENTES SITUAÇÕES REPORTADAS. PODE PASSAR PELO ACONSELHAMENTO, INTERVENÇÃO EM CRISE, INTERVENÇÕES BREVES E INTERVENÇÕES PSICOTERAPÊUTICAS.

Autor: Dénis Valéria e Sousa, Psicóloga Clínica

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Nunca se falou tanto em saúde mental como agora. Após o momento em que foi decretado o primeiro Estado de Emergência, em Portugal, o estado psicológico da maioria dos portugueses sofreu alterações. A Saúde Mental, até aqui estigmatizada e rotulada, passa a ter uma valorização e importância significativa na gestão emocional da pandemia. Lidar com o estado constante de alerta, motivado pelo medo do desconhecido, a incerteza e preocupação com o futuro tornou-se o primeiro desafio. Transitou-se para a gestão do confinamento e o isolamento, seguido de todas as implicações familiares, profissionais e sócioeconómicas.

A ansiedade da possibilidade de teste COVID-19 positivo, a gestão da doença individual e de familiares, e a perda de entes queridos trouxe alterações emocionais com respostas de mecanismos desadaptativos. Tornou-se fundamental aumentar as respostas para a Saúde Mental, tanto para a população em geral como para os profissionais de saúde. Exemplo, é a criação da Linha de Aconselhamento Psicológico SNS24 e de outras linhas que, entretanto, foram criadas.

Os pedidos de primeira consulta para a especialidade de Psicologia Clínica aumentaram, sendo mais frequentemente observados, nos primeiros três meses de pandemia, sintomatologia depressiva, ansiosa e de stress. Nos casos de consultas de seguimento a sua regularidade foi reforçada, de acordo com a avaliação de cada caso. A teleconsulta prevaleceu face às consultas presenciais e os meios tecnológicos passaram a ser uma ferramenta imprescindível.

O desconfinamento, o voltar à “normalidade” e a convicção de que “Vai ficar tudo bem” trouxe a esperança e o ignorar de alguns sintomas. No entanto, o cansaço e a saturação sentidos revelaram um agravamento dos transtornos mentais já existentes, que exigiram respostas imediatas em situações de crise agudas.

Decorridos seis meses de pandemia, o isolamento a solidão e a ausência do contacto social reforçaram sentimentos de angústia e desespero. Adveio um agravamento de sintomas depressivos, ansiosos e de stress, e o aumento de crises de pânico e maior frequência nos comportamentos aditivos e dependências (álcool, drogas, jogo, etc). A prevenção do suicídio assume um papel fundamental na área de intervenção do Profissional de Saúde Mental. Em dezembro assiste-se a um processo de descompressão, possivelmente associado ao desenvolvimento e chegada da vacina. Muitos dos processos psíquicos foram substituídos pela negação e a realidade do novo confinamento ficou muito próxima. Com o decretar do novo confinamento, e atendendo à fadiga da pandemia e dos seus impactos, os fatores associados ao stress elevaram.

“A ansiedade da possibilidade de teste COVID-19 positivo, a gestão da doença individual e de familiares e a perda de entes queridos trouxe alterações emocionais com respostas de mecanismos desadaptativos”

A intervenção psicológica, desde o início da pandemia, vai oferecendo resposta às diferentes situações que são reportadas. Esta intervenção pode passar pelo aconselhamento, intervenção em crise, intervenções breves e intervenções psicoterapêuticas.

No aconselhamento psicológico, é importante promover a adopção de comportamentos pró-saúde e pró-sociais. Existe a necessidade de se facilitar a adoção de ferramentas emocionais (estar atento às emoções e conseguir identificar sentimentos), relacionais (reforço das relações, expressar e partilhar sentimentos) e de autocuidado e bem estar (hábitos de sono, alimentação saudável, prática de exercício físico e “filtrar” informação acerca da pandemia).

A intervenção em crise pressupõe a estabilização momentânea perante uma situação vivencial com impacto negativo. A intervenção breve funciona com um objetivo motivacional de redução e mudança de comportamentos, nomeadamente em comportamentos aditivos e dependências. Estudos indicam que a ausência do contacto social provoca um aumento no organismo dos níveis de cortisol, hormona que está diretamente envolvida na resposta ao stress

A intervenção psicoterapêutica permite uma mudança nos processos de regulação emocional e na sintomatologia psicopatológica.

Estudos indicam que a ausência do contacto social provoca um aumento no organismo dos níveis de cortisol, hormona que está diretamente envolvida na resposta ao stress. Por sua vez, isso vai interferir em sentimentos depressivos, ansiosos, abuso de substâncias, consumo abusivo de bebidas alcoólicas, obesidade, entre outros fatores. É previsível um crescimento na intervenção do trauma e do processo de luto “mal resolvido”. •

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