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INVESTIMENTO PASSIVO VS. INVESTIMENTO ATIVO PENSAR O INVESTIMENTO ESG DE FORMA SISTÉMICA

Os ratings ESG não são uma ciência exata, pelo que quem a eles recorre deve ter a cautela de não reduzir o perfil ESG de uma empresa a apenas um valor ou um rating. Processos sistemáticos, internos e robustos de due dilligence são importantes para assegurar a materialidade das decisões de investimento.

Todos nós somos um produto do nosso ambiente e do nosso enquadramento de referência. Nas minhas funções, recorro a muitos dados do setor do imobiliário que os nossos clientes recolhem através das nossas plataformas, o que permite oferecer planos de ação estratégicos informados. Confio fortemente na exatidão e exaustividade desses dados ESG. Quando um cliente vem ter comigo para o ajudar na sua estratégia de descarbonização da sua

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FLUXOS PARA ETF ESG EUROPEUS (% DO TOTAL DE ETP)

carteira de ativos, os dados que o nosso software lhes permite recolher têm de ser exatos, porque a descarbonização dos investimentos tem de refletir a descarbonização da economia real que prometeram aos seus investidores e partes interessadas.

O setor imobiliário como classe de ativos tem vindo a desenvolver a exatidão destes dados desde o início dos anos 90, quando as certificações de desempenho de construção chegaram ao mercado, pelo que tem havido muito tempo para melhorar a sua recolha, o processamento e o estabelecimento de metas para tornar os proprietários de ativos e os investidores confortáveis para construir estratégias de investimento sustentáveis.

Se mudarmos de engrenagem e olharmos para outras classes de ativos como ações e dívida, os dados dos ratings ESG também estão a desempenhar um papel cada vez mais importante, mas dado que as próprias classificações ESG são construídas com base em dados que existem há menos tempo do que, digamos, os dados ESG no imobiliário, podemos confiar neles para investir de forma sustentável?

Os investidores que dependem unicamente dos ratings ESG tendem a seguir uma abordagem de investimento passivo, onde investem em fundos que seguem índices de empresas que cumprem determinados critérios ESG. Oferece uma forma de os investidores ganharem exposição a investimentos sustentáveis a um custo mais baixo e com menos esforço do que fundos sustentáveis geridos ativamente. Mas serão estas classificações ESG suficientemente estandardizadas ou fiáveis para serem utilizadas como a única base para as decisões de investimento?

D Ficil De Ignorar

O crescimento dos fundos passivos ESG é difícil de ignorar. No ano passado, os ETF alinhados com resultados ESG representaram 65% de todas as entradas líquidas em ETF europeus de acordo com a Morningstar. Mas só porque o rebanho se move dessa forma, não significa que seja a melhor escolha para investir de forma sustentável. O

Reduzir O Perfil Esg De Uma Empresa A Apenas Um Valor Ou Um Rating Excessivamente Limitativo

principal desafio que está a surgir é que os fornecedores terceiros de ratings ESG nem sempre estão em concordância sobre o que é e não é material, o que cria disparidades nos dados.

A Autoridade de Conduta Financeira (FCA) revelou recentemente, na sequência de uma revisão dos parâmetros de referência ESG, que a qualidade global das divulgações relacionadas com ESG era fraca, sublinhando questões:

• Não há detalhes suficientes sobre os fatores ESG considerados nas metodologias de referência.

• Não asseguram que as metodologias subjacentes aos dados ESG e os ratings utilizados nos benchmarks sejam acessíveis, claramente apresentados e explicados aos utilizadores.

• Não implementam plenamente os requisitos de divulgação ESG.

• Administradores de benchmarks não implementam corretamente as suas metodologias de referência ESG - por exemplo, utilizando dados e classificações desatualizados ou não aplicando os critérios de exclusão ESG.

Acrescentaria ainda que para investir de forma sustentável é necessário um processo de investimento que tenha em conta a complexidade de investir com um resultado sustentável, uma vez que a sustentabilidade é, por natureza, complexa.

É aqui que volto ao investimento imobiliário para obter orientação, porque ao longo do tempo teve de reconhe- cer os muitos intervenientes que fazem parte da sua cadeia de valor, compreendendo que para investir de forma sustentável, os gestores de fundos precisam de compreender a complexidade e adotar uma abordagem de pensamento sistémico. Fazê-lo permite-lhes compreender melhor os impactos materiais no desempenho de um edifício, tanto ambiental como socialmente. Melhorar a eficiência energética de um edifício é uma das formas de mitigar as alterações climáticas porque reduz o consumo de energia do edifício e, assim, reduz as emissões de carbono emitidas por esse edifício, o que é classificado como uma atividade de transição sustentável pela Taxonomia da UE.

Due Dilligence

Os ratings ESG não são uma ciência exata e continuam a ser uma indústria nascente. Os fundos de investimento sustentáveis só devem utilizar os ratings ESG para fins de triagem. Reduzir o perfil ESG de uma empresa a apenas um valor ou um rating é excessivamente limitativo. Os fundos de investimento sustentável ou ESG devem então aplicar rigorosamente um processo de due diligence ESG construído internamente, que analise:

• Medir o que é material

• Políticas ESG com substância, ou seja, apoiadas por dados

• Resiliência climática

• Utilizar a verificação dos seus objetivos de sustentabilidade por parte de terceiros.

O PORTEFÓLIO 60/40 É ADEQUADO À SUA FINALIDADE?

Muitos investidores mantêm-se fiéis a uma distribuição tradicional de 60% de ações e 40% de obrigações. Contudo, parece-nos que esta forma de construção expõe-nos a riscos significativos. O objetivo principal do portefólio 60/40 é a procura de diversificação: espera-se que, se as ações caírem, as obrigações, possam não seguir o mesmo caminho e contrabalançar fruto da descorrelação que possa existir. Tentar diversificar é sensato, mas consideramos que uma alocação em apenas duas categorias de ativos (ações longonly e obrigações long-only) não é diversificação suficiente. Entre 1928 e 2022, um portefólio 60% alocado ao índice S&P 500 e 40% às obrigações do Tesouro dos EUA a 10 anos teve uma performance global negativa em 21 anos. Um valor está entre um 1/4 e um 1/5 do número de anos. Se uma cadeira cai a cada quatro ou cinco vezes em que alguém se sentasse nela, podíamos concluir que estava mal construída. O mesmo com uma carteira 60/40 que falhe. Deve-se ponderar uma gama mais ampla de de ativos. Os fundos de ações Market Neutral são uma categoria de ativos distinta das ações longonly. Não pretendemos ser influenciados pelos movimentos das ações, mas extrair alfa através de um modelo que inclui cinco critérios de seleção de ações, que integram fatores de investimento intuitivos, como o valor, a qualidade, o crescimento e o momentum.

Após o mau desempenho registado pelas obrigações em 2022, esta classe de ativos recuperou parte do que historicamente foi a sua essência: uma fonte de geração de rendimentos que, além disso, contribui para diversificar uma carteira. São estes atributos que levam Jonathan Duensing a pensar que as obrigações irão recuperar a sua relevância, sem que isso signifique que o mercado é um espaço livre onde vale tudo. É preciso ser muito ativo e seletivo porque, apesar da forte correção, alguns segmentos continuam caros.

RESPONSÁVEL DE OBRIGAÇÕES AMERICANAS, AMUNDI

Analisar minuciosamente todos os recantos do mercado de obrigações e ir identificando, uma a uma, as oportunidades que oferece para as capturar e gerar, a longo prazo, um retorno ajustado ao risco atrativo. Esta é a filosofia que Jonathan Duensing, responsável de Obrigações Americanas na Amundi, incutiu na sua equipa e que é aplicada no Amundi Funds Pioneer US Bond, uma das principais estratégias da entidade para investir no mercado de obrigações dos EUA.

Jonathan Duensing atravessou o oceano para transmitir em primeira mão aos seus clientes uma mensagem que acredita que deve ser enfatizada: “As obrigações recuperaram o seu papel como fonte de rendimentos e rentabilidade nas carteiras dos investidores. Há uns anos tínhamos mais de 14 biliões de dólares em obrigações mundiais com retornos negativos e agora já não é assim. Os mercados de obrigações oferecem alguns dos retornos mais elevados dos últimos 10 anos. A dívida americana com investment grade proporciona um rendimento geral entre 4,5% e 5,5%. As obrigações estão de volta”.

Para ele, esta é uma ótima notícia porque faz com que as obrigações possam ser novamente consideradas uma fonte de geração de rendimentos. “O nosso objetivo no Amundi Funds Pioneer US Bond não é maximizar a rentabilidade. Não se trata de investir nas emissões que oferecem uma yield maior, mas em aplicar um processo de investimento que combine uma análise top-down e bottom-up para obter exposição às obrigações que nos compensem apropriadamente pelo risco que assumimos”, destaca.

A segunda boa notícia é que agora as obrigações não geram só income. Também oferecem valorizações atrativas, algo que, segundo Jonathan Duensing, vai contribuir notavelmente para a rentabilidade do mercado. “A Fed está cada vez mais próxima de atingir o pico da sua política de taxas de juro. No segundo semestre do ano, a Fed irá en-

PLATAFORMA AMUNDI US: UMA GESTÃO ATIVA BASEADA EM CONVICÇÕES

Com quase um século desde a fundação do Pioneer Fund em 1928 pelo lendário Philipp Carret, a plataforma norteamericana da Amundi, aquela a que Jonathan Duensing pertence, gere uma diversa gama de estratégias em obrigações, ações, multiativos e alternativos. A filosofia de investimento em obrigações está orientada para o value, diversificada numa ampla gama de classes de ativos para aumentar as potenciais oportunidades e com um foco de gestão do risco top down.

frentar um abrandamento da atividade económica norte-americana que pode chegar a recessão. O organismo terá de reverter a sua estratégia e reduzir taxas, o que, no geral, se irá traduzir em yields menores nos EUA. Isto é algo que já vimos acontecer outras vezes no passado”.

O responsável de Obrigações da Amundi US acrescenta, além disso, um terceiro argumento que deve levar muitos investidores a reconsiderar a realocação de ativos ao mercado de obrigações: o papel diversificador que recuperou numa carteira. “No ano passado, a correlação entre as obrigações e as ações foi fortemente positiva. No entanto, historicamente, isto nem sempre foi assim. A correlação negativa dos retornos tende a ser mais frequente, especialmente nos segmentos de maior qualidade de crédito. Os investidores devem ver a relevância disto na hora de alocar as suas carteiras”, indica.

A Estrat Gia

O fundo tem um track record que remonta há mais de 15 anos. Desde o seu lançamento em 2006 que o seu objetivo tem sido o mesmo: superar o seu índice de referência através de um foco de total return com viés value. Essa orientação value é exemplificada pelas suas posições num setor financeiro recapitalizado e que hoje se encontra numa posição muito mais sólida do que no ano passado. “Os spreads oferecem uma oportunidade por valorização muito interessante”.

Embora estejam bastante positivos em crédito, em alguns segmentos considera que é necessário precaução. É o caso do high yield, que, na sua opinião, não corrigiu tudo o que devia. “Temos introduzido algumas coberturas na carteira para reduzir o risco na dívida de high yield. Historicamente, numa recessão, o rácio anual de default tende a estar entre os 10% e os 12%. Acreditamos que nesta ocasião estará abaixo desse nível e que poderá aproximar-se dos 8% em 2024. Do ponto de vista fundamental, é certo que a qualidade de crédito dos emitentes é melhor do que no pas-

O RENDIMENTO FIXO ESTÁ DE VOLTA: AS OBRIGAÇÕES VOLTAM A

A OFERECER RENDIMENTO, VALOR E DIVERSIFICAÇÃO

sado e as necessidades de refinanciamento são atualmente baixas. No entanto, o high yield deve continuar muito mais sensível ao abrandamento da economia e ao endurecimento das condições de liquidez. Além disso, está caro ponto de vista relativo”, explica.

Segundo Jonathan Duensing, a flexibilidade é essencial. Permite que a equipa de gestão da carteira se mova livremente pelo mercado, capturando uma ampla gama de oportunidades, particularmente em segmentos como o crédito titularizado, MBS de agências ou mesmo obrigações municipais. “São ativos que nos devem ajudar a gerar retornos a longo prazo superiores ao do benchmark do mercado”, afirma. O facto da plataforma nos EUA ser relativamente controlável (gerem um total de 45.000 milhões de euros) permite-lhes dispor dessa flexibilidade que considera tão necessária para se moverem com sucesso no mercado de obrigações atual. Também é fundamental tomar decisões de investimento honestas. “Embora tenhamos um viés value a longo prazo, reconhecemos que, à medida que as valorizações, a macro e as oportunidades mudam, o mesmo também deveria acontecer com o nosso posicionamento. Temos tudo isto em mente e não nos agarramos a ideias fixas. Se algo não nos convence, avançamos para oportunidades que nos compensem melhor pelo risco”, explica.

Na análise dos fundamentais, os fluxos de caixa são um fator que têm muito em conta, embora também existam outros a quem atribuem uma especial relevância, como a qualidade da equipa de administração. Neste sentido, reconhece que o facto de pertencer a uma casa que gere dois biliões de dólares em ativos é uma vantagem. “Dá-nos a oportunidade de manter conversas diretas com eles, além de ter um grande acesso aos mercados de capitais”.

Ecl Tico

David Afonso tem vários interesses no mundo do futebol, desde a arbitragem à fantasy league da principal liga inglesa de futebol. O gestor também se interessa por aviação, política e ainda gosta de ir ao ginásio.

David Afonso

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