[Literatura II]
Leitura Complementar:
Grande sertão: veredas As travessias de Riobaldo Riobaldo realiza três travessias básicas em Grande sertão: veredas: A primeira é a travessia exterior, como jagunço em um sertão real, onde ele conhece a natureza, os bichos e os limites extremos da condição humana cristalizada na selvageria e nos gestos épicos dos companheiros de jagunçagem. A segunda é a travessia interior, que, nascida do fato de que “o sertão está em toda a parte, o sertão está dentro da gente”, leva Riobaldo ao auto-conhecimento. A profunda percepção de si mesmo e a própria formação de sua subjetividade surgem do contato com dois outros indivíduos que sintetizam as noções difusas de bem e mal. Um abre para Riobaldo as comportas íntimas do medo, do ódio e da ambição: Hermógenes. O outro, mulher camuflada de homem, desencadeia a explosão do amor: Diadorim. A terceira travessia é a passagem de um tipo de consciência mítica-sacral (Riobaldo-jagunço) para outra de estrutura lógico-racional (Riobaldo-fazendeiro). O primeiro tipo de consciência – comum às sociedades indígenas e mestiças dos sertões brasileiros e latino-americanos – explica o mundo pelo mito e pelo sagrado. Por isso, certos fenômenos são atribuídos a poderes superiores à realidade objetiva: diabos, lobisomens, mortos, etc. O segundo tipo – próprio da civilização racionalista moderna – vê o mundo de um ponto de vista científico (José H. Dacanal). À medida que a racionalidade das sociedades modernas avança, o pensamento mítico-sacral, ou mágico, tende a se dissolver. Assim, em Grande sertão: veredas, o Diabo é um protagonista fundamental, no plano do passado, dentro do universo sacral onde se movem os jagunços. Já no plano do presente, quando conta sua vida ao doutor, Riobaldo tende a recusar a visão da juventude, negando a existência do Diabo. (Curso de Literatura Brasileira de Sérgius Gonzaga) RASCUNHO
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