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15. Relatos sobre a terra de Kush (550-430 a.C

15.

Relatos sobre a terra de Kush (550-430 a.C.)

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Abaixo, um relato das antigas terras da Núbia e Etiópia, retirado de fontes clássicas. Há outros relatos sobre aqueles antigos reinos. A respeito deles escreveram Plínio, o Velho, Cláudio Ptolomeu e Périplo, bem como Heródoto, em A História, Livro III, os atos dos apóstolos, que também reproduzimos aqui; a “História de Roma”, de Dion Cássio, escrita em 325 da Era Cristã, e uma inscrição de Ezana, rei de Axum, da mesma época (que também reproduzimos mais adiante). Supõe-se que esta seleção de Aspalta como rei de Kush data de cerca de 600 a.C.

Sob o ponto de vista de Aspalta, rei de Kush:

Agora que o exército inteiro de Sua Majestade estava na cidade chamada Napata na qual Dedwen, que preside sobre Wawat, é deus — Ele é também o deus de Kush — depois da morte do Falcão (Inle-Amon) em seu trono. Agora então, os comandantes entre os encarregados do exército de Sua Majestade eram seis homens, enquanto os comandantes encarregados e inspetores de fortalezas eram seis homens... Então eles disseram ao exército inteiro, “Vinde, deixai-nos fazer nosso senhor aparecer, porque somos como um rebanho que não tem nenhum pastor!”. Logo após, esse exército estava muito preocupado, dizendo: “Nosso senhor está aqui conosco, mas não o conhecemos! Seja que o possamos conhecer, que possamos entrar sob seu poder e possamos trabalhar para ele, como It-Tjwy trabalha para Hórus, filho de Ísis, depois

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que assentou no trono de seu pai Osíris! Deixai-nos dar elogio a suas duas coroas”. Então, no exército de Sua Majestade todos disseram em uma só voz: “Ainda há este deus Amon-Rá, deus dos tronos de It-Tjwy, residente em Napata. Ele também é um deus de Kush. Vinde, deixai-nos ir a ele. Não podemos fazer nada sem ele, senão na boa fortuna do deus. Ele é o deus dos reis de Kush desde o tempo de Rá. É ele quem vai nos guiar. Em suas mãos está a realeza de Kush, a qual ele deu ao filho a quem ama” [...] Assim, os chefes de Sua Majestade e os funcionários do palácio foram ao templo de Amon. Encontraram os profetas e os sacerdotes principais esperando fora do templo. Disseram-lhes: “Rezem, possa este deus, Amon-Rá, o residente em Napata, vir e permitir que nos dê nosso senhor, nos anime a construir o templo de todos os deuses e deusas de Kemet e apresentar-lhes suas divinas oferendas! Não podemos fazer nada sem esse deus. É ele quem nos guia”. Então, os profetas e os sacerdotes principais entraram no templo, onde começaram a executar seus ritos de purificação e incensação. Então, os chefes de Sua Majestade e os funcionários do palácio entraram no templo e se puseram de bruços ante esse deus. Disseram: “Viemos a vós, Oh Amon-Rá, deus dos tronos de It-Tjwy, residente em Napata, podeis dar-nos um senhor, animar-nos a construir os templos dos deuses de Kemet e Rekhyt e apresentar oferendas divinas. Esse ofício beneficente está em vossas mãos — podeis dá-lo a teu filho a quem amas!”. Então, ofereceram os irmãos do rei diante desse deus, mas ele não levou nenhum deles. Por uma segunda vez foi oferecido o irmão do rei, filho de Amon e criança de Mut, senhora do céu, o filho de Rá, Aspalta, para sempre vivente. Então esse deus, Amon-Rá, deus dos tronos de It-Tjwy, disse: “Ele é vosso rei. Será quem vos animará. Ele é quem construirá todos os templos de Kemet e Rekhyt. Ele é quem apresentará vossas divinas oferendas. Seu pai era meu filho, o filho de Rá, Inle-Amon, o triunfante. Sua mãe é a irmã do rei, mãe de rei, Candace de Kush, e filha de Rá, Nensela, para sempre vivente. Ele é seu senhor”.

Sob o ponto de vista da Bíblia (Atos dos Apóstolos 8:26-39) (90 d.C.):

26 E o anjo do Senhor falou a Filipe, dizendo: Levanta-te e vai para a banda do Sul, ao caminho que desce de Jerusalém para Gaza, que está deserto. 27 E levantou-se e foi. E eis que um homem etíope, eunuco, mordomo-mor de Candace, rainha dos etíopes, o qual era superintendente de todos os seus tesouros e tinha ido a Jerusalém para adoração, 28 regressava e, assentado no seu carro, lia o profeta Isaías. 29 E disse o Espírito a Filipe: Chega-te e ajunta-te a esse carro. 30 E, correndo Filipe, ouviu que lia o profeta Isaías e disse: Entendes tu o que lês? 31 E ele disse: Como poderei entender, se alguém me não ensinar? E rogou a Filipe que subisse e com ele se assentasse. 32 E o lugar da Escritura que lia era este: Foi levado como a ovelha para o matadouro; e, como está mudo o cordeiro diante do que o tosquia, assim não abriu a sua boca. 33 Na sua humilhação, foi tirado (ou tirada a sua sentença) o seu julgamento; e quem contará a sua geração? Porque a sua vida é tirada da terra.

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34 E, respondendo o eunuco a Filipe, disse: Rogo-te, de quem diz isto o profeta? De si mesmo ou de algum outro? 35 Então, Filipe, abrindo a boca e começando nesta Escritura, lhe anunciou a Jesus. 36 E, indo eles caminhando, chegaram ao pé de alguma água, e disse o eunuco: Eis aqui água; que impede que eu seja batizado? 37 E disse Filipe: É lícito, se crês de todo o coração. E, respondendo ele, disse: Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus. 38 E mandou parar o carro, e desceram ambos à água, tanto Filipe como o eunuco, e o batizou. 39 E, quando saíram da água, o Espírito do Senhor arrebatou a Filipe, e não o viu mais o eunuco; e, jubiloso, continuou o seu caminho.

Inscrição de Ezana, Rei de Axum (325)

Pelo poder do senhor de tudo tomei o campo contra os nobas (núbios) quando o povo de Noba se revoltou, quando eles se jactaram: “Eles não atravessarão o Takkaze”, disseram os nobas quando fizeram violência aos povos mangurto e hasa e barya, e os nobas negros empreenderam guerra aos nobas vermelhos e uma segunda e uma terceira vez quebraram o juramento deles e sem consideração mataram seus vizinhos e saquearam nossos enviados e mensageiros que eu havia enviado para os interrogar, roubando-lhes suas posses e confiscando suas lanças.

Quando os enviei novamente e não me ouviram, e me insultaram, e se foram, tomei o campo contra eles. E me armei com o poder do senhor da terra e lutei no Takkaze, no vau de Kemalke. E logo após eles fugiram e não ficaram parados, e eu procurei os fugitivos vinte e três dias, matando-os e capturando outros e tomando sua pilhagem, aonde cheguei; enquanto os prisioneiros e a pilhagem foram tomados de volta por meu próprio povo que marchava em frente; enquanto queimei suas cidades, as de alvenaria e as de palha, e tomei seu milho e seu bronze e a carne seca e as imagens de seus templos e destruí os estoques de milho e algodão; e o inimigo mergulhou no rio Seda, e muitos pereceram na água, o número não sei, e quando seus navios afundaram com uma multidão de pessoas, os homens e mulheres se afogaram...

E cheguei ao Kasu (Kush), matando-os e levando outros prisioneiros na junção dos rios Seda e Takkaze. E no dia seguinte à minha chegada despachei para o campo as tropas de Mahaza e Damawa e Falha e Sera pelo Seda acima, contra as cidades de alvenaria e de palha; suas cidades de alvenaria são chamadas Alwa, Daro. E eles mataram e levaram os prisioneiros, lançaram-nos n’água e voltaram sãos e salvos, depois que terrificaram seus inimigos e os conquistaram pelo poder do senhor da terra. E enviei a tropa Halen e a tropa Laken e a tropa Sabarat e Falha e Sera pelo Seda abaixo, contra as cidades de palha dos nobas e negues; as cidades de alvenaria de Kasu (Kush) que os nobas haviam tomado eram Tabito, Fertoti; e eles chegaram ao território dos nobas vermelhos, e meu povo retornou são e salvo depois que tomou prisioneiros e matou outros e tomou seu saque pelo poder do senhor do céu. E ergui um trono na junção dos rios Seda e Takkaze, oposto à cidade de alvenaria que fica nesta península.

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