ESCRITORES DO BRASIL - Edição 14 - Maio 2023

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LITERATURA

BRASILEIRA

Florianópolis, SC – Maio/2023 – Número 14 – Edições A ILHA – Ano V

RADIOGRAFIA

DA LITERATURA

BRASILEIRA

ENTREVISTA COM

NÉLIDA PIÑON

LITERATURA

BRASILEIRA EM PARIS

EDIÇÃO PORTUGUESA

DO SUPL. LIT. A ILHA

JACQUELINE AISENMAN: AMOR À LITERATURA BRASILEIRA

NOVA BIOGRAFIA DE LIMA

BARRETO

PARA O MUNDO
• 2 • DESTINOS ............................................ 4 LITERATURA BRASILEIRA PARA O MUNDO ................................. 5 DESCONTENTAMENTO..................... 8 NOVA BIOGRAFIA DE LIMA BARRETO ............................................. 9 TRAJETÓRIA...................................... 11 RADIOGRAFIA DA LITERATURA BRASILEIRA ...................................... 12 PARA A MENINA DAQUELA ESQUINA ............................................ 20 ANIVERSÁRIO E INAUGURAÇÃO DO CENTRO CULTURAL LAUDELINO WEISS 21 SINFONIAS DO OCASO ................... 23 GUINHO .............................................. 24 HIPOCRIVARDIA............................... 26 DIAS DAS MÃES ............................... 27 SANTO DE MÃE ................................ 28 EROTISMO EM MÁRIO DE ANDRADE .................................... 29 OU ISTO OU AQUILO ....................... 31 LITERATURA BRASILEIRA É CELEBRADA EM PARIS ................... 32 TODAS AS VIDAS ............................. 35 A LITERATURA MARGINAL BRASILEIRA ...................................... 36 AGORA, Ó JOSÉ ................................ 40 EDIÇÃO ESPECIAL DO SUPLEMENTO LITERÁRIO A ILHA........................... 41 PRESENÇA ......................................... 43 NÉLIDA PIÑON EM PORTUGAL..... 44 E SE NÃO HOUVER AMANHÃ? 49 NERUDA E O BRASIL....................... 50 PARTIDA ............................................. 52 DEPOIMENTO SOBRE O LANÇAMENTO DO LIVRO “ESCRITORES DO BRASIL” ............ 53 EMOÇÕES! 54 AMORES ............................................. 55 MÃE ..................................................... 57 NAIR DE TEFFÉ - PARTE II .............. 58 LANTERNAS DO TEMPO................. 60 NA HORA DA LENTA .... ................... 61 GOSTO DE TE VER ASSIM 63 NO POUSO INDAIÁ .......................... 64 VENTO SUL........................................ 66 OS FILHOS CRESCEM ...................... 68 CANSAÇO .......................................... 70 PAIXÃO ENLUARADA ..................... 71 ELSE SANT'ANNA BRUM LANÇA NOVO LIVRO INFANTIL ................. 72 LANÇAMENTO NA FEIRA DO LIVRO DE JOINVILLE ............... 76 SUMÁRIO

EXPEDIENTE

Literatura brasileira para o mundo

Edição número 14 –Maio/2023 - Ano V Publicação das Edições A ILHA

Grupo Literário A ILHA Florianópolis, SC Editor: Luiz Carlos Amorim

Contato: lcaescritor@gmail.com revisaolca@gmail.com

Grupo Literário A ILHA na Internet: http://www.prosapoesiaecia.xpg.com.br

Todos os textos são de inteira responsabilidade dos autores que os assinam.

Contate com a redação pelos endereços: lcaescritor@gmail.com revisaolca@gmail.com

Veja a página do GRUPO LITERÁRIO A ILHA – ESCRITORES DO BRASIL no Facebook, com textos literários, informações literárias e culturais e poemas e a edição on line, em e-book, desta revista.

EDITORIAL

ESCRITORES DO BRASIL PARA O MUNDO

Esta edição da revista ESCRITORES DO BRASIL, do Grupo Literário A ILHA, abre com a matéria de capa que focaliza uma escritora talentosa e criativa, mas não só isso: ela dedicou toda a sua energia e garra para criar espaços de divulgação para a literatura dos brasileiros em todo o mundo. Então já começamos muito bem o novo número da revista de maior sucesso editorial no gênero, há já alguns anos, prestando nosso tributo a uma grande batalhadora da cultura brasileira dentro e fora do Brasil: Jacqueline Aisenman.

Temos também entrevista espetacular com Nélida Piñon, que nos deixou recentemente, reportagens culturais e literárias, muita poesia e muita prosa e ainda muita informação sobre literatura e cultura. Um elenco de excelentes escritores, novos e consagrados, comparecem às nossas páginas com suas lavras sobre diversos temas e sob pontos de vista e estilos diversos.

Falamos, inclusive, da edição especial da revista SUPLEMENTO LITERÁRIO A ILHA, a outra revista do Grupo Literário A ILHA, com escritores portugueses e de outros países da lusofonia. Grandes autores e também alguns novos estão presentes na edição de junho da nossa revista que completa 43 anos de trajetória no mês de junho de 2023.

Então entregamos mais uma edição da nossa nova revista e esperamos que o conteúdo, preparado com carinho, agrade aos nossos leitores.

Pedimos opiniões sobre a publicação, que podem ser enviadas ao e-mail revisaolca@gmail.com para que possamos publicar aqui.

Boa leitura.

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O Editor

POESIA

LUIZ CARLOS AMORIM DESTINOS

O tempo nos chama para escrever a história de nossos destinos. A vida é poeira que o vento carrega e o céu nos intima a tornar-nos estrelas - ou anjos? –para desvelarmos o futuro. Nossa humanidade, entanto, tropeça em nossos erros. Astros, estrelas, anjos? Nossas asas nos pesam, somos apenas mortais neste planeta antigo, que não sabemos guardar. Quando chegar o amanhã, o destino se adiará, o futuro estará lá, o infinito nos guiará?

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MATÉRIA DA CAPA JACQUELINE AISENMAN

LITERATURA BRASILEIRA PARA O MUNDO

Ela teve que reduzir o ritmo, cuidar mais de si, recomeçar devagarinho. E foi morar em Portugal, à beira mar. Ela fez muito, no decorrer da trajetória de imenso sucesso do Varal do Brasil.

Bulos é um caso especial de amor pela Literatura Brasileira. Ela fez muito para levar a literatura dos catarinenses para fora do Brasil e conseguiu, através de vários projetos vitoriosos. Infelizmente chega uma hora que é preciso dar um tempo. O Varal do Brasil, capitaneado por ela, em Genebra, na Suiça, onde morou por décadas, encerrou suas atividades, em 2016. Não porque sua idealizadora e realizadora não quisesse mais praticá-lo, mas por uma imposição de saúde, infelizmente.

O trabalho do Varal do Brasil, de divulgar a literatura de língua portuguesa, foi de uma importância ímpar, para todos que a produzem, sejam de que país forem. Eu, que faço um trabalho parecido, há 42 anos, com o Grupo Literário A ILHA, sei bem da grandeza da sua empreitada. A revista Varal do Brasil, as antologias, os sítios na internet, as participações no Salão Internacional do Livro de Genebra integraram autores dos países lusófonos e levaram a sua produção para leitores do mundo todo.

A literatura brasileira fica menos forte sem a dedicação integral da nossa escritora Jacqueline Aisenman, desse grande canal que ela criou que foi o Varal do

Brasil. Estamos torcendo para que logo ela possa retomar o brilhante trabalho que tão bem sabe realizar. Outros trabalhos parecidos, como o Grupo Literário A ILHA, que que já publicou várias antologias, publica a sua revista há 42 anos e a distribui para todo o mundo em suas versões e-book e pdf, com autores de vários países; que publica, também, trabalhos de escritores de todas as partes do mundo no portal PROSA, POESIA & CIA., além da revista; que praticou e pratica projetos como o Varal da Poesia, Poesia Carimbada, Poesia na

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Escola, O Som da Poesia, Poesia no Shopping, etc., continuam, mas não preencherão jamais a lacuna que o Varal tem deixado. Mas além de ter dado visibilidade a centenas de escritores, o Varal do Brasil deixa um exemplo que não pode deixar de ser seguido: criou espaços para a literatura sem preconceitos, sem restrições, sem frescuras. Mostrou que é possível continuar o que começamos lá nos anos oitenta, em Santa Catarina, que é abrir espaços para os novos escritores – e para os não tão novos, também -, incentivar a leitura e a escrita, para que se produza mais e melhor, sem depender da “cultura oficial”. Que se arregaçarmos as mangas e encararmos o trabalho, o resultado aparece.

Continuaremos a sua luta, Jacque, e contamos com você em nossas fileiras. Sempre. Precisamos dessa sua força e determinação em criar espaços para a literatura brasileira. Temos muito o que aprender com você. Os escritores que tem como língua oficial a Língua Portuguesa jamais esquecerão o que foi o Varal do Brasil e esperam o seu retorno.

PALAVRAS DE JACQUELINE

A seguir, depoimento –feito antes de descontinuar o trabalho - da fundadora e realizadora do VARAL DO BRASIL, Jacqueline Aisenman, que durante oito anos efetivou inúmeros projetos a partir de Genebra, na Suiça, divulgando a literatura dos brasileiros:

“O VARAL DO BRASIL é um projeto que se iniciou em 2009, a partir de meu grande desejo de divulgar a nossa literatura em Língua Portuguesa. Acostumada a ver cadernos literários sempre voltados para o lado intelectual dos leitores e escritores e vendo o pouco espaço dado (com importância) aos amadores, pensei em fazer algo onde tudo fosse feito sem frescuras, ou seja, onde fosse possível apresentar amadores e profissionais juntos, lado a

lado, escrevendo sobre as mesmas coisas, na mesma língua e com o mesmo propósito. Ao contrário do que muita gente pensa, o VARAL DO BRASIL não é uma associação ou uma organização. Eu trabalho sozinha e não há lucros financeiros nesta minha atividade. Mas há um lucro muito maior: a satisfação de

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ver um sonho realizado! A revista foi criada em forma digital (PDF), registrada na Biblioteca Nacional Suíça, com a missão de levar a Língua Portuguesa a todas as partes do mundo, divulgando a cultura e ajudando a preservar a linguagem entre as pessoas que tem o Português como língua pátria, mas que vivem em outros países e também fazer intercâmbio entre escritores de todo o mundo. É feita despretensiosamente, sem grafismo profissional. Com o tempo vieram o site, o blog e a divulgação também passou a ser por intermédio de redes sociais, Scribd e etc.. O sucesso da revista entre os escritores e leitores, nos levou a realizar um primeiro livro em 2011, o Varal Antológico, que foi lançado com muito sucesso em Florianópolis, Santa Catarina e teve a

presença para autógrafos de mais de vinte dos coautores. Prosseguindo com o ideal, em 2012 abrimos a Livraria Varal do Brasil e participamos do 26º Salão Internacional do livro e da Imprensa de Genebra, onde levamos mais de cem títulos para exposição e venda e quatorze autores para sessões de autógrafo e bate-papo com os leitores. Apresentamos também, no palco, uma homenagem ao escritor Jorge Amado através de declamação de cordel e música. No mesmo ano lançamos nossa segunda coletânea, o Varal Antológico 2, que foi lançada em cidades diferentes a convite de promotores culturais daquelas cidades. Lançamos em Salvador (BA), Brumadinho (MG) e Belo Horizonte (MG). A revista hoje circula nos cinco continentes, o blog e o site têm leitores também provenientes dos cinco continentes, mostrando que a literatura brasileira, mesmo sem ser traduzida, alcança e atravessa as fronteiras. Bem mais de quinhentos autores já passaram pelo VARAL DO BRASIL. A grande maioria deles, várias vezes.”

Não são projetos sensacionais?, todos levados a efeito nossa querida escri-

tora catarinense. Os autores participavam da revista, dos livros, do blog e do site. Foram distribuídas mais de quarenta edições até a sua descontinuidade, em 2016, para que Jacque cuidasse da saúde. A revista era editada bimestralmente. Foram editados, também números especiais temáticos que saíram entre uma e outra edição regular. O desejo da idealizadora e executora do projeto, Jacqueline Aisenman, sempre foi dar o maior número de oportunidades possível às pessoas que buscam um espaço para escrever e proporcionar uma boa leitura a todos! A revista era simples, colorida, falava da alegria com espontaneidade, da tristeza com sinceridade, dos fatos com individualidade. O Varal do Brasil foi um refresco no mundo literário.

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DEDICAÇÃO INTEGRAL À PALAVRA

Jacqueline Aisenman, nascida em Laguna, Santa Catarina e residente em Genebra, Suíça, por mais de 27 anos. Hoje ela mora em Portugal. Jornalista por vocação e experiência, exerceu a profissão desde a mais tenra idade enquanto viveu no Brasil, sendo redatora e revisora para diversos jornais em SC. Fundou e editou de 2009 a 2016 a revista Varal do Brasil, em Genebra, que divulgou os escritores brasileiros para todo o mundo.

Escrever foi sempre sua maneira de viver bem, mais do que uma profissão. Assim aprendeu a falara, demonstrar sentimentos, se defender, explicar, coisas, contar o incontável, subtrair as dores. É membro do Grupo de Escritores Lagunenses Carrossel das Letras e da Rede Brasileira de Escritores (REBRA), União Brasileira de

Escritores e Sociedade Poeta del Mundo.

No Brasil, além de jornalista, foi Diretora dos Museus Anita Garibaldi e Casa de Anita e também Diretora do Departamento de Cultura da cidade de Laguna, Santa Catarina. Na Suíça, foi durante quatorze anos funcionária da Missão permanente do Brasil junto à ONU e depois trabalhou em banco privado. Ainda na Suíça, com a revista digital Varal do Brasil realizou, ao mesmo tempo que a publicação, diversas antologias impressas, participações de sucesso no Salão Internacional do Livro de Genebra e outros eventos culturais. Jacqueline possui o blog Pyxis Literaria onde publica extratos de suas leituras escolhidas. É escritora, tem 12 livros publicados e publica seus textos no blog pessoal Coracio-

nal. É casada com o também

catarinense Paulo Aisenman e tem dois filhos: Sabrina Yarah e Lázaro Daniel. "Nasci no verão e morri e renasci em todas as estações. A teimosia me faz um ser destemido e os desvarios me dão traços sofridos. Eu não finjo viver." - Jacqueline Aisenman.

Além de diversas edições da antologia VARAL DA POESIA, Jacqueline já publicou diversos livros: Muito Mais que Solidão, Pedaços de Mim e Coisas Assim, O Silêncio Alheio, Palavras para o seu Coração, Coracional – Coisas que vem de dentro, Sentimentos Sofisticados, Entre os Morros da Minha Infância, Poesia nos Bolsos, Lata de Conserva, Briga de Foice. Também é coautora em várias antologias, a mais recente ESCRITORES DO BRASIL.

DESCONTENTAMENTO

Não quero suas palavras prontas e nem sorrisos encomendados mensagens programadas frases tontas e olhares enganados. Sejamos por uma vez, verdadeiros.

Sejamos desta vez, inteiros.

Nada de fingir pra passar momentos nada de fingir que estamos só passando o tempo.

A felicidade não chegou, e agora?

Brincar com isto ou só jogar o resto fora?

Não quero mais fazer de conta e nem quero votos obrigados coisas que remontam a sentimentos estragados.

Sejamos de uma vez

certeiros deixemos de ser carcereiros das verdades caladas fingindo gostar das mentiras contadas.

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Jacqueline Aisenman

RESENHA

CARLOS ANDRÉ MOREIRA

NOVA BIOGRAFIA DE LIMA BARRETO

Se é fato que todas as vidas sofrem as consequências de seu tempo, em algumas delas as ondas de choque da História doem mais do que em outras. Nesse sentido, a vida do escritor Lima Barreto (1881 – 1922) é um retrato contundente do entrechoque das forças que moldaram o Brasil em que ainda vivemos. Negro, combativo, ácido contra as hipocrisias da sociedade em que vivia – em que teorias racistas supostamente científicas tentavam manter o apartheid até então naturalizado

pela escravidão – Lima foi um autor que sofreu pelo seu projeto literário, todo ele muito consciente. É essa a interpretação oferecida pela historiadora e antropóloga Lilia Moritz Schwarcz em

“Lima Barreto: Triste Visionário”, biografia do autor lançada em 2017. Fruto de uma pesquisa de 10 anos, a biografia pretende trazer para o centro da vida de Lima um assunto que ele próprio tirou do pano de fundo do Brasil de seu tempo: o racismo nem sempre velado de cada dia – Penso que a gente faz uma biografia para lidar com um personagem porque ele tanto representa o seu momento quanto tem singularidades que devem ser desatacadas. E o Lima Barreto representa uma história do nosso país, um projeto e

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A autora, Lilia Moritz

uma face difícil do nosso país, que promete tanta inclusão social e cujos dados até hoje mostram a evidência da exclusão não apenas racial, mas de várias faces da população – diz Lilia.

Lima Barreto: Triste Visionário, faz um apanhado que entremeia a vida do escritor Afonso Henriques de Lima Barreto com as circunstâncias históricas de seus breves 41 anos de vida: a abolição, o fim do Império, a ascensão da República, a ditadura militarista que marcou os primeiros governos do regime republicano, e como cada um desses momentos impactou a vida de Lima. O livro também mapeia os usos que o autor faria em sua ficção de episódios da própria biografia, como a passagem pelo serviço público, a formação de seus pais, negros libertos e com formação profissional, até suas

próprias crises de alcoolismo.

INCONFORMADO E DESCONFORTÁVEL

Após perder a mãe aos seis anos de idade e largar o curso de Engenharia na prestigiada Escola Politécnica, Lima se tornou funcionário público amanuense para sustentar o pai doente (insano e alcoólatra) e os irmãos menores. A partir daí, foi cavando espaço na República das Letras brasileira (expressão que ele cunhou), sempre como um elemento pouco confortável pela acidez de sua pena satírica, sensível como um sismógrafo às máscaras da sociedade brasileira – mesmo que algumas das ambivalências fossem as do próprio "Lima", como era chamado em seu tempo.

– O Lima tinha um projeto literário considerado "desagradável". Era um autor que atacava a República sem dó nem piedade. Há trechos dele que são de uma atualidade impressionante. Na questão racial, ele pega um plano que fazia parte dos fundos, do segundo plano, dos bastidores e o

transforma numa questão central – diz Lilia.

Lima teve boa parte de sua obra reeditada por mais de uma editora. A Companhia das Letras colocou nas livrarias novas edições de Impressões de Leitura e Outros Textos Críticos, seleção de textos críticos de Lima organizada por seu primeiro biógrafo, Francisco de Assis Barbosa. A professora da UFRJ Beatriz Rezende é a organizadora da nova seleção, que inclui outros textos. Ela é também a responsável por uma nova edição da Carambaia, que reúne em um único volume de 512 páginas os romances satíricos Os Bruzundangas (1922) e Numa e a Ninfa (1915).

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Capa da biografia "Lima Barreto: Triste Visionário" - Companhia das Letras

ARACELY BRAZ

POESIA TRAJETÓRIA

É o hino que canto, Meu preferido, Longe do pranto.

É a rosa que perfuma

Mesclando o verde da grama.

É luz, é cor, é fantasia

Que me extasia,

É o mágico sorriso De esperança

Nos lábios de uma criança,

É a suavidade do poeta, É a inspiração

Em uma linda canção,

É a trajetória na busca incessante, De um louco carente,

É a saudade que a gente tem

Quando dói a lembrança de alguém, É Deus, que ao mar o abismo deu.

Mas nele é que espelha o céu.

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ENTREVISTA

LUIZ REBINSKI JUNIOR

RADIOGRAFIA DA LITERATURA BRASILEIRA

Professora da UnB que coordena pesquisas sobre autores e livros contemporâneos fala sobre as principais características da literatura produzida hoje no país .

A literatura brasileira contemporânea nunca esteve tão presente na universidade. Pelo menos no departamento de Letras da Universidade de Brasília (UnB). É lá que a professora Regina Dalcastagnè, doutora em Teoria Literária pela Unicamp e professora titular de literatura brasileira da UnB, coordena o Grupo

de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea e edita a revista Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea. Foi a partir desse núcleo que surgiu o livro Literatura brasileira contemporânea: um território contestado. Lançado em 2012, o estudo fez barulho ao revelar que a literatura brasileira é um espaço pouco plural, dominado por homens da classe média que escrevem apenas sobre os dramas vividos na metrópole por seus pares de estrato social. No momento da entre -

vista, Regina e seu grupo de estudo trabalham com os romances publicados entre 2005 e 2014. Já foram lidos e catalogados 670 livros. Contanto os dois momentos do trabalho (1990 a 2004 e 2005 a 2014), o estudo abarcará quase um quarto de século da produção literária brasileira. Um esforço pouco comum na universidade em se tratando da literatura contemporânea. Na entrevista a seguir, a professora Regina comenta a nova fase de seu trabalho e fala sobre a falta de diálogo entre escritores, acadêmicos e editores. Para ela, também falta aos nossos escritores a ambição de produzir livros que consigam definir o Brasil. “Nossos romances falam do aqui e do agora, de uma classe social, de um gênero e uma raça — são pequenos recortes pessoais ou de grupos localizados.”

Pergunta: A academia, em geral, costuma trabalhar quase que exclusivamente com autores clássicos da li-

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teratura nacional. O grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea da UnB, que a senhora coordena, é um ponto fora da curva na universidade brasileira? Ou os autores contemporâneos finalmente estão sendo estudados nos cursos de Letras?

Resposta: Sim, os autores brasileiros contemporâneos estão sendo estudados nas universidades. Há um número crescente de pesquisadores empenhados em trabalhar com o assunto, a partir de diversas abordagens e em diferentes recortes. São inúmeros grupos de pesquisa que vêm surgindo aqui e ali, com projetos interessantes e abrangentes — alguns lidam com obras ou autores específicos, outros elaboram uma discussão mais ampla, sobre o campo literário nos dias de hoje. Inclusive no exterior, é muito comum que as aulas de literatura brasileira passem por autores recentes, o que permite um diálogo maior dos jovens com a nossa cultura. Certamente ainda há algumas universidades que preferem marcar distância do assunto, permanecendo na posição confortável de só trabalhar com o cânone estabelecido, do modernismo para

trás. Mas elas não podem, absolutamente, ser tomadas como exemplo do que acontece no resto do país.

Pergunta: A senhora também coordena uma revista com ensaios sobre a literatura contemporânea. Esses estudos serão reunidos em novo livro sobre o tema?

Resposta: A revista Estudos de Literatura Brasileira Contemporânea, que já tem 42 edições e

reunir alguns artigos em livro. Foram identificados os temas mais presentes nos textos publicados na revista e, pela quantidade e qualidade dos artigos, optou-se por “violência e desigualdade” como eixo do volume. Talvez já seja hora de pensarmos em uma nova coletânea.

Pergunta: A literatura brasileira contemporânea ainda vende pouco, mas a percepção é de que nunca foi tão debatida quanto agora. Não parece um contrassenso discutir tanto uma literatura que ainda está à procura de leitores?

se encontra inteiramente disponível na internet, é outra demonstração do quanto a área vem se desenvolvendo no país. Nós recebemos entre 50 a 60 artigos de doutorandos e doutores do Brasil e do exterior para serem avaliados a cada número (são dois por ano). Quando a revista chegou a seu trigésimo número, em 2008, julgamos que era hora de

Resposta: Creio que é importante discutir essa literatura, sim, até para entender sua dificuldade em atingir um público maior. Temos problemas econômicos e de alfabetização no país, mas há também o elitismo do fazer literário, que tende a afastar possíveis leitores. Aliás, por mais que os escritores digam que procuram leitores, eles estão cientes de que vender muito pode significar uma desqualificação de sua obra. Também o foco, excessivamente voltado para a classe média branca, restringe a recepção. E, por fim, as editoras muitas vezes preferem apostar no que é certo, investindo

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muito mais na divulgação de obras que já se mostraram vendáveis no exterior e escondendo os autores brasileiros. Há dezenas ou centenas de lançamentos por ano, mesmo de editoras médias ou grandes, que mal aparecem nas livrarias. A internacionalização e concentração do mercado do livro no Brasil, que se aceleraram nos últimos anos, torna o cenário ainda mais preocupante.

Pergunta: Há dois anos a senhora lançou um livro chamado Literatura brasileira contemporânea: um território contestado, que, a partir de uma pesquisa quantitativa, constatava que a literatura contemporânea é feita majoritariamente por homens brancos e de classe média. Como a classe literária, incluindo aí críticos e editoras, reagiu ao seu trabalho?

Resposta: Meu livro é resultado de 15 anos de trabalho com a literatura brasileira contemporânea. Ali discuto questões que envolvem autoria, espaço, tempo, narrador, problematizando inúmeros dilemas que constrangem e impulsionam a produção literária atual. O último capítulo traz os resultados de uma pesquisa extensa com os romances publicados pelas principais editoras brasileiras entre 1990 e 2004. É uma espécie de mapeamento dos autores e das personagens dessas obras, que nos fornece dados significativos para se refletir sobre a produção literária e o mercado editorial brasileiro hoje. A repercussão dessa pesquisa estatística foi muito curiosa — nem tínhamos lançado os resultados finais, com a devida discussão dos dados, e já se ouvia a condenação ao trabalho feita por alguns escritores. Como se o levantamento representasse uma espécie de patrulha. A meu ver, isso mostra desconhecimento do que a pesquisa significa. Quando eu digo, por exemplo, que 80% das personagens do romance brasileiro contemporâneo são brancas, não estou impugnando livros em que

não aparecem negros ou acusando seus autores. Estou apontando um problema que não é individual, mas do campo literário brasileiro, que não abre espaço para produtores de determinadas origens, que foca num público leitor restrito e que só valoriza determinadas tradições criativas. Mas outros escritores, que leram o trabalho, foram muito receptivos, inclusive para debatê-lo. Há uma reclamação muito frequente entre os escritores de que as universidades não trabalham com suas obras, mas podemos dizer a mesma coisa — a maior parte deles não nos lê. Quanto às editoras, elas simplesmente ignoram a nossa existência. Qualquer pesquisador que já teve que solicitar dados às editoras brasileiras pode confirmar que elas não têm nenhum interesse em dialogar conosco.

Pergunta: A senhora e seu grupo de pesquisa analisaram 258 romances brasileiros publicados entre 1990 e 2004. Como se dá a escolha dessas obras e que tipo de avaliação o leitor desses livros faz?

Resposta: Bom, é preciso explicar a pesquisa inteira. Ela tem como foco a personagem do romance

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escritor Paulo Lins brasileiro contemporâneo e envolveu a seleção de um recorte de obras, a produção de uma ficha padronizada de leitura, a programação do software estatístico, o treinamento dos auxiliares de pesquisa (cerca de 40 alunos de graduação e de pós-graduação até agora). A primeira etapa, fez um mapeamento das personagens, das autoras e dos autores do romance brasileiro de 1990 a 2004. Outras etapas se seguiram: fizemos também o mapeamento das personagens e autores do romance do período 1965 a 1979; das personagens do cinema brasileiro da retomada; e ainda um aprofundamento da compreensão da representação das mulheres nesses romances. No momento, estamos trabalhando com os romances

publicados entre 2005 e 2014. Já foram lidos e catalogados 670 romances. Temos um banco de dados com informações detalhadas sobre todos eles. O objetivo não era mapear tudo o que se produz sob o rótulo de “literatura”, mas um conjunto de obras representativas, dotadas de reconhecimento social, com certa penetração. Entendi que as editoras são as principais fiadoras deste reconhecimento. Assim, contatei um grupo de 30 escritores, críticos e professores, indagando quais seriam as três principais editoras para a publicação de literatura brasileira em prosa, aquelas que conferiam mais prestígio a seus autores. Desta enquete, para o período de 1990 a 2004 surgiram, com grande clareza, os nomes

da Companhia das Letras, Record e Rocco. Para o período de 2005 a 2014, foram selecionadas Companhia das Letras, Record e Objetiva/Alfaguara. Para o período intermediário, de 1965 a 1979, a enquete não trouxe resultados significativos (os informantes alegavam não se lembrar das editoras mais importantes), então fizemos um levantamento na Biblioteca Nacional e chegamos à conclusão de que as duas principais editoras então (pelo volume de obras publicadas e pela importância no cenário nacional) eram a Civilização Brasileira e a José Olympio. Procuramos ler, portanto, todos os romances publicados em primeira edição por estas editoras nestes períodos. É importante destacar que a pesquisa não diz que os romances estudados são “melhores” ou “mais importantes”. Diz apenas que foram os romances publicados pelas editoras que conferem maior prestígio aos seus livros. Não trabalhamos com a recepção do leitor, que envolveria outro tipo de metodologia e outros problemas de pesquisa.

Pergunta: Seu estudo também revela que nossa produção literária é bas -

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tante monotemática, com a metrópole servindo de pano de fundo para discutir questões da classe média, de onde surge a grande maioria dos escritores brasileiros. Esse cenário se deve a quê? É uma questão de mercado, um recorte feito pelas editoras, ou apenas um reflexo da própria sociedade brasileira?

Resposta: Creio que isso reflete um conjunto de fatores. Em primeiro lugar, esse é, realmente, o meio de onde vem o escritor brasileiro. Pelos nossos levantamentos, em sua maioria, eles são homens brancos da classe média, têm profissões já vinculadas aos espaços de domínio de discurso, como o jornalismo ou a universidade, e residem em São Paulo e Rio de Janeiro. Nossos dados principais são sobre os romancistas publicados pelas grandes editoras, mas outros levantamentos paralelos apontam resultados semelhantes quando observados outros gêneros e mesmo outras editoras. Se é esse o perfil do escritor, e se esse perfil é tão frequentemente replicado em suas personagens, podemos inferir que é mais confortável para o autor brasileiro escrever sobre o que vive e o que conhece.

Por outro lado, seu público em potencial não difere muito desse mesmo perfil, o que também deve influenciar nas escolhas das editoras. Isso, sem dúvida, é reflexo da situação de segregação social própria do Brasil. O que não quer dizer que muita gente com outro perfil social não esteja escrevendo. Há um movimento dinâmico nas periferias, que se expressa

uma disputa política pelo reconhecimento de que determinadas expressões são “literatura”. Os setores mais conservadores da crítica acadêmica e jornalística, bem como muitos dos escritores da elite, são os principais defensores do status quo, alimentando a ideia de que o “literário” é um atributo sobrenatural e trans-histórico, em vez de ser uma prática social, que tem a ver com a produção de hierarquias que beneficiam alguns e excluem outros.

Pergunta: Por outro lado, é recorrente a ideia de que uma das marcas da literatura contemporânea é a diversidade de escritores e estilos. Consegue visualizar essa diversidade?

usando o papel, mas também outros suportes, como a música e a internet. No entanto, os filtros que impedem que essa produção seja reconhecida como “literatura” ainda são muito fortes. O rótulo “literário” é usado como elemento de exclusão: a produção dos escritores de fora da elite aparece como testemunho, documento sociológico, não como literatura. Há

Reposta: Diante de todos os dados que levantamos, podemos falar em diversidade de estilos, mas não em efetiva diversidade de autores e de perspectivas sociais, pelo menos não em meio aos espaços mais consagrados.

Pergunta: Há autores que destoam desse esquema na literatura brasileira? Quem são os escritores que criam discursos desestabilizadores na ficção nacional?

Resposta: Sim, há autores que se empenham em sair de sua zona de conforto

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e lidar com outros temas e outras perspectivas sociais. Para isso, têm que estabelecer novos modos de dizer. Há também aqueles que se mantém em seu espaço, mas que, dali mesmo, realizam uma profunda crítica às práticas e discursos da classe média. Afinal, o elemento crítico não está necessariamente no tema, mas na capacidade de recusar a naturalização daquilo que é produto social. Por fim, há os que vêm trabalhando faz tempo nas margens do campo literário, nas periferias da sociedade brasileira. São poetas, contistas, romancistas, com uma obra que é coletivamente muito rica, muito desigual, cheia de potencialidades e limites — exatamente como a produção do campo literário legítimo, aliás.

Pergunta: E por que não conseguem espaço no cam -

po literário? Alguns autores, no entanto, romperam essa barreira, como Ferréz e Paulo Lins. Por que esses escritores e suas obras vieram à tona? Resposta: Será que romperam mesmo a barreira? Ou apenas parcialmente? Há o risco de que sejam relegados à posição de escritores de nicho, sem que sejam integrados de fato ao corpus da literatura brasileira contemporânea. E que suas obras permaneçam sendo vistas no registro do documental, valorizadas mais pela autenticidade do que pela realização literária, e que eles fiquem circunscritos à temática da periferia, a única que eles poderiam abordar legitimamente. Repetindo a situação de Carolina Maria de Jesus, que foi, estou cada vez mais certa disso, uma das escritoras mais capazes e mais complexas que sur-

giram no Brasil nos anos 1960, mas que ainda é vista como a avis rara, como se, sem a indicação da biografia da autora (“favelada”, “catadora de lixo”), sua obra não merecesse ser lida. Dito isso, Ferréz e Paulo Lins ilustram dois caminhos diferentes para romper as barreiras. Lins estreou (como romancista) na editora de maior prestígio na época, a Companhia das Letras, e foi patrocinado por um crítico literário de primeira linha, Roberto Schwarz. Ferréz começou por conta própria e ganhou espaço como líder de um movimento de literatura de periferia. No entanto, não são trajetórias que possam ser generalizadas. Eles continuam marcados pelo signo da excepcionalidade.

Pergunta: Quais são os autores com os quais a crítica acadêmica trabalha?

Resposta: Estamos iniciando um levantamento dos artigos publicados nas revistas acadêmicas de literatura dos últimos 15 anos. Ainda não tenho dados para embasar uma resposta mais sólida. Imagino que haja uma predominância do cânone estabelecido, Machado de Assis à frente; muita presença de Clarice Lispector, sobretudo graças à influência da crítica

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Luiz Ruffato

feminista; e uma dispersão no que se refere à literatura contemporânea, talvez com alguma concentração ligeira em nomes de maior visibilidade, como Milton Hatoum ou Luiz Ruffato. Mas a pesquisa pode produzir resultados surpreendentes — e por isso é bom fazer levantamentos sistemáticos, em vez de ficar só com a impressão a olho nu.

Pergunta: A crítica literária tradicional, em geral aquela publicada em jornais e revistas, perdeu importância e espaço. A universidade, por sua vez, com raras exceções, é sempre muito hermética. Quem vai separar o joio do trigo a partir de agora?

Resposta: Acho que continuamos os mesmos — jornalistas, professores, pesquisadores, editores, livreiros, gestores públicos da cultura, outros escritores, somos nós que movimentamos o campo literário. Somos nós que ignoramos alguns nomes, e referenciamos outros. Há diferentes espaços de legitimação dentro do campo literário, e a influência exercida por cada um de nós participa desse processo. Só que nele nós não separamos joio e trigo: nós determinamos o que é joio e o que é trigo. Ao desta -

carmos autores e obras, ao acumularmos camadas de interpretações que ampliam a complexidade e riqueza de seus trabalhos, ao estimularmos que outros criadores dialoguem com eles, estamos colocando em curso um processo que é muito mais do que o reflexo das qualidades intrínsecas do produto literário.

Pergunta: Para além da temática, qual o principal traço estilístico da literatura contemporânea? Há contribuições importantes de jovens escritores neste campo, levando-se em conta nossa tradição de prosadores inventivos? Resposta: Não teria como apontar um único traço, devido à diversidade de estilos presente em nossa produção. Mas há algumas décadas o que vem se impondo como uma característica da literatura contemporânea talvez seja o sentimento da impossibilidade, ou mesmo da vacuidade, da pretensão de se formar o grande painel da vida nacional. Não há mais a ideia de produzir o romance que definiria o Brasil — o último foi, talvez, Viva o povo brasileiro, de João Ubaldo Ribeiro. Nossos romances falam do aqui e do agora, de

uma classe social, de um gênero e uma raça — são pequenos recortes pessoais ou de grupos localizados. Isso não é necessariamente ruim; a pretensão de totalidade pode ser uma armadilha. Mas a falta de ambição da maior parte da literatura contemporânea é um problema. Não é apenas que os romances não pretendem gerar um panorama do país. Com raras exceções, eles seguem o modelo de um fio de trama, poucas personagens, pouca complexidade e, aliás, também poucas páginas. Pode-se fazer um grande livro com essas características. Mas é difícil imaginar que só obras deste tipo gerem uma literatura de impacto.

Pergunta: A auto-referência também é apontada como uma característica marcante da prosa brasileira atual, principalmente em autores jovens, com menos de 40 anos. A senhora concorda?

Resposta: Sim, se levamos em conta o campo literário legítimo. Há muitas explicações para o fenômeno, inclusive como opção de mercado. Mas se observamos o que se escreve por aí — em edições custeadas pelos autores, em páginas de internet, em manuscri -

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tos inéditos submetidos a concursos literários e também em coleções de baixa legitimidade intelectual de editoras estabelecidas — veremos um quadro bem diferente. Há muita fantasia, muitos dragões e bruxos, e muito romantismo exacerbado, num diálogo que se dá com a televisão, o cinema e mesmo a literatura de entretenimento. Mas isso não costuma ser levado em conta quando falamos de literatura.

Pergunta: A literatura tem um tempo de maturação bastante longo. Mas, diante de seus estudos, quem do atual cenário literário a

senhora acha pode se tornar um nome importante no futuro?

Resposta: Não gosto de responder a esse tipo de pergunta. Como falei antes, a repercussão de uma obra depende tanto de suas características quanto de fatores extrínsecos — e mesmo de sorte. Por outro lado, não creio que haja algo de “universal” no valor literário de uma obra. Há livros que falam fortemente ao nosso tempo, que nos fazem inquirir a nós mesmos e ao mundo em que vivemos, mas que talvez digam muito pouco às pessoas de 40 ou 50 anos à

frente. Não vejo isso como demérito. E se porventura a obra continuar falando às gerações futuras, não é porque ela é “universal”, mas porque seus leitores, os críticos, os outros criadores que dialogaram com ela, todos ajudaram a atualizar seu sentido, com novas camadas de interpretação. Se hoje sinto que é a autora X que me motiva a pensar, espero ser capaz de entrar num diálogo produtivo com a obra dela. Será que no futuro X vai continuar interpelando seus leitores como hoje interpela a mim? Bem, isso já não é mais comigo

O livro O VALE DAS ÁGUAS, seleção de crônicas sobre Corupá, a Cidade das Cachoeiras, com muitas fotos e cores ilustrando os textos, está à disposição, na Amazon. Veja no link https://amz.run/4LtO .

Se você conhece Corupá, vai gostar de relembrar e rever as belezas da cidade. Se não conhece, vai gostar de conhecer as belezas do Vale das Águas.

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POESIA

ROSÂNGELA BORGES

PARA A MENINA DAQUELA ESQUINA

Mais uma história de amor.

Uma ventania.

Um príncipe que não era azul, que não era encantado, que não era poeta.

Era um gato de rua, perdido e desbotado.

- Já não chore, menina!

Essa chuva.

Um beijo que não era céu, que não era verdadeiro, que não era poesia.

Era um fantasma da noite. Estranho e passageiro.

Mais uma história de amor.

Sem amor!

Uma ventania. Um príncipe. Um gato. Um poeta. Uma menina. Uma chuva.

Um beijo. Um céu. Uma poesia. Uma história. Um fantasma.

E mais nada!

Mais uma história de amor...

Sem amor!

- Seque suas asas, menina!

E voe. Longe. Alto.

E volte pra vida.

E sorria. E cante.

E não chore. E só.

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CRÔNICA

NEUSA BERNADO COELHO

ANIVERSÁRIO E INAUGURAÇÃO DO CENTRO CULTURAL LAUDELINO WEISS

Há 129 anos, a vila litorânea possuía ranchos para abrigar canoas e paiol para guardar farinha de mandioca. Construídos de pau-a-pique, a construções rústicas com cobertura de palha, deram origem ao nome Palhoça. Até 1833, pertenceu a Florianópolis, quando então passou a integrar o vizinho município de São José.

Emancipada política e administrativamente em 24 de abril de 1894, a aniversariante é cenário de um dos maiores mangues da América do Sul, tem seu litoral bem recortado e cheio de belezas naturais, propício para o desenvolvimento do turismo e comércio. Hoje, com aproximadamente 236 mil habitantes, a sua localização continua sendo um diferencial, atrai empresas e serviços tornando-se dessa forma, a 10ª maior economia de Santa Catarina, segundo

estimativas do IBGE, e a nona em população.

O antigo Paço Municipal, localizado no Centro de Palhoça, foi fundado em 22 de agosto de 1895, pelo Superintendente Bernardino Manoel Machado, já abrigou diversas atividades, transitando entre o político e o social. Inicialmente, foi palco da Superintendência (atual Prefeitura), a Delegacia de Polícia, o Juizado de Paz, a Cadeia Pública, o Conselho Municipal (atual Câmara de Vereadores), o Fórum e o Tribunal de Júri e por último a Secretaria da Assistência Social.

Localizado no Centro de Palhoça, ao lado da Igreja Matriz Sr. Bom Jesus de Nazaré, o espaço é um resgate histórico esperado há muito tempo pelos munícipes palhocenses. O equipamento cultural oferece um leque de atividades com variadas exposições e atrações.

No seu interior abriga a Biblioteca Pública Guilherme Wiethorn Filho, inaugurada em 1973, em merecido espaço, depois de onze penosas mudanças. Ao longo dos corredores a arquitetura luso-brasileira dispõem de salas para a multiculturalidade. A charmosa edificação de dois pavimentos, agora definitivamente revitalizada, será entregue aos habitantes e visitantes do município. No espaço será possível conhecer a diversidade cultural existente desde os tempos primórdios, entender a interação dos povos originários, os de Matriz Africana, Açorianos, Alemães, Italiano e

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Lançamento livro da escritora e historiadora Neusa Bernado Coelho outras etnias responsáveis pela composição da identidade de Palhoça. A solenidade abrilhantada pelo Coral Bom Jesus de Nazaré, teve seu ápice com o descerramento da Placa inaugural, pela ma -

nhã. O evento seguiu com apresentações das diversificadas manifestações culturais.

No período vespertino, a literatura teve seu apogeu com lançamento de livros dos renomados escritores

catarinenses: Vera Regina de Barcellos, Sandra Patrício, Neusa Bernado Coelho, Sílvio Adriani, Fábio Garcia, e o Grupo de Poetas e Escritores Mário Quintana composto por: Orlando Ferreira de Souza, Marlene de Faveri e Nassau de Souza. A ilustradora de livros, natural de Palhoça (Caminho novo), a jovem Maria Vitória Bolzan, entusiasmou os presentes com seus desenhos deslumbrantes.

A magnificente tarde literária foi enriquecida com causos e contos da cultura catarinense. A performance teve o boneco “Frankolino” e as contadoras de histórias, as artistas Andrea Rihl e Claudete Terezinha da Mata. Na ocasião, prestaram homenagem ao mestre Gelci José Coelho, o “Peninha”, falecido em 13 de março último.

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CRUZ E SOUSA

GRANDES POETAS BRASILEIROS SINFONIAS DO OCASO

Musselinosas como brumas diurnas descem do ocaso as sombras harmoniosas, sombras veladas e musselinosas para as profundas solidões noturnas.

Sacrários virgens, sacrossantas urnas, os céus resplendem de sidéreas rosas, da Lua e das Estrelas majestosas iluminando a escuridão das furnas.

Ah! por estes sinfônicos ocasos a terra exala aromas de áureos vasos, incensos de turíbulos divinos.

Os plenilúnios mórbidos vaporam … E como que no Azul plangem e choram cítaras, harpas, bandolins, violinos …

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CRÔNICA

URDA ALICE KLUEGER

Ele veio com 3 meses, no julho de 2022, muito disposto a sobreviver, com uma incrível habilidade de usar os pés traseiros para prevenir ou amortecer quedas – azar para mim se ficasse no caminho das suas garras traseiras, abertas como um paraquedas quando ele se via diante da possibilidade de cair. Vinha de outro município, onde soube que não tivera vida fácil – caso não fosse adotado, seria enforcado, essas maldades que existem na humanidade. De lá trouxe alguns bichos de pé e uma fome voraz. Os bichos de pé se foram com algumas aplicações de própolis e ele pode comer tantas tigelinhas de ração quantas deu conta, até se esquecer da fome. Dava-lhe, também, pires de leite e pedacinhos de frango, e ele se desenvolvia que era uma beleza. Era um gatinho inteiramente cinzento, com algumas listras mais escuras no pelo, que só apareciam em determinados momentos, conforme a incidência

GUINHO

da luz.

Com tanta vontade de viver, ele merecia um nome especial, e o teve: foi batizado como Hugo Chávez Frías Klueger e logo era conhecido como Hugo, criando o carinhoso apelido de Huguinho e. depois, Guinho. Guinho iria completar um ano hoje, primeiro de maio,

e nesses nove meses em que convivemos, foi uma luz e uma surpresa a cada dia. Por exemplo, diferente de todos os gatos com quem eu já convivera, Guinho mordia. Era sua forma de demonstrar carinho. Tinha uma

coisa muito oral ligada ao amor. Com o tempo, aprendeu que podia lamber ao invés de morder, e me lambia com sua linguinha áspera para dizer que me amava, mas se ele estava muito cheio de amor, dava-me uma ou mais mordidas a seguir, que podiam ser mordidas de levinho ou mais fortes, dependendo da intensidade do amor. Tinha (ainda tenho) o braço direito cheio de marquinhas de mordida. Quem interviera para que Guinho viesse para a minha vida fora a Raquel, amiga e vizinha, e sempre ouvia Raquel dizer que Guinho tirara a sorte grande. Parentes dele que haviam ficado na casa da Raquel acabaram sendo envenenados por alguém diabólico que vive no paraíso deste canto da Enseada. Guinho crescia cheio de saúde. Em novembro pesou 3.200 g; faz poucos dias que pesava 4.200 g. Era um arteiro. Conforme crescia, Guinho testava todas as possibilidades de circulação e fazia tempo

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que dominava o cimo dos mais altos armários da casa, para onde subia nas manhãs e dormia o dia inteiro. Num friozinho deste outono também mudou rapidamente de habitat, levando seu soninho de muitas horas para dentro do aconchego do guarda-roupa. Circulava pelo jardim e pelas árvores e até chegou a pegar um ou outro inseto – nunca o vi com um rato na boca, e os 3 passarinhos que pegou foram apenas para brincar um pouquinho – todos os três foram embora com saúde e voando com as próprias asas. Seus dentinhos serviam para falar de amor, não eram para matar passarinho.

Faz poucos dias que disse para Maria Antônia:

- Guinho está cada vez mais querido! – que bom que disse isso então, que ficou esse registro recente de como ele era!

Mais uns dias e contei à Maria Antônia sobre os finais de tarde, quando ele apare -

cia do nada e subia direto na mesa do escritório, agarrando-se logo aos fios pretos do computador, fazendo com eles todas as estrepolias que podia e como eu, tarde após tarde ficava a caçá-lo para tirá-lo dali, sempre repetindo que “gato e computador não combinam”, coisa que ele nunca entendeu.

- Ele quer brincar e chamar tua atenção! – explicou-me Maria Antônia. Pouco sabia das noites dele. Seu Moisés foi quem o viu vindo pela rua em alguma manhã, como quem volta de importante compromisso. Hoje é segunda-feira. No sábado, quando desceu de alto armário para se enredar nos fios do computador, eu tirei tempo para brincar com ele. Estava um gatão maravilhoso, com os músculos bem desenvolvidos e harmoniosos, um desses exemplares únicos que a natureza produz a partir de muito amor e muita comida. Ele lutou e brincou no meu colo por algum tempo, até se aborrecer e sair atrás de outra diversão. E antes que o domingo amanhecesse Huguinho estava morto. Acordei-me no meio da madrugada com seus lancinantes gritos de pavor, e ele lutava com todas as forças contra um enorme inimigo que não conseguia entender,

aquele mal horroroso chamado veneno. Era tão terrível ver Huguinho assim que eu rezava, pedindo para que ele morresse logo para se livrar de tanta agonia e dor. Seu Moisés veio correndo e nos levou até o veterinário, mas ele morreu antes de chegar lá.

Penso que sua alminha ainda anda por aqui, tentando entender o que aconteceu. Guinho, meu Guinho querido, descansa em paz, é o que a tua Urda mais deseja. Agora aquele horror já passou e irás viver uma vida de luz, sem nunca mais passares pela agonia dolorosa e infinita de ser envenenado de novo.

Aqui, confio na justiça divina que cobrará tua morte e a de tantos outros gatinhos daqueles seres amaldiçoados que distribuem e usam veneno por aí.

(Sertão da Enseada de Brito, 01 de maio de 2023)

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GRANDES ESCRITORES BRASILEIROS

JÚLIO DE QUEIROZ

HIPOCRIVARDIA

Albert Einstein sabia que a Terra tem mais que quatro bilhões de anos. Mas, anualmente, ia a uma sinagoga comemorar os cinco mil e tantos aniversários da criação do universo. Schrödinger estava consciente que seu gato não era seu.

Não tinha certeza se ele estaria ou não lá, e nem mesmo se o gato existia, mas deixava seu pastor lhe pregar impunemente sobre a parada do Sol para que os judeus ganhassem uma batalha, que ninguém mais notou.

Teilhard de Chardin estava convencido que o cosmo, indiferentemente, renasce em ciclos trilenares.

Mas todas as manhãs pretendia a mágica transformação de vinho fraco em sangue de um deus inexistente.

Aparentemente, não há jeito...

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CRÔNICA

LUIZ CARLOS AMORIM

DIAS DAS MÃES

Primeiro domingo do mês de abril é o Dia da Mãe em Portugal e nós já comemoramos e no segundo domingo é o Dia das Mães no Brasil, e vamos comemorar de novo aqui em Lisboa. O Dias das Mães é sempre um dia muito importante e de muita comemoração, porque elas, as mães, são as criaturas mais importantes desse mundão de Deus. São elas que nos trazem ao mundo. São elas que dão filhos aos seus companheiros, que consequentemente dão netos aos avós e assim por diante.

É a nossa mãe que se dedica a nós, seus rebentos, pela vida afora. E quando a gen-

te cresce e vamos viver a nossa vida para recomeçar o ciclo, ela fica esperando que os filhos voltem para uma visita, nem que seja rápida, trazendo os netos. Fico matutando, aqui, quando o Dia das Mães vai chegando, que ver a filharada debandar dói um bocado para nós, pais, imagine para as mães. O coração fica apertado, a saudade toma proporções astronômicas e a casa fica enorme, imensa, vazia, silenciosa e triste. Este ano estamos morando em Portugal, pois a filha Daniela mora aqui com o neto português. E a filhota Fernanda mora no sul da França, então também está

perto e esteve recente por aqui, reunindo a família. De maneira que será um Dia das Mães mais em família.

Minha mãe, que faz 89 anos neste dez de abril, está no Brasil e estarei longe, do outro lado do oceano. Não estarei lá para o beijo e o abraço, mas em compensação uma mãe sabe como abraçar a alma, beijar a alma da sua filharada, independente da distância.

Pois uma mãe é mãe em tempo integral, a ligação com sua prole é condição sine qua non, então eles estarão sempre juntinho, não importa aonde estejam.

Que todas as mães sintam-se abraçadas e beijadas por seus filhos e que todos os filhos também sintam-se abraçados e beijados pelas suas mães. Sempre.

Parabéns, com um grande abraço e um grande beijo para ela, para a Dona Iracina, minha mãe, que além da passagem do seu dia, também faz aniversário. Tudo em dobro.

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POESIA

PIERRE ADERNE

SANTO DE MÃE

Toda Mãe é igual a Deus Deus mulher, que chora e reza por ti Toda mãe é altar de Proteção que vira estrela e te faz luzir

toda mãe é um santo, um orixá foi seu colo, o meu primeiro lar já fui reza no berço de meu Deus com seu abraço do tamanho de um mar

Toda mãe é escudo de ouro e fé deu-me em vida, diamante em aliança alguém dúvida que Deus é mãe mulher? lembro dela, logo volto a ser criança

toda mãe é lua e sol vem à noite te cobrir com um manto no escuro, seu olhar é um farol alguém dúvida que toda mãe é um santo?

se eu pudesse ouvir tua voz, oh mãe e lhe dizer de minha gratidão... perdão se um dia deixei de te ouvir DEUS É MÃE dentro desse coração!

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LUIZ PRADO (JORNAL DA USP)

REPORTAGEM EROTISMO EM MÁRIO DE ANDRADE

náculas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. A obra oferece ao leitor a oportunidade de conhecer o que e como Mário escreveu sobre sexo, sensualidade, homoerotismo e seus correlatos. Além disso, reposiciona o erotismo na trajetória intelectual do autor, realçando sua centralidade e constância ao longo de sua produção.

Nas 320 páginas que compõem o volume, Eliane apresenta trechos dos romances Macunaíma e Amar, Verbo Intransitivo, recortes

Volume reúne textos consagrados e raridades, chamando atenção para faceta pouco estudada do autor modernista

Apresença da sexualidade e do erotismo na obra de Mário de Andrade (1893-1945) acaba de ganhar um volume inédito, que reúne excertos de romances, contos, poe -

mas, artigos e correspondências, inclusive materiais raros, produzidos ao longo de toda a carreira do autor modernista. Trata-se do livro Seleta Erótica de Mário de Andrade, organizado por Eliane Robert Moraes, professora de Literatura Brasileira do Departamento de Letras Clássicas e Ver-

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de correspondências que Mário trocou com nomes como Manuel Bandeira, Fernando Sabino e Sérgio Milliet, poemas de Pauliceia Desvairada, parágrafos de Contos Novos e mais uma série de escritos, alguns raros e inéditos. O resultado é um conjunto que desperta as atenções para uma faceta ainda pouco estudada do autor.

“Considero esse livro como um convite a pesquisadores que gostam do Mário de Andrade para aprofundar essa pesquisa”, declarou Eliane em entrevista. “É um começo de trabalho. Acho que a erótica do Mário ainda pode render muito.”

A obra traz não só o que o autor escreveu, mas também o que deixou de escrever, como é o caso de um trecho de Macunaíma censurado pelo próprio Mário, retirado do livro após sua primeira edição. Texto que abre a seleta, o excerto chama a atenção não só pela sua obscuridade, mas por tematizar uma troca de correspondências com Manuel Bandeira.

Já os escritos perpetuados por sucessivas edições ao longo dos séculos 20 e 21 ganham novas miradas a partir da apresentação que Eliane faz ao volume. Dentre eles estão Frederico Paciência, retirado de Contos Novos e reproduzido na íntegra, e

o poema Girassol da Madrugada, também motivo de conversas do autor com Bandeira.

Seleta Erótica de Mário de Andrade é resultado de um projeto que Eliane desenvolveu no Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP, durante sua participação no Programa Ano Sabático, em 2021. Durante os trabalhos, a docente contou com a colaboração das pesquisadoras Aline Novaes de Almeida, que assina o posfácio do livro, e Marina Damasceno de Sá, ambas também empenhadas em produções acadêmicas sobre Mário de Andrade.

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A professora Eliane Robert Moraes — Foto: Renato Parada
Visite o Portal PROSA, POESIA & CIA. do Grupo Literário A ILHA, na Internet, http://www.prosapoesiaecia.xpg.com.br

GRANDES POETISAS BRASILEIRAS

CECÍLIA MEIRELES

OU ISTO OU AQUILO

Ou se tem chuva e não se tem sol ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel, ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão, quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa

estar ao mesmo tempo em dois lugares!

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce, ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo … e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo, se saio correndo ou fico tranquilo. Mas não consegui entender ainda qual é melhor: se é isto ou aquilo.

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PALOMA VARÓN

LITERATURA BRASILEIRA É CELEBRADA EM PARIS

Desde março de 2022, o Clube de Leitura organizado pela Embaixada do Brasil em Paris em parceria com a Livraria Portuguesa e Brasileira, reúne mensalmente entusiastas e curiosos da literatura brasileira. As discussões giram em torno de uma obra – um autor diferente é apresentado a cada mês –, mas também das realidades, identidades, histórias e culturas do Brasil, por meio de traduções francesas de títulos selecionados.

Machado de Assis, Jorge Amado, Clarice Lispector,

Guimarães Rosa, Graciliano Ramos, Luiz Ruffato... estes e outros autores brasileiros são lidos em francês por um público diverso em Paris. Após a leitura, são organizadas rodas de conversas para a troca de impressões e análise das obras. O objetivo é apresentar o Brasil e sua literatura ao público francófono.

"A cada sessão nós convidamos uma pessoa diferente, para apresentar o livro e guiar as discussões. Então, temos sempre um convidado diferente e num lugar diferente, porque o nosso

objetivo também é alcançar públicos distintos, vinculados às diversas instituições que aceitaram embarcar nesta aventura com a gente", explica Rafaela Vincensini, do Serviço Cultural da Embaixada.

"As discussões são feitas em francês e nós lemos as versões traduzidas dos livros que a gente selecionou para este ciclo", completa.

O encontro de dezembro foi sobre o livro "Estive em Lisboa e lembrei de você", de Luiz Ruffato. o que levou a uma empolgada conversa, com direito a troca de experiências pessoais, sobre imigração e preconceito.

Suscitar o interesse

"Esta foi a minha primeira participação, foi uma experiência bastante interessante, justamente por esta troca de percepções subjetivas em torno de um livro. E, é claro, o que me interessa mais aqui é o fato de estarmos criando leitores. Eu, que trabalho há muito tempo com a difusão da literatura brasileira fora

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do país, sei que não basta somente traduzir livros, não basta somente colocar livros em livrarias, é necessário despertar o interesse pela literatura brasileira, que é pouco conhecida, sobretudo a literatura contemporânea", afirma Tonus, um dos participantes.

O estudante de Sociologia Adrien Sainty é um dos entusiastas dos encontros e achou este, sobre o livro de um autor contemporâneo, especialmente intrigante.

"Participo desde o início, vou a todos os encontros. Minha mãe é franco-brasileira e eu queria saber mais sobre a história e a literatura brasileiras, que eu não conhecia. Quando eu vi o anúncio do Clube de Leitura nas redes sociais, decidi participar e, em seguida, trouxe minha mãe comigo. É sempre um prazer descobrir os clássicos,

assim como os autores mais novos", disse o estudante.

PRECONCEITO CONTRA

BRASILEIROS

Além disso, o livro do mês de dezembro tinha total correspondência com o seu objeto de estudos. "Eu estou fazendo uma dissertação sobre a discriminação de estudantes brasileiros em Portugal. Então, acho interessante a relação dos ex-colonizados com a metrópole, como os fluxos migratórios evoluem, como a linguagem pode se tornar uma barreira…", analisa Adrien Sainty.

A estudante de Letras Luyana Araújo é angolana e também se sentiu tocada por este livro e pelas discussões em torno dele.

"Foi a primeira vez que participei deste evento e achei incrível para abrirmos o espírito pela literatura, para criar pessoas com mentes mais abertas, o que eu acho incrível e aconselho a qualquer pessoa. Eu nasci em Angola e cresci em Portugal, fiz meus estudos lá. Mas eu tento também me adaptar, porque tenho muitos amigos brasileiros e tento ter um pouco o sotaque brasileiro", conta a angolana.

Marinela Nzolamesso, também angolana e estudante de Letras, disse que aprendeu muito com o Clube de Leitura. "Sou angolana, cheguei na França aos 15 anos e é a primeira vez que participo. Achei muito interessante, porque é um livro que estamos estudando em sala de aula e aqui eu aprendi muitas coisas", conta.

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Embaixada do Brasil em Paris

Mégane Pinheiro é estudante de Medicina. Ela fala português e quer conhecer mais sobre a Literatura brasileira. "Estou muito apaixonada pela Literatura portuguesa e não conheço muito a Literatura brasileira, mas gostaria, por isso quero me inscrever neste clube, gostei muito. Gostei da presença do professor, pois conheço muito bem o assunto de que ele trata [imigração], mas também gostei da participação de toda a gente, de aprender as histórias deles, muito diferentes, mas também um pouquinho parecidas. É mesmo muito rico", afirma, entusiasmada.

LITERATURA

PARA ENTENDER A CULTURA

A jurista colombiana Andrea Mora diz que vem aos

encontros porque gosta da ideia de ler e discutir livros em público e também porque quer aprender mais sobre a cultura brasileira."A experiência foi muito interessante. Ter alguém como Leonardo Tonus para dirigir o grupo de leitura foi muito enriquecedor, pois é alguém que conhece o tema. Com a apresentação dele e as discussões com outros leitores, podemos fazer uma análise muito mais profunda da obra do que faríamos se estivéssemos sozinhos", disse.

"Estou aprendendo a falar português brasileiro; somos vizinhos, somos irmãos latino-americanos e considero importante saber a língua dos meus irmãos brasileiros.

E acho que a literatura é um dos meios mais interessantes para aprender a cultura do outro", acrescentou Mora. Além de descobrirem um livro novo a cada sessão,

os participantes também descobrem novos espaços em Paris. "Uma parte que foi muito gostosa neste projeto, uma vez decididos os escritores, foi encontrar o local que tivesse a ver com cada escritor especificamente. Por exemplo, quando lemos Jorge Amado, fizemos o encontro no Espaço Krajcberg. Krajcberg era polonês, mas morou na Bahia, então o espaço é como 'a Bahia em Paris'. A ideia era sempre encontrar um vínculo entre o escritor e o espaço que nos acolheria", destaca Rafaela Vincensini.

Para participar do Clube, basta ficar atento ao perfil "Brésil en France" no Facebook e Instagram. O último livro da temporada 2022 abordou o livro "Brás, Bexiga e Barra Funda: notícias de São Paulo", de Antônio de Alcântara Machado.

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GRANDES POETISAS BRASILEIRAS

CORA CORALINA

Vive dentro de mim uma cabocla velha de mau-olhado, acocorada ao pé do borralho, olhando para o fogo. Benze quebranto. Bota feitiço...

Ogum. Orixá. Macumba, terreiro. Ogã, pai de santo...

Vive dentro de mim a lavadeira do Rio Vermelho.

Seu cheiro gostoso d'água e sabão. Rodilha de pano. Trouxa de roupa, pedra de anil. Sua coroa verde de sãocaetano.

TODAS AS VIDAS

Vive dentro de mim a mulher cozinheira. Pimenta e cebola. Quitute benfeito. Panela de barro. Taipa de lenha. Cozinha antiga toda pretinha. Bem cacheada de picumã. Pedra pontuda. Cumbuco de coco.

Pisando alho-sal. Vive dentro de mim a mulher do povo. Bem proletária.

Bem linguaruda, desabusada, sem preconceitos, de casca-grossa, de chinelinha, e filharada.

Vive dentro de mim a mulher roceira. - Enxerto da terra, meio casmurra. Trabalhadeira. Madrugadeira. Analfabeta. De pé no chão. Bem parideira. Bem criadeira. Seus doze filhos Seus vinte netos.

Vive dentro de mim a mulher da vida.

Minha irmãzinha...

Fingindo alegre seu triste fado.

Todas as vidas dentro de mim:

Na minha vidaa vida mera das obscuras.

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MAURÍCIO PEDRO DA SILVA

A LITERATURA MARGINAL BRASILEIRA

A partir da década de 80, a literatura brasileira incorpora, com maior ou menor grau de evidência e de modo mais sistemático, temas e motivos literários relativos à questão da diversidade, resultando em obras que procuraram dar voz – no âmbito da representação estética – aos diversos extratos de nossa sociedade. Desse modo, observa-se uma profusão de narrativas em que o negro, a mulher, o marginal, o homossexual, enfim uma variada gama de representantes de camadas sociais tradicionalmente vitimadas por processos discriminatórios e excludentes pas -

sam a ocupar um espaço de destaque no cenário literário nacional. Talvez nenhuma outra tendência desse complexo cenário incorpore de modo tão sensível essa realidade do que aquela a que aqui estamos chamando de literatura marginal.

ALGUNS

PRESSUPOSTOS ESTÉTICO-SOCIAIS DA LITERATURA MARGINAL

Evidentemente, não se deve confundir o que estamos entendendo, neste preciso contexto, por marginali -

dade com aquele epíteto que qualifica a literatura produzida por volta dos anos 70, designando, sobretudo, a chamada poesia marginal. Em suma, são duas as diferenças que se percebem entre os “antigos marginais” e os “novos marginais” da literatura: primeiro, parece-nos mais apropriado considerar os autores que produziram por volta das décadas de 19601970 como escritores automarginalizados, no sentido específico de que eram, de certo modo, rejeitados por um mercado editorial que, no Brasil, começava a ver o livro como uma mercadoria; o escritor, como um trabalhador que passava do estágio artesanal para o industrial; e o leitor, como um típico consumidor.

Segundo, eram “marginais” – e mesmo assim parcialmente, sobretudo se pensarmos na produção poética, mais afeita aos experimentalismos do que ao confronto ideológico (Hungria e D’Elia, 2011) –

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ENSAIO

do ponto de vista político, já que alguns escreviam sob censura e, portanto, sem acesso aos principais canais de divulgação de seus textos e sem condições plenas de veiculação de suas ideias. Em suma, a marginalidade literária das décadas referidas ou se resumia a figuras realmente marginalizadas em todos os sentidos pelo sistema (como é o caso de um Plínio Marcos) ou a uma parcela da prosa de ficção que entrava em franco embate com o poder ditatorial constituído (como era o caso de um Renato Tapajós).

De 70 para 90, o conceito de marginalidade na literatura migrou, num primeiro momento, das condições de produção do autor para sua condição social. Assim, “marginal” deixa de ser aquele autor que – alijado dos meios de produção e

veiculação de sua produção literária – buscava suportes e instrumentos de divulgação alternativos para tornar-se uma marca daqueles que vivem um processo de exclusão social, uma exclusão que se dá por meio de sua desterritorização (trata-se de autores excluídos das regiões centrais das grandes cidades, passando a viver em favelas e bairros periféricos) e sua desidentificação (já que são, não raras vezes, figuras que experienciam um processo violento de perda de sua identidade). Portanto, o marginal da ficção do anos 90 é uma espécie de simulacro do cidadão, e a literatura marginal, por extensão, é aquele discurso que dá voz a essa sua condição social e ontológica. Como lembra Regina Dalcastagné (2003), ao se referir à presença do espaço citadino na ficção atual, a segregação parece

ser a característica principal daqueles territórios em que “são todos de algum modo excluídos das ruas e contornos urbanos que se delineiam nos textos contemporâneos» (p. 24). Desse modo, pode-se dizer que, embora haja aproximações circunstanciais entre a literatura marginal que prevaleceu nos anos 70 e a que vigora nos 90 – suas relações com o universo da contracultura pode ser um desses diálogos possíveis (Perez e Przybylski, 2016), as diferenças são de fundo e de forma: do ponto de vista temático, assiste-se a uma relativa despolitização das narrativas atuais (no sentido estrito da perspectiva político-partidário prevalente há duas décadas), o que lhe concedia um inegável perfil engajado; no que diz respeito à linguagem, opta-se por um trabalho mais intenso de estilização da narrativa, explorando

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Plínio Marcos Regina Dalcastagné

recursos estéticos até então pouco valorizados pela expressão militante.

Não se pode esquecer, contudo, neste quadro histórico do conceito de marginalidade na produção literária mais recente, do fato de que aquilo que chamamos, presentemente, de literatura marginal não é algo que tenha surgido no vácuo de uma tradição – ao contrário, desde o princípio buscou-se definir uma espécie de gênese estética que tomou alguns autores como autênticos precursores da referida tendência, seja um precursor isolado como Lima Barreto, nas primeiras décadas do século XX; seja, na segunda metade do mesmo século, um conjunto de autores que, reunidos, perfazem uma espécie de «cânone» marginal da contemporaneidade, como Antônio Fragra, Rubem Fonseca,

João Antonio, Plínio Marcos, Carolina Maria de Jesus e outros (Nascimento, 2009).

Nenhuma das observações aqui feitas, contudo, revela-se suficiente para depreendermos o verdadeiro significado – conceitualmente falando – da literatura marginal. Nesse sentido, faz-se necessário uma reflexão mais qualificada da ideia de marginalidade no contexto específico da literatura, reflexão que podemos alcançar levando em consideração uma dupla relação: a relação entre as categorias de inclusão e exclusão e a relação entre as categorias de ficção e realidade.

No que compete á primeira – a relação entre as categorias de inclusão e exclusão – pode-se partir do princípio de que, quando falamos de literatura marginal, não devemos perder

de vista, antes de tudo, o conceito referencial do vocábulo «marginalidade», que pressupõe, conceitualmente falando, um centro em torno do qual o marginal gravita, assumindo, por sua vez, sua condição periférica. Numa época em que se impõe como um dos fundamentos da identidade cultural a noção de descentramento, de deslocamento do centro e, consequentemente, da profusão de múltiplos centros que interagem de modo complexo, falar em marginalidade é perceber que, para além de um conceito homogêneo, deve-se pensar em termos plurais, mais precisamente em marginalidades.

Na abordagem da marginalidade literária, portanto, é preciso distinguir conceitos que compartilham do mesmo campo semântico do vocábulo-matriz «marginal», uma vez que a carência de explicitação das diferenças de seus cognatos leva, incontornavelmente,

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Rubem Fonseca

a mal entendidos conceituais. Dessa forma, não se deve confundir, por exemplo, a expressão literária produzida por um escritor socialmente marginalizado – que pode ou não transpor para a literatura sua experiência social – com aquela produzida por um escritor esteticamente marginalizado – que, necessariamente, estará criando uma literatura desviante do modelo estético adotado como um padrão, motivo pelo qual se situará à sua margem. Embora possamos considerar, para efeito didático, o “modelar” como central e o “desviante” como periférico, ambos os casos não se excluem necessariamente, podendo antes se completar, além de incorporar outras va -

riantes, sobretudo se introduzirmos nessa mesma equação os modalizadores “estético” e “social”. Pensemos, no âmbito da literatura brasileira, em dois exemplos práticos: marginalizado em sua experiência social e pessoal, Lima Barreto logrou criar uma obra em que essa experiência está presente não apenas como motivo literário, mas como alguém que foi relegado ao ostracismo sociocultural; além disso, forjou sua literatura sob a égide de uma expressão estética intrinsecamente marginal, na medida em que lançou mão de recursos literários avessos ao modelo “padrão” vigente em sua época, particularmente o academicismo de inspiração parnasiana.

Lima Barreto seria, nesse sentido, um típico exemplo de escritor social e esteticamente marginalizado, estando, a um só tempo, no centro da marginalidade literária e na periferia da literatura brasileira, esta última constituída a partir de fenômenos e elementos legitimadores de determinada prática autoral e leitora. Outro é o caso de Machado de Assis, autor que viveu na mesma época de Lima Barreto: completamente assimilado pelo establishment cultural do período, compactuou plenamente com a ética academicista – contribuindo, inclusive, para o impedimento da entrada de Lima Barreto na Academia Brasileira de Letras -, embora esteticamente revelava-se absolutamente marginal, escrevendo contos e romances de lastro “psicanalítico” num período de prevalência do realismo-naturalismo; promovendo a desconstrução da estrutura ficcional num ambiente marcado pela linearidade estrutural na prosa de ficção, levou ao limite a criatividade formal e temática no âmbito literário nacional, num período de reconhecida formalização estética. (Excerto)

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Lima Barreto

ADÉLIA PRADO

GRANDES POETISAS BRASILEIRAS AGORA, Ó JOSÉ

É teu destino, ó José, a esta hora da tarde, se encostar na parede, as mãos para trás. Teu paletó abotoado de outro frio te guarda, enfeita com três botões tua paciência dura. A mulher que tens, tão histérica, tão histórica, desanima. Mas, ó José, o que fazes? Passeias no quarteirão o teu passeio maneiro e olhas assim e pensas, o modo de olhar tão pálido.

Por improvável não conta o que tu sentes, José? O que te salva da vida é a vida mesma, ó José, e o que sobre ela está escrito a rogo de tua fé:

“No meio do caminho tinha uma pedra”

“Tu és pedra e sobre esta pedra”. A pedra, ó José, a pedra.

Resiste, ó José. Deita, José, dorme com tua mulher, gira a aldraba de ferro pesadíssima. O reino do céu é semelhante a um homem como você, José.

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LANÇAMENTO

LUIZ CARLOS AMORIM

EDIÇÃO ESPECIAL DO SUPLEMENTO LITERÁRIO A ILHA

A redação das Edições

A ILHA está sediada em Lisboa, este ano. Como as revistas do Grupo Literário A ILHA já publicavam e publicam autores portugueses, contemporâneos como José Luis Peixoto e clássicos como Pessoa, decidimos tentar aumentar a integração entre escritores brasileiros e portugueses, abrindo um espaço maior para a literatura portuguesa. A edição de junho da revista SUPLEMENTO LITERÁRIO A

ILHA, quando o Grupo e a revista completam

43 anos de trajetória, de existência e resistência divulgando a literatura brasileira e de outros países, será especial exclusivamente com escritores portugueses e de outros países da lusofonia. Aqueles que já frequentavam as nossas páginas estarão, é claro, presentes, como era de se esperar, e novos escritores de regiões diferentes de Portugal estão chegando para ocupar as páginas do nosso Suplemento Literário A ILHA. Autores consagrados de países como Moçambique e An -

gola, como é o caso de Mia Couto e Agualusa estão presentes, assim como o já citado José Luis Peixoto, português forte na literatura de seu país. E Dulce Rodrigues, outro nome forte da literatura infanto-juvenil portuguesa, de sucesso internacional. Também Nicolau dos Santos, Rita Pea, Adélio Amaro, Georgina Caçador. Outros escritores que estrearão na nossa revista, consagrados: Afonso Cruz, Gonçalo M. Tavares, João Tordo, Pedro Chagas Freitas, Valter Hugo Mãe. Dos novos, Rosário Pereira, Carlos Cardoso Luís, Jorge Vicente e outros. E os clássicos da literatura portuguesa, que não podiam faltar: Saramago, Pessoa, Camões, Miguel Torga e Florbela Espanca. Convidei outros escritores, alguns já bem conhecidos e outros novos, diretamente através de

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e-mail e redes sociais e outros através de páginas de grupos e associações literárias, mas percebi que há um pouco de receio, por parte de alguns escritores portugueses, em aderir a um espaço novo para publicar. Muitos não responderam, alguns responderam para dizer que, por qualquer motivo, não iriam participar. E olhem que não há custo nenhum para a publicação na edição especial do Suplemento Literário A ILHA, o custo de edição será todo meu. E, importante, a distribui -

ção da revista, on-line ou por pdf, é gratuita. Uma pena que muitos tenham resistência em aderir. Mas a edição está sendo organizada e sai no inicio de junho, em comemoração aos 43 anos do Grupo A ILHA e sua revista.

A verdade é que a Literatura Portuguesa é muito rica e cada vez me encanto mais com a sua qualidade. Tenho lido vários autores de Portugal e mais há que eu leia.

Já há uma troca, uma presença bem marcante da Literatura Portuguesa no Brasil, há muitos livros

de autores de Portugal em nosso país, portanto esses autores já são bastante conhecidos pelos leitores brasileiros. Em contrapartida, há já vários autores brasileiros sendo lidos em Portugal, pois eles estão sendo publicados por editoras portuguesas. Esse intercâmbio, se é que podemos dizer assim, é muito salutar, pois há muito talento de ambas as partes e os leitores de cada um dos dois países só tem a ganhar com boas leituras. O Suplemento Literário A ILHA, edição portuguesa está no forno para chegar aos leitores em junho, como uma comemoração do aniversário do Grupo Literário A ILHA e de sua revista. Comemoremos, pois, lendo-o.

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Capa da edição mais recente do Suplemento Literário A ILHA

MARIO QUINTANA

GRANDES POETAS BRASILEIROS PRESENÇA

É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas, teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento das horas ponha um frêmito em teus cabelos…

É preciso que a tua ausência trescale sutilmente, no ar, a trevo machucado, as folhas de alecrim desde há muito guardadas não se sabe por quem nalgum móvel antigo…

Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela e respirar-te, azul e luminosa, no ar.

É preciso a saudade para eu sentir como sinto – em mim – a presença misteriosa da vida… Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista que nunca te pareces com o teu retrato…

E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.

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ISABEL LUCAS

NÉLIDA PIÑON EM PORTUGAL

Quanto pode caber num livro que começou com uma sentença de morte? Quase tudo. Uma Furtiva Lágrima assinala o fim de um ano de vida da escritora brasileira Nélida Piñon em Portugal. Contém literatura, música, arte, ética, política, uma grande atenção ao quotidiano e a confissão de que ser Deus é uma tentação para o escritor, mas o resultado sai sempre falhado.

Durante um ano, a mulher mais jovem de sempre a integrar a Academia Brasileira de Letras (1990), Prêmio Príncipe das Astúrias

de Letras em 2005, romancista, contista, ensaísta, cronista, autora de memórias, viveu em Lisboa para escrever um romance passado em Portugal. Não adianta muito sobre isso. Apenas que o livro está adiantado. Antes de regressar ao Brasil, publica Uma Furtiva Lágrima (Temas e Debates), quase um manual sobre os temas da sua literatura. Começou por ser o diário de uma sentença de morte e acabou num conjunto de textos breves. São ideias, confissões de uma escritora brasileira, também galega, uma mes -

tiça, imigrante, atraída pelos clássicos, apaixonada pela língua portuguesa e pela música a que retirou o título, nada mais que a uma ópera de Donizetti. “Pois foi”, confirma Nélida Piñon, sorriso de olhos quase fechados no fim de uma conversa onde conta como a sentença não se cumpriu e deixou clara a sua comoção com o Brasil, agora, na hora do regresso, aos 81 anos, a agendar para Abril o lançamento da edição brasileira desta espécie de preparação para a morte.

Pergunta: Uma Furtiva Lágrima nasce de uma sentença de morte que não se cumpriu.

Resposta: É verdade. Passaram-se três anos e aparentemente tudo bem. Mas o escritor escreve por qualquer razão, qualquer pretexto. Não é todo o dia que alguém me diz que vou morrer. Foi uma novidade. Não quer dizer que eu não tivesse idade, seria até razoável, mas eu

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ENTREVISTA
Nélida Piñon

não estava pensando em morrer, estava com projetos e, de repente surge isso na minha vida, uma sentença inesperada. Associo essa sentença a um teste à minha dignidade, eu tinha de saber morrer, queria educar-me, havia uma pedagogia da morte. Era muito importante para a minha vida como a vivi, nas opções que fiz, no modo como sou feminista, mulher, escritora, como entendo a dignidade da escrita, os compromissos morais, éticos, etc. Disse: tenho de morrer bem. Foi isso que me levou a imaginar as consequências de uma sentença: morrer bem. Com elegância, se possível. Encarei tudo com muita naturalidade, pelo menos naquele momento.

Agora teria outra reação, porque depois de tudo sou

outra. Somos outros em cada avanço pela vida. O grande problema da nossa sociedade é imaginar que o que somos é imutável. Há pequenos sobressaltos e pequenas mudanças ao longo da vida. Isso dá-me uma sensação de progresso, de avanço quase tecnológico, se é possível falar em tecnologia em termos existenciais. Eduquei-me a ser assim, a imaginar que há na vida uma metamorfose contínua. E os resultados são óptimos, não há que reclamar das mudanças.

Pergunta: Este é um livro cheio de referências clássicas.

Resposta: Faz parte da minha formação intelectual. Não é pretensão.

Pergunta: Diz: “sou mestiça e gosto”, e que é “filha da imigração”.

Resposta: É verdade. An -

tes não dizia isso porque não tinha a noção que tenho hoje. Tenho muita noção do que a minha família fez com dignidade. Aos dez anos vim à Península Ibérica, passei praticamente dois anos na Galiza, eu falava galego, desenvolvi o meu imaginário, que era brasileiro e produto das leituras. De repente, olhava para a linha do horizonte nas aldeias galegas e tinha a sensação de que via uma cavalgada. Imaginava os etruscos, os celtas, os visigodos. Todos foram meus íntimos, até hoje. Depois estudei num colégio alemão. Até hoje não sei por que razão os meus pais imigrantes quiseram que eu estudasse com beneditinos, alemães, mas foi uma maravilha, apaixonei-me por Lutero, e a madre da minha classe tinha pavor

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de que eu pudesse ser convertida ao protestantismo.

Pergunta: O que a fascinava em Lutero?

Resposta: O brilho, a inteligência, a vontade que ele teve de derrubar Roma. Ao mesmo tempo eu era uma estudiosa de Carlos V que queria defender o catolicismo, o mundo romano. E estudava a Bíblia. Por mais católico que fosse o meu colégio, o alemão sente atração pelo Antigo Testamento e eu estudava o Antigo Testamento e brigava com Deus porque o achava machista. Tudo isso foi maravilhoso para mim.

Pergunta: A paixão por Wagner também nasceu na Alemanha?

Resposta: Talvez, mas a paixão é pela música. A música ajuda-me muito a escrever. Em determinados momentos, dependendo do sentimento que quero empreender a um texto, vou

a uma certa música. Gosto muito das fusões dos deuses alemães, dos nibelungos; quanto mais antigos os temas, mais gosto. Gosto dos monges perniciosos de Carmina Burana dos padres do deserto do século IV. Tudo isso me predispôs para imaginar as metamorfoses da vida e acentuou o meu amor à literatura. Tenho um grande amor à literatura. Nunca fui infiel à literatura.

Pergunta: É a única fidelidade?

Resposta: Não a única, porque sou fiel a princípios, a valores, mas faço qualquer sacrifício pela literatura, para escrever bem, para melhorar.

Pergunta: “Sinto-me atraída pelo pensamento alheio”, escreve. É um lado bisbilhoteiro?

resposta: É o lado da ficcionista. Deus me livre se eu ia achar isso desinteres -

sante!

Pergunta: Saber o que se come ao pequeno-almoço, por exemplo?

Resposta: Adoro. É um detalhe maravilhoso. Não tenho muito interesse em saber a intimidade sexual porque gosto de chegar a ela inventando a partir de uma certa sabedoria que tenho obrigação de ter acerca da anatomia e o que isso pode fazer em matéria de atritos. Não sou de fazer perguntas inconvenientes. Gosto muito de ficar olhando. Não sou distraída. Arrisco a dizer que sigo os transtornos humanos. Sou uma entusiasta do ser humano. Uso muito a palavra “vizinho”. É emblemático; um símbolo do humano. Senti que usando “vizinho” eu falava tudo, era o coletivo. O vizinho é um contemporâneo de vida,

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é um conglomerado. Tem alma, tem um corpo.

Pergunta: Porque é que amigos seus estranham o seu gosto por literatura americana?

resposta: A Natália Correia estranhava. Não conseguia entender como eu era entusiasta do mundo anglo-saxónico. Ela odiava. Tínhamos conversas maravilhosas sobre o mundo medievo. Mas eu desde cedo li literatura inglesa, apaixonei-me pela Inglaterra, e a literatura americana é uma grande literatura. Só Faulkner! É um grego americano. Há pessoas que não sabem porque é que fazem um certo tipo de literatura, mas beberam muito dos americanos. Veja Moby Dick, os poetas.

Pergunta: Refere que a literatura americana tem muito que ver com a identidade. A brasileira não?

Resposta: É diferente. É uma identidade forte

e acho que está também muito na literatura. Veja a questão indígena em José de Alencar. Ele faz o que [Fenimore] Cooper fez com os índios nos Estados Unidos, mas com muita independência. O índio como personagem idealizado, uma coisa de grande coragem. De certo modo, junto com Machado de Assis — embora Machado seja de um refinamento extraordinário —, tem uma preocupação com essa identidade, quem somos nós, e tenta liberar o pensamento narrativo brasileiro um pouco como Borges fez na Argentina: cada um está autorizado a escrever sobre o que quer que seja. É muito importante não se ser prisioneiro dos temas fixos. Machado de Assis, com a preocupação de uma possível identidade brasileira, escreveu um texto chamado Instinto de Nacionalidade, e ele e Alencar dizem-nos como se pode ser um escritor;

o que podemos fazer para enriquecer a trajetória cultural do Brasil.

Pergunta: Sobre a sua identidade, confessa-se uma híbrida. Fala-me do seu hibridismo.

Resposta: Sou muita coisa mesmo porque nunca quis ser só o que eu era.

Pergunta: Por quê?

Resposta: Porque era pouco. Acha que posso ser pouco? Um escritor não é para ter vida resumida, um retrato de três por quatro.

Pergunta: Há um capítulo chamado “Resumo” em que afirma que se nega ao resumo.

Resposta: Sempre achei que tinha de expandir o horizonte da minha vida. Digo que tinha de ser múltipla, ser muita gente ao mesmo tempo. Uso uma expressão que até repito demais: Proteu; ter de assumir várias formas. Não posso ser só mulher. Não vou conseguir escrever se não for mulher, homem, bicho, vegetal...

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Pergunta: Deus?

Resposta: Deus é uma tentação. Porque, de certo modo, um escritor é um deus, mas acaba derrotado pelas personagens. Os hebreus inventaram o monoteísmo, que é o supremo refinamento da abstração. Para escrever, tenho de entender o espírito do corpo de um homem e de uma mulher.

Pergunta: Diz-se feminista.

Resposta: Sim, mas eu sou histórica, muito mais do que todas essas. Essas não conheceram as dificuldades que eu conheci. Mas quero ser uma escritora com autoridade para assumir o corpo de um homem e de uma mulher, ou a literatura morre. Acho que a arte é um mistério, nasce do caos; sem o caos não há substrato, não tem material, não tem arqueologia. Depois é preciso trabalhar esse caos. Cada um de nós é constituído por uma genealogia vasta e, quanto mais se sabe, melhor vamos compor as personagens, entender que são dificílimas, que nos detestam, com elas estamos numa luta para ver se entramos num acordo. A personagem precisa de um acordo para existir.

Pergunta: Neste livro es -

tão os temas que povoam a sua literatura, ideias para reflexão, entre elas saber até que ponto a América se deve também culpabilizar pela sua história.

Resposta: O passado deve ser uma eterna aprendizagem. Não dá para corrigir o passado da forma que muitos pretendem. Os historiadores não sabem tudo. Há a parte documental, mas essa não traz os sentimentos. Há suposições nossas. Nós não temos

Somos muito pobres com as nossas convicções. Não temos convicções certeiras e somos também vítimas de mensagens equivocadas e não sabemos tudo o que está acontecendo ao mesmo tempo. A realidade é tão poderosa, tão difícil; é geológica, camadas e camadas e não sabemos responder pelos milhões de camadas. Mudamos de ideias constantemente, e também somos agarrados pelas ideologias que exploram o nosso desconhecimento, e muita gente ganha muito dinheiro com as ideologias.

Confio no destino do Brasil. Com os nossos desatinos, as nossas dificuldades. Acho que o tempo sana muitas feridas. Viu os absurdos da Europa?

condições de perdoar, mas também não temos condições de dizer: vamos apagar isso. Foi assim e nós sabemos. A minha tarefa é nunca mais permitir isso. Há tanta coisa que continuamos a ignorar, coisas que não nos deixam saber, e vivemos num regime de acomodação.

Pergunta: A acomodação explica o que se está a passar politicamente em muitos lugares?

Resposta: Acho que sim.

Entende a Europa? O populismo na Europa? A elite também abandonou o povo. Porque é que vou ser muito mais severa com o Brasil? O mundo de hoje precisa de grandes estadistas, e não os temos.

Pergunta: O escritor pode fazer o quê?

Resposta: Coitado, ter consciência já é muito. Mas escrever. E, se puder, falar quando necessário. Mas a tarefa principal do escritor é escrever bem.

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POESIA

LUÍS LAÉRCIO GERÔNIMO

E SE NÃO HOUVER AMANHÃ?

Enfrente os seus temores, supere seus dissabores

E viva uma vida sã

De que adiantará às flores

Se lhe faltarem os odores

Se não houver amanhã?

Diga sim aos amores

À alegria, às dores

Às coisas boas ou vãs

Aproveite o que lhe está diante

Não espere por algo distante

E se não houver amanhã?

Viva uma vida pulsante

Faça valer cada instante

No frio ou coberto de lã

Viver é gratificante

Agradeça cada instante

E se não houver amanhã?

A vida é, meu amigo,

Um tanto de prazer e perigo

Um misto de fel e hortelã

Por cima de medo e perigo

Grite ao mundo “Eu vivo”!

Pois pode não haver amanhã.

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RESENHA

ENÉAS ATHANÁZIO

NERUDA E O BRASIL

Pablo Neruda (1904/1973)

tinha fascinação pelo Brasil, sentimento sempre retribuído pelos incontáveis leitores brasileiros que conquistou. Ricardo Neftali Reyes y Basoalto, nascido em Parral, no Chile, adotou em 1920 o pseudônimo pelo qual ficou conhecido em todo o mundo, vinha ao Brasil sempre que podia e cultivava com carinho uma fraterna amizade com Jorge Amado e Zélia Gattai, dos quais era compadre e fora companheiro nos tempos de exílio na Europa. A célebre casa do Rio Vermelho, em Salvador, onde residia o casal de escritores, guardou muitas marcas da presença do poeta chileno, sua personalidade exuberante e os ecos da sua voz em costumeiras declamações dos próprios versos. No livro “A casa do Rio Vermelho” (Record – Rio/S. Paulo – 1999), contendo uma parcela das memórias de Zélia Gattai, as

referências ao poeta são frequentes, como em outros livros da autora. Num dos capítulos mais interessantes, relata ela que Neruda foi à Bahia com o evidente propósito de se despedir. Ele pressentia que o fim estava próximo. Logo de chegada, pediu que não perguntassem por ninguém, pois “estão todos mortos e somos dos raros que ainda estão vivos.” Apesar desse começo lúgubre, a visita foi alegre e descontraída. A notícia de sua presença se espalhou e a casa se encheu de escritores, poetas, artistas, músicos, jornalistas, gente

da área cultural. Neruda declamou, com sua voz pausada, Matilde Urrutia, sua mulher, cantou uma canção com letra de Neruda: “Principe de los caminos, hermoso como um clavel, enbriagador como el vino, era dom José Miguel...” E todos puderam desfrutar com liberdade da companhia daquela figura carismática que parecia estar em casa sempre que vinha ao Brasil. Organizaram à sua revelia um recital de poesia na Escola de Teatro e um encontro na Ordem dos Trovadores aos quais ele compareceu, declamou, falou à multidão de

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admiradores, conversou e autografou. Repentistas e trovadores o saudaram em versos de improviso que muito o encantaram. Mesmo tomando algumas notas em cadernos, Neruda afirmava que não escreveria suas memórias. “Um livro de memórias jamais tem fim. A vida continua. Novos fatos vão acontecendo...” – dizia ele, longe de imaginar que um dia seu livro de memórias seria dos mais lidos de toda sua obra. Foi Matilde, após a morte do poeta, quem organizou os originais e, driblando os perseguidores, conseguiu levá-los para a Venezuela, onde se transformaram em “Confesso que vivi”, uma das mais fascinantes autobiografias de toda a literatura. No Chile, o país natal, a polícia de Pi -

nochet movia encarniçada perseguição ao poeta, mesmo tendo ele falecido poucos dias após o golpe. Uma perseguição que prosseguiu após a morte, tanto que o sepultamento do poeta foi cercado de imenso aparato policial, como se temessem que pudesse reviver e colocar em perigo a ditadura recém-estabelecida. A notícia de que Matilde Urrutia organizava os originais das memórias do poeta provocou uma constante vigilância em sua casa e foi espionada até mesmo quando esteve no Brasil, onde policiais a seguiram desde que desembarcou. São lembranças dos momentos negros em que as ditaduras grassavam na América do Sul, inclusive no Brasil.

“Confesso que vivi” e “Canto Geral” estão entre os livros mais lidos de Neruda. A L&PM Pocket vem publicando as obras do poeta em livros de bolso, contribuindo assim para a sua maior divulgação. Neruda foi dos raros escritores latino-americanos a receber o Prêmio Nobel e tem uma legião de admiradores em todo o mundo. Suas casas, em especial a de Isla Negra, atraem milhares de curio -

sos. A implacável perseguição que sofreu em seu país de nada adiantou. Enquanto os perseguidores desapareceram da memória coletiva, a dele está cada vez mais viva. (09/09/09)

Neruda está de volta ao noticiário. Uma equipe de cientistas investigadores submeteu os restos mortais do poeta a minuciosa análise e concluiu, sem sombra de dúvida, que ele foi envenenado e que a causa mortis não foi câncer da próstata como alardeava a imprensa censurada da ditadura chilena. Foi mais uma vítima do tenebroso Pinochet, um dos ditadores mais sanguinários da América Latina e mais um marco entre suas múltiplas atrocidades.

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SAUDADES

ADIR PACHECO

PARTIDA

Colore a derradeira amarra das sombras do coração. Deixa-me partir no silêncio da alva plenitude.

Que minha ausência estenda sobre o teu deserto, o sol que fui e sou no sopro do acaso a florescer entre os mitos.

E nossos gestos dentro da noite não se apaguem na memória das sombras.

Então minha partida será triunfal, no canto das renúncias dominando o meu destino.

No dia 12 de fevereiro o nosso poeta guerreiro e gentil Adir Pacheco (Lauro Muller –SC), nos deixou. Poeta dos bons, com seu canto, em verso e prosa encantou seus leitores e expectadores. O artista plural, músico, performático, poeta, contista, cronista de 70 anos, foi-se, depois de lutar há alguns anos contra um câncer.

Em novembro, em entrevista à jornalista Andréa da Luz (Plural-ND Notícias), o escritor declarou que “A literatura sempre esteve em mim” e que a inspiração, nascida da leitura dos poemas do escritor angolano Agostinho Neto, o levou já em 1965 aos seus primeiros versos.

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CARTAS DEPOIMENTO SOBRE O LANÇAMENTO DO LIVRO “ESCRITORES DO BRASIL”

Caro Amorim: Inicialmente gostaria de me apresentar dizendo que me chamo Eneida (filha do Dr. Enéas) e que tive a imensa satisfação de comparecer ao lançamento da Antologia junto com a agra-

dos demais Escritores que compareceram ao evento. Fiquei maravilhada e muito feliz que a literatura de nosso estado esteja nas mãos de pessoas como o Senhor, como o meu Pai e demais

dessa obra. Iniciativas como essa me dão a esperança de que cresçam cada vez mais daqui em diante.

O livro é muito bom, a capa do livro é muito criativa e chamativa e as poesias, os contos e as crônicas são de uma qualidade muito grande, com um conteúdo tocante, sensível e esclarecedor. Gostei demais.

Durante a vida literária de meu Pai, em várias ocasiões eu acabei acompanhando-o, mas confesso que fazia algum tempo que não comparecia e consegui sentir e entender mais uma vez porque ele sempre foi tão devotado a esse mister.

Obrigada.

Eu, Dr. Enéas, sua esposa e sua filha, Eneida. Presenças importantes na festa de lançamento da antologia ESCRITORES DO BRASIL.

dável presença do Senhor e

A antologia comemorativa dos 42 anos do Grupo

escritores que participaram

Literário A ILHA e de circulação da nossa revista Suplemento Literário A ILHA já está à disposição na Amazon e no Clube de Autores.

Peça o seu exemplar impresso, procurando em uma das plataformas pelo título: ESCRITORES DO BRASIL.

Muita prosa e muita poesia em mais de 300 páginas.

Eneida

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LORENA ZAGO

POESIA EMOÇÕES!

Observo, ao longe, a exuberância da natureza.

Descortina-se, entre vales e campinas, A histórica sapiência de um rio, que Calmo e sereno segue seu curso.

Em seu leito tranquilo, Arquitetam-se pedras milenares.

Admiráveis paisagens desenham

Encantos a nossa contemplação...

Olhares captam, e sentidos manifestam A paz e o relaxamento interior.

Fazem - se sentir e projetar por todo o ser, Notas músicas promovendo a conexão, Seres e natureza transmutam–se

Em sutis emoções.

Lembranças teimam em suscitar

memórias, De um tempo, de momentos, de um amor...

Lágrimas brotam sem permissão, Do âmago emergem vibrações, Trazendo consigo recordações.

Saudades de um ser

Que, longínquo se faz lembrar. E, no calor das exaltações, A saudade emanar.

A sensibilidade capta

Da natureza, a fluidez, Da ternura, um sorriso, Do amor, um afago. Em meio à natureza, Com candura, permite absorver!

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CRÔNICA

MARIA TERESA FREIRE

AMORES

Amor tem idade para acontecer? Não sei dizer. Creio que apareça em qualquer idade. Para cada um deve ser diferente. Até porque não temos um só amor. Ou temos? Também não sei dizer. Depende de cada um.

Amores aparecem na infância, para várias pessoas. Com outras, acontece na adolescência. Ainda uma porção de pessoas, encontram-no quando adultos. Para mais alguns, na maturidade.

Ah! Os amores da infância! O garotinho que oferece uma florzinha, copia a tarefa da aula

para a amadinha, compra um lanchinho na escola, envia um bilhetinho. A garotinha espera por ele no corredor, fingindo conversar com uma amiguinha. Dispensa olhares pelo canto do olho para saber o que ele está fazendo. Prontifica-se em ajudar na tarefa da escola. Dá um adeusinho tímido quando se despede. Tem pequenas atitudes cativantes que deixam o garotinho enlevado. Assim seguem todos os dias, sorrindo ao se verem. Encantados.

Atualmente, o garotinho, agora sabidinho, envia mensagem pelo celular, mas o resto não

faz. Ainda há os que são realmente infantis, por relatos de mães, avós e tias amigas. O desfrute puro e inocente da infância se perde em debates despropositais sobre cores (azul e rosa), gêneros, entre outros muito mais fortes e piores. Vamos pensar, ou talvez iludir-nos, que ainda hajam crianças, de verdade.

A juventude traz o amor mais apimentado, erótico, com beijos frequentes, intimidade constante e sexo ansioso. Aos namoros que encaminham ao casamento, não obrigatoriamente. À convivência conjugal, melhor dizendo. Seja como for, jovens juntam-se, casam, constituem família. Vivem amorosos, às vezes nem tanto. Amor sincero aparece, encanta a vida, deixa uma marca indelével e lembrança para sempre. Mais de um amor pode aparecer. Não tem que

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ser um só. Na maturidade? Amor igual! Empolgante, envolvente. Dá um novo fôlego. É companhia. Anima para se realizar novos passeios, para se inventar o que fazer. Repetir o que se gosta: um filme, um concerto, um show, um almoço, jantar, café e por aí vai. É difícil encontrar esse amor maduro? Pode ser

para alguns, pode não ser para outros. Na realidade, não há matches perfeitos. Uma boa conexão, entendimento, um carinho amoroso, um sexo prazeroso, dão um alento para se usufruir momentos da vida. E como não há perfeição, deve haver aceitação, compreensão. Ninguém é como queremos que seja. Não somos

como os outros querem que sejamos. Entretanto, podemos ser um pouco do que o outro deseja e podemos ter um pouco do que almejamos. Temos que saber escolher? Ou acontece sinergia, empatia? Acredito que isso aconteça. Olhamos alguém e dá um clic, ou melhor, um sentimento diferente, um interesse diferente. Explica-se?

Não. Percebemos um despertar de algo que mexe com a gente. Dá vontade de abraçar, beijar, estar junto. Diversas vontades. A conexão se estabelece, a relação avança para um namoro, uma vida a dois ou uma bonita amizade.

Ah! Amores! Que bem fazem à vida!

REVISÃO DE TEXTOS

E EDIÇÃO DE LIVROS

Da revisão até a entrega dos arquivos prontos para imprimir.

Contato: revisaolca@gmail.com

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POESIA

IRACEMA FORTE KAINGANG

MÃE

Faz tanto tempo que movimentas a terra junto às raízes amadurecendo frutos.

Faz tanto tempo

Sinto seus carinhos nos cabelos como brisa.

Seu perfume pólen de flores...

Abraço amoroso no crepúsculo choroso. Beijos de pássaro...

Sorrisos que chegam como vento, cheios de esperanças.

Faz tanto tempo

Ouço sua voz doce misturando-se às folhagens iluminando as estrelas.

Faz tanto tempo mãe

Corro com as águas dos rios, correntes incertas espumas, nuvens...

Sonho vida e cores.

Ninguém pode ver minha alma, choro e rio de felicidade.

A vida tem cores só assim posso me conter!

Saudade mamãe...

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CRÔNICA

EDLTRAUD ZIMMERMANN FONSECA

NAIR DE TEFFÉ - PARTE II

“Em vez de valsa, a elite vai mesmo de maxixe.”

( Nair de Teffé )

Já escrevi, nessa revista virtual, sobre o namoro e o casamento de Nair de Teffé com o presidente da República Marechal Hermes Rodrigues da Fonseca.

Hoje escreverei sobre Nair de Teffé, como primeira Dama do país e o seu comportamento em sociedade no Palácio do Catete.

Com esta primeira Dama, esposa do Presidente, o

Palácio Presidencial do Catete deixou de ser um Palácio tradicional, cheio de regras e comportamento, como fora com os Presidentes e primeiras Damas anteriores. Os saraus que promovia eram famosos e causaram muitas polemicas . Conta Nair: “Ao abrir os salões do Palácio do Catete para receber nossos amigos e parentes, abri-o como se fosse a sala de visita da nossa casa, gastando o mínimo possível.” Nair continuava: “O Marechal Hermes era amigo e admirador do Catulo da Paixão Cearense e pedia-me para convidá-lo a participar de um de nossos saraus. Uma noite de maio de 1914 reuni um grupo de amigos para um recital de modinha interpretada por Catulo da Paixão... Graças aos aplausos daquela noite memorável, o violão irmanou-se nos salões da sociedade carioca, ao violino, violoncelo, e piano.” E Nair continua

sua narrativa: “Catulo, depois do estrondoso sucesso alcançado no recital no Palácio do Catete, pediu-me para interpretar alguma coisa nossa. Chiquinha Gonzaga compôs para mim o famoso “Corta-Jaca”, um maxixe com partitura para violão e piano. Caprichei um repertório bem brasileiro e convidei amigos para um recital de lançamento do “Corta-Jaca”. No dia seguinte foi aquele Deus nos acuda! A turma do contra usou o Corta-Jaca numa girândola de pilhérias bombásticas contra mim e o Marechal, numa campanha injusta e abominável, sob a batuta do oráculo do civilismo. A nossa música tem as suas origens e raízes na dança e cânticos dos escravos; sua adoção na sociedade era quase impossível. Havia uma onda de preconceitos contra as serestas, xotes e maxixes. Rui Barbosa aproveitou o lançamento do “Corta-Jaca”,

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Nair de Teffé – 1970 – imagem internet – Wikipédia

Nair de Teffé sem data definida . para inserir nos anais do Senado a sua costumeira verborragia na sessão do dia 11de novembro de 1914, babando contra mim a sua orgulhosa catilinária (acusação veemente) de insopitável (incontrolável) ódio ao governo. As pedras que ele me atirou só serviram para assinalar a luta que enfrentei

contra os governantes.“ Leitores amigos este foi o depoimento da Primeira Dama do País Nair de Teffé em 1914.

Talvez tenha sido a sua coragem e também determinação na qualidade de mulher e de ser a Primeira Dama do país que fizeram dela a única esposa de Presidente da Republica Velha conhecida e amada, fazendo com que os historiadores dela se lembrassem registrando seus feitos divulgando a arte e a música brasileiras.

Nair de Teffé Von Hoonholtz nasceu em 10 de Junho de 1886 em Petrópolis, Rio de Janeiro, e faleceu em 10 de Junho de 1981 na cidade do Rio de Janeiro. Foi a segunda esposa do Marechal Hermes da Fonseca, 8º Presidente

do Brasil.

Essa extraordinária mulher, foi pintora, caricaturista, musicista, atriz e escritora brasileira que abrilhantou os círculos sociais de sua época. Quando vocês, leitor e leitora amigos, forem ao Rio de Janeiro, não deixem de visitar o Palácio do Catete. Em seu interior fervilha a nossa história, pois hoje, o Palácio das Águias no Catete é o Museu da República.

Entre muitas preciosidades históricas conserva-se intacto o quarto onde o Presidente Getúlio Vargas, conhecido como o “Pai dos pobres “, disparou o revólver contra o peito o que lhe tirou a vida.

(*Fonte de pesquisa: Nosso Século –Editora Abril.)

O livro PORTUGAL, MINHA

SAUDADE , seleção de crônicas sobre diversas viagens do autor à terra de Pessoa, também está disponível para compra no formato e-book na Amazon.

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Viaje por Portugal através das crônicas desta obra.

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POESIA

SELMA FRANZOI AYALA

LANTERNAS DO TEMPO

Cruzar portais do tempo

Enfrentar desafios

Em busca de luz, paz e sabedoria

Crer que uma transformação

Jamais ocorre em frações de segundos

E que nas mãos do tempo

Estarão respostas

Das lições recebidas, preservadas, Esquecidas ou reconquistadas

Ao longo do caminhar…

Lanternas do tempo

Que se acendem sobre nossa consciência

Como reflexos de emoções

Iluminando nossos corações…

Portal da esperança

Vitrais de luar

A quietude da noite que vai chegar Com o silêncio do tempo…

Marcas do passado

Passagem do tempo

Lanternas do tempo

Eco na noite que se esconde do tempo

A quietude da noite que vai chegar Com o silêncio do tempo…

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CRÔNICA

TAMARA ZIMMERMANN FONSECA

NA HORA DA LENTA ....

dança, pendurado, enorme globo que girava sobre nossas cabeças, com efeitos luminosos formando visuais incríveis! Era o strobo, a maioria o chamava de strobus, era um frenesi danado quando a música tocava e todos iam para a pista! Os passinhos de dança eram muitos, havia o cut-cut, onde os jovens batiam os quadris juntos no embalo do ritmo. Alguns casais de namorados dançavam juntos passinhos copiados dos filmes americanos, tudo tão divertido!

Eram os anos das discotecas, a disco tocava em todos os lugares, os jovens dançavam ao som das divas internacionais. Donna Summer, Diana Ross, Glória Gaynor, os grupos Santa Esmeralda, Jackson Five e ABBA, também, embalaram nossas domingueiras no Clube de Regatas Tietê. Época

também dos bailinhos, que eram quase sempre nas casas das famílias para celebrar datas de aniversário por exemplo, inclusive papai e mamãe sempre estavam presentes se divertindo com a garotada, quando a festa era em nossa casa!

Os salões eram coloridos. No meio da pista de

Bee Gees mexia com todos, ninguém ficava sem se movimentar, desde o mais tímido até o mais animadinho dançarino!

Papai nos levava para a domingueira do Tietê. Eu, minha irmã Tatiana e nossas amigas chegávamos animadas para o baile e algumas vezes havia show com cantores nacionais e internacionais. Tivemos a oportu -

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nidade de ver ao vivo e a cores muitos artistas renomados que estavam no auge do sucesso! Quando descíamos da Kombi, papai combinava o horário para estarmos prontas pra voltar pra casa e que ele estaria na porta do clube nos esperando. Em fila, mostrávamos nossos documentos, tudo certinho. Entrávamos no salão felizes e sorridentes. Sempre gostamos de dançar e de nos divertir.

Dentro do salão havia grupinhos formados, assim como nós e nossas amigas. Ficávamos juntas curtindo toda aquela alegria de estarmos lá. A maioria se conhecia, eram tempos divertidos e bem tranquilos, não havia muitas preocupações, como “batida batizada” ou algo parecido. Durante a domingueira, claro que a gente paquerava, olhava, sorria, disfarçava os olhares. E quando a disco dava lugar para a música lenta... Aí era a hora de tensão! Será ele que vem me tirar para dançar? Será ele que sabe dançar? Será que ele é cheiroso? Será

que ele é legal?

Assim que as luzes diminuíam, a música lenta de Lionel Richie, Marvin Gaye, Elton John tocava e nos encantava. O garoto vinha em nossa direção, nos tirava para dançar, bem juntinhos, rosto com rosto, nossas mãos sobre os ombros dele e as mãos dele em nossas cinturas, nos entregávamos ao ritmo lento. Bom quando o jovem sabia dançar e não pisava no pé. Nossa maior preocupação, caso acontecesse, já o tirávamos da lista de possíveis paqueras! Podem acreditar que não havia

malícia alguma, caso o jovem soubesse dançar, a música parecia que tocava apenas alguns segundos, já se fosse ruim de dança, durava uma eternidade! Socorro! Hoje, lamento muito que os jovens não tenham nem ideia do que é dançar uma música lenta. Outros tempos eu sei. Eu lamento que não saibam como é gostoso. Terminada a música lenta, nos levava até o grupinho e a turma queria saber das novidades, se dançava bem, quem era, de onde era, essas coisas de jovens. Jovens dos tempos da discoteca.

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POESIA

ELOAH WESTPHALEN NASCHENWENG GOSTO DE TE VER ASSIM

Gosto de te ver assim com esse sorriso aberto, dançando com a música no olhar, pelos caminhos do teu destino.

Tudo tão simples!

Pedaços de sonhos, de esperança, bravura e desamor. Metade brisa, metade orvalho e muita ventania a desalinhar.

Gosto de te ver assim desafiando o tempo, às vezes rio, às vezes lago, por vezes ruidoso, outras opaco, como dias sombrios, mas sempre em busca da tua luz.

É como dormir agasalhado nessa forma tranquila de viver. És infinito, teu limite é o mundo. queres mais, sempre mais...

Eternizo-me nesse teu caminho.

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CRÔNICA

HARRY WIESE

NO POUSO INDAIÁ

– Junte mais lenha na fogueira, o fogo não pode apagar! – Foi assim que o velho caboclo, um açoriano fugitivo do litoral catarinense e por algum tempo domiciliado no Carijós, aconselhou o forasteiro Nemias a proceder para que não fossem surpreendidos pelo frio e pela escuridão. Era um pouso de céu aberto com cobertura de coqueiros indaiás e estrelas. Os fugitivos, na época, para não serem convocados para brigar com paraguaios, haviam se estabelecido nas imediações do faz do Rio Benedito, mas com a chegada dos imigrantes alemães, poloneses e italianos, a maioria vendeu seus pertences e retornaram ao litoral ou se misturaram aos imigrantes nas várias colônias que estavam em vias de formação no Vale do Itajaí.

Anastácio era o nome dele. Fugido de Porto Belo e desmaterializado do Carijós, pôs-se vagar pela mataria das redondezas,

onde houvesse motivo para contemplar.

Nemias olhava em direção da mata, na boca do picadão. Esperava a comitiva com a encomenda de carne de sol.

– Já é tarde, eles não vêm hoje! – confidenciou o sabido Anastácio.

Nemias, decepcionado, não tinha opção. O destino era permanecer ali perto da fogueira no descampado à espera da luz do dia.

– Achegue-se e experimenta a “branquinha”, especialidade do canoeiro Benedito.

– Fiz pedido de carne de sol do planalto. Atrasou, a distância é grande e deve ter ocorrido mula doente ou dispersão de gado.

Anastácio ajuntou cocos debaixo dos indaiás até onde a luz da fogueira alcançou e jogou-os no braseiro da fogueira.

– É pro fogo da noite? –Não, forasteiro Nemias, é pro jantar. Em pouca demora iniciou-se o baque-baque de pedra e os cocos se des -

pedaçaram com a incrível manipulação de Anastácio, que logo continuou sua falação quase filosofal:

– Sou da terra, sou da floresta, sou do rio! Sou matuto, sou caipira, sou roceiro. Não se aflija, amigo forasteiro, sou do bem e não causo malefício nem à bicharada, sou a voz que não se ouve, sou a voz dos rios e da selva.

Nemias, ainda com o gosto de amêndoas torradas e aguardente na boca, ouvia com atenção. Não estava acostumado a escutar tamanha sabedoria.

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– E digo mais, forasteiro: não tem rio, riacho e ribeirão que eu não conheço. Eu sou o mapa e a geografia. Tudo o que se vê e tudo o que não se vê é mato forte com onças e índios; cobras, escorpiões, bugios: bichos e passarada em abundância! É a natureza não tocada! Patrimônio por excelência.

Nemias voltou a colocar alguns pedaços de lenha e folhas de coqueiros caídas para iluminar mais o pequeno pouso. Chupou a polpa amarelo-alaranjada de alguns cocos indaiás. O tempo era próprio para ouvir histórias. Impressionou-se ainda mais com a fala de Anastácio.

– Meu povo foi dispersado, no Rio Morto – continuou – por bem ou por mal, ou por não saber reagir, ou por medo, foi para outras plagas e eu estou aqui sozinho, neste lugar solitário, mas abençoado: minha cama é

de folhas de palmeiras e o teto é o céu estrelado, com bênção do Cruzeiro do Sul. – Não tem mais ninguém, Anastácio? Não tem família e amigos? – Tenho gente diferente e tão boa como os fugitivos para não ir à Guerra do Paraguai. Sou amigo do cacique e de sua gente. Falo como eles e vivo como eles. Eles cuidam de mim e eu cuido deles. Nemias continuou admirado.

– Não se avexe, camarada! Tenho minhas convicções e sei o que vem com o tempo. A floresta vai dar lugar à fartura. Tudo será habitado e plantado. Toda picada será estrada. Todo filete d’água vai virar bairro ou comunidade. Para não dividir a cidade serão construídas pontes sobre o grande rio. Pontes vão ligar as diferenças e os indaiás, nossos frutos, minguam, mas vão se tornar nome de cidade. É a sina e o de -

sígnio. Não se pode lutar contra prognósticos e predições. Que se concretize então a vontade do povo. As conversas rolaram noite a dentro até o sono dominar o cansaço. A fogueira foi apagando aos poucos e o Cruzeiro do Sul escondeu-se atrás das montanhas. Nemias acordou com os primeiros raios do Sol aquecendo o Pouso dos Indaiás. Não havia sinal do companheiro da noite. Onde estaria Anastácio? Desapareceu sem deixar vestígio. Teve, então, a impressão de que ele era um vulto e que tudo não passara de uma aparição. Mas por que lamentar o sumiço de Anastácio, se logo um tropeiro veio ao seu encontro?

– Está aqui sua encomenda, senhor! Charque de primeira qualidade do Planalto!

– Muito agradecido! Que Deus lhe pague!

Nemias, ainda viu, logo ali, tropeiros com suas montarias e vasta boiada pastando no Pouso dos Indaiás! Lindo era aquilo! Muito lindo!

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POESIA

MAURA SOARES

VENTO SUL

Ainda ontem soprava o Nordeste, a varrer nuvens de um lado a outro. Hoje o vento sul chega e com ele o frio e a promessa de boa pesca.

Nossos pescadores, nossos manezinhos, cujos ancestrais vieram das plagas lusitanas, aguardam as tainhas grandes, gordas, grávidas com suas ovas, delícia da gastronomia que sua mãe as fazia fritas, crocantes, delícia disputada pela imensa prole.

O vento sul chega e traz o frio neste outono que já vai em meio --- no mês de maio --mês dedicado às mães, às mulheres. Mês que moçoilas --- umas sim, outras nem tanto ---casadoiras (que termos arcaicos!!!) fazem promessas de amor aos seus amados e juntos, diante do padre ou do pastor, declaram seu amor “pra sempre”.

“Sempre” - de onde surgiu esta palavra, pois que o “sempre” não existe no universo do amor?

O que existe é o aqui e o agora, é o viver o dia a dia.

Ninguém vive para sempre a não ser pelas obras que deixa, que perduram ao longo das existências dos que ficam --- filhos e netos --- se houverem, perpetuando a obra “para sempre”.

E o vento sul chega nesta madrugada a deixar a esperança no coração do pescador para uma nova safra.

Dependendo da quantidade pescada, virará manchete nos jornais.

Dependendo de quem ficou na vigília sobre uma pedra no Pântano do Sul, por exemplo, virá excelente cardume.

E o vento sul sopra de leve na madrugada

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a despertar a mulher que, se puder, voltará a dormir por mais uma hora, talvez, ou pegará a caneta e escreverá estas linhas num exercício diário fomentado por pensamentos que viajam ao encontro do amado.

Ontem sentiu dor no braço direito. O que será isto, pensou, não fiz esforço!?

Ah, lhe disseram, é o vento sul, não tens uma platina por causa do acidente?

O que? Então é isso?

Mas a dor passa, pois não fica ruminando...

E o vento sul sopra trazendo, quem sabe, a promessa de um encontro, carregando, quem sabe, os pensamentos do ser amado que um dia disse “vou te visitar” e “juntos nos completaremos na dança do amor”.

E o vento sul sopra, devagar, embalando as emoções.

“Vento, velho vento vagabundo”, do poeta Cruz e Sousa.

“Vem vento, vem, vem do mar”, de Osvaldo Melo.

“Vento que assanha os cabelos da morena”, de Caymmi.

Ah, vento, como a mulher anseia pelo amado que não chega, como a mulher se debate na cama à espera da promessa...

E o vento sopra de madrugada e ela espera como o pescador o “lanço” da tainha que virá para alimentar muitas bocas; ela espera com sua boca ávida de desejo de pousar nos lábios do amado o beijo carregado como as redes que trazem, das marés, o Amor e que elas venham, como o vento, cheias de alimento para o pescador.

E o vento sopra e ela já desperta para mais um dia, faz a contagem regressiva do encontro, ela espera como o pescador ilhéu sobre uma pedra a divisar o alimento.

Aqui, na areia da praia, ela recebe o vento que trará o AMOR para alimentar seu ser desejoso do carinho do amado, desejo das carícias, desejo da companhia...

E o vento sul sopra na Ilha, na bela Ilha e ela espera...

O vento...

(4.5.2010, 5h45min – madrugada)

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CRÔNICA

SÔNIA PILLON

OS FILHOS CRESCEM

Mãe remete à proteção, aconchego, carinho, zelo... Estou falando dessa relação especial, única, que começa durante a gestação, se estende por nove meses, culmina com o nascimento de um ou mais filhos, e cria laços indestrutíveis, para o resto da vida. Quem já não ouviu a frase “existe ex- marido, ex-namorado, mas não existe ex-filho”?...

Eles crescem, chegam à adolescência e depois se tornam adultos. Como os pássaros, ganham asas e voam, em busca do próprio caminho... Mas a ligação entre uma mãe e seus filhos sempre existirá! E é por isso que existem os almoços e cafés de domingo, em volta de uma grande mesa, onde as famílias se reencontram, confraternizam, riem, choram, brigam, fazem as pazes...

Ao ver um menino brincando na areia do praça, com pá e baldinho, fico lembrando de um tempo

que passou. Qual mãe não se sente feliz ao assumir o papel da “Mulher Maravilha” para seu filho, sempre pronta para atender seus pedidos? Ou uma leoa, capaz de defendê-lo com unhas e dentes dos perigos, e provê-lo para que nada falte? Lembro dos desafios, das dificuldades para educar e dizer “não”... Porque o mundo é cruel, implacável para os que não estão preparados a enfrentá-lo! Ah, e não existe um manual para ensinar “Como ser uma mãe perfeita”... Aliás, quem disse que

mãe tem que ser perfeita?!...

Eles crescem, chegam à adolescência e depois se tornam adultos. Como os pássaros, ganham asas e voam, em busca do próprio caminho... A mãe do menino da praça levanta do banco e se aproxima. Em seguida, fala rapidamente com ele, promete um sorvete e ambos vão embora, interrompendo minhas reminiscências e me trazendo de volta à realidade... Cada época tem suas preocupações, e para um coração de mãe, um filho

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sempre será aquele meni - no dependente e carente

de atenção, que pedia colo e queria ouvir histórias, antes de dormir... Mas, o tempo passa. Precisa passar! Faz parte... Assim como também faz parte eles fazerem suas próprias escolhas e formarem suas próprias opiniões. Eles crescem, chegam à adolescência e depois se tornam adultos. Como os pássaros, ganham asas e voam, em busca do próprio caminho...

Sônia Pillon é jornalista, escritora, cronista e criadora de conteúdo digital. É formada em Jornalismo pela PUC-RS e pós-graduada em Produção de Texto e Gramática pela Univille. Atuou em veículos do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. No jornal A Notícia, na sede de Joinville, de 1993 a 1994, e na sucursal Jaraguá do Sul, de 1998 a 2009. Também trabalhou em veículos de circulação regional no Vale do Itapocu. Nascida em Porto Alegre, está radicada em Santa Catarina desde 1993, e em 1996 mudou-se para Jaraguá do Sul. Fundadora e Presidente de Honra da ALBSC Jaraguá do Sul, integra a Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil (AJEB-SC) desde 2022. É colunista aos domingos no jdv.com.br. Livros de autoria: Crônicas de Maria e outras tantas - Um olhar sobre Jaraguá do Sul, 2009; Encontro com a paz e outros contos budistas, 2014; Um olhar diferente para a vida - Os 35 anos da Rede Feminina de Combate ao Câncer de Jaraguá do Sul, 2022. Participa periodicamente de antologias desde 2007. A partir de 2009 passou a publicar contos e crônicas no Suplemento Literário A ILHA, do Grupo Literário A ILHA, em edições impressas e on-line.

REVISÃO DE TEXTOS E EDIÇÃO DE LIVROS

Contato:

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MARLI LÚCIA LISBOA (BULUCHA) POESIA

CANSAÇO

sentimentos estão à deriva.

Meu olhar que atravessa a janela Mostra outros caminhos, uma tentativa De sonhar colorido, feito aquarela.

Vontade como sangue nas veias. Alimentando desejo sem fim. Amor reprimido, preso em teias Que em mim nasce e morre em ti ...

Com alguém, mas só comigo estar. Reclusa, isolada sem toque de mão. Braços estendidos sem poder te abraçar Um gostar, sem abraço, um querer de ilusão!

Lágrimas suspensas de uma alma cansada.

Encontro de um aconchego ausente.

Há uma tristeza de uma alegria passada, De um sentimento de gostar que não está presente!

É assim, do amor sem saberes amar Há um aqui e agora no caminho que traço. No isolamento contigo que estou a passar Não conseguires amar, me envolve um cansaço!

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ROSELENA DE FÁTIMA NUNES FAGUNDES

POESIA PAIXÃO ENLUARADA

A lua apaixonada vive na ilusão, de ser correspondida por uma paixão!

Eu vivo de paixão pela vida apaixonada, levo no coração, a certeza de enamorada!

A lua como eu, vivemos apaixonadas, cada uma com o seu, nos sentimos enamoradas!

Roselena de Fátima Nunes Fagundes, nascida em São Gabriel/ RS e radicada em Camaçari/ BA. Formada em Pedagogia (UDESC) e especialista em Psicopedagogia (CESUMA), genealogista, feminista e escritora. Coautora de várias Antologias. Autora do livro Sentimentos em poesias. Membro da Acadêmica da APUCNI - Academia Popular

Cultura Integración, da Academia

Internacional de Literatura

Brasileira – AILB - FOCUS

BRASIL NY e da AVALAcademia Virtual de Arte Literária. Seus poemas são publicados em diversos site s, antologias, revistas, blogs e redes sociais.

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LANÇAMENTO

ELSE SANT'ANNA BRUM LANÇA NOVO LIVRO INFANTIL

A escritora joinvilense

Else Sant'Anna Brum lançou seu sétimo livro infantil no sábado, 06 de maio, em sessão de autógrafos na Biblioteca Pública Municipal Pref. Rolf Colin, em Joinville. "Histórias de Sonho e Despertar" (Editora Areia, 56 pgs, 2023) chega ao mundo às vésperas de a autora completar 87 anos de uma vida dedicada à educação e à literatura,

com uma nova coletânea de contos divertidos e inspiradores.

Nesta obra, Else reúne cinco histórias publicadas em um jornal de Joinville nos anos 2000 e 2010, época em que mantinha uma coluna periódica em um suplemento infantil e também publicava na revista Suplemento Literário A ILHA, do Grupo Literário

A ILHA, do qual faz parte,

sendo um dos membros fundadores. Nesta coletânea, ela apresenta aos jovens leitores conhecimentos pré-históricos em "O Dinossauro do Capoeirão", fala sobre as engenhosidades possíveis para a realização dos objetivos em "O sonho de um velho peixe" e brinca com a imaginação em "Quem Canta os Males Espanta", "Jujuba e Picolé" e "A História que Jujuba Contou".

"Estou resgatando as histórias em livros, para não deixá-los esquecidos em páginas de jornal que não podem mais ser lidas. E o conto é sempre atual, então mesmo que tenham sido escritos há uma década, podem ser lidos da mesma forma ainda hoje˜, explica a autora.

A trajetória de Else na literatura infantil iniciou nos anos 1980 quando ela, já com uma carreira consolidada na educação – foi professora alfabetizadora e diretora de escolas públi -

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cas municipais de Joinville – conquistou uma premiação em um concurso do Governo do Estado de Santa Catarina e publicou "Miguelito Pirulito". Em 1992, publicou seu maior sucesso, "Cri-Cró", seguido por "Retetéu" (1994) e "Serelepe" (1994).

O trabalho de "salvaguardar" sua obra tem feito com que os últimos anos tenham sido intensos na carreira da escritora. Ela lançou "Cri-Cró e outras Histórias" em 2019 e "1, 2, 3, Era uma Vez" em 2022, ambos pela Editora Areia, de Joinville, e com ilustrações de Michelline Móes, que volta a ser responsável por dar forma aos personagens nesta nova obra.

E Else não pensa em parar: além dos contos já editados para o antigo suplemento joinvilense, há muitas

histórias ainda não publicadas que ela pretende lançar em coletâneas nos próximos anos. Enquanto isso, prepara-ses para a Feira do Livro de 2023, no Expocentro Edmundo Doubrawa em Joinville da qual participará ativamente todos os dias e onde es -

tará autografando sua obra dia 03 de junho às 11hs da manhã. Neste período aproveita para reencontrar antigos alunos e leitores, que muitas vezes levam filhos e até netos para conhecer a mulher que os fez amar a literatura. Mesmo atravessando gerações, seus livros seguem sendo sucesso de vendas.

"O segredo é gostar de contar histórias para criança e saber levá-la para o mundo da fantasia. Não existe criança que não goste de histórias, mas não adianta contar aquilo que ela já vê todo dia. É necessário ir além, e criar um mundo de imaginação, seja com a aparição de um dinossauro na vizinhança ou com peixes que falam", analisa.

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REPORTAGEM FEIRA DO LIVRO DE LISBOA

local de encontro ideal para as várias gerações se relacionarem com a literatura, o livro, e os escritores.

O GRUPO LITERÁRIO A ILHA

Começou em Lisboa um dos eventos literários mais importantes da Europa. A Feira do Livro de Lisboa, situada no Parque Eduardo VII, um evento anual insubstituível na programação cultural da cidade de Lisboa.

Após três anos forçada a realizar-se fora do seu calendário habitual, a Feira regressa ao parque entre os dias 25 de maio e 11 de junho. Esta edição conta com 981 marcas editoriais representadas por 139 participantes, distribuídos por 340 pavilhões e

um renovado Espaço dos Pequenos Editores. A programação cultural é o ponto alto do evento. A presença de vários autores internacionais, incluindo brasileiros, e a realização de mais de 2000 eventos, tornam o Parque Eduardo VII o

O Grupo Literário A ILHA está presente na Feira do Livro de Lisboa com a participação de um de seus membros mais importantes, a escritora portuguesa Dulce Rodrigues e seu fundador e coordenador Luiz Carlos Amorim. Ela esteve autografando vários de seus livros no primeiro dia da feira. Dulce Rodrigues escre -

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NA FEIRA

veu duas dezenas de livros infanto-juvenis (alguns publicados noutras línguas, como em chinês, inglês, francês, alemão, etc.), dois livros de viagem e uma novela. Participou em diversas antologias internacionais e escreve em vários jornais e re -

vistas. Autora premiada nos Estados Unidos e em concursos literários na Europa, Dulce Rodrigues fala seis línguas vivas e traduz muitos dos seus próprios livros. Algumas das suas peças de teatro juvenil foram representadas no estrangeiro. O presidente do Grupo Literário A ILHA, Luiz Carlos Amorim, com Dulce na foto, também autografou seus livros Diário da Pandemia e Portugal, Minha Saudade no stand do Brasil. Amorim está morando em Lisboa, neste ano de 2023 e continua o trabalho literário desenvolvido no Brasil, publicando as duas revistas do grupo, esta Escritores do Brasil e Suplemento Literário A ILHA. E aproveita para divulgar a literatura brasileira na Europa e a literatura portuguesa no Brasil.

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Escritora Dulce Rodrigues com Luiz C. Amorim Luiz Carlos Amorim autografando na Feira do Livro de Lisboa.

LANÇAMENTO NA FEIRA DO LIVRO DE JOINVILLE

O livro FILHOS DO CAMINHO conta a história da Comunidade Eis-me Aqui, que auxilia pessoas em situação de rua e famílias em vulnerabilidade social. Contém relatos dos que ain -

da vivem nas ruas, de quem já superou, de voluntários, que dão exemplo de vida, e outros textos visando evolução interior. A obra será toda doada para a Comunidade Eis-me Aqui.

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