Capitulo vig&no segundo - 6 p e ~ ~ ~ n a Ernmanuel l i s ~ ~ : h4ouniev e Sirnone Weil
0rersonalismo
contra o moralismo, o individualismo,
A pessoa C inobjetivavel; a pessoa esti encarnada em um corpo e na hist6ria; a pessoa, por sua natureza, C cornunitaria. Entretanto, lembra Mounier, a soluqiio biologica e econ8mica de um problema humano continuara frhgil e incompleta se niio se considerarem as mais profundas dimensdes do homem. Contrario ao moralismo ("mudai o homem, e as sociedades fe curario") e, como veremos, contrario ao marxismo ("mudai a economia, e o homem seri salvo"), Mounier considera o individualismo como o pior inimigo do personalismo. Isso deve-se ao fato de que, no personalismo, a pessoa C uma presenqa voltada para o mundo e para as outras pessoas: "As outras pessoas n i o a limitam; ao contririo, permitem-lhe ser e se desenvolver. Ela (a pessoa) s6 existe enquanto voltada para os outros, s6 se conhece atravCs dos outros, s6 se encontra nos outros". Tudo isso C quase o mesmo que dizer que eu s6 existo enquanto existo para os outros e que, no fundo, "ser significa amar". Mounier v6 no capitalismo "a subversiio total da ordem econ8mica". 0 capitalismo C a metafisica do primado do lucro. Um primado do lucro que "vive de dupla forma de parasitismo: um contra a natureza, baseado no dinheiro; o outro contra o homem, baseado no trabalho". 0 capitalismo consagra o primado do dinheiro sobre a pessoa, do "tern sobre o "ser". No capitalismo, afirma Mounier, o dinheiro transforma-se em tirania. Inimigo do trabalho digno da pessoa, o capitalismo tambCm C inimigo da propriedade privada, jii que priva o assalariado de seu lucro legitimo e defrauda regularmente o poupador atravCs de "especulag6es catastr6ficas". Nem por isso, contudo, Mounier caiu nos bragos do marxismo. Embora reconhecendo ao marxismo perspicicia em rnuitas anilises, dedicagio B causa dos mais fracos e anseio de justiga, Mounier rejeita-o por diversas raz6es: 1)porque o marxismo C filho rebelde do capitalismo, mas apesar disso C seu filho, enquanto tambCm o marxismo reafirma o primado da madria; 2) porque o marxismo substitui o capitalism~por outro capitalismo: o capitalismo de Estado;
3 ) porque o marxismo professa "o otimismo do homem coletivo que implica o pessimismo radical da pessoa", coisa que um personalista niio pode aceitar; 4) porque o marxismo, no plano h i d rico, levou a regimes totalitarios; 5 ) porque niio C inimaginavel que, a um imperialismo capitalista, se suceda um imperalismo socialista. Altm disso, Mounier sempre afirmou claramente que "o cristHo n i o pode dar adesio doutriniria completa a uma filosofia que negue ou subestime a transcendencia, avilte a interioridade e tenda a unir a critica fundamental da religiiio B justa critica da evasio idealista". C m di rec6o A nova sociedade Depois de tudo isso, n i o C dificil compreender por que Mounier considerava que o personalismo, conforme a expressHo de NCdoncelle, niio 6 "uma filosofia para as tardes de domingo". Mas, depois das criticas ao espiritualismo, ao moralismo, ao individualismo, ao capitalismo e ao marxismo, que tip0 de sociedade Mounier estaria em condigdes de anunciar e prenunciar? A sociedade pregada por Mounier C precisamen5e a sociedade personalista e comunitdria. E um tip0 de sociedade distante das agregagdes de individuos que correspondem B massa (com a sua tirania do andnimo), B sociedade fascista (com seu chefe carismitic0 e sua febre mistica), B sociedade fechada de tip0 organicista-biologico, ou ainda B sociedade baseada no direito (ou seja, a sociedade do jusnaturalismo iluminista, pois o contrato que esti em sua base n i o C uma relagiio interpessoal, e sim muito mais um compromisso de egoismos). 0 que Mounier p6e no vtrtice da socialidade 6 a sociedade personalista, baseada no amor que se realiza na comunhiio, quando a pessoa "chama a si e assume o destino, o sofrimento, a alegria e o dever dos outros". Esse tip0 de sociedade C uma idCialimite de natureza teol6gica (basta pensar na idCia cristii de corpo mistico) que nunca poderi se realizar em termos politicos, mas que funciona como ideal normativo e critkrio de juizo para as mudangas politicas reais e para as possiveis.