Capitulo quarto - MaXWeber houvesse tomado aquela deck50 e se n5o houvesse ocorrido o fuzilamento em Berlim? Da mesma forma que um penalista, o historiador isola mentalmente urna causa (por exemplo, a vitoria de Maratona ou o fuzilamento nas ruas de Berlim),excluindo-a da constelagao de antecedentes, para depois se perguntar se, sem ela, o curso dos acontecimentos teria sido igual ou diferente. Desse modo, constroem-se possibilidudes objetivas, isto C, opinities (baseadas no saber a disposig50) sobre como as coisas podium ocorrer, para se compreender melhor como elas ocorreram. Prosseguindo no exemplo, se os persas houvessem vencido, entzo C verossimil (ainda que nao necessario, pois Weber n5o C determinista) que eles houvessem impost0 na GrCcia, como fizeram em toda parte onde venceram, urna cultura teocratico-religiosa baseada nos mistCrios e nos oriculos. Esta C urna possibilidade objetiva e n5o gratuita, para que compreendamos que a vitoria de Maratona 6 causa muito importante para o desenvolvimento posterior da GrCcia e da Europa. J i os fuzilamentos diante do castelo de Berlim, em 1848, pertencem ordem das causas acidentais, pel0 fato de que a revolug5o teria explodido de qualquer forma.
Weber distingue claramente entre conhecer e avaliar, entre juizos de fato e juizos de valor, entre "o que 6" e "o que deve ser". Para ele a citncia social C Go-valorativa, no sentido de que procura a verdade, ou seja, procura apurar como ocorreram os fatos e por que ocorreram assim e n5o diferentemente. A citncia explica, n5o avalia. Dentro do trabalho de Weber, tal tomada de posig5o tem dois significados: a) um, epistemol6gic0, consiste na defesa da liberdade da citncia em relag50 a avaliag6es Ctico-politico-religiosas (uma teoria cientifica n5o C catolica nem protestante, n5o C liberal nem marxista); b) o outro significado, Ctico-pedagogico, consiste na defesa da citncia em relag50 as deformagties demagogicas dos chamados "socialistas de citedra", que subordinavam o valor da verdade a valores Ctico-politicos, isto 6, subordinam a catedra a ideais politicos.
e as ci&cias
histbrico-sociais
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Com base nisso, C oportuno fixar em alguns breves pontos as consideragties de Weber sobre a quest50 da avaliabilidade: 1)0 professor deve ter claro quando faz citncia e, ao contrario, quando faz politica. 2) Se o professor, durante urna aula, n5o pudesse se abster de produzir avalia@es, ent5o deveria ter a coragem e a probidade de indicar aos alunos aquilo que C puro raciocinio 16gico ou explicag50 empirica, e aquilo que se refere a apregos pessoais e convicgties subjetivas. 3) 0 professor n5o deve aproveitar de sua posigiio de professor para fazer propaganda de seus valores; os deveres do professor s5o dois: a) de ser cientista e de ensinar os outros a se tornarem tambCm; b) de ter a coragem de p6r em discuss50 seus valores pessoais e de p6-10s em discuss5o no ponto em que se pode efetivamente discuti-los, e n5o onde se pode facilmente contrabandei-10s. 4) A citncia C distinta dos valores, mas n50 esta separada deles: urna vez fixado o objetivo, a citncia pode nos dar os meios mais apropriados para alcanqii-lo, pode prever quais ser5o as conseqiitncias provaveis do empreendimento, pode nos dizer qua1 C ou sera o "custo" da realizag50 do fim a que nos propomos, pode nos mostrar que, dada urna situagzo de fato, certos fins s5o irrealizaveis ou momentaneamente irrealizaveis, e pode nos dizer tambCm que o fim desejado choca-se com outros valores. Em todo caso, a citncia nunca nos diri o que devemos fazer, e como devemos viver. Se propusermos essas interrogagties a citncia, nunca teremos resposta, porque teremos batido a porta errada. Cada um de n6s deve buscar a resposta em si mesmo, seguindo sua inspirag50 ou sua fraqueza. 0 mCdico pode at6 nos curar, mas, enquanto mCdico, n5o esti em condigties de estabelecer se vale ou niio vale a pena viver.
A ktica protestante e o
espirito
do capitaIismo
Tanto em seu grande tratado Economia e sociedade (ver o capitulo: "Tipos de comunidade religiosa") como nos Escritos de sociologia da religiiio, Weber estudou a importhcia social das formas religiosas de vida. 0 ponto de partida da historia religiosa da humanidade C um mundo repleto