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Apoio a populações vulneráveis na doença crónica

É PRÁTICA DA MÉDICOS DO MUNDO, NAS COMUNIDADES EM QUE TRABALHA, COLABORAR COM OS VÁRIOS ATORES NO TERRENO COMO FORMA DE CRIAR UMA REDE DE APOIO QUE PREVINA, RESOLVA OU MITIGUE OS PROBLEMAS QUE SE LHE DEPARAM. AS FARMÁCIAS COMUNITÁRIAS SÃO UM PARCEIRO IMPORTANTE NESSA MISSÃO.

Autor: Fernando Vasco, Presidente da Médicos do Mundo

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AMédicos do Mundo (MdM) é uma Organização Não-Governamental para o Desenvolvimento (ONGD), sem fins lucrativos, de caráter independente que se norteia por um conjunto de valores éticos – ativismo, responsabilidade, justiça social, transparência, cooperação e proximidade. Presta cuidados de saúde a populações vulneráveis e carenciadas que pela sua condição não têm acesso a cuidados de saúde – Pessoas em Situação de Sem Abrigo (PSSA), refugiados, requerentes de asilo, imigrantes retidos pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, idosos, trabalhadores de sexo e utilizadores de drogas.

Nos seus projetos de desenvolvimento ou de ajuda humanitária em emergência e catástrofe, inclui habitualmente consultas médicas e de enfermagem, sessões de literacia em saúde, distribuição de materiais de prevenção, testagem (VIH, Hepatites virais e Doenças Sexualmente Transmitidas), despiste de diabetes e hipertensão, e apoio medicamentoso. Pode também disponibilizar apoio domiciliário, fisioterapêutico, psicológico, social, ajudas técnicas e vacinação quando solicitada por uma entidade. Em cada projeto, procura sempre captar a confiança dos indivíduos como forma de os motivar para a adesão às terapêuticas e para a sua integração social.

É prática da MdM, nas comunidades em que trabalha, colaborar com os vários atores no terreno como forma de criar uma rede de apoio que previna, resolva ou mitigue os problemas que se lhe deparam.

No início da pandemia, a MdM elaborou um plano de contingência que tem seguido à risca, nomeadamente no que se refere ao teletrabalho. As equipas centraram a sua atenção nos locais de confinamento definidos pelas câmaras municipais para as PSSA. Foram reduzidas algumas atividades, nomeadamente a testagem, que posteriormente se retomaram. Ocorreu grande adesão de voluntários que foi necessário organizar. Houve reforço das medidas de proteção individual aos profissionais com recurso a FFP21 e a apoio psicológico. No acompanhamento daqueles que cuida, a MdM identifica um conjunto de patologias crónicas relevantes, tais como, entre outras, a doença mental, as dependências, a infeção pelo VIH/SIDA, hepatite C, diabetes e hipertensão.

A MdM reconhece nas farmácias comunitárias um parceiro importante pela sua inserção nas comunidades que servem e pelo papel que desempenham enquanto recurso acessível a qualquer indivíduo com um problema de saúde, particularmente doentes crónicos.

Consideremos o papel das farmácias no apoio a populações que a MdM acompanha:

São o parceiro mais importante do Programa Troca de Seringas “Diz não a uma seringa em 2.ª mão” o qual contribuiu para o reconhecimento de Portugal como um exemplo de boas práticas na adoção de

1. Semi máscara de proteção respiratória

“O Serviço Nacional de Saúde deve promover processos de cooperação saudável e negociada, em que não seja permitido que interesses privados e o denominado preconceito ideológico se sobreponham ao interesse público e aos direitos dos cidadãos”

políticas de abordagem aos comportamentos aditivos e dependências, verificando-se “na última década, uma redução de 90% no número de casos de infeção por VIH e de sida em utilizadores”2. O Programa contribui também para a redução dos óbitos por overdose e de situações patológicas associadas ao consumo de drogas injetáveis, tais como a hepatite C, tromboflebites, endocardites;

Fazem controlo do peso e da tensão arterial, medição dos níveis de glicemia, colesterol e, algumas delas, visitas domiciliárias a doentes para verificação da medicação;

Algumas colaboram como parceiras no apoio medicamentoso a doentes carenciados;

Desempenham um papel de aconselhamento nas mais diversas situações de doença aguda e crónica;

Colaboram na vacinação contra a gripe, estando em estudo a colaboração na campanha de vacinação contra a COVID-19;

Têm um papel integrador, ainda que residual, na aproximação de alguns indivíduos com vivências marginais à sociedade. No contexto da pandemia, as populações, para além do receio que têm de se infetar ao entrarem num serviço de saúde, confrontam-se com a incapacidade de resposta daqueles, resultante da afluência dos doentes COVID. Daí que procurem apoios de proximidade onde se incluem organizações como a MdM e as farmácias, que demonstram mais uma vez a sua utilidade, que nem sempre é valorizada ou mesmo reconhecida.

Assim, é minha convicção que o Serviço Nacional de Saúde, espinha dorsal do nosso sistema nacional de saúde, não pode dispensar ninguém. Deve promover processos de cooperação saudável e negociada, em que não seja permitido que interesses privados e o denominado preconceito ideológico, diria antes os preconceitos ideológicos, se sobreponham ao interesse público e aos direitos dos cidadãos. Ao Estado cabe assegurar a cobertura universal em saúde aos cidadãos, enquanto instrumento de garante de um Direito Humano fundamental, o Direito à Saúde. •

“A MdM reconhece nas farmácias comunitárias um parceiro importante pela sua inserção nas comunidades que servem e pelo papel que desempenham enquanto recurso acessível a qualquer indivíduo com um problema de saúde”

2. Segundo a Dr.ª Isabel Aldir, Diretora do Programa Nacional para a Infeção VIH e SIDA e do Programa Nacional para as Hepatites Virais, nas comemorações dos 25 anos do Programa. Dezembro de 2018.

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