Revista Conecthos 13

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13 REVISTA DO HOSPITAL DONA HELENA

A VIDA EM SUAS MÃOS

Atos simples como o reforço à higiene pessoal estão sendo disseminados intensamente para combater o novo coronavírus. Saiba como Joinville reagiu à pandemia

IMPRESSÃO 3D NA ORTOPEDIA 6 Como lidar com a saudade em tempos de isolamento social 14 O MUNDO DO TRABALHO EM PERMANENTE MUDANÇA 18 A Era Digital e a condição humana 25 DESINFORMAÇÃO E CORONAVÍRUS 26 O livre arbítrio nas decisões médicas 28 TECNOLOGIA APROXIMA QUEM ESTÁ LONGE SEM DISTANCIAR QUEM ESTÁ PERTO, AFIRMA ESPECIALISTA 35 Acompanhe a coluna da SBB/SC 40



Nesta edição

Os impactos da pandemia

Accredited by Joint Commission InternationalTM

Associação Beneficente Evangélica de Joinville/ Hospital Dona Helena Rua Blumenau, 123 Centro – Joinville/SC CEP 89204-205 (47) 3451-3333 www.donahelena.com.br Revista Conecthos é um projeto do IDHEP – Instituto Dona Helena de Ensino e Pesquisa – Núcleo Editorial ISSN: 2358-8217 Circulação: junho de 2020 Coordenação geral: Carlos José Serapião Conselho editorial: Ana Ribas Diefenthaeler, Antonio Sérgio Ferreira Baptista, Gizele Leivas Marketing e Comunicação HDH: Gizele Leivas Editores associados: Bruno Rodolfo Schlemper Jr., Christian Ribas, Maria José Varela, Fernando Hellmann, Nelma Baldin, Euler Westphal, Wladimir Kümmer, Paulo Henrique Condeixa de França, Mirelle Finkler, José Carlos Abellán (Espanha), José Luis Fernández Fernández (Espanha) Jornalista responsável: Guilherme Diefenthaeler (reg. prof. 6207/RS) Produção: Mercado de Comunicação Edição: Guilherme Diefenthaeler Reportagem: Marcela Güther, Ana Ribas Diefenthaeler e Guilherme Diefenthaeler Diagramação: Fábio Abreu Fotografia: Assessorias de imprensa e banco de imagens Redação: contato@mercadodecomunicacao.com.br Realização Associação Beneficente Evangélica de Joinville/ Hospital Dona Helena Apoio Sociedade Brasileira de Bioética/Regional Santa Catarina Os artigos publicados correspondem à opinião de seus autores, não expressando o pensamento da direção do hospital. Todas as informações são de responsabilidade dos autores. Direitos reservados. Proibida a reprodução integral ou parcial.

Em sua 13ª edição, a Revista Conecthos traz, na capa, o tema que está impactando o mundo inteiro: o novo coronavírus. A reportagem principal, intitulada “O combate à pandemia na maior cidade catarinense”, mostra como as equipes de saúde estão se preparando e enfrentando a pandemia em Joinville. Os impactos no dia a dia, as transformações nas rotinas hospitalares e a telemedicina como alternativa de assistência médica são alguns dos pontos abordados. O infectologista Luiz Henrique Melo, referência na área na cidade, contribui com reflexões sobre o mundo pós-pandemia. A saudade por entes queridos, provocada pelo isolamento social, é outro assunto desta edição. Ouvimos especialistas nas áreas da psicologia e da neurociência para compreender como o sentimento afeta nossas emoções e nosso corpo. A transformação no mundo do trabalho devido à pandemia também foi tema de reportagem. A matéria reflete sobre profissões que prometem ser tendência no futuro após a Covid-19 e como a nova geração se caracteriza nesse universo. Desejamos uma ótima leitura.

4 Nossa palavra 6 Inovação: impressão 3D para planejar cirurgias ortopédicas

8 O combate à pandemia na maior cidade catarinense 14 Quando o isolamento social é de apertar o coração 18 A transformação no universo do trabalho 24 Diálogos bioéticos 35 Especialista fala sobre Inteligência Emocional na pandemia

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A coluna da SBB/SC


Nossa palavra

Liberdade Carlos José Serapião

Coordenador do Instituto Dona Helena de Ensino e Pesquisa (IDHEP)

A

h, liberdade! Sonho para aqueles que dela privam. Ilusão para os que buscam alcançá-la. Não nos é outorgada, porém nos é oferecida a capacidade de conquistá-la. Refiro-me, não à liberdade coletiva, social, política etc., mas à liberdade interior, sem dúvidas, o mais precioso entre todos os bens humanos. Nossa liberdade individual pode estar ameaçada a todo instante. Um tombo, uma fratura. Um coma diabético, etílico, urêmico. Um acidente vascular cerebral. Parasitas, bactérias e, principalmente, vírus, em seus poderes pandêmicos, podem, a qualquer momento, amputar nossa plena liberdade. Não estamos livres se prisioneiros de nossas obsessões, nossos ciúmes, nossos ódios. Nos deixamos devorar por estes sentimentos negativos, conduzindo-nos ao estresse, com todos os problemas corporais resultantes. Essa liberdade interior não se alcança de modo

definitivo, porém nos é oferecida ao longo da vida e conquistada unicamente por uma via, o trabalho. Não o trabalho sobre objetivos fora de nós, mas sobretudo aquele que executamos sobre nós mesmos. Convidamos os nossos leitores a conquistar sua liberdade interior para, em seguida, refletindo sobre os temas desenvolvidos neste número da nossa revista, tornar criativa a quarentena recomendada. SÓ A solidão é quem inspira o artista A multidão assusta a alma criadora A inspiração afaga o peito que se entrista A criação liberta a ânsia sofredora. A sensação, que alegra a quem conquista A vastidão, que encanta a saga vencedora A sedução, que embaça a pobre vista A redenção buscada pela vida inspiradora. A solução se anula ou é revista A maldição avança, no entanto, perdedora A rendição do mal, garanto, foi prevista. A salvação sonhada, então, aflora A perfeição buscada, quem sabe, não exista A privação de alguém, por certo, ele chora.



“Somos cidadãos do mundo e buscamos melhor qualidade de vida, reconhecimento perante órgãos de saúde, na garantia dos direitos das pessoas com doenças inflamatórias intestinais” Letícia Portilio, presidente da DII-SC

Institucional

Inovação: impressão 3D para planejar cirurgias ortopédicas Desde o início do ano, uma ferramenta inovadora vem sendo utilizada como auxiliar no planejamento de cirurgias ortopédicas complexas por uma equipe do Hospital Dona Helena. Trata-se da impressão 3D, recurso comum no setor industrial. O ortopedista Guilherme Augusto Stirma, especialista em ombro e cotovelo, já trabalha com a técnica, ao lado do também ortopedista e especialista Felipe Baracho, que realiza o estudo digital prévio de cirurgias a partir da impressão 3D e visualiza bons resultados. Todo o planejamento cirúrgico prévio do paciente é feito com a tecnologia, começando pelos exames de imagem, como uma tomografia ou uma ressonância magnética. Os especialistas podem fazer análises gráficas de fraturas, por exemplo, criando moldes digitalmente em 3D, o que resulta em guias operatórios. “Com

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tecnologia própria, consigo criar uma imagem digital, faço um polimento, seleciono o que quero analisar e jogo para um programa de desenvolvimento gráfico, para criar objetos. Com isso, analiso e consigo desenvolver guias e afastadores que ajudam no objetivo da cirurgia”, explica. “Nada que desenvolvo é implantado no paciente. Esse trabalho ajuda a realizar a cirurgia de maneira mais rápida e assertiva: consigo identificar previamente as dificuldades que terei no procedimento cirúrgico.” Stirma lidera uma pesquisa desenvolvida no Centro de Traumatologia do Esporte do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Ele está difundindo a linha de estudo entre outros pesquisadores. “Poucos profissionais utilizam a técnica de impressão e planejamento de guias personalizados”, aponta o médico. “O médico tem que ter curiosidade em tecnologia e dedicação para aprender sobre programação.”


A cor roxa marcou a campanha mundial de conscientização e divulgação das doenças inflamatórias intestinais – doença de Crohn e retocolite ulcerativa –, ao longo do mês de maio. O Hospital

Dona Helena apoiou a ação iluminando sua fachada com tonalidades roxas, durante todo o mês, e com a “live” do médico Harry Kleinübing Jr., iniciativa da Associação de Pessoas com Doenças Inflamatórias Intestinais em Santa Catarina (DIISC). A presidente da DII-SC, Letícia Portilio, ressalta que a missão da entidade, criada em 2016, é divulgar as doenças inflamatórias intestinais, informar pacientes e familiares sobre os direitos das pessoas com DII e como ter acesso aos tratamentos e medicamentos, visando superar as dificuldades. A DII-SC criou uma página no site www.diisc.org.br para divulgar vídeos e textos assinados por profissionais da saúde, pacientes e apoiadores, com orientações e depoimentos.

A importância da detecção precoce de leucemia Reforçar o atendimento no setor de Oncologia é a missão que a médica carioca Ana Carolina Moreira de Carvalho Cardoso, especialista em hematologia e transplante de medula óssea, assumiu recentemente no Hospital Dona Helena. Logo que chegou à instituição, a profissional atuou na divulgação de uma campanha voltada a alertar a população sobre a leucemia, tipo de câncer que ataca os glóbulos brancos e que se inicia na medula óssea. Formada pela Fundação Técnico Educacional Souza Marques (RJ), Ana Carolina tem residência em clínica médica no Hospital da Polícia Militar (RJ), residência em hematologia e hemoterapia no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (UFRJ) e residência em transplante de medula óssea no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (UFRJ). Sobre leucemia, a médica ressalta que a principal característica da doença é a quebra do equilíbrio da produção dos elementos do sangue, causada pela proliferação descontrolada de células. Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), a estimativa é de quase 11 mil novos casos por ano. Geralmente, os primeiros sintomas são inespecíficos e, na maioria das vezes, os pacientes não apresentam fatores de risco identificáveis.

Pela redução de glóbulos vermelhos, pode ocorrer a anemia e, com ela, vêm o cansaço, aumento dos batimentos cardíacos, entre outros sintomas associados. A médica, especialista em transplante de medula óssea, frisa a importância da avaliação de um hematologista diante da suspeita de leucemia. Para o diagnóstico, é preciso fazer um exame chamado hemograma e uma análise do sangue periférico. Depois, o paciente realiza o mielograma (exame da medula óssea), para avaliação da citologia, citogenética, avaliação molecular (mutações) e imunofenotipagem (avaliação do fenótipo das células).

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Coronavírus

O combate à pandemia na maior cidade catarinense

U

m dos mais expressivos polos industriais do país, Joinville enfrenta, com muito planejamento e união de esforços de vários setores da comunidade, a mais grave pandemia da história do planeta desde a chamada Gripe Espanhola que, em dois anos, infectou 500 milhões de pessoas – um quarto da população mundial –, matando entre 17 e 50 milhões. A doença da vez, batizada de Covid-19, é provocada pelo Sars-CoV-2, que se manifestou primeiro na China, nos últimos dias de 2019. Dali se alastrou velozmente pelo globo. No início de janeiro deste ano, a partir das primeiras notícias do problema, o Hospital Dona Helena acendeu a luz vermelha, reunindo seu corpo clínico e técnico a fim de preparar a instituição para a iminente chegada do vírus, que teve o primeiro registro no Brasil em fins de fevereiro. Para seguir garantindo a sua reconhecida qualidade de atendimento e segurança da comunidade, a instituição criou, ainda em janeiro, um comitê de contingência, para elaboração, constante atualização, treinamento e prática dos protocolos de atendimento a epidemias. Danilo Abreu, superintendente médico, explica que o protocolo foi montado com base em diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Center for Disease Control and Prevention (CDC), posterior e sistematicamente atualizado conforme sucessivas notas técnicas emitidas pelo Ministério da Saúde. Ele frisa que o Dona Helena tem o processo de contingência em seu DNA por ser certificado pela Joint Commission International (JCI), acreditação internacional de referência no segmento da saúde. “Além das boas práticas orientadas por essas renomadas instituições, montamos um fluxo de atendimento especial para total qualidade e segurança dos pacientes, familiares e colaboradores. Dispomos de uma estrutura em funcionamento e outra preparada na hipótese de aumento muito grande do número de casos em Joinville.”

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No plano de contingência, foram contemplados diversos aspectos: área exclusiva para pacientes com suspeita de contaminação pelo vírus, fluxo de acessos, uso de máscaras, orientações pós-alta com os esclarecimentos sobre o período de isolamento, dentre outros pontos. Os casos suspeitos são notificados ao Ministério da Saúde e à Vigilância Epidemiológica do Estado, que encaminha o material coletado para análise junto ao Laboratório Central de Saúde Pública. Participam do comitê, além do superintendente médico, a gerência de enfermagem, o Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH), coordenadores médicos e de enfermagem, profissionais de gerenciamento de risco e do laboratório de análise clínica. A equipe de comunicação também está envolvida para orientar o público em seus meios on-line e off-line. O comitê se reúne sempre que há uma atualização do Ministério da Saúde e ao término de cada atendimento, para discutir cada caso e verificar se existem oportunidades de melhoria. Além disso, representantes do hospital foram convidados para fazer parte do Comitê de Contingência do Coronavírus em Joinville, formado por hospitais públicos e privados, ao lado de integrantes da Secretaria de Saúde.


Apelo de profissionais de saúde, já no início do combate ao novo coronavírus: isolamento social

Rotinas de uma pandemia

Como a ação do vírus já atingiu há tempo a fase de transmissão comunitária, Danilo Abreu detalha que a emergência do hospital atua, hoje, em duas áreas: uma voltada a pacientes com sintomas respiratórios e outra para demais patologias. Potenciais gripados, por exemplo, são atendidos pela triagem e ganham uma máscara descartável. Toda a recepção foi reorganizada com espaços maiores entre um assento e outro e os profissionais da saúde trabalham com os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) adequados à nova situação. O hospital suspendeu visitas e acompanhantes a fim de reduzir o número de pessoas circulando na unidade. Conforme o superintendente médico, a orientação aos pacientes é a mesma de quem utiliza o sistema público: as pessoas não devem buscar o serviço de saúde, salvo diante de sinais de gravidade. No SUS, há uma peculiaridade porque vários profissionais precisam de atestado. E o órgão orienta as pessoas com sintomas gripais que precisem de atestado a procurar as unidades básicas de saúde para obter o documento. “Essa não é uma realidade aqui. Fizemos ações com grandes empresas para que o

paciente com sinal gripal fosse afastado pela própria empresa, evitando aumento no movimento da Emergência”, explica Danilo. Duas unidades de internação foram preparadas para receber pacientes sem gravidade, o que totaliza 14 leitos, com possibilidade de extensão em contingência para 35. Já na UTI, 19 leitos foram destinados para a internação de casos graves, com possibilidade de extensão, em contingência, para 29. Segundo as projeções feitas pelo hospital, é possível que sejam internadas entre 50 ou 60 pessoas na UTI. “A questão é quando. Com as medidas de isolamento social, isso deve acontecer de forma gradual, e não com um pico, como se viu em outros países”, completa.

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Uma das áreas do Dona Helena que foram preparadas para receber pacientes da Covid-19

Preparo das equipes é total e constante A enfermeira Nadia Cristina Bach, coordenadora do Programa de Educação Continuada do HDH, reforça que já em janeiro a instituição desenhou um fluxo para atendimento a pacientes suspeitos de infecção pelo coronavírus. Esse plano foi projetado para ser executado conforme algum gatilho no país pudesse impactar a cidade. Foi o que ocorreu com o primeiro caso confirmado de contágio comunitário em Santa Catarina, em 18 de março, quando o Estado computava apenas 14 casos – em pouco mais de um mês, este número saltava para 1.500, ou mais de 107 vezes maior. Naquele mesmo 18 de março, quando o Estado catarinense decretou situação de emergência, começaram a entrar em prática, no Dona Helena, as ações estratégicas para fazer frente ao enorme desafio que a pandemia mundial representava. Uma primeira e importante mudança dizia respeito às alterações no atendimento aos pacientes com sintomas gripais e respiratórios, deslocados para uma área específica, na Emergência. Com a mudança, foi fundamental a publicação de documento interno, baseado em pareceres do Ministério da Saúde e outros órgãos de referência, direcionando

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o trabalho da equipe assistencial e de apoio. As orientações do Ministério da Saúde e as mudanças relevantes na área física e nos processos provocaram necessidades imediatas de disseminar as novas informações entre as equipes – um esforço diário, aliás, considerando a volatilidade da epidemia e o pouco conhecimento que ainda se tinha do novo vírus. Foram promovidos vários treinamentos com equipes de enfermagem, médica, fisioterapia, de higiene, manutenção, nutrição, entre outras, abordando as orientações do Ministério da Saúde para cada área específica. “Nossa primeira ação foi um vídeo sobre a forma correta de paramentação: avental, luvas, óculos, máscaras cirúrgicas etc., e como colocar e retirar cada um dos EPIs sem causar contaminação”, lembra Nadia. Logo em seguida, todos os times passaram por treinamento sobre o novo fluxo na Emergência e, consequentemente, dos setores para onde o paciente poderia ser internado, sobre o correto transporte do paciente, para evitar contaminação dos ambientes e das pessoas, o preparo do corpo após o óbito, intubação em sistema fechado (abordando os materiais que deveriam ser utilizados e o auxílio ao médico), além de eventos específicos para as equipes de apoio falando de prevenção, com higiene das mãos e o uso restrito de máscaras quando os profissionais tiverem contato com pacientes suspeitos. “Basicamente, os treinamentos seguem as orientações do Ministério da Saúde e, a cada atualização, ficamos atentos para verificar a necessidade de novos treinamentos para as equipes. Já houve casos de orientações alteradas totalmente – e fizemos reorientação no mesmo dia do treinamento. Como isso pode causar alguma confusão, também somos frequentemente abordados por equipes nos corredores para tirar dúvidas”, diz a enfermeira. Entre março e abril, o Dona Helena realizou cerca de 230 horas de treinamentos registrados, abrangendo várias áreas de assistência e apoio. Para facilitar ainda mais o entendimento, a instituição desenvolveu vídeos acerca dos temas que ainda possam gerar dúvidas. “O principal objetivo é manter a equipe ciente dos processos para exercer suas funções de forma segura”, conclui Nadia.


As mudanças, no dia a dia

Na linha de frente do combate ao novo coronavírus, profissionais da saúde são os que lidam com o maior risco, por estar mais expostos à doença. No Dona Helena não é diferente. Marcelo Amorim, médico cardiologista, conta que a rotina mais alterada foi a do volume de trabalho, que se intensificou. “Diariamente, precisamos modificar os cuidados, avaliar novas perspectivas de tratamento. É um desafio constante para identificar os sintomas de maneira cada vez mais precoce e definir quais pacientes precisam de cuidado maior”, detalha. Quando não está no hospital, o profissional permanece em casa. “Isso alterou a minha rotina de saúde. Tive que mudar alguns hábitos, como o de praticar atividades físicas.” A restrição de fluxo pela cidade, com medidas de isolamento social, tem reflexos positivos, segundo Sarah Augusta Lima dos Santos, enfermeira coordenadora da UTI. “Como profissionais de saúde, estamos na busca incessante de aprendizado e adaptação para atender da melhor forma possível. Trata-se de algo novo para todo mundo, o que nos força a intensificar as nossas atividades”, explica. Sarah frisa que o setor de saúde dispõe de muito mais recursos científicos e tecnológicos, o que favorece o sistema. “Todavia, o recurso humano não mudou, então temos, sim, os nossos receios, e enfrentamos tudo isso como pessoas. Também temos os nossos familiares e as nossas limitações. Apesar da dificuldade do profissional frente à atividade, percebo a equipe totalmente empenhada na busca de um desfecho favorável.”

Comitê de contingência reúne profissionais de vários setores do hospital

Visitas virtuais ajudam pacientes na recuperação Empenhado em amenizar as restrições de acesso decorrentes da pandemia, o Dona Helena implementou, já no início de abril, as chamadas “visitas virtuais”, flexibilizando o uso de celular para garantir o contato de pacientes internados na UTI, em isolamento, com seus entes queridos. Também podem ser feitas videochamadas, com apoio da equipe de psicologia, aos pacientes em UTI aberta, sem isolamento. “Manter o paciente conectado com a família pode influenciar na sua condição emocional e, consequentemente, na recuperação física”, enfatiza Maria José Varela, psicóloga clínica e coordenadora do programa de humanização. As visitas virtuais são voltadas para todos os pacientes que se encaixam no perfil, seja qual for a patologia. “A população está com o olhar focado nos efeitos da pandemia do novo coronavírus, porém, não podemos esquecer que outras condições de saúde trazem os pacientes para o hospital, e a eles devem ser impostas as mesmas regras de proteção e isolamento social”, pontua Maria José. O recurso é utilizado com orientações específicas que resguardam a privacidade de pacientes e equipe.

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Ventilador mecânico doado pelo HDH à campanha organizada pelo Instituto Senai de Inovação

Campanha +Respiradores Os respiradores mecânicos passaram a ser peças-chave para o tratamento de pacientes de coronavírus, já que a falta de ar é um dos principais sintomas – e se agrava com o avanço da doença. Santa Catarina lançou a campanha +Respiradores, unindo empresas e instituições para buscar recursos e ampliar a disponibilidade do equipamento. O Dona Helena cedeu um ventilador mecânico para o Instituto Senai de Inovação em Sistemas de Manufatura e Processamento a Laser, com a finalidade de estudo para consertos. Também doou outro em desuso, consertado e repassado para o Hospital Nossa Senhora Imaculada Conceição, do município de Nova Trento, que até então não tinha qualquer equipamento respiratório para atendimento. “Um dos nossos equipamentos estava sem uso, devido ao alto custo de manutenção. Quando o Senai recebeu a demanda, entrou em contato e fez o reparo para doação”, conta Paulo Afonso Benkendorf, gerente de infraestrutura do Dona Helena, que incentiva a participação de outros hospitais. “Por intermédio da empresa SLS Hospitalar, parceira da iniciativa ‘+Respiradores’, tivemos um treinamento básico sobre como proceder na manutenção dos ventiladores mecânicos. Montamos a estrutura e fizemos contato para parcerias com outras empresas. Agora, estamos atendendo toda Santa Catarina na manutenção desses equipamentos”, detalha Fabio Fernando Karnopp, especialista técnico do Instituto Senai e líder de operações na ação.

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Telemedicina reforça assistência médica durante a pandemia O Conselho Federal de Medicina (CFM), em ofício encaminhado ao Ministério da Saúde em março, reconheceu o uso da telemedicina no país, além do estabelecido na Resolução CFM nº 1643/2002, que continua em vigor. A decisão vale em caráter excepcional, enquanto durar o combate à pandemia de Covid-19. Segundo o documento, com esse anúncio, o CFM contribui para o aperfeiçoamento e a máxima eficiência dos serviços médicos prestados no Brasil. A telemedicina poderá ser exercida nos seguintes moldes: teleorientação, que permite que médicos realizem orientação a distância, além do encaminhamento de pacientes em isolamento. Podem realizar, também, telemonitoramento (possibilita que, sob supervisão ou orientação médicas, sejam monitorados a distância parâmetros de saúde e/ou doença), e teleinterconsulta, que permite a troca de informações e opiniões exclusivamente entre médicos, para auxílio diagnóstico ou terapêutico. Para todo o sistema da saúde, a crise gerada pelo coronavírus traz desafios sem precedentes. A expectativa de um aumento de demanda em curto espaço de tempo, sem estimativa de prazo ou de quantidade, exigiu um exercício de criação de cenários, no entendimento da Associação Médica Brasileira (AMB). O pior cenário, segundo a entidade, é aquele em que a curva de infecta-


dos suba em velocidade semelhante ou pior que a vista na Itália e que se tenha um nível alto de médicos retirados da linha de frente, por terem também se transformados em pacientes. “A manifestação do CFM foi assertiva e fundamental para o hoje e para o amanhã, pois assegura as condições legais para o uso da telemedicina no combate ao coronavírus nos termos que preservam a relação médico-paciente e as práticas necessárias para que a ferramenta não se transforme em uma panaceia, útil apenas aos que enxergam nela uma maneira de vender produtos e serviços, sem a preocupação com questões caras como a efetividade da utilização, os benefícios e riscos reais à prática médica, com a deturpação da questões éticas”, registra Lincoln Ferreira, presidente da AMB.

CFM reconheceu a prática da telemedicina em algumas modalidades, enquanto durar a pandemia

“O mundo não será mais o mesmo”, afirma infectologista O infectologista Luiz Henrique Melo, presidente da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Dona Helena, é um dos nomes de referência na área em Joinville. Em seu perfil nas redes sociais, costuma fazer posts esclarecedores sobre vários aspectos da pandemia. Veja algumas destas reflexões: • “O mundo não será o mesmo após a pandemia do Covid-19. A ciência já vem se modificando de forma jamais vista. Nunca, na história da medicina, tantos cientistas focaram seus estudos em uma doença. Algo parecido, mas em menor escala, aconteceu na década de 1980, com a Aids. A capacidade de trabalhar em colaboração, deixando de lado o progresso acadêmico pessoal, está ocorrendo agora porque é questão de sobrevivência da população.” • “Se a medicina não será mais a mesma após a pandemia, com a economia não será diferente. O modelo da cadeia de suprimentos global baseado no baixo custo com foco na China se modificará.

Precisamos ser autossuficientes na produção de insumos localmente.” • “O assunto é bioética. Como priorizar os pacientes graves com Covid-19 quando o sistema de saúde ficar saturado? A ética médica é uma disciplina prática. Para que seja útil, não pode simplesmente fazer perguntas interessantes. Ele deve fornecer conselhos concretos para os médicos na linha de frente. Quaisquer que sejam as conclusões sobre a alocação justa de recursos limitados, elas devem ser comunicadas ao público. Fazer o contrário pode levar a pânico e protestos no pior momento possível, quando os hospitais estão sob extrema pressão.”

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Saudade

Quando o isolamento social é de apertar o coração

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palavra saudade só existe na língua portuguesa e no dialeto galego, mas é um sentimento universal, que encerra uma experiência psíquica necessária e bela na existência de qualquer ser humano. É filha da solidão, vem do latim “solitas”, que significa solitário, e, junto com o amor, torna-se um dos termos mais constantes na boemia, na literatura e na música. “Pertence à natureza humana, e vai se apresentar inevitavelmente em algum momento da nossa vida, pois está relacionada a pessoas, fatos ou situações vivenciadas no passado”, frisa Janynne Caovila, psicóloga especialista em neuropsicologia, professora do curso de Psicologia da Faculdade Guilherme Guimbala (ACE), de Joinville. “Saudade é a uma expectativa por algo que já foi e que desejamos que volte a ser. Faz uma ponte entre o presente e o passado, pois permite reviver cenas e emoções, mas não nos permite permanecer lá. Um caminho, por onde as lembranças buscam encontrar as marcas do que fomos”, define. No contexto atual de isolamento social, devido ao novo coronavírus, a saudade adquiriu novas modalidades. “Temos a saudade irrecuperável dos que perdem a vida na epidemia, a angustiante, de quem tem entes queridos contaminados ou internados, a preocupante, relativa aos profissionais de saúde e outras pessoas que conhecemos e que estão na linha de frente do combate à epidemia etc.”, detalha a profissional. Importante entender e aceitar esse sentimento, já que o atual estado de afastamento não significa o fim dos laços afetivos, mas um momento temporário de adaptação. Do mesmo modo que Janynne, Sabrina Gauto, psicóloga clínica do Hospital Dona Helena, compreende a saudade como uma relação passado-futuro. “Sentimos falta de algum momento vivido e o desejamos novamente. Isso se relaciona com

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a nossa capacidade de ser felizes, de viver um momento feliz”, revela. “Não temos a capacidade de voltar no tempo, mas podemos usar essa experiência para entender o que nos faz bem e re-experimentar essas vivências de novas maneiras.” Marina Bosio, 31 anos, é servidora pública e mora há oito anos sozinha, seis deles em Joinville. Sua família está dividida entre o Paraná e o Distrito Federal. O namorado também não reside na mesma cidade que ela, e sim na vizinha Jaraguá do Sul. Eles se viam semanalmente, mas a rotina imposta pelo isolamento social mudou tudo. Marina tem diabetes do tipo 1, o que a coloca dentro do grupo de risco para contrair o vírus. Por isso, desde o começo da quarentena, realiza home-office e não vê familiares nem namorado, por segurança. Ela costuma trocar mensagens, fazer videochamadas ou ligações telefônicas com eles. Por toda a situação, acabou


Importante entender e aceitar este sentimento, já que o atual estado de afastamento não significa o fim dos laços afetivos, mas um momento temporário de adaptação

emagrecendo, mesmo mantendo dieta saudável. Marina fica preocupada em não saber quando irá rever as pessoas que ama. “Saudade é querer estar com a pessoa e isso não ser possível por motivo que não é da sua vontade, como agora”, conceitua. Para se esquivar do sentimento, Marina tenta se distrair realizando afazeres domésticos e assistindo a filmes. “Para mim, a saudade vem acompanhada de angústia. É a questão de ter que fazer tudo sozinha”, desabafa, contando que sente dificuldade em pedir ajuda a pessoas que não são do círculo afetivo mais próximo. “Vivemos tempos difíceis, um momento de crise que tem provocado o distanciamento do outro, mas também o distanciamento de nossas rotinas, dos nossos planos, nos obrigando a olhar para dentro de nós, provocando a vivenciar uma solitude, permitindo a ouvir, enxergar e experimentar sentimentos que estavam perdidos em meio à correria do dia a dia e à sobrecarga dos nossos afazeres”, expõe Sabrina. “A solitude é saudável, pois é uma oportunidade para reflexão, a possibilidade de uma releitura da nossa trajetória, bem como dos caminhos que queremos trilhar. Ainda assim, nesse cenário, a solidão poderá nos visitar: é prudente prestar atenção ao que ela representa para nós, para entendermos se é uma saudade, uma dificuldade de ficarmos na nossa própria companhia ou um desconforto por estarmos sozinhos”, analisa a profissional.

A psicanalista Dircelene Pscheidt entende a saudade pela óptica da perda do objeto de desejo e do processo curativo do luto. “Por meio desse processo, podemos nos libertar e reconstruir a vida com um novo objeto, ou a transferência do nosso desejo, e a partir disso criar a ‘boa saudade’, que se expressa no sorriso ao lembrar de um antigo amor, os pais e avós que já se foram ou um momento de felicidade no passado”, explica. Segundo Dircelene, na falha desse processo, criamos a “saudade ruim”: a melancolia, que mantém a pessoa ligada à perda, impedindo-a de seguir em frente. Sentir falta, de acordo com a psicanalista, é normal; o problema está em permanecer nesse sentimento. “A saudade é um sentimento importante, mas, como na solidão, deveríamos nos beneficiar dela e não ser consumidos por ela”, enfatiza.

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“Não temos a capacidade de voltar no tempo, mas podemos usar esta experiência para entender o que nos faz bem e reexperimentar estas vivências de novas maneiras” Sabrina Gauto, psicóloga clínica do Hospital Dona Helena Fernanda, que prefere não divulgar seu nome completo, tenta não se deixar abater pela saudade. Ela tem 24 anos, é jornalista, nascida em Carazinho, no Rio Grande do Sul, e reside em Joinville há menos de um ano, com a família. Namora com Maraisa, que permanece no interior gaúcho. “Foi desesperador, porque ela morava a cinco minutos da minha casa e nos víamos com regularidade. Cheguei em Joinville e parecia que faltava um pedaço de mim”, conta. As duas não se encontram pessoalmente desde fevereiro. “Tentamos reagir a essa sensação terrível planejando o que vamos fazer quando tudo acabar: viagens, lugarzinhos onde queremos ir, shows imperdíveis e até as coisas mais simples, como assistir a séries policiais juntas e fazer panquecas”, elenca. O isolamento, para Fernanda, está sendo “cruel demais”, por ter hipocondria e transtorno de ansiedade. “Acabo me enchendo de informações e, na menor falta de ar, já acho que estou com coronavírus e vou incomodar a minha família e a Maraisa. Tento me acalmar e meditar, só que não saber quanto tempo tudo isso vai durar me esmaga”, confessa. Segundo a psicóloga Dircelene, o mal-estar psicológico causado por períodos de isolamento social pode fragilizar a capacidade de adaptação e reação ao estresse do confinamento, o que produz respostas fisiológicas e emocionais que impactam o sistema imunológico e a condição de equilíbrio mental. Entre as suas sugestões para minimizar os efeitos da nova rotina, estão aproveitar o tempo disponível fazendo boas escolhas em livros, filmes, cursos on-line e conversas por telefone. É necessário estabelecer uma rotina, respeitando horários

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de trabalho e intervalos para descanso e exercícios físicos, além de evitar o excesso de informações, procurando assistir aos noticiários uma vez ao dia, e evitar pensamentos vitimistas, que distorcem a realidade. A psicóloga Sabrina complementa, fazendo um alerta quanto às compensações. “Ao vivermos um desconforto, nos compensamos com alimentação excessiva, bebidas alcoólicas, drogas lícitas e ilícitas e outros tipos de busca por prazer. Esse comportamento não aliviará o desconforto de forma efetiva e poderá nos causar maiores problemas. É preciso adotar comportamentos adaptativos, com atividades que costumam ser prazerosas, aquilo que fizer o nosso pensamento se deslocar para além da crise”, sugere. Jannyne também recomenda o atendimento on-line com um psicólogo. “Ele vai ajudar a conversar, externar os sentimentos e emoções despertados nesse momento, já que é importante não reprimi-los ou desenvolver hábitos nocivos para preencher os vazios, pois, posteriormente, podem gerar quadros clínicos graves”, completa.

Para enfrentar o luto, a maior das saudades Mirian Hoffmann Rodrigues, 59 anos, é técnica de enfermagem aposentada. Natural de Pomerode (SC), ela mora em Joinville desde 1977. Atuou no Hospital Dona Helena por dois anos, época em que conheceu seu marido, José Caetano Rodrigues, com quem estava passando o período de isolamento social quando a entrevista para a Conecthos foi realizada, em abril. Ele faleceu cerca de uma semana depois, aos 67 anos, por pneumonia e outras complicações. Há dez anos, José já estava gravemente doente: era cardiopata e tinha problemas pulmonares. “Acredito que quem ama, cuida. E quero realmente cuidar dos meus e que todos sejam cuidados”, disse Mirian, antes do falecimento, frisando a importância do isolamento para resguardar a saúde dos familiares. A saudade até então era fácil de contornar, com conversas e videochamadas. Mirian dizia que era um sentimento estranho, que está nas pequenas coisas. Em alguns momentos, a saudade provocava uma dor física, “difícil de explicar”. E é fato: no período imediato após uma


“Um sentimento que pertence à natureza humana, e que vai se apresentar inevitavelmente em algum momento da nossa vida, pois está relacionado a pessoas, fatos ou situações vivenciadas no passado” Janynne Caovila, psicóloga especialista em neuropsicologia e voltar a atenção para si.” Para isso, é importante entender que não se pode mudar o passado, por mais que a dor da ausência seja difícil. “Podemos e devemos sentir falta daquilo que nos fez bem. No entanto, precisamos ser gratos pelos momentos bons e saber admirar os novos. Pois não é saudável viver de comparações ou em busca de repetições do passado., frisa Dircelene.

Como o cérebro a interpreta a saudade?

Dircelene Pscheidt explica a saudade sob o ponto de vista da psicanálise perda ou separação significativa, a pessoa pode sentir sintomas físicos semelhantes aos da abstinência de drogas. “Podemos pensar também que é uma resultante da somatização do sofrimento psicológico e do efeito prolongado dos hormônios no organismo, como o cortisol, o hormônio do estresse”, aponta a neuropsicóloga Janynne. Os sintomas físicos podem ser um mal-estar generalizado, dores e pressão no peito, respiração ofegante, coração acelerado, cansaço, fraqueza etc. O estado também provoca distúrbios emocionais. Um dos pontos que Jannyne considera essencial para a superação é permitir-se viver o luto pela separação ou perda de uma pessoa ou situação. “Tentar reprimir ou esconder esse sentimento torna o sofrimento mais intenso. O ideal é expressar o que está sentindo por meio do choro ou do desabafo com alguém de confiança, refletir

A saudade tem origem no sistema límbico, área do cérebro em que existe a amígdala cerebral, uma pequena estrutura que processa tudo o que está relacionado às reações emocionais. O hipocampo também integra esse sistema, sendo o principal encarregado da memória emocional. “É por causa dele que conseguimos lembrar não somente das experiências, mas daquilo que sentimos em relação a elas, bom ou ruim”, explica a neuropsicóloga Janynne, frisando que o hipocampo transforma a memória de curto prazo em memória de longo prazo, impregnando a amígdala cerebral com emoções e, auxiliando, assim, no desenvolvimento da saudade. Além disso, existem os hormônios e neurotransmissores, substâncias químicas produzidas pelos neurônios que têm a função de manter o funcionamento do cérebro e corpo, fornecendo sensações de bem-estar e ajudando na formação dos laços afetivos. “Quando estamos com alguém de quem gostamos ou em um lugar que nos traga tranquilidade, os níveis dessas substâncias sobem muito, e podemos dizer que ficamos ‘inundados’ com a dopamina do prazer, endorfinas do relaxamento, serotonina do bem-estar e todas as substâncias prazerosas. Nosso corpo quer a repetição do que causa esses sentimentos todos, de uma memória feliz, e por esse motivo acabamos ‘viciados’ na convivência com a pessoa amada, por exemplo”, detalha Jannyne. E se algum fato ou acontecimento não permitir mais termos essa sensação? “O cérebro fica com dificuldade para processar essa informação e não consegue se ‘conformar’ em perder algo registrado como muito importante, e nosso organismo fica uma ‘bagunça’, pois não está mais recebendo a sua dose de hormônios e neurotransmissores que dão a sensação de bem-estar. Pode levar bastante tempo até ele voltar ao normal ou encontrar outro estímulo para produzir as substâncias necessárias”, explica.

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“O mercado de trabalho valorizava muito a disciplina, a hierarquia e a previsibilidade. Hoje, os profissionais mais valorizados são os que lidam bem com criatividade, flexibilidade e adaptabilidade” Guilherme Velho, professor e administrador de empresas

Mercado

A transformação no universo do trabalho

“Simultaneamente, vemos também uma grande valorização das profissões do campo humano, como antropologia, sociologia, filosofia, artes plásticas e teologia. Tudo aquilo que dá conta do que a máquina não trabalha, o que é abstrato, sensível ou intangível”, observa. As duas frentes, segundo Guilherme, tendem a se unir e se confundir. “O mercado financeiro contrata cada vez mais serviços de psicologia social para entender em que momento os clientes irão largar suas ações, para entender perfis, propensões ápidos avanços e inovações tecnológicas, envelhe- de risco etc. Ao mesmo tempo, gigantes cimento da população, globalização, aumento do de entretenimento televisivo se valem comércio e dos investimentos diretos no exterior, in- cada vez mais de algoritmos para comtensificação da concorrência nos mercados interna- preender interesses e tendências do seu cionais, alterações climáticas e, mais recentemente, a Covid-19, público”, exemplifica. uma pandemia. São fatores que impactam diretamente o merDe acordo com a pesquisa “Mapa cado de trabalho. É o que aponta estudo recente publicado na do Trabalho Industrial 2019-2023”, do Revista de Administração e Inovação (RAI). E há quem diga que Serviço Nacional de Aprendizagem estamos na “Era Trans”, uma era sempre em mutação: temos Industrial (Senai), nos próximos anos, hauma alimentação transgênica, relações e migrações transcon- verá crescimento de profissões ligadas à tinentais, transparência de informações, debates sobre os di- tecnologia. Charles Christian Miers, professor e pesquisador da Universidade do reitos dos transgêneros, conteúdo transmídia. Guilherme Velho, administrador de empresas, professor do Estado de Santa Catarina (Udesc) e atuanIstituto Europeo di Design e da Sustentare Escola de Negócios, te no Laboratório de Processamento explica melhor: “Tudo está em transição, em transformação. Paralelo e Distribuído (LabP2D) da insSendo assim, todos os setores saem impactados. Na adminis- tituição, evidencia que os dispositivos tração de empresas, dizemos que as ‘Variáveis S.T.E.P.’ sopram com sensores, como os celulares, possempre. São as variáveis sociais, tecnológicas, econômicas e po- suem cada vez mais a finalidade de malíticas. Elas reconfiguram mercados de uma maneira que difi- pear continuamente a vida dos usuários, cilmente imaginamos”, contextualiza o professor, especialista impactando as profissões. “Gera-se uma em economia criativa, inovação e gestão de negócios culturais. quantidade considerável de dados sobre Para Guilherme, as profissões “do futuro” são aquelas que os hábitos e preferências. Essa massa de interagem com as cidades, o campo, a indústria e o varejo, em dados é chamada de Big Data. Analisar e processos permeados pela tecnologia. Ele cita algumas áreas fazer previsões se mostra cada vez mais que são tendências, tais como biotecnologia, urbanismo fo- relevante no planejamento, tanto pescado em grandes metrópoles, gestão de resíduos, programa- soal quanto profissional”, sinaliza. Além da Big Data e IoT, Guilherme ção, logística complexa, agrotecnologia e design de inovação.

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No período de pandemia, as profissões e funções se remodelam em meio ao avanço tecnológico; modelo de home-office é adotado e reuniões passam a ser feitas por videochamadas ressalta a importância de que os profissionais saibam lidar com conceitos novos, mas emergentes, como realidade aumentada, realidade virtual e machine learning. “Mais relevante do que as novas tecnologias ou novos conceitos é perceber a necessidade que o profissional do futuro tem de ‘ligar e desligar chaves’, entender detalhes de perto, ter uma análise do todo, oscilar entre eficiência e eficácia, real e virtual”, enfatiza. Nessa linha, o professor ressalta que o perfil desejado do profissional tem mudado tão rápido

quanto a conjuntura atual. “Há pouco tempo, em um mundo mais estável, o mercado de trabalho valorizava muito a disciplina, a hierarquia e a previsibilidade. Hoje, pelo contrário, os profissionais mais valorizados são aqueles que lidam bem com criatividade, flexibilidade e adaptabilidade”, aponta, ressaltando que atualmente as habilidades comportamentais (soft skills) são tão significativas quanto as técnicas (hard skills). Liderança, comunicação, diplomacia, empatia e postura empreendedora são outros comportamentos desejados. Charles enfatiza alguns requisitos das profissões futuras, principalmente as ligadas à tecnologia. Uma dela é saber fazer programação, ao menos básica, para controlar os dispositivos e entender a quantidade massiva de dados. Outro fator é saber analisá-los. “Nunca houve tanta informação disponível, mas ao mesmo tempo também nunca tivemos também tanta informação ruim. Mais do que analisar dados, é necessário saber separar as informações, eliminar as duplicações e excluir as questionáveis”, ressalta. Método, portanto, é essencial. “A quantidade de recursos disponíveis exige disciplina para não se perder nos meios e conseguir atingir os seus objetivos”, enfatiza. Saber trabalhar em equipe ganhou

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“Estamos isolados fisicamente, mas não socialmente. Nunca interagimos tanto, nunca trocamos tantas mensagens, nunca foram criados tantos grupos de Whatsapp, nunca estivemos tão conectados” Maria Elisa Máximo, antropóloga

relevância, assim como ter iniciativa e independência: “Não adianta ser bom tecnicamente se não conseguir contribuir efetivamente para o coletivo”. A persistência, o bom-senso e a visão sistêmica também são atributos essenciais. No campo fabril, Charles indica uma forte tendência de incorporar cada vez mais a Internet of Things (IoT), na quarta revolução industrial chamada de Industrial IOT e suas vertentes, como a Indústria 4.0. “Os maiores impactos serão nas empresas que conseguem processar um conjunto considerável de informações e ajustar seu posicionamento de maneira dinâmica e proativa. Empresas meramente reativas verão suas oportunidades minguarem cada vez mais”, constata. É necessário, ainda, aceitar e abraçar as incertezas do mercado atual, e promover mudanças a partir delas. “Não há mais planejamento de longo prazo, o ideal é o replanejamento trimestral. Ninguém pode mais se esconder atrás de burocracia ou de e-mails longos. As reuniões precisam ser mais rápidas. Os métodos ágeis podem e devem ser implementados”, enumera o especialista. Do mesmo modo, softwares de gestão de equipe ganham cada vez mais força. Outro ponto: produtividade e performance precisam ser levadas a sério. “Os paradigmas devem ser questionados. A ‘cultura do erro’ é um acerto; melhor testar, errar e corrigir do que demorar demais. Antes feito que perfeito. A hierarquia não é mais importante do que conhecimentos, habilidade e atitudes. Incubadoras internas devem estimular novos projetos. Programas e campanhas de inovação devem estimular colaboradores”, sublinha o professor Guilherme Velho.

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O usuário no centro do negócio digital A área de design é antiga, mas suas vertentes se amplificaram. Taís Ertl, 21 anos, é formada em análise e desenvolvimento de sistemas pela Udesc. Trabalha como User Interface (UI) Designer há um ano e meio. “Um UI Designer é responsável por projetar toda a interface (tela) com que um consumidor terá contato, seja um site, um aplicativo, um sistema”, define. “Sempre gostei muito de desenhar e criar coisas. Na empresa em que trabalho, iniciei como analista de documentação e estava próxima de outros designers. Até que tive a oportunidade de mudar de área”, conta a jovem, que terminou a faculdade em fevereiro deste ano, e agora tem como objetivo continuar se especializando. Taís ressalta que para ser um UI Designer, além da formação em design ou em alguma área tecnológica, é preciso entender de tecnologia e produtos digitais. A jovem alerta que sua área está conectada diretamente às transformações tecnológicas, exigindo aprendizado constante sobre novas funcionalidades e tendências. Uma vez que as empresas estão cada vez mais se preocupando com os usuários, a área de design vai ganhando força e, os produtos, incrementando a qualidade, requisito cada vez mais relevante diante do quadro atual de pandemia. “A área de UI Design é fundamental para assegurar a adesão do cliente ao produto e proporcionar uma melhor experiência para o usuário”, garante.

Taís Erti, de 21 anos, é User Interface (UI) Designer, profissão emergente no mercado digital


À direita, Maria Elisa Máximo, doutora em antropologia social, pesquisadora na área da cibercultura e professora; abaixo, pandemia evidencia a expansão do e-commerce e pedidos por delivery

O cenário do trabalho na pandemia A reinvenção de diversos serviços também está sendo fundamental em meio à pandemia. O atendimento a pedidos por delivery e on-line exige que as empresas invistam cada vez mais em comércio eletrônico. Um levantamento recente da Glassdoor, plataforma com avaliações de mais de 1 milhão de empresas em 190 países, destaca que setores de logística e comércio passaram a apresentar mais vagas depois do surto do novo coronavírus no Brasil, assim como trabalhos que pudessem ser realizados de maneira remota, como atendimento ao cliente e telemarketing. A quarentena fez com que a demanda por entregadores e motoboys também crescesse. Pesquisa do Laboratório do Futuro da Coppe/ UFRJ (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia) mostra uma tendência de modificação nos modelos de negócios. Os empresários devem avaliar como gerar receita sem depender de aglomerações em seus estabelecimentos, no comércio ou na indústria. Haverá menor quantidade de funcionários presentes fisicamente. O que está acontecendo agora poderá antecipar, para os próximos anos, a substituição dos seres humanos por robôs, pela automação, na execução de tarefas. O estudo indica que 60% do emprego no Brasil deve ser altamente impactado pela automação nas próximas décadas. A análise também revela que os grupos sociais mais vulneráveis serão os mais impactados. Segundo Maria Elisa Máximo, doutora em antropologia social, pesquisadora na área da cibercultura e professora, a vida social de nenhuma sociedade ou grupo pode ser pensada separadamente das suas técnicas e tecnologias. Um conjunto de associações e interações que inclui pessoas, objetos e ideias. A antropóloga afirma que está cada vez mais difícil pensarmos em uma vida “real”

separada de uma vida “virtual”, principalmente no trabalho, mesmo nas profissões mais tradicionais. “A experiência nos chamados ambientes digitais é tão real para todos nós quanto qualquer outra”, argumenta. Mas essas vivências modificam nossos hábitos e práticas sociais, e isso pode ser observado principalmente agora, em meio à pandemia. “Estamos isolados fisicamente, mas não socialmente. Nunca interagimos tanto, nunca trocamos tantas mensagens, nunca foram criados tantos grupos de WhatsApp, nunca estivemos tão conectados”, evidencia. No entanto, o modelo de trabalho remoto, realizado em casa, ainda é uma dificuldade mundial. “Muitas pessoas consideravam pejorativas formas remotas ou virtuais de prestar serviços (ou até mesmo trabalhar e estudar) porque nunca as testaram ou experimentaram de forma incisiva. A pandemia forçou as pessoas a de fato experimentar e conhecer as potencialidades de meios remotos de trabalho ou ensino”, observa o professor Charles.

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As profissões que serão tendência no pós-pandemia Muitos profissionais estão perdendo empregos ou enfrentando dificuldades em encontrar um novo trabalho em meio ao surto da Covid-19. Por outro lado, todos os processos que regem o trabalho estão sendo questionados, enquanto outros cargos, funções e modelos estão se abrindo. Profissões que prezam pela sustentabilidade e preservação ambiental ganham força. Nathalia Baylac, 31 anos, é arquiteta, urbanista e empreendedora em arquitetura sustentável. Ela vê a crise provocada pelo novo coronavírus como um momento de reflexão, criatividade e oportunidades. “Muitos autores e cientistas afirmam que o mundo após a quarentena será novo. Se for, esperamos que seja melhor, que caminhe para uma economia de baixo carbono, com soluções mais locais, redução dos desperdícios, incentivo aos pequenos negócios, articulações em redes e oportunidades inovadoras”, enfatiza. A arquitetura sustentável, apoiada em um tripé social, ambiental e econômico, de forma equilibrada, segundo a especialista, ainda tem poucas iniciativas concretas. No entanto, a população mundial está cada vez mais se interessando por métodos sustentáveis, assim como marcas investem mais no setor. “Infelizmente, no Brasil, ainda existem muitas pessoas que não se deram conta do quanto isso é importante para o planeta e a vida, e por conta disso pode haver um retrocesso”, lamenta. Para atuar na área, a arquiteta diz que um primeiro requisito é levar em consideração os aspectos socioculturais do projeto. Depois, conhecer materiais e técnicas locais e de baixo impacto ambiental, com baixa emissão de carbono e baixo consumo de água e energia, tanto na produção quanto na construção. “E, em terceiro lugar, utilizar meios e técnicas inovadoras para redução dos custos e eliminação dos resíduos. Para isso, buscar conhecimento em outras áreas (como a economia, sociologia, biologia e engenharias) é fundamental”, elenca. Também é necessário atentar às mudanças digitais, que transformam a arquitetura, desde o modo de projetar até o modelo de visitas de canteiros de obras e sua fiscalização, realizados a distância. “Além disso, os materiais e técnicas construtivas estão passando por grandes transformações com as impressões 3D e outras que, em breve, estarão disponíveis ao mercado. O modo de construir e ‘encomendar’ uma construção também deve passar por transformações,

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principalmente agora, no mundo pós-pandemia”, analisa a arquiteta. A saúde é outro campo diretamente impactado pela pandemia. O estudo do Glassdoor mostrou maiores demandas por cargos como médicos, enfermeiros, farmacêuticos e técnicos de laboratórios. A telemedicina – utilização da tecnologia ligada a meios de saúde para passar informação e cuidado médico a pacientes e profissionais que estão em outros locais – tende a ser mais regulamentada. Segundo James Hunter, professor afiliado à disciplina de doenças infecciosas do departamento de medicina da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), membro do Laboratório de Retrovirologia da faculdade e professor da escola de negócios Sustentare, a ciência da computação está sendo aplicada de forma massiva no mundo da medicina, saúde e biologia. “Até apareceu a nova subdisciplina de bioinformática, a área em que faço muito de meu trabalho. Posso destacar a aparência dos estudos genômicos, que analisam as sequências de DNA ou RNA (o material que contém o código genético


A arquiteta e urbanista Nathalia Baylac, que empreende no segmento de arquitetura sustentável

Uma nova geração no mercado de trabalho

do vírus). O esforço sendo aplicado para entender o novo coronavírus está desvendando os segredos da RNA e permitirá que possamos desenvolver tratamentos antivirais e uma vacina para essa nova praga”, aponta James, que é especialista na aplicação de técnicas de bioinformática aos estudos virológicos e microbiológicos. James também prevê que algumas atividades relacionadas à pesquisa, especialmente o sequenciamento de genomas, vão migrar para o ambiente clínico. Atualmente, são os biomédicos que fazem as análises clínicas. “Com o desenvolvimento de sequenciadores genômicos com preços mais acessíveis e médicos e técnicos estudando o assunto, conduzir sequenciamentos vai se tornar parte do dia a dia nos hospitais e laboratórios clínicos. Preparar o material e fazer os passos de sequenciamento é uma tarefa muito exata e precisa de bastante treinamento”, analisa. Infelizmente, segundo ele, ainda faltam itens essenciais na formação da nova geração de médicos para que isso ocorra, como conhecimento em matemática e facilidade com outros idiomas.

De acordo com a psicóloga clínica Glaucia Bonotto, do Hospital Dona Helena, o uso excessivo de dispositivos tecnológicos entre os adolescentes demonstra uma perda do encanto da fase juvenil. “Isso remete a várias complicações de ordem psicológica, pessoal e social, do isolamento do mundo real à dependência do virtual, podendo estimular e até corroborar com transtornos de ansiedade, distúrbios de comportamentos ou condutas antissociais, depressão, chegando à dependência psicológica”, frisa. No mercado de trabalho, a nova geração se mostra mais familiarizada com as novas tecnologias, mas há consequências. “Não só fazem muitas coisas ao mesmo tempo, como também pensam e conectam numa velocidade incrível, possuem habilidades lógicas, são criativos e dinâmicos e não são passivos, todavia, estão cada vez mais acelerados, imediatistas, sempre com pressa e com necessidade de estar conectado”, observa Glaucia. O neurologista Felipe Reis afirma que essa capacidade “multitarefa” é um “neuromito”. “Dividir a atenção em vários estímulos ao mesmo tempo reduz a eficiência do cérebro em ser assertivo, fazer as melhores escolhas, considerar de forma racional o melhor caminho. Quanto menos foco, mais erros e maior a chance de nos atermos a detalhes múltiplos e variados, mas que em conjunto não trazem clareza ou satisfação, mas angústia, impulsividade, ansiedade e frustração”, esclarece. O cérebro da nova geração é o mesmo, o que mudou foi o crescimento de estímulos diários. “Nosso cérebro responde a esses estímulos se adaptando, ativando vias e conexões cerebrais e inibindo outras, conforme o uso rotineiro das mídias digitais”, explica o neurologista. A exposição excessiva, principalmente nos primeiros anos do desenvolvimento das crianças, pode afetar de modo negativo o funcionamento das estruturas cerebrais. “A nova geração pode apresentar importante dificuldade para selecionar e fazer escolhas, além da pouca capacidade de resiliência, intolerância a frustrações, impaciência e irritabilidade, com capacidade limitada de empatia. Vivenciamos uma verdadeira pandemia de medo, insegurança, ansiedade, depressão e insônia, além de vários outros problemas de saúde graves, com jovens cada vez mais sedentários, intolerantes, com pensamento acelerado, dificuldade de atenção e foco, incapazes de lidar com os desafios e frustrações que todos vivenciam”, analisa.

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Sobriedade digital

Diálogos

Entrevista: inteligência emocional

Carlos José Serapião Pág. 25

Desinformação

Luana Garcia Ferrabone

Pág. 35

Pág. 26

Gestão da enfermagem

O desafio da pandemia

Fabiana Mohr

José Tadeu Chechi

Pág. 27

Pág. 34

Livre arbítrio

Qualidade de vida e neoplasias

Lucas Sant’Anna Pág. 28

Ana Carolina Cardoso Pág. 32

Saúde mental Kethe Oliveira Pág. 30

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Carlos José Serapião Coordenador do Instituto Dona Helena de Ensino e Pesquisa (IDHEP)

Rumo à sobriedade digital

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mundo segue mudando. Não é novidade. Sempre foi assim. A questão é saber em que direção seguimos: progresso, regresso, mera metamorfose? Entramos no Terceiro Milênio com esperanças de um futuro melhor – o progresso. Uma ideia nova para o século 21, a chamada Era Digital, acreditada por muitos como uma verdadeira revolução, para alguns, não é tão boa nem tão ruim. Trata-se de uma tecnologia inventada pela humanidade, como o foram a roda, a agricultura, o motor a explosão, a Revolução Industrial, a energia atômica, recentemente uma indústria química extraordinária, e agora o digital, o mais novo participante da nossa sociedade humana. Como todo o progresso tecnológico, sua influência dependerá de como a humanidade vai utilizá-lo. Para melhor ou para pior. Será um terreno fértil para nossos jovens, ou um voo alucinado em direção a uma catástrofe ainda não anunciada? Uma curiosidade: a palavra “progresso” vai pouco a pouco sendo menos utilizada nos escritos e aparece substituída por “crise”, “declínio”, “catástrofe”, “apocalipse” etc. A história nos apresentou um século 18 com a humanidade sonhando alcançar o aperfeiçoamento cultural e moral. O conhecimento, emancipador, teria feito

“É preciso, ao final, considerar o digital tão simplesmente como uma ferramenta a serviço da construção de um projeto de sociedade global de modo mais rápido e eficiente” recuar a ignorância e as superstições. Ao correr do século 20, após as loucuras das grandes guerras, surgem sinais de uma reviravolta no humor coletivo. Em 1969, Raymond Aron (1) publica “As desilusões do progresso, ensaio sobre a dialética da modernidade” e se interroga quanto ao que considera como “contradições constitutivas daquela modernidade”. Citamos uma fonte de preocupações, expressada por vários autores, aquela representada pelo que chamaram de regressão do QI médio (quoeficiente de inteligência), quando avaliado frente aos múltiplos métodos de mensuração e de comparação dos QIs desenvolvidos ao longo das últimas décadas (2). Por outro lado, é preciso admitir um verdadeiro paradoxo na Revolução Digital: ela é onipresente, sendo impossível imaginar a nossa existência sem a sua globalidade, já que numerosas e variadas são suas ramificações, tocando todos os setores da atividade em todas as facetas da condição humana. É preciso, ao final, considerar o digital tão simplesmente quanto uma ferramenta a serviço da construção de um projeto de sociedade global de modo mais rápido e eficiente. A isso se soma a preocupação de buscar pistas que indiquem o caminho de um futuro digital sóbrio e responsável. A grandeza humana não consiste apenas na performance de sua inteligência; reside, isto sim, na sua singularidade, na ânsia de ultrapassar sua materialidade e encontrar o sentido que a faz transcendental.

• Progress and disillusion: The dialectics of modern society - Raymond Aron – Ed. Harmondsworth England: Penguin Books Pelican, 1972 • Flynn effect and its reversal are environmentally caused – Bratsberg B. & Rogerberg O. PNAS 115 - vol. (26) ,2018

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Luana Garcia Ferrabone

Coordenadora da Emergência do Hospital Dona Helena

A desinformação e o coronavírus

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m meio à pandemia do novo coronavírus, vários experts surgiram para ganhar seus minutos de fama. Cientistas de Facebook que, sedentos por likes, propagam informações sem credibilidade e sem embasamento, gerando uma massa de desinformação e ansiedade. Em meio a estes tantos, encontramos pessoas que estudam, que esclarecem, que buscam alertar a população e guiar pelos caminhos corretos, quase sempre os mais difíceis. O problema está na divulgação. Grandes profissionais não têm o mesmo número de seguidores das “webcelebridades”, e, portanto, suas informações não têm o mesmo alcance do que as bizarrices divulgadas por pessoas que sabem como aproveitar os algoritmos da rede em busca de visualizações. Nesse contexto, várias pessoas relevantes, estudiosas e preocupadas com a situação atual estão caladas. Caladas pela preocupação, caladas pela avalanche de informações erradas que é preciso refutar, mas, principalmente, caladas porque a ciência robusta vende muito menos do que mentiras e tragédias bem contadas. A pandemia tem sido usada como palco para projeção e todo tipo de falácia. Desde mix de vitaminas e injeções para imunidade, até profecias do apocalipse.

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As mídias e redes sociais têm dado muito espaço para informações irrelevantes, criando uma legião de desinformados que não estão convencidos do básico: manter a higiene e o isolamento social são as únicas terapias efetivas e comprovadas. A Covid-19 pode ser letal em alguns casos, mas a falta de informação e a informação errada são muito mais perigosas. Matam porque expõem as pessoas desnecessariamente. Matam porque inventam escudos e escondem as verdadeiras armas. E matam, principalmente, porque silenciam as informações cientificamente validadas, menosprezam os estudos que não produzem informações midiáticas e intimidam profissionais que têm opiniões relevantes e trabalham de frente para a doença. Busque informações com relevância científica, valorize instituições de saúde com credibilidade e sem viés de qualquer natureza. Acompanhe pessoas interessadas e engajadas em informações com validação e confie em quem leva saúde a sério. “Não existe solução fácil para um problema difícil.” Essa é a frase mais correta para o momento atual.

“Busque informações com relevância científica, valorize instituições de saúde com credibilidade e sem viés de qualquer natureza. Não há solução fácil”


Fabiana Mohr

Gerente de Enfermagem do Hospital Dona Helena

A gestão de enfermagem no enfrentamento ao coronavírus

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o Hospital Dona Helena, temos uma equipe de enfermagem composta por aproximadamente 400 pessoas. A maioria atua na assistência aos pacientes, portanto, está na linha de frente no combate à Covid-19. No começo do ano, realizamos as primeiras reuniões do plano de contingência, integrando diversos setores do hospital. Enquanto o novo coronavírus ainda era algo distante de nossa realidade, já estávamos discutindo seus impactos. Quando surgiu o primeiro caso no país, passamos a estruturar os setores e equipes, definindo ações específicas, adequando a utilização dos nossos equipamentos e treinando a equipe quanto ao seu uso. Fomos estudando e tomando várias providências, como a estruturação de nosso estoque. Diante do primeiro caso em Santa Catarina e em Joinville, mudamos o ritmo das reuniões, que eram os gatilhos para mudanças dentro das rotinas hospitalares. As atualizações realizadas pela Anvisa eram constantes, resultando em alterações no fluxo e exigindo um sincronismo enorme entre equipes. Enquanto isso, formulamos uma ficha técnica com todas as orientações aos profissionais. O documento é extenso e abrange diretrizes diversas, que vão desde o momento de entrada do paciente

“A enfermagem tem a missão de prestar assistência ao paciente, esclarecer as dúvidas e oferecer o melhor cuidado. O enfermeiro que é líder de uma equipe precisa ser referência” com sintomas gripais no hospital até a sua saída. Também estamos aprimorando vários processos e, dentre eles, o treinamento on-line, desenvolvendo vídeos para capacitar sobre diversos fluxos e técnicas. Além disso, frisamos muito a higienização frequente das mãos, o uso correto dos EPIs e importância do distanciamento, que é algo muito difícil para nós. Afinal, muitas pessoas têm a necessidade do toque, do carinho, do abraço e do compartilhar, principalmente neste momento. Buscando garantir o distanciamento, fizemos adequações em áreas compartilhadas, e alguns assuntos que eram discutidos em reuniões presenciais, agora são tratados por telefone ou por e-mail. A enfermagem tem a missão de prestar assistência ao paciente, esclarecer as dúvidas e oferecer o melhor cuidado. O enfermeiro que é líder de equipe precisa ser referência, promovendo a orientação aos pacientes e membros da equipe multidisciplinar, garantindo que as normas de segurança sejam cumpridas. Também precisa transmitir tranquilidade para os demais. Esse é o maior desafio na gestão de uma equipe de enfermagem, pois, antes de profissionais, somos seres humanos. Um dos nossos maiores medos é o de levar o vírus para casa e contaminar nossos familiares. Tivemos profissionais que chegaram a se afastar da família. E isso causa uma sensação de solidão. Para cuidarmos da saúde mental dos profissionais, criamos o programa “Você de bem com a vida”, em que disponibilizamos o suporte com capelania, psicologia e serviço social para auxílio psicológico. Tem sido algo positivo para a equipe, pois temos observado e tratado algumas fragilidades. Também tentamos trabalhar de forma mais leve, não focando somente na pandemia. Não precisamos ser fortes o tempo inteiro, podemos ter nossos momentos de choro e desabafo. É preciso muita tranquilidade, discernimento e resiliência aos gestores de enfermagem, pois somos o alicerce da equipe.

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Lucas Sant’Ana

Médico oncologista, integrante do corpo clínico do Hospital Dona Helena

O livre arbítrio dos pacientes nas decisões médicas

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Termo de Consentimento Informado (TCI), como hoje conhecemos, é um documento vital na medicina atual, no qual o paciente autoriza o médico a realizar um procedimento de indiscutível necessidade. Independente no nível de confiança entre as partes, atualmente é condição indispensável na relação médico-paciente. Mas nem sempre foi assim. Nos primórdios da medicina, na Grécia Antiga, essa atividade era praticada sob a ótica da Escola Hipocrática, e o paternalismo clínico era a doutrina vigente, na qual o paciente não exercia papel na decisão de seu tratamento, mas obedecia a seu médico com a convicção de que este, imbuído de autoridade e conhecimento, não lhe faria nada além do bem. Felizmente, a medicina evoluiu e a percepção da benesse médica não mais caberia exclusivamente ao médico e ao seu julgamento pessoal, mas a um conjunto de regras definidas por códigos de ética ao longo das últimas décadas. Acredita-se que o primeiro registro de um documento para se estabelecer uma relação entre médicos e pacientes data de 1833. O médico William Beaumont, considerado pai da gastroenterologia, firmou um acordo por meio de documen-

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to no qual se comprometia pagar certa quantia em dinheiro ao paciente Alexis St. Martin para que este ficasse disponível para experimentos sobre fisiologia gástrica. Embora, sob a luz da ética atual, seja uma relação criticável, à época foi marcante e considerada precursora do Termo de Consentimento Informado. O atual termo de consentimento como conhecemos começou a ser cunhado em 1947, com o Código de Nuremberg, criado logo após as atrocidades cometidas pelos nazistas, ao exporem a face cruel da medicina com motivações escusas. A partir de então, ficava definido um preceito básico para a relação médico-paciente: a necessidade do consentimento voluntário para a realização de experimentos envolvendo humanos. No Brasil, a normatização do uso do Termo de Consentimento Informado se iniciou na década de 1980, quando dois documentos, um do Ministério da Saúde e outro do Conselho Federal de Medicina, estabeleceram as bases para seu desenvolvimento.

“Por mais que o conhecimento médico seja cada dia mais difundido, o acesso à informação seja mais disponível e o termo de consentimento seja obrigatório em diversas situações, a disparidade na relação médico-paciente nunca deixará de existir”


Embora a necessidade de normatização não seja passível de questionamento, até que ponto ela realmente garante o livre arbítrio e segurança ao paciente? No Brasil, cerca de 30% da população se enquadra na categoria de analfabetismo funcional, mas, caso se leve em consideração a interpretação do jargão médico presente nos termos de consentimento, indubitavelmente essa parcela será muito maior. A ética médica se faz então de relevância ímpar neste momento, frente a uma relação desigual, em que de um lado temos um indivíduo aflito pela doença e escasso de conhecimento, e, do outro, um indivíduo munido do conhecimento e no exercício de sua profissão corriqueira.

Por mais que o conhecimento médico seja a cada dia mais difundido, o acesso à informação seja mais disponível e o termo de consentimento seja obrigatório em diversas situações, a disparidade na relação médico-paciente nunca deixará de existir e o médico sempre ficará a cargo de auxiliar o paciente nas suas decisões. E, para o paciente aflito com a doença, a balança tende a pender para acatar a decisão médica, como ocorria na medicina hipocrática, séculos atrás. Neste ponto reside uma fragilidade na medicina contemporânea: na presença de médicos com conhecimento escasso ou motivações torpes, o paciente vira alvo fácil para a pseudociência e tende a aceitar as mais diversas miríades de tratamentos e procedimentos que não se enquadram na medicina virtuosa. Ainda que burocraticamente se tente tornar segura a medicina, esta será sempre uma ciência baseada na relação de confiança entre dois indivíduos humanos e guiada pela ética e moral, atributos que sempre estarão ligados à medicina, independente de quando seja exercida.

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Kethe Oliveira

Psicóloga clínica do Hospital Dona Helena

A saúde mental em tempos de Covid-19

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cenário atual, vivenciado em todo o mundo, trouxe muitas mudanças. Mudanças necessárias para a manutenção da vida, porém de grande desafio – como realizar transformações que envolvem uma nova rotina do trabalho e dinâmica familiar, e ainda a restrição de convívio social e o gerenciamento de sentimentos, como o medo e a insegurança? Essas situações podem ocasionar sofrimento e, consequentemente, desgaste psíquico, podendo culminar em prejuízo na saúde mental. Desde a disseminação da doença, muitos profissionais passaram a fazer sugestões de como manter a saúde mental. Penso que todas essas sugestões são bem-vindas, mas é preciso entender que cada sujeito, diante de sua história e de sua estrutura psíquica, poderá se adaptar àquilo que lhe faz mais sentido. Não existe uma receita pronta para todos, mas pontuações que possam auxiliar neste momento de crise. Manter um equilíbrio entre mente, corpo e espírito pode ser eficaz na maior parte do tempo. Recomenda-se realizar atividades físicas, como os alongamentos; tentar meditar, ler e ouvir músicas; resgatar atividades que gerem prazer, como pintar e brincar (com jogos de tabuleiro, de cartas e de mímica). E utilizar, também, dos recursos eletrônicos para estar em contato com

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familiares e amigos, fazendo da distância uma barreira simbólica. Uma outra sugestão, que considero eficaz, seria a possibilidade de iniciar um processo terapêutico, ou mantê-lo para quem já o faz, utilizando esse espaço para falar sobre seus sentimentos e ter acesso às sensações provocadas por eles. O momento de crise também traz como possibilidade o fato de estar consigo mesmo. No “seu” silêncio, surge a angústia de um certo vazio, mas um vazio que pode ser fonte de descobertas, e elas, provavelmente, irão servir de impulso no movimento da vida. Para ilustrar esse pensamento, cito uma fala da professora, filósofa e psicanalista Denise Maurano: “O vazio é impossível de ser extirpado, mas cabe-nos encontrar meios menos nefastos de abordá-lo. Como li em um folhetim: ‘não se pode mudar a direção do vento, mas pode-se alterar a posição das velas’”. Poder olhar para esse momento como


“Manter um equilíbrio entre mente, corpo e espírito pode ser eficaz na maior parte do tempo. Recomendase realizar atividades físicas, como os alongamentos; tentar meditar, ler e ouvir músicas...”

um processo de adaptação e aprendizado traz a possibilidade de ressignificar e tornar-se resiliente. Os profissionais da saúde, que estão no atendimento direto aos pacientes, sofrem com outras questões, além das já mencionadas. O sentimento de medo parece mais intensificado, em especial por pensarem que são potenciais agentes de transmissão da doença. Muitos profissionais decidiram ficar afastados de seus familiares, a fim de protegê-los e assim minimizar o sentimento de angústia e medo, gerando, no entanto, outras sensações que produzem sofrimento.

Cuidar de quem cuida se tornou uma preocupação, por essa razão percebe-se um grande movimento para oferecer um serviço de acolhimento e escuta para essas pessoas. No Hospital Dona Helena, a direção da instituição já se preocupou com isso desde o início, não só se equipando com recursos de proteção, mas também criando um programa de cuidado com a equipe, formado por profissionais como psicólogos, assistente social e capelã, que diariamente estão envolvidos com os colaboradores, de forma remota ou presencial, com visitas nos postos de trabalho. Cuidar de si, cuidar do outro e buscar o espírito da coletividade podem ser estratégias de enfrentamento para esse momento de crise, que nos possibilitam manter o equilíbrio emocional diante do desconhecido, do invisível, que trouxe sentimentos diversos, mas que também sinaliza meios de olhar para o movimento da vida de forma diferente.

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Ana Carolina Moreira de Carvalho Cardoso Médica especialista em hematologia e transplante de medula óssea

Qualidade de vida em pacientes oncológicos

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s doenças oncológicas vêm ganhando mais atenção ao longo dos anos pelas dimensões que alcançam. As neoplasias hematológicas são doenças causadas pela proliferação desordenada de células na medula óssea (fábrica do sangue) ou no sistema linfático. As doenças hematológicas mais conhecidas são as leucemias, linfomas, mieloma múltiplo e as síndromes mielodisplásicas. As estatísticas do Instituto Nacional do Câncer (Inca) revelam uma média de 22 mil novos casos de neoplasias hematológicas ao ano no Brasil, tornando-se um evidente problema de saúde pública nacional e mundial. No Brasil, as leucemias e linfomas (do tipo não-Hodgkin) correspondem a aproximadamente 5% de todos os cânceres incidentes. O tratamento para as neoplasias hematológicas pode variar bastante, dependendo da idade, condição física e comorbidades do paciente, porém, a base de todos os tratamentos está na quimioterapia e na radioterapia. As quimioterapias para as doenças hematológicas são habitualmente intensas e, por muitas vezes, estão associadas a mudanças negativas na qualidade de vida dos pacientes, pelos efeitos colaterais que produzem. Tendo em vista o impacto negativo que os tratamentos para as neoplasias

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podem ter nos pacientes, a adequada avaliação e assistência vem ganhando cada vez mais força junto às equipes médicas, para reduzir assim a sobrecarga emocional para o paciente e familiares, com consequente redução de sintomas físicos e emocionais, e aumentando a qualidade de vida desses pacientes. O conceito de qualidade de vida ainda é muito controverso e amplo. Nos pacientes oncológicos, qualidade de vida é uma visão subjetiva do indivíduo em relação à sua funcionalidade para as atividades diárias. Por isso, criou-se uma maneira de mensurar a saúde dos indivíduos utilizando um questionário e, assim, avaliar o quanto a doença e/ou o tratamento estão afetando a sua vida cotidiana. A avaliação da qualidade de vida em pacientes com câncer é fundamental para identificar e intervir nos principais sinais e sintomas relatados pelo paciente e, por conseguinte, promover uma melhor qualidade de vida. Um dos questionários que a equipe assistente pode usar é o WHOQOL-bref. Nele, constam perguntas relacionadas a: 1) questões físicas (dor e desconforto, energia e fadiga, sono e repouso, mobilidade, atividades da vida cotidiana, dependência de medicação ou de tratamentos, capacidade de trabalho); 2) questões psicológicas (sentimentos positivos, pensar, aprender, memória e concentração, autoestima, imagem corporal e

“Nos pacientes oncológicos, qualidade de vida é uma visão subjetiva do indivíduo em relação à sua funcionalidade para as suas atividades diárias”


aparência, sentimentos negativos, espiritualidade/religião/crenças pessoais); 3) questões sociais (relações pessoais, suporte/apoio social, atividade sexual); 4) meio ambiente (segurança física e proteção, ambiente no lar, recursos financeiros, cuidados de saúde e sociais: disponibilidade e qualidade, oportunidades de adquirir novas informações e habilidades, oportunidades de recreação/lazer; ambiente físico – poluição/ruído/trânsito/clima, transporte). O diagnóstico de câncer interfere sensivelmente na qualidade de vida dos pacientes, principalmente no aspecto físico e emocional. O comprometimento da capacidade em realizar atividades diárias é um dos principais fatores relacionados

negativamente com a qualidade de vida. Insegurança e incerteza relacionadas ao futuro também são fatores geradores de estresse e ansiedade. Os tratamentos para as neoplasias hematológicas, por ser intensos, são associados a múltiplas queixas do paciente, fazendo com que este se torne mais dependente de sua rede de apoio, o que muitas vezes gera uma sensação de ser um incômodo para todos. Caso a equipe clínica e multidisciplinar não atue decisivamente, o paciente pode desenvolver um quadro de depressão. Fatores como ter uma rede de apoio ativa e presente, apoio da equipe assistente e acesso fácil aos serviços de saúde são importantíssimos na percepção positiva de qualidade de vida dos pacientes. Por isso, independente do diagnóstico, é sempre importante tanto a equipe médica e multidisciplinar, quanto família e amigos, serem empáticos com o paciente, para que sejam reduzidos os fatores causadores de ansiedade e físicos relacionados ao tratamento, oferecendo assim uma melhor qualidade de vida.

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José Tadeu Chechi Diretor geral do Hospital Dona Helena

O desafio da gestão em período de pandemia

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esde o primeiro momento da crise provocada pela Covid-19, a direção do Hospital Dona Helena está se reunindo diariamente, acompanhando tudo o que vem acontecendo e fazendo os ajustes necessários em nossas atividades, para garantir o melhor atendimento e proporcionar a maior segurança possível para funcionários e pacientes. Estamos sempre tomando atitudes preventivas para preparar o hospital para outros cenários. Sem fé ou otimismo, não vamos em frente, mas também, se não tivermos competência, capacidade técnica e conhecimento de todas as nossas rotinas, teremos mais dificuldades. Precisamos manter a mente aberta para situações novas e estar atentos ao que nos cerca. Como profissionais de saúde, temos a responsabilidade de disseminar o conhecimento para a população, parentes, vizinhos e colegas. Há muitas fake news circulando, e o pior que pode ocorrer agora é uma situação de pâni-

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co. Por isso, o profissional da área exerce um papel importante: disseminar o que é verdade. E, ao mesmo tempo, contribuir para que as pessoas mudem seus hábitos. É difícil manter o isolamento e ficar em casa, mas é muito mais complicado permanecer em um hospital, principalmente quando falamos de idosos. Em casa, adotar o mesmo comportamento que se tem no hospital, realizando todos os cuidados de higienização. Somos o exemplo: temos que transmitir a segurança para a população. Não podemos abrir mão dessa responsabilidade. O hospital continua atento aos protocolos, rotinas e portarias que vêm sendo anunciadas. As equipes estão extremamente atualizadas, todas as informações e comunicados são difundidos de forma muito positiva, sendo absorvidos pelo time da instituição. Sempre ressalto que cada um deve ficar com a informação correta para se preparar da melhor forma possível: trata-se de um desafio, uma dificuldade, mas também uma grande oportunidade. As pessoas depositam a confiança em nosso trabalho e não vamos decepcioná-los. Há uma grande preocupação da instituição em manter as atividades de maneira adequada e segura. A principal responsabilidade agora é fortalecer a nossa capacidade funcional, de modo que as pessoas mantenham seus empregos, preservando sua saúde. O mundo está enfrentando um desabastecimento em equipamentos de proteção individual, o que também tem causado apreensão. É necessário seu uso racional e descarte adequado, principalmente das máscaras, garantindo, assim, maior segurança no trabalho. Pelo empenho e envolvimento dos profissionais e das equipes assistenciais e de apoio, em um cenário de crise, somos sempre gratos. É uma luta diária, mas tem sido gratificante observar que o resultado de nosso trabalho está fazendo diferença na vida de tantas pessoas. Não vamos nos abater pelas dificuldades que estão por vir se tomarmos as devidas precauções e atentarmos às orientações para atender nosso paciente da melhor maneira possível. Estar presente em uma instituição de saúde, hoje, é um grande desafio, mas estamos preparados para dar a melhor assistência e, com tranquilidade, otimismo e fé, vamos superar este momento.


Carlos Aldan

CEO do Grupo Kronberg

“A inteligência emocional tem sido aclamada como o conjunto de competências por excelência para fortalecer a resiliência dos profissionais de saúde a coexistir com os inevitáveis estressores do cotidiano de maneira mais saudável e resiliente”

ENTREVISTA A receita da Inteligência Emocional

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universo digital pode trazer “contribuições inimagináveis” há poucas décadas, atuando de forma transformadora para o bem-estar da humanidade. “Podemos usar a tecnologia para aproximar quem está longe sem distanciar quem está perto. As competências da Inteligência Emocional (IE) nos permitem eliminar esse aparente paradoxo”, prescreve o executivo Carlos Aldan, CEO do Grupo Kronberg, apresentado como a maior organização mundial de IE, nesta entrevista em que fala, também, sobre o desafio emocional decorrente da pandemia do coronavírus. Formado em Antropologia, Sociologia e Ciências Políticas, Aldan liderou a implementação, em organizações de diferentes setores, de uma metodologia para mensurar a Inteligência Emocional, com o objetivo de melhorar o ambiente de trabalho. Em setembro, estará em Joinville para ministrar palestra na Expogestão. De que maneira a enorme crise que vivemos hoje, e que impacta a economia global talvez como nenhuma outra até então, tornará ainda mais emergente a busca da transformação digital por parte das organizações? O sr. concorda que nenhuma empresa será a mesma

após a pandemia do coronavírus? É inócuo o conhecimento que não se transforma em mudança comportamental. Mudança comportamental é de difícil previsão. Pesquisas mostram que, se as pessoas tiverem a opção entre mudar o comportamento e morrer, 90% optarão por morrer. Parece insano, mas 90% dos pacientes que passaram por cirurgia cardiovascular ou angioplastia não mudaram seus hábitos alimentares e outros cuidados com a saúde. Sabemos que fumar faz mal à saúde. Quantas pessoas ainda fumam? Quando testemunhamos a morte de pessoas queridas, sentimos a morte de perto, fazemos reflexões sobre o quanto a vida é frágil e, no entanto, poucos passam a cuidar melhor da saúde física e emocional quando saem do período de luto. Certamente que esse período prolongado de reclusão social para fugir de um inimigo que não conseguimos ver a olho nu, em que as armas existentes até então não servem para acabar com o vírus, afetará empresas e indivíduos de forma dramática. Fazer previsões sobre como o comportamento das pessoas e empresas se alterará nos parece um exercício de adivinhação. Na Kronberg, focamos nosso trabalho no planejamento e desenvolvimento de competências emocionais e organizacionais necessárias para lidar com as transformações do “Mundo Vuca”, quaisquer que sejam essas mudanças. Certamente que a transformação digital que já vinha acontecendo no “Mundo Vuca” (conceito que engloba quatro características marcantes do momento atual: volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade) ganhou um empurrão enorme com a crise do coronavírus. Mas uma coisa é ter o entendimento intelectual sobre a natureza da realidade volátil, incerta, complexa e ambígua da atualidade. No entanto, experimentar emocionalmente essa realidade, como passamos a viver na Covid-19, nos leva a ter uma outra dimensão sobre a era do inesperado. Poderia destacar algumas situações em que isso se verifica? O home-office, por exemplo, que para algumas empresas era tabu, será muito mais aceito como uma prática de trabalho no pós-anormal. O consumo on-line de conteúdos de treinamento e desenvolvimento substituirá grande parte do que se fazia presencialmente. Vamos pensar duas vezes antes de

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pegar um avião para fazer reuniões presenciais em uma outra cidade. Um fato é inescapável, somos ainda seres hipersociais que ansiamos por estima e pertencimento. As atividades que serão feitas mais intensamente on-line, sem dúvida, não eliminarão, no entanto, nossa carência por contato humano. Como utilizar a inteligência emocional neste contexto? As experiências digitais não entregam experiências fáceis, eficazes e emocionais para os clientes. A maioria das operações digitais não foca no que o cliente valoriza. A Inteligência Emocional (IE) é a força subjacente para a resolução dessas perdas de quase US$ 1 bilhão. Em 2016, a Revista Forbes publicou um artigo que demonstra que 84% das empresas fracassam na transformação digital. Já uma pesquisa da KPMG de 2017 indica que somente 18% das empresas pesquisadas classificam suas iniciativas de transformação digital como muito eficazes. No ano passado, estima-se que se investiu US$ 1,3 bilhão nesse campo, e de 60% a 84% não trouxeram o resultado esperado. São inúmeras as razões desse índice de insucesso, mas a principal de-

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“Os maiores obstáculos para a implementação da inteligência emocional como caixa de ferramentas para lidar com os desafios do século 21 estão na resistência das pessoas” las é achar que transformação digital é sobre tecnologia. Não é. É sobre liderança, falta de alinhamento estratégico na alta liderança, baixo nível de confiança e “teamwork” na organização e alto desengajamento. Trata ainda dos comportamentos da organização alinhados às expectativas dos stakeholders, sobre o “mindset” das pessoas. O sucesso nas iniciativas de transformação digital depende fundamentalmente da Inteligência Emocional dos líderes de uma organização. São as competências emocionais que permitem que os líderes sejam inspiradores, aumentem seu grau de influência para implementar a iniciativa de transformação digital, melhorem sua capacidade de resolução dos inevitáveis conflitos que surgem em qualquer mudança, em especial, em uma transformação tão dramática como a que o crescimento exponencial da tecnologia traz para as nossas vidas.


“Alguns terão as competências emocionais para ressurgir no novo normal, para se reinventar, e muitos enfrentarão sérios desafios para lidar com a nova realidade” O que se pode aprender com esta maior imersão no universo digital para a vida em sociedade? Falamos que o universo digital aproxima quem está longe, mas distancia quem está perto. Não precisa ser assim. A inteligência emocional é a ferramenta por excelência para evitar essa contradição. O universo digital traz contribuições inimagináveis há poucas décadas, transformadoras, para o bem-estar da humanidade. Podemos usar a tecnologia para aproximar quem está longe e sem distanciar quem está perto. As competências da inteligência emocional nos permitem eliminar esse aparente paradoxo. O desenvolvimento da IE fortalece nossa autoconsciência para entender como nossos modelos mentais e emoções influenciam nossos processos mentais e comportamentos de forma que possamos discernir quais modelos e emoções nos favorecem ou nos prejudicam. A autoconsciência é que nos leva a entender que somos seres hipersociais, que a solidão mata as pessoas precocemente. A solidão, repentina e inevitável, que o isolamento social determinado pelo combate à pandemia, vai trazer que tipo de consequência para as relações entre as pessoas nas organizações? O isolamento social não significa necessariamente afastamento emocional. Podemos intensificar a conexão emocional de forma saudável no isolamento social. No entanto, o que se verifica é um aumento da violência doméstica, feminicídio, divórcio, depressão e suicídio. As competências emocionais de autoconsciência, autorregulação, otimismo, empatia e propósito são fundamentais para lidarmos de maneira saudável com

o isolamento social. Quanto às consequências futuras para as relações nas organizações, volto ao comentário sobre mudança comportamental. Em um primeiro momento no pós-anormal, haverá uma euforia pelo retorno da convivência com as pessoas nos ambientes de trabalho, restaurantes, academias, festas etc. Passada essa fase, grande parte das pessoas voltará aos hábitos anteriores. Não me refiro aqui, claro, àquele contingente que terá sua vida totalmente modificada pelo desemprego, pela falência, pela redução de seu poder de compra. Nesses casos, as consequências para as relações entre as pessoas são imprevisíveis. Alguns terão as competências emocionais para ressurgir no novo normal, para se reinventar, e muitos enfrentarão sérios desafios para lidar com a nova realidade. Como usar a convergência digital e a tecnologia, de maneira geral, em favor do desempenho profissional e do desenvolvimento humano? O sr. tem visto as empresas e profissionais brasileiros empenhados em fazer esta ponte? Ainda não vimos o benefício geral da revolução digital para a produtividade humana, que está em torno de 2%. Como mencionado, transformação digital não é sobre tecnologia. Temos vários clientes no Brasil que entenderam que, enquanto não trabalharem o lado humano e saudável de suas organizações, e a IE, é a força subjacente que nos permite fazê-lo, continuaremos com baixa produtividade. Todo e qualquer ganho significativo continuará sendo a um alto custo para a saúde física e emocional dos colaboradores de uma organização inserida neste ambiente global e competitivo. Não é à toa que a depressão é a principal causa de afastamento do ambiente de trabalho. O sr. acredita que isso se agravará após a pandemia? Como as empresas devem agir, na prática, para evitar que a depressão seja incontornável entre suas equipes? É muito provável que se agravará. Na última crise de 20082009, o índice de suicídio aumentou 13% nos Estados Unidos. Inúmeras pesquisas demonstram a correlação entre crises econômicas e aumento de distúrbios mentais, uso aumentado de bebidas alcóolicas e outras drogas. As empresas devem dar apoio emocional para suas equipes e respectivas famílias por meio de desenvolvimento das competências emocionais, coaching e terapia. O que a maioria das pessoas em posição de liderança ainda não entendeu é que essas duas variáveis, de-

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“A liderança empática incorpora um líder que investe tempo para entender a perspectiva das outras pessoas antes de dar conselhos e aumenta a capacidade para líderes se tornarem atentos às similidaridades e às diferenças”

senvolvimento humano e produtividade ou transformação digital, não são mutuamente excludentes. Ao contrário. As evidências objetivas estão disponíveis há décadas. Empresas que investem no lado humano e saudável geram maiores resultados de negócios. É possível sensibilizar empresas preocupadas com resultados imediatos e em combater a crise quanto à relevância da inteligência emocional, e de aspectos da gestão que podem parecer menos pragmáticos? O maior preditor de sucesso na vida e de desempenho no ambiente de trabalho é a IE. A Kronberg teve muita dificuldade nos primeiros quinze anos de trabalho aqui no Brasil, mas notamos que, nos últimos três anos, gestores e empresas estão mais receptivos a esses fatos. Sua apresentação refere uma metodologia para mensurar a inteligência emocional. Como isso funciona? Essa é a ótima notícia. A IE pode ser medida e desenvolvida. É algo similar à nossa forma física. Se passamos muito tempo sem exercícios físicos, quando reiniciamos as atividades físicas, nossos sinais vitais, como o batimento cardíaco, sobem muito e, após algumas semanas, começamos a entrar em forma novamente. O mesmo se dá com a IE. Independentemente de onde estivermos nos resultados medidos por assessments validados cientificamente, podemos melhorar cada uma das competências emocionais. O assessment que a Kronberg utiliza é validado cientificamente pelo pai da IE, Peter Salovey, autor do trabalho seminal sobre o assunto em lingua-

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gem científica. São somente dez minutos do tempo do cliente para preencher o questionário enviado eletronicamente por meio de um link. Além das oito competências emocionais medidas, o relatório também informa o resultado de oito fatores de sucesso na vida: eficácia – influência e tomada de decisão; relacionamentos: networking e comunidade (amigos, vida íntima e familiar); bem-estar: saúde e equilíbrio; qualidade de vida: satisfação com a vida e conquista. Especialmente na área da saúde, qual a importância de se adotar o conceito da inteligência emocional, no atendimento ao paciente e na gestão das instituições? A saúde é uma das áreas que mais têm sido objeto de pesquisas sobre o impacto da IE para os cuidadores, pacientes e custos da saúde para a sociedade, seguradoras e empresas envolvidas neste espaço. O burnout é um sério problema no mundo empresarial e para os cuidadores de saúde. Estudos recentes demonstram que de 50% a 65% de médicos residentes sofrem de burnout. A IE tem sido aclamada como o conjunto de competências por excelência para fortalecer a resiliência dos profissionais de saúde a coexistirem com os inevitáveis estressores do cotidiano de maneira mais saudável e resiliente. Como as organizações de saúde deverão lidar com o aumento natural do estresse e até de casos de Burnout após o coronavírus, dada a enorme carga emocional que seus profissionais vêm carregando? A Kronberg vem dando apoio a sua base de clientes durante esse período de reclusão social, em especial aos profissionais de saúde, fazendo assessment de inteligência emocional e sessões on-line sobre como podem fortalecer a resiliência emocional por meio do desenvolvimento das competências emocionais e exercícios de mindfulness. Penso que as organizações não só deverão fazer o mesmo como terão necessidade de oferecer apoio emocional por meio de ferramentas que, comprovadamente, fortalecem nossa saúde física e emocional. A empatia, uma das competências da IE, medida e desenvolvida pela Kronberg, é o componente que talvez tenha o maior efeito positivo nos resultados e satisfação do paciente; na redução da ansiedade, no aumento de expectativa de resultados que consequentemente fortalece o efeito de placebo positivo. Quais os efeitos de se trabalhar a empatia?


A empatia gera felicidade. As pessoas empáticas têm fortes conexões interpessoais e são mais motivados a colaborar, negociar com eficácia, cooperar, demonstrar compaixão, e oferecer apoio. A liderança empática incorpora um líder que investe tempo para entender a perspectiva de outras pessoas antes de dar conselhos ou direção e aumenta a capacidade para líderes se tornarem atentos às similaridades e diferenças nos relacionamentos e para adquirir a habilidade de agir nas diferenças apropriadamente. Dessa forma, o clima organizacional tem um impacto positivo, que por sua vez, promove maior engajamento do colaborador e, em última instância, aumenta a produtividade e resultados de negócios. Os benefícios da IE para a área de saúde são tão contun-

dentes que empregadores bem informados, escolas de medicina e hospitais medem a empatia de candidatos na premissa que serão profissionais mais eficazes. Quais os maiores obstáculos para esse processo, nos tempos atuais? Os maiores obstáculos para a implementação da IE como importante e imprescindível caixa de ferramentas para lidar com os desafios do século 21, manter nossa relevância profissional no Mundo Vuca, promover saúde e bem-estar na vida e fortalecer nossa resiliência emocional para enfrentar crises inesperadas como a do coronavírus estão na resistência das pessoas. Infelizmente, temos alguns paradigmas, que precisam ainda ser quebrados. Exemplo: inteligência emocional é “soft skill”. Como se os chamados “hard skills” (competências técnicas e cognitivas) fossem melhores e possíveis de separar das competências emocionais desta forma no cérebro humano. As emoções podem organizar ou desorganizar nossos pensamentos e comportamentos e a IE nos ajuda a transformar as emoções em recursos estratégicos a nosso favor e das pessoas queridas à nossa volta.

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Associação à SBB A incorporação de novos associados a partir de 2019 está voltada à garantia da autossuficiência financeira da regional, bem como à construção de um coletivo de pensamento e ação pautado nos debates mais candentes da ética, tendo como marco o congresso nacional da entidade, neste ano. A associação pode ser realizada em: https://www.sbbioetica.org.br/CadastroAssociado

Em dia

Na foto, da esq.: Adriano Massuda, Mirelle Finkler, Marta Verdi, Fernando Hellmann e Volnei Garrafa

Ciclo debate bioética, democracia e saúde

I

niciativa da Sociedade Brasileira de Bioética – Santa Catarina (SBB-SC), o 7º Ciclo de Debates em Bioética teve por tema central “Bioética, Democracia e Saúde: diálogos e reflexões”. A realização do evento contou com o apoio do Núcleo de Pesquisa em Bioética e Saúde Coletiva da UFSC, o Nubepisc, e teve lugar no auditório do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal de Santa Catarina. A palestra de abertura, “Acesso aos cuidados de saúde: tema central da bioética brasileira”, foi proferida pelo professor Volnei Garrafa (UnB), parceiro de longa data do Núcleo, razão pela qual foi homenageado na ocasião. Já a palestra “Há alternativas ao SUS? Pressões internacionais, resistências locais” foi ministrada

pelo professor Adriano Massuda (UFPR), que defendeu o sistema público de saúde brasileiro, referendando o posicionamento apresentado pelo professor Garrafa. Como líder do Nubepisc, a professora Marta Verdi fechou as atividades do Ciclo rememorando a trajetória desse grupo de pesquisa em bioética catarinense em sua primeira década de existência e apresentando as diversas atividades que vêm sendo desenvolvidas no âmbito do ensino, da pesquisa e da extensão.

Eleições para a SBB-SC

Questões éticas a pandemia

Em julho, haverá eleição para a nova Diretoria da SBB-SC, biênio 2020-2022. O processo sucessório segue os termos do Estatuto, pela nomeação de Comissão Eleitoral em 30 de março pela atual Diretoria. Os associados aptos poderão compor chapas para ser apresentadas à eleição. Os encaminhamentos podem ser encontrados se no Estatuto. As duas datas importantes, conforme aprovado pela Diretoria atual e Comissão Eleitoral, são as seguintes: • até 29 de julho de 2020 (até as 14h), portanto 48 horas antes da instalação da Assembleia Geral, a nominata das chapas com a composição de seus membros e as devidas assinaturas, nos termos do Estatuto, devem ser entregues à comissão eleitoral, no Centro de Ciências da Saúde da UFSC; • a Assembleia Geral para a eleição das chapas será no dia 31 de julho, das 14h às 17h. “Lembramos a todos da necessidade da prévia quitação da anuidade da SBB, por meio de seu website, pois no local não será possível regularizar a situação financeira”, reitera Leandro Ribeiro Molina, presidente da Comissão Eleitoral.

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Em tempos de pandemia de Covid-19, a Sociedade Brasileira de Bioética vem disponibilizando em seu website diversos materiais que abordam as questões éticas do atual e dramático contexto mundial, em particular do Hemisfério Sul. Dentre estes materiais, destacam-se as notas de posicionamento da SBB, alinhadas ao Conselho Nacional de Saúde e à Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, e em parceria com outras entidades, como a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), o Centro Brasileiro de Estudos da Saúde (Cebes) e a Rede Unida, em defesa da garantia dos direitos humanos, em todos os âmbitos.



Rua Blumenau, 123, Centro, Joinville/SC (47) 3451-3333 www.donahelena.com.br


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