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EUROPA COM MINHA MÃE

"Como mulher, eu não tenho país. Como mulher, meu país é o mundo inteiro".

Virginia Wolf

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Em 1993, meu irmão Gustavo estava morando em Paris-França, fazendo seu doutorado em Ciência Política. Eu e minha mãe viajamos para lá no mês de julho, no MD 11 da VASP, Rio-Bruxelas, onde ficamos dois dias no Hotel Opera, 53 Rue Greny, ciceroneados por Maria Helena e esposo. Visitamos a Grand Plaza, Galerie Hubert, La Monnaie (a Ópera), o mercado das pulgas (horrível!), e o manequinho mijão que estava vestido de americano!! Fomos a Waterloo, onde Napoleão perdeu a guerra definitiva e voltamos por um parque florestal maravilhoso.

Dali, seguimos de trem para Paris, onde nos hospedamos com Gustavo e Yone, na Av. Parmentier 118, no 11º. ème. No primeiro fim de semana, fomos para Londres com Gustavo e Yone e um casal amigo deles, Newton e Rosa. Pegamos um ônibus para Calais e de lá atravessamos o Canal da Mancha em um ferry boat para Dover, onde pegamos outro ônibus para Londres, cujo povo gostei bastante: atencioso, educado e prestativo. Ficamos no Hotel Oxford, na Penywern Rd., 24. O recepcionista era brasileiro e ele nos deu um quarto enorme ótimo, pois dormimos todos nesse quarto e foi uma farra ótima de dois dias. Os garçons no café da manhã também eram brasileiros e capricharam na quantidade de pães e geléias com café (que era só o que tinha!).

Compramos o ticket de um dia do metrô (o mais antigo do mundo e parecia que os trens eram os mesmos ainda de tão velhos!!) e fomos assistir à mudança de guarda do palácio de Buckingham, onde vive a rainha Elizabeth II; descansamos nas cadeiras do parque St. James - o mais antigo de Londres -; visitamos o British Museum, com 240 anos, onde me emocionei muito vendo a pedra de Rosetta e o que ela significou para os estudos de lingüística do mundo, bem como a primeira edição publicada de Hamlet, de Shakespeare, em 1604, além dos grandes saques arqueológicos feitos na Grécia e no Egito, com templos inteiros e objetos transpostos para as salas do museu; conhecemos a ponte móvel no rio Tâmisa, que completava 101 anos; o famoso relógio Big Ben, com

134 anos; a Oxford Street, a rua mais movimentada da Europa à época; a Picadilly Circus; a Charing Cross Road (do sublime filme “Nunca te vi... sempre te amei”, com Anthony Hopkins e Anne Bancroff, 1987); a Tower Hill, onde morou Henrique VIII; a Igreja de St. Paul; e a Abadia de Westminster – templo das coroações, casamentos e funerais de reis/rainhas do Reino Unido. Andamos no tradicional ônibus de dois andares e muito a pé, conhecendo a cidade, o movimento da Trafalgar Square, a elegante Harrods da Brompton Road (lotada!), e entramos nas tradicionais cabines telefônicas vermelhas - ícones do design britânico. Às noites, saíamos para conhecer os pubs londrinos, alguns servindo apenas bebidas, o que achei bem bizarro. No caminho para Dover, entramos em Canterbury - dos famosos contos de Chaucer - , e conhecemos o castelo medieval de Dover, que é uma cidade muito charmosa, cheia de falésias portentosas na sua costa.

Depois de percorrer os lugares principais que queríamos ainda conhecer em Paris, fomos a Versailles, com a esplendora sala dos espelhos e os requintados aposentos de Maria Antonieta, onde ela trocava a decoração no verão e no inverno; também ali está a Sala da Coroação, onde a tela da coroação de Napoleão, pintada por David, esteve até ser transferida para o Louvre; e depois fomos a Fontainebleau, onde morou Josefina, mulher de Napoleão– os castelos das minhas leituras sobre a França -, passando por cidadezinhas muito agradáveis como Evry e Essonnes.

À Eurodisney, fomos eu e minha mãe, de trem, para atender à vontade dela, que percorreu todo o parque, enquanto eu só vi um filme em 3D do Michael Jackson e fiquei encantada com aquele recurso cinematográfico, no qual um dos meus cantores estrangeiros favoritos cantava quase no meu ouvido e com o microfone no meu rosto!

Em seguida, viajamos com Gustavo e Yone para Amiens – cidade de Jules Verne-, onde o casal morou enquanto Gustavo assistia aulas na Université de Picardie Jules Verne. O que mais me impressionou era que na pequena cidade de 130 mil habitantes havia 16 cinemas, enquanto em João Pessoa, capital da Paraíba, com o dobro de habitantes, havia quatro. Curiosas são as casas mais velhas, algumas tortas e empenadas. Visitamos a casa de Julio Verne, que foi prefeito da cidade natal. De lá fomos para Rouen - capital histórica da Normandia-, onde Joana D’Arc foi presa e queimada viva em praça pública, e Heloísa de Abelardo estudou em um convento. A Catedral de Notre Dame, bombardeada na 2ª. Guerra Mundial, manteve o Cristo com os braços, as pernas e os pés quebrados. Fizemos esta viagem em um carro alugado e passamos pelas estradas nacionais, que atravessavam as pequenas cidades do percurso, a grande maioria com extensas plantações de batatas, e todas enfeitadas nas prefeituras, praças, bancos e comércios com as bandeiras e motivos patrióticos, pois se aproximava o 14 de julho, o Dia da Bastilha. Passamos por Chambourcy, Mantes, Rosny-sur-Seine, Vernon, Vironvay, St. Adrien, Anfreville, entre outras. Neste dia, ficamos na ponte Neuf- a mais antiga da cidade-, do Rio Sena, para assistir ao tradicional show pirotécnico na Torre Eiffel, que marca a data histórica. As ruas lotadas de gente com as famosas flâmulas em azul, branco e vermelho nas mãos. Como íamos passar 35 dias por lá, decidimos pegar um tour da Aliança Francesa, de dezesseis dias, pela Espanha e Portugal, de ônibus. Foi uma aventura pitoresca. A maioria dos turistas era coreano/a: supersimpáticos, educados e silenciosos. Fomos a Sevilha – capital da Andaluzia-, de onde Colombo saiu para descobrir a América e o pintor Murillo nasceu e viveu -, e que havia feito a EXPO 92: vimos uma cidade linda, bem-cuidada e apaixonante, com as mais lindas pombas brancas que já vi em volta de mim (e é um animal que não gosto!); a Córdoba – com sua ponte do século I que prova ainda a grandeza do império romano que a construiu-; Toledo – onde o ônibus não pode entrar na cidade e tivemos que subir algumas ladeiras para visitar o

museu de El Greco e ficar numa fila à porta da Igreja de São Tomé, por mais de uma hora, para entrar e ver apenas a pintura O Enterro do Conde de Orgaz, de El Greco. Depois do almoço, sentei-me numa escadaria para escrever meu diário de viagem e os cartões que enviava para Luiz Otávio e para as amigas e familiares. Terminado, fechei o caderno e coloquei-o ao lado para admirar o movimento dos/as passantes. Quando a guia turística nos chamou para partir, eu a segui sem meu caderno e só me dei conta ao chegar no ônibus. Tive que subir as ladeiras novamente quase correndo, pensando que não veria mais meus pertences, mas os encontrei no mesmo lugar....Minha mãe torceu o pé e foi o creme de uma das turistas coreanas que lhe aliviou a dor. Na estrada para lá, na região de Castilla-La Mancha, passamos pelos moinhos de vento sobre uma colina junto a um pequeno forte, os mesmos vistos por Don Quixote, de Cervantes. Naquela época, havia a siesta em toda a Espanha: tudo fechava das 13h30 às 16h.

Em Portugal, entramos pelo Algarve, que é a belíssima região das praias onde ingleses e alemães costumam passar o verão. Passamos por Lagos, Portimão e Quarteira, onde ficamos no Hotel Pinhal do Sol, a 15km de Faro. Eu e minha mãe resolvemos sair do hotel a pé para a cidade e foi uma ‘aventura’, pois a distância era muito grande e só nos demos conta no retorno por lugares desertos sob a noite caindo...Em Lisboa novamente revimos os lugares clássicos como o Rossio; Belém – onde não gostei do famoso pastel e me livrei daquelas intermináveis filas nos meus futuros retornos ao bairro; subimos as ladeiras do Chiado para ir ao café A Brasileira para ver Fernando Pessoa a sua porta, materializado na mais famosa escultura do país. Mas foi em Sintra, pela primeira vez, que tive a grande emoção de visitar o Palácio Nacional de Sintra, onde, na Sala das Pegas, Camões leu Os Lusíadas para D. Sebastião. Como professora de literatura portuguesa, ali foi uma conexão maior do que com Fernando Pessoa porque Camões é a tradução da narrativa lusitana. A viagem prosseguiu subindo o país

para visitar a bela, medieval e toda murada Óbidos, cheia de buganvilles pelas ruas. Em Alcobaça, vi os túmulos dos apaixonados Pedro I e Inês de Castro, no mosteiro de Alcobaça, cuja igreja é a primeira em estilo gótico do país. Visitamos também o Convento de Cristo, na cidade templária de Tomar; o Mosteiro da Batalha, eleito uma das sete maravilhas de Portugal, em Batalha; as calçadas em ondas como as de Copacabana na famosa praia das ondas gigantes, Nazaré; e o Castelo de Leiria, na cidade do mesmo nome. Fomos também a Fátima, para ver o Santuário de uma das minhas santinhas preferidas, a missa foi em italiano! A garçonete de um café não entendeu meu português!!! Em Coimbra, andamos a pé subindo e descendo as inúmeras ladeiras parecidas com as de Ouro Preto, Olinda ou São Luis, e nos detivemos, obviamente, na Universidade de Coimbra. Voltamos à Espanha, onde assistimos um casamento lindo na Catedral Velha de Salamanca, com noivo e noiva e convidados/as se congratulando na praça em frente depois da cerimônia. Almoçamos no famoso restaurante da Sé. Descemos para Madri – onde voltava pela terceira vez -, para encerrar a viagem ibérica.

Em Paris novamente, retomamos os roteiros turísticos. Gustavo e Yone nos acompanhavam em muitos deles, como no Fórum des Halles, Beaubourg – onde havia um marcador que anunciava os dias que faltavam para o ano 2000: 204717771 -, Marrais, Champs Elysées, Notre Dame, Sorbonne, Boulevard St. Michel, Palácio de Luxemburgo, Igreja de St. Sulpice, Montparnasse, Trocadero, Museu do Rodin. E ainda faziam almoços e jantares maravilhosos, como o gostosíssimo strogonoff de dinde – a perua francesa -, ou camarões e pescados frescos com muita salada. E ainda para fechar meu circuito napoleônico, fui ao Castelo

Malmaison, onde Josephine também viveu e foi o palácio do Consulado do emblemático corso, e onde a ex-imperatriz faleceu, em 1814.

Eu e minha mãe ainda fizemos o passeio no bateau mouche à noite, que mostra as pontes e as ilhas mais importantes do Rio Sena, os monumentos mais famosos, a casa do darling Voltaire e o mais antigo hospital de Paris, o Hôtel-Dieu (do ano de 661). Foi supér! Também fui assistir ao meu filme preferido de todos até hoje, O Piano, de Jane Campion (Cannes 93), com Gustavo e Yone. Saí do cinema muda de emoção. Alugamos um carro para eles nos levarem de volta a Bruxelas para o voo de retorno e ainda passeamos pela capital belga.

NEW YORK COM ADRIANA (+WASHINGTON D.C., PHILADELPHIA & BOSTON). TAMBÉM COM DARLON, HELENA & EDUARDO DAVEL "Amigos não são os que dizem: vá em frente. Mas sim os que dizem: vou com você".

Anônimo

De 1994 a 1999 (este com Climério e Cinthia), fui a Nova York no mês de fevereiro para assistir aos espetáculos da Broadway e para a “opera season” do Metropolitan Opera House. No primeiro ano, fui sozinha pela empresa Soletur, que vendia um pacote de uma semana por US$800. Foram os mesmos -empresa turística e hotel - desses anos todos: Days Inn, na 8th & 48th St., que já não existe mais. A partir de 1995, Adriana Candal me acompanhou também. Ela ia quase exclusivamente para fazer compras para sua loja de roupas e objetos diversos, em Itajubá. A gente se encontrava para ir ao cinema ou para algum show na Broadway, à tarde ou à noite.

Um domingo de manhã fomos a um culto no Mount Moriah Baptist Church, de afro-descendentes, para ouvir os cantos gospels. Foi um momento de grande epifania para mim, que adoro música gospel. A pizza no John’s, na 278 Bleecker St., em Greenwich Village, era um passeio anual. Eu ainda admirava Woody Allen, seu freqüentador mais famoso. Hoje, gosto apenas dos seus filmes; não mais do ser humano. Naquele bairro charmoso, também estava o famoso Blue Note – onde lendas do jazz se apresentam desde sua inauguração, em 1981. Por ali estiveram artistas como Dizzy Gillespsie, Sarah Vaughan, Carmen McRae e o Modern Jazz Quartet. Em 1996, eu e Adriana viajamos para Washington D.C., onde recordei os anos que ali estudei na American University. O que mais me impressionou foi aquela senhora latina que ali protestava desde 1981, Conception Picciotto, contra a proliferação nuclear e a favor da paz mundial. Ela se abrigava numa barraca de lona e ali vivia. Ela faleceu em 2013, depois de 32 anos de protesto.

Ainda fomos ao espetacular Smithsonian Institution, onde tem o Museu do Espaço com a história dos pioneiros da aviação americana. Ver a Apollo 11 foi uma emoção indescritível, pois eu tinha 11 anos quando Neil Armstrong pisou na lua (20/7/1968) e somente eu e meu pai assistíamos na TV em preto e branco da nossa sala, no EPV, Rio de Janeiro. Aquele momento ficou gravado no meu coração viageiro. Da mesma forma, foi muito emocionante ver o avião de Amelia Earhart, que sumiu no Oceano Pacífico, em um voo que pretendia dar a volta ao mundo, em 1937. Foi a primeira mulher a voar sozinha sobre o Oceano Atlântico. Linda, corajosa, admirável Amelia! E pousar novamente com a Estátua de Lincoln, meu presidente americano favorito, foi maravilhoso, pois a única foto que eu tinha ali foi toda borrada por uma caneta tinteiro que lhe caiu em cima...Outro instante especial foi ver os monumentos em memória dos/as mortos/as nas guerras do Vietnã

e da Coréia. O que mais me emocionou foi a muralha em homenagem à Guerra da Coréia, cuja inscrição FREEDOM IS NOT FREE (liberdade não é de graça) tem sido um dos meus ‘mantras’ pessoais desde então. A obra é de uma beleza granítica clássica e elegante bem comovente.

Em 1997, Darlon Rubinger foi a nova companhia de viagem. Divertido e ousado, Darlon gastou quase todos seus dólares no primeiro fim de semana, o que o privou de ir aos teatros e cinemas durante a semana restante comigo e Adriana. Mas atravessamos juntos o Central Park de West para East; almoçamos no restaurante “Costa Azzura”, na Little Italy; fomos ao Brooklyn a pé; comemos pizza no “Sbarro” da Broadway; e fomos ao cinema ver “In Love and war”, com Sandra Bullock, sobre o primeiro amor do escritor Ernest Hemingway, um darling amado. Neste ano, não fui a óperas (Pavarotti no Metropolitan estava “Sold Out”), só aos espetáculos. Os dois foram para a Estátua da Liberdade, mas eu não quis ir. Nunca quis ir mais depois de três tentativas infrutíferas no passado...Fui para a Universidade de Columbia e, depois, encontrá-los no Píer 17 para o almoço. Soubemos da morte do Paulo Francis e eu fiquei bem abalada, pois gostava muito dele, era um dos meus jornalistas preferidos e foi muito importante nas minhas primeiras construções intelectuais. Era mau-humorado, irascível, mas de uma inteligência privilegiada. Ele foi enterrado lá em New York. Não tenho fotos com Darlon (e ele perdeu as dele), somente a notícia da nossa viagem que saiu no único jornal da cidade, o Sul de Minas.

Na Great Station, eu e Adriana tomamos o ônibus Greyhound para New Jersey e Philadelphia – maior cidade da Pensilvânia e que foi a primeira capital do país até Washington D.C. ser construída, passando a ser a capital em 1800. Fizemos o roteiro histórico: Monte Laurel; Camden; ver o Sino da Independência; o local onde foi assinada a Declaração e a nova Constituição, e o Museu da Independência: todos no Independence Hall (1753) – o principal prédio da Independência Americana, Patrimônio Mundial da UNESCO, em 1979 -; e a região portuária para ver o Rio Delaware, em cuja bacia existem cerca de cinquenta lagos. Pegamos o ônibus 21 para conhecer a Universidade da Pensylvania, seguimos a pé até downtown para almoçar e ver as inúmeras lojas de sapatos e casacos.

Em 1998, viajamos eu, Adriana e Helena Lopes. Tomávamos café da manhã no Green Emporium Café, pois o hotel não o servia. Dali seguíamos para os roteiros do dia: Central Park, Greenwich Village, Soho, andar pela 5ª. avenida, ver o Rockfeller Center etc.. Fui com Helena ver A Flauta Mágica, no Metropolitan Opera House. Fomos, ainda, para Boston – capital de Massachussets-, saindo da Great Station. Lá, pegamos um city tour que nos mostrou o MIT; a Harvard University; a Biblioteca Pública; o bairro Back Bay de ruas charmosas; o bairro italiano North End; a igreja da Trindade; o maior prédio da cidade, o John Hancock Tower; o Rio Charles; e a Massachussets State House - que é o prédio mais antigo da Beacon Street, onde trabalha o Governador. A Estátua de James Adams é uma homenagem ao “pai da revolução americana” (para mim, a mais bem-sucedida de todas, pois foi feita para libertar, efetivamente, o povo americano do jugo inglês e criar uma nação de fato). Ela está na frente do majestoso prédio Faneuil Hall Boston (1743), onde James Adams proferiu vários discursos pela independência dos EUA, e é chamado de “o berço da liberdade”. Hoje faz parte do Boston National Historical Park e é um dos pontos principais da Freedom Trail – um caminho de quatro quilômetros que passa por dezesseis locais importantes da história do país, tais quais Boston Common, Park Street Church, King’s Chapel, Old State House.

Na primeira manhã do retorno, o querido amigo Eduardo Davel estava no lobby do hotel me esperando para tomarmos café da manhã no Algonquin Hotel, mas não nos deixaram entrar, então, fomos para o Café Europa, na 6ª avenida. Depois, Eduardo deu-me de presente uma visita ao Cloisters Museum – um mosteiro medieval transportado da Europa e reconstruído no Harlem, onde almoçamos. Ele é um ramo do Metropolitan Museum of Art e é um conjunto de cinco claustros medievais franceses reagrupados no local na década de 30 (processo semelhante ao Museu Espanhol, em Miami). Tomamos o metrô para Washington Square e fomos para a biblioteca da Universidade de New

York, onde ele fazia um curso. De lá, saímos andando pela East Village e passamos pelo famoso jornal Village Voice. No outro dia, tomamos café com Adriana e Helena no Green Emporium e seguimos para o Metropolitan Museum, onde eu finalmente consegui ver a Mulher de Vermelho, do meu darling Cézanne, como a descreveu Rilke em seu livro Cartas sobre Cèzanne, com a vigia só dizendo “no flash, no flash”. Almoçamos lá. À tarde, só eu e Eduardo, passamos horas bem agradáveis no Moma, onde vimos as pop Sopas Campbells do Andy Warhol, e assistimos a um concerto de jazz; e na livraria Rizzoli, na 57th Street (fechada em 2014, reaberta em outro endereço: 1133 Broadway 26th in NoMad) – cenário do amor de Meryl Streep e Robert de Niro, no filme “Amor à primeira vista”, de 1984. Fomos ainda assistir à ópera Turandot, no Metropolitan Opera House, no Lincoln Center.

Com Adriana, eu flanava muito pela cidade que “a gente queria fazer parte” e que tinha uma efervescência permanente na sua sociologia urbana cotidiana, com suas limusines, grandes magazines e pessoas de todas as etnias. E vimos a homenagem a John Lennon, em frente ao prédio Dakota, onde ele morava e foi assassinado defronte – o mosaico Imagine, no Strawberry Fields, no Central Park West -; fomos ao icônico e lendário Empire State Building - um símbolo da cidade e que foi o edifício mais alto do mundo por 41 anos até a construção do World Trade Center, em 1972. Famoso especialmente pelo filme King Kong (de 1933, com remakes de 1976, 2005 e 2017) – ali estive com minha família, em 1977, assim como no World Trade Center, derrubado em 2001-; conhecemos o Radio City Music Hall – a casa de espetáculos situada no Rockefeller Center, inaugurado em 1932. O seu teatro é também o local onde se realiza o Radio City Christmas Spectacular, uma tradição do Natal de Nova Iorque desde 1933, e onde atua a equipe de mulheres de dança de precisão conhecida como The Rockettes (Wikipedia). Há fotos desses shows em várias paredes do local. Ali acontecem os MTVs Video Music Awards. Íamos andar pelo sofisticado Soho (South of Houston)– destino de compras luxuosas, de apreciar as ruas de paralelepípedos belgas e as originais fachadas de ferro fundido, e de degustar em requintados restaurantes.

Durante esses anos de New York, que eu achava a terceira cidade mais lindo do mundo (depois do Rio e Paris) e, hoje, eu a acho uma cidade com ruídos visuais enormes, o que a torna cafona e caótica, eu assisti vários shows maravilhosos na Broadway, como Cats, O Fantasma da Ópera, A Bela e a Fera – minha história infantil preferida sem gostar do final!, queria que a bela terminasse com a fera mesmo...-, Miss Saigon, Rent, The Scarlet Pimpernel , Master Class, Os Miseráveis, Jekyll & Hide, Grease, Footloose, Chicago e Titanic. No Metropolitan Opera House, assisti às óperas sempre com muita emoção, pois adorava ópera, tinha feito o curso com Paulo Tavares, em Itajubá, sobre leitura e análise das obras clássicas, como La Traviata – minha favorita!-, Don Giovanni, Piratas de Panzance etc.. Pude, então, ver Don Giovanni, Aida, Madame Butterfly, O Barbeiro de Sevilha, Turandot e A Flauta Mágica. E visitei todos os pontos mais importantes da cidade que “não dorme”, como todos os museus existentes ali, o Central Park, os piers do rio Hudson, Brooklin, Soho, Harlem, Little Italy, Chinatown, Bronx e Queens. Sempre comprava CDs na Virgin da Times Square (fechada em 2009), ou no Record Explosion, na Broadway, que não existe mais, e livros na Barnes & Noble, na 5ª. avenida, e na Rizzoli. De qualquer forma, é uma cidade onde habita o mundo todo, em todas as suas versões: raciais, sexuais, religiosas, culturais e políticas. É um território multicultural, cujo dinamismo é contagiante e sedutor. Nestas viagens, eu já tinha o senso da bagagem essencial, que não ultrapassava 15kg, mesmo tendo direito a 60kg à época.

SÃO TOMÉ DAS LETRAS COM LIGIA E ELIANE "Liberdade de voar num horizonte qualquer, liberdade de pousar onde o coração quiser".

Cecília Meireles

Lígia, minha Sissy querida, foi me visitar em Itajubá. Como ela gosta de lugares de alto astral, energia esotérica etc., pensei em mostrar-lhe São Tomé das Letras – a cidade mística de Minas Gerais, com lendas de passagens magnéticas, portais dimensionais, discos voadores etc. Depois de duas horas e meia, nós e Eliane, querida amiga que também aprecia essas experiências, chegamos à bela e encantada cidade das pedras de São Tomé, a 1,5 mil metros de altitude. Além de percorrer suas ruas de pedras e conversar com os/as nativos/as sobre as histórias que justificam toda a curiosidade daquela visita, visitamos o Parque Municipal Antônio Rosa, percorrendo o caminho com dificuldade no Chevette 1.0 de Luiz Otávio. Castigamos o carrinho...Dali fomos em busca das inúmeras cachoeiras da região e paramos em uma totalmente deserta. Não havíamos levado roupas de banho, mas as duas se atiraram naquelas águas só de calça e sutiã. Eu fiquei vendo tudo em cima de uma grande pedra. Foi um momento muito divertido! O sufoco ficou por conta de ter que devolver o carro no horário previsto e ter voltado muitas horas depois do combinado! Mas há momentos em que não se pode contar com o previsível. A felicidade era estendida...

Com Lígia, fiz outras viagens para o Rio, onde andávamos na pista da Lagoa todos os dias; passávamos tardes no Centro Cultural Banco do Brasil; íamos ao Real Gabinete Português de Leitura; ao Jardim Botânico; à Confeitaria Colombo para um café com bomba de chocolate; à Academia Brasileira de Letras; e assistimos à belíssima dança Rota, Deborah Colker, no Teatro Carlos Gomes. Fomos, ainda, a Caxambu-MG, de ônibus, saindo de Itajubá. Ao Rio, voltamos, em 2015, para o lançamento do seu livro Mata Atlântica nas Escolas,do qual fui revisora e tenho dois textos em conjunto com as alunas Ana Paula Azevedo e Karla Noronha, na 11ª. Edição do SOS Mata Atlântica. Também, no NE, viajamos para Pipa e Natal-RN, Recife e Bonito-PE, de carro. E também para Brasília e a Chapada dos Veadeiros e cidades circunvizinhas, Alto Paraíso e São Jorge em Goiás. E, no Nordeste na pandemia, fomos a cinco estados com David e Jamile, no Jeep Nuno desta, para conhecer as Serras da Capivara e Confusões, no Piauí, e a Serra do Araripe, no Ceará. Também fizemos o horroroso Vapor

do Vinho do Rio São Francisco, que sai de Petrolina-PE, mas que não navega no lendário rio – apenas na represa de Sobradinho-BA -, nem tampouco sai da cidade pernambucana...Só visita a uma vinícola que também fica no município de Casa Nova, na Bahia!

Capítulo 05

Vou dar uma olhadinha no mundo e já volto!

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