Comentรกrio Esperanรงa
Hansjörg Bräumer
Êxodo Comentário Esperança 1ª edição Tradução: Doris Körber
Curitiba 2020
Êxodo
Comentário Esperança Hansjörg Bräumer Título do original em alemão: Wuppertaler Studienbibel Das zweite Buch Mose Copyright © 1996 R. Brockhaus Verlag, Wuppertal Coordenação editorial: Claudio Beckert Jr. Tradução: Doris Körber Revisão: Josiane Zanon Moreschi Capa: Sandro Bier Editoração eletrônica: Josiane Zanon Moreschi 1ª edição brasileira: 2020
www.comentarioesperanca.com.br contato@comentarioesperanca.com.br facebook.com/comentarioesperanca
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Sueli Costa CRB-8/5213 Bräumer, Hansjörg Êxodo: Comentário Esperança / Hansjörg Bräumer; Doris Körber. – Curitiba, PR : Editora Evangélica Esperança, 2020. 520 p. Título original: wuppertaler studienbibel das zweite buch mose ISBN 978-85-7839-305-2 1. Bíblia A.T. Êxodo 2. Comentário bíblico 3. Moisés I. Körber, Doris II. Título. CDD-221
Índice para catálogo sistemático: 1. Biblia : Antigo testamento 221 O texto bíblico utilizado, com a devida autorização, é a versão Almeida Revista e Atualizada (RA) 2ª edição, da Sociedade Bíblica do Brasil, São Paulo, 1993. É proibida a reprodução total ou parcial sem permissão escrita dos editores. Publicado no Brasil com a devida autorização e com todos os direitos reservados pela:
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Sumário
Orientações .............................................................................................................................13 Índice das abreviaturas .........................................................................................................15 Prefácio ....................................................................................................................................19 Prefácio do autor ...................................................................................................................20 Introdução ...............................................................................................................................21 I. A POSIÇÃO DO LIVRO DE ÊXODO NO PENTATEUCO ................................21 II. MOISÉS E SUA ÉPOCA ....................................................................................................................21 1. Esboço da vida de Moisés ...................................................................................22 2. Moisés no Egito .....................................................................................................23 a) Ramsés I (1295-1293 a.C.) ...............................................................................23 b) Seti I (1293-1279 a.C.) .......................................................................................24 c) Ramsés II (1279-1213 a.C.) ..............................................................................25 d) Merenptah (1213-1203 a.C.) ............................................................................26 III. CRONOLOGIA, GENEALOGIA E MAPAS ........................................................28 1. Moisés e os faraós .................................................................................................28 2. Genealogia de Moisés e Arão .............................................................................29 3. Mapa 1: Egito ...........................................................................................................30 4. Mapa 2: De Gósen à montanha de Moisés ........................................................31 PARTE 1 ................................................................................................................................33 A. A SERVIDÃO DE ISRAEL: CAP. 1 – 11 ..............................................................33 A FORMAÇÃO DO POVO A PARTIR DOS DESCENDENTES DE JACÓ: 1.1-7 .................................................................................................................33 SERVIDÃO, TRABALHO FORÇADO E AMEAÇA MORTAL: 1.8-22 ............36 1. A servidão: 1.11-12 ................................................................................................38 2. O recrudescimento do trabalho forçado: 1.13-14 .............................................41 3. O atentado aos descendentes masculinos: 1.15-21 ............................................42 4. A ordem do faraó para lançar no Nilo todos os filhos homens do povo estrangeiro: 1.22 ....................................................................................46 III. MOISÉS NA CORTE DOS FARAÓS: 2.1-14 .........................................................47 1. Infância e juventude: 2.1-10 ................................................................................47 2. O primeiro encontro de Moisés com seus compatriotas: 2.11-14 ..................54 IV. MOISÉS EM UMA TRIBO MIDIANITA: 2.15-25 ..........................................................57 1. Fuga e casamento: 2.15-22 ..................................................................................57 2. Deus ouve o lamento dos israelitas: 2.23-25 ..................................................61 V. O DIÁLOGO JUNTO À SARÇA ARDENTE E O RETORNO DE MOISÉS AO EGITO: 3.1 – 4.31 ..........................................................................62 1. A eleição de Moisés: 3.1-6 ..................................................................................62 2. O chamado de Moisés: 3.7 – 4.17 ....................................................................68 a) Os limites da possibilidade: 3.7-12 ..............................................................68 b) O desejo de falsas garantias, segurança e certeza: 3.13-22 ............................71 1) Deus é o Incompreensível ............................................................................72 2) Deus é o Presente .........................................................................................73 3) Deus é o Permanente ....................................................................................74 I. II.
4) Deus é o Deus do futuro ...............................................................................75 5) Deus é o que ouve ........................................................................................75 c) O temor da incredulidade das pessoas: 4.1-9 ...........................................78 1) O bordão e a serpente ...................................................................................79 2) Doença e cura ................................................................................................80 3) Água e sangue ..............................................................................................80 d) Os dons dados por Deus são suficientes: 4.10-17 .......................................82 3. No caminho de volta para o Egito: 4.18-31 .......................................................86 a) A despedida de Jetro: 4.18-20 .......................................................................86 b) Nova confirmação da missão: 4.21-23 ........................................................87 c) A salvação por meio da midianita: 4.24-26 ..................................................89 d) O encontro entre Moisés e Arão e sua primeira apresentação conjunta no Egito: 4.27-31 ...............................................................................92 VI. AS DISCUSSÕES COM O FARAÓ: 5.1 – 11.10 .....................................................93 1. As primeiras negociações com o faraó: 5.1 – 6.1 ..............................................94 a) A primeira apresentação diante do faraó: 5.1-5 ...........................................94 b) O acirramento da servidão: 5.6-14 .................................................................96 c) A intervenção dos capatazes: 5.15-19 ............................................................97 d) A atribuição de culpa a Moisés e a Arão: 5.20-21 ..........................................98 e) A primeira queixa de Moisés: 5.22–6.1 ............................................................99 2. A renovação das promessas de Javé; 6.2-13 ....................................................101 3. A genealogia de Moisés e Arão; 6.14-27 .........................................................106 4. Comissionamento e comprovação de poder: 6.28–7.13 ................................108 a) A perspectiva fundamental: 6.28–7.7 .........................................................108 b) A demonstração de poder perante o faraó: 7.8-13 ...................................110 5. As pragas egípcias: 7.14 - 11.10 .......................................................................113 a) A primeira praga: águas viram sangue: 7.14-25 ........................................114 b) A segunda praga: rãs: 8.1-15 ........................................................................116 c) A terceira praga: piolhos: 8.16-19 ................................................................119 d) A quarta praga: moscas; 8.20-32 ..................................................................121 e) A quinta praga: peste nos animais: 9.1-7 .....................................................124 f) A sexta praga: úlceras em pessoas e animais: 9.8-12 .................................126 g) A sétima praga: chuva de pedras: 9.13-35 ..................................................127 h) A oitava praga: gafanhotos: 10.1-20 ............................................................130 i) A nona praga: trevas: 10.21-29 ...................................................................134 j) O anúncio da décima praga: morte dos primogênitos: 11.1-10 ..............137 B. A LIBERTAÇÃO DE ISRAEL: CAP. 12 – 18 .....................................................141 I. A CELEBRAÇÃO DA PÁSCOA NO EGITO: 12.1-13 .........................................141 II. A CELEBRAÇÃO DAS PÁSCOAS FUTURAS: 12.14-20 ....................................147 III. INSTRUÇÕES DE PROCEDIMENTO PARA A CELEBRAÇÃO DA PÁSCOA: 12.21-28 .................................................................................................149 IV. A NOITE DO ÊXODO: 12.29-41 .................................................................................151 V. A NOITE DA VIGÍLIA: 12.42-51 ...............................................................................155 VI. A CONSAGRAÇÃO E O RESGATE DOS PRIMOGÊNITOS: 13.1-16 ..........156 Excurso: A ceia da libertação – celebração da Páscoa e Santa Ceia ................................164 a. A entrada .........................................................................................................166 b. O relato da libertação ....................................................................................169
c. A ceia festiva ..................................................................................................170 d. O encerramento da celebração ..................................................................171 VII. A PARTIDA: 13.17-22 ...................................................................................................174 VIII. A MUDANÇA DE DIREÇÃO DA JORNADA: 14.1-4 .......................................181 IX. A PERSEGUIÇÃO: 14.5-9 ...........................................................................................182 X. O DESÂNIMO DOS ISRAELITAS: 14.10-14 ........................................................184 XI. A INTERVENÇÃO DE DEUS: 14.15-20 ..................................................................186 XII. O MILAGRE JUNTO AO MAR DOS JUNCOS: 14.21-31 .................................189 XIII. O CÂNTICO DA LIBERTAÇÃO: 15.1-21 ..............................................................193 1. O cântico de Moisés: 15.1-18 ............................................................................194 a) Introdução: 15.1a ............................................................................................194 b) 1ª estrofe: 15.1b-6 ............................................................................................194 c) 2ª estrofe: 15.7-11 .............................................................................................196 d) 3ª estrofe: 15.12-16 ...........................................................................................197 e) Epílogo: 15.17-18 .............................................................................................199 2. O cântico de Miriã: 15.19-21 ..............................................................................200 XIV. O CAMINHO ATÉ O MONTE DO ENCONTRO COM DEUS: 15.22 ‒ 18.27 .............................................................................................202 1. As águas de Mara e Elim: 15.22-27 ..................................................................203 2. Codornizes e maná: 16.1-20 .............................................................................206 3. O restabelecimento do sábado: 16.21-36 .........................................................212 4. Água da rocha: 17.1-7 .........................................................................................216 5. A salvação diante dos amalequitas: 17.8-16 .....................................................219 6. A visita de Jetro: 18.1-12 ......................................................................................222 7. A distribuição de cargos: 18.13-27 ...................................................................225 PARTE 2 ..............................................................................................................................233 C) A ALIANÇA NO SINAI: CAP. 19 – 40 ...............................................................235 A CHEGADA AO MONTE DE DEUS E A APARIÇÃO DE DEUS: 19.1-25 ..................................................................................235 1. A oferta da aliança: 19.1-8 .................................................................................236 2. A manifestação divina: 19.9-25 .........................................................................241 II. OS DEZ MANDAMENTOS: 20.1-17 ......................................................................247 1. O mandamento da adoração exclusiva ao Deus vivo por meio da proibição de colocar ídolos ao lado de Deus: 20.2-3 ................................249 2. O mandamento da orientação pela presença invisível e ainda assim aparente de Deus mediante a proibição do culto a imagens: 20.4-6 .............255 a) Imagens que ferem a majestade de Deus ................................................257 b) Sinais que Deus estabeleceu .......................................................................259 c) O perigo de sinais se transformarem em ídolos .........................................260 d) O Deus ciumento ...........................................................................................261 3. O mandamento da fidelidade ao nome de Deus por intermédio da proibição de fazer mau uso desse nome: 20.7 .............................................265 a) O abuso para o mal .......................................................................................267 b) O abuso para o suposto bem .......................................................................269 c) O abuso por irreflexão ..................................................................................270 d) O abuso por omissão do nome de Deus ..................................................270 I.
4. O mandamento do sábado: 20.8-11 .................................................................271 a) O sábado, o feriado, é o dia do Criador ......................................................272 b) O sábado, o feriado, para todas as criaturas ................................................275 c) O sábado, o feriado, como “aperitivo” da eternidade ...............................276 d) O sábado e o domingo ...................................................................................277 5. O mandamento para filhos e pais: 20.12 .........................................................278 a) Os pais e seus filhos ......................................................................................279 b) O mandamento para os filhos .....................................................................280 c) O mandamento para os pais ......................................................................283 6. O mandamento para a proteção da vida por meio da proibição de assassinar: 20.13 .............................................................................................285 a) Assassinato, uma violação do mandamento de Deus ................................287 1) Assassinato por paixão ................................................................................287 2) O assassinato traiçoeiro de um adversário pessoal ......................................288 3) Matar arbitrariamente alguém que se tornou culpado ................................288 4) O extermínio de uma vida considerada “indigna de ser vivida” ..................288 5) Assassinato leviano .....................................................................................289 b) Assassinato, um crime contra a inviolabilidade da vida ..........................289 1) Aborto ..........................................................................................................290 2) Autodefesa ...................................................................................................290 3) Serviço armado ............................................................................................291 4) Atentado a um tirano ..................................................................................292 5) Pena de morte ..............................................................................................292 6) Suicídio ........................................................................................................294 7) Eutanásia .....................................................................................................294 8) Pesquisas em pessoas incapazes de manifestar sua concordância ................295 9) Retirada de órgãos .......................................................................................296 c) Atos a caminho do assassinato (Mt 5.21s) ....................................................297 7. O mandamento da proteção do casamento pela proibição do adultério: 20.14 ...............................................................................................298 a) Um mandamento para casados .................................................................298 1) Adultério é uma violação da ordem de Deus ..............................................299 2) O adultério é uma ofensa contra o cônjuge ................................................301 3) O adultério começa nos olhos e no coração ..................................................304 4) Adultério é o fim da fidelidade ....................................................................305 5) Adultério é divórcio e novo casamento de divorciados ...............................306 b) Um mandamento para solteiros .................................................................307 1) Anarquia sexual ..........................................................................................308 2) Relações extraconjugais ..............................................................................308 3) Parcerias livres ............................................................................................309 4) Inclinação para o mesmo sexo (homotropia) ...............................................310 5) Sexualidade e celibato ..................................................................................312 8. O mandamento para proteção de tudo aquilo que o ser humano precisa para subsistir, pela proibição do roubo; 20.15 ...................................313 a) O prejuízo ao próximo .................................................................................314 1) Roubo de pessoas .........................................................................................314 2) Sequestro ......................................................................................................314 3) Transformar o ser humano em mercadoria .................................................314
b) A redução da possibilidade de existência .................................................315 1) A eliminação de um rival ............................................................................315 2) A diminuição do salário ...............................................................................315 3) A destruição da rede social .........................................................................316 4) Dons da misericórdia ..................................................................................316 c) A proteção da propriedade ..........................................................................317 d) O ataque à propriedade do próximo .........................................................319 1) Furto de objetos ..........................................................................................319 2) Trapaça e receptação ...................................................................................320 3) Roubo espiritual ..........................................................................................320 e) Roubo de propriedade comum ...................................................................321 1) Sonegação de impostos ................................................................................321 2) Fraudes .........................................................................................................322 9. O mandamento para proteção da honra social através da proibição da mentira; 20.16 ...........................................................................323 a) Mentiras diante do tribunal .........................................................................324 b) Mentiras no dia a dia .....................................................................................326 1) A mentira e o princípio da veracidade ..........................................................327 2) Traição .........................................................................................................329 3) Fofoca e difamação ......................................................................................330 10. O mandamento para proteção da vida pessoal por meio da proibição da inveja; 20.17 .............................................................................332 a) Felicidade conjugal e libido caótica ............................................................335 b) Posição social e impulso desordenado pelo poder ....................................337 c) Vantagens materiais e ganância irrefreada ...............................................338 d) Valores pessoais e sentimento crônico de inferioridade ..........................339 III. A REAÇÃO DO POVO; 20.18-21 ..............................................................................342 IV. O LIVRO DA ALIANÇA: 20.22-23.33 .....................................................................343 1. A relação do homem para com Deus; 20.22-26 ............................................344 a) Não coloquem nada ao meu lado! .............................................................345 b) Não sacrifiquem como os outros povos! ....................................................345 EXCURSO: Imagens, sinais, símbolos e interpretação tipológica do Antigo Testamento .................................................................................347 1. Sinais ................................................................................................................347 2. Símbolos ..........................................................................................................348 3. Interpretação tipológica do Antigo Testamento .........................................349 2. Fundamentos do direito e da humanidade; 21.1-23.33 ................................350 a) Roubo e privação de liberdade; 21.2-6 ......................................................351 b) A venda de uma menina; 21.7-11 ..................................................................354 c) Crimes passíveis de morte; 21.12-17 ..........................................................355 1) Um golpe que leva à morte; 21.12-14 ........................................................355 2) Humilhação e maldição dos pais; 21.15,17 .................................................356 3) Rapto; 21.16 ................................................................................................357 d) Ferimentos causados por pessoas; 21.18-22,26-27 ....................................358 1) Ferimentos na luta entre homens; 21.18-19 ...............................................358 2) Morte ou ferimento de um escravo ou escrava; 21.20-21,26-27 .................358 3) A causa de um aborto; 21.22 ......................................................................360 e) A Lei de Talião; 21.23-25 .............................................................................360 f) A morte de uma pessoa causada por um animal; 21.28-32 .....................362
g) A proteção da propriedade; 21.33-22.14 ....................................................363 1) Substituição por negligência; 21.33-36 ......................................................363 2) Restituição no caso de roubo; 22.1-4 .........................................................364 3) Restituição em caso de prejuízo; 22.5-6 ....................................................365 4) Responsabilidade pela propriedade alheia; 22.7-15 ....................................366 h) União sexual de pessoas que não estão casadas; 22.16-17 .....................367 i) O comportamento correto em relação a Deus e ao próximo; 22.18-31 ....368 1) Crimes merecedores da morte; 22.18-20 ....................................................368 2) Proteção para pessoas desprivilegiadas do ponto de vista jurídico, social e econômico; 22.21-27 ........................................................................369 3) Reverência diante de Deus e do representante supremo do povo; 22.28 .....372 4) A oferta das primícias; 22.29-30 .................................................................372 5) A proibição de comer animais dilacerados; 22.31 .....................................373 j) Comportamento honesto e correto; 23.1-9 .................................................374 1) Não dar falso testemunho em processos jurídicos; 23.1-3 ...........................374 2) Lealdade e disposição para ajudar teu inimigo e aquele que te aborrece; 23.4-5 .................................................................................375 3) Direitos iguais para todos; 23.6-9 ..............................................................376 k) Festas e ofertas; 23.10-19 ..............................................................................377 1) O ano sabático e a celebração do sábado; 23.10-13 ....................................377 2) As três festas principais: 23.14-17 ..............................................................379 3) Prescrições fundamentais para sacrifícios; 23.18-19 ..................................381 l) Promessas; 23.20-33 .......................................................................................381 V. A CONFIRMAÇÃO DA ALIANÇA NO SINAI E A CELEBRAÇÃO DA ALIANÇA: 24.1-18 ................................................................................................386 1. Palavras da boca de Deus; 24.1-2 ......................................................................387 2. A ratificação da aliança e sua celebração; 24.3-8 ...............................................388 3. Ver Deus; 24.9-11 .................................................................................................391 4. O convite para receber o sinal da aliança e outras instruções; 24.12-18 .....392 VI. O TABERNÁCULO NO DESERTO; 25.1-31.17 ..................................................393 1. Ofertas para a construção do tabernáculo; 25.l-9 .........................................394 2. Instruções para a construção da arca; 25.10-22 ..........................................397 3. Instruções para a construção da mesa; 25.23-30 .........................................400 4. Instruções para a elaboração do candelabro; 25.31-40 ...............................402 5. Instruções para a fabricação da Tenda do Encontro; 26.l-37 .....................404 a) As cortinas; 26.1-14 ......................................................................................404 b) As tábuas; 26.15-30 .......................................................................................405 c) O véu; 26.31-37 ...............................................................................................406 6. Instruções para a construção do altar; 27.l-8 .................................................409 7. Instruções para a construção do átrio; 27.9-19 ..............................................411 8. Instruções sobre a iluminação do santuário; 27.20-21 ..................................413 9. Instruções para a elaboração das vestes sacerdotais; 28.l-43 .......................414 a) A estola; 28.6-14 .............................................................................................415 b) O peitoral do juízo; 28.15-30 ........................................................................417 c) A sobrepeliz ou manto; 28.31-35 ...............................................................421 d) O diadema; 28.6-38 .......................................................................................422 e) Túnica, turbante, cinturão e calções; 28.39-43 ............................................423 10. Instruções para a instituição dos sacerdotes em seu cargo; 29.l-46 ..........425 a) Os preparativos; 29.1-4 ................................................................................425
b) A paramentação; 29.5-6,8-9a .........................................................................425 c) A unção; 29.7 ..................................................................................................426 d) A instituição no cargo; 29.9b-46 .................................................................426 1) O sacrifício pelo pecado; 29.10-14 ...............................................................427 2) O holocausto; 29.15-18 ...............................................................................429 3) A oferta de consagração; 29.19-34 ..............................................................430 4) O período de sete dias para a consagração ou investidura; 29.35-37 .........434 5) Uma visão do futuro serviço dos sacerdotes; 29.38-42a ..............................435 6) O significado do santuário e seus sacerdotes; 29.42b-46 ...........................435 11. Instruções para a construção do altar de incenso; 30.1-10 ..........................436 12. Seis instruções finais; 30.11-31.17 ....................................................................438 a) O tributo; 30.11-16 .........................................................................................438 1) O montante do tributo ................................................................................439 2) O recolhimento do “tributo de santificação”e seu uso .................................439 3) A expiação associada ao tributo .................................................................439 b) A bacia de bronze; 30.17-21 .........................................................................440 c) O óleo da unção; 30.22-33 ............................................................................440 d) O incenso; 30.34-38 .......................................................................................442 e) A escolha dos artesãos; 31.1-11 ..................................................................443 f) O sábado – sinal permanente da aliança para Israel; 31.12-17 ................445 1) Pensamentos fundamentais a respeito do sábado ........................................445 2) Punições para a violação do sábado .............................................................446 3) O motivo da importância superior do sábado .............................................447 VII. O NÚCLEO DO SANTUÁRIO; 31.18 ....................................................................448 VIII. A RUPTURA DA ALIANÇA E A ALIANÇA NA NOVA SITUAÇÃO; 32.1-34.35 .........................................................................449 1. O Deus trocado; 32.1-10 .....................................................................................449 2. O pedido para poupar o povo; 32.11-14 ......................................................455 3. A ira de Moisés; 32.15-25 .................................................................................457 4. A impossibilidade de fazer concessões na adoração a Javé; 32.26-29 ..........460 5. O pedido de reconciliação; 32.30-35 ..................................................................462 6. A presença mediada de Deus; 33.1-11 .............................................................464 a) A presença de Deus por intermédio de seu mensageiro; 33.1-6 ................465 b) A presença de Deus por intermédio da tenda; 33.7-11 .................................466 7. O pedido para que Deus volte a estar diretamente entre o povo; 33.12-17 .........................................................................................468 8. O pedido por um sinal de confirmação; 33.18-23 ..........................................469 9. A aliança na nova situação; 34.1-26 .................................................................471 a) A sujeição de Javé ao seu compromisso; 34.1-10 ......................................471 b) As condições básicas para a manutenção da aliança; 34.11-26 ..................478 1) A advertência contra o contato com todos os que adoram ídolos; 34.11-16 ..............................................................................478 2) Instruções sobre a adoração correta a Javé; 34.17-26 ..................................479 10. O semblante radiante de Moisés; 34.27-35 ...................................................480 IX. A CONFECÇÃO DO SANTUÁRIO E DAS VESTES SACERDOTAIS; 35.1 – 39.43 .................................................................482 1. Condições básicas e requisitos; 35.1 – 36.7 .....................................................482 a) A inculcação do mandamento referente ao sábado; 35.1-3 ....................482
b) A oferta dos materiais necessários; 35.4-9 ..............................................483 c) O resumo de todas as etapas do trabalho; 35.10-19 .................................483 d) A realização da oferta; 35.20-29 .................................................................484 e) A nomeação dos artesãos e a interrupção forçosa da coleta de material extremamente abundante; 35.30 – 36.7 .................................485 2. O relato sistemático da execução; 36.8 – 39.31 ..............................................486 a) As partes do tabernáculo; 36.8-38 ..............................................................486 1) As coberturas; 36.8-19 ...............................................................................486 2) As tábuas; 36.20-34 ...................................................................................487 3) As cortinas; 36.35-38 ..................................................................................488 b) A arca, a mesa, o candelabro e o altar de incenso; 37.1-29 .............................488 1) A arca; 37.1-9 .............................................................................................488 2) A mesa; 37.10-16 .......................................................................................489 3) O candelabro; 37.17-24 ..............................................................................489 4) O altar de incenso; 37.25-29 ......................................................................490 c) O altar de holocaustos, a bacia e o átrio; 38.1-20 ......................................490 1) O altar do holocausto; 38.1-7 ....................................................................490 2) A bacia; 38.8 ..............................................................................................490 3) O átrio; 38.9-20 ..........................................................................................491 d) A relação das ofertas recebidas e o cálculo dos metais usados para o santuário; 38.21-31 ..............................................................492 e) A confecção das vestes sacerdotais; 39.1-31 ................................................493 1) A estola; 39.2-5 ..........................................................................................494 2) As pedras de memória; 39.6-7 ....................................................................494 3) O peitoral da decisão; 39.8-21 ...................................................................494 4) A sobrepeliz da estola; 39.22-26 .................................................................495 5) Túnica, mitra e cinto; 39.27-29 ..................................................................495 6) A lâmina para o turbante; 39.30-31 ..........................................................495 3. A inspeção por Moisés; 39.32-43 ......................................................................495 a) O encerramento dos trabalhos; 39.32-42 ..................................................495 b) O parecer de Moisés; 39.43 ........................................................................496 X. O SANTUÁRIO É LEVANTADO; 40.1-38 ..........................................................496 1. A instrução de Javé para levantar o santuário; 40.1-16 ................................496 2. O cumprimento das instruções por Moisés e os primeiros atos sacerdotais; 40.17-33 .................................................................................497 3. A presença graciosa de Deus; 40.34-38 ...........................................................499 Bibliografia ...........................................................................................................................503
ORIENTAÇÕES PARA OS USUÁRIOS DO COMENTÁRIO ESPERANÇA Com referência ao texto bíblico: O texto bíblico está impresso em negrito. Repetições do texto bíblico que está sendo tratado também aparecem em negrito. O itálico é usado apenas para esclarecer as ênfases. Com referência aos textos paralelos: A citação abundante de textos bíblicos paralelos é intencional. Para o seu registro foi reservada uma coluna à margem. Com referência aos manuscritos: Para as variantes mais importantes do texto, geralmente identificadas nas notas, foram usados os sinais abaixo, que carecem de explicação: O texto hebraico do Antigo Testamento (também chamado de “Texto Massorético”). A transmissão exata do texto do Antigo Testamento era muito importante para os estudiosos judeus. A partir do século 2 ela tornou-se uma ciência específica nas assim chamadas “escolas massoretas” (massora = transmissão). Originalmente o texto hebraico consistia só em consoantes; a partir do século 6 os massoretas acrescentaram sinais vocálicos na forma de pontos e traços debaixo da palavra.
TM
Manuscritos importantes do texto massorético: Manuscrito:
redigido em:
pela escola de:
Códice do Cairo (C)
895
Moisés ben Asher
Códice da sinagoga de Aleppo
depois de 900
Moisés ben Asher
Códice de São Petersburgo
1008
Moisés ben Asher
Códice nº 3 de Erfurt
séc. 9
Ben Nafthali
Códice de Reuchlian
105
Ben Nafthali
(provavelmente destruído em um incêndio)
Textos de Qumran. Os manuscritos encontrados em Qumran, em sua maioria, datam de antes de Cristo, portanto, são mais ou menos 1.000 anos mais antigos do que os mencionados acima. Não existem entre eles textos completos do AT. Manuscritos importantes são • texto de Isaías • comentário de Habacuque
Qumran
O Pentateuco samaritano. Os samaritanos preservaram os cinco livros da lei, em hebraico antigo. Seus manuscritos remontam a um texto muito antigo.
Sam
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Targum
A tradução oral do texto hebraico da Bíblia para o aramaico, no culto na sinagoga (dado que muitos judeus já não entendiam mais hebraico), levou, no século 3, ao registro escrito no assim chamado Targum (= tradução). Essas traduções são, muitas vezes, bastante livres e precisam ser usadas com cuidado.
LXX
A tradução mais antiga do AT para o grego é chamada de “Septuaginta” (LXX = setenta), por causa da história tradicional da sua origem. Diz a história que ela foi traduzida por 72 estudiosos judeus por ordem do rei Ptolomeu Filadelfo, em 200 a.C., em Alexandria. A LXX é uma coletânea de traduções. Os trechos mais antigos, que incluem o Pentateuco, datam do século 3 a.C., provavelmente do Egito. Como esta tradução remonta a um texto hebraico anterior ao dos massoretas, ela é um auxílio importante para todos os trabalhos no texto do AT.
Outras
Ocasionalmente recorre-se a outras traduções do AT. Estas têm menos valor para a pesquisa de texto, por serem traduções do grego (provavelmente da LXX), ou pelo menos fortemente influenciadas por ela (que é o caso da Vulgata). Vulgata (tradução latina de Jerônimo)
a partir do ano 390
Copta séculos 3-4 Etíope século 4
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ÍNDICE DAS ABREVIATURAS 1. Abreviaturas gerais
a.C. Al. AT CE cf. col. d.C. gr hbr jd km lat
= antes de Cristo = Alemão = Antigo Testamento = Comentário Esperança = conforme = coluna = depois de Cristo = grego = hebraico = judeu = quilômetros = Latim
LXX
= Septuaginta (tradução grega do AT) m. = metro(s) NT = Novo Testamento par = texto paralelo p.ex. = por exemplo pág./pg. = página(s) qi = questões introdutórias rm. = romano TM = Texto Massorético v./vv. = versículo(s) vol. = volume Vulg. = Vulgata (versão latina da Bíblia)
2. Abreviaturas de escrituras extracanônicas
1.2Clem 1-4Mb 3.4Ed AdDv AdEt ApEl ApPd BaGr BaSi Did EnEs EnEt
1ª/2ª cartas de Clemente 1-4 Macabeus 3º/4º Esdras Adendos a Davi Adendos a Ester Apocalipse de Elias Apocalipse de Pedro Apocalipse de Baruque grega Apocalipse de Baruque síria Didaquê Enoque eslavo Enoque etíope
EnGr EnHb InFl
Enoque grego Enoque hebraico Carta de Inácio aos filadélfios InMg - aos magnésios InRm - aos romanos Jb Livro dos Jubileus Jt Judite Man Oração de Manassés Sab Sabedoria de Salomão Sir Sirácida ou Eclesiástico Tb Tobias / Tobit TeJu Testamento de Judas TeNa Testamento de Naftali
Índice de abreviaturas
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Outras abreviaturas
apr. ar. ass. ATA AThANT aut. bab. BAT BDR BHH Bill. H.L. BKAT BSt BWAT BZAW cf. cl. cm cp crs. ed. eg. EKK et. EÜ evt. evs. EWNT ha
aproximadamente aramaico assírio Antigo Testamento Alemão Abhandlungen zur Theologie des Alten und Neuen Testamentes [Tratado sobre a teologia do Antigo e do Novo Testamentos] autor babilônio Botschaft des Alten Testaments Blass/Debrunner/Rehkopf: Grammatik des ntl. Griechisch [Gramática do grego nt] Biblisch-historisches Handwörterbuch [Dicionário bíblico-histórico] Strack, R Billerbeck: Kommentar zum Neuen Testament aus Talmud und Midrasch [Comentário do Novo Testamento a partir do Talmude e dos Midrash] Biblischer Kommentar Altes Testament [Comentário bíblico do Antigo Testamento] Biblische Studien [Estudos Bíblicos] Beiträge zur Wissenschaft vom Alten Testament [Contribuições à ciência do Antigo Testamento] Beihefte zur Zeitschrift für die alttestamentliche Wissenschaft [Suplementos à Revista de Ciência Veterotestamentária] confira, conforme coluna centímetros capítulo(s) cristão editor / edição / editado egípcio Evangelisch-katholischer Kommentar zum Neuen Testament [Comentário Evangélico-Católico do Novo Testamento] etíope Einheitsübersetzung (uma das traduções bíblicas alemãs) eventualmente evangelhos Exegetisches Wörterbuch zum NT [Dicionário exegético do Novo Testamento] Hectare
Índice de abreviaturas
HAT hrsg. HThK JBL KAT KEK KNT lit. ln. loc. cit. LÜ LzB mln. mrd. Ms(s.) NF NS nt. NTD Obs. oc. or. pal. par. Peschitta pl. ps. pt. RAC ref. Rev EB s/ss séc.
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Handbuch zum Alten Testament [Manual do Antigo Testamento] herausgegeben Herders Theologischer Kommentar [Comentário Teológico Herder] Journal of biblical literature Kommentar zum Alten Testament [Comentário do Antigo Testamento] Kritisch-exegetischer Kommentar über das Neue Testament [Comentário exegético crítico do Novo Testamento] Kommentar zum NT [Comentário do NT] literal(mente) linha(s) no local citado Luther-Übersetzung, revidierte, 1984 [Tradução bíblica alemã (Lutero 1984)] Lexikon zur Bibel [Enciclopédia Bíblica], ed. por F. Rienecker milênio(s) meridional Manuscrito(s) Neue Folge New Series (Nova Série) neotestamentário Das Neue Testament Deutsch (Versão alemã do NT) Observação ocidental oriental palestino e paralelas versão bíblica síria plural pessoa português Reallexikon für Antike und Christentum [Enciclopédia Real da Antiguidade e do Cristianismo] referente a / referência revidierte Elberfelder Bibel (versão bíblica alemã) seguinte/s século(s)
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set. sg. smt. supl. TBLNT TE THAT ThB ThBeitr ThBl ThWAT ThWNT ThR ThZ trd. TRE vd. vd. ab. vd. ac. vd. tb. vol(s). vt. VT WUNT ZAW ZBK ZNW
ZÜ
Índice de abreviaturas
setentrional singular semítico suplementar Theologisches Begriffslexikon zum NT [Enciclopédia conceitual do NT] teologia evangélica Theologisches Handwörterbuch zum Alten Testament [Pequeno Dicionário do Antigo Testamento] Theologische Bücherei [Biblioteca Teológica] Theologische Beiträge [Artigos Teológicos] Theologische Blätter [Folhas Teológicas] Theologisches Wörterbuch zum Alten Testament [Dicionário Teológico do Antigo Testamento] Theologisches Wörterbuch zum Neuen Testament [Dicionário Teológico do Novo Testamento] Theologische Rundschau [Panorama Teológico] Theologische Zeitschrift [Revista Teológica] traduzir Theologische Realenzyklopädie [Encilopédia Teológica] vide vide abaixo vide acima vide também Volume(s) veterotestamentário Vetus Testamentum Wissenschaftliche Untersuchungen zum Neuen Testament [Pesquisas científicas sobrew o Novo Testamento] Zeitschrift für alttestamentliche Wissenschaft [Revista de Ciência Veterotestamentária] Zürcher Bibelkommentar [Comentário Bíblico de Zurique] Zeitschrift für neutestamentliche Wissenschaft [Revista de Ciência Neotestamentária] Zürcher Bibel (versão alemã da Bíblia)
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Prefácio
Desde que a série neotestamentária do Comentário Esperança teve uma aceitação tão gratificante, com ampla disseminação e parecer favorável dos usuários, pareceu cabível acrescentar-lhe uma exposição do Antigo Testamento. Afinal, conforme mostra a experiência e abstraindo-se alguns textos bem conhecidos dos profetas e dos Salmos, a compreensão dos livros veterotestamentários oferece consideráveis dificuldades a muitos leitores. O resultado é que a Igreja cristã dos nossos tempos tem um acesso bem deficiente ao Antigo Testamento, ficando seus tesouros em grande parte inexplorados. Por isso, nos alegramos com a atual disponibilidade de vários volumes do Comentário Esperança – Antigo Testamento. Da mesma forma que os volumes sobre o Novo Testamento, sua intenção é servir à investigação pessoal das Escrituras pelo leitor da Bíblia, bem como oferecer ajuda para o preparo de sermões, reuniões de estudo bíblicos e ensino bíblico. Diferentemente de diversas opiniões hoje defendidas, o Comentário Esperança – tanto do Antigo quanto do Novo Testamento – parte da premissa de que a Bíblia é Palavra de Deus anotada e transmitida por homens. Isso quer dizer que sua interpretação precisa fazer jus a esse duplo caráter da Escritura Sagrada. Portanto, o Comentário parte do princípio de que se lidará na Bíblia com o documento da fala e da atuação divinas na Criação e na História geradas pelo Espírito de Deus, acompanhado por ele desde sua origem. Ao mesmo tempo, mantém-se em vista que a Bíblia compreendida dessa forma é escritura redigida por homens em situações históricas concretas que, por sua vez, também tem sua história (história da tradição, do cânon, dos efeitos, do testemunho). Por isso uma interpretação objetiva se reportará à história, já que a fé se fundamenta na efetividade do discurso e da atuação de Deus no mundo. Não pode nem quer abrir mão de um exato esclarecimento da ocorrência da revelação divina. Além disso, a exposição precisa manter-se aberta ao fato de que Deus age no leitor e ouvinte em e por meio da sua Palavra. Portanto, ela se dá na expectativa de que Deus fale e atue de maneira correspondente àquilo que se relata no texto. Para a interpretação do Antigo Testamento, isso significa, antes de tudo, a necessidade de preservar o caráter de indicador que o texto veterotestamentário tem com vistas a Jesus Cristo: a história veterotestamentária é vista como história da salvação à luz do Novo Testamento. No mais, isso quer dizer que deverá expressar o caráter profético do texto, ou seja, aquilo que transcende o momento e o local da sua ocorrência primitiva, aguardando ainda seu cumprimento. Em última análise, todo trabalho histórico e teológico no texto se limita a uma espécie de trabalho preliminar. O trabalho em si é Deus quem precisará executar ao nos habilitar a ouvir e entender o texto como sua própria Palavra dirigida e destinada a nós. Por isso, a exposição da Escritura Sagrada se coloca sob, e não sobre, o objeto da sua exposição, porque ela nunca controlará o efetivo sucesso do seu objetivo de tornar audível a Palavra de Deus. Só poderá servir-lhe e disponibilizar ferramentas para este fim. Por isso, todo o trabalho expositivo não pode dispensar a oração durante a leitura, a exposição e o exame da exposição com base na própria Escritura. Quando isso ocorrer, a porta para novas percepções e novos conhecimentos da revelação divina se abrirá amplamente. Os editores
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Prefácio do autor “Preserve a amizade! Não há nada mais belo no mundo do que ela; ela é um consolo nesta vida.” Ambrósio, falecido em 397 Existe um saudosismo a respeito do passado que lança sombras sobre o presente e bloqueia o futuro. Os israelitas, carcados junto ao Mar de Juncos, perderam todo o ânimo de viver porque seu foco estava no passado. Queixavam-se: Acaso não havia sepulturas no Egito? Desde o início não quisemos segui-lo, Moisés! Mais vale ser escravo que defunto! (cf. Êx 14.11s). Ao mesmo tempo vale dizer que todo recalque do passado conduz a uma crise de vida e de fé sem perspectivas. O presente e o futuro estão envoltos na mais profunda escuridão. O passado sempre nos acompanha. Os israelitas superaram seu passado ao levar consigo os restos mortais de José quando saíram do Egito (cf. Êx 13.19). Não haviam suplantado seu passado; antes, o ato de levar com eles a múmia de José remete-os ao término da história de José. Assim os israelitas tinham o passado bem no meio deles. Estavam decididos a cumprir sua promessa e a sepultar José na Terra Prometida (cf. Gn 50.24s). “O novo nunca existe sem conexão com o antigo” (L. M. Pákozdy). Junto com minha esposa, Rosemarie, dedico este comentário do Êxodo dos israelitas do Egito ao meu amigo de muitos anos Georg Rudisile e sua esposa Ella. Essa amizade iniciou-se há 38 anos e, graças às nossas esposas, nunca se rompeu. Tempos difíceis em que nos apoiávamos mutuamente uniram-nos cada vez mais. Nos últimos meses, Ella e Georg Rudisile acompanharam nossa mãe, Elise Bräumer, até o último instante através do escuro vale da morte. Em tudo que experimentamos juntos constatamos que o futuro nunca está atrás de nós. Desejo a todos os leitores deste comentário que levem consigo o passado, que se firmem no presente e que deem corajosos passos em direção ao futuro. Celle, outono de 1996
Hansjörg Bräumer
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Introdução I. A POSIÇÃO DO LIVRO DE ÊXODO NO PENTATEUCO A tradução de “Pentateuco” é “estrutura dos cinco”.1 Este nome foi introduzido no trabalho científico para mostrar que originalmente havia um único livro no lugar dos cinco. Para as comunidades judaicas, até hoje os cinco livros constituem uma unidade. No linguajar judeu, eles recebem a designação de “Lei” (torá). O sentido da palavra hebraica torá vai muito além do nosso conceito de “lei”. Na verdade, significa “instrução”, “ensinamento”, e muitas vezes significa antes um evento do que um documento fixo: “A lei está intimamente unida à História”.2 Um olhar para o conteúdo dos cinco livros de Moisés ainda permite reconhecer facilmente a unidade original. Isso fica particularmente claro quando se examina a obra toda a partir do seu encerramento. Assim, o último capítulo do Deuteronômio relata como Deus mostra a Moisés a terra que prometeu ao seu povo: ... e o Senhor lhe mostrou toda a terra de Gileade até Dã; e todo o Naftali, e a terra de Efraim, e Manassés; e toda a terra de Judá até o mar ocidental; [...] Disse-lhe o Senhor [a Moisés]: Esta é a terra... (Dt 34.1-4). Essas palavras expressam acontecimentos que começam em Êxodo3. Êxodo se inicia com a constituição dos descendentes de Jacó em povo no Egito. Em um contexto contínuo, de Êxodo até Números se relata a história de Israel desde o êxodo até a conquista da terra a leste do Jordão, incluindo a ampla inserção da lei sacerdotal. A meta é o abrangente discurso de Moisés em Deuteronômio.4 Todavia, Êxodo não começa do zero, mas representa a continuação de tudo o que é relatado em Gênesis. A constituição do povo de Israel é o cumprimento da promessa de multiplicação que perpassa as histórias das origens e dos patriarcas desde o relato da criação. Assim, um arco se estende desde o início da criação até o relato da formação do povo.5 As histórias patriarcais precedem imediatamente a história do povo. Representam a história do Israel anunciado e em formação.6 O que originalmente “vale para todos, será dado a Israel de modo particular”. 7 II. MOISÉS E SUA ÉPOCA Moisés, que Deus chamou para libertar Israel na escravidão egípcia, é um desconhecido para os textos não bíblicos da sua época. Não é citado nem em tabuletas de escrita cuneiforme nem em qualquer dos textos egípcios em pedra e papiro. Uma das razões disso é que o Egito era uma nação que não gostava de perpetuar em pedra suas derrotas, e outra é que a faixa de terra siropalestina ainda era muito pobre em documentos e inscrições naquela época.8 1 2 3 4 5 6 7 8
Westermann, Bibelkunde, pg. 15. Weber, pg. 27. Cf. Westermann, Bibelkunde, pg. 15. Idem, pg. 48 Cf. Schmidt, Exodus, pg. 29. Cf. Preuß, Theologie, vol. I, pg. 39. Schmidt, Exodus, pg. 29 Cf. Cazelles, Moses, veja abaixo.
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Esboço da vida de Moisés
O nome Moisés é egípcio e sua tradução é algo como “a criança” ou “o filho”.9 O nome é mais frequente na época da 19ª dinastia (1295 – 1188 a.C.). A fonte mais conhecida é a estela10 do oficial Moisés, de aprox. 1250 a.C., originária da residência dos raméssidas no Delta. O oficial Moisés aparece duas vezes nela. Na parte superior da placa, Ramsés II lança-lhe de uma janela do seu palácio um prêmio em forma de adornos de ouro e prata, o chamado ouro de honra. Na parte inferior, Moisés se ajoelha diante do soberano entronizado e é homenageado e premiado diante dos soldados de Ramsés II em festa.11 O que quer que possa ser dito sobre o Moisés que se tornou libertador dos israelitas terá a tradição bíblica como fonte.12 1. Esboço da vida de Moisés De Êxodo 2.10 a Josué 24.5, o nome de Moisés é citado 706 vezes. Nos livros dos Juízes até 2 Reis, Moisés é citado 16 vezes; 21 vezes em Daniel, Esdras, Neemias e Crônicas, além de oito vezes nos Salmos.13 No Novo Testamento, Moisés é a personalidade veterotestamentária mais citada – 80 vezes. Nessas citações, não são raros os casos em que a imagem de Moisés no Novo Testamento transcende o relato do Antigo.14 Onde isso acontece podem-se pressupor fontes antigas não preservadas. Os pais de Moisés pertenciam aos hebreus oprimidos no Egito (Êx 1; Sab 10.15). Moisés era filho de uma família levítica (Êx 2.1; 6.16,19-20; Nm 26.59; 1Cr 6.1-3; 23.13s) que vivia sob o domínio de um faraó do qual se diz: ... que não conhecera a José (Êx 1.8). Largado no Nilo, Moisés foi salvo de se afogar por uma filha do faraó (Êx 2.1-10; Sab 18.5; At 7.20s) e, educado na corte do faraó, foi educado em toda a ciência dos egípcios (At 7.22). Enquanto Moisés vivia na corte do faraó, os hebreus – até então colonos independentes em Gósen – foram recrutados para obras públicas sem serem pagos por isso. E os israelitas edificaram a Faraó as cidades-celeiros, Pitom e Ramessés (Êx 1.11). Com a idade de 40 anos (At 7.23), Moisés tornou-se testemunha da exploração e dos maus-tratos dos seus patrícios pelos egípcios. Moisés matou um feitor egípcio e enterrou seu cadáver na areia (Êx 2.12). Repudiado pelos seus patrícios e temendo a ira do faraó, Moisés fugiu para uma tribo midianita. Casou-se com Zípora, filha de Jetro. Jetro era o sacerdote e líder da sua tribo. Com Zípora, Moisés teve dois filhos (Êx 2.22s; 18.3s). Quando, depois de muitos anos, morreu o Faraó cuja vingança Moisés precisava temer (Êx 2.23), este retornou ao Egito (Êx 4.18-31). Sua missão, da qual Deus o tinha encarregado por ocasião do seu chamado, era libertar os hebreus da escravidão no Egito (Êx 3.1–4.17). Depois de várias intervenções junto ao Faraó, apoiadas por sinais e milagres – as “pragas egípcias” (Êx 7–12; Dt 34.11s; Sl 105.26-36; Sab 10.16; Sir 45.2s) – o êxodo do Egito teve sucesso. Por um milagre, os descendentes de Jacó foram salvos do exército egípcio que os perseguia (Êx 14–15). 9 Sobre as possibilidades de tradução e as interpretações judaicas do nome Moisés veja o comentário sobre Êx 2.10. 10 Do grego stela, que significa “pedra erguida” ou “alçada”. Na arquitetura e na arqueologia, designa objetos em pedra, como monolitos, nos quais eram efetuadas esculturas em relevo ou textos. (N. de Revisão) 11 Cf. Eggebrecht (ed.), pg. 72s. 12 Cf. Cazelles, mösaeh, Col. 33. 13 Cf. resumo em Odelain/Seguineau, pg. 249. 14 Cf. Jeremias, Moses, pg. 868.
Moisés no Egito
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Por 40 anos, Moisés conduziu o povo através do deserto (Êx 16.35; Nm 14.33s; 32.13; Dt 2.7; 8.2,4; 29.5; Js 5.6; Ne 9.21; Sl 95.10; Am 2.10; At 7.36,42; 13.18; Hb 3.9,17). Tendo chegado a Moabe – defronte a Jericó – Moisés morreu sobre o monte Nebo com a idade de 120 anos (Dt 34). Ao negociar com o Faraó, Moisés tinha 80 anos (Êx 7.7). Se ele viveu 40 anos na corte egípcia (At 7.22s), restam outros 40 anos para sua estada com Jetro e as negociações com o Faraó com cujo governo coincide o êxodo. 2. Moisés no Egito Apesar do grande número de referências que citam Moisés no Antigo e no Novo Testamento, as informações dos textos bíblicos sobre a vida de Moisés são apenas esporádicas. Seu principal interesse não são os elementos biográficos, mas a missão da qual Deus encarregou Moisés. “Todavia, nem por isso a vida de Moisés paira nas nuvens, alheia ao tempo e ao espaço”.15 A época mosaica até o êxodo do Egito é o século 13 a.C. ou, mais exatamente, a época dos soberanos da 19ª dinastia (1295-1188 a.C). a) Ramsés I (1295-1293 a.C.)16 Ramsés I era natural da região oriental do delta do Nilo e pertencia a uma família de oficiais. Seu nome burguês era Paramessu. Sob o faraó Horemheb (1322-1295 a.C.), Paramessu tornou-se o segundo homem no Estado, ostentando os seguintes títulos: capitão da tropa de arqueiros, dos guerreiros em carros e da infantaria; supervisor de todos os estrangeiros; supervisor profético de todos os deuses e vizir. “Portanto, ele reunia em sua pessoa a liderança política, econômica e militar da nação”.17 Desprezando todas as tradições, Horemheb designou Paramessu como seu sucessor no trono. Após a morte de Horemheb, Paramessu ascendeu sem resistências ao trono com o nome de Ramsés I.18 Horemheb havia sido comandante-geral do exército sob o faraó Ay (1326-1322 a. C.)19, que empenhou todo esforço para reorganizar o reino após a morte de Tutancâmon, quando uma total desordem e negligência haviam se disseminado na administração e na economia. Para afastar ameaças externas, Horemheb já empreendera antes de subir ao trono uma campanha militar que o levou até o sul da Palestina. Depois de assumir o trono, ele expediu um edito destinado a eliminar as mazelas no país. Enriquecimento pessoal de funcionários, sonegação de receitas do Estado e de impostos, bem como requisições ilegais por mercenários e funcionários militares passaram a ser punidos. As punições iam de bastonadas a deportação para trabalhos forçados na fortaleza fronteiriça de Silé.20 Contudo, Horemheb também se tornou conhecido por promover “asiáticos” para empregá-los em seus objetivos.21 “Asiáticos” era o nome que se dava no Egito a todos os “estrangeiros”, em particular os semitas, cujos nomes pareciam impronunciáveis.22 15 16
17 18 19 20 21 22
Gelin, pg. 32. O período citado entre parênteses junto aos nomes dos faraós refere-se ao período de governo do respectivo faraó. As indicações numéricas seguem Keel/Küchler/Uehlinger, vol. 1, pg. 502-506. Sobre as divergências, às vezes mínimas, nas datações cf. Otto, Ägypten, pg. 260; cf. também Götter und Pharaonen [Deuses e faraós], pg. 22-24. Otto, Ägypten, pg. 169. Cf. Hirmer/Otto, vol. II, pg. 364. Corresponde à grafia segundo Keel/Küchler/Uehlinger, vol. 1, pg. 502; cf. em contraste Otto, Ägypten [Egito], pg. 260, faraó “Eje”. Cf. Otto, Ägypten, pg. 163-167. Cf. Cazelles, Moses, pg. 17. Cf. Herrmann, Mose, pg. 306.
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Moisés no Egito
Os objetivos que Horemheb perseguia com ajuda dos “asiáticos” eram a centralização do poder, o fomento da vida econômica e a segurança da fronteira norte.23 Para isso, Horemheb podia reportar-se a uma tradição da 13ª dinastia (1785-1650 a.C.). Daquele tempo preservou-se um papiro com uma lista de 95 pessoas da terra e 48 “asiáticos”.24 Como Horemheb acreditava não poder confiar o prosseguimento das suas reformas a ninguém do círculo de sacerdotes intrigantes de Tebas nem a nenhum longínquo parente real, ele designou Paramessu, o futuro Ramsés I, como seu sucessor. Com Ramsés I começou o novo período Raméssida.25 Em Êxodo, a tomada do poder por essa nova linhagem de soberanos, que inclui toda a 19ª e a 20ª dinastia, é caracterizada com as palavras: Entrementes, se levantou novo rei sobre o Egito, que não conhecera a José (Êx 1.8). b) Seti I (1293-1279 a.C.) Quando Ramsés I morreu após um governo de pouco menos de dois anos, o governo passou para seu filho, Seti I, de acordo com o processo natural de hereditariedade. É provável que Seti I já fosse corregente nos tempos do seu idoso pai, e tivesse plena consciência do novo começo na história do Egito empreendido por seu pai. Orgulhosamente acrescentou às datações dos seus primeiros anos de governo designações como “início da infinitude”, “início da eternidade” e “renovação do nascimento”. Essas expressões representam a “enfática marca do início de uma nova época”.26 Uma das novidades do seu programa político foi a transferência da capital do reino para a parte norte do país, na região das localidades modernas de Qantir, Sama’na, Tell el-Dab’a e Chata’na, a cerca de 100 km do Cairo.27 A faixa de terra que agora entra em foco era a parte oriental do delta do Nilo, a terra de Gósen. Ali – como em toda parte do território egípcio – os descendentes de Jacó viviam como colonos livres e independentes. Isso acabou então. O povo de Israel foi recrutado para serviços em obras públicas, sem ser pago por isso28. Esse trabalho forçado era uma espécie de imposto29 de um tipo que não podia ser pago em dinheiro, mas tinha que ser liquidado por meio de trabalho.30 O termo técnico para essa contundente “piora das condições de vida”31 é servidão ou serviço de carregador (cf. Êx 1.11s). A afirmação de que os descendentes de Jacó foram requisitados à força para a construção das cidades-celeiros de Pitom e Ramessés (Êx 1.11) é um “fragmento histórico”.32 A notícia da construção de Pitom e Ramessés é a “mais importante informação geográfica” em Êxodo, porque disponibiliza “material concreto e historicamente convincente”33, permitindo, assim, a localização e datação da servidão dos descendentes de Jacó.34 O volume das obras logo acirrou a servidão (Êx 1.13s). Na área de escavações de Qantir encontrou-se grande número de muros de adobe. Com espessura de 2,10 m, esses muros 23 Cf. Friedel, pg. 309. 24 Cf. Herrmann, Mose, pg. 306. 25 Cf. Otto, Ägypten, pg. 167-169. 26 Idem pg. 170. 27 Cf. Pusch, Pi-Ramesse, pg. 126. 28 Cf. Hertz (ed.), pg. 207. 29 Cf. Hirsch, Exodus, pg. 7. 30 Cf. Leibowitz, pg. 26. 31 Holzinger, pg. 2. 32 Gressmann; citado segundo Schmidt, Sinai und Mose, pg. 26. 33 Herrmann, Geschichte, pg. 87s. 34 Cf. Schmidt, Sinai und Mose, pg. 26.
Moisés no Egito
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atingiam uma altura de pelo menos 4 m.35 São um testemunho da grande demanda de tijolos de barro que os israelitas tiveram que produzir no período da sua servidão.36 A exploração dos descendentes de Jacó estava relacionada ao medo da sua força, resultando na ordem do faraó de matar a descendência masculina dos hebreus (Êx 1.15-22). Moisés nasceu durante aquele período, tendo sido salvo da morte certa por uma filha do faraó e adotado por ela (Êx 2.1-10). À primeira vista, a decisão própria e espontânea da filha do faraó de adotar a criança que ela encontrou parece improvável na sociedade daquele tempo.37 Também não é crível que o ingresso de uma criança hebreia na corte do faraó tenha passado despercebida. Aquela filha do faraó mencionada no relato veterotestamentário deve ter ocupado uma posição grandiosa e livre. Não se diz quem teria sido essa filha do faraó. No entanto, em todas as épocas a corte egípcia abrigava mulheres que desempenhavam papéis influentes. A mais conhecida é a hitita Naptera, com quem Ramsés II (1279-1213 a.C.) se casou após a morte da sua esposa principal. Naptera era filha de Hattusilis III e de sua esposa Puduhepa. Os pais de Naptera estabeleceram a posição de sua filha no contrato de casamento. Na qualidade de esposa principal de Ramsés, mesmo depois do seu casamento ela manteve contato com seus pais, que zelavam por seus direitos.38 Os direitos de Naptera eram “equiparados”39 aos do seu esposo e, com isso, tal como sua mãe Puduhepa, era “civilmente capaz” 40, ou seja, podia firmar contratos e operar legalmente. Para poder adotar Moisés, a filha de Seti I deve também ter sido alguém com direitos e autonomia comparáveis. Seti I governou por 14 anos e seu sucessor foi Ramsés II. c) Ramsés II (1279-1213 a.C.) Em seu governo de 66 anos de duração, Ramsés II tornou-se o “faraó dos recordes”41. Levou adiante em grande estilo as obras de seu pai no leste do delta do Nilo42 e, à semelhança de seu pai, Seti I, perpetuou-se mediante obras monumentais em todo o Egito. Com a transferência do centro político para o norte, Tebas de modo algum perdeu sua importância como cidade de Amon, rei dos deuses, e como necrópole dos faraós. “Tebas permaneceu sendo o centro cultural do reino”43 e tornou-se “cidade sagrada”, guardiã de um passado imponente.44 Mas também outras localidades no sul do Egito mantiveram sua importância cultual e religiosa. Assim, para Seti foi óbvio mandar instalar sua sepultura no Vale dos Reis em Tebas. A sepultura tinha 100 m de comprimento. Seti I construiu em Abidos um templo com colunatas e salões sustentados por pilares. Em uma inscrição dedicatória desse templo, Ramsés II relata seus planos de construir vários templos novos e de completar outros que seu pai iniciara.45 Assim, no templo do deus nacional Amon em Carnac, cujo início remonta à 11ª dinastia, e no templo de Amon-Mut-Khonsu em Luxor identificam-se etapas de construção de Seti I e de Ramsés II. O templo mortuário de Ramsés II é o chamado Ramesseum em Tebas Ocidental. Ramsés II ficou famoso com a edificação do Templo da Rocha em Abu Simbel e pelas numerosas 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45
Cf. Pusch, Pi-Ramesse, pg. 132. Veja o comentário sobre Êx 1.14; 5.7s,l8s. Cf. Noth, Das zweite Buch Mose, pg. 15. Cf. Cornelius, pg. 243-246. Hirmer/Otto, vol. II, pg. 367. Cornelius, pg. 246 Keel/Küchler/Uehlinger, vol. 1, pg. 502s. Veja o comentário sobre Êx 1.11. Hirmer/Otto, vol. II, pg. 365. Cf. Otto, Ägypten, pg. 169. Cf. Beyerlin (ed.), pg. 55.
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Moisés no Egito
estátuas colossais, a mais conhecida das quais está no templo de Ptah, em Mênfis, e tem mais de 13 m de altura.46 Seus ambiciosos planos de obras, contudo, Ramsés II só pôde realizar à custa de apertar cada vez mais o parafuso da servidão. Ao contrário dos seus patrícios, Moisés não “passou pelo deprimente estilo de vida da classe dos escravos”. Ele passou sua juventude na “alta cultura da corte egípcia”.47 Moisés fez a carreira de um escriba egípcio, provavelmente com a meta de ser, um dia, empregado na administração faraônica para o relacionamento com os semitas. A promoção de estrangeiros (especialmente de semitas) com o fim de empregá-los para os seus próprios objetivos é fato conhecido principalmente sob Horemheb.48 Pode-se supor que os raméssidas tenham assumido e assimilado esse costume de Horemheb. Na época de Seti II (1203-1196 a.C.) havia uma verdadeira formação de semitas escribas, ou seja, funcionários. Os estrangeiros recebiam sua formação em instituições, por exemplo no harém de Miver, sob a supervisão de damas de alta classe social.49 Ainda que não existam documentos específicos do período de Ramsés a respeito do assunto, não se pode excluir que também durante o seu governo tenha sido proporcionada educação egípcia a semitas. Quanto aos métodos educacionais no Egito, ficou conhecido o seguinte princípio: “As orelhas do menino estão nas suas costas: ele ouve quando leva açoites”. Em uma carta de agradecimento de um aluno egípcio ao seu mestre lemos: “Açoitaste minhas costas e em meus ouvidos penetraram teus ensinamentos”.50 Muito provavelmente a educação de Moisés visava a futuramente administrar a pasta da servidão semítica. Já na sua primeira viagem de inspeção ele não conseguiu suportar o que viu. Matou um feitor egípcio e fugiu do país para escapar da punição, só retornando ao Egito após a morte de Ramsés II. d) Merenptah (1213-1203 a.C.) Merenptah foi o 14º filho de Ramsés II. Sucedeu ao seu pai no trono já em idade avançada e governou o Egito por dez anos. Tal como seu pai, Merenptah residia em Pi-Ramessés, mas temporariamente também utilizava a residência de Mênfis.51 Ali haviam reinado por último Tutancâmon (1334-1327 a.C.) e os faraós de transição Ay (1326-1322 a.C.) e Horemheb (1322-1295 a.C.).52 Merenptah nada ficou a dever ao seu pai, Ramsés II, em energia e ímpeto53, tendo entrado para a História como general vitorioso. Sabe-se disso graças à grande estela de granito, a Estela da Vitória de Merenptah. Ela tem 3,18 m de altura, largura de 1,63 m e profundidade de 31 cm. O monumento foi erigido no primeiro pátio do templo mortuário de Merenptah para celebrar a vitória no quinto ano do seu governo sobre a coalizão líbia, que havia invadido o Egito com ajuda dos povos do mar. Na lista das nações vencidas consta, bem no fim, aquela que é, até hoje, a única menção conhecida do nome de Israel em fontes egípcias. Por isso a estela é denominada de “Estela de Israel”.54 O contexto no qual consta o nome de Israel é: “Tehenu (a Líbia) foi destruído; a terra dos hititas é pacífica, Canaã foi devastada, Ascalon está presa; Gézer foi destruída, 46 Cf. Hirmer/Otto, vol. II. pg. 409-442. 47 Buber, Moses, pg. 46. 48 Cf. Cazelles, Moses, pg. 17 e as considerações sobre Horemheb sob Ramsés I. 49 Cf. idem, pg. 15. 50 Sabedoria de vida do antigo Egito, traduzida (para o alemão) por Fr. W. v. Bissing; citada em Cazelles, Moses, pg. 16s. 51 Cf. Catálogo do Museu Egípcio: sobre 211, o rei Merenptah. 52 Cf. Keel/Küchler/Uehlinger, vol. 1, pg. 500s e 506. 53 Cf. Otto, Ägypten, pg. 170. 54 Cf. Catálogo do Museu Egípcio: sobre 212, a Estela de Vitória de Merenptah.
Moisés no Egito
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Jenoam foi aniquilado, Israel morreu e não tem mais semente; Charu (a Palestina) ficou viúva para o Egito”.55 Como não existe campanha militar documentada de Merenptah na Ásia, possivelmente a enumeração das cidades da faixa de terra siro-palestina só se destina a sublinhar o fato de que, após rechaçar com sucesso uma invasão líbia, o Egito também não tinha mais nada a temer do leste. O nome Israel tanto pode referir-se a um grupo de homens e mulheres56 como também à terra da qual os israelitas vieram.57 De qualquer modo, a Estela da Vitória de Merenptah celebrava a aridez de Israel e o fato de sua semente não mais existir. Bastava tal declaração de vitória para não se admitir a demissão de Israel da servidão para uma terra na qual pudesse desenvolver-se livremente. Não há como documentar a partir de fontes egípcias a suposição de que Merenptah teria sido o faraó do êxodo.58 Destas nem sequer se depreende que os israelitas estivessem presentes no Egito. Todavia, é mais do que razoável associar Merenptah ao êxodo. “As notícias bíblicas daquele período se encaixam na medida em que o arcabouço histórico geral e algumas indicações isoladas (como a servidão na construção da cidade de Ramessés) correspondem às circunstâncias do Egito na época”.59 As fontes egípcias nada informam sobre o fim de Merenptah. Os egiptólogos alertam para o fato de um exame da múmia de Merenptah não ter fornecido sinais de afogamento.60 Outros consideram possível que Merenptah tenha sido destronado e assassinado.61 Por que Merenptah não poderia ter morrido durante a perseguição aos israelitas, conforme relata o Antigo Testamento?62 De qualquer modo, a história da 19ª dinastia (1295-1188 a.C.) mostra que os relatos bíblicos estão ancorados em solo histórico. Quanto à vida e à personalidade de Moisés, isso significa que “conhecimento histórico pobre afasta de Moisés; conhecimento histórico rico leva de volta a ele”.63
55 56 57 58 59 60 61 62 63
Citação segundo Otto, Ägypten, pg. 177. Cf. Catálogo do Museu Egípcio: sobre 212, a Estela de Vitória de Merenptah. Cf. Hirmer/Otto, vol. II, pg. 443. Cf. Lambelet, pg. 6 e Keel/Küchler/Uehlinger, vol. 1, pg. 507. Hirmer/Otto, vol. II, pg. 443; cf. também o comentário sobre Êx 2.23 e 5.1–11.10. Cf. Catálogo do Museu Egípcio: sobre 212, a Estela de Vitória de Merenptah. Cf. Hirmer/Otto, vol. II, pg. 443. Cf. a exposição ref. Êx 14 e 15. Gelin, pg. 33.
Moisés e os faraós
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III. CRONOLOGIA 64, GENEALOGIA E MAPAS 65 1. Moisés e os faraós “Conhecimento histórico pobre afasta de Moisés; conhecimento histórico rico leva de volta a ele”.66 1295-1293 a.C.
Entrementes, se levantou novo rei sobre o Egito, que não conhecera a José (Êx 1.8)
Ramsés I - Fundador da 19ª dinastia (1295-1188 a.C.) - Originário do leste do delta do Nilo
1293-1279 a.C. Seti I - Início da construção da cidade de Ramsés, Pi-Ramessés
1283 - Nascimento de Moisés - Salvação e adoção por uma filha do faraó 40
1279-1213 a.C. Ramsés II - Chamado de “faraó dos recordes” em vista das suas construções - No 34º do seu governo, casamento com a hitita Naptera
- Treinamento de Moisés para dirigir o departamento de servidão semítica - Assassinato de um egípcio 1243 - Fuga para uma tribo midianita 30 - Retorno após a morte de Ramsés II 1213
1213-1203 a.C.
1213 - Negociações com Merenptah e 10 - Êxodo
Merenptah - Residia em Pi-Ramessés e temporariamente em Mênfis - A Estela da Vitória de Merenptah menciona, pela primeira vez, o nome de Israel. É muito provável que Merenptah tenha sido o faraó do êxodo
1203
1203 - Período no deserto 40 1163 - Morte de Moisés
64 65 66
Sobre os dados dos períodos de governo dos diversos faraós cf. Keel/Küchler/Uehlinger, vol. 1, pg. 502-506. Os mapas foram elaborados com base nas ilustrações em Noth, Geschichte, Apêndice Mapas 1-4, e Donner, ATD 4/1, pg. 95. Gelin, pg. 33.
Enoque Palu Hezrom Carmi
Rúben
Nadabe
Abiú
Simei
Fineias
Eleasar Itamar (∞ filha de Putiel)
Hebrom
Assir
Elcana
Corá Nefegue Zicri
Anrão Isar (∞ Joquebede, filha de Levi)
Arão Moisés (∞ Eliseba, filha de Aminadabe e irmã de Naassom)
Libni
Jemuel Jamim Oade Jaquim Zoar Saul
Simeão
JACÓ/ISRAEL
2. Genealogia de Moisés e Arão
Mali Musi
Abiasafe
Misael Elzafã Sitri
Usiel
Gérson Coate Merari
Levi
Genealogia de Moisés e Arão
31
Egito
32
MA
RM
ED
LÍ BA NO
3. Mapa 1: Egito
ITE
RR
ÂN
EO
San-el-hagar Auaris-Tanis Lago de Sirbon Quantir Tell el-Machuta (Pitom) (Sucote) Lagos amargos On (Heliópolis)
GÓSEN Tell er-Retabe Gizé Sacara
Mênfis
DA RTO DESE ÁBIA AR
TO
ER
ES
D
SINAI
O
BI
LÍ
Djebel Musa
Tell el-Amarna
MAR VERMELHO
NILO Abidos Vale dos Reis
Elefantine
Abu Simbel
Tebas (Luxor/Carnac)
Siene (Assuã)
Petra
De Gósen à montanha de Moisés
33
4. Mapa 2: De Gósen à montanha de Moisés
MAR MEDITERRÂNEO
Lago Mensalé
Buto
GÓSEN
Ramsés
Lago Ballah
Busiris
Tânis
Baal-Zefon Lago de Sirbon Pelúsio Sile
R
Etã
Tell-er-Retabe SU Tell el-Machuta E Bubastis Lago dos Crocodilos D Pi-Hairote Baal-Zefon O Artibis T Vale Tumilat ER Lago Amargo ES
Oásis Cades-Barneia
D
Heliópolis
DE O T ER RÃ S A DE P
Mênfis Mara Elim
GO
DESERTO DE SIN (A)
O LF
Monte er-Ramel
DE
Heracleópolis
DESERTO DE SIN (B)
EZ
SU
Vale F
eiran
SINAI Parã Refidim
Monte Serbal Monte Muça Monte Oaterin
Êxodo 1.1-7
35
Parte 1 A. A SERVIDÃO DE ISRAEL: CAP. 1 – 11 A primeira parte do livro de Êxodo narra os eventos no Egito e a jornada até o Monte Horebe na península do Sinai. I. A FORMAÇÃO DO POVO A PARTIR DOS DESCENDENTES DE JACÓ: 1.1-7 1 São estes os nomes dos filhos de Israel que entraram com Jacó no Egito; cada um entrou com sua família: 2 Rúben, Simeão, Levi e Judá, 3 Issacar, Zebulom e Benjamim, 4 Dã, Naftali, Gade e Aser. 5 Todas as pessoas, pois, que descenderam de Jacó foram setenta; José, porém, estava no Egito. 6 Faleceu José, e todos os seus irmãos, e toda aquela geração. 7 Mas os filhos de Israel foram fecundos, e aumentaram muito, e se multiplicaram, e grandemente se fortaleceram, de maneira que a terra se encheu deles. No contexto dos cinco livros de Moisés, a estada dos descendentes de Jacó no Egito é “parte de um amplo decurso histórico que se estende de Abraão até a imigração na Palestina”.67 Tudo o que Deus prometera a Abraão (Gn 15.13) e Jacó na sua saída da faixa de terra siro-palestina cumpre-se no Egito (Gn 46.3).68 Os descendentes de Abraão, Isaque e Jacó tornam-se um grande povo. A transição da história pessoal e familiar para a história de um povo é indicada pela expressão “são estes”. Com isso, destaca-se que as pessoas mencionadas a seguir são exatamente as mesmas das quais já se tratou em Gênesis.69 Todavia, “o grande passo da história da família patriarcal para a do povo de Israel”70 também transparece nas diferentes denominações do patriarca Jacó. Relata-se que os filhos de Israel ... entraram com Jacó. O patriarca Jacó havia recebido o novo nome “Israel” naquela escura noite de provação junto ao Jaboque (Gn 32.22-32).71 Se Jacó significa algo como “que Deus proteja”, Israel significa “Deus reina”72 ou “Deus é o soberano que sobrepuja tudo em poder e grandeza”.73 Somente na história da formação do povo é que os “filhos de Israel” são simultaneamente chamados de “filhos de Jacó”. Depois disso, passam a ser chamados apenas de filhos de Israel ou israelitas.74 Os descendentes de Jacó só assumiram o nome Israel depois da tomada da terra em Canaã. Antes ele já lhes era familiar.75 A partir de Êxodo 4.22 67 Schmidt, Sinai und Mose, pg. 21. 68 Cf. Keil, Exodus, pg. 355. 69 Cf. Cassuto, Exodus, pg. 7. 70 Noth, Das zweite Buch Mose, pg.10. 71 Cf. Bräumer, Gênesis, Volume 2, pg. 128-133. 72 v. Rad, Israel, pg. 357, obs. 1. 73 Hirsch, Genesis, pg. 473. 74 Cf. Noth, Das zweite Buch Mose, pg. 10. 75 Cf. Herrmann, Geschichte, col. 572 e Zobel, jisrä>el, col. 1000.
1
Êxodo 1.1-7
36
2-5
a Gn 35.22-26
b Gn 29.31– 30.24; 35.22-26; 46.8ss; 49.1-28; Dt 33; 1Cr 2.1s
c Gn 12.10; 26.1s; 41.56s; 42.1s; 43.1; Rt 1.1
encontramos “Israel” como designação do povo que fora escravizado no Egito e presenciou os milagres do êxodo.76 Nas diversas traduções, a expressão “filhos de Israel” é vertida cerca de 680 vezes como “os israelitas”.77 A constatação de que “entraram com Jacó”, cada um com a sua família, é expressão tanto da íntima ligação dos irmãos com seu pai quanto da sua autonomia. Ligação íntima e autonomia não se contradizem. Ambos se condicionam mutuamente: “não é possível imaginar uma ligação íntima sem uma separação do outro”.78 Como filhos de Jacó, todos juntos formavam um povo. Cada um por si, porém, era um ramo autônomo, um centro próprio do seu próprio círculo. A listagem dos filhos de Jacó está organizada em quatro grupos segundo suas mãesa, conforme indica o conectivo “e”. Primeiro, os filhos de Lia: Rúben, Simeão, Levi e Judá; junto com Issacar e Zebulom, também filhos de Lia, aparece o segundo filho de Raquel, Benjamin. Seguem-se Dã e Naftali, os filhos de Bila, serva de Raquel, e depois Gade e Aser, os filhos de Zilpa, a serva de Lia. José, que por ocasião da imigração já vivia há muitos anos no Egito, não consta nesse contexto. Ele é citado à parte (v.5b). Por mais divergente que seja a sequência da listagem dos filhos de Jacób, o número de 12 é constante. No total encontramos 30 listas na Bíblia. Apesar de toda a variedade, elas têm uma coisa em comum: “As tribos formam a base do povo de Deus”.79 Um passo adiante no relato da formação do povo de Israel é a menção de que as pessoas que foram ao Egito com Jacó foram setenta (Gn 46.827). Tanto o número doze quanto o número 70 denotam uma totalidade.80 Assim, já o número dos descendentes de Jacó constituía uma família abençoada, totalmente integrada. Seu número era de setenta – como as nações do mundo inteiro (Gn 10). Era um pequeno mundo dentro do grande.81 Entre as setenta pessoas citadas em Gênesis que se puseram a caminho do Egito, constam apenas duas mulheres. Se acrescentarmos aos 68 homens suas esposas, seus filhos e seus netos, mais os seus escravos e as famílias destes, chega-se a um número total de várias centenas, se não até de alguns milhares que na ocasião ingressaram em território egípcio.82 Uma migração para o Egito – ainda que em estilo mais modesto – não era rara no tempo dos patriarcas. Na maioria dos casos, o motivo era o instinto de autopreservação diante da iminência de alguma fome.c A travessia da fronteira era relativamente livre de problemas. Um texto egípcio escrito por volta de 1200 a.C. contém o relatório de um vigilante da fronteira que diz que os vigias deixaram passar os nômades “para preservar a vida deles e do seu gado segundo a boa vontade do faraó, o bom sol de cada terra”.83 Em geral, porém, era usual que os nômades tivessem que abandonar novamente a 76 Cf. Zobel, jisrä>el, col. 990. 77 Odelain/Seguineau, pg. 149. 78 Hirsch, Exodus, pg. 3. 79 Odelain/Seguineau, pg. 147. 80 Cf. Schmidt, Exodus, pg. 28. 81 “Eles formam um pequeno mundo que se assemelha ao grande mundo, um microcosmo correspondente ao macrocosmo.” Cassuto, Exodus, pg. 8. 82 Cf. Hertz (Hrsg.), pg. 206. 83 Papiro Anastasi VI, pg. 54ss; citado segundo Schmidt, Sinai und Mose, pg. 25.
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terra assim que chovesse no deserto. Para a descendência de Jacó, porém, José destinou a região de Gósen como propriedade permanente.84 Com a morte de José e “a extinção da geração dos filhos de Jacó”85 iniciou-se a segunda geração, que se tornou um grande povo.86 A multiplicação da descendência de Jacó para formar o povo de Israel é descrita por uma sequência de quatro verbos.87 • Os filhos de Israel foram fecundos (hebraico: päräh). Ser fecundo, no sentido de multiplicar-se, ter muitos descendentes, significa o “cumprimento de uma bênção outorgada anteriormente”.88 Na criação e após o dilúvio, Deus profere a bênção “Frutificai e multiplicai-vos” (Gn 1.22,28; 8.17; 9.1,7). Descendentes, o fruto do ventre, são o prêmio do homem abençoado por Deus (Sl 127.3). A mulher que dá filhos a um homem é equiparada a uma videira frutífera (Sl 128.3). • Aumentaram muito (hebraico: säräs). Esse grande aumento ou numerosa proliferação (literalmente: formigar ou ser inúmero) é atribuído principalmente a pequenos animais aquáticos, terrestres ou voadoresd. Já o relato da aliança de Deus com Noé atribui o termo a pessoase. Nesses casos significa algo como “a promessa da multiplicação se cumpriu superabundantemente”.89 • Multiplicaram-se (hebraico: räbä’h). Assim como ser fecundo e proliferar em grande número, multiplicar-se é um sinal do cumprimento da promessa dada por Deusf. No contexto dos verbos com sentido comparável, multiplicar-se significa “arrebentar as barreiras pela abundância e a quantidade”.90 • Fortaleceram-se (hebraico: äsam). O verbo “fortalecer-se” não consta da bênção da Criação. Ele aparece pela primeira vez na promessa dada a Abraão. Abraão se tornaria um povo grande e poderosa (ou forte) (Gn 18.18). Novamente essa promessa se cumpre no Egito. O “fortalecimento (excessivo)” dos descendentes de Jacó (v.7) motiva o faraó a oprimir o povo.91 Em relação aos filhos de Israel, tornar-se forte significa crescer formando um “poder imponente”.92 Os quatro verbos que caracterizam o crescimento da descendência de Jacó para formar o povo de Israel são enfatizados em resumo por meio da expressão “extremamente”93 94 A pequena palavra “muito” ou “mais” (hebraico: me’od) reforça o que se disse antes. Assim, a obra de um dia da Criação é denominada “boa”, mas a obra total é “muito boa” (ţōb me’od) (Gn 1.31). “Mais” ou “muito” aparece mais de 250 84 Cf. Bräumer, Gênesis, Volume 2, pg. 162 e 290. 85 Noth, Das zweite Buch Mose, pg. 10. 86 Cf. Leibowitz, pg. 12. 87 Cf. Hertz (Hrsg.), p. 206 e Leibowitz, pg. 13. 88 Kedar-Kopfstein, päräh, col. 744. 89 Schmidt, Exodus, pg. 29. 90 Hartmann, rab, col. 724. 91 Cf. Lohfink, ‚āsam, col. 320. 92 Hirsch, Exodus, pg. 4. 93 Cf. Leibowitz, pg. 13 e 21. 94 Lit. no alemão: “mehr und mehr” - “mais e mais” (N. de Tradução)
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d Gn l.20s; 7.23; 8,17; Lv 11.20ss e Gn 9.7
f Gn 1.28; 9.1,7; 17.20; 28.3; 35.11; 48.4
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vezes no Antigo Testamento, mas apenas seis vezes na duplicação superlativa “mais e mais”.95 A dificuldade de uma tradução literal fica evidente com as diferentes tentativas de Buber e Rosenzweig. A primeira proposta de Buber foi “além da medida”; enquanto Rosenzweig diz “sem medida e medida”. Ambos acabaram concordando em “mais e mais”.96 Na última versão, o texto de Buber diz “os filhos de Israel frutificaram, formigaram, multiplicaram-se, fortaleceram-se muito, muitíssimo”.97 Com o cumprimento da ordem abençoadora da multiplicação, o pequeno clã de Jacó tornou-se um grande povo.98 Tal como depois da Criação e do Dilúvio, o resultado foi que “enchem a terra”g. O Criador concedeu a prerrogativa desse destino apenas ao homem.99 Os descendentes de Jacó cumpriram sua parte da promessa de multiplicação dirigida a toda a humanidade. A terra que se encheu deles não era apenas a região de Gósen, no leste do delta do Nilo, mas todo o Egito, incluindo os territórios sob controle egípcio.100 A formação do povo de Israel é narrada de modo muito breve, em forma de “uma lista ampliada”.101 No Antigo Testamento, as listas explicativas de origens (genealogias) constituem uma forma própria de exposição histórica.102 Exercem não apenas uma função auxiliar, mas ensinam a entender a origem do homem e, no caso dos filhos de Jacó, a de todo um povo.103 O atual povo de Israel tem uma pré-história determinada pelo próprio Deus. Israel só prevalecerá em sua respectiva atualidade na medida em que preservar as linhas predeterminadas e se mover nessas trajetórias pré-definidas para sua existência.
g Gn 1.28; 9.1
II. SERVIDÃO, TRABALHO FORÇADO E AMEAÇA MORTAL: 1.8-22 A bênção de Deus concretizada nos filhos de Israel tornou-se “motivo de perseguição e sofrimento”.104 8 Entrementes, se levantou novo rei sobre o Egito, que não conhecera a José. 9 Ele disse ao seu povo: Eis que o povo dos filhos de Israel é mais numeroso e mais forte do que nós. 10 Eia, usemos de astúcia para com ele, para que não se multiplique, e seja o caso que, vindo guerra, ele se ajunte com os nossos inimigos, peleje contra nós e saia da terra.
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A expressão “que não conhecera José”, que se tornou proverbial, cobre um extenso período. “Mais uma vez o leitor se depara com o milagre da época de José, mas, ao mesmo tempo, abre-se um futuro que está sob 95 Kedar-Kopfstein, me)od, col. 612s. 96 Citado segundo Leibowitz, pg. 20s. 97 Buber, Die Schrift, vol. 1, pg. 153. 98 Cf. Preuß, Theologie, vol. I, pg. 254. 99 Cf. Schmidt, Exodus, pg. 30. 100 Cf. Hertz (Hrsg.), pg. 206 (veja também o comentário sobre Êx 1.12). 101 Schmidt, Exodus, pg. 29. 102 Cf. Westermann, Genesis I/1, pg. 9. 103 Cf. Bräumer, Gênesis, Volume 1, Excurso II: A origem ajuda o ser humano a compreender: sobre o sentido das genealogias. pg. 106-109. 104 Schmidt, Exodus, pg. 33.
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um prenúncio bem mais tenebroso”.105 Nada consta nem sobre a extensão do tempo decorrido nem sobre o nome do soberano que não sabia mais nada de José ou não queria saber dele. Certo é que os méritos granjeados por José em favor do Egito estavam esquecidos106 ou foram relegados ao esquecimento. Para o novo rei, as realizações sociais e políticas de José não importavam. Não reconhecia nenhum compromisso com os descendentes de Jacó em consideração a José.107 A caracterização do rei como “novo” não presume que alguma dinastia estrangeira tenha assumido o governo. “Novo” significa que se tratava de um rei “que seguia outros princípios de governo que o seu antecessor”.108Nos oitenta anos entre o nascimento de Moisés e o êxodo do Egito (1203 a.C.) reinaram no Egito os faraós Seti I, Ramsés II e Merenptah. O nascimento de Moisés coincidiu com o reinado do faraó Seti I.109 Tratava-se do filho e sucessor de Ramsés I, fundador da dinastia dos raméssidas, que governou apenas cerca de dois anos. Com Ramsés I e Seti I iniciou-se uma nova época na história do Egito. Seti I estava decidido a transferir sua residência para o norte, de onde era natural o seu pai, Ramsés I. Começou, então, a construir um grande centro urbano (Pi-Ramessés) naquela região.110 Todavia, a nova residência ficava na terra de Gósen, que José havia concedido como herdade aos seus irmãos e aos descendentes deles. Assim, para realizar seus objetivos, o faraó Seti I viu-se diante de um “problema judeu” e o expôs ao seu povo. A primeira grande perseguição aos judeus começou – como inúmeras depois dela – não embaixo, com o povo, mas foi instigada de cima, pelo soberano.111 Também o modo como Seti I insuflou seu povo contra os israelitas nunca se extinguiu: jogou com o medo e despertou inveja.112 Dirigindo-se ao seu povo, disse: Para as nossas circunstâncias e nossos interesses113, os filhos de Israel são mais numerosos e mais fortes do que convém. Estão por toda parte e sua influência cresce cada vez mais. Esse discurso de Seti I é um padrão básico assumido por numerosos soberanos ao longo da História para insuflar seus súditos contra o povo de Israel, mas também contra outros “estrangeiros” no país. Convocam os patrícios a se compararem com os “estrangeiros” tanto em relação às posses deles quanto a suas vantagens. Para isso, os exageros desempenham um papel fundamental. Os agitadores apresentam os privilégios dos “estrangeiros” muito maiores do que são. Despertam a noção de que não existe meio de apropriar-se das vantagens dos estrangeiros. “A inveja provém das comparações entre as pessoas, seja em termos de qualidades pessoais, seja de posses [...] dessa ‘comparação impotente’ nascem os sentimentos de inveja”.114 Uma pessoa tomada de inveja não consegue mais conviver com outros. “Sempre demonstrará o desejo de tirar algo 105 v. Rad, Beobachtungen, pg. 580s. 106 Cf. Ehrlich, Vol. I, pg. 258. 107 Cf. Cassuto, Exodus, pg. 9. 108 Keil, Exodus, pg. 356. 109 Cf. Introdução II.2 “Moisés no Egito” e a cronologia “Moisés e os faraós”. 110 Sobre Ramsés I. e Seti I. Cf. Introdução II.2: a) Ramsés I (1295-1293 a.C.) e b) Seti I (1293-1279 a.C.). 111 Cf. Hirsch, Exodus, pg. 5 112 Cf. Hertz (Hrsg.), pg. 207. 113 Cf. Holzinger, pg. 7. 114 Rattner, pg. 80s.
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do outro, de prejudicá-lo de alguma forma, de perturbar, e tenderá a formular desculpas para aquilo que não conseguiu, e a acusar outros”.115 Em seu empenho para impedir maior crescimento dos israelitas, o faraó Seti I decide proceder sabiamente. Pretende atingir seu objetivo não com violência explícita, mas com astúcia.116 Por isso ele discute seu propósito com os sábios do país.117 O resultado é: os israelitas precisam ser confinados aos seus limites, caso contrário algum dia eles ainda se apossarão de toda a terra.118 Se – argumenta o faraó – seu crescimento continuar como nas décadas e nos séculos passados, será mera questão de tempo até que vindo guerra, os descendentes de Jacó transformados em povo se ajuntem com os nossos inimigos. Para dirimir o perigo emergente dos filhos de Israel e evitar prejuízos para o seu povo, Seti I torna-se o primeiro na História a promulgar assim chamadas “leis sobre judeus”.119 Trata-se de quatro instruções e ordens, das quais cada uma é mais radical que a anterior.120 1. A servidão: 1.11-12 11 E os egípcios puseram sobre eles feitores de obras, para os afligirem com suas cargas. E os israelitas edificaram a Faraó as cidades-celeiros, Pitom e Ramessés. 12 Mas, quanto mais os afligiam, tanto mais se multiplicavam e tanto mais se espalhavam; de maneira que se inquietavam por causa dos filhos de Israel;
11 a Êx 1.11; 2.11; 5.4s; 6.6s
Servidão (hebraico: mas) é um tipo de trabalho ao qual se é “forçado” sem que se trate formalmente de “escravidão”.121 O serviço de carregador (hebraico: sebalôt) deriva do verbo “carregar” (hebraico: säbal). O conceito nesta forma aparece apenas em Êxodoa. Enquanto a servidão se refere principalmente a trabalhos de construção, o serviço de carregador é um trabalho de carregamento organizado que assume o transporte dos insumos necessários à obra.122 Os trabalhos na obra e no transporte são supervisionados por feitores. Longe de ser incomum no antigo oriente, a imposição de serviços a estrangeiros é algo óbvio.123 O Egito, em particular, há muito era um país “no qual, por princípio, todo trabalho era realizado por uma população de súditos não livres a serviço do rei”.124 Para Seti I, os descendentes de Jacó não se enquadravam mais entre os cidadãos livres e respeitados do país, mas entre os “estrangeiros que não pertencem à terra”. Deles podia-se cobrar o que se quisesse “pelo ar que se lhes permitia respirar”.125 115 Adler; citado segundo Rattner, pg. 84. 116 Cf. Schmidt, Exodus, pg. 33. 117 Hertz enxerga na formulação “usemos de astúcia” um acordo entre o rei e seus conselheiros. Hertz (Hrsg.), pg. 207. 118 Cf. o original alemão. A versão ARA diz: ... saia da terra. (N. de Tradução) 119 Hirsch, Exodus, pg. 5. 120 Cf. Schmidt, Exodus, pg. 7 121 Noth, mas, col. 1007. 122 Cf. Kellermann, säbal, col. 747s. 123 Cf. Schmidt, Exodus, pg. 35. 124 Noth, Das zweite Buch Mose, pg. 10. 125 Hirsch, Exodus, pg. 7.
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Para Seti I, os filhos de Israel não eram nada mais que um grupo dos assim chamados Hapiru.126 Especialmente nos tempos da servidão, Hapiru (egípcio: cprw) era a designação para “um grupo de trabalhadores oriundo de diferentes elementos étnicos”.127 Tratava-se de pessoas com direitos restritos que tinham que prestar serviços a outros. Decorre daí que os israelitas, a quem se impôs a servidão no Egito, são chamados de hapiru ou hebreus.128 Inicialmente, hebreub significava apenas “pertencente aos estrangeiros”, tornando-se só mais tarde um termo confessional para o povo de Deus do Antigo Testamentoc. Para os egípcios, “hebreu” era um conceito amplo para designar todos os “estrangeiros que não pertencem à terra”.129 Entre eles estavam também os israelitas, que em Êxodo são muitas vezes chamados de “hebreus”d. Os “hebreus” são também mencionados em diversos textos egípcios130, como em uma carta do séc. 13 a.C., a época de Ramsés II. Ela contém uma instrução de distribuição de cereais para “o pessoal do exército” e para os hapiru (os hebreus), “que puxam pedras para o grande pilar [...] de Ramsés, o amado de Amon”.131 Essa passagem de uma carta-modelo em papiro de Leiden, mais a indicação de que edificaram a Faraó as cidades-celeiros, Pitom e Ramessés, constitui um “fragmento histórico”132. Nos catorze anos do seu governo, Seti I não conseguiu concluir seus grandiosos planos de transferência da residência para o leste do delta do Nilo. Ramsés II concluiu-os em grande estilo. Este governou por 66 anos e, particularmente por causa das suas construções, entrou na História com o título de “faraó dos recordes”.133 No leste do delta do Nilo, Ramsés II completou a chamada Cidade de Ramsés iniciada por seu pai Seti I e construiu Pitom. » A Cidade de Ramsés (Pi-Ramessés – Casa de Ramsés) – o Antigo Testamento a chama simplesmente de “Ramessés”e. Oficialmente, a nova capital chamava-se “Casa de Ramsés, amado por (o deus) Amom, grande em vitoriosa força”.134 A residência dos raméssidas no delta era um exemplar de “residência de espaço amplo, que se estendia por um extenso terreno”.135 Ocupava uma área total de quase 30 km², com seu núcleo abrangendo mais de 10 km². A localização de Pi-Ramessés corresponde à área das localidades modernas de Qantir, Sama’na, Tell el-Dab’a e Chata’na.136 Era um gigantesco complexo 126 Sobre a designação “hapiru”, cf. Bräumer, Gênesis, Volume 1, pg. 202 e 203. 127 Herrmann, Geschichte [História], pg. 89. 128 Cf. Schmidt, Sinai und Mose, p. 29s e Donner, ATD 4/1, pg. 91. 129 Hirsch, Exodus, pg. 7. 130 Cf. Galling (Hrsg.), pg. 30s. 131 Noth, Geschichte, pg.11. 132 Gressmann; citado segundo Schmidt, Sinai und Mose, pg. 26. 133 Sobre Ramsés II veja Introdução II.2: (3) Ramsés II (1279-1213 a.C.). 134 Schmidt, Sinai und Mose, pg. 27. 135 Herrmann, Geschichte, pg. 88. Também Amenófis IV (Ecnaton) possuía um complexo residencial muito amplo. De acordo com marcos limítrofes preservados, sua extensão atingia cerca de 15 km de norte a sul e aprox. 20 km de leste a oeste; ebd., Anm. 24. 136 As primeiras escavações ao redor do atual Qantir foram realizadas pelos arqueólogos egípcios Mahmoud Hamza e Labib Habachi. Eles descobriram partes de palácios e residências de altos dignitários raméssidas. A exploração do desenvolvimento das estruturas de todo o complexo urbano e da história de ocupação de partes
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b Gn 14.13; 39.14,17; Êx 21.2; Dt 15.12; Jr 34.9,14 c Jn 1.9; 2Co 11.22; Fp 3.5 d Êx l.15s,19; 2.6s,11; 3.18; 5.3; 7.16; 9.1,13; 10.3
e Gn 47.11; Êx 12.37; Nm 33.3,5
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urbano, com fundições de bronze, oficinas metalúrgicas e para outros materiais. Além disso, Pi-Ramessés era uma praça militar com muitas estrebarias.137 A designação da Cidade de Ramsés, tal como Pitom, como “cidade-celeiro” significa que amplos armazéns, ou até localidades inteiras, haviam sido anexados à capital para fins de abastecimento. Conforme mostram as escavações, como residência real a Cidade de Ramsés tinha as funções de defesa, de veneração cultual e de abastecimento.138 » Pitom (egípcio: pr-’Itm) significa “Casa ou Templo do deus Atum”.139 Pitom é o atual Tell er-Retäbe no Wadi Tumilat (vale do rio seco).140 Pitom situa-se imediatamente a leste do lago do Wadi, cerca de 10 km a leste de Tell el-Machuta, o Sucote bíblico (Êx 12.37).141 Os arqueólogos desenterraram de Tell er-Retäbe amplos armazéns de suprimentos. Pitom era uma cidade-celeiro, sede administrativa e de armazenagem.142 A instalação desses amplos armazéns destinava-se ao abastecimento da corte e do templo, ao suprimento das tropas acantonadas na fronteira e do exército que se deslocava para o norte através da faixa de terra siro-palestina. Além disso coletavam-se ali os produtos da terra destinados ao comércio143. A servidão para a qual os egípcios requisitaram os israelitas pretendia esgotar fisicamente o povo.144 A expectativa dos egípcios era que, com isso diminuísse, o número de nascimentos.145 No entanto, o propósito dos egípcios fracassou redondamente; na verdade, causou o oposto. “Quanto mais o povo de Israel é oprimido, tanto mais cresce”.146 Na mesma medida em que o povo se multiplicava, aumentava o medo que os egípcios tinham dos israelitas.147 Assim se inquietavam por causa dos filhos de Israel.148 [12] Diante da discrepância entre sua intenção de reduzir o número dos israelitas e o resultado, concluíram “que um poder superior ao curso natural dos acontecimentos promovia a multiplicação dos israelita”.149 Todavia, em vez de curvar-se a esse “poder sobrenatural – e assustador para eles”150, impuseram aos israelitas um jugo ainda mais pesado.151
da região adjacente é o objetivo comum estabelecido para as escavações do Museu Pelizaeus em Qantir, sob a direção de Arne Eggebrecht, e dos empreendimentos do Instituto Arqueológico Austríaco do Cairo, sob a direção de Manfred Bietak. Cf. Pusch, Pi-Ramesse, pg. 126. 137 Cf. Pusch, Oficinas metalúrgicas, pg. 75ss. 138 Cf. Schmidt, Exodus, pg. 39. 139 Schmidt, Sinai und Mose, pg. 27. 140 Cf. Noth, Geschichte, pg. 107, Anm. 2. 141 Cf. Donner, ATD 4/1, pg. 89; Noth, Geschichte, pg. 107. Sobre Sucote, veja o comentário sobre Êx 12.37. 142 Cf. Herrmann, Geschichte, pg. 88. 143 Cf. Schmidt, Exodus, pg. 39. 144 Cf. Keil, Exodus, pg. 358. 145 Cf. Strack, Exodus, pg. 165. 146 Schmidt, Exodus, pg. 40. 147 Cf. Cassuto, Exodus, pg. 11. 148 No original em alemão, literalmente: “foram tomados de temor e terror”. (N. de Tradução) 149 Strack, Exodus, pg. 165. 150 Keil, Exodus, pg. 359. 151 Cf. Cassuto, Exodus, pg. 11.
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2. O recrudescimento do trabalho forçado: 1.13-14 13 então, os egípcios, com tirania, faziam servir os filhos de Israel 14 e lhes fizeram amargar a vida com dura servidão, em barro, e em tijolos, e com todo o trabalho no campo; com todo o serviço em que na tirania os serviam. Esses dois versículos mencionam cinco vezes a “servidão tirânica”.152 Cinco vezes aparece o termo trabalho ou trabalhar (hebraico: >ābad). Os termos se sucedem como cinco marteladas.153 São definidos mais exatamente pelo substantivo “tirania”154, o adjetivo “duro” e o verbo “amargar”. Os egípcios forçavam os israelitas ao trabalho, sem hesitar diante de nenhuma violência e de maus tratos. Os israelitas sofriam sob a violência (hebraico: päräk).155 Como um eco, o termo “tirania” (ou “violência”, “maus tratos”) se repete ao final da breve descrição do aumento do trabalho forçado.156 O trabalho imposto aos israelitas amargou sua vida.157 Os egípcios não omitiam nada que pudesse desgastar as forças dos israelitas por meio de “inventivas chicanas” e “requintada dureza”.158 O trabalho em si era duplo: produzir tijolos de barro e realizar todo o trabalho no campo. » Tijolos de barro eram o que os egípcios utilizavam como material de construção, além de blocos de pedra extraídos de rochas. No Museu Britânico em Londres estão expostos tijolos de barro com o carimbo do nome de Ramsés II159, o lodo do Nilo e o barro eram umedecidos, misturados com palha, moldados em caixas de madeiraf e secados ao sol.160 No Egito, utilizavam-se pedras lavradas para erigir templos, necrópoles e os monumentais portões. Já as muralhas das cidades, lojas, escolas, armazéns, casas particulares, mas também os palácios reais, eram de tijolos. Seus muros atingiam a espessura de um metro. Diferente era o caso das muralhas das cidades. Essas tinham espessuras de 15 a 18 metros e eram tão altas que, para fora, encobriam tudo o que ocorria do lado interno. Tais edificações requeriam quantidades astronômicas de tijolos.161 » Os israelitas não ficaram livres do trabalho no campo, apesar de terem que produzir imensidões de tijolos. O trabalho no campo caracterizava-se pela cansativa irrigaçãog do solo.162 A manutenção dos canais de irrigação e a supervisão da irrigação estavam entre os trabalhos de mais baixo nível no Egito. Para isso os egípcios lançavam mão de escravos, como trabalho forçado ou punição.163 152 Buber, Moses, pg. 41. 153 Cf. Cassuto, Exodus, pg. 12. 154 No original em alemão: “violência” e “maus tratos”. (N. de Tradução) 155 Cf. Schmidt, Exodus, pg. 41. 156 Cf. Cassuto, Exodus, pg. 12. 157 Cf. Ringgren, mrr, col. 18. 158 Hirsch, Exodus, pg. 8. 159 Cf. Hertz (Hrsg.), pg. 208. 160 Cf. Schmidt, Exodus, pg. 41. 161 Cf. Montet, pg. 135. 162 Cf. Keil, Exodus, pg. 359; Strack, Exodus, pg. 165; Holzinger, pg. 3. 163 Cf. Montet, pg. 137.
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f Na 3.14
g Dt 11.10
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