GUIADOVOLUNTARIADO Edição especial da revista Forum Estudante · 2021
Entrevista a Manuel Heitor «O voluntariado permite-nos compreender aquilo que ainda não conhecemos»
Voluntariado com o IPDJ O IPDJ dá-te cinco caminhos até ao trabalho voluntário Transforma Portugal A plataforma, os apoios e as histórias de quem faz a diferença
TUDO SOBRE VOLUNTARIADO Dicas, testemunhos, perguntas frequentes e muito mais!
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7 Razões para fazer voluntariado
Para além de apoiar pessoas ou comunidades, há outras razões que te podem levar a uma experiência de trabalho voluntário. Crescimento pessoal, novas amizades ou uma nova perspetiva do mundo são apenas alguns exemplos de mais-valias que podem ser retiradas.
Edição 2021/2022
Ficha Técnica
Nº de registo ERC: isento de registo ao abrigo do decreto regulamentar nº 8/99 de 9 de junho, Artº 12º - nº 1A Telefone 218 854 730 E-mail geral@forum.pt Direção Gonçalo Gil goncalo.gil@forum.pt Fotografia Fábio Rodrigues, Dreamstime, Pexels, Unsplash, Freepik Design Miguel Rocha miguel.rocha@forum.pt Redação Fábio Rodrigues fabio.rodrigues@forum.pt José Maria Archer josemaria.archer@forum.pt Colaboração Rúben de Matos Carla Vieira Humberto Lopes Assinaturas Paula Ribeiro Tel.: (218 854 730) pribeiro@forum.pt Anuidade: 10,00€ Publicidade Félix Edgar (Tel.: 218 854 103) felix.edgar@forum.pt Comunicação&Distribuição Vítor Silva (Tel.: 218 854 755) vitor.silva@forum.pt
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Transforma Portugal. Encontra a tua oportunidade de voluntariado
Criada no início de 2021, a plataforma Transforma Portugal pode ser a solução para que encontres uma oportunidade de voluntariado adequada ao teu perfil. Sabe mais sobre este projeto e descobre como te pode ajudar a fazer a diferença.
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A CASES explica-te tudo sobre voluntariado
A Cooperativa António Sérgio para a Economia Social (CASES) tem como responsabilidade desenvolver ações de promoção, coordenação e qualificação do voluntariado em Portugal. Num especial de seis páginas, a CASES conta-te tudo o que precisas de saber sobre trabalho voluntário, com dicas, perguntas frequentes e muito mais.
5 formas de fazer voluntariado com o IPDJ
Uma das principais atribuições do Instituto Português do Desporto e da Juventude (IPDJ) é “dinamizar o voluntariado e o apoio da cidadania”. De que forma é realizado este trabalho? E que oportunidades podes encontrar? Trazemos-te a resposta, juntamente com uma entrevista à vice-presidente do IPDJ, Sónia Paixão.
Projetos Especiais José Maria Archer josemaria.archer@forum.pt Produção Finepaper Tiragem: 10 mil exemplares
www.forum.pt Propriedade e Edição de: Press Forum, Comunicação Social, Lda. Capital Social: 17.000,00€ NIF: 502 981 512 Detentores de 5% ou mais do capital social: Rui Manuel Pereira Marques 29,9%; Roberto Artur Da Luz Carneiro 26,7%; Maria Francisca Castelo Branco de Assis Teixeira 21,7%; Gonçalo Nuno Cavaca Gil 5,8%; Félix Edgar Alves Pinéu 5,8% Sede da Redação e do Editor Tv. das Pedras Negras, nº 1 - 4.º 1100-404 Lisboa Tel.: 218 854 730 Estatuto Editorial disponível em forum.pt/estatuto-editorial-guiapratico-do-estudante Gerência Rui Marques Gonçalo Gil Félix Pinéu
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Entrevista a Manuel Heitor: «O voluntariado permite-nos compreender aquilo que ainda não conhecemos» Em entrevista, o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, destaca a afinidade entre as experiências de voluntariado e de frequência no ensino superior, destacando os benefícios do trabalho voluntário para os estudantes: “A vida real tem muitas características que só se aprendem vivendo, fazendo, convivendo, interagindo. O voluntariado é isso”.
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Como os estudantes têm transformado Portugal
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Onde encontrar oportunidades de voluntariado?
Ao longo dos últimos meses, a plataforma Transforma Portugal apoiou estudantes no combate às consequências da pandemia da Covid-19, disponibilizando um microfinanciamento para projetos de voluntariado diversificados. Conhece aqui algumas das suas histórias.
Encontrar o projeto perfeito a que dedicar o teu tempo e dedicação pode ser um desafio. Para te apoiar nesta tarefa, podes contar com este conjunto de portais, recursos ou contactos que te poderão abrir as portas do mundo do voluntariado.
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7 razões para fazer voluntariado O que te deve levar a fazer voluntariado? Fica a conhecer um conjunto de razões que te podem fazer interessar, sejam elas externas (como solidariedade e impacto social) ou internas (como novas aprendizagens e conhecimentos)
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Ajuda o próximo
Cria um impacto positivo
A maioria das definições de voluntariado convergem neste ponto – o trabalho realizado é feito em benefício de um indivíduo ou comunidade. Isto porque a ligação ao outro é mesmo a base desta atividade. Pode dizer-se, por isso, que a grande meta do trabalho de voluntariado é externa ao voluntário.
Ao longo dos últimos anos, a importância do trabalho voluntário tem vindo a ser reforçada. De acordo com autores como Ronaldo Pilati e Maria Hees, essa maior preponderância deve-se ao facto do voluntariado conseguir dar suporte a uma falta de capacidade da sociedade contemporânea em garantir o bem-estar dos indivíduos.
Nesse sentido, a melhoria das condições materiais, emocionais ou sociais de uma pessoa, de uma família ou de uma comunidade pode ser vista como o principal objetivo e finalidade do trabalho voluntariado. De qualquer forma, a partir dessa relação base, não é difícil encontrar razões de ordem pessoal – vários estudos apontam os benefícios para a saúde física e mental resultantes do trabalho solidário. De acordo com a publicação britânica BMC Public Health, por exemplo, ajudar o próximo tem um impacto positivo na esperança média de vida. A publicação, que analisou mais de 40 estudos científicos, destaca ainda o papel desempenhado em dimensões mentais ou emocionais como a satisfação pessoal e o combate à solidão.
Na sua dissertação de mestrado As Motivações para o Voluntariado, por exemplo, Maria Ribeiro Marques destaca algumas das conclusões do relatório das Nações Unidas sobre Voluntariado Mundial. O documento sublinha a importância desta atividade como uma fonte de força comunitária, de solidariedade, de coesão social e de resiliência. Por essa razão, participar nestas ações, causas e movimentos é também gerar um impacto positivo na sociedade, recorda o documento, ao promover mudanças sociais positivas que fomentam o respeito pela diversidade, igualdade e participação.
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#3
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Esta nova visão do mundo poderá trazer várias consequências positivas. Um estudo da Agência Nacional de Juventude britânica, por exemplo, concluiu que a competência identificada pelos voluntários como sendo a mais desenvolvida durante o seu trabalho foi a “autoconfiança”.
São detalhadas quatro razões fundamentais para esta preponderância do voluntariado nas carreiras profissionais. Se, por um lado, esta experiência é relevante porque “ajudar os outros é importante” em qualquer atividade, por outro, é também indicativa dos níveis de “paixão” por determinada área. O alargamento da rede de contactos e a diversificação do currículo são também apontados como fatores de relevo.
Ganha perspetiva
Impulsiona a tua carreira
Uma das palavras-chave associadas ao voluntariado é “autoconhecimento”. Isto porque, ao conheceres novas realidades, perspetivas e diferentes tipos de problemas que são enfrentados, poderás ter uma noção mais abrangente do teu lugar no mundo, enfrentando o que te rodeia com outra perspetiva.
“O voluntariado é bom para a tua carreira”. A garantia é deixada pela ONG britânica JCI, num artigo publicado no seu portal, que destaca esta motivação como sendo “estratégica, não vergonhosa”. O artigo destaca, por exemplo, um estudo do LinkedIn que indica que um em cada cinco gestores dos Estados Unidos da América já contratou alguém devido à sua experiência de voluntariado.
Contudo, o desenvolvimento pessoal do ponto de vista das competência pessoais não se fica por aqui. “[Existe] um conjunto de competências, atitudes e conhecimentos relacionados com a visão dos voluntários sobre a sua própria identidade e capacidade de gerir a sua vida”, destaca o estudo, que salienta as competências de “autoconhecimento, autoconfiança e autoestima”.
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Domina novas competências
O trabalho realizado em prol de outros também te vai trazer mais-valias pessoais. As novas competências adquiridas são disso um bom exemplo, tendo em conta a quantidade muito diversificada de aprendizagens que poderás fazer.
Sobre a realidade portuguesa, o artigo científico Voluntariado em Portugal: do trabalho invisível à validação de competências deixa uma importante conclusão sobre o trabalho voluntário, no final do seu resumo introdutório: “conclui-se que a análise sociológica não pode continuar alheia ao voluntariado como fenómeno potenciador de empregabilidade”.
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Faz novas amizades
Capacidade de trabalho em equipa, de liderança e de comunicação são algumas das características cujo desenvolvimento está mais associado à prática do voluntariado, bem como a capacidade de resolução de problemas e a empatia. Em qualquer um dos casos, é fácil perceber como um período de trabalho voluntário poderá contribuir para o seu estímulo.
Uma das certezas no trabalho voluntário é a possibilidade de conhecer novas pessoas. Estes novos conhecimentos poderão ser de dois tipos. Por um lado, poderás conhecer as pessoas que fazem parte da comunidade que estás auxiliar, por outro, vais estreitar laços com os voluntários com que trabalhas em conjunto. Em qualquer um dos casos, há amizades que podem ser formadas e durar muito para além do tempo de trabalho. Como resume a ONG Future in Our Hands, “fazer voluntariado reforça os laços com a comunidade e alarga a tua rede de apoio, ao te colocar em contacto com pessoas com que partilhas interesses”.
Em 2017, três investigadoras portuguesas analisaram a atividade voluntária em solo português no estudo Voluntariado em Portugal: do trabalho invisível à validação de competências. As autoras concluem que “os dados recolhidos comprovam a aquisição de soft skills por meio do voluntariado”.
O estudo Giving and Getting Back: Volunteering in America, por exemplo, concluiu que mais de metade dos voluntários inquiridos referiram ter feito pelo menos um novo amigo ou amiga durante o trabalho voluntário. Já 10% referem mesmo que o voluntariado levou a uma relação amorosa.
Ao longo das próximas páginas, contamos-te tudo sobre voluntaria ~4~
O que é o voluntariado? De acordo com o Lei n.º 71/98, de 3 de novembro, o voluntariado é “o conjunto de ações de interesse social e comunitário, realizadas de forma desinteressada”. Estas ações podem ser enquadradas em projetos, programas ou outras formas de intervenção que apoiem “os indivíduos, as famílias ou a comunidade, desenvolvidas sem fins lucrativos por entidades públicas ou privadas”. Já para as Nações Unidas, o voluntário é aquele ou aquela que, independentemente da sua idade, “devido ao seu interesse pessoal e espírito cívico, dedica parte do seu tempo, sem remuneração alguma, a diversas formas de atividade, organizadas ou não, de bem estar social ou outros campos”.
#7
Conhece novos lugares e culturas
Fazer voluntariado é também uma oportunidade de conhecer novos lugares e culturas. Ao contrário de grande parte das experiências turísticas, quando em voluntariado, terás de trabalhar em conjunto com as populações locais, percebendo quais as suas tradições, línguas ou rituais. Nesse sentido, é importante destacar que, por definição, fazer voluntariado não é o mesmo que fazer turismo. Contudo, as características de uma experiência de trabalho voluntário inserido numa nova cultura poderão ser especialmente enriquecedora. Isto porque a adaptação a um conjunto de novas características é também uma forma de desenvolveres o teu sentido de interculturalidade. Um estudo publicado no International Journal de Relações Internacionais, por exemplo, analisou as respostas de quase 300 voluntários para chegar à conclusão de que o trabalho voluntário influencia positivamente competências interculturais, graças a processos como a imersão cultural ou a reflexão guiada.
ado e sobre algumas das oportunidades que estão à tua disposição! ~5~
Transforma Portugal. Encontra a tua oportunidade de voluntariado
A Forum Estudante e o Movimento Transforma Brasil lançaram a plataforma Transforma Portugal. Projeto tem como objetivo facilitar a identificação de oportunidades de voluntariado por parte de todos os estudantes interessados, estando também a apoiar financeiramente iniciativas de estudantes que combatam a pandemia da Covid-19.
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Ao longo dos anos, são vários os exemplos que nos mostram o impacto social realizado por estudantes, sendo que a atividade voluntária é habitualmente vista como uma oportunidade de crescimento para quem se encontra a estudar. Foi precisamente com o objetivo de promover e apoiar a inovação social dos estudantes do ensino superior, que a Forum Estudante, o Movimento Transforma Brasil e o UCTransforma inauguraram a plataforma Transforma Portugal. O conceito deste novo recurso é facilitar um match entre os estudantes interessados em fazer voluntariado e as organizações que promovem ações no terreno. Até ao momento, estão registadas na plataforma do Movimento Transforma Portugal cerca de 180 organizações que procuram voluntários e cerca de 150 voluntários ativos. Recorrendo a esta plataforma, os estudantes interessados podem filtrar as oportunidades existentes de acordo com o seu perfil
Plataforma Transforma Portugal está a apoiar estudantes a realizar ações solidárias de resposta à pandemia. (competências-chave, localização ou interesses, por exemplo), procurando as oportunidades que fazem sentido face ao seu contexto atual. Por outro lado, as instituições aderentes podem encontrar voluntários especializados nas áreas mais valiosas para os seus projetos. Através desta dinâmica, destaca a organização do Transforma Portugal, é possível criar “um encontro entre necessidades e disponibilidades”, ao agregar as iniciativas de voluntariado e intervenção cívica já existentes no universo das Instituições de Ensino Superior. Por outro lado, existe ainda uma dimensão de apoio direto, com o microfinanciamento para suporte das despesas associadas às ações.
Apoiar o combate à Covid-19
Ao longo do último ano, os estudantes de ensino superior demonstraram a sua proatividade no combate às dificuldades resultantes do contexto de Covid-19. O fabrico de material de proteção, o acompanhamento de idosos isolados ou a angariação de material tecnológico para estudantes necessitados são apenas alguns dos exemplos que se registaram em várias zonas do país. De forma a estimular e apoiar este trabalho levado a cabo pela comunidade estudantil, o Movimento Transforma Portugal está a apoiar financeiramente todos os estudantes de ensino ~7~
superior que promovam ações solidárias de apoio à comunidade (no quadro das consequências da Covid-19), numa lógica de microfinanciamento de empreendedorismo cívico. Para tal, os estudantes devem inscrever-se na plataforma Transforma Portugal, apresentando uma proposta de ação junto da comunidade. Esta proposta poderá focar-se na sensibilização para a redução de contágios, no apoio a
Candidaturas estão abertas, sendo realizadas online, por equipas constituídas por, pelo menos, três estudantes de ensino superior.
e quando será realizado, como será efetuada a ação e qual o público-alvo. As inscrições já se encontram abertas, sendo que podes acompanhar as novidades nas redes sociais do Movimento Transforma Portugal e em forum.pt. O projeto Transforma Portugal conta ainda com a parceria de associações, núcleos e federações de estudantes de todo o país que, em conjunto com a Forum Estudante, estão a avaliar as candidaturas efetuadas. Cada associação avalia projetos correspondentes ao território onde se realiza a ação, certificando, assim, o impacto positivo da ação proposta na comunidade.
Os estudantes como motor
estudantes em situação de confinamento, na resposta a necessidades da comunidade que resultem da pandemia ou ainda no âmbito da saúde mental. Para mais informações, visita transformaportugal.pt. O registo do projeto na plataforma, para além de divulgar e poder levar à identificação de novos voluntários, implica ainda um financiamento até 400€, como apoio às despesas envolvidas. Até ao momento, já foram realizadas dezenas de ações, que poderás conhecer melhor ao longo deste guia (ver na página ao lado). Para apresentar uma proposta, é necessário criar uma equipa de, pelo menos, 3 estudantes de instituições de ensino superior, detalhando a proposta de ação – o que vai ser feito, onde
Através deste projeto, explica a organização do Transforma Portugal, é possível contribuir, a nível local, para o combate às consequências da pandemia da Covid-19, seja através de “projetos de sensibilização dos seus pares para proteção da saúde pública” ou “ações solidárias de apoio à comunidade no quadro das consequências da Covid-19”. Os estudantes são, por isso, o motor deste movimento, fazendo a diferença no terreno. A plataforma Transforma Portugal é uma iniciativa da Forum Estudante e do Movimento Transforma Brasil, sendo promovida também pelas instituições de ensino superior e as associações, federações ou núcleos de estudantes aderentes. Conta ainda com o apoio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, através da Direção-Geral do Ensino Superior, e da iniciativa pública Portugal Inovação Social, bem como outras instituições públicas e privadas aderentes.
Financiamento para ações pode ser conseguido rapidamente, num valor até 400€. ~8~
Alguns dos projetos apoiados pelo Transforma Portugal Poderás saber mais sobre cada um destes projetos no nosso artigo “Histórias de Voluntariado”, a partir da página 31 deste guia.
#1 Os Jovens Seniores da Calvaria sorriem
#2 Já dizia a minha Avó
#3 Friends in the Arts
#4 Easy Future
Um grupo de seis estudantes do Instituto Superior de Agronomia está a combater o isolamento das gerações mais velhas agravado pelo contexto de pandemia. Para tal, a sua proposta passa por implementar um movimento de trocas de cartas ou postais entre jovens e idosos.
Com o objetivo de facilitar a procura de emprego no mundo da cultura e das artes, um grupo de estudantes de diferentes cursos e instituições de ensino superior da região de Lisboa dinamiza o projeto “Friends In The Arts”, que inclui uma plataforma digital e a criação de uma revista mensal.
Desde abril de 2020, um grupo de 13 estudantes de 8 instituições de ensino superior tem prestado apoio à distância aos estudantes do ensino secundário. Nesse particular, o projeto Easy Future inclui a realização de webinars para troca de testemunhos ou a dinamização de grupos de WhatsApp para esclarecimento de dúvidas, por exemplo.
#5 Mais Comunidade
#6 Sorrisos D’Arte
Tendo como objetivo promover o bem-estar e a qualidade de vida dos maiores de 65 anos residentes na cidade de Viana do Castelo, um grupo de sete estudantes do Instituto Politécnico de Viana do Castelo dinamiza o projeto “Mais Comunidade”, que inclui uma linha telefónica para monitorização e suporte social.
Unindo quatro estudantes das áreas de Finanças, Direito e Música, o projeto “Sorrisos D’Arte” está a levar espetáculos musicais a pacientes oncológicos e idosos que se encontram em isolamento.
#7 Missão País Psicologia
#8 Linha de Apoio a Estudantes em Isolamento
Dinamizado por um grupo de três estudantes do Instituto Superior de Engenharia de Lisboa, este projeto apoiou os funcionários da IPSS da Calvaria de Cima, em Porto de Mós, na entrega de refeições ao domicílio e higiene pessoal aos utentes que, antes do confinamento, frequentavam centros de dia.
Estudantes de várias áreas do saber uniram-se para a dinamização do projeto “Missão País Psicologia”. O foco está na promoção da saúde mental durante o confinamento e na prevenção de contágios entre estudantes universitários, através da realização de atividades lúdicas e de reflexão online. ~9~
Um grupo de 21 estudantes de diferentes cursos da Universidade da Beira Interior (UBI) vai distribuir refeições das cantinas da UBI a alunos que se encontrem em quarentena, contando com o apoio de estudantes voluntários para realizar esta ação.
R-VES. Já conheces a Rede de Voluntariado no Ensino Superior? Fica a saber tudo sobre este esforço conjunto de cerca de 30 instituições de ensino superior para a valorização do voluntariado, em todas as suas vertentes. A Rede de Voluntariado no Ensino Superior (R-VES) nasceu no dia 18 de outubro de 2019, na Universidade do Algarve. Foi então que 15 instituições de ensino superior celebraram o protocolo de consórcio fundador desta rede. Ao assumir este compromisso, estas IES propuseramse a “capacitar, articular e potenciar a atividade das Instituições de Ensino Superior (IES) para a investigação e valorização do voluntariado, numa abordagem multidisciplinar, que contribua para promoção de uma cultura e de uma prática de voluntariado, em todas as suas vertentes, potenciando o desenvolvimento nacional”.
a R-VES realizou um diagnóstico das práticas de gestão dos serviços de voluntariado das IES participantes, bem como dos projetos de referência neste domínio. No ano seguinte, promoveu o a primeira edição do Encontro Nacional da Rede de Voluntariado no Ensino Superior. Neste evento, marcaram presença de 40 oradores de 14 IES de todo o país, bem como de instituições da sociedade civil (e.g., Pista Mágica, Associação VOXLisboa) que proporcionaram diferentes contributos, todos relacionados com o voluntariado enquanto objetivo e estratégia de intervenção comunitária. Futuramente, será divulgado o e-book deste evento, que se encontra em fase de preparação.
O contexto do voluntariado Fotografia dos representantes oficiais da R-VES aquando da 1ª AG (18.10.2019)
Atualmente, a R-VES conta com a participação de cerca de 30 instituições de ensino superior, de norte a sul do país e ilhas. Periodicamente, estas instituições encontram-se para, em conjunto, partilharem e refletirem em torno de orientações e práticas de referência no voluntariado, contemplando as vertentes da investigação, da intervenção e da disseminação a nível nacional e internacional. O objetivo é, a partir deste trabalho, contribuir para a afirmação de Portugal como uma referência neste âmbito. Foi também com esse objetivo que a R-VES desenvolveu um plano estratégico para 20192022 que assenta em três eixos de atuação: Identificação e valorização do Voluntariado nas IES; Promoção, articulação e capacitação do Voluntariado nas IES e Investigação e disseminação do Voluntariado nas IES. Durante o seu primeiro ano de funcionamento,
Embora, por vezes, a tendência seja para se considerar uma certa universalidade nos cenários de voluntariado, existem especificidades que justificam a distinção de contextos específicos.
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Neste ponto, a R-VES destaca o Ensino Superior (ES) como um claro exemplo. A necessidade constante dos serviços de voluntariado das
R-VES
«Atualmente, a R-VES conta com a participação de cerca de 30 instituições de ensino superior de todo o país. [...] O objetivo é contribuir para a afirmação de Portugal como uma referência [no voluntariado]» IES promoverem (ou apoiarem) programas de voluntariado articulados, entre outros aspetos, com o currículo, bem como oferecerem formação especializada e suporte aos voluntários, é um exemplo de uma estratégia baseada no modelar e impulsionar a emergência do voluntariado neste contexto.
A Rede de Voluntariado no Ensino Superior (R-VES) tem três eixos de atuação:
{
Identificação e valorização do Voluntariado nas IES Promoção, articulação e capacitação do Voluntariado nas IES e Investigação Disseminação do Voluntariado nas IES
De igual forma, o voluntariado no Ensino Superior pode ser entendido por diversos prismas: desde uma visão mais social e centrada no capital humano a uma outra mais centrado no desenvolvimento dos estudantes (nomeadamente no que se refere à sua transição para o mercado de trabalho). Nesta última vertente, o voluntariado surge, para a R-VES, como “uma das práticas de vida ativa importantes para a formação pessoal”, emergindo como recurso de referência para o “desenvolvimento de ferramentas adaptativas e valorizado nos contextos académicos e profissionais”. Tendo em conta essa preocupação, a R-VES identificou, como áreas centrais de investigação para 2021, as competências transversais desenvolvidas no e pelo voluntariado, a importância do voluntariado extracurricular e integrado no currículo, e a sua importância na transição para o mercado de trabalho. O aumento muito significativo do número de instituições de ensino superior que aderiram a esta rede, desde 2019, levam a R-VES a destacar a mais-valia das relações e proximidade proporcionada, bem como do conjunto de atividades já desenvolvidos. Tendo em conta este sucesso, a organização não tem dúvidas: “2021 promete ser um ano com grande potencial para a R-VES e para o Voluntariado nas IES”.
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Cinco formas de fazer voluntariado com o IPDJ O Instituto Português do Desporto e Juventude apresenta-te várias opções para realizar voluntariado. Fica a saber mais sobre cada um dos programas promovidos pelo IPDJ. Texto: Fábio Rodrigues
#1 Campos de Trabalho Internacionais Para quem pretende conhecer novas pessoas e culturas, os Campos de Trabalho Internacionais (CIT) são uma excelente opção. Isto porque, nestes grupos de trabalho, atividades de vários tipos de voluntariado (comunitário, civil ou social) são realizadas por um grupo de jovens de várias nacionalidades. Desta forma, é possível aos participantes aprender mais sobre outras culturas e obter conhecimentos sobre novas línguas, ao mesmo tempo que a sua atividade desenvolve uma comunidade local através de um esforço coletivo. O programa está aberto a todos/as os/as jovens portugueses e estrangeiros entre os 18 e os 30 anos. As atividades podem centrar-se, por exemplo, em áreas como o ambiente, a arqueologia ou o restauro ou valorização de património.
#2 Programa Agora Nós Criado em 2013, o programa Agora Nós é uma iniciativa de voluntariado direcionada para os jovens entre os 14 e os 30 anos. O foco passa por estimular a prática de voluntariado, que é entendida como uma forma de aquisição de competências. Como tal, o programa possui um portal próprio onde voluntários e entidades promotoras se podem candidatar. As atividades podem centrar-se em áreas como desporto, ambiente, cultura, saúde ou solidariedade social, sendo que a seleção de voluntários é feita tendo como critérios as necessidades das ações existentes, o número de horas de formação na área de voluntariado e a data de submissão do formulário de inscrição. Os/as voluntários/as têm direito a um certificado de participação, certificado de competência, um seguro de acidentes pessoais, de responsabilidade civil, formação especializada e reembolso das despesas inadiáveis
#3 Voluntariado Jovem para a Natureza e Florestas O grande objetivo deste programa de voluntariado jovem é contribuir para o aumento da educação e sensibilização para a valorização do ambiente, de resiliência da floresta e de proteção contra catástrofes, para o aumento do conhecimento geral sobre a natureza e florestas. Os/as voluntários/ as vão realizar ações no âmbito da preservação da natureza, florestas e respetivos ecossistemas, através da sensibilização das populações em geral, bem como da prevenção contra os incêndios florestais e outras catástrofes com impacto ambiental, da monitorização e recuperação de territórios afetados. Para participar, precisas ter entre 18 e 30 anos, fazer a inscrição em programasjuventude.ipdj.gov.pt florestas . O IPDJ disponibiliza ainda uma linha de apoio gratuita, para que possas esclarecer todas as dúvidas, através do número 800 20 30 50. “Está em ti cuidar da natureza. Os/as voluntários/as têm direito a: certificado de participação, certificado de competência, seguro de acidentes pessoais, de responsabilidade civil, formação especializada e reembolso das despesas inadiáveis.
#4 Voluntariado na Europa O IPDJ divulga em Portugal duas opções que te permitem encontrar oportunidades de voluntariado no espaço europeu: o Portal Europeu da Juventude (PEJ) e o Serviço Voluntário Europeu (SEV). Através do PEJ, é possível encontrar informações e dicas sobre voluntariado, bem como procurar ~ 12 ~
Para saber mais sobre cada um destes programas ou iniciativas (prazos, inscrições, regulamento, etc…) visita ipdj.gov.pt ou acompanha o IPDJ através das redes sociais:
/ IPDJip
/ipdj_ip
/IPDJ_IP
oportunidades ou organizações que buscam voluntários. Já o SVE disponibiliza oportunidades de voluntariado (até 12 meses) num país que não o de residência. Para tal, é necessário encontrar uma organização de acolhimento no país para onde se quer ir fazer voluntariado, sendo que o SVE disponibiliza uma base de dados de entidades e organizações acreditadas. cultura, desporto, serviço social, arte ou ambiente são apenas algumas das áreas em que são desenvolvidos projetos.
#5 Carta de Voluntariado Jovem pelo Ambiente A Carta de Voluntariado Jovem pelo Ambiente é, antes de mais, um desafio lançado a jovens portugueses: participar em uma ou mais iniciativas de voluntariado durante o ano de 2021, trabalhando em prol dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Em específico, a iniciativa foca as ações ligadas à ética ambiental e à preservação das ações do futuro. De forma a responder a este desafio, os interessados podem registar a(s) iniciativa(s) de voluntariado a desenvolver preenchendo um formulário online, disponível no site do IPDJ (https://ipdj.gov.pt/carta-de-voluntariadojovem-pelo-ambiente). Desta forma, podem dar conhecer a forma como estão a contribuir para a construção de um futuro mais sustentável.
Entrevista a Sónia Paixão, Vice-Presidente do IPDJ
«Fico sensibilizada com aquilo que os jovens são capazes de fazer» Para a Vice-Presidente do Instituto Português do Desporto e Juventude, Sónia Paixão, os jovens portugueses “estão cada vez mais conscientes da importância da sua participação cívica”. Uma tendência que vê confirmada na mobilização desta geração para a participação em diversas causas como a sustentabilidade ambiental e social ou a segurança online, entre outras. Detalhando o trabalho realizado pelo IPDJ na área do voluntariado, Sónia Paixão destaca o papel dos estudantes no apoio às suas comunidades: “Os jovens são pessoas de causas”. Entrevista: José Maria Archer
O voluntariado é uma das atribuições do IPDJ, tendo em conta que a sua missão visa dinamizar “o voluntariado e o apoio da cidadania”. De que forma é que esta dimensão se concretiza na prática? Essa é uma das áreas de missão do IPDJ, que é materializada através de um conjunto de programas em que promovemos as ações de voluntariado, seja por iniciativa própria, ou através do apoio a diferentes organizações que se candidatam. O voluntariado está no ADN do IPDJ, desde o seu surgimento. Diria que é uma área onde está ancorada grande parte da ação do IPDJ junto dos e das jovens. Durante o último ano, no contexto da pandemia da Covid-19, como avalia a mobilização dos jovens para o apoio a pessoas ou comunidades fragilizadas, através de ações de voluntariado? Posso referir experiências a dois níveis. Por
um lado, existem os próprios programas que o próprio IPDJ desenvolveu, que começaram com um projeto no Alentejo – o Apoio Maior. Depois de uma proposta do Diretor Regional do IPDJ do Alentejo, dando conta a possibilidade de avançar com um projeto de voluntariado, tendo em conta o interesse e disponibilidade dos jovens, das juntas de freguesia e das autarquias para apoiar a comunidade, a nossa resposta foi positiva e rapidamente este projeto se estendeu a todo o território nacional. Tivemos cerca de 150 jovens envolvidos nestas ações, sobretudo no apoio aos seniores, levando as refeições ao domicílio, por exemplo, e complementando a atividade que as autarquias realizaram, na primeira linha de combate à pandemia. Por outro lado, posso destacar iniciativas que as próprias associações juvenis e estudantis organizaram. Foram distinguidas como boas-
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práticas ações realizadas por várias associações no combate à pandemia, desde o apoio ao estudo ao apoio alimentar, passando pelo apoio aos idosos, entre outras. Foram muitas as iniciativas que os jovens tomaram para se sentirem úteis à sociedade e para darem de si ao outro, que é um princípio que norteia o voluntariado. Efetivamente, neste contexto de maior adversidade, verificamos que o espírito de comunidade foi muito importante. E os jovens, como estávamos à espera, disseram “estamos aqui”. Os jovens são pessoas de causas. Como se pode explicar essa aproximação dos jovens à atividade voluntária? O que motiva os jovens à participação cívica e à cidadania é verem o seu contributo como uma mais-valia, dentro da comunidade onde se inserem. Nós temos vários programas de voluntariado jovem do IPDJ, onde utilizamos uma metodologia de trabalho entre pares. É de jovens para jovens que fazemos estas ações de sensibilização. São jovens voluntários que recebem a formação de técnicos qualificados nesta área e depois disseminam esta mensagem junto dos colegas e amigos. Outros exemplos de participação dizem respeito ao tema dos direitos dos jovens, por exemplo, ou as questões ambientais, que os levam a ter uma conduta diferente e intervir na comunidade, marcando a sua intervenção pela diferença. Eu diria que é uma conjugação entre a vontade de querer participar, de querer ser um cidadão ativo e pleno, e o interesse pela causa em si.
topo, tendo em conta o índice de participação nos nossos programas de voluntariado, estão as questões ambientais. O programa de Voluntariado Jovem para a Natureza e Florestas, um programa do IPDJ em colaboração com outras áreas governativas, é sempre aquele que regista um maior número de jovens inscritos. Isso é revelador da sensibilidade dos jovens para esta área – tudo o que possa estar alicerçado neste grande chapéu da sustentabilidade acaba por estar envolvido. Outras causas, como as sociais, também registam níveis de participação elevados de voluntariado jovem, em projetos de contacto intergeracional, por exemplo, seja com crianças ou seniores. Tem sido muito gratificante ver como este encontro de gerações é possibilitado, nomeadamente ao recolher o testemunho das pessoas que recebem esta ajuda. Eu fico sensibilizada com aquilo que os nossos jovens são capazes de fazer. É pena que estas boas causas não tenham o eco que gostaríamos na comunicação social. São estes jovens que são os cidadãos do nosso país, da nossa Europa, do nosso Mundo, e que marcam a diferença. Há alguma mensagem que queira deixar aos estudantes portugueses? Acho que os jovens portugueses estão cada vez mais conscientes da importância da sua participação cívica. E o voluntariado é uma excelente forma de participação cívica. É uma porta para uma cidadania plena, sendo que o voluntariado jovem vai ter sempre impacto no futuro de quem o pratica, oferecendo um outro olhar sobre o mundo. A mensagem que posso deixar é que as competências garantidas pelo voluntariado são cada vez mais valorizadas pelas organizações. É importante levar esta mensagem também aos pais e às mães, para que incentivem os filhos e os amigos dos filhos a participar em atividades de voluntariado ou no movimento associativo, por exemplo. Temos cada vez mais a certeza de que os grandes decisores do nosso país passaram por experiências desta natureza, que fazem toda a diferença.
«O voluntariado está no ADN do IPDJ, desde o seu surgimento. Diria que é uma área onde está ancorada grande parte da ação do IPDJ junto dos e das jovens»
Existem outros exemplos de causas ou temas em que se registe um especial interesse dos jovens, no que diz respeito ao trabalho voluntário? Neste momento, outra das causas que vai interessando muito os jovens são as questões ligadas ao mundo digital e à utilização segura das plataformas tecnológicas. Mas diria que, no
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«O voluntariado permite-nos compreender aquilo que ainda não conhecemos» Para o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, os desafios vividos com a pandemia da Covid-19 vieram reforçar a importância da solidariedade e do trabalho voluntário. Em conversa com a Forum, o ministro destaca os passos dados para o estímulo deste tipo de atividade, destacando os benefícios que resultam do trabalho voluntário realizado por um estudante: “O Ensino Superior é um momento particularmente oportuno para um jovem de 20 anos, quando tem uma energia incalculável, ter também outras experiências de vida e de relacionamento social”. Entrevista: Fábio Rodrigues | Fotografia: Samuel Rodrigues
No passado, já destacou a importância da realização de trabalho voluntário, nomeadamente por parte dos estudantes. Qual a razão para lhe atribuir essa importância? Vivemos hoje tempos sem precedentes, em Portugal e no Mundo. Cada vez mais, a solidariedade e o respeito pelo próximo fazem parte de qualquer sistema educativo, em qualquer idade e ao longo da vida. Mais do que nunca, a responsabilidade daqueles que estão no ensino superior é particularmente importante. E o voluntariado estudantil é certamente mais um passo dado na educação para a cidadania. Uma dimensão para que a crise pandémica e a crise social e económica associada, nos vieram alertar de uma forma ser precedentes. Foi por isso que, em estreita colaboração com a Forum Estudante e usando o projeto piloto iniciado em 2020 pela Universidade de Coimbra, apoiámos o movimento Transforma Portugal. Achámos que era altura de reforçar a tradição de voluntariado no ensino superior, usando também a experiência que é bem conhecida da Forum Estudante, que tem um movimento particularmente importante em todo o ensino superior português, entre outras áreas. O Transforma Portugal vem apelar a todos os estudantes para participar, de uma forma ativa, naquilo que, cada vez mais, chamamos de ativismo estudantil. Com uma participação crescente dos estudantes que se apoiam entre si, mas que apoiam também a população e com isso adquirem outras capacidades e competências. Isto ~ 16 ~
não pode ser encarado como um mero serviço prestado pelos estudantes. Acima de tudo, é um processo próprio de aquisição de competências e de capacidade de resiliência social que fazem parte de um sistema educativo. Pensando precisamente na experiência de um estudante, pensa que existe alguma especial afinidade entre esta experiência de voluntariado e o momento de frequência do ensino superior? Infelizmente, em Portugal e sobretudo no sul da Europa, temos uma experiência de participação no Ensino Superior particularmente curta. Tipicamente, os portugueses entram cedo e saem cedo do Ensino Superior. A idade média de um estudante do Ensino Superior em Portugal d cerca de 25 anos. Em comparação, nos países nórdicos, por exemplo, é de cerca de 40 anos. Em Portugal, estamos a atuar cada vez mais numa lógica de prolongar os estudos – nos últimos anos triplicámos os estudantes em pós-graduação,
que é um processo importante, ao continuar e alargar a formação ao longo da vida. Em todo o caso, sabemos que a participação no Ensino Superior é relativamente curta e, por isso, tem de ser maximizada em todas as suas etapas. O Ensino Superior é um momento particularmente oportuno para um jovem de 20 anos, quando tem uma energia incalculável, se dedicar aos seus estudos – à dimensão académica ou científica —, mas para ter também outras experiências de vida e de relacionamento social. Quer seja entre os seus pares ou noutros movimentos de solidariedade. Não nos podemos esquecer que, apesar dos
ensino superior é também um apelo para a sua solidariedade social com as partes da população em situação mais vulnerável.
«Cada vez mais, a solidariedade e o respeito pelo próximo fazem parte de qualquer sistema educativo, em qualquer idade e ao longo da vida. [...] E o voluntariado estudantil é certamente mais um passo dado na educação para a cidadania» enormes progressos feitos nos últimos anos, ainda só metade dos jovens de 20 anos participam no Ensino Superior atualmente em Portugal. Em 2015, eram 40%, há 20 anos, eram 30%. Portanto, o progresso é enorme, sendo que queremos chegar atingir a meta de 60%, até ao final desta década. Em todo o caso, ainda há, hoje, metade dos jovens que não têm oportunidade de entrar no ensino superior, sabemos que sobretudo por razões económicas e sociais. Por isso, este esforço de solidariedade dos jovens que estão no
O que é que acredita que um estudante de Ensino Superior pode ganhar, ao juntar a sua experiência no Ensino Superior uma experiência de voluntariado? Ganha a vida real ou o conhecimento da vida real. Certamente, poderemos falar das competências sociais – aquilo que na gíria normalmente se apelida de soft skills. Mas é mais do que isso. O voluntariado permite-nos ganhar o conhecimento dos desafios que hoje fazem parte da vida, de compreender aquilo que ainda não conhecemos, nem a partir da nossa experiência passada nem dentro de uma sala de aula. Sabemos que o que aprendemos dentro da sala de aula é muito importante, mas sabemos também que a vida real tem muitas outras características que só se aprendem vivendo, fazendo, convivendo, interagindo. O voluntariado é isso. É abrir portas a uma realidade que é impossível ser experimentada, percebida ou compreendida dentro de uma sala de aula. Este processo de aprender, apreender e empreender que se realiza através da atividade científica, ganha muito se for realizado também em crescente interação social. Tendo em conta essa oportunidade que refere, de que forma é que o sistema de ensino superior acaba por fazer a ponte com a área do voluntariado? Este é um tema que não pode ser imposto, quanto a mim. Penso que necessita de ser
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do trabalho voluntário. Sabemos que, hoje, praticamente todas as instituições de ensino superiores têm responsáveis associados a estas atividades, quer para a mobilização de ações de voluntariado quer para o envolvimento dos estudantes em ações do âmbito social e de contacto com a população.
«Sabemos que o que aprendemos dentro da sala de aula é muito importante, mas sabemos também que a vida real tem muitas outras características que só se aprendem vivendo, fazendo, convivendo, interagindo. O voluntariado é isso» verdadeiramente um esforço de voluntariado e de mobilização coletiva. É por isso que é importante reforçar os movimentos numa lógica bottom-up, certamente com os estudantes, as associações e os núcleos que hoje caracterizam muito a vida estudantil. Há também um papel muito importante no movimento associativo – com clubes temáticos ou grupos orientados para outras áreas como o desporto. Sabemos que este processo pode ser apoiado e estimulado se existirem incentivos nos curricula. E, cada vez mais, há experiências implementadas nas instituições de ensino superior – que dependem da autonomia académica – que providenciam créditos a estas atividades. Mais uma vez, este é um movimento que não deve ser imposto e que deve vir das próprias instituições. Este cruzamento entre a mobilização dos estudantes e do voluntariado, com a combinação de algumas atividades que podem dar origem a créditos, é um processo a que temos assistido gradualmente. É um grande desafio a percorrer, mas cada vez temos mais experiências de casos onde muitas destas atividades de voluntariado possibilitam créditos, resultando num diploma que inclui também este tipo de certificação
Relativamente a essa questão do estímulo ao trabalho voluntário dos estudantes, uma das iniciativas mais recentes da Forum Estudante, onde o MCTES é um dos principais parceiros, é o movimento Transforma Portugal. De que forma é que pensa que esta iniciativa se enquadra neste esforço? É mais um passo dado nesse sentido, utilizando um projeto piloto que foi iniciado pela Universidade de Coimbra em colaboração com o movimento Transforma Brasil e que depois se conseguiu ampliar a todo o Ensino Superior, contando também com mecenas públicos e privados externos. O projeto procura sobretudo apoiar microprojetos — sabemos que esse tipo de financiamento éum estímulo particularmente importante. Neste momento, já estão em curso alguns projetos, sendo que o objetivo é ter pelo menos 500 ações com microfinanciamento até 400€, valor que serve como incentivo e para cobrir as despesas envolvidas em equipamentos ou deslocações, por exemplo. Estes são projetos que são propostos pelos próprios estudantes, inseridos nos mais variados temas, desde o apoio social, o apoio clínico, entre outros, como a área científica, cultural ou desportiva. É um contributo para o movimento solidário – ter estudantes das mais variadas áreas, que reúnem competências diversas, a realizar e apoiar projetos concretos. Referiu há pouco que a pandemia da Covid-19 poderá ter influência na redescoberta do voluntariado. Qual prevê que seja o impacto da pandemia no sistema educativo, a médio-longo prazo? É certo que, quer no Ensino, quer em qualquer atividade do âmbito social, económico ou outra, a vida pós-Covid será diferente. Penso que não há qualquer dúvida sobre isso. No ensino, em particular, a mobilização que esteve associada ao ensino a distancia e à transição para o digital, veio demonstrar, contra todas as eventuais resistências, que era possível fazer muitas atividades no foro digital, desde que exista uma infraestrutura de comunicações que em Portugal existe. Ao mesmo tempo, a pandemia da Covid-19 veio evidenciar a necessidade intrínseca de entreajuda, para apoiar aqueles que têm menor
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«A pandemia mostrou, cada vez mais, que a Ciência e o estudo criam empregos e empregos melhores. E que de facto as sociedades mais resilientes e menos vulneráveis ao risco, são aquelas com maior capacidade de formação» capacidade para estar à frente de um ecrã sistematicamente, por exemplo, mas também no próprio processo de ensino-aprendizagem, quer do lado dos estudantes quer do lado dos docentes, ao existirem processos de ensino misto. Esta realidade implica a mobilização de todos, certamente do corpo docente, mas também do lado dos estudantes. Ficou claro que grande parte da transmissão teórica de conhecimento pode ser feita por vias digitais. Contudo, também ficou muito claro que há outros aspetos em que é requerida uma presença. Nos momentos de confinamento, esse foi um problema. Por isso, a entreajuda entre estudantes foi muito importante e, agora, no desconfinamento, continua a sê-lo, para antecipar quaisquer futuras evoluções menos positivas, bem como para ajudar a mobilização e a modernização do sistema de ensino. Naturalmente, conhecemos o papel crítico das instituições e dos docentes. Mas não há sistema de ensino-aprendizagem sem uma forte mobilização dos estudantes. Por isso, estou certo que estes movimentos que também são importantes no próprio diálogo com as instituições e com os docentes. Não nos podemos esquecer, contudo, que a pandemia é inédita em muitos aspetos em Portugal, sendo que há um aspeto que é crítico – nunca tinha havido um aumento tão grande de estudantes no Ensino Superior. Ultrapassámos, em 2020/2021, o recorde da taxa de adesão ao ensino superior, em democracia, quer de jovens, quer de adultos para pós-graduação. Agora,
temos de garantir que este movimento continua e que aqueles que este ano de pandemia aderiram pela primeira vez ao Ensino Superior que não desistem e continuam a estudar. A pandemia trouxe também consequências sociais e económicas: sabemos que aumentou muito o desemprego sobretudo dentro das faixas da população com baixas qualificações. Essa fatia da população não teve oportunidade de ingressar no ensino superior e temos de garantir que continuam a estudar e que, estudando mais, têm melhores empregos. Temos muita incertezas perante o futuro, mas também temos uma certeza. A pandemia mostrou, cada vez mais, que a Ciência e o estudo criam empregos e empregos melhores. E que, de facto as sociedades mais resilientes e menos vulneráveis ao risco, são aquelas com maior capacidade de formação. Este é um processo importante e um desafio para os próximos anos. O ministro Manuel Heitor teve experiências de voluntariado? E que papel acabaram por cumprir? Foram muito importantes. Eu entrei no ensino superior um ano depois do 25 de abril, quando existia o segundo ano daquilo que, na altura, se chamava o serviço cívico. Lembro-me que estive a trabalhar num campo agrícola no Alentejo, numa propriedade em Évora, e foi uma experiência inesquecível. É uma experiência que ninguém esquece e foi muito importante, entre muitas outras ações.
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A CASES explica-te tudo sobre voluntariado A Cooperativa António Sérgio para a Economia Social (CASES) tem como responsabilidade desenvolver ações de promoção, coordenação e qualificação do voluntariado em Portugal. A sua ligação à área do voluntariado fica também clara na sua missão – reconhecer, promover, dinamizar, fortalecer e qualificar o setor da economia social, uma área de atividade que integra 90% do trabalho voluntário formal. Sabe tudo sobre voluntariado, com a ajuda da CASES. ~ 21 ~
O que é o voluntariado?
Art.º 2.º da Lei n.º 71/98, de 3 de novembro Voluntariado é o conjunto de ações de interesse social e comunitário realizadas de forma desinteressada por pessoas, no âmbito de projetos, programas e outras formas de intervenção ao serviço dos indivíduos, das famílias e da comunidade desenvolvidos sem fins lucrativos por entidades públicas ou privadas.
O que se entende por voluntário/a?
Art.º 3.º da Lei n.º 71/98, de 3 de novembro É o indivíduo que, de forma livre, desinteressada e responsável, se compromete, de acordo com as suas aptidões próprias e no seu tempo livre, a realizar ações de voluntariado, no âmbito de uma organização promotora. A qualidade de voluntário não pode decorrer de relação de trabalho subordinado ou autónomo ou de qualquer relação de conteúdo patrimonial com a organização promotora, sem prejuízo de regimes especiais constantes da Lei.
Quais são os Deveres do/a voluntário/a?
Art.º 8.º da Lei n.º 71/98, de 3 de novembro • Observar os princípios deontológicos por que se rege a atividade que realiza, designadamente o respeito pela vida privada de todos quantos dela beneficiam • Observar as normas que regulam o funcionamento da entidade a que presta colaboração e dos respetivos programas ou projetos • Atuar de forma diligente, isenta e solidária • Participar nos programas de formação destinados ao correto desenvolvimento do trabalho voluntário • Zelar pela boa utilização dos recursos materiais e dos bens, equipamentos e utensílios postos ao seu dispor • Colaborar com os profissionais da organização promotora, respeitando as suas opções e seguindo as suas orientações técnicas • Não assumir o papel de representante da organização promotora sem o conhecimento e prévia autorização desta • Garantir a regularidade do exercício do trabalho voluntário de acordo com o programa acordado com a organização promotora • Utilizar devidamente a identificação como voluntário no exercício da sua atividade
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Quais são os Direitos do/ Voluntário/a?
Art.º 7.º da Lei n.º 71/98, de 3 de novembro • Disponibilização do Cartão de Identificação de Voluntário/a • Disponibilização dos materiais necessários para o desenvolvimento da ação de voluntariado, caso se aplique • Formação inicial e contínua • Cobertura de seguros contra riscos de acidentes pessoais e de responsabilidade civil • Envolvimento do/ voluntário/a nas decisões que afetam diretamente o seu trabalho • Reembolso das despesas iniciais associadas à ação de voluntariado • Acompanhamento por parte de uma pessoa com funções técnicas e de coordenação • Auscultação do grau de adequação e do nível de bem-estar do/a voluntário/a • Existência de momentos de partilha e de reflexão sobre o desempenho do/a voluntário/a ao longo do programa de voluntariado • Emissão do certificado de participação • Reconhecimento formal de competências adquiridas ao longo da ação de voluntariado, caso se aplique • Acesso a instrumentos de avaliação do nível de satisfação e de conformidade com o programa de voluntariado
Quais as aprendizagens ou competências que podes desenvolver através do trabalho voluntário? • Expressão e comunicação • Responsabilidade e organização • Iniciativa e criatividade • Trabalho em equipa e cooperação • Relações interpessoais e sociabilidade • Resolução de problemas • Aprender a aprender
Qual a necessidade de se garantir a cobertura de seguros contra riscos de acidentes pessoais e de responsabilidade civil aos/às voluntários/as?
As organizações promotoras estão obrigadas a assegurar a proteção do/a voluntário/a em caso de acidente ou doença sofridos ou contraídos por causa direta e especificamente quando imputável ao exercício do trabalho voluntário, e, bem assim, garantir a cobertura dos prejuízos que o/a voluntário/a possa provocar a terceiros no exercício da atividade de voluntariado (responsabilidade civil). Assim, independentemente da duração da ação, é obrigatória a realização do seguro de acidentes pessoais e de responsabilidade civil, sendo que o mesmo poderá ser individual ou de grupo. O seguro nada mais é do que essa proteção,
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Sabias que…
que traz tranquilidade e segurança no presente e no futuro, independentemente de qualquer eventualidade de acidentes e sinistros. Sem ele os/as voluntários/as poderiam pôr em causa a sua participação nas demais atividades da vida, de um dia para o outro, e ficarem dependentes ou condicionados na sua vida.
• 7,8%, da população residente com 15 ou mais anos participa em, pelo menos, uma atividade formal e/ou informal de trabalho voluntário? • A taxa de voluntariado feminina é superior à masculina, perfazendo um total de 8,1% vs. 7,6%, respetivamente?
O que fazer para me tornar voluntário/a?
Nunca fizeste voluntariado e agora sentes o apelo para colaborar no apoio à comunidade. Queres ajudar e não sabes como? É muito simples! Antes de mais, recomendamos que penses e ajas localmente. O sentimento de vizinhança é absolutamente vital em qualquer momento de apoio, sobretudo, em momentos de crise. Mantem-te em contacto com a tua vizinhança, está atento especialmente àqueles/as que, independentemente da idade, vivem sozinhos/as, as pessoas mais idosas e/ou potencialmente mais vulneráveis. Para além do que te rodeia, existe ainda a possibilidade de apoiares uma organização local sem fins lucrativos ou uma organização pública. Descobre algumas destas organizações em https://www.cases.pt/voluntariado/. O gesto e a ação não se limitam e materializam somente de forma presencial. As redes sociais e outras formas de voluntariado digital são também um meio útil para apoiar aqueles/as que mais precisam. A internet é um mundo de oportunidades para dares o teu contributo à distância de um click, partilhando necessidades, apelos ou até mesmo com trabalho voluntariado a partir de casa. Agora é só meter mãos ao serviço da comunidade! Alguma dúvida que tenhas, podes sempre contactar a CASES (Cooperativa António Sérgio para a Economia Social), através do e-mail voluntariado@cases.pt
• O escalão etário com maior taxa de voluntariado é o dos 15 aos 24 anos, registando um total de 11,3%? • A participação no trabalho voluntário aumenta progressivamente com o nível de escolaridade, registando 15,1% nos indivíduos com ensino superior? • A taxa de voluntariado é superior nos indivíduos desempregados (10,5%) e divorciados ou separados (9,2%)? • Cerca de 82% do total de voluntários/as realizam uma atividade voluntária através de uma organização ou instituição, isto é, participaram em atividades de trabalho voluntário formal? • A região Norte de Portugal concentra quase um terço do total de voluntários/as (32,4%)? • É na região Centro que há mais voluntários face à população residente? Aqui encontramos uma taxa de voluntariado de 8,9% • Portugal antecede à Bulgária, com uma taxa de voluntariado formal de 6,4%, distante da média da UE-28 (19,3%)? • 90.7% dos/as voluntários/as desenvolvem ações de voluntariado em entidades da Economia Social? • O voluntariado formal é sobretudo direcionado para os serviços sociais (36,2%), as organizações da cultura, comunicação e atividades de recreio (15,7%) e da religião (15,7%)?
A CASES oferece-te mais informações sobre voluntariado em forum.pt
• Em média, a população total residente com 15 ou mais anos dedica aproximadamente 32 horas por mês a trabalho voluntário, sendo a média mensal do voluntariado formal (34 horas) superior à observada no voluntariado informal (21 horas)? ~ 24 ~
Entrevista a Carla Ventura, Vice-Presidente da CASES
«Há cada vez mais jovens que fazem voluntariado» Em 2017, foi entregue à Cooperativa António Sérgio para a Economia Social (CASES) a responsabilidade de promover, coordenar e qualificar o trabalho voluntário. A vice-presidente da CASES, Carla Ventura, detalha a ligação histórica desta organização à atividade voluntária, salientando alguns dos projetos realizados. A dirigente destaca ainda o crescimento da atividade voluntária na faixa etária dos 15 aos 24 anos: “Esta tendência só poderá beneficiar a realidade do voluntariado em Portugal”. De que forma a Cooperativa António Sérgio para a Economia Social (CASES) se liga à área do voluntariado? E como tem evoluído essa ligação? A CASES viu as suas competências alargadas à prossecução de políticas na área do voluntariado, em 2017, tendo-lhe sido entregue a responsabilidade de desenvolver ações de promoção, coordenação e qualificação do voluntariado. Para além da prossecução de políticas na área do voluntariado, a CASES tem por objeto promover o fortalecimento do sector da economia social, aprofundando a cooperação entre o Estado e as organizações que o integram. A interligação entre o voluntariado e a economia social é profunda e fica clara, quer no percurso histórico destas duas áreas – a formalização do trabalho associativo tem, em geral, como raiz as atividades voluntárias, quer na expressão que a economia social tem enquanto espaço privilegiado para exercício do voluntariado - de acordo com os dados do Inquérito ao trabalho voluntário, 90% do voluntariado formal é feito em entidades da economia social.
Qual considera ser o impacto destas ações? A CASES teve como preocupação inicial desenvolver contactos com diferentes parceiros privilegiados na área do voluntariado, no sentido de sinalizar as necessidades e eventuais constrangimentos sentidos no desenvolvimento da atividade de voluntariado. Umas das preocupações transversalmente sinalizadas prendia-se com a necessidade reforçar as condições e disponibilizar mecanismos que dinamizassem e qualificassem esta atividade, contribuindo para que o trabalho voluntário ganhasse um maior dinamismo e um maior reconhecimento. Tendo por base esse objetivo, a CASES definiu três linhas de atuação que entendeu serem fundamentais para a dinamização e expansão desta prática: Uma plataforma – Portugal Voluntário – como ferramenta de agilização e facilitação do desenvolvimento e participação em ações de voluntariado (ver caixa); Um apoio financeiro para que as organizações promotoras de ações de voluntariado possam fazer face às despesas seguros dos voluntários; e uma linha de financiamento de ações de formação e sensibilização na área do voluntariado, à data encerrada, para reforçar a capacitação e o reconhecimento desta atividade. Estas ferramentas concorrem para uma resposta
«A prática do voluntariado não só transforma quem o pratica, como provoca transformações efetivas nas sociedades onde atua»
No seu site, a CASES define três medidas essenciais de apoio ao voluntário. Pode contextualizar o âmbito de cada uma delas?
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às necessidades identificadas de um voluntariado mais seguro e responsável e para uma qualificação do trabalho voluntário. Outra das iniciativas em que a CASES participou foi o apoio à criação de Bancos Locais de Voluntariado. Que oportunidade representam estas estruturas para os estudantes interessados em realizar voluntariado? Os Bancos Locais de Voluntariado (BLV) foram criados por recomendação da Comissão Nacional para o Ano Internacional dos Voluntários (2001) e passaram a ser uma realidade desde 2002. A partir de 2008, a criação destas estruturas passou a ser formalizada através de Protocolo com o Conselho Nacional para a Promoção do Voluntariado e posteriormente com a CASES. Portugal conta hoje com 172 BLV ativos e o seu papel, que se traduz numa maior eficácia na utilização dos recursos e na dinamização das vontades, tem sido incontornável na consolidação e expansão do voluntariado. Estas estruturas podem e devem ser um veículo de facilitação da prática de voluntariado para os estudantes, flexível e descentralizado, oferecendo acompanhamento de proximidade que lhes poderão prestar. Convido todos os jovens a conhecer os Bancos de Voluntariado existentes nos seus territórios de referência. Considera que o tempo de estudante possui afinidades com a realização de voluntariado? Quais são as mais-valias que um jovem estudante pode retirar desse tipo de experiência? Numa fase próxima da entrada no mercado de trabalho, como aquela em que se encontram os estudantes universitários, o voluntariado poderá
Portugal Voluntário
Criada em 2018, a Plataforma Portugal Voluntário assume-se como um ponto de encontro entre quem quer fazer voluntariado e as organizações que o promovem. Neste portal, encontras ainda toda a informação sobre a atividade de voluntariado: o enquadramento legal, as respostas e produtos de seguro existentes ou os apoios disponíveis e o modelo de programa de voluntariado, por exemplo. A Plataforma disponibiliza também um espaço às entidades agregadoras, como os Bancos Locais ou Bolsas de Voluntariado, para que possam fazer a gestão dos processos que acompanham, podendo registar voluntários ou organizações promotoras e fazer o acompanhamento das ações. Sabe mais em portugalvoluntario.pt.
contribuir – e contribui – para uma melhor definição do que queremos e gostamos de fazer, do que somos capazes de fazer, das mudanças que a nossa ação pode provocar, alargando os horizontes do nosso potencial de intervenção. Independentemente das motivações, o envolvimento dos jovens estudantes em ações ou projetos de voluntariado permite a aquisição de competências baseadas sempre no aprender a ser, aprender a conhecer, aprender a fazer e, em particular, aprender a fazer conjuntamente. Estas oportunidades de trabalho voluntário potenciam o desenvolvimento pessoal e de autorrealização, bem como a aquisição de conhecimentos e competências que têm um importante reflexo na promoção e inclusão profissional e na participação cívica destes cidadãos. Em suma, o voluntariado é uma atividade com resultados win-win, que se traduzem em valias concretas para quem o pratica: contribui para o enriquecimento pessoal, promove o desenvolvimento de competências, o sentido de responsabilidade, de compromisso e de cooperação; concorrendo para uma melhor preparação para a nova etapa que estão prestes a iniciar. Ao longo dos últimos anos, temos visto algumas instituições de ensino superior reconhecerem formalmente as experiências voluntárias como parte da formação superior, integrada no suplemento ao diploma. Qual a importância que atribui a este passo? O reconhecimento formal das experiências de voluntariado pode, sem dúvida, constituir-se como estímulo à prática do voluntariado, tendo presente o potencial que estas experiências poderão encerrar para a continuidade das práticas de voluntariado para além do espaço temporal do percurso académico. Repare-se que, de acordo com os resultados do Inquérito ao Trabalho Voluntário (ITV), realizado pelo INE (dados de 2018), a taxa de voluntariado mais elevada foi observada nos indivíduos com nível de escolaridade superior (15,1%), que a participação no trabalho voluntário está associada ao nível de escolaridade – há uma correlação direta entre o nível de escolaridade e a prática do voluntariado. Por essa razão, o estímulo dos estudantes do ensino superior para vivenciarem experiências de voluntariado, poderá, não só, ter concorrido para o que os dados nos dizem, como nos permitem perspetivar, a médio prazo, maiores e mais estáveis níveis de voluntariado.
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«É no escalão etário dos 15 aos 24 anos que encontramos a maior taxa de voluntariado – realidade que não se verificava nos resultados apurados em 2012» A CASES trabalha de perto com projetos de solidariedade e voluntariado jovem. A partir da sua experiência, considera que os jovens estão hoje mais despertos para a realidade do voluntariado? Como sente que tem evoluído essa sensibilidade nas gerações mais jovens? Há cada vez mais jovens que fazem voluntariado e isto não é apenas de uma mera perceção. De acordo com o Inquérito ao Trabalho Voluntário, os dados de 2018 refletem um aumento da expressão do número de jovens que se dedicam ao voluntariado, já que é no escalão etário dos 15 aos 24 anos que encontramos a maior taxa de voluntariado – realidade que não se verificava nos resultados apurados em 2012. Os registos na Plataforma Portugal Voluntário (PPV) acompanham esta tendência: mais de 30% dos voluntários registados têm entre 15 e 24 anos, é neste grupo etário que encontramos a maior percentagem de registos. Esta tendência só poderá beneficiar a realidade do voluntariado em Portugal, porque as práticas tendem a manter-se, o que nos poderá levar a uma maior
representatividade da atividade de voluntariado no país. Há alguma mensagem que queira deixar aos estudantes portugueses? A mensagem essencial aos estudantes portuguesas é a de que a sua participação é vital: pelas novas perspetivas, ideias e soluções que aporta e pela forma como essa participação concorre para a sua formação enquanto cidadãos plenos e interventivos. O voluntariado pode e deve assumir-se como a expressão tangível dessa participação. Dado o potencial transformativo que encerra e o envolvimento que implica, a prática do voluntariado não só transforma quem o pratica em agentes de mudança, como provoca transformações efetivas nas sociedades onde atua. Com a alteração gradual da nossa relação com o trabalho, o voluntariado assume-se cada vez mais como aquilo que somos e queremos ser. Constitui a oportunidade de fazer aquilo que queremos e de que gostamos, com impacto na comunidade onde atuamos e com ganhos de competências. Não deixem de responder à convocatória que a sociedade a todos faz para uma participação efetiva. Façam-no sendo voluntários. Lê a entrevista completa em forum.pt
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anos ao teu lado
A ajudar os estudantes a virar a página
A Forum Estudante, com 30 anos de existência, é a 2.ª revista para jovens mais antiga da Europa e a mais antiga de Portugal. É distribuída gratuitamente em todas as escolas secundárias de Portugal Continental e tem uma versão online em www.forum.pt. Cursos, Escolas e Profissões são as temáticas principais mas, na Forum Estudante, há sempre espaço para páginas sobre Música, Desporto, Gaming e Tecnologia, entre muitos outros assuntos do teu interesse. Lê e aprende, com diversão.
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Como os estudantes têm transformado Portugal Ajudar não tem dia nem hora marcada. Os doze projetos que conhecemos, ao longo das próximas páginas, são a prova viva disso mesmo. São o resultado do trabalho de jovens e cidadãos atentos à comunidade, prontos a arregaçar as mangas e capazes de, com uma ideia prática, impactar a vida dos que os rodeiam. O movimento Transforma Portugal apresentou o mote, disponibilizando um microfinanciamento para projetos de voluntariado realizados por estudantes no combate à Covid-19. O espírito crítico e a vontade de ajudar dos estudantes fizeram o resto. Conhece aqui algumas das suas histórias, contadas no início de 2020. Texto: Rúben de Matos
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Easy Future. Descomplicar o futuro Se a entrada no Ensino Superior já representa, por si só, um processo complexo, as alterações introduzidas pela pandemia vieram complicá-lo ainda mais. A “Easy Future” procura contrariar estas dificuldades, reunindo todas as dicas e informações numa só plataforma.
Quando, ainda no Secundário, a entrada crescimento brutal. O projeto nasceu apenas no Ensino Superior começa a tornar-se em maio de 2020 e já chegámos a milhares cada vez mais próxima, há rituais que se dos jovens em todo o país. Já temos buscas tornam quase semanais na vida de um de todos os concelhos do país”, conta. estudante. Para lá da normal busca intensiva O trabalho pode parecer fácil, mas Tiago de quais os cursos a ponderar, o leva-o muito a sério. “Eu passei as cálculo da média torna-se tradição. férias de verão (de 2020) a trabalhar Há quem utilize as calculadoras nisto. Dá trabalho. E fomos bem disponibilizadas online, e há quem claros nas últimas candidaturas crie o seu próprio método. Tiago que abrimos: conciliar tudo Oliveira pertence a este último é difícil, mas temos de saber grupo. O famoso Excel que criou fazê-lo”, diz. Hoje, a equipa tem rapidamente tornou-se um já 16 membros de norte a sul que sucesso na escola. asseguram conteúdos diários. O jovem de Barcelos, agora já Para além do site, há espaço a estudar Física na Universidade para outros projetos. É o caso dos do Porto, confessa-se um webinares online e da iniciativa “apaixonado” por todo o processo “Interligar o País”, que conecta já de entrada no Superior. Mais do que mais de 500 estudantes por via do isso, aos poucos foi tornando-se um Whatsapp. O objetivo é simples, conta expert na matéria. Os colegas de turma Tiago: “Queremos ligar os estudantes já lhe reconheciam o valor, e era a ele quando devíamos estar mais afastados que recorriam quando tinham alguma do que nunca”. dúvida. Com o confinamento, Com o financiamento do decidiu começar a partilhar Transforma Portugal, querem “O projeto nasceu apenas em dicas nas suas redes sociais. tornar-se Associação Juvenil. Já Até que um amigo lhe lançou o a espreitar o olho a um sonho maio de 2020 e já chegámos a desafio de tornar a paixão em que não é impossível, conclui: milhares dos jovens em todo o algo mais sério. “Gostava que um dia a equipa país. Já temos buscas de todos pudesse ser remunerada. Se o Ligar os estudantes conseguisse, provavelmente os concelhos do país” Surgido o desafio, Tiago passou ficaria por aqui. Entre trabalhar os dias a pensar como poderia nisto ou passar os meus dias dar corpo à ideia. A equipa a fazer relatórios científicos, começou com seis estudantes e, rapidamente, não tenho dúvidas do que é que me dá mais cresceu para lá das expetativas. “Foi um prazer”.
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UMSumário. Do problema à solução A suspensão das aulas presenciais foi um desafio para todos os alunos, em especial para os mais jovens. A Associação Académica da Universidade do Minho (AAUM) mostrou-se atenta ao problema e lançou o projeto “UMSumário”.
Durante o ano de 2020, as novidades as áreas da instituição foram aos poucos na vida dos estudantes não se tornando-se voluntários. Atualmente, a traduziram apenas em mudanças iniciativa vive já a terceira edição, e na forma de ingresso no Ensino chega a cerca de 100 crianças. Em Superior. Se, nas instituições de todo o processo, a equipa da AAUM ensino superior, a adaptação pode assegura a ligação entre os pais ter sido mais fácil, dada a maior que inscrevem os seus filhos e os autonomia dos estudantes, do lado voluntários. Cada um dos voluntários dos mais novos o processo foi especifica quais as disciplinas em mais exigente. E o que tem uma que se sente mais à vontade, e universidade que ver com isto? recebe depois uma formação base “Tudo!”, responde sem hesitar para estar à altura do desafio. Uma Margarida Santos. vez feito o match, o voluntário Com 21 anos, Margarida é viceassegura um acompanhamento presidente para a área social escolar à distância, onde há da AAUM. “Como associação sempre espaço para o convívio. académica, não queremos O projeto aposta ainda na apenas influenciar a vida dos lecionação, em formato presencial, nossos estudantes. Queremos de Português Língua Nãotambém ter um impacto real Materna a crianças e jovens “Como associação académica, na comunidade que chegue migrantes, em articulação ao maior número de pessoas”, não queremos apenas influenciar com um colégio e uma destaca a estudante de ONG local. Mas o objetivo é a vida dos nossos estudantes. Medicina. De uma adversidade sempre crescer, e chegar até a identificada – a suspensão Queremos também ter um impacto crianças institucionalizadas. O do ensino presencial –, a do Transforma real na comunidade que chegue ao financiamento equipa começou a pensar Portugal pode ajudar: “O maior número de pessoas.” como poderia atenuar o nosso sonho é podermos impacto negativo da mudança, adquirir computadores para especialmente junto das poder chegar a cada vez mais crianças do Ensino Básico. “As crianças não iam crianças”. Para já, o feedback das que integram só ficar com fragilidades na aprendizagem. o projeto é recompensador. A prova de que a Iam a passar a sentir algo que muitas nunca solução certa permitiu dar a volta ao problema, tinham sentido – a solidão. Achámos importante com pontos extra: “Conseguimos perceber que, procurar contrariar as duas coisas”, recorda. realmente, aquela hora semanal marca pela Assim nascia o “UMSumário”. Os alunos de todas positiva a vida das crianças”.
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Friends in the arts. A jogada certa no momento certo Para lá da saúde, a Covid-19 veio por à prova a economia e o mundo laboral. O trabalho remoto é uma nova realidade e pode abrir portas por todo o mundo. Também no mundo da arte. O “Friends in the arts” quer dar uma ajuda.
É difícil conseguir associar uma cidade à lançando a “FITA´S magazine” – uma vida de Francisca Gigante. Em Portugal, publicação artística bianual aberta à licenciou-se em Comunicação Social comunidade. Está na calha também a e Cultural. Nessa altura, o sonho promoção de uma série de eventos de ser jornalista começou a ser culturais em Lisboa, durante o verão, em ultrapassado pela vontade de parceria com uma das freguesias da trabalhar no mundo da arte. Por cidade. isso, rumou a Nova Iorque para A meta máxima é fácil de definir: tirar um mestrado na área. “Queremos fazer os possíveis e Em solo norte-americano, os impossíveis para que todos conheceu os maiores galerias os friends consigam encontrar e empresários da área. emprego”. “Acreditamos que Na parte final do mestrado, o emprego é a base para o já em Londres, surgiu a sucesso não só profissional, oportunidade de estagiar numa mas também para o próprio das mais prestigiadas galerias bem-estar das pessoas. E de Veneza. À segunda tentativa depois essas pessoas ficam tão conseguiu uma vaga. Foi lá contentes, que querem ajudar. ainda que nasceu a ideia do E assim continuam a criar-se “Friends in the arts”, no início oportunidades”. de 2020. A pandemia veio “Não estava a contar, mas neste cancelar toda a programação momento isto é já quase como “Queremos juntar estes novos cultural da cidade e Francisca, se fosse uma fita que está a talentos a outros profissionais hoje com 27 anos, decidiu crescer e a espalhar-se pelo regressar a Portugal. mundo”, acrescenta Franscisca. que já estão enquadrados Em outubro de 2020, a Os tempos, apesar de difíceis no mundo de trabalho e a plataforma foi lançada. para a Cultura, foram a altura “Nascemos com o objetivo de associações já estabelecidas que certa para a jogada certeira de facilitar a procura de emprego espalhar o talento pelo mundo, possam facilitar a procura.” dos jovens nesta área. “de Nova Iorque a Xangai”. Queremos juntar estes novos talentos a outros profissionais que já estão enquadrados no mundo de trabalho e a associações já estabelecidas que possam facilitar a procura”, explica. Os jovens podem fazer uma subscrição mensal, e assim ter acesso a todas as ofertas. Em pouco mais de sete meses de atividade, os friends eram já 153. Oito já conseguiram fechar contrato. Uma FITA pelo mundo A equipa, agora com nove pessoas, apostou também na criação de uma publicação impressa, com o apoio recebido do Transforma Portugal, ~ 34 ~
RITMOSS. Aliar a música à solidariedade A música é a linguagem universal. Vários géneros e diferentes artistas conseguem chegar a todos. Com o projeto RITMOSS, três jovens de Braga querem utilizá-la para chegar às crianças. E ainda falar de saúde.
O nome do projeto não deixa esconder durante muito tempo qual é o seu maior propósito. Ainda assim, há uma explicação mais complexa por detrás destas sete letras. RITMOSS é o mesmo que dizer “R”espeito, “I”integração, “T”olerância, “M”otivação, “O”timismo, “S”ociabilidade e “S”olidariedade. A explicação é dada por Francisca Campos. “Estudo Direito, mas sempre tive em mim o desejo de querer fazer qualquer coisa na área da música. Com a pandemia, queria mesmo sentirme útil e percebi que era o tempo certo para o fazer acontecer”. Em duas amigas de sempre, a bracarense de 20 anos diz ter encontrado as pessoas certas para meter em marcha um duplo desejo. Francisca e Mara ficam-se pela música. Beatriz, estudante de Enfermagem, é a responsável pela partilha de conhecimento na área da saúde. Querem, com a música, chegar aos bairros mais carenciados da cidade e permitir que essas crianças contactem com uma realidade a que dificilmente teriam acesso de outra forma. O financiamento do Transforma Portugal ajudará na compra de instrumentos a ser usados nas sessões. Do lado da saúde, não querem deixar de ter em cada sessão aquilo a que chamaram de “10 minutos de saúde”.
Numa altura em que os mínimos cuidados podem fazer a diferença na prevenção do contágio, a mensagem a passar é mais importante do que nunca. “Quando dizemos que devemos lavar as mãos regularmente, que fumar mata… aquelas crianças não têm essa noção. Não têm as bases que nós tivemos”, conta Francisca. A música, dizem, é a melhor forma de o fazer. Apesar de criado, o projeto ainda não está no terreno. Fazê-lo nos próximos meses é um desafio a cumprir. Isso e alargar as sessões a um conjunto de outras áreas, como o ensino do Português ou o Teatro. Se conseguir passar a estas crianças o quão importante a música também foi na sua infância, Francisca diz-se feliz: “Eu quero que aquelas crianças saiam dali e digam: ‘Isto foi mesmo bom’. Mas também quero passar valores. Eu sei o quão importante foi para mim ter desde nova o método e a disciplina que a música nos passa”. Com a música e a solidariedade, a jovem espera conseguir cumprir este objetivo com distinção. “Isto não é mesmo conversa. Se acrescentar alguma coisa à vida destas crianças, já vale a pena”, conclui.
“Eu quero que aquelas crianças saiam dali e digam: “Isto foi mesmo bom”. Mas também quero passar valores. Eu também sei o quão importante foi para mim ter desde nova o método e a disciplina que a música nos passa.” ~ 35 ~
Serenatas Solidárias. O mesmo encanto de sempre O Fado é o elo de ligação dos dez jovens que integram o Grupo de Fados do Instituto Superior de Engenharia do Politécnico do Porto (ISEP). A pandemia obrigou-os a parar. Querem agora reavivar a tradição e levá-la aos mais velhos, através de “Serenatas Solidárias”.
As memórias vividas em grupo são Quem já pisou um palco, dificilmente muitas: “Quando atuamos juntos, é esquece a sensação. Estar em cima uma montanha-russa de emoções, das tábuas, a cantar ou tocar, torna-se para o bem e para um mal”. Com a quase viciante, mesmo para quem não pandemia, essas atuações deixaram é músico a tempo inteiro. No caso de dez de acontecer. A feitura de estudantes do ISEP, a Engenharia ocupamemórias ficou em suspenso. lhes grande parte do tempo. Com 23 anos, Mas a vontade de fazer João Pedro Novais, por exemplo, está a música manteve-se lá. Foi terminar o mestrado em Engenharia então que a Presidência Mecânica. A par da exigência do do Instituto lhes lançou o curso, o espaço para cantar está desafio: cantarem para os sempre lá. mais velhos. O grupo organiza todos os anos uma Grande Noite de Fados. Mas também O fado e a gratidão “Os idosos são os nossos melhores surgem os convites para O desafio foi aceite. O espetadores. Há sempre muita emoção grupo entrou em contacto tocar em outros palcos, até além-fronteiras. França, com a junta de freguesia à mistura. Porque o Fado Estudantil EUA ou Suíça são alguns de Paranhos, uma das tocou a vida destas pessoas.” dos países que relembra maiores da cidade, que sem pensar muito no assegurou a ligação aos assunto. “Lembro-me lares. Pouco tempo depois, especialmente de um concerto em França. o Transforma Portugal abriu candidaturas e Cantámos numa Catedral para 600 pessoas”, assumiu-se como mais um apoio no caminho até recorda. dar vida ao projeto. A abertura do país vai permitir chegar a ainda mais pessoas. Para lá do gesto, o fado traz à tona lembranças de uma vida. “Os idosos são os nossos melhores espetadores. Há sempre muita emoção à mistura. Porque o Fado Estudantil tocou a vida destas pessoas. Algumas das músicas tiveram um papel de luta muito grande durante o Estado Novo, e fazem recordar esses momentos”, lembra o portuense. Não dá para esconder o brilhozinho nos olhos, de um lado e do outro. “É muito recompensador. Somos bem recebidos a fazer uma coisa de que muito gostamos. Queremos continuar a fazê-lo, menos que não seja por uma prova de gratidão. Porque o país que hoje temos também a eles muito se deve”. Ainda que com máscaras e distanciamento social, o Fado Estudantil continuou com o mesmo encanto de sempre. ~ 36 ~
Mais Comunidade. Uma nova alegria No Minho, o projeto “Mais Comunidade” pretende melhorar a qualidade de vida dos mais velhos. Estudantes de Gerontologia do Politécnico de Viana do Castelo querem por à prova os seus conhecimentos e combater a solidão.
Grande parte dos projetos que temos continua, mas a segunda fase já está vindo a apresentar nas últimas páginas em marcha: recrutar voluntários. O são fruto de uma situação que poderia projeto foi dado a conhecer a alunos ser paralisadora, mas que, pelo contrário, do segundo e terceiro ano do curso, culminou em ideias e respostas mas também a toda a comunidade inéditas. O “Mais Comunidade” não estudantil do Politécnico. foge à regra. Num curso que vive tanto da parte prática como o de De braços abertos Gerontologia, a impossibilidade de Neste momento, os voluntários a realizar tornou necessária uma vêm de áreas tão diferentes como alternativa. o Jornalismo, a Enfermagem ou Cinco alunas, onde se Gestão, e recebem uma formação inclui Mariana Malheiro, à altura, para estarem aptos confrontadas com um estágio para o meter em prática junto por completar e o fecho total dos idosos. Já nos centros de dos centros de dia, decidiram dia, para lá da normal interação, por mãos à obra e encarar o projeto quer apostar na o problema como uma estimulação cognitiva e física. oportunidade. “Queríamos “Espero que este projeto me ajude As instituições só os podem muitos desenvolver um receber de braços abertos: a ganhar experiência, a saber projeto em grupo. Vimos que “Receberam o projeto com colocar em prática aquilo que o Transforma estava à procura bons olhos, porque é a de projetos e que os centros oportunidade de poderem estive tantos anos a aprender. de dia estavam fechados. Por meter em prática aquilo que Se os utentes saírem das nossas às vezes não têm tempo para isso, tentámos preencher essa lacuna”, resume. fazer”. sessões a dizerem ‘Isto fez-me Numa primeira fase, o A prática tornar-se-á mais mesmo bem! Quero continuar processo passou pela intensa nos próximos meses, a fazer!’ é suficientemente identificação de quantos não só porque a evolução da pandemia assim o permite, centros de dia existiam em recompensador.” mas também porque o Viana do Castelo. A listagem número de voluntários está a possibilitar o crescimento do projeto. Neste momento são 40, a esmagadora maioria mulheres. Entre aquelas que construíram a ideia, a esperança é de que os frutos sejam mais que muitos. “Espero que este projeto me ajude a ganhar experiência, a saber colocar em prática aquilo que estive tantos anos a aprender. Se os utentes saírem das nossas sessões a dizerem ‘Isto fez-me mesmo bem! Quero continuar a fazer!’ é suficientemente recompensador”, conclui Mariana. ~ 37 ~
Os Jovens Seniores da Calvaria Sorriem. “Basta um sorriso” Não só o isolamento do resto do mundo passou a ser algo novo na vida de milhares de centros de dia. Coisas tão simples, como a higiene dos idosos, tornaram-se processos mais complicados… e caros. Bárbara Pereira quis minimizar o problema. Com a sua ajuda, “Os jovens seniores da Calvaria sorriem”.
O voluntariado não é propriamente prestava aos idosos que já existia e na entrega algo novo na vida de Bárbara. As de alimentos. É nesse ponto que o projeto “Os primeiras experiências deram-se jovens seniores da Calvaria sorriem” surge muito por influência da disciplina para ajudar. de Educação Moral e Religiosa, ainda na escola. Por essa via, a Ajudar e fazer a diferença sua ajuda chegou a associação “Não tinha noção do total de despesas que como o Banco Alimentar ou era necessário para assegurar a higiene a Liga Portuguesa Contra o destes idosos”, conta Bárbara. O Transforma Cancro. Já no Secundário, Portugal veio ajudar à materialização dessa a estudante de Engenharia vontade, ajudando a pagar as deslocações Biomédica começou a fazer e o material necessário para a higiene. voluntariado numa instituição Para a ajudar, Bárbara lançou o convite a de apoio a crianças deficientes duas colegas de mestrado. na sua zona. “Não fazemos Sentiu-lhes o espírito e, por isso, “Não tinha noção do total de muito, mas para eles aquilo o tiro foi certeiro: “Apesar de vale tudo. Só o facto de trabalharem e estudarem ao despesas que era necessário estarmos ali já para eles é uma tempo disseram “sim” para assegurar a higiene destes mesmo alegria. É uma alegria eles ao desafio”. A ajuda, ainda que idosos. Por isso, qualquer ajuda é pequena, faz toda a diferença. receberem-me, nem consigo expressar”, confessa a jovem “Por mais pequena que seja a bem-vinda.” de 22 anos, natural de Leiria. ajuda, é sempre bem-vinda”, A vontade de inventar e ajudar completa. está também longe de ser nova. A mais recente A ida a casa dos idosos tornou-se mais necessária teve como intermediária a mãe. Contabilista, durante os períodos de confinamento, mas a mãe de Bárbara assegura a contabilidade continua a ser ainda urgente. “Não vejo porque de um conjunto de Instituições Particulares de não o continuar. Claro que os objetivos podem Solidariedade Social (IPSS) da região de Leiria. mudar, mas na prática continua a ser sempre precisa alguma ajuda”. Objetivos diferentes à Um dia, numa simples conversa entre mãe e parte, o desfecho é o mesmo. Com os mais novos filha, a mãe comentou as dificuldades que uma ou os mais velhos, “basta um sorriso” para ter IPSS da Calvaria de Cima, freguesia do concelho valido a pena, conta. de Porto de Mós, estava a sentir na higiene que
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Já Dizia a Minha Avó. Recuperar tradições Só em Portugal, meio milhão de idosos vivem sozinhos. Alguns, ainda que em lares, foram separados da família. Longe de ser uma novidade, a solidão é agora mais forte. O “Já Dizia A Minha Avó” pretende quebrá-la com o envio de cartas.
O último ano das nossas voluntariado super fácil vidas foi produtivo no de pôr em prática. Não há que ao uso de formas de desculpas”. reunir online diz respeito. A divulgação começou Dezenas de aplicações, à nas redes sociais, mas aos distância de uns segundos, poucos foi chegando aos conseguem estabelecer jornais e até à televisão. “Foi o contacto visual com tudo muito orgânico. Não pessoas de outras partes precisámos de ninguém do mundo. Para trás, para o publicitar. O projeto ficaram um conjunto de cresceu naturalmente”, tradições que correm o diz. A ideia é simples: cada risco de desaparecer. Pelo jovem fica ligado a um menos uma delas está a idoso inscrito no projeto, ser salvaguardada pelo trocando cartas um com o “Já Dizia A Minha Avó” – o outro. “É uma forma de criar envio de cartas. uma relação aos poucos, A ideia nasceu entre seis quase como antigamente”, amigas de faculdade, acrescenta Maria. “Os idosos precisam de nós o ano a estudar no Instituto Superior de Agronomia “A vida do avô” inteiro. Esta é uma maneira de (ISA), em Lisboa. Uma delas A equipa procura agora voluntariado super fácil de pôr em participou num envio de chegar ao maior número prática. Não há desculpas.” cartas a idosos, e já na de lares e centros de dia altura o gesto ficou-lhe pelo país, mas também na cabeça. Numa insónia, aos idosos que se queiram conta-nos Maria Almeida, nasceu a conceção do inscrever a título individual. Esse é mesmo o maior projeto. A data do lançamento não foi escolhida desafio. Nos primeiros meses de 2020, eram 800 os em vão – 25 de dezembro. Porquê no fim do voluntários e 500 os idosos. Quantos mais os idosos, Natal? “Os idosos precisam de nós o ano inteiro, mais voluntários conseguirão participar ativamente. e não só nessa altura. Esta é uma forma de Hoje, a logística é bem mais complicada. “Até os intervalos de 10 minutos entre aulas servem para respondermos a e-mails”, reconhece. O Transforma Portugal veio também ajudar a cobrir os custos relacionados com os envios das cartas em algumas instituições que têm já muitos idosos a participar. A reação de jovens e idosos é recompensadora. “Ainda no outro dia estávamos numa reunião e um amigo recebeu em casa uma carta. Perguntámos-lhe o que dizia, e ele disse: ‘Não posso dizer, isto é a vida do avô’”, conta Maria, antes de conclui: “É isto que nós queremos”. ~ 39 ~
SPES. A visita possível A solidão chegou também aos hospitais. Muitos doentes viram-se privados de receber visitas. O SPES, um grupo de estudantes de Coimbra, quiseram manter-se perto dos doentes, ainda que à distância.
podíamos deixar morrer, ainda para mais numa circunstância dessas”, resume. Mais uma vez, a ajuda da Irmã Inês continua a ser preciosa. No hospital, foi ela quem ajudou a identificar que doentes é que estariam interessados em participar nos contactos à distância, não só por videochamadas, mas até mesmo contactos telefónicos ou cartas. Fazem parte da “Visita aos Doentes” um total de 15 voluntários. Aos poucos, a equipa foi percebendo que existiam muitos doentes que queriam receber essas visitas, mas que não o poderiam fazer por não terem equipamentos. O Transforma Portugal veio resolver o
Em circunstâncias normais, a visita a doentes no Centro Hospital e Universitário de Coimbra (CHUC) era já um hábito recorrente entre os estudantes que integram o SPES da cidade – um grupo do Instituto Universitário Justiça e Paz para a Pastoral do Ensino Superior. Na cidade dos estudantes, estes jovens há já muito que procuram fazer algo em prol da comunidade. Vinda diretamente de Santa Maria da Feira, Maria João Nunes, pouco depois de ter chegado a Coimbra para estudar Engenharia Química, decidiu juntar-se ao grupo. Chegou a ir ao hospital por duas vezes visitar os doentes. “Na nossa primeira ou segunda visita não nos levam a um paciente
“Eu recebo muito mais do que dou. Eu estou ali porque quero colaborar e aquilo que eles me dão e que me permitem crescer pessoalmente não tem preço.” qualquer. Porque sabem que podemos não estar preparados para visitar essas pessoas. Para nos ajudar nessa gestão temos a ajuda da Irmã Inês”. A verdade é que a pandemia veio tornar impossível essa proximidade. Uma vez regressados à cidade em setembro, perceberam que a pandemia veio agravar a solidão desses doentes. A realidade parece ainda mais dolorosa por se tratar de um hospital central e que, por isso, recebe pessoas de todo o país que ficam longas temporadas afastadas da família. “A atividade já existia há tantos anos. Não a
problema, ao possibilitar a compra de um tablet e internet para chegar a esses doentes. O SPES e as experiências que lá vive são, para Maria, como se de uma família se tratasse. “Eu recebo muito mais do que dou. Eu estou ali porque quero colaborar e aquilo que eles me dão e que me permitem crescer pessoalmente não tem preço.” Mas não haja ilusões. Nestes moldes, a “visita” aos doentes é a possível, não a desejada por todos: “Nós somos humanos, por isso queremos voltar a ter esse contacto presencial”.
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Reciclar Saúde. Ajudar e receber Sempre estiveram numa situação de vulnerabilidade. Agora ainda mais. “Reciclar Saúde” é a iniciativa que pretende ajudar os sem-abrigo de Lisboa e, ao mesmo tempo, tirar grande parte do lixo das ruas.
Se, para alguns, férias são isso as duas equipas no Cais do Sodré ou em mesmo, para Diana Rosa e duas Santa Apolónia, no Rossio ou na zona da colegas do curso de Psicologia Avenida Almirante Reis, distribuindo kits de a definição da palavra é um proteção contra a Covid-19 e alimentos. bocadinho diferente. Terminado A equipa de voluntários recolhe ainda o primeiro semestre e com dois o lixo que possa estar acumulado meses de férias pela frente, para depois fazer a reciclagem. Neste a abertura de candidaturas campo, a separação das rolhas permite do Transforma Portugal fez até já ajudar quem se pode servir nascer uma perspetiva de que, desse material para conseguir pagar pelo menos, iam ter algo com tratamentos de saúde. que se entreter nos próximos Apesar de não haver uma história tempos. O ponto de partida igual, o sentimento é sempre o pode ser traduzido em duas mesmo. “Eles conversam e ficam questões simples: “Como é que sempre agradecidos. No início podemos ajudar os sem abrigo? tinham receio, o que é normal. E como é que podemos ajudar o Não sabiam quem éramos, planeta?”. A resposta surgiu com nem quais eram as nossas o “Reciclar Saúde”. intenções. É também uma forma A plataforma disponibilizada de se protegerem pelas histórias pelo Transforma ajudou a recrutar complicadas que alguns já viveram”, voluntários, o que conta a jovem de Sintra. permite que a equipa Depois que os restaurantes “Eles conversam e ficam sempre esteja divida em duas puderam voltar a abrir agradecidos. No início tinham receio, o as portas, querem poder frentes na cidade. Diana destaca ainda que é normal. Não sabiam quem éramos, estabelecer parcerias com o apoio dado pela alguns estabelecimentos nem quais eram as nossas intenções. Comunidade Vida e Paz, do setor na cidade, para que ajudou a identificar É também uma forma de se protegerem distribuição de refeições que os sem-abrigo que sobrar no fim de um pelas histórias complicadas que alguns possam poderiam ser ajudados dia de trabalho. A seu tempo já viveram” pelo projeto. Todas as esse crescimento deverá sextas-feiras lá estão surgir, acredita Diana.
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Safe Mask Spot. As máscaras protegem a saúde, não o planeta Nos últimos meses, nasceram novos hábitos que são hoje mais do que normais. O uso de máscara, quer em espaços interiores ou mesmo na rua, é um dos pilares na prevenção do contágio. Uma novidade com implicações significativas para o planeta.
Sair de casa para um dia de aulas ou de trabalho tem um antes e um depois. Até há um ano, era fulcral não esquecer objetos como a carteira, as chaves ou telemóvel. Neste momento, há que juntar pelo menos mais um acessório a esta equação – a máscara. O acessório, mais do que se ver onde deve verdadeiramente estar – no rosto de cada um de nós –, vê-se também cada vez mais nas ruas e passeios. E até nas praias. Se, até 2020, a poluição atmosférica era uma
selado, seria depois depositado no contentor. Dessa forma, não só se evitaria um possível contágio do restante lixo, como também se protegeria quem depois tivesse que recolher e tratar esse lixo. O contentor, já idealizado pelo grupo, tem um design apelativo, em formato de máscara com a cor azul. O apoio do Transforma Portugal foi visto como uma ajuda para a concretização do modelo. Com os apoios certos, e colocado nos
“Claro que não conseguimos resolver o problema a 100%. Mas a nossa ideia pode ser uma ajuda importante.” das frentes que deveria merecer mais vigilância no combate às alterações climáticas, o uso de máscaras e outros plásticos descartáveis assume agora uma preocupação crescente. Miguel Matos mostrou-se atento ao problema. O jovem de 21 anos, em colaboração com dois colegas da licenciatura em Gestão no Instituto Politécnico de Castelo Branco, conta que não existiram grandes dúvidas quando lhes foi lançado o desafio de criar um projeto no âmbito do movimento Transforma Portugal: “Assim que o nosso professor de Estratégia e Inovação nos propôs a criação de um projeto, pensámos logo na questão das máscaras”, lembra. O resultado foi a criação do “Safe Mask Spot”.
Proteger a saúde e o planeta
Se há um pilhão, porque não criar um contentor onde só são depositadas máscaras? A pesquisa feita pelos estudantes levou à conclusão de que a forma correta de depositar uma máscara num contentor do lixo dito normal está longe de ser a ideal. Tal só se verificaria se cada máscara fosse condicionada num saco do lixo próprio, que, já
sítios certos, o “Safe Mask Spot” pode ajudar a tirar as máscaras das ruas. “Claro que não conseguimos resolver o problema a 100%. Mas a nossa ideia pode ser uma ajuda importante”, reconhece Miguel. Há que continuar a usar as máscaras, não deixando de ter em mente que, em média, demoram 500 anos a decompor-se, recorda o estudante, destacando que as máscaras protegem a nossa saúde, mas não o planeta.
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Pets & Friends. Os cães não conhecem o isolamento Levar o cão à rua é um hábito inadiável na vida de quem tem este amigo de quatro patas em casa. E se toda a família estiver em isolamento profilático? O “Pets & Friends” resolver o problema.
Os confinamentos trouxeram mais tempo chegaram também por via da plataforma para estar em casa, e também para estar disponibilizada pelo Transforma Portugal. com os animais. Se nem todos são iguais, “Temos um papel importante de sabemos que os cães, especialmente, responsabilidade social. Queremos precisam sempre do seu passeio diário que as pessoas não se sintam fora de casa. Com mais ou menos tentadas a quebrar o isolamento, tempo, lá se arranja um furo na por não terem sintoma agenda para o conseguir. Em certas nenhum ou por sentirem que condições, durante a pandemia da podem nem estar infetadas”, Covid-19, realizar esse momento destaca a estudante. Está pode tornar-se impossível. já apontada uma meta a O cenário é hipotético, mas está cumprir em breve: chegar a longe de ser raro nos últimos ainda mais pessoas que meses. Numa casa onde toda possam querer usufruir “Acho que estamos a perder um bocadinho do projeto. uma família testou positivo à Covid-19, ou onde alguns Essa responsabilidade o que é ser humano. E ser humano é estão infetados e outros têm faz-se também sentir ajudar os outros da forma mais básica que no tipo de conteúdos que ficar em isolamento profilático, o que fazer quanto conseguirmos, como fazemos com o Pets.” que a equipa partilha ao passeio diário do cão? nas redes sociais da A pergunta começou a iniciativa. A ligação pairar na cabeça de Sofia Gonçalves, de 20 anos, entre os voluntários disponíveis e aqueles que se quando se deparou com um caso desses na inscrevem no projeto é importante, mas a equipa família. A estudar Gestão de Atividades Turísticas no quer também ajudar a desconstruir alguns mitos Politécnico do Porto, o surgimento do Transforma que existem sobre determinadas raças, ou até Portugal e o mote depois lançado pela Associação alertar para o aumento exponencial da venda de Estudantes da qual faz parte permitiu dar início ilegal de animais durante os últimos tempos. ao “Pets & Friends”. Este é um projeto de compromisso que, conclui O movimento solidário chegu a toda a Área Sofia, lhe permita ganhar um conjunto de Metropolitana do Porto, com o objetivo de competências para o futuro, também a nível pessoal: tornar possível os passeios de animais cujos “Acho que estamos a perder um bocadinho o que donos estão infetados ou em isolamento é ser humano. E ser humano é ajudar os outros da profilático. Os voluntários rondam os 20 anos e forma mais básica que conseguirmos”.
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Onde encontrar oportunidades de voluntariado?
Se estás à procura do projeto perfeito a que dedicar o teu tempo e dedicação, damos-te a conhecer algumas opções de portais, recursos ou contactos que te poderão ajudar a encontrar a oportunidade que se ajusta ao teu perfil na perfeição. Descobre várias portas para o mundo do voluntariado, ao longo das próximas páginas.
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#01
Transforma Portugal
Criado no início de 2021, o movimento Transforma Portugal teve como primeiro foco promover e apoiar a inovação social dos estudantes do Ensino Superior. Nesse sentido, ao longo dos últimos meses, este movimento está a apoiar ações de estudantes que combatam a Covid-19 e as suas consequências. Contudo, o seu objetivo é mais lato – transformar Portugal através de todos os cidadãos. Inspirada no projeto Transforma Brasil (que conta com 800 mil brasileiros e 4 mil projetos sociais inscritos na sua plataforma), o Transforma Portugal procura também ser “matchmaker”, cruzando as necessidades das organizações com o perfil dos candidatos (interesses, localização ou qualificações, por exemplo).
#05
Serviço Voluntário Europeu
Criado há cerca de 25 anos, o Serviço de Voluntariado Europeu (SVE) tem com objetivo permitir aos jovens realizar trabalho voluntário num país que não o de residência, num período até 12 meses, em áreas como o desporto, a cultura, o serviço social ou o ambiente, por exemplo. Este é um programa destinado aos jovens entre os 18 e os 30 anos, sendo que todas as atividades incluídas nesta estrutura são gratuitas, uma vez que a Comissão Europeia assegura o pagamento das despesas relativas a viagens, estadia, alimentação, seguros de saúde, entre outras. No portal youthforeurope.eu é possível encontrar as várias oportunidades abertas a candidaturas.
#02
AIESEC
Com presença em 125 países e mais de 100 mil membros, a AIESEC é uma rede mundial que se assume como uma organização de juventude, gerida exclusivamente por pessoas com menos de 30 anos. Um dos seus eixos de ação está na disponibilização de oportunidades de voluntariado internacional. No seu site, esta rede organiza as ofertas de acordo com áreas de ação como Igualdade de Género, Erradicação da Pobreza ou energia Acessível e Limpa. Graças à sua dimensão internacional, é possível encontrar milhares de oportunidades com candidaturas abertas. A pesquisa de projetos pode ser filtrada de acordo com critérios como localização, competências, línguas ou qualificação do candidato.
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Portugal Voluntário
Esta plataforma promovida pela Cooperativa António Sérgio para a Economia Social (CASES) tem como objetivo facilitar o encontro entre organizações e interessados. Desta forma, no portal Portugal Voluntário é possível encontrar ações de voluntariado ativas, que se espalham pelo território nacional. Por outro lado, é ainda possível consultar uma lista atualizada de organizações promotoras de voluntariado acreditadas. A plataforma disponibiliza ainda uma secção de informação e recursos pertinentes para a prática do voluntariado, bem como informação sobre seguros, legislação e financiamento, por exemplo.
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Nações Unidas
Os programas de voluntariado das Nações Unidas envolvem, em média, 8 mil pessoas por ano, oriundas de 160 países diferentes. As oportunidades de voluntariado — que duram, por norma, mais de seis meses — podem ser encontradas num portal online (UN Volunteers), que se divide entre três opções de voluntariado: no estrangeiro, no próprio país ou online. As Nações Unidas destacam alguns dos exemplos de projetos incluídos têm como objetivo promover a paz, dar resposta a desastres, capacitar comunidades ou construir bases para o desenvolvimento sustentável. Neste portal, é ainda possível encontrar notícias, testemunhos e histórias de sucesso.
Para Onde?
Formalizada no final de 2016, a associação sem fins lucrativos “Para Onde?” dinamiza uma plataforma online que reúne oportunidades de voluntariado internacional. A plataforma divide os programas de voluntariado pela sua duração (curta e longa), detalhando oportunidades em todo o mundo, através da partilha de elementos como a duração, o país, o número de voluntários ou a idade, por exemplo. A plataforma destaca que não há limitações de idade, formação, experiência ou religião, partilhando ainda alguns testemunhos.
Bolsa do Voluntariado
Desde 2006 que o projeto Bolsa do Voluntariado se assume como “um ponto de encontro entre procura e oferta de trabalho voluntário”. Este projeto criado pela associação ENTRAJUDA disponibiliza um “mercado” virtual de voluntariado, detalhando as várias oportunidades ativas. Um dos eixos de ação da Bolsa do Voluntariado está relacionado com os estudantes, ao apoiar instituições de ensino superior, associações académicas e comissões de praxe a organizar atividades de integração de caloiros que “envolvam valores da cidadania”. Por essa razão, o portal permite aos utilizadores comunicar estas ações, numa lógica de registo e divulgação de boas-práticas.
Santa Casa da Misericórdia de Lisboa
Promover o voluntariado nos domínios da ação social, da saúde e da cultura é apontado como uma das metas da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML). Por essa razão, esta estrutura disponibiliza oportunidades de voluntariado através da sua Unidade de Promoção do Voluntariado. O processo de participação inicia-se com o preenchimento de uma ficha de inscrição, no site da SCML, sendo que o candidato ou candidata será, posteriormente, convocado para uma entrevista. Em alternativa, é ainda possível fazer a inscrição presencialmente, na mesma Unidade de Promoção do Voluntariado (Largo Trindade Coelho, Lisboa).
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AMI
A AMI – Assistência Médica Internacional dinamiza um programa de voluntariado que tem como objetivo apoiar pessoas carenciadas. Para tal, o programa inclui ações de angariação de bens e fundos, bem como a prestação de serviços de voluntários médicos, enfermeiros, advogados, professores, psicólogos, entre outros. A AMI disponibiliza, no seu site, uma ficha de inscrição que permite ao interessado detalhar se pretende prestar um apoio regular ou pontual. É também distinguida a opção de fazer voluntariado à distância ou presencialmente, sendo ainda possível apresentar à AMI uma ideia original para realização de uma ação solidária.
Quercus
A organização não-governamental portuguesa Quercus tem vindo a trabalhar o tema da defesa do Ambiente desde 1985, realizando ações, atualmente, em áreas como a energia, a água, os resíduos ou as florestas, por exemplo. Através dos seus vários núcleos regionais, a Quercus tem vindo a procurar o apoio de voluntários. No seu site, a organização disponibiliza uma ficha de inscrição cujos os dados disponibilizados servem para escolher as atividades promovidas pela associação em que os interessados serão convidados a participar. É ainda possível manifestar interesse em oportunidades específicas ligadas aos vários projetos em curso.
Serviço Nacional de Saúde
Ao longo dos últimos meses, o Serviço Nacional de Saúde português tem estado a receber o apoio de voluntários que podem oferecer um contributo. Este é um apoio que pode, inclusivamente, ser realizado a distância. A Direção-Geral de Saúde revela que cerca de 1000 voluntários participaram neste apoio. É possível contribuir com equipamentos, serviços ou outros apoios específicos, seja de forma individual ou através de uma empresa ou instituição. A candidatura é feita no site do Ministério da Saúde dedicado ao combate à Covid-19, sendo que esta é uma oportunidade aberta a estudantes e profissionais de todas as áreas.
Bancos Locais de Voluntariado
Espalhados pelo país, os Bancos Locais de Voluntariado podem ser uma boa opção para quem quer ter impacto direto na sua comunidade envolvente. Estas estruturas resultam de um programa das Cooperativa António Sérgio para a Economia Social (CASES) e são já uma realidade na maioria dos concelhos portugueses. A CASES explica que estes são espaços de encontro entre interessados em realizar voluntariado e as organizações promotoras, trabalhando assim a um nível regional e respondendo às necessidades da comunidade local. O contacto deve ser realizado diretamente com estas estruturas, que disponibilizam os seus próprios meios de inscrição.
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