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Moisés no Egito
estátuas colossais, a mais conhecida das quais está no templo de Ptah, em Mênfis, e tem mais de 13 m de altura.46 Seus ambiciosos planos de obras, contudo, Ramsés II só pôde realizar à custa de apertar cada vez mais o parafuso da servidão. Ao contrário dos seus patrícios, Moisés não “passou pelo deprimente estilo de vida da classe dos escravos”. Ele passou sua juventude na “alta cultura da corte egípcia”.47 Moisés fez a carreira de um escriba egípcio, provavelmente com a meta de ser, um dia, empregado na administração faraônica para o relacionamento com os semitas. A promoção de estrangeiros (especialmente de semitas) com o fim de empregá-los para os seus próprios objetivos é fato conhecido principalmente sob Horemheb.48 Pode-se supor que os raméssidas tenham assumido e assimilado esse costume de Horemheb. Na época de Seti II (1203-1196 a.C.) havia uma verdadeira formação de semitas escribas, ou seja, funcionários. Os estrangeiros recebiam sua formação em instituições, por exemplo no harém de Miver, sob a supervisão de damas de alta classe social.49 Ainda que não existam documentos específicos do período de Ramsés a respeito do assunto, não se pode excluir que também durante o seu governo tenha sido proporcionada educação egípcia a semitas. Quanto aos métodos educacionais no Egito, ficou conhecido o seguinte princípio: “As orelhas do menino estão nas suas costas: ele ouve quando leva açoites”. Em uma carta de agradecimento de um aluno egípcio ao seu mestre lemos: “Açoitaste minhas costas e em meus ouvidos penetraram teus ensinamentos”.50 Muito provavelmente a educação de Moisés visava a futuramente administrar a pasta da servidão semítica. Já na sua primeira viagem de inspeção ele não conseguiu suportar o que viu. Matou um feitor egípcio e fugiu do país para escapar da punição, só retornando ao Egito após a morte de Ramsés II. d) Merenptah (1213-1203 a.C.) Merenptah foi o 14º filho de Ramsés II. Sucedeu ao seu pai no trono já em idade avançada e governou o Egito por dez anos. Tal como seu pai, Merenptah residia em Pi-Ramessés, mas temporariamente também utilizava a residência de Mênfis.51 Ali haviam reinado por último Tutancâmon (1334-1327 a.C.) e os faraós de transição Ay (1326-1322 a.C.) e Horemheb (1322-1295 a.C.).52 Merenptah nada ficou a dever ao seu pai, Ramsés II, em energia e ímpeto53, tendo entrado para a História como general vitorioso. Sabe-se disso graças à grande estela de granito, a Estela da Vitória de Merenptah. Ela tem 3,18 m de altura, largura de 1,63 m e profundidade de 31 cm. O monumento foi erigido no primeiro pátio do templo mortuário de Merenptah para celebrar a vitória no quinto ano do seu governo sobre a coalizão líbia, que havia invadido o Egito com ajuda dos povos do mar. Na lista das nações vencidas consta, bem no fim, aquela que é, até hoje, a única menção conhecida do nome de Israel em fontes egípcias. Por isso a estela é denominada de “Estela de Israel”.54 O contexto no qual consta o nome de Israel é: “Tehenu (a Líbia) foi destruído; a terra dos hititas é pacífica, Canaã foi devastada, Ascalon está presa; Gézer foi destruída, 46 Cf. Hirmer/Otto, vol. II. pg. 409-442. 47 Buber, Moses, pg. 46. 48 Cf. Cazelles, Moses, pg. 17 e as considerações sobre Horemheb sob Ramsés I. 49 Cf. idem, pg. 15. 50 Sabedoria de vida do antigo Egito, traduzida (para o alemão) por Fr. W. v. Bissing; citada em Cazelles, Moses, pg. 16s. 51 Cf. Catálogo do Museu Egípcio: sobre 211, o rei Merenptah. 52 Cf. Keel/Küchler/Uehlinger, vol. 1, pg. 500s e 506. 53 Cf. Otto, Ägypten, pg. 170. 54 Cf. Catálogo do Museu Egípcio: sobre 212, a Estela de Vitória de Merenptah.