Jornal Arrocha 45 - Escritores do Maranhão

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Arrocha

Escritores no

Maranhão

FOTO DE CAPA: MARCUS MARINHO
Jornal DEZEMBRO DE 2022. ANO XIII. NÚMERO 45
JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL/JORNALISMO DA UFMA, CAMPUS DE IMPERATRIZ DISTRIBUIÇÃO GRATUITA - VENDA PROIBIDA

Editorial - Múltiplos sentidos da escrita

Escrever é criar, representar, resistir e registrar histórias. Histórias que serão lidas, ouvidas e compartilhadas. Na edição 45°, o jornal Arrocha traz como temática de reflexão e de debate o universo da escrita, narrativas que são grafadas por diversos escritores maranhenses com estilos, ritmos e objetivos particulares.

A ideia desta edição é ir além da abordagem sobre os diferentes gêneros e formatos das produções dos autores maranhenses. É mostrar que para se tornar escritor(a) não há barreiras de idade, classe social, gênero ou qualquer outro marcador social. Basta, antes de tudo, querer, lutar e persistir. A escrita, conforme defendemos nas próximas páginas, nasce e se projeta como um mecanismo fundamental para o exercício da cidadania. Para além dos cânones hegemônicos, a escrita pode ser um mecanismo de protagonismo, de denúncia e de reivindicação de direitos para povos, populações e comunidades marginalizadas historicamente.

Compreendemos e defendemos a escrita como uma ferramenta de libertação, de expressão, de resistência e de existência, por isso, trouxemos pautas importantes e curiosas sobre a diversi-

ExpEdiEntE

dade da produção literária. Nesta edição, destacamos: a história da Academia de Letras de Imperatriz. Uma homenagem à trajetória de um dos grandes escritores de Imperatriz, Adalberto Franklin; abordamos também a escrita de autores indígenas; a escrita preta; a escrita LGBTQIAP+; e a escrita feminina. Vamos ainda descobrir como se tornar escritor(a), e se encantar com os gêneros de Cordel e de Fanfic.

As formas de exercer a escrita são muitas, porém os incentivos ainda são poucos. Por isso, esse campo parece restrito, não em relação aos escritores ou aos múltiplos tipos de texto, mas, principalmente, em relação a projetos e Políticas Públicas que tornem a leitura e a escrita bens acessíveis a todos, porque a prática da textualidade é elemento fundamental do cotidiano dos cidadãos.

Nosso objetivo é levantar a discussão do incentivo à escrita e vislumbrar perspectivas para o nascimento e o fortalecimento de novos escritores de variados gêneros. Essa é a perspectiva de abordagem dessa 45° edição do Arrocha, uma maneira de fomentar as diversas formas do exercício da escrita em nosso estado.

Charge

Sobre a escrita ...

Escrever é descrever.

É usar as palavras, os símbolos, a fim de transmitir o que se pensa, o que se ouve, o que se sente, o que se sabe.

Escrever é propor mudanças, causar inquietações.

Escrever por vezes é criticar, relatar problemáticas e injustiças.

Escrever é ter um olhar atento e sensível ao que está em volta.

É representar alguém, um povo, uma cultura. É representar a si mesmo.

É também fantasiar, abrir “portas” para a criatividade.

É a maneira que muitos acham de serem “ouvidos”.

Escrever é divertir e advertir.

É uma ação que tem lugar em qualquer área. Toda e qualquer escrita tem a sua importância. Tem a sua função.

Por isso, escrever é uma das mais belas artes que existe. Denise Ribeiro

Publicação laboratorial interdisciplinar do Curso de Comunicação Social/Jornalismo da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). As informações aqui contidas não representam a opinião da universidade

Jornal Arrocha. Ano XIII. Número 45 Dezembro de 2022

Reitor - Prof. Dr. Natalino Salgado Filho

Vice-reitor - Prof. Dr. Marcos Fábio Belo Matos

Diretor do Campus de Imperatriz - Prof. Dr. Leonardo Hunaldo

Coordenadora do Curso de Jornalismo - Profa. Dra. Michelly de Carvalho

Professores:

Dra. Leila Lima de Sousa (Jornalismo Impresso)

Dr. Marco Antônio Gehlen (Planejamento Gráfico e Editorial)

Dr. Marcus Tulio Borowiski Lavarda (Fotojornalismo)

Repórteres

ALICY BEATRIZ TEIXEIRA

ALINE XAVIER DA SILVA CRUZ

CLARA FERNANDA TELES NUNES

DENISE PEREIRA RIBEIRO

ELENIR SANTOS DE CASTRO

FABIANA VIANA BARBOSA

JOASSAN TRAJANO LIMA

JOSYCLEIDE DE SOUSA SANTOS

KAYLANE DA SILVA FREIRE

VENILSON SOUSA CORDEIRO

Fotógrafos(as):

DEBORA DE ARAUJO MAIA

JANAYNA SOUSA GUIMARAES

JEAN QUEIROZ DOS SANTOS SILVA

JULIA VICTORIA PANTOJA BRITO

JULIANA CARVALHO RABELO PINHEIRO

KARLA GIOVANNA JUSTINO PORTUGAL

KATHERINE MALAQUIAS MARTINS

KETCIA MIRELA FREITAS SILVA

LARA SABRINA DE CASTRO SOUSA

LAURYA SANTANA DE SOUSA PINHEIRO DA SILVA

LUANA SOUSA BANDEIRA

MARCUS DE ARRUDA MARINHO

MARIA EDUARDA VALE ANCHIETA

MARIA GABRIELA SANTANA RIBEIRO

NATHIELLY MARIA LIMA DOS SANTOS

PEDRO ITALO DA SILVA FARIAS

RENATA EVELLYN DE LIMA RODRIGUES

SAIURY LIMA DA SILVA

SARAH PEREIRA DA ROCHA

SOPHIA SOUSA BECKER

VALDEIRES FERREIRA GONCALVES

VIVIA MARIA MOURA DE ALMEIDA

WANESSA NATALI CABRAL NASCIMENTO

Diagramadores(as):

DEBORA DE ARAUJO MAIA

GUILHERME CARNEIRO SILVA

JANAYNA SOUSA GUIMARAES

JEAN QUEIROZ DOS SANTOS SILVA

JULIA VICTORIA PANTOJA BRITO

KARLA GIOVANNA JUSTINO PORTUGAL

KATHERINE MALAQUIAS MARTINS

KETCIA MIRELA FREITAS SILVA

LARA SABRINA DE CASTRO SOUSA

LAURYA SANTANA DE SOUSA PINHEIRO DA SILVA

LUANA SOUSA BANDEIRA

MARIA EDUARDA VALE ANCHIETA

MARIA GABRIELA SANTANA RIBEIRO

PEDRO ITALO DA SILVA FARIAS

RENATA EVELLYN DE LIMA RODRIGUES

SAIURY LIMA DA SILVA

SARAH PEREIRA DA ROCHA

SOPHIA SOUSA BECKER

VALDEIRES FERREIRA GONCALVES Ensaio fotográfico (p. 12 e 13)

1. SAIURY LIMA

2. GIOVANNA PORTUGAL

3. SARAH ROCHA

4. KETCIA FREITAS

5. MARIA GABRIELA

6. JANAYNA SOUSA

Revisora:

DEIVANIRA VASCONCELOS

Todas as edições do Arrocha estão disponíveis no site: www.imperatriznoticias.ufma.br

A escrita é fundamental para a sociedade, pois é por meio dela que colocamos no papel o que está apenas na imaginação. Ser escritor é poder expressar aquilo que está no nosso coração.

Quando escrevo me aceito e me liberto do peso de precisar que você me aceite… Escrever é muito mais que colocar palavras em um papel, é transbordar e transmitir tudo que está dentro de você. Escrever é poder, é um poder que não pode ser tirado de ninguém. Elenir Castro

Tornar-se um escritor é ter muita paixão envolvida nas produções,vontade de mostrar ao mundo coisas novas, curiosidades.Também me descobri uma escritora depois desse projeto, bastante entusiasmada para que outras pessoas também se interessem e despertem o lado escritor Aline Xavier

Escrever é uma forma de colocar para fora o que somente as palavras com seu imenso poder consegue definir. E a escrita acalma, acalenta, conforta e dá forças para continuar vivendo esse imenso mundo real. Portanto, não há como falar da escrita sem falar da vida e sem contar as histórias que estão ao nosso redor. Alicy Teixeira

A importância da escrita está no desenvolvimento de novas habilidades, é onde é mostrado o mundo diferente de cada escritor. Ao escrever sobre os escritores de cordel, foi percebido como é importante a escrita de diversos gêneros na nossa literatura, os escritores usam de suas lindas palavras rimadas, para falar de suas histórias, suas lutas, principalmente das mulheres, que buscam igualdade nessa área também. E diferente da fala, a escrita no papel não se apaga, tornando assim um apoio fundamental para a memória humana.

Foi uma honra para mim poder realizar essa homenagem a Adalberto Franklin. Um grande sonhador, humano, humilde e parceiro. Conheci pessoas especiais ao entrevista-las e aprendi muito sobre a escrita. Ela tem o poder de transformar pessoas, lugares e classes. É uma forma de esvaziar a mente e tranquilizar o coração. Faz com que você saia da sua bolha para pensar no seu ambiente de convívio e nas pessoas ao ser redor. Bem como, Adalberto Franklin fazia: “Adalberto foi sempre um grande sonhador, um sujeito que pensava sempre na literatura de Imperatriz como um todo, a sua grande característica era ser um incentivador da produção de livros em toda nossa região.” - Ribamar Silva.

“Escrever é uma maneira de falar sem ser interrompido.”

- Jules Renard Na sociedade na qual vivemos, escrever é uma dádiva, é o local onde nossas vozes podem ser ouvidas e lidas.

Em um país que mais mata LGBTQIAP+, escrever sobre esse assunto, sobre as lutas, de como somos marginalizados e sobre nossas feridas, a escrita é uma das formas de reivindicar nossos direitos. Quando nós falamos sobre nós, o impacto é ainda maior, pois entendemos as nossas feridas, que tão cedo não serão cicatrizadas.

“Para refletir sobre a nossa escrita...

A partir de situações de leitura e escrita, me veio esse grande desafio de escrever sobre a escrita dos Povos Originários. Ao escrever essa temática, me deparei com uma grande lacuna, a falta de escritores indígenas em Imperatriz. A escrita precisa também ser problematizada pelo viés da exclusão. Quem pode se tornar escritor? No caminho fiquei muito entusiasmada ao trazer o projeto da Professora Walquiria Lima, sobre o estudo da escrita de povos originários nas escolas públicas. Em meio a tantos avanços tecnológicos, a escrita dos povos indígenas demarca um lugar na rede, embora muitos paradigmas ainda precisam ser quebrados. Viajei sobre o universo encantador das obras de Eliane Potiguara, uma das pioneiras dessa escrita”. Josycleide Santos

Um curto pensamento sobre a escrita. No meu ver, escrever é uma transmissão de pensamentos e sentimentos. São vários os tipos, jeitos, estilos de escrita existentes e cada um deles significa alguma coisa. A escrita pode mudar uma vida inteira, ela tem o poder de transformar nossos jeitos e pensamentos. Trazendo para esse lado, a escrita se torna algo de grande responsabilidade para quem a torna pública. Escrever é arte, faz parte da nossa vida independente de gostar de ler ou não. Se torna até clichê dizer que a escrita cura feridas, mas é um clichê que retrata a realidade de muitas pessoas, afinal, não é em vão que muitas pessoas optam por escrever em seus diários do que falar em alto e bom tom. Clara Teles

ANO XIII. EDIÇÃO 45 IMPERATRIZ, DEZEMBRO DE 2022 2 Arrocha Jornal
NATÁLIA CATHERINE

Potiguara: uma escritora que corre o mundo

Bienais do Livro, atividades e palestras do Sesc, universidades e escolas Brasil afora.

Entre as obras de Eliane Potiguara, destacam-se “A Terra é Mãe do Índio” (1989), “Metade Cara, Metade Máscara” (2004), os infantojuvenis “O Coco que Guardava a Noite” (2004), “O Pássaro Encantado” (2014) e “A Cura da Terra” (2015), além da cartilha de alfabetização Akajutibiro: “Terra do Índio Potiguara” (2004). Segundo a autora, livros que são retratos de vivências próprias: “Eu conto na minha literatura as dores dos povos indígenas, das nossas avós, tataravós, da nossa ancestralidade.

As obras de Eliane têm o poder de ajudar a explicar o Brasil. Pois trata-se de uma literatura de conscientização, de reflexão, que leva a população a pensar e, mais que isso, fazer com que a sociedade brasileira tenha empatia pela questão indígena. Reconhecer que os povos indígenas são os primeiros povos do país, as primeiras nações, os primeiros povos étnicos que aqui já estavam.

Quando Pedro Alvares Cabral chegou ao Brasil, classificou de forma impositiva a população já existente, os chamou de índio. “O povo que ficou tinha vergonha de ser indígena, porque ser indígena era e ainda é, sinônimo de racismo, de não ter oportunidade para estudo de não ter oportunidade para trabalhar, não ter oportunidade para nada”, afirma Eliane.

Produção literária de Eliane Potiguara

Conhecer a produção literária indígena é um caminho necessário para transformação social. Listamos algumas das obras de Eliane Potiguara para você se aprofundar:

‘Metade Cara, Metade Máscara’

Fala de amor, de relações humanas, paz, identidade, histórias de vida, mulher, ancestralidade e famílias. É uma mensagem para o mundo, uma vez que descreve valores contidos pelo poder dominante e, quando resgatados, submergem o self selvagem, a força espiritual, a intuição, o grande espírito, o ancestral, o velho, a velha, o mais profundo sentimento de reencontro de cada um consigo mesmo, reacendendo e fortalecendo o eu de cada um, contra uma auto-estima imposta pelo consumismo, imediatismo e exclusões social e racial ao longo dos séculos. A obra já está em sua terceira edição.

“Sou mulher, escritora, poeta, ativista, professora, empreendedora, contadora de histórias, mãe, avó, de origem étnica Potiguara”. Para a escritora, a educação sobre a diversidade deve ser estimulada desde a infância. CLEIDE SANTOS

As culturas indígenas têm sido transmitidas e preservadas por meio de tradições orais há milhares de anos. Graças ao acesso à literatura brasileira, a presença de escritores indígenas tem sido fundamental para a preservação da memória histórica e social de povos tradicionais. O inevitável contato entre os povos originários e o “branco” colonizador trouxe inúmeros prejuízos a valorização cultural desses povos. Somente a história contada diretamente pelos povos tradicionais pode efetivamente estruturar a luta antirracista.

Uma conversa com Eliane Potiguara, uma das pioneiras na escrita indígena no Brasil, nos faz refletir o tamanho do prejuízo que os povos tradicionais tiveram em suas culturas.

Eliane Potiguara, 72, nasceu na cidade do Rio de Janeiro. É Considerada a primeira escritora indígena do Brasil. Recebeu em dezembro de 2021, o título de doutora “honoris causa”, do Conselho Universitário (Consuni), órgão máximo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Foi nomeada Embaixadora Universal da Paz em Genebra, em 2011. Eliane tem participação em centenas de seminários, Feiras literárias,

Os escritores originários têm o poder de quebrar as classificações coloniais através de suas obras. Assegurados na Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas, Eliane aponta a importância do documento, porque foi escrito a partir de depoimento de milhares de povos indígenas do mundo inteiro.

Para a escritora, a necessidade de comunicação e da visibilidade da literatura originaria é de extrema importância para a população, pois muitos autores se apropriam da literatura indígena mesmo sem conhecer a realidade dos povos tradicionais. “Escritores como José de Alencar e Gonçalves Dias contam em suas obras uma história de forma romantizada. Daí se dá a necessidade de nos colocarmos no papel de escritores da realidade dos povos indígenas. Eu sou uma escritora pensadora, eu mobilizo a população a refletir sobre a questão indígena, sobre o racismo”, declara Eliane.

“Minha militância sempre foi rebuscada com a literatura. Eu faço política, mas vou fazendo também os meus poemas”, resume a escritora e ativista.

A escrita indígena conscientiza sobre a importância de se trabalhar a educação da população desde a infância, trazendo a real história escrita por povos tradicionais. Assim, levando a sociedade a se envolver na luta pela cidadania e dignidade dos povos originários, respeitando as expressões, a espiritualidade, as línguas e as culturas dos povos indígenas.

A cura da terra

Moína é uma menina muito curiosa, de origem indígena, e que adora se aconchegar nos braços da avó para ouvir histórias. Ela quer entender o sentido de sua vida, as suas transformações. Mas uma história em especial revelará à menina o sofrimento pelo qual seu povo passou, as descobertas e a sabedoria de seus ancestrais e como conseguiram a Cura de um de seus bens mais preciosos: a terra.

A coleção Tembetá traz as trajetórias e as reflexões de grandes pensadores indígenas, em livros que reúnem ensaios, depoimentos e entrevistas. A homenageada deste volume é Eliane Potiguara, precursora da luta pelos direitos das mulheres indígenas e do movimento de literatura indígena.

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ETNIA
Escritora Eliane Potiguara com seu livro “Metade Cara, Metade Máscara” de 2004 JULIANA LUBIN Eliane Potiguara, umas das primeiras escritoras e poetas de etnia indígena brasileira
ARQUIVO PESSOAL
Autora Potiguara em uma sessão de autógrafos na SALIPI com os fãs do seu trabalho ARQUIVO PESSOAL
“Eu sou uma escritora pensadora, eu mobilizo a população a refletir sobre a questão indígena, sobre o racismo”

O PROCESSO DA ESCRITA

Para viver o sonho: o processo de se tornar um escritor não é fácil. Os autores Zezinho, João Ribeiro e João Marcos rememoram desafios e dificuldades para conseguir realizar o sonho de se tornarem escritores

Cada caminho é único, assim como cada escritor e suas obras.

A caminhada até a linha de chegada nem sempre é fácil. O mundo da escrita pode parecer utópico para quem vê de fora, mas, para quem se aventura, muitos são os desafios.

Diferente de muitas profissões, não existe um curso específico que forme escritores. Qualquer pessoa que queira pode se tornar um. Esse é um sonho que às vezes nasce ainda na infância, mas também pode surgir na adolescência ou na fase adulta.

Ser escritor era um sonho para José Conceição da Silva, ou Zezinho, como é popularmente conhecido, que ele conseguiu realizar. “Eu sempre tive vontade de escrever, desde a minha infância eu lia muito cordel.

Não só cordel, mas qualquer escrito e passei a sonhar em ser um escritor”.

O primeiro livro de Zezinho é conhecido pelo título de “A lendária história de Joaquim na Mata”. A ideia surgiu quando ele chegou à cidade de Arame, que fica na região de Grajaú, no Maranhão. No local, contava-se a história de Joaquim, um homem muito mentiroso e engraçado que adorava contar histórias. Zezinho ficou

interessado e perguntou se havia algo escrito sobre o homem, como disseram que não, ele resolveu transformar os contos de Joaquim em seu primeiro livro. “Fiz algumas pesquisas a respeito, conversei com familiares do Joaquim, com vizinhos e escrevi meu livro de cordel”.

Zezinho é também professor de Literatura e Língua Portuguesa, o que contribuiu na realização do sonho de se tornar um escritor. Hoje, com 58 anos, já possui dois livros lançados e está trabalhando em um terceiro. O percurso foi trabalhoso, mas gratificante, segundo ele. Dentre as dificuldades, a questão financeira tem sido um dos maiores desafios, principalmente para quem deseja publicar de forma independente. “Foi muito desafiador, a questão financeira foi bem complicada. Foi difícil juntar dinheiro para pagar a revisão. A capa eu idealizei, mas quem fez o design foi outra pessoa. Tive despesa com frete também, mas o importante é não desistir. Eu sonhei muito e achava quase impossível”.

Escrever para um grande público torna qualquer escritor passivo a críticas. Esse é mais um desafio para muitos escritores. Embora alguns lidem bem ou nem se importem com

elas, como é o caso de José Ribeiro, escritor e fundador da Academia João-Lisboense de Letras (AJL). Ele revela que o desejo de ser escritor surgiu na adolescência e que o amor pela escrita é mais importante que qualquer crítica. “É aquela história, escrevo por prazer não é por interesse econômico, nem por fama. É mais pela questão de passar conhecimento, pode ser que hoje leiam cinco pessoas

“Desde então não parei mais, escrevi vários livros, inclusive um livroreportagem de Conclusão de Curso. Me inspirei muito em contos de fadas, sempre fui apaixonado”

e daqui a cem anos ele seja referência, de certa forma, a visão aqui é de futuro”.

Para José Ribeiro, talvez o único problema seja fazer com que as pessoas se acostumem a ler livros com mais de duzentas páginas. O problema citado pelo escritor é também identificado em pesquisas como a realizada pelo Instituto Pró-Livro. O

estudo conduzido nos três últimos meses de 2019 mostrou que o brasileiro leu por completo, em média, 1,05 livros nesse período. Entre os que se dizem leitores, a quantidade sobe para 2,04.

O hábito da leitura é fundamental para formar escritores. Este é o caso do escritor João Marcos, apaixonado pela escrita e pela leitura desde criança. Ele começou devagar, primeiro escreveu contos. E aos 14 anos concluiu seu primeiro livro. “Foi mais ou menos com nove anos de idade, eu assistia muitos desenhos, contos de fadas e outros, e foi quando pensei que poderia construir minhas próprias histórias. A primeira história que eu produzi foi um conto chamado “Verdadeira história do pequeno polegar”, algo bem de criança mesmo. Com catorze anos, no Ensino Médio, eu tive a ideia de criar um livro de fantasia, que se chama “O círculo de fogo”. Desde então não parei mais, escrevi vários livros, inclusive um livro-reportagem de Conclusão de Curso. Me inspirei muito em contos de fadas, sempre fui apaixonado”.

Para o escritor, é fundamental não perder nenhuma oportunidade. “Existem várias oportunidades que podem ser abraçadas e assim

construir um público aos poucos. (...) Também estar atento às oportunidades, como por exemplo, publicar em jornais, publicação em revistas e editais de fomento”.

João Marcos, além de escritor, é também jornalista formado pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), o que o ajudou muito a melhorar a sua escrita e o desenvolvimento de técnicas. Mesmo apaixonado por textos jornalísticos, é o gênero fantasia o que mais lhe fascina, embora pretenda escrever sobre tudo. “Penso em uma escrita mais versátil, eu não preciso me desvincular da fantasia, que é o meu gênero principal, que já trabalho há muitos anos. E sim, posso escrever outros gêneros. Com a graduação vi, por exemplo, que posso escrever textos jornalísticos, livros-reportagens. Eu sou apaixonado. Gosto bastante dessas produções jornalísticas, mas enquanto não surge uma pauta boa, sigo escrevendo fantasias, que é onde sempre gostei de estar”, finaliza.

A escolha do gênero antes da construção do livro facilita o trabalho do escritor e ajuda o público alvo a encontrar os livros que lhe são úteis. Dessa forma, cria-se pontes de interesse entre leitores e as obras.

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DENISE RIBEIRO GIOVANNA JUSTINO JANAYNA SOUSA
O
O escritor João Ribeiro
o
JANAYNA SOUSA
escritor e jornalista João Marcos mostra seu livroreportagem: “A sombra da Gameleira”.
conta sobre
processo da escrita.
“Na infância lia muito cordel, outros escritos também. E passei a sonhar ser escritor”. Zezinho revela que o sonho de se tornar escritor nasceu com a paixão pela leitura de escritos de outros autores
Três histórias, um mesmo sonho: o processo de escrita de autores maranhenses

TORNAR-SE ESCRITORA

“Escrevo para que nossas conquistas não sejam levadas pelo vento”

ARQUIVO PESSOAL

(Re)lembrança

na literatura. Sou editora do Núcleo poético de divulgação feminina “Sociedade Carolina” e colunista do blog “Feminário Conexões”, que são projetos feministas que divulgam e incentivam a escrita de mulheres”, declara.

A escrita na pandemia - A pandemia proporcionou a muitos escritores mais tempo de produzir textos e livros, e fez com que o consumo de livros fosse maior. Ao longo do isolamento, foram publicadas mais de mil obras por mês, quantidade muito acima do ano de 2019, cuja média era de 30 livros. Os dados são do Clube dos Autores, plataforma de autopublicação e mostra um aumento de 30% no número desse tipo de produção em 2020.

Um olhar atento e empático são características dos escritos de Gabriela Lages. Durante a pandemia seu olhar se voltou não só para o sofrimento, perigos, dificuldades e preconceitos enfrentados pela população, mas também foi percebido por ela o negacionismo de muitas pessoas o que a motivou a escrever criticamente sobre isso.

Hoje falo em nome de todas as mulheres do passado, presente e futuro. Escrevo para que tudo que minhas ancestrais viveram não seja apagado. Escrevo porque acredito que somos todos iguais, independente de cor, gênero ou fé. Escrevo para que nossas conquistas não sejam levadas pelo vento.

Pôr do sol Dia. Noite. Caminho entre a luz e a sombra. Excesso. Ausência. Procuro o entrelugar. Direita. Esquerda. Habito a terceira margem. Vivo na linha tênue do horizonte. Nem isto, nem aquilo.

Macabéa

“Me descobri escritora”, conta Gabriela Lages Veloso. A escritora, 24 anos, é formada em Letras pela Universidade Estadual do Maranhão (Uema) e Mestranda do PPGLetras, na linha de pesquisa em “Estudos Teóricos e Críticos em Literatura”. Atualmente, é colunista da Revista Sucuru e do “Feminário Conexões”, editora do núcleo poético “Sociedade Carolina” e membro do projeto Entre “Vasos y Versos”, que conta com a participação de escritores de diversas nacionalidades.

Foi a partir de um olhar atento às mazelas sociais de São Bernardo, bairro próximo à Cidade Operária, localizado na capital maranhense, que Gabriela sentiu a necessidade de escrever seu primeiro texto.“No percurso que eu fazia de casa para a universidade, sempre passava por um lugar periférico que enfrentava graves problemas sociais, chamado São Bernardo. Problemas como esgoto e lixo a céu aberto, iluminação deficitária à noite, ruas estreitas, pessoas em situação de rua, entre outros”.

Apesar de sentir que precisava escrever sobre aquele local, Gabriela esperou um pouco para tornar, de fato, seu texto existente. O tempo foi passando e, em 2019, Gabriela teve a oportunidade de iniciar a investigação científica na área de Literatura

Escrever ...

Escrever é libertar-se de si mesmo.

É poder recriar o mundo com o poder da palavra.

Brasileira Contemporânea, pesquisando sobre o romance “Passageiro do fim do dia”, de Rubens Figueiredo.

“Ao estudar esse autor contemporâneo, eu pude perceber que além de analisar, eu poderia também escrever Literatura. E somente dois anos depois de seguir o mesmo caminho, eu soube como descrevê-lo literariamente. Assim, escrevi o meu primeiro texto literário: a crônica ‘Insight’, que, posteriormente, foi finalista do Prêmio Literário AMEI 2020”.

“Eu nunca tinha escrito nenhum texto literário, mas sentia que precisava escrever sobre aquele lugar, ele me chamava”

Gabriela iniciou seus escritos com crônicas, seguido de contos e agora está no meio poético, visto que escrever poesia pode demandar menos tempo. “Eu continuo escrevendo prosa, mas, atualmente, por conta das demandas do Mestrado, tenho tido menos tempo para a escrita literária. Por isso, tenho optado pela escrita da poesia. Mas, eu costumo trazer elementos da prosa para a poesia, e elementos da poesia para a prosa”, comenta.

A entrada da escritora no meio

Escrever é dar asas à imaginação. É contemplar o mundo com outros olhos.

literário se deu através da internet. Todos os seus textos foram publicados, inicialmente, em formato digital. Para Gabriela, as redes sociais facilitam muitas coisas e tendem a favorecer os novos escritores.

“Através das redes sociais, eu tenho conhecido novos(as) escritores(as), bem como espaços voltados diretamente para a literatura, tais como concursos, podcasts, revistas, editoras, canais no YouTube, entre outros meios de publicação/divulgação, tanto de prosa, quanto de poesia. Sem dúvida, seria muito complicado divulgar minha escrita sem o auxílio da Internet. Com ela, mesmo sem sair, fisicamente, do Nordeste, meus textos já circularam todo o Brasil e até mesmo alguns outros países, tais como Portugal, Espanha, Argentina, Peru, México e Colômbia”. Embora nova no ramo da literatura, Gabriela já é reconhecida pelo seu belo trabalho, inclusive coleciona alguns prêmios. Mas, antes de ser escritora e poeta, Gabriela Lages Veloso é mulher e ser mulher é símbolo de resistência. Não foi fácil chegar onde ela chegou.

“O preconceito é renitente. Então, eu poderia dizer que ser escritora é uma forma de resistência. A literatura é uma importante arma de combate contra as desigualdades de gênero, ao dar voz e poder às mulheres. Por isso, além de escrever, eu luto pela democratização do espaço da mulher

Escrever é ora um alento, ora um desconsolo. É transitar entre mundos, eras e seres.

“A maior parte da minha produção literária aconteceu no período da pandemia, pois eu comecei a escrever no segundo semestre de 2019 e a pandemia iniciou no primeiro semestre de 2020. Por isso, a pandemia teve vários impactos sobre a minha escrita, muitos, incrivelmente, positivos. Com a tristeza pelas mortes ocasionadas pela COVID-19, me tornei ainda mais atenta às dores alheias, valorizei ainda mais a vida e suas possibilidades. Consegui observar, também, o negacionismo e falta de empatia de muitas pessoas, o que me motivou a escrever, criticamente, a respeito. Porque escrever também é denunciar, resistir e, quem sabe, provocar mudanças nos leitores”.

O objetivo da escrita literária é na maioria das vezes causar reflexões aos leitores e promover mudanças no meio social. A escrita é tão importante quanto a leitura, mas o Brasil ainda é um país com poucos leitores. Segundo dados de um estudo do Instituto Pró-Livro, 44% da população não lê e 30% disse nunca ter comprado um livro. Outro dado interessante é a quantidade de horas investidas em leitura semanalmente. No país são investidas 5,2 horas semanais. Já a Índia, considerado o país que mais lê por uma pesquisa do NOP World, as pessoas investem 10,5 horas por semana à leitura.

Com quantas Macabéas se faz o mundo? Mulheres pacatas, desajeitadas, silenciadas, que quase não deixam marcadas suas imagens no espelho. Macabéa, até quando aceitarás o destino que te impuseram? Até quando permanecerás invisível?

Sobre viver Minha casa é o mundo. Navio sem porto. Minha comida é esmola. Chuva no deserto. Invisível, que sou, Ando para sempre e nunca.

Arrocha ANO XIII. EDIÇÃO 45 IMPERATRIZ, DEZEMBRO DE 2022 5 Jornal
DENISE RIBEIRO
Gabriela Lages recebe certificado do Prêmio Literário Amei 2022, onde apresentou sua obra, o “Mar” Gabriela fica em segundo lugar no prêmio Emílio Lansac Toha 2022.
Gabriela Lages Veloso fala sobre o processo de escrita com prosa e poesia e como esses gêneros retratam a realidade. Mesmo jovem, a escritora já coleciona diversos prêmios nacionais e internacionais

LITERATURA FEMININA

A luta antes era para ter o direito de ler e escrever. Agora, o desafio da escrita insurgente e insubmissa feminina é para que as autoras possam ser vistas e valorizadas

Escrita feminina: do autorreconhecimento à visibilidade

Aescrita exige que lidemos com diversos sentimentos. Escrever é um ato de coragem, um desafio diário. Para mulheres que escrevem, a escrita é mais que um ato. Ela pode ser libertadora a ponto de ser também um ato de manifestação contra as barreiras existentes que diminuem a visibilidade feminina no meio literário.

Visibilidade significa qualidade ou caráter do visível. “A gente se expõe ao escrever. Ler é um ato político, escrever é um ato político e é algo que fica ali registrado e marca a nossa presença no mundo”. Essa é uma das falas sobre a escrita feminina elaborada pela professora de pedagogia e escritora, Tereza Bom-Fim, que faz parte da Academia Imperatrizense de Letras. Para ela, temos que “arregaçar as mangas” e permanecer firmes na luta.

Não tem como falar de visibilidade sem falar do autorreconhecimento da mulher enquanto escritora e da importância de se permitir conhecer a si mesma como autora, para poder trazer a visibi-

lidade dentro da literatura para as mulheres. É isso que a professora Tereza quer dizer quando fala que “às vezes se a gente não tiver muita clareza do nosso potencial como patrimônio mesmo do nosso conhecimento, a gente trata de se boicotar”. Como querer que outros valorizem a escrita feminina se, muitas vezes, não há a valorização da mulher de si própria como escritora?

“Ler é um ato político, escrever é um ato político e é algo que fica ali registrado e marca a nossa presença no mundo”

A visibilidade feminina vem de um longo caminho, e não é à toa que as mulheres fazem manifestações históricas e protestos em prol dos seus direitos. Mas elas também querem ser vistas na sociedade. Na literatura não é diferente. Em um campo predominantemente machista, a escrita feminina precisa ser vista

e ser reconhecida com maior amplitude. Quantas mulheres escritoras existem e quantas são nacionalmente conhecidas? Quantas escritoras você já leu?

Maria Firmina dos Reis (18221917) é a escritora maranhense mais conhecida nacionalmente quando se trata de literatura. Apesar de toda a visibilidade concedida à escritora atualmente, ela foi esquecida por décadas antes do historiador paraibano Horácio de Almeida “trazê-la” de volta, em 1962, mais de um século depois de seu primeiro livro publicado, em 1859. Muitas vezes a escrita feminina é vista somente como um apelo social, como uma quebra de estereótipos, uma forma de resistência. Porém, não somente isso representa a literatura feminina. Esses fatores são importantes e são questões que exaltam a história das mulheres da literatura. Mas, existem diferenças entre a escrita feminina e a masculina, especialmente no modo como elas escrevem ao contar detalhes da vida comum das mulheres ou ao descreverem um personagem, assim como nos temas que escolhem como pontos centrais de suas histórias.

O pseudônimo na escrita feminina

Opseudônimo é um nome fictício usado por um indivíduo como alternativa ao seu nome legal. Apesar de não ser tão utilizado como antes, ele fora necessário para que as mulheres pudessem escrever e publicar suas obras sem serem censuradas, perseguidas ou até mesmo para serem levadas a sério na sociedade. Esse foi o caso de muitas autoras brasileiras.

Cassandra Rios, conhecida pelo pseudônimo Odette Pérez Ríos, foi uma das primeiras escritoras brasileiras a escrever sobre feminismo, homossexualidade feminina e erotismo. A escritora, além de ter sido perseguida durante o período da ditadura militar, foi con-

siderada pela oposição como “escritora maldita” e ainda teve cerca de 36 obras censuradas. Ela não foi a única, muitas outras escritoras usaram pseudônimos para publicar suas obras, dentre as mais conhecidas, estão Cecília Meireles, Clarice Lispector, Cora Coralina e Maria Firmina dos Reis, que utilizaram o pseudônimo como mecanismo de proteção.

São vários os exemplos que podem ser citados para explicar os motivos pelos quais as mulheres usavam pseudônimos, em sua maioria nomes de homens ou nomes mais “neutros”. Em obras de época do audiovisual podemos ver bons exemplos disso, como

a personagem de Lady Whistledown, da série Bridgerton. Embora os exemplos citados sejam de autoras e personagens vividas antes dos anos 2000, existem escritoras que utilizam pseudônimos para que sua escrita seja mais visível aos olhos da sociedade e assim possa ser valorizada e bem sucedida. Nesse sentido, apesar de serem outros os motivos, ainda assim a mulher, em alguns casos, precisa utilizar de outros nomes e esconder sua verdadeira identidade como um mecanismo de proteção, para que assim possa se fazer vista e respeitada em um mundo que, apesar de tantas evoluções, ainda não evoluiu socialmente o necessário.

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CLARA TELES
Livros de Tereza Bom Fim acompanham marca-páginas produzidos manualmente pela autora KETCIA FREITAS FOTOS: KETCIA FREITAS

Atualmente Imperatriz é a cidade que recebe a maior feira literária do Maranhão, o Salão de Livros de Imperatriz, Salimp, que esse ano teve sua 18° edição. Por conta desse evento anual, a literatura tem alcançado uma maior visibilidade. Esse é o primeiro passo para que as escritoras possam ter o reconhecimento que merecem. “Para que a gente tenha esse acolhimento na literatura feminina a gente tem que fazer esse acolhimento né, ele não existe de forma gratuita. A gente tem que estar na luta diária para que ele aconteça”. O comentário da escritora Hyana Reis mostra a realidade de como os leitores locais acolhem

Imperatriz e a visibilidade das escritoras

autoras e suas obras. O depoimento transmite um pouco da luta das mulheres na busca por visibilidade e valorização no ambiente literário.

“Precisa de um investimento tanto financeiro, quanto de engajamento por parte dos movimentos sociais e das próprias mulheres escritoras, precisamos de união”. Esse é o pensamento da professora e membro da Academia João Lisboense de Letras, Natividade Silva, quando se trata do que pode ser feito para uma maior visibilidade das mulheres na literatura. Para Tereza, que foi a quinta mulher a entrar na Academia Imperatrizense de Letras (AIL), apesar da pouca quantidade de mulheres dentro da instituição, a AIL acolhe bem mulheres escritoras.

Enquanto Hyana, que foi uma das vencedoras da última edição do prêmio literário da Academia Imperatrizense de Letras, acredita que apesar de não ser proposital, a AIL ainda é carente da representatividade feminina e acha que essa questão precisa ser melhorada para que as mulheres sejam cada vez mais visíveis na Instituição “eu acompanho a Academia de perto. Eu sei de um esforço que eles fazem pra que haja uma maior representatividade”, destaca a escritora.

Quando o assunto é premiação, a invisibilidade feminina também está expressa e pode ser refletida na pouca quantidade de mulheres que foram agraciadas

Conheça

com reconhecimento sobre seus escritos. Desde a primeira premiação do Prêmio Nobel de Literatura, em 1901, apenas dezessete mulheres ganharam distinção até hoje, uma quantidade de 14,3% de 119 premiados no total. No Brasil, por exemplo, existem muito mais prêmios literários nacionais com nomes homenageando escritores homens. Voltando à Imperatriz, quando perguntada sobre o que a cidade e a AIL poderiam fazer para ajudar na visibilidade feminina, Bom Fim responde que a mulher não tem que esperar fazerem algo, precisa fazer o próprio movimento em busca de mudança. “A gente tem que fazer de tudo um pouco, como for, no seu estilo, no seu jeito, a gente tem que fazer e não tem

de dizer que vai fazer, tem que dizer que fez, essa é a diferença”, acredita. Em Imperatriz, apesar da existência de projetos voltados à leitura infanto-juvenil e adulta, ainda são tímidos os projetos voltados ao apoio e à visibilidade da escrita feminina, o que acaba não ampliando ou estimulando o espaço feminino na produção da literatura no município. Em uma pesquisa realizada pela reportagem, com dezesseis pessoas, para saber quais escritoras maranhenses já leram, a maioria respondeu que menos de cinco, apenas uma respondeu que já leu mais de vinte. Quando perguntadas quais conhecem de nome, a maioria não sabe e a mais referenciada foi Maria Firmina dos Reis.

projetos que apoiam

a literatura feminina:

Uma das alternativas para que escritoras alcancem um nível maior de visibilidade dentro da literatura são os projetos criados para incentivar pessoas a lerem e conhecerem seus livros.

Além de projetos, há clubes de livros voltados para a leitura de mulheres. Conheça mais:

Énecessário um incentivo literário em Imperatriz. Gostar de ler é uma construção social, é algo aprendido. Para ter esse incentivo, é preciso que a cidade desenvolva mais campanhas de conscientização, que ofereça subsídios necessários para a criação de grupos e projetos literários voltados para a valorização da escrita feminina. É preciso também que as obras de

autoria feminina sejam mais bem divulgadas para a população. É fundamental que os projetos de incentivo e de valorização da diversidade de escrita sejam implementados desde os anos iniciais de ensino, para que haja maior visibilidade das mulheres na literatura. Só assim, meninas e mulheres terão a possibilidade de assumir posições importantes na literatura brasileira.

Clube do Livro de Imperatriz Coordenado pela escritora Hyana Reis: clube voltado para a literatura e tem como regra que metade dos livros anuais seham escritos por mulheres.

Projeto Mural das Minas

É um projeto que reúne 50 escritoras da região Tocantina com o intuito de aumentar a visibilidade de escritoras maranhenses.

Mulheres em Prosa

Coordenado pela escritora Hyana Reis: grupo de mulheres que leem mulheres criado especialmente para fortalecer a literatura feminina.

Projeto Leia Mulheres:

É um projeto nacional, com um clube em São Luís, que tem o propósito de fazer com que as pessoas leaim mais escritoras.

Projeto O Centro Maranhense de Documentação e de Pesquisa Maria Firmina dos Reis tem por missão organizar e conservar materiais produzidos em pesquisas e projetos de autoria feminina.

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Livro “Amores em tempo de @” escrito por Hyana Reis. O livro foi um dos vencedores do concurso promovido pela Academia Imperatrizense de Letras de Imperatriz que buscava estimular o reconhecimento de novos escritores
CLARA TELES
SAIURY LIMA
FOTOS: SAIURY LIMA

EDUCAÇÃO

Curso de jornalismo da UFMA/Imperatriz se destaca na produção de livros-reportagem. Professores e alunos do curso comentam sobre importância da escrita a partir de suas vivências

EDUFMA publica livros feitos na UFMA/Imperatriz

Tornar-se um escritor e publicar seus livros é sonho de grande parte de acadêmicos Brasil afora. Com esse dado no horizonte, o curso de Jornalismo, da Universidade Federal do Maranhão em Imperatriz, destaca-se na produção de livros-reportagem resultantes de Trabalhos de Conclusão de Curso, e há mais de dez anos tem estimulado os estudantes de jornalismo a também se tornarem escritores.

O livro-reportagem é um gênero jornalístico. Uma produção literária que discute questões sociais, resgata biografias e retoma assuntos históricos. Tem como principal característica uma escrita extensa, em profundidade, com muitos dados detalhados. Nesses textos, os jornalistas têm mais espaço e liberdade para criá-los, por meio de técnicas literárias que resultam em um texto mais próximo da literatura que o texto do jornalismo convencional. É muito comum que o escritor se coloque como narrador nessas obras.

O livro-reportagem tem sido importante para Imperatriz, pois muito da história e da memória da cidade é recuperado nas produções. Nesse sentido. O curso atualmente conta com um projeto de estímulo à prática do jornalismo de profundidade, chamado “Memórias de fôlego”.

O projeto já tem uma coleção de livros-reportagens que tem como objetivo registrar as memórias de Imperatriz e do Maranhão, através de trabalhos de conclusão de curso dos próprios alunos da graduação. “A elaboração de um livro-reportagem como TCC permite que o concluinte coloque em prática, a partir do exercício pleno da entrevista e da busca de vozes plurais, do olhar atento às problemáticas da região que habita e com as devidas balizas éticas, um projeto jornalístico-autoral a serviço da interpretação da memória”, declara o professor doutor Alexandre Maciel, professor do curso de jornalismo da UFMA/Imperatriz e coordenador do grupo de pesquisa “Jornalismo de Fôlego”.

A coleção dos livros-reportagens do curso de jornalismo da UFMA é resultado de uma seleção de Trabalhos de Conclusão de Curso que

passaram pela banca avaliadora da Universidade e foram aprovados com excelência, sendo escolhidos para integrar o projeto “Memórias de fôlego”. Segundo o professor Alexandre Maciel, o principal objetivo do projeto é “demarcar a trajetória e a tradição do curso de Jornalismo da UFMA de Imperatriz de produzir livros-reportagens com a marca do jornalismo de fôlego”.

Além disso, o projeto garante uma reaproximação com os ex-alunos e valoriza suas produções acadêmicas.

As obras que foram selecionadas vêm sendo estruturadas nos últimos 10 anos com a proposta inicial de que seriam lançadas no ano de 2021,

rações jornalísticas. Os escritores, jornalistas egressos da graduação, participam de todo o processo de levar o livro ao leitor, o que inclui a produção, publicação e lançamento.

O projeto também se torna importante pela possibilidade de levar a marca da instituição e as memórias do Maranhão para todo o país e para o mundo.

O professor e orientador do projeto, Alexandre Maciel, frisa que Imperatriz ganha muito com esses projetos e com a memória registrada nos livros. A ideia era também que a prefeitura da cidade se interessasse pela publicação e tiragem do material, para utilizar como material didático nas escolas municipais, ampliando as obras à disposição no acervo sobre a história e a memória do município. No total, serão 10 volumes publicados, com previsão de conclusão no fim de 2023.

” O livro-reportagem é um gênero jornalístico. Uma produção literária que, conta sobre histórias reais, questões sociais, biografias e assuntos históricos”

quando o curso de Jornalismo completou 15 anos. O projeto envolve alunos, ex-alunos e são coordenados por professores do curso que auxiliam nos preparativos, que vão de atualizações de dados, revisão de língua portuguesa, diagramação, checagem de informações históricas e jornalísticas.

Além da elaboração de elementos pré e pós-textuais e demais ajustes necessários dos trabalhos até a edição final. A iniciativa também conta com a parceria da editora da própria Universidade, a EDUFMA, que abre espaço para os acadêmicos terem suas produções publicadas.

O processo acontece através de uma análise da qualidade dos livros e posterior encaminhamento para publicação. As obras serão distribuídas em versões impressa e digital.

O projeto “Memórias de Fôlego” é um sonho antigo do curso de Jornalismo de Imperatriz, criado com o intuito de divulgar os trabalhos que são resultados de cuidadosas apu-

O primeiro livro da coleção Memória de Fôlego, “O que é que o Mercadinho tem?”, do ex-aluno e jornalista André Wallysson Ferreira da Silva, conta um pouco da história do Mercadinho, um dos principais setores comerciais de Imperatriz e região. De acordo com o escritor, a idealização da obra partiu de vivências pessoais. “A ideia surgiu porque as minhas raízes já estão no mercadinho, a minha bisavó tinha restaurante de comida no mercadinho, a minha avó também teve, e eu também trabalhei no mercadinho em uma loja de utilidades domésticas, então eu sempre estive por ali, minha família sempre esteve ligada àquele setor, fora que lá é um patrimônio, um lugar que representa muito bem a nossa cultura”.

A obra foi lançada na 18º edição do Salão do Livro de Imperatriz e contou com a presença de um público diverso, além de professores da UFMA como o coordenador e orientador do projeto, Alexandre Maciel; da coordenadora de diagramação e checagem de dados históricos, professora Yara Medeiros; da coordenadora de revisão e dados históricos, professora Roseane Arcanjo Pinheiro; e do Vice-reitor e coordenador da revisão de Língua Portuguesa, professor Marcos Fábio Matos, escritor e ocupa uma cadeira na Academia Imperatrizense de Letras.

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KATHERINE MARTINS Professor Dr. Alexandre Maciel, coordenador do projeto ‘Jornalismo de Fôlego’, que estimula o estudo e a produção de livros-reportagem

MEMÓRIAS DE FÔLEGO

A escrita pelo olhar de escritores: desafios e potencialidades

ALINE XAVIER

Para se tornar um escritor é preciso trilhar um caminho, uma longa jornada, estruturada, principalmente pelo gosto pela leitura. Todo escritor tem um percurso de leitura. Escrever não é uma tarefa fácil para graduandos, que enfrentam problemas de falta de experiência e de tempo para dedicar às produções. Mas, na UFMA, com os incentivos do projeto “Memórias de fôlego” e da EDUFMA, o estudante tem um espaço para produções acadêmicas e uma oportunidade de possível publicação.

A EDUFMA é uma das editoras universitárias mais produtivas do Nordeste e publica obras de escritores do Maranhão e de todo o Brasil. Segundo o professor doutor Marcos Fábio Matos, vice-reitor da UFMA, “a editora para nós é fundamental, porque é por meio dela que a gente consegue ir dando vazão a produção acadêmica que é feita na Universidade.

Não é fácil publicar no Brasil, ser autor no Brasil é bem

difícil, complicado, vender o livro, mais complicado ainda é viver de literatura. Então as editoras universitárias, nesse sentido, elas têm um papel muito importante porque elas chancelam nosso trabalho e elas nos ajudam a fazer essa divulgação para a comunidade acadêmica de uma forma mais ampla”, argumenta.

O próximo livro da coleção “Memórias de Fôlego” a ser lançado será “Prata da casa: uma biografia de Neném Bragança”, que conta a trajetória do cantor e compositor paraense, que se considerava filho de Imperatriz e se consagrou na cidade. A autoria do livro é de Gustavo Araújo Lopes, e será a próxima obra do projeto a ser lançada. Em seguida, será lançado o livro “Carpideiras: fé, mistério e devoção”, que explica a história das mulheres carpideiras da cidade de Caxias- MA, da escritora Maísa de Paula Oliveira Sousa.

Para se tornar um escritor de livro-reportagem é importante mostrar o que foi aprendido ao longo do curso, sobretudo nas matérias

de técnicas de reportagem, redação jornalística e jornalismo impresso. É necessário colocar em prática o ato da narrativa, uma narrativa que possa ir além do relato factual, que seja mais literária, que relate com maior profundidade os fatos do cotidiano. “Em termos de aprendizado, é você fazer uma maratona de jornalismo, de entrevistas, uma maratona de pesquisa documental, de texto, porque ocupa mais de 50 páginas. E se o aluno já não tem um texto desenvolvido, não aconselho. Tem que ser um texto bom, pois não vai dar tempo no livro-reportagem de o aluno aprender a escrever melhor. Então melhor ir para o campo de outras mídias nesse caso”, diz Alexandre Maciel. Com 31 anos de escrita e 22 obras publicadas de variados temas que vão desde a escrita acadêmica, literária, contos e até novelas, o escritor, professor universitário e imortal da Academia Bacabalense e da Academia Imperatrizense de Letras, Marcos Fábio Belo Matos, conta sobre os desafios e os cami-

nhos a percorrer para se tornar um escritor. “Parece um chavão dizer isso, mas não é, é verdade. Para você ser um escritor, você tem que fazer um caminho de leitura, que é o caminho que vai te dar um subsídio de conteúdo, de técnica, de exemplo, do que os outros escritores já fizeram”, relata Marcos Fábio Matos. Ele ainda argumenta que é importante acompanhar e ler com afinco outros autores para construir um estilo e um ritmo próprios de escrita. O escritor cita, ainda, que duas de suas grandes inspirações são Machado de Assis e Aluízio Azevedo.

O jornalista e escritor

André Wallyson explica que o processo de escrita é longo, que é preciso estudar sobre o

jornalismo literário, definir a forma da linguagem e como se quer escrever e, a partir disso, colocar no papel as histórias. Relata, ainda, que para ele, o desafio para se tornar um escritor não foi tão grande, pois ele como jornalista já escrevia. “O que eu indico para quem quer se tornar um escritor é estudar, no caso, eu estudei Comunicação Social, por isso escrevi o livro-reportagem. Mas quem pretende se tornar um escritor precisa estudar e ler muito, para que ele encontre seu estilo próprio”, conta André.

A partir dessas observações é possível entender um pouco mais sobre o universo da escrita e o rumo a seguir para obter êxito nessa trajetória de se tornar um (a) escritor (a) de sucesso.

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Ano
2023.1 Santas latas de São Domingos - Crônicas
Araguaia Narcísio
2023.1 A Santíssima Trindade: Quanto custa uma
de Imperatriz? Juliana Neves Carvalho Costa 2023.1 Cara Idade: história do Lar São Francisco de Assis. Fernando Costa da Silva 2023.1 Uma história do município de João Lisboa João Marcos Santos
previsto para a publicação
de uma cidade do
Ferreira Cruz
praça
Confira abaixo as obras que serão lançadas pela coleção “Memórias de Fôlego”: Título Autor Professor Marcos Fábio, Vice-Reitor da UFMA e membro da Academia Imperatrizense de Letras
DÉBORA
André Wallysson autor do livro “O que é que o mercadinho tem” DÉBORA MAIA
MAIA
Escritores Maranhenses comentam sobre o processo de escrita, inspiração e os principais desafios para publicar

ACADEMIA IMPERATRIZENSE DE LETRAS/ AIL

‘’Isso é ser um escritor, estar sempre de mente e olhos abertos para ouvir. Observar e captar e entender o que se passa em torno das suas relações.’’

Academia Imperatrizense de Letras: visibilidade aos escritores locais

“Ninguém será um escritor se não tiver lido antes, e os jovens devem começar a ler bem cedo, para melhor desenvolver a escrita, a literatura, sem a qual não há civilização, não há vida moderna, desenvolvimento. A literatura é um sinal de maturidade da população, da sociedade, então é preciso ler muito”, declarou Agostinho Noleto, advogado, escritor e membro da Academia Imperatrizense de Letras.

Agostinho Noleto começou a ler na sua cidade natal, que o menino visitava constantemente, até ler quase tudo o que tinha no local. Do hábito de leitura surgiu o desejo de escrever.

Quando veio para Imperatriz, a cidade estava passando por mudanças sociais, econômicas e culturais. “Foi magnífico ver a pequena cidade transformando-se em um centro de crescimento e desenvolvimento no Maranhão e na Amazônia toda”. Isso levou ele a pensar e a escrever sobre as coisas que aconteceram naquela época. A partir daí, Noleto começou a redigir e preparar textos, e só depois veio a formação profissional.

A escrita, para muitos, significa dar sentido à vida, é a expressão daquilo que está no pensamento. Muitos, quando começam a escrever, se encantam pelo mundo da palavra. Ela nos leva a criar e colocar no papel aquilo que está na nossa imaginação. Por conta disso, a Academia Imperatrizense de Letras tem a função de dar voz aos escritores, como conta o escritor Marcos Fábio, que faz parte de duas Academias. Maranhense de Bacabal, ele faz parte da Academia Bacabalense de Letras. Chegou em Imperatriz em 2006, 10 anos depois, submeteu a sua candidatura para a Academia Imperatrizense de Letras e foi escolhido.

“É muito importante para um escritor fazer parte de uma Academia, por duas razões: primeiro ele está entre iguais, ele está entre

pessoas que escrevem como se fossem um grupo qualificado e específico que discute um determinado tema, no nosso caso a literatura. Então, é importante você estar convivendo com essas pessoas. A outra coisa, no caso específico da Academia Imperatrizense de Letras, é que você está vinculado a uma entidade forte, talvez seja uma das entidades mais importantes no termo de cultura dessa região inteira. Então, é para nós um amparo bem importante para a gente poder fazer o nosso trabalho. Por outro lado, é a simbologia. Representa muito ser de uma Academia de Letras, e como Academia a gente acaba fomentando cultura e em especifico a literatura’’, afirma Marcos Fábio. É no sentido de fomentar a educação e a cultura da região Tocantina que surge a Academia Imperatrizense de Letras (AIL). Criada no dia 27 de abril de 1991 por vários autores e educadores Imperatrizenses liderados pelo jornalista e escritor

Edimilson Sanches. Atualmente, a Academia conta com 40 membros e tem o propósito de promover a literatura universalmente, com foco nas obras de Imperatriz e Região Tocantina. Como mais uma

Muitos, quando começam a escrever, se encantam pelo mundo da escrita. Ela nos leva a criar e colocar no papel aquilo que está na nossa imaginação.

forma de incentivo, a Instituição premia todos os anos os escritores locais. Além disso, a relação da organização com a sociedade é de proximidade, principalmente com as instituições de ensino públicas e privadas. A academia se reúne ordinariamente às quintas feiras, a

partir das 17 horas, para deliberar sobre assuntos administrativos e sobre assuntos culturais. Algumas reuniões são fechadas quando se trata da parte administrativa.

O processo para ocupar uma cadeira na AIL acontece depois da divulgação de edital, que abre apenas diante do falecimento ou pela desistência de um membro.

‘’As pessoas se inscrevem e apresentam um comprovante das suas obras literárias e a Academia realiza uma eleição secreta para a escolha dos membros. O resultado dessa eleição, numericamente não é publicado, só é anunciado quem foi o vencedor. Não é divulgado o número de votos para não causar nenhuma insatisfação com alguém que foi menos votado. Por isso, o interesse é divulgar quem foi o eleito e a partir daí marca uma cerimônia de posse para o novo membro’’, afirma Trajano Neto - atual presidente da Academia Imperatrizense de letras.

A academia Imperatrizense de Letras desenvolve

vários projetos para incentivar as pessoas a se interessarem pela leitura e pela escrita. Entre eles, pode-se destacar o Salão do Livro de Imperatriz: SALIMP – evento literário que é considerado uma das maiores feiras de livros da Região Tocantina.

O SALIMP é reconhecido pela Assembleia Legislativa do Estado como Patrimônio Cultural e Imaterial do Maranhão. No ano de 2022, foi realizada a décima oitava edição do evento, cujo tema central foi a “Educação na cidade de Imperatriz”. O evento, que é realizado no Centro de Convenções de Imperatriz, recebeu na edição de 2022 cerca de cem mil visitantes de várias partes do Maranhão durante os nove dias de evento. Mais de 300 editoras expuseram obras no local. No total, 35 mil livros foram expostos. A 18º edição do SALIMP contou com palestras, oficinas, exposições, debates, gincanas culturais e apresentações musicais, além de lançamentos de livros.

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Prédio da Academia Imperatrizense de Letras, lugar que há trinta e um anos tem buscado incentivar, valorizar e estimular a cultura e a literatura da Região Tocantina
JULIANA CARVALHO

Oescritor é aquele que não escreve apenas para si mesmo. É aquele que se propõe a estender uma mensagem, qualquer que seja ela, ao leitor, ao público que lê. É necessário, também, que essa mensagem seja construtiva, impactante. Para que assim, o leitor, sobretudo aquele mais exigente, se reconheçam dentro do texto que foi escrito.

Ser escritor é ser moldado, em primeiro lugar, através da leitura. É primordial ser um grande leitor. Alguém que lê não apenas pela necessidade técnica ou profissional, mas que teve o prazer de viajar no texto. Esse é o primeiro passo para se forjar um escritor propriamente dito. “Agora esse termo escritor ele é muito forte.Eu posso dizer a você que eu já tenho sete livros publicados de gêneros de poesias e crônicas, lhe digo que ainda não me considero um escritor simplesmente porque escrevi essa quantidade de livros. Talvez esteja até sendo rigoroso comigo mesmo, mas o alcance desse termo escritor ele é imensurável’’, afirma Trajano Neto.

Trajano Neto é autor de sete livros: “Translúcidos”, “Entre Tantos e Outros”, “Miscelânea”, “A Pedra”, “Noturnos”, “Andanças”, e a sequência “Andanças II”. Além disso, o escritor participou da Coletânea “Quintessência”, obra vencedora do Prêmio Literário

AIL 2015, em conjunto com outros autores. Participou também de duas coletâneas da Academia Imperatrizense de Letras.

O escritor é um observador universal do ser humano e das condições sociais em que os homens vivem, desde os mais simples aos mais complexos. Cabe ao escritor interpretar e traduzir aspectos da vida para o texto. O escritor vai estar sempre sob o julgamento do leitor. É o leitor quem decide se o texto é bom, agradável, coerente, ou se o texto é bem apresentado tanto, na questão visual ou no quesito gramatical. “Isso é ser um escritor, estar sempre de mente e olhos abertos para ouvir. Observar e captar e entender o que se passa em torno das suas relações. O escritor é aquele que tem a capacidade de criar a sua logística textual dentro de um tema que lhe seja oferecido ou que ele naturalmente ache conveniente para os seus propósitos como escritor’’, acredita o escritor e imortal da AIL, Trajano Neto.

A escrita não está restrita à idade. Tanto jovens como velhos estão dispostos a escrever e a deixarem a sua marca. Em relação à característica da escrita, Agostinho Noleto comenta que não há muita diferença entre novos e escritores mais experientes.’’Talvez o estilo, linguagem mais moderna, uma linguagem modificada que os jovens usam, que os velhos talvez não usem tanto’’. Os escritores mais velhos, segundo

O que é ser escritor?

ele, são mais apegados às formas gramaticais, à língua mais tradicional e os jovens são mais livres para escrever conforme a linguagem do momento.

Atualmente, Agostinho já tem sete livros publicados, são eles: “Violência e Justiça”, “Guerrilheiros Sem Rosto”, obra premiada no prêmio literário de 1996, “Velho Jaborandy”, “Kevellyn”, “Portal da Amazônia’, “Dois estranhos no caminho” e “O Arcano rei”. Aos 79 anos, Agostinho Noleto continua interessado em escrever.

O jovem que quer ser um escritor deve seguir a trilha do conhecimento através da linguagem. Por sua vez, a boa linguagem nasce da leitura. A leitura é um caminho fundamental para a boa escrita. ‘’Leiam muito, e assim comecem a escrever e se expressar através da linguagem escrita. Iniciem com pequenos textos, e vai desenvolvendo, amanhã quem sabe teremos um romancista ou um grande poeta. Não há outro caminho, é a experiência pessoal e o amor aos livros, à literatura, à linguagem que, para mim é a expressão maior da pessoa humana,” destaca Agostinho Noleto.

Para o Poeta e escritor Humberto Barcelos, que é um dos mais novos membros da Academia Imperatrizense de Letras, ser escritor parte de uma necessidade fundamental do desejo de se expressar. Nesse sentido, ressalta que existem bons escritores que estão no anonimato. “Escritores são pessoas que sentem a necessidade de se expressarem de uma forma específica, como se dá com o uso da palavra escrita em alguns casos. Fazem da escrita a sua profissão, mas na grande maioria das situações, escrevem por uma necessidade de registarem seus pensamentos, ideias ou simplesmente acontecimentos do cotidiano. Há, inclusive, escritores não publicados cujas produções permanecem no anonimato. Mesmo estes se sentem compelidos a escreverem por uma necessidade pessoal de assim fazer”, destaca o escritor.

A academia de Letras possui uma importância fundamental na sociedade porque ela oferece suporte em três níveis específicos: primeiro em relação à literatura, promovendo a escrita de livros e a atuação de autores dentro de um contexto que lhes permita promover suas obras. Segundo, tem a ver com a educação, já que a literatura está vinculada nitidamente à educação e ambas andam juntas. E, por fim, é o reflexo cultural que o trabalho da Academia oferece na sociedade onde atua. A escrita é fundamental para a sociedade. Através dela, os escritores expressam ideias ou pensamentos. É uma das principais formas que a sociedade tem para se comunicar e para relatar histórias que aconteceram, preservando a memória histórica e social.

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ACADEMIA IMPERATRIZENSE DE LETRAS/ AIL
Da esquerda para a direita, de camisa azul, Agostinho Noleto, escritor com 7 livros publicados, em um bate-papo sobre a importância do Salimp Escritor, Trajano Neto, durante reunião da Academia Imperatrizense de Letras no Salimp 2022 Poeta imperatrizense, Humberto Barcelos, posa para foto durante reunião da Academia Imperatrizense de Letras no Salimp 2022 NATHIELLY MARIA NATHIELLY MARIA JULIANA CARVALHO Para além do imaginário: escritores da Academia Imperatrizense de Letras desmistificam os cânones da escrita e refletem sobre a simplicidade e a importância das miudezas cotidianas
Ensaio Fotográfico 01 02 03
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LITERATURA E CULTURA

Jornalista, editor, escritor e historiador, deixou seu legado em Imperatriz e teve importantes contribuições em diversas áreas. Segue inspirando leitores, escritores, jornalistas

A história de Adalberto Franklin por dois amigos

As obras de Aldaberto Franklin

Conhecido por sua sensibilidade, amor ao próximo e dedicação a cidade de Imperatriz, Adalberto Franklin, ao longo de sua vida, teve participação ativa em órgãos e movimentos da Igreja Católica. Filho de Iracema e Martinho Castro, nasceu em 28 de abril de 1962 em um município chamada Uruçuí, que fica localizado no estado do Piauí. Com poucos dias de nascido, sua família mudou-se para Balsas no Maranhão. Neste município, ficou até 1972, quando a família foi viver em Imperatriz. Ainda jovem, Adalberto começou sua carreira profissional como tipógrafo e empresário gráfico. Depois, como jornalista, foi editor de alguns jornais, como “O Portal 21” e “O Progresso” e, por um breve período, foi redator de telejornais da Tv Mirante e colunista do Jornal “O Estado do Maranhão”.

Em vida, Adalberto era um consistente pesquisador da história imperatrizense e regional, a isso dedicava

grande parte do seu tempo, talento, esforço e saúde. Embora fosse um grande intelectual, era um ser humano muito acessível, seu grande prazer era receber estudantes para comentar sobre suas obras e contribuições para a cidade. Nos anos de contribuição e trabalho para Imperatriz, Adalberto fez muitos amigos, um deles é Ribamar Silva, que destaca: “Adalberto foi sempre um grande sonhador, um sujeito que pensava sempre na literatura de Imperatriz como um todo, a sua grande característica era ser um incentivador da produção de livros em toda nossa região.” Ribamar Silva foi um amigo próximo de Adalberto que morou no condomínio da família do escritor.

“Adalberto foi sempre um sonhador, um sujeito que pensava sempre na literatura de Imperatriz como um todo. A sua grande característica era ser um incentivador da produção de livros em toda nossa região.”

(Ribamar Silva)

A relação dos dois foi muito forte, passaram momentos felizes e tristes juntos. Ribamar Silva é o sucessor da vigésima cadeira da Academia Imperatrizense de Letras, que em vida, era de Adalberto e tem como patrono Dushee de Abranches. O amigo revela que é uma honra ocupar a cadeira que foi de Adalberto. “Me sinto profundamente lisonjeado por ocupar a cadeira que ele fundou.” Vigésimo membro da Academia Imperatrizense de Letras, Adalberto Franklin lançou livros que até os dias atuais são fontes de estudos, tais como: “Ofício das letras”, “Breve história de Imperatriz”, “Apontamentos e fontes para a história econômica de Imperatriz”,

“Fé e Riqueza”. Por seus relevantes serviços prestados a Imperatriz e ao Maranhão, Adalberto Franklin foi homenageado pela Câmara Municipal de Imperatriz com a “Comenda Barão de Coroatá”, em 2000, e com o título de “Cidadão Imperatrizense”, em 2012, quando completava 50 anos de idade. O último título foi concedido por indicação do vereador Edmilson Sanches. Também em 2012, a Assembleia Legislativa lhe conferiu a maior homenagem da Casa: o título de “Cidadão Maranhense”, por indicação do deputado César Pires.

O escritor também foi mentor e criador da primeira editora da cidade. Fundada em 1991, a Ética Editora publicou mais de 700 livros, de várias regiões, tanto do Maranhão como de grande parte do Brasil. A Editora tem o maior acervo de obras de interesse regional dos estados do Maranhão, Piauí e Tocantins. Atualmente a Editora tem outro nome, e, a irmã de Adalberto é responsável pelo empreendimento.

Premiações de Adalberto

Homenagem feita pela Câmara Municipal de Imperatriz,com a “Comenda Barão de Coroatá”, em 2000.

Prêmio Literário Acadêmico Imperatrizense de Letras em 2006, pelo livro “Francisco de Paula Ribeiro: desbravador dos sertões de Pastos Bons: a base humana e geográfica do Sul do Maranhão”, em coautoria com João Renôn F. de Carvalho.

Prêmio Literário Acadêmico Imperatrizense de Letras 2009, com a obra “Apontamentos e fontes para a história econômica do Brasil.”

Título de “Cidadão Imperatrizense”, em 2012, quando completava 50 anos de idade.

Título de “Cidadão Maranhense”, maior homenagem da casa, conferida pela Assembleia Legislativa, por indicação do deputado César Pires, no ano de 2012.

Entre as principais obras de Adalberto Franklin, podemos citar “Breve história de Imperatriz: o livro aborda uma linha cronológica sobre o início da cidade, a partir do processo de exploração territorial do estado, como por exemplo, o processo de colonização dos franceses, holandeses e portugueses no litoral e o desconhecimento das terras do sul do Maranhão. É uma obra disponibilizada gratuitamente em meios digitais, para fins educacionais. Como evitar plágio em monografias – Nesse livro, Adalberto explica como evitar o plágio em monografia e dá algumas orientações técnicas para o uso de textos da internet. Apontamentos e fontes para a História Econômica de Imperatriz – O livro estuda o crescimento e o desenvolvimento econômico na cidade de Imperatriz. O autor escreveu sobre o ciclo da borracha, ciclo do gado, ciclo da castanha e outras atividades que geravam lucro para a cidade. Adalberto foi casado e teve três filhos e duas netas. Faleceu no dia 2 de março de 2017, deixando muitas saudades aos seus familiares, amigos e admiradores do seu trabalho.

ANO XIII. EDIÇÃO 45 IMPERATRIZ, DEZEMBRO DE 2022 14 Arrocha Jornal
KAYLANE FREIRE
ACERVO PESSOAL ACERVO PESSOAL VIVIA MARIA ACERVO PESSOAL
Adalberto Franklin, escritor e jornalista. Deixou um grande legado em Imperatriz. Adalberto recebendo o Título de “Cidadão Imperatrizense”, em 2012.

ENTREVISTA

Siney Ferraz e Ribamar Silva contam sobre a amizade e obra de Adalberto Franklin

Escritor, intelectual e amigo: Adalberto Franklin sob o olhar de seus afetos

Adalberto, além de escritor, era um ótimo amigo e sabia bem como preservar suas amizades. Para contar a história de Adalberto, nos apoiamos na memória de dois de seus grandes amigos. Na reportagem que abre a homenagem ao escritor, trouxemos as lembranças de Ribamar Silva sobre a amizade vivida entre os dois. Na entrevista que segue, Siney Ferraz é quem rememora as contribuições e o legado do escritor. Siney, doutor em história, era amigo de longas datas de Adalberto Franklin. A amizade dos dois se deu devido a identificação com a escrita e trabalhos regionais. Ele concedeu uma entrevista ao Jornal Arrocha para falar sobre a vida e obra de Adalberto Franklin.

KAYLANE FREIRE

Jornal Arrocha (JA) Gostaria que você me contasse: como conheceu Adalberto Franklin? E como surgiu essa amizade?

Siney Ferraz (SF): Quando eu cheguei em 1992 para trabalhar, eu já recebi algumas informações que Adalberto tinha iniciado o curso de história e não tinha concluído. Mas todos sabiam e falavam que ele tinha uma paixão secreta pela história e ele fazia umas pesquisas pessoais e não institucionais. Ele tinha um curso de diagramação, e seu grande projeto seria montar uma editora, e ele conseguiu, transformou ela em um ícone de publicações a nível regional. O pessoal do Tocantins, do Pará, do Maranhão publicou livros pela Editora Ética, e eu acompanhei essa editora desde o início, pelo fato das publicações e escrita. Eu e ele conseguimos fazer essa amizade pela identidade da escrita e pelo fato de eu estar escrevendo e ele engajado e comprometido com o ramo da escrita e da publicação regional de trabalhos.

JA Quais os trabalhos vocês já realizaram juntos?

SF: Um dos grandes trabalhos que realizamos juntos foi a publicação do meu livro, que foi um dos primeiros a ser publicado pela Editora Ética. Além disso, ele formatou e fez todas as correções do meu trabalho de mestrado, desde o início. Todos os meus trabalhos para entregar, como resenha, textos que os professores cobravam para mim, eu escrevia e levava para ele formatar e eu encaminhar para os professores. Naquela época, poucas pessoas tinham computador, e eu era uma das que não tinham, então eu levava tudo manuscrito e ele organizada. Ele e a Editora Ética eram referência na formatação de trabalhos.

JA: Como se dava a busca pelas fontes de pesquisa de Adalberto? Por exemplo as Referências bibliográficas, entrevistados e etc.

SF: Ele tinha acesso a alguns arquivos históricos. Com a questão da internet, ele tinha uma capacidade nessa questão de trabalhar com a informática, ele pesquisava muito os arquivos de Pernambuco, de São Luís, e também com o professor João Renôr, (um amigo e pesquisador regional). Eles iam pessoalmente nos arquivos na biblioteca pública de São Luís, onde tem arquivos históricos. Adalberto também tinha um acervo muito grande de livros de História.

JA: Na sua opinião, a produção de Adalberto superou as barreiras regionais? E como foi esse processo?

SF: Sim, foram publicados livros na região do Sul do Pará, na região do Tocantins e muitas pessoas de São Luís publicaram trabalhos pela editora dele. O trabalho de Carlota

Carvalho, 1924 - que é um livro muito conhecido publicado pela Editora Ética -, é um exemplo da superação de barreiras. O professor João Renôr encontrou uma forma de publicar esse trabalho pela Universidade Federal do Piauí – UFPI, uma edição grande e muito legal, na qual foi republicada a terceira tiragem de Carlota Carvalho. A primeira edição do livro foi publicada em 1924 e, em 2000, eles republicaram pela Ética com o acréscimo de comentários, tanto de Adalberto quanto de João Renôr, e esse mesmo trabalho comentado foi publicado pela Federal do Piauí. Quanto ao processo, se deu durante alguns anos, quando as produções da Editora e de Adalberto começaram a ganhar destaque, e, graças às parcerias e conhecimento do Adalberto deu tudo certo.

JA: Você acha que a história dele pode ter incentivado outras pessoas?

SF: Sim, Adalberto era um profissional excelente, muita gente se espelha em sua história e seus trabalhos e, procuram recuperar essa dinâmica para nossa cidade. A partida de Adalberto foi uma perda muito grande, tanto para o lado emocional da cidade como para o lado intelectual.

JA: Um dos primeiros livros lançados pela editora Ética foi “Movimento Camponês no Bico do papagaio: sete barracas em busca de um elo”, de sua autoria. Poderia nos contar um pouco sobre essa obra e como Adalberto ajudou para que ela fosse publicada?

SF: Cheguei em Imperatriz no ano

de 1992. Em 1994, entrei entrei no mestrado e durante meus trabalhos de mestrado era ele que me ajudava a formatar. No ano de 1997, eu defendi minha dissertação e a gente já vinha negociando essa questão da publicação. Esse meu livro juntamente com o de Carlota Carvalho e o de Francisco de Paula Ribeiro, foram os livros de maior peso e de mais movimentação e divulgação da editora dele. O meu trabalho vendeu em média uns cinco mil exemplares e levei ele para vários lugares. Em algumas universidades eles podem ser encontrados, alguns professores também compraram e tem alguns exemplares na França e na Alemanha. Ele me ajudou com ideias, com a parte da digitalização e formatação do livro, depois, fez as cópias e ficou com algumas para vender também.

JA: Para finalizar, quais as contribuições dos trabalhos de Adalberto para a cidade?

SF: Os seus trabalhos pessoais são utilizados em monografias, artigos e pesquisas. Eles contribuíram e ainda contribuem muito, pois, eles são importantes para a leitura, para a literatura e para a história de Imperatriz e toda nossa região.

Arrocha ANO XIII. EDIÇÃO 45 IMPERATRIZ, DEZEMBRO DE 2022 15 Jornal
FOTOS: WANESSA NATALI Escritor Ribamar Silva, acima, e professor Siney Ferraz, ao centro, relembram e celebram a importância do trabalho de Adalberto Franklin e a amizade

ESCRITA POPULAR

A crítica social: a importância do cordel na cultura popular. Criados como símbolos de resistência através da arte, os escritos protagonizam a polifonia e a diversidade de vozes

Cordel: Escrita pela igualdade social

FABIANA VIANA

Ocordel é de origem portuguesa. Veio junto com a colonização do Brasil, no fim do século XVIII. Assim foi introduzido na cultura brasileira, se popularizando precisamente no interior do Nordeste. Em Portugal, os escritores iam para bairros mais pobres e penduravam seus livros em um cordão para serem vendidos, por isso o nome de “cordel”. Chegando no Nordeste, sofreu algumas adaptações, como o diálogo com o gênero literário popular, que tem como sua principal característica a oralidade, passando a ser cantado. As pessoas declamavam de forma rimada e apresentavam seus trabalhos de cidade em cidade.

No Ceará, a valorização desse tipo de literatura é bem maior.

Em muitos lugares, há o incentivo da escrita de cordel e projetos para levar os folhetos para vários lugares do estado, com divulgação em universidades e escolas públicas. Há, por exemplo, um espaço na Bienal do Livro que se chama “praça do cordel”, que enaltece o trabalho dos cordelistas.

“Não é fácil, tem que estudar, ter conhecimento, muita leitura”, afirma Paulo de Tarso, escritor de 59 anos, originário de Tauá, interior do Ceará, que tem mais de 90 livros de sua autoria. O escritor reflete sobre as características básicas necessárias para quem quer começar a escrever cordel. Embora muito se fale sobre a simplicidade do cordel, das rimas e das histórias, Paulo destaca que se tornar um escritor de cordel exige muito estudo e leitura. Além da observação atenta da realidade.

A vivência de Paulo de Tarso com o cordel foi iniciada em 1987, quando escreveu o primeiro folheto. Entre suas obras, destaca-se uma coletânea sobre Luiz Gonzaga, com 13 cordéis:

“E aí você vai fazendo isso de uma forma natural, os temas vão aparecendo e você vai criando. Os títulos vão nascendo, se encaixando dentro daquilo que

você programou para fazer ou às vezes nem programou. A literatura de cordel, essa poesia popular, consegue levar para as pessoas a alegria, a graça, a rima, a métrica e a oração”, afirma. Segundo a pesquisadora da literatura de cordel e professora do curso de jornalismo da UFMA/ São Luís, Maria Gislene Carvalho: “é muito difícil situar o cordel com uma origem, tem muitos teóricos, principalmente folcloristas, o pessoal da antropologia dos anos 1970, que defendia o cordel com origem em Portugal, mas outros estudos mais recentes já avaliaram isso de outra forma”

O cordel que veio de Portugal tinha outras características e elementos particulares, era totalmente diferente do que se espalhou pelo Brasil, chamado de “cordel no Nordeste”. Então, a origem do cordel brasileiro é nordestina. Ele se caracteriza pelas cantorias, as poesias, as declamações que eram feitas pelos

cantadores, repentistas e improvisadores que iam de cidade em cidade, de feira em feira, levando notícias e suas histórias.

Esses são os principais elementos que diferenciam o cordel do português. De acordo com a fala de Gisele, “na época que a família real portuguesa veio para

“O cordel é uma forma poética que também carrega a luta pela resistência e pela igualdade social”

o Brasil, eles trouxeram os cordéis que tinham lá. E isso serve de inspiração para quando se vai imprimir o cordel, para vender essa poesia. Então, a origem do cordel brasileiro é o próprio Nordeste. E aí ele tem alguns elementos desses folhetos europeus que surgem ali enquanto tá surgindo

da Imprensa, que são folhetos de um papel mais barato, de uma literatura que era mais fácil de circular essa estrutura poética, essa diversidade temática, ela surge no Nordeste mesmo. A inspiração do que vem de Portugal está muito mais relacionada a uma questão do material do físico do cordel”, argumenta.

O Cordel tem uma regra básica. Para Paulo de Tarso, o cordel só é cordel se tiver rima, métrica e oração. A rima são os versos que rimam entre si, uma sextilha, uma oitava, uma décima. A métrica é a medida do verso, o tamanho que aquele verso pode ser feito, é necessário contar as sílabas. A sétima sílaba tem que ser sempre a tônica. Dentro do verso, a oração é aquilo que completa, que dá sentido ao conjunto da estrofe. Esses são os três elementos básicos.

Para Maria Gislene, o cordel tem uma métrica específica e uma forma poética específicas.

Essas são as características fundamentais desse tipo de escrita.

“Um ritmo específico são os elementos que vão definir o cordel. Podem ser em quadra de sextilhas, setilha, décima, os versos alexandrinos podem ser variados (...) O cordel é feito de diversas formas, por exemplo, tem cordel que é feito em livros, não é apenas o folheto que define. Tem cordéis que são declamados, cantados. Então, também não é o papel, nem sempre vai ser apenas a escrita. Então, o que unifica esse universo simbólico é a dimensão poética da métrica. É uma questão de memória e performance. Existe toda uma forma de fazer cordel, um comportamento de cordelista, os autores poetas reivindicam quando fazem cordel. Quando você vê uma xilogravura é uma imagem, mas você vê as pessoas chamando de cordel, não é o cordel, não é a poesia de cordel. Mas, está dentro do universo simbólico do cordel”, finaliza.

Cordel: escrita de resistência e crítica social

FABIANA VIANA

Ocordel é uma forma poética que também carrega a luta pela resistência e pela igualdade social. É assim que a escritora maranhense Lilia Diniz descreve sua experiência com a literatura de cordel. “Quando eu escrevo alguma coisa na linha do cordel, eu trago muito a questão social. Essa questão social seja no campo de gênero, na questão agrária, ou mesmo em poemas que falam de amor eu trago essa pegada aí desse engajamento, dessa poesia mais engajada”.

Lilia é natural da cidade de Alto Alegre dos Padres, interior do Maranhão, cidade que já não

existe mais. Foi lá onde teve a primeira vivência com o cordel. Foi quando ela aprendeu a ler através da leitura de cordéis. Depois, sua experiência artística enveredou pelo campo da cultura popular, do teatro popular, teatro de rua e teatro de bonecos. “Foi na vivência artística que pude conhecer grandes repentistas e violeiros, que trabalham diretamente com essa linguagem que é o cordel. É claro que nem todo cordelista é repentista e nem todo repentista é cordelista, mas essas artes se encontram e dialogam, conversam juntas”, complementa.

E para quem tem interesse em conhecer os escritos, segue a sugestão de cordel:

“Mula sem cabeça” é um folheto de cordel em que a escritora e imortal da Academia Imperatrizense de Letras, Lilia Diniz, faz uma releitura da lenda original na qual uma mulher é punida ao se envolver com um padre celibatário.

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O cordel é uma arte que enaltece a cultura e identidade nordestina. A arte produzida pela população pobre e periférica permite denunciar e reivindicar espaços negligenciados
VALDEÍRES FERREIRA
CINESE PRODUÇÕES AUDIOVISUAL “Quando eu escrevo alguma coisa na linha de cordel, eu trago muito a questão social”, enfatiza Lilia Diniz

POESIA DE RESISTÊNCIA

Através do cordel histórias são contadas através de rimas que descrevem as asperezas e as bonitezas do cotidiano. Revelam a luta e a resistência de um povo

Rimas que contam a história popular

O cordel é uma forma de expressar, um lamento ou declaração através de uma história cantada. Paulo de Tarso, cordelista ouvido pela reportagem, escreveu versos de cordel sobre a vida e obra de Luiz Gonzaga, em comemoração ao centenário do artista. Confira um trecho abaixo:

Deus, autor da criação

Dai-me aqui sabedoria

Para que eu venha contar

Com uma imensa alegria

O centenário do Rei

Através da poesia

Aqui na terra foi Rei

Majestade do baião

Um exímio sanfoneiro

A produção de cordel no nordeste sofreu adaptações como o diálogo, que passou a ser cantado nas obras. Na foto, estande do cordelista Paulo de Tarso no Salão do Lirvo de Imperatriz

No Maranhão, de acordo com a professora e pesquisadora Gislene Carvalho, a aceitação da literatura de cordel é boa. Porém, falta um maior investimento em Políticas Públicas para estimular esse tipo de produção literária. “Com essa ausência de estímulo para publicação, os autores ficam muito fragilizados. Uma outra coisa, é quando a gente tem a possibilidade de publicar, como é que é feita essa inserção dentro das escolas, das universidades, dos mais diversos espaços. Então entre a escrita e aceitação a gente transita bem. A grande questão é a distribuição, é como fazer essa produção chegar ao leitor. É um desafio muito grande, muito grande mesmo, que aí são anos e anos de ausência de Política Pública, é aí que a gente também vai levar décadas para conseguir atingir isso”. O cordel é um fenômeno social, uma literatura que é carregada de informação e de crítica social. Sua importância não pode ser medida de maneira superficial ou dentro de padrões formais da literatura. Na verdade, o cordel rompe com diversos cânones literários. “É um texto opinativo em muitos momentos, então ele não é só literatura. Ele é um espaço em que as vozes de algumas pessoas, de outras pessoas que estão além dos cânones, para circulação de suas vozes. É o espaço em que as pessoas podem criar, que as pessoas podem falar, que elas escolhem o que elas vão falar no cordel, elas escolhem os temas, escolhem as abordagens”, explica Gislene Carvalho.

O cordel tem uma importância significativa dentro da

literatura, isso porque ele foge ao cânone literário. “Pois há espaço para outras vozes além daquelas que já têm um reconhecimento na literatura, as vozes hegemônicas. É um espaço de circulação de vozes, é uma marca de memória nordestina. Dessa forma, ele traz elementos da vivência nordestina, não só do Nordeste de sertão, mas do Nordeste como um todo”, ressalta a professora.

A pesquisadora Gislene Carvalho destaca também que “a grande importância do cordel tá nesse lugar de ser um elemento cultural, que carrega muitos elementos, traços de memória, que é um fenômeno das tradições e diversidades

do Nordeste, e que nessa articulação enquanto memória e tradição, é também o espaço de circulação de vozes e pensamentos, que

“A literatura de cordel, essa poesia popular, consegue levar para as pessoas a alegria, a graça, a rima, a métrica e a oração”

podem ser vozes literárias, vozes jornalísticas, vozes opinativas podem ser as mais diversas”.

O cordel é um gênero literário que visibiliza e enaltece os referentes culturais e sociais nordestinos. É uma arte que nasce da nossa realidade e uma escrita que precisa ser mais valorizada, reconhecida em sua potencialidade e diversidade. Dessa forma, os depoimentos de cordelistas e pesquisadores deixam evidente a necessidade de que as pessoas precisam ler mais cordel. É nesse gênero literário que a polifonia de vozes pode se fazer presente, para além das vozes majoritárias, das vozes hegemônicas. O cordel abre a possibilidade para que outras histórias possam ser contadas e escritas.

Que alegrou meu sertão

Foi primeiro, sem segundo Nossa eterno Gonzagão

Pois eu sou gonzaguiano

Desde o tempo de menino

Ninguém melhor que Luiz.

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Arrocha
LUANA BANDEIRA Gonzagão centenário (Cordel) - Autor: Paulo de Tarso. O livro conta histórias sobre a vida e a obra de Luiz Gonzaga. RAFAEL BRUNO DO CARMO LUANA BANDEIRA Maria Gislene, pesquisadora de cordel, trata da origem do cordel no nordeste e, ao lado, Paulo de Tarso com uma de suas obras
forte e acolhedor

FANFICTION

O mundo da escrita e leitura de fanfics é cheio de aventuras, romances, mistérios, choros e risos. Ao falar sobre esse segmento de escrita feita por fã é notório o universo democrático que o caracteriza

Um passeio pelo estilo da escrita de fanfics

Oque escrever numa matéria sobre fanfiction? Talvez, como qualquer jornalista que quer escrever histórias com os melhores finais possíveis, o bom seria encontrar uma quantidade boa de fontes, todas disponíveis, com respostas que pudessem contemplar todas as perguntas da repórter e, de quebra, que todo o relato oral fosse complementado com excelentes imagens. Essa, sem dúvida, é uma fanfic que diariamente os jornalistas criam em suas mentes ao receberem uma pauta e saírem às ruas para fazer apuração de conteúdo.

O mundo das “fics”, como pode ser chamado carinhosamente, surgiu em 1960, com “Jornada nas Estrelas”, uma série que passava na televisão e foi cancelada repentinamente. Mas foi nos anos 2000, com a internet e a geração de “Harry Potter”, que elas realmente ganharam força. Milhares de jovens e adolescentes começaram a escrever suas próprias versões das histórias e, nos dias de hoje, é possível encontrar aplicativos com Wattapad, Spirit, FanFiction, além de sites voltados para essa comunidade, que têm crescido cada vez mais a ponto de ser possível encontrar fanfiqueiros em toda região e lugar.

Atualmente, o seguimento da fanfiction tem crescido bastante apesar do Governo não investir nesse tipo de produção literária.

Segundo o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), durante a pandemia, o Brasil teve uma alta de 48,5% nas vendas de livros.

Além disso, mais de 70 milhões de histórias foram adaptadas pelos fãs, muitos deles adolescentes, jovens e até adultos, que criaram sua própria versão de histórias famosas e foram publicadas em

editoras. “After” e “50 tons de cinza” são exemplos de histórias que começaram como uma fanfic e hoje já ocupam até mesmo as telas de cinema em todo o mundo.

Apesar de muitos jovens assumirem que gostam de criar sua própria fanfic na cabeça, o processo de escrita não é nada fácil. Muitas vezes são criados outros personagens ou alguns personagens da história original são deixados de lado. Tudo vai depender do gosto e da criatividade de quem escreve. O fanfiqueiro tem autonomia para fazer a sua versão da história. Então, já que tudo depende da imaginação, não é preciso se preocupar com a escrita? Precisa sim, pois a escrita é uma parte fundamental!

Para Deivanira Vasconcelos

Soares, professora e doutoranda em Letras, que já orientou um Trabalho

Editoras Independentes

OMaranhão, por conta do comércio de algodão, era bastante próspero durante o Império e foi um dos primeiros estados a possuir uma tipografia. Durante o lançamento dos primeiros poemas de Gonçalves Dias, em 1840, e a ida de Aluísio de Azevedo para o Rio de Janeiro, pode-se dizer que o Maranhão passava por seu período de ouro literário. Neste período, havia muitos desafios para publicar uma obra. Primeiro que ela necessitava atender um grande público e segundo, que durante muito tempo as editoras prendiam-se a publicar grandes sucessos e, preferencialmente, de autores já renomados. Mas esse cenário mudou e, atualmente, no Brasil, tem surgido várias editoras independentes.

Com um celular na mão e uma ideia na cabeça, várias histórias são criadas

ra”. Tem uma grande preocupação com os escritores, isso porque a dona é uma escritora, Nicoly Pacheco, que conseguiu publicar sua história Ele é “Como Rheya - Do R ao A”, com a ajuda dos seus fãs, que já acompanhavam como fanfic. Mas antes de uma fanfic tornar-se livro é necessário mudar algumas coisas: nome dos personagens, local ou até mesmo o enredo. Qualquer coisa que remeta a obra original deve ser tirada ou alterada para evitar a prática do plágio e respeitar a lei n.º 9.610/98, que afirma que a obra derivada “constitui criação intelectual nova, resulta da transformação de obra originária” (artigo 5º, VIII, g).

de Conclusão de Curso (TCC) na Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão (UEMASUL), em 2018, sobre “A influência das Fanfics nas produções de texto no Ensino Médio”, esse gênero possibilita uma escrita mais dinâmica, “livre e sem muita cobrança da figura professoral”. Para ela, a escrita de fanfic também é uma forma de alimentar a criatividade. Então, em aula com o público da Educação Básica, propôs para seus alunos/as a produção de textos sobre assuntos que gostavam:: “a proposta foi que fizessem uma fic a partir de algo do gosto deles.”. No final, trazer esse gênero para dentro da sala de aula é uma ótima forma de desenvolver e envolver os alunos, além de ser possível observar a particularidade de cada um diante da imaginação, elemento fundamental quando falamos de fanfics.

Muitas editoras independentes nascem com a proposta de publicar histórias vindas do mundo das fanfics. Exemplo dessa realidade são as editoras Violeta e Euphoria. A editoria Violeta, por exemplo, se apresenta como “uma editora de livros nova e sonhado-

A editora Violeta já publicou alguns livros que antes eram fanfics. Como por exemplo, “Eros à primeira vista”, de Ruth Oliveira. O livro conta com 568 páginas, um romance com drama, que trata da história do encontro de HaruGoo e Juno. É uma história que tem muita influência da mitologia grega.

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Ensaio de Luisa Moreira e Soraya Souza para recordação e celebração da viagem casual ALICY TEIXEIRA EDUARDA ANCHIETA Janayna Sousa, fã e leitora assídua de fanfics, lendo o livro físico “After” EDUARDA ANCHIETA RENATA LIMA

HISTÓRIAS DE FICÇÃO

A fanfic é uma produção literária de ficção que estimula a troca e o compartilhamento de um fã para o outro. O universo tem construído suas próprias lógicas e regras de escrita

Ouniverso da Fanfiction em Imperatriz

A Fanfic pelo olhar dos fanfiqueiros

Janayna Sousa

“Neste ano já li mais de 100 histórias. Gosto muito de romances, suspense policial, dupla identidade. São tantas as minhas histórias favoritas. E eu já acompanhei uma que a escritora demorava postar e eu ficava muito tensa esperando. Às vezes até começava a criar versões do que tinha acontecido na minha cabeça”.

Clara Teles

“Eu tenho 19 anos e gosto muito de ler fanfics repetidas. Sempre que estou sem ter o que fazer, leio. Já foram 50 fanfics só nesse ano. Eu consigo viajar nas histórias, a minha favorita é Stupid Wife, o triste é que é inspirado em pessoas reais que não estão juntas. Gosto de ler romances e meu aplicativo favorito é o Wattapad.”

Ana Maria Conceição do Nascimento

“Eu estou no segundo período de jornalismo, comecei a ler HQ e depois, aos 12 anos, me apaixonei pelo mundo das fanfics. Os romances clichês me prendem porque eu imagino viver um amor avassalador. Nunca me arrisquei escrever, mas todo final de semana eu tô viajando em uma história.”

Isabella Franco

“Aos 14 anos comecei a escrever fanfics, era muito fã de One Direction e lia muitas histórias sobre eles e, em certo momento, decidi eu mesma escrever sobre eles. A fic une pessoas. Estou em um grupo de WhatsApp com algumas meninas que nunca vi, cada uma é de um lugar diferente do Brasil e, por sermos apaixonadas pela mesma história, nos tornamos best’s “

Ayrton Souza

Em Imperatriz, duas jovens que são apaixonadas por teorias e versões de séries, filmes e livros, uniram-se para construir um podcast voltado para comentar seus pontos de vista de algumas obras. Artemisa Lopes, 26 anos, e Laura Zacca, 27 anos, são formadas em Comunicação Social pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA) de Imperatriz, e comandam o podcast “Luna SolisCast”. O podcast pode ser ouvido pelo Spotify e os episódios saem todo sábado às 19h30 da noite.

Para Artemisa Lopes, a fanfic é uma forma de se expressar e é feita para outras pessoas que admiram a mesma obra. “A fanfic é uma ficção de fã para fã”, afirma ela que desde muito nova amava ler e às vezes até se arriscava a escrever sua própria versão das histórias que lia. Os leitores de fanfic, em sua maioria, possuem um senso crítico e acreditam que sempre têm como melhorar um conto. “Eu acredito que desde pequena a pessoa já mostra

a profissão que quer seguir, ou suas aptidões. E eu sempre tive a letra muito bonita e gostava de ler e escrever. Tudo isso me levou a área de Comunicação”, complementa Artemisa.

Assim como Artemisa, que começou nos aplicativos de fanfics, como o Wattapad, e hoje produz podcast voltados para esse mundo da literatura, sua parceira Laura, que também lia e escrevia fanfics, está produzindo o seu primeiro livro: “Faltam dois capítulos que eu estou postergando. Eu comecei na faculdade e fiz uma pausa e depois mudanças na obra”, declara. O livro que está sendo produzido pela jornalista é um conto com um pouco de mitologia, deuses e semi-deuses com poderes.

Do mesmo modo que Laura e Artemisa, Renata Rodrigues, 19 anos, estudante de jornalismo da UFMA, considera que “dá seus pulos na escrita”, como ela mesma afirma. A escrita desse gênero digital parte do desejo de criar seus próprios enredos a partir de

histórias já existentes. Por conta da correria, Renata não tem escrito muito. Mas algumas de suas fanfics possuem 77 mil visualizações no Wattapad. É uma coletânea de oneshots - histórias curtas - sobre a série adolescente americana Teen Wolf.

Cada leitor tem suas peculiaridades nas escolhas de leitura. Renata gosta de um estilo que chama de healing - cura. Um tipo de história que começa com personagens machucados, tristes ou amargurados e no decorrer da história encontram a cura e a felicidade. No final da história, não é difícil falar sobre o gênero das fanfics, na verdade não há dificuldades em encontrar fontes. Os fanfiqueiros estão em todos os cantos. Apenas, muitas vezes, adormecidos ou provando de outros gêneros literários. Mas é só falar de fanfic que eles se empolgam novamente e voltam a sorrir, porque ler e escrever esse gênero faz parte da essência de cada um.

“Eu gostava muito de ler histórias sobre o Bem 10, quando pequeno, e quando eu falava de fanfic com amigos homens, eles não viam muito bem e sempre rendia piadas, mas aí a gente começava a inventar histórias sobre as coisas que gostávamos, e de repente, não tinha mais essas piadas. Todo mundo se envolvia na brincadeira.”

Ana Gabriela Fonseca

“Indicaria o Wattpad. Gosto muito de romances que se passam em um ambiente, que sou fascinada, amo Rare as Blue, porém ainda tá em andamento. Ela é sobre fórmula 1, por eu saber tudo da vida dos pilotos, do local onde eles estão, da atmosfera de competições, consigo me sentir lá dentro. Além do que quero trabalhar com a área esportiva, consequentemente aprendo mais sobre os termos e até mesmo sobre a vida pessoal dos pilotos.”

Elizangela Almeida

“Eu já tentei ler por meio de vários sites ou aplicativos, mas o que mais me prendeu foi o wattapad. Gosto de ler hot, sobre lobisomens, LGBTQIA+, terror, cientifico e de zumbi. A última fanfic que li é com os personagens do anime Haikyuu, ocorre em Tóquio. Os protagonistas principais são o Kenma e a S/n, uma estudante universitária. Eu amei ler essa história.”

Arrocha ANO XIII. EDIÇÃO 45 IMPERATRIZ, DEZEMBRO DE 2022 19 Jornal
Artemisa Lopes e Laura Zacca, escritoras e entusiastas do universo da escrita de ficção, defendem a ideia de que ler e escrever fanfic é para todas as idades RENATA LIMA
CRÉDITO DAS FOTOS POR ORDEM: FOTOS 1 E 2: EDUARDA ANCHIETA FOTOS 3 A 7: RENATA LIMA

LITERATURA PRETA

A escrita e literatura negra no Maranhão: os desafios enfrentados pelos escritores e os processos de resistência e de reconhecimento a partir escrita própria

Quando o povo preto escreve...

Com uma população negra de 56%, o Brasil tem sua história marcada nos corpos de negros e negras arrancados de suas casas, tratados como animais, silenciados e invisibilizados historicamente, realidade que vem sendo transformada e ressignificada há décadas pelo Movimento Negro brasileiro. No que diz respeito a atuação da população negra em espaços de poder, vemos uma crescente participação em diversos campos da sociedade, como acontece na área da literatura. A literatura preta articula e difunde a visão do cotidiano de negros e negras com obras com denominadores comuns que vão além de gêneros, formatos, linguagem e temas. É uma literatura que coloca em evidência, também, a reflexão social. Busca denunciar violências, opressões e se configura como um lugar de reconhecimento e de respeito para o povo preto.

A literatura negra nasce com o objetivo de resistência, para conscientizar, sensibilizar e acolher aqueles que não se veem representados em outros lugares. Isso porque, na maioria das vezes, o papel do negro na literatura é quase imperceptível, também porque em muitos clássicos da literatura, os pretos são marginalizados, estereotipados e violentados.

Com o intuito da resistência, surgiu a obra de Maria Firmina dos Reis, uma mulher negra que fez uma revolução que mudou a história e a sociedade. Maria Firmina escreveu numa época em que as mulheres escritoras, poetisas, artistas não podiam assinar seus nomes e não eram ativas na política. O tempo as esqueceu. No século 19,

apenas os homens tinham o direito de assinar o nome. As mulheres viviam sob o regime autoritário de uma sociedade machista, racista e patriarcal, em um momento histórico quando as mulheres apresentavam sua arte, estilo de escrita e inspiração através de um pseudônimo. Muitas delas viveram anonimamente e ninguém jamais conheceu as verdadeiras obras desses artistas.

Por esses e outros motivos, Maria Firmina assinou a primeira edição do seu romance “Úrsula”como “Uma Maranhense”.

O desenvolvimento intelectual de Maria Firmina dos Reis e sua história de vida são considerados

da temática abolicionista.

Os anos se passaram, mas a valorização de obras escritas por intelectuais pretos permanece insuficiente. De acordo com um levantamento realizado pelo Grupo de Estudos da literatura Brasileira Contemporânea – grupo de pesquisadores vinculados à Universidade de Brasília (UnB) –, entre 2004 e 2014, apenas 2,5% dos autores publicados não eram brancos. No mesmo período, apenas 6,9% dos personagens retratados em romances eram pretos e apenas 4,5 % eram protagonistas da história.

A falta de espaço em grandes Editoras e o racismo institucional que muitas vezes desvaloriza a produção intelectual negra, podem ser apontados como alguns dos motivos para a menor presença da literatura negra em estantes de livrarias.

inusitados se comparados a outros escritores e personalidades de sua época.

A inquietação e o desconforto levaram a maranhense a desenvolver mecanismos de escrita. Ela viu e ouviu criticamente aqueles que oprimiram, perseguiram e desumanizaram outros seres humanos. Viu e ouviu relatos de dor, sofrimento e solidão em cativeiro, especialmente choque emocional, físico e mental.

Em 1859, Maria Firmina escreveu o que foi considerado o primeiro romance escrito por uma mulher no Brasil, “Úrsula”, que é percursor

No Maranhão, segundo dados do IBGE (2019), cerca de 82,5% da população se autodeclara como negra. Imperatriz, que tem uma grande parcela de população negra, apresenta um cenário literário em que os brancos são a maioria. A educadora e Coordenadora da Coordenação de Educação da Igualdade Racial de Imperatriz (CEIRI/ UREI), Eró Cunha, comenta: “É uma história toda mesmo de tentativa de deslegitimar a produção da literatura, trajetória, a vivência da população negra e isso tudo é resquício desse processo de colonização, dessa relação de opressão, de exploração desse corpo, dessa presença negra em diferentes espaços”.

Essa ação vem de anos em que negros eram vistos como seres inferiores. Dentro da literatura nacional, o povo preto foi retratado por séculos através de muitos estereótipos. O também educador e militante do movimento negro em Imperatriz, Davi Brandão, fala que a invisibilidade da população negra vem do período da escravidão brasileira.

“A supremacia branca em todas as profissões, ainda permanece e tem esse poder. Então nós, negros, temos essa invisibilidade maior por causa do nosso histórico, pela forma como foi construída a nossa sociedade. Quando vivemos quase 400 anos no regime de escravidão, e quando tivemos esse movimento abolicionista, nós não tivemos uma reparação social”, argumenta. Ao paramos para pensar no que a cor da pele reflete em uma sociedade que quer a todo custo embranquecer suas raízes, é possível compreender como a escrita aparece como uma porta de saída, um lugar de resistência para que negros e negras escrevam suas histórias. Mas, muitas vezes, pelo processo de apagamento histórico, alienação cultural e de “epistemicídio” das contribuições pretas para a sociedade brasileira, o próprio povo preto acaba por desconhecer a presença de grandes escritores negros na literatura brasileira.

A escrita preta em Imperatriz - As pessoas não têm o hábito de ler pessoas negras, desconhecem a produção de escritores pretos. Trata-se de um reflexo perverso do racismo estrutural. Domingos Almeida, escritor Imperatrizense, comenta sobre a problemática do apagamento da presença negra na escrita nacional. “Essa

aversão a ler o escrito de pessoas negras é o que pode ser identificado no caso de Machado de Assis. Um escritor negro, mas que teve sua negritude apagada. Machado de Assis tem um grande feito história, e não só por ter sido um grande escritor de sua época, mas por ter fundado a Academia Brasileira de Letras”. Fausto Ricardo Silva, Mestre em Educação pela UFMA, argumenta que o apagamento da produção intelectual de pessoas pretas “se dá devido a própria existência do racismo que, ao privilegiar uma cultura nacional, marcadamente branca, impossibilita que tenhamos acesso a escritas negras e indígenas. É o epistemicídio que havia dito anteriormente. Somos educados e educadas numa sociedade que difunde um único conhecimento como correto e válido, e a educação, tanto quando a indústria gráfica alimenta esse sistema. Não tem como culpabilizar as pessoas negras por não lerem escritas negras, até porque muitas vezes nem chegamos a conhecê-las”, finaliza.

Essa situação decorre da internalização da ideologia de que o “branqueamento” será a única forma de ganhar respeito e dignidade socialmente. Estudos da área de saúde realizados em diferentes momentos apontam para os negros como as maiores vítimas de discriminação explícita, são psicologicamente mais vulneráveis a desdobramentos mais comuns, como: ansiedade, ataques de pânico, depressão, crises de identidade e distorções no autoconceito.

(Continua ...)

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Eró Cunha enfatiza a importância da inclusão e o respeito nas práticas escolares em todos os níveis PEDRO ÍTALO PEDRO ÍTALO Davi Brandão é militante do Centro de Cultura Negra Negro Cosme de Imperatriz e estimula o conhecimento da produção de autores negros
ELENIR CASTRO
“O ato da escrita, especialmente no que diz respeito à trajetória de vida, possibilita um processo de construção pessoal e de reconhecimento de si como pessoa negra”

Escrita da pele para a pele - Foi perguntado a um grupo de professores negros que trabalham em Imperatriz e região: a escrita ajuda no processo de reconhecimento pessoal? Uma pessoa pode se reconhecer negra através da escrita?

A psicóloga e mestra em educação, Lizandra Sodré, diz que “o ato da escrita, especialmente no que diz respeito à trajetória de vida, possibilita um processo de construção pessoal e de reconhecimento de si como pessoa negra.

Já para o Mestre em Educação, Fausto Ricardo Silva Sousa, a escrita permite retratar a “realidade vivenciada, rememorar acontecimentos marcantes e refletir sobre nossas experiências de vida, que possuem o racismo como marcador estrutural, nos leva a compreender nossa negritude, nossa condição de pessoas negras.”

A autoaceitação é aceitar nossos erros e nossos acertos. Se trata de poder reconhecer e celebrar quem somos e buscar mudar o que achamos necessário. Todos esses elementos interagem na construção de nossa autoimagem como pessoas pretas e fazem parte da noção de autoestima.

Para a professora Maria dos Reis, a escrita contribui para o processo

de compreensão e pertencimento racial.

Quando falamos da escrita como uma forma de aceitação, estamos pontuando a prática de usar o ponto de vista de uma pessoa preta para contar uma história e isso traz ao leitor um novo sentimento, talvez uma reflexão sobre si mesmo, um acolhimento e apoio para que possa se reconhecer negro.

“Tentativa de deslegitimar a produção da literatura, trajetória, a vivência da população negra e isso tudo é resquício desse processo de colonização, dessa relação de opressão, de exploração desse corpo, dessa presença negra em diferentes espaços”

Sônia Conceição, Mestranda em Educação Profissional, acredita que nós “temos na atualidade o que se denomina “epistemicidio”, termo abordado por mulheres negras feministas, como Suely Carneiro, que trata do apagamento ou ostracismo das e dos intelectuais negros e negras. No entanto,

CADERNOS NEGROS

Cadernos Negros é uma série literária independente que transmite textos afro-brasileiros. A série foi idealizada por jovens estudantes que acreditaram no poder de conscientização, sensibilização e aceitação da literatura e viram na poesia uma oportunidade de expressar e divulgar adequadamente a arte negra. Os cadernos visam combater a discriminação racial e resistir no campo das letras de forma literária, social e política.

Os cadernos negros nasceram na década de 1970 em uma situação

em que borbulhavam movimentos de empoderamento e autoestima da população negra. Com a libertação de Angola e Moçambique da colonização europeia, movimentos como os Panteras Negras Black is Beautiful e Imprensa Negra Paulista , além de ecos do ativismo de Rosa Parks, Nelson Mandela, Abdias do Nascimento, Beatriz Nascimento e Lélia Gonzalez. Como muitas marés que convergem na mesma direção, a onda de luta pela igualdade se espalhou pelo mundo para lutar contra a discriminação racial.

muito se tem escrito e visibilizado nesse campo epistemológico. E autoras e autores negros e negras tem se destacado muito.”

O epistemicício é usado para explicar que o contato de europeus e povos indígenas e africanos criou desigualdades, diferenças, violências e alienações. O branco europeu impôs hierarquias sociais que subordinavam, apagavam, marginalizavam e roubavam as contribuições intelectuais e culturais afro-indígenas, impondo uma história única, a do colonizador. Para Suzana Rossi, “por meio de uma escrita, podemos realizar uma análise sobre os porquês de determinadas situações acontecerem, o que faz com que as questões étnico-raciais sejam postas. Assim, uma pessoa negra que não se reconhece ao perceber que muitos momentos de sua vida foram marcados por falas e ações racistas, pode acabar passando por um processo de autorreconhecimento.”

A literatura preta nasce de um movimento de resistência e de reexistência, protagonizado por negros e negras para que as histórias possam ser contadas por aqueles que a vivenciaram, narradas numa posição de primeira pessoa.

“(...) As diferenças de estilo, concepções de literatura, forma, nada disso pode mais ser um muro erguido entre aqueles que encontram na poesia um meio de expressão negra. Aqui se trata da legítima defesa dos valores do povo negro. A poesia como verdade, testemunha do nosso tempo.”

Cadernos Negros 1, 1978

Arrocha ANO XIII. EDIÇÃO 45 IMPERATRIZ, DEZEMBRO DE 2022 21 Jornal
O jornalista e escritor Domingos Almeida tem um canal do Youtube chamado “Prosa de Pret@”, onde aborda conteúdos relacionados a pautas negras
VOCÊ TEM QUE LER!

LGBTQIAP+

Invisibilidade,

a importância de ressignificar as representações sobre a comunidade e do protagonismo político desses sujeitos

Não somos nós falando sobre nós

“Aescrita é a libertação, é um espaço que você pode utilizar a criatividade para discutir temas que muitas vezes são reprimidos no cotidiano e na oralidade. Então você pode utilizar a escrita como um escape para fugir dessa realidade que pode ser tão massacrante.” A frase é de Karollyne Silva Ferraz, 25 anos, advogada, que tem a escrita inserida na sua vida em diversos campos: acadêmico, dentro da sua atuação profissional e na militância nos movimentos sociais.

A escrita pode ser um ato de libertação, mas também pode ser elitista e limitadora. Em muitos casos, exclui a população LGBTQIAP+, que está inserida em contexto de vulnerabilidade e, por conta disso, acaba não acessando esses espaços, não conseguindo discutir temas que são da sua própria realidade. De acordo com Karoline, na escrita acadêmica não é diferente, pois a representação que existe vem do outro. Em alguns livros dentro do Direito, sua área de atuação, por exemplo, a temática LGBTQIAP+ é escrita por pessoas cisgêneras heterossexuais, que acabam ocupando o local de fala dessa comunidade.

Ainda trazendo pontos citados pela advogada que ressoam em torno da oportunidade de crescer no ramo da escrita acadêmica, não existe estímulo para que temas voltados à população LGBTQIAP+ sejam mais discutidos. Pois a comunidade é colocada à margem da sociedade. A sexualidade e o gênero ainda são tabus sociais e temas não estimulados a serem discutidos dentro das escolas e Universidades.

Nos espaços educacionais, as pessoas LGBTs sofrem processos violentos de opressão para tentar se adequar às normas sociais. Não é comum ver muitos textos acadêmicos que trabalham e que trazem a perspectiva da primeira pessoa, do indivíduo falando da sua realidade, em espaço de protagonismo.

“Não somos nós falando

sobre nós, não somos nós falando das nossas demandas, dos problemas que a gente enfrenta”. Karoline reflete que as experiências LGBTQIAP+ são faladas em terceira pessoa, partem de escritos de outras pessoas que não têm essa vivência, o que acaba tirando o protagonis-

ção ainda muito pequena, tanto do ponto de vista dos temas de pessoas trabalhando com o tema LGBTQIAP+, quanto de pessoas que publicamente tenham essa representação da sua orientação sexual”, nessa declaração, Ricardo Alvarenga, 30 anos, professor universitário e jornalista, dialoga com o depoimento de Karoline. Ele também acredita que assim como em outros âmbitos da sociedade, ser uma pessoa lgbtqia+ dentro da Academia ainda é um grande tabu. Apesar do tema ser tratado com mais naturalidade, ainda não é o suficiente para se dizer que isso é uma questão resolvida.

vou ter interesse em escrever? Por que vou escrever sendo uma pessoa assumidamente LGBTQIAP+? Parece que não há espaço para esse tipo de produção, então precisamos de uma mudança na sociedade”, afirma Alvarenga. Uma mudança estrutural da sociedade é urgente para que as pessoas LGBTQIAP+ deixem de ser vistas como objetos e passem a ser compreendidas como sujeitos de suas próprias histórias.

A escrita como estratégia de luta “A escrita é primordial para que se possa elaborar estratégias de luta, resistência e formação política da comunidade LGBTQIAP+. Digo isto, porque nós, LGBT’s, somos uma parcela da sociedade carente de conhecimento”, declarou Jean Pierr, 39 anos, estudante de Sociologia na Universidade Federal do Maranhão, escritor que integra a comunidade. Os sujeitos LGBT’s muitas vezes não têm o reconhecimento merecido por vários motivos: primeiro, por conta da homofobia. Segundo, por serem

marginalizados socialmente.

Jean Pierr trabalha com questões relacionadas ao ativismo LGBTQIAP+, atuando na formação política através de apresentações em Rodas de Conversa e Seminários (Universidade, escolas públicas e atividades do Coletivo LGBT ArcoITZ). O estudante de sociologia faz leituras que se conectam às suas próprias vivências enquanto pessoa gay. Por isso, indica o livro “Direitos em Disputa - LGBTI+: Poder e Diferença no Brasil Contemporâneo”, da autora Regina Facchini. Este, em especial, ele lê para pensar e repensar as lutas por direito e saúde.

Pierr expôs, ainda, que suas leituras o ajudam a contribuir com o coletivo LGBTQIAP+ de Imperatriz, considerando o fortalecimento do corpo coletivo e a construção de uma visão crítica do espaço municipal, na identificação de opressões e violências homofóbicas. Ele reitera que muitas pessoas da cidade maranhense dizem nunca ter sofrido LGBTfobia. No entanto, para Pierr, existem preconceitos diários na cidade.

mo da comunidade, que de fato vive as opressões diárias, que tem capacidade e qualificação suficiente para falar das demandas e reivindicações de forma técnica e acadêmica. Posto isso, tem uma discussão na Academia sobre ser sujeito ou objeto de estudo. Em muitas publicações, a comunidade LGBTQIAP+ é reduzida a objeto de estudo.

“Eu sinto uma representa-

Para o professor e pesquisador, a primeira mudança que a sociedade precisa ter é na forma de compreender o sujeito. O preconceito que existe contra os membros da comunidade lgbtqia + é muito grande. Isso acaba gerando um constrangimento e um fechamento para as possibilidades de crescimento. “Então se eu cresço em uma sociedade que não me valoriza, que não valoriza minha fala, minhas ideias, por que que

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VENILSON SOUSA Jean Pierr, escritor e ativista LGBTQIAP+. Através da militância busca conscientizar e cobrar direitos
silenciamento e marginalização LGBTQIAP+ na literatura brasileira:
“Não somos nós falando sobre nós, não somos nós falando das nossas demandas, dos problemas que a gente enfrenta”
Karoline desenvolve estudos ligados diretamente aos sujeitos que integram a comunidade LGBTQIA +. Dessa maneira, tem lutado pela igualdade e o respeito aos direitos básicos
BRITO
Ricardo Alvarenga, escritor universitário e jornalista, professor visitante na UFMA
JÚLIA
JEAN QUEIROZ ACERVO PESSOAL

ESCRITA SITUADA

Invisibilidade e marginalização LGBTQIAP+ na literatura brasileira: a importância de ressignificar as representações sobre a comunidade e de reconhecer o lugar de protagonismo através da escrita

Quando nós escrevemos sobre nós

Oreconhecimento da diversidade no campo da literatura levou décadas para ser efetivado, de forma que a arte da palavra também passasse a ser considerada um ato político. Essas escritas expressam, nos dias atuais, as dificuldades e a heterogeneidade sexual existente no Brasil, expondo preconceitos, silenciamentos e invisibilidades dos sujeitos, com interferências de gênero, classe e raça.

Sabemos que na verdade não é a representação que incomoda, mas o modo como ela se mostra: o gay sendo motivo de chacota, a lésbica estereotipada e sexualizada, travestis e pessoas trans que são marginalizadas, colocadas como prostitutas e ridicularizadas. O que incomoda, para muitos, é a humanização dessas pessoas; é a possibilidade de encará-las como protagonistas e como espelho.

A importância de ressignificar as representações sobre a comunidade LGBTQIAP+ tem sido uma reflexão constante na Universidade através da produção de investigações científicas. É o caso de Gabriel Severino, 25 anos, formado em Comunicação Social- Jornalismo pela Universidade Federal do Maranhão, mestrando pela mesma instituição. Seu estudo é uma extensão da Graduação no qual analisou a representatividade da comunidade LGBTQIAP+ em jornais impressos no Maranhão. No entanto, ele ainda sentia a necessidade de entender mais sobre a representatividade em outros meios ou plataformas de comunicação, então, no Mestrado, Severino decidiu estender sua pesquisa para a ficção seriada.

A Dissertação de Gabriel é voltada para compreender como se dá a representação da comunidade em produtos audiovisuais, tendo como objeto principal o seriado “Pose”, que está disponível na Netflix. “Para além de ser seriado que tem essa representatividade, pois tem personagens e atores e atrizes que são da comunidade, ele se passa em um momento onde o movimento lgbtqia+ teve força muito grande na década de 70 e 80 pois nesse momento teve o surto da AIDS e o movimento tomou forma, até mesmo após

A Rebelião de Stonewall. Então, entender como os atores fazem parte e representam ali a sociedade é interessante principalmente pensando nesse contexto histórico político e social que a série tem”.

Por outro lado, Luiz Gustavo Mayran, homem trans, 32 anos, professor, revisor e escritor, utiliza a literatura para expressar sua vivência e de outras pessoas da comunidade. Ele tem a escrita inserida na sua vida através da sua comunicação e na forma dele se reconhecer e alocar enquanto indivíduo. O escritor expõe que a invisibilidade e a falta de investimento são as maiores dificuldades enfrentadas por essa comunidade, principalmente ao acesso a agentes literários e às editoras. Também, é claro, o interesse destas em produzir e lançar o trabalho deles.

Apesar da sociedade ter

evoluído bastante, as pessoas LGBTQIAP+ ainda são ignoradas e tiradas dos seus locais de protagonismo. Mayran pontua que ainda são invisibilizados pois nomes como

João W. Nery, Amara Moira, Vange Leonel, Poeta JoMaka, Kika Sena, seguem invisíveis no grande cenário, na grande crítica - com exceção da última. “Muito se ouviu falar de Oscar Wilde, por exemplo, mas não sabem que ele foi preso por ser gay e morreu pouco depois disso. Há um apagamento que é proporcional à resistência. Seguimos escrevendo através das eras”, relatou Luiz Gustavo.

Mayran está escrevendo uma coletânea de contos que visa protagonizar as vivências, experiências e expressões pela ótica transmasculina - ‘Transeuntes’. Neste projeto,

“A invisibilidade e a falta de investimento são as maiores dificuldades enfrentadas por essa comunidade, principalmente ao acesso a agentes literários e às editoras. “ Luiz Gustavo Mayran

ele entrevistou homens trans e transmasculinos de várias partes do Brasil via vídeo e áudio, e também agregou experiências próprias para contar situações cotidianas, a partir desses relatos. Da comédia à tragédia, o susto, a surpresa, o amor, o sexo, a gratidão. A obra de Mayran vai abranger um pouco de tudo. O lançamento está previsto para 2023, antes de novembro. A escrita é uma expansão de horizontes, uma vez que é a partir da leitura que os sujeitos absorvem conhecimentos para desenvolver diversos pensamentos sociais e críticos. Na literatura ficcional podem aparecer histórias, fatos e vivências, utilizando da liberdade narrativa para a criação de personagens que darão vida a estes contos de maneira menos

estereotipadas. Mas, nem por isso, fará com que o processo reflexivo iniciado com a leitura deixe de auxiliar na compreensão de uma determinada realidade, contribuindo para a construção da representatividade e empoderamento. Assim fazendo com que o leitor tenha proximidade com as diferenças e as semelhanças das problemáticas vividas pela comunidade, possibilitando a convivência em um mundo diverso.

A Comunidade LGBTQIAP+ tem voz, mas essas vozes ainda não estão nos principais palcos. É preciso pensar em formas de fortalecer a presença de pessoas gays, lésbicas, trans, travestis, entre outras, nas grandes editoras e entre as principais obras publicadas no país.

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Arrocha
Gabriel Severino, de 25 anos, formado em Comunicação Social-Jornalismo pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e faz mestrado na mesma instituição ARQUIVO PESSOAL GABRIEL SEVERINO

LITERATURA INDÍGENA

Uma educação plural, respeitosa e interessada: a busca pelo respeito à diversidade étnica, para visibilizar as vozes de povos que foram marginalizados e silenciados historicamente

Pelos caminhos da literatura e da escrita

As serpentes que roubaram a noite e outros mitos

Escrito por Daniel Munduruku e ilustrado pelas crianças da aldeia Katõ, “As serpentes que roubaram a noite e outros mitos” é um livro feito de mitos contados pelos mais velhos da aldeia. São histórias contadas e recontadas às crianças indígenas como forma de despertar nelas o amor pela própria história e pelas lutas de seu povo. A obra faz parte da “Coleção Memórias Ancestrais”, da editora Peirópolis.

Coração na aldeia, pés no mundo

CLEIDE SANTOS

Abraçar a docência é abraçar muitos mundos e sonhos. É participar do processo individual e coletivo da aprendizagem, do caminhar do aluno. Abraçar a docência também é se colocar como um eterno aprendiz que busca novos textos literários, novas metodologias e que sempre procura inovar para que sua aula saia do comodismo. Nesse contexto, trabalhar a literatura dos povos tradicionais brasileiros é trazer oportunidades para estudantes da Educação Básica. Um novo olhar para com aqueles que são os primeiros povos do país, apresentando sua cultura, seus saberes e tradições, por meio das narrativas contadas pelos próprios indígenas em suas obras. Mediadas pelo professor, a experiência possibilita à criança conhecer os mais diversos povos tradicionais do Brasil e, com isso, levar o estudante a refletir sobre o seu contexto familiar e a sua relação com o meio ambiente. Assim, surgiu o projeto da professora mestra Walquiria Lima da

Costa, intitulado “Pelos caminhos da literatura e escrita indígena na educação básica”. Por meio desse projeto, as crianças têm a oportunidade de conhecer as mais diversas histórias e narrativas indígenas. O projeto é realizado na Escola Municipal Pedro Abreu, localizada na Vila Fiquene, com alunos do sétimo e oitavo ano, na disciplina de Literatura. Durante todo o ano letivo os

de se trabalhar essas literaturas é que damos voz e visibilidade a esses povos que são esquecidos, que são discriminados, que são estereotipados. E a gente volta a dar o direito deles de serem quem são, os primeiros povos originários do Brasil”, afirma Walquiria Lima.

O projeto vai ao encontro da Lei 11.645/08 que torna obrigatório o estudo da história e cultura indígena e afro-brasileira nas escolas de Ensino Fundamental e Médio. O ensino da literatura indígena tem sido implementado também nas unidades escolares “Maria Evangelista de Sousa” e no “Centro de Ensino Raimundo Soares da Cunha”, ambas também da cidade de Imperatriz/ Maranhão.

A Oncinha Lili

estudantes leem e debatem sobre os poemas e desmistificam os conceitos da escrita, da cultura e da vivência dos povos originários. Portanto, é a partir desse contato diário com textos literários que os estudantes vão aprimorando o seu pensar, o seu agir e o seu convívio social, pois a literatura permite que todos sejam vistos com igualdade. “A importância

CLEIDE SANTOS

Além das formas tradicionais de escritas potencializadas em livros acadêmicos e de literatura, a escrita através das redes sociais vem se tornando uma realidade para visibilizar a cultura e a demanda dos povos indígenas.

Nesse sentido, a rede “Mídia Índia” é um Coletivo formado por indígenas de diversas comunidades, regiões e povos, protagonizada por jovens indígenas que contribuem para romper com uma comunicação hegemônica e não participativa. Um dos maiores objetivos da Mídia Índia é a garantia de uma comunicação representativa.

Na cidade de Imperatriz/ Maranhão, a social media Kelly Bone Guajajara, 26, sobrinha de Sônia Guajajara, liderança indígena eleita deputada federal pelo estado de São Paulo.

Para facilitar essa jornada, montamos uma lista com 3 livros para você conhecer um pouco mais sobre a literatura indígena. Lendo obras de autoria indígena, além do acesso a outras narrativas que fogem do padrão branco e europeu, você terá mais oportunidades de entender as urgências da luta dos povos tradicionais e contribuir ainda mais para a luta antirracista.

Escrito por Cristino Wapichana é um convidativo para pais e professores trabalharem com os pequeninos.

Conta a história da bela oncinha Lili e sua família, com colagens lindas e divertidas. Mostra como um filhote de onça vive, seu lar e seus familiares.

A escrita indígena nas redes

Kelly faz parte do Coletivo de Mulheres indígenas “AMIGA”, e do movimento “Juventude da Terra Indígena Araribóia”, onde está fixado seu povo na cidade de Amarante/Maranhão. É integrante da equipe do Mídia Índia há 4 anos e colunista do “Terra Nós”, site parceiro do Mídia Índia e idealizado pela operadora Vivo, que traz notícias e entretenimento através de vídeos e reportagens. É uma versão voltada para o público juvenil.

“Para mim é muito importante debater as pautas sobre a valorização da cultura, da escrita dos nossos povos e da demarcação de terra e preservação do meio ambiente”. Kelly Guajajara argumenta que a tecnologia tem sido um dos maiores suportes para os povos indígenas, porque permite conectar não só um povo, mas todos os povos, com um único intuito. Segundo ela, antes a comu-

É um cordel escrito por Auritha Tabajara, a primeira mulher indígena no Brasil a publicar um livro em formato de cordel, no qual a autora narra sua história em três momentos: primeiro retrata a questão identitária como mulher indígena, depois apresenta a sua jornada nas grandes cidades e a busca pelo reconhecimento como mulher e, por fim, traz a luta contra a violência e o seu entendimento como LGBTQIA+.

nicação entre os povos indígenas era complicado, já que ainda existem “povos isolados”. Mas, atualmente, a comunicação possibilitada pelas redes sociais faz com que vários comunicadores de diversos territórios indígenas possam ocupar o espaço digital para visibilizar suas lutas e necessidades.

“O Mídia Índia hoje é formado por 16 líderes. Mas temos colaboradores que são de etnias diferentes, de estados diferentes. Então essa comunicação de fotos de pessoas do Pará, escrita de pessoas do Maranhão, criação de conteúdos de pessoas do Amazônia e outros estados, faz com que criemos uma união e que a gente saiba e aprenda a falar em uma só língua dos nossos ancestrais e não venhamos perder a nossa identidade”, informa.

A pauta mais debatida pelo Mídia Índia é a valorização da cultura e da escrita dos povos originários e a demarcação de terras, além da preservação do meio ambiente.

ANO XIII. EDIÇÃO 45 IMPERATRIZ, DEZEMBRO DE 2022 24 Arrocha Jornal
“Um novo olhar para com aqueles que são os primeiros povos do país”
SARAH ROCHA LARA CASTRO Professora Walquiria Lima e seus alunos no projeto de leitura de poemas indígenas no salão do livro de Impeatriz- MA 2022 Kelly Guajajara apresentando site Mídia Índia de poemas escritos por indígenas

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