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Revendo nosso lixo
from CDM 59
Frente à alta produção de lixo produzido no mundo, novos produtos reutilizáveis surgem como alternativa sustentável.
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Isadora Vargas, Raissa Micheluzzi, Rebeca Trevizani e William Zaramella.
“Comprei, testei e amei.” É assim que Sâmela Ribeiro descreve seu primeiro contato com absorventes ecológicos. A engenheira civil, que adorava a disciplina de saneamento como ela mesma descreve, pensa muito sobre os impactos ambientais gerados pela produção excessiva de lixo e a problemática da decomposição dos produtos com plástico foram as motivações iniciais para aderir aos absorventes reutilizáveis. do que muitos pensam, a higienização das fraldas reutilizáveis é mais fácil do que parece. Aline explica que, para lavá-las, basta retirar os resíduos fecais e colocar a fralda na máquina de lavar com dois enxágues.
Vivemos em uma sociedade de consumo que nos apresenta diariamente, formas rápidas de lidarmos com nossos problemas. Desde comidas rápidas, cheias de pacotes e Além de ser uma pauta importante para o meio ambiente, a reutilização dos plásticos também interfere bastante nas nossas finanças pessoais. Uma mulher que utiliza um absorvente gasta, em média, de R$ 6 a R$ 9 por mês, mas com a consciência de que a reutilização é mais viável também para o meio ambiente, ela consegue ter uma economia por mais tempo.
Continuar com o alto consumo de plástico nas ações
“O problema é do plástico? mais básicas do cotidiano, como no Não, o problema é da gente.” ciclo menstrual ou na fralda de uma crianças podem ser cruciais para o meio ambiente, uma vez que estru- Doutora em Química, Cida Oliveira turas de polímeros (plásticos) estão diretamente ligadas à sua confecção. O plástico leva 450 anos embalagens descartáveis até soluções para lidarmos com nossa higiene pessoal. A industrialização e a produção em massa nos oferecem a facilidade, que nos cega e nos faz produzir quantidades significativas de lixo para se decompor na natureza. Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) de 2018 mostram que os oceanos recebem anualmente 8 milhões de toneladas de resíduos de plástico. todos os dias. Segundo o portal eCycle, uma mulher A empreendedora e mãe Aline de Oliveira Fevereiro é dona da loja on-line Mamativa. Ela trabalha revendendo fraldas ecológicas reutilizáveis, absorventes femininos e outros produtos ecológicos. A empresária começou a trabalhar nesse ramo há dois anos, quando iniciou a utilização das fraldas na filha caçula. Para ela, achar métodos alternativos para diminuir o consumo de plástico traz diversas vantagens, indo da parte ambiental e financeira até o conforto e a saúde. “Com as fraldas ecológicas você economiza dinheiro, usa em média 10 mil unidades de absorventes descartáveis no decorrer de sua vida, totalizando 450 ciclos menstruais. Uma criança usa em média 4 mil fraldas descartáveis desde o momento em que nasce, até o dia do desfralde. Ambos os produtos são feitos com materiais semelhantes. Uma unidade de absorvente ou de fralda é feita de celulose, um polímero de glicose, diversos plásticos, como polietileno, propileno, adesivos termoplásticos, polímero superabsorvente e também utiliza papel siliconado, agente controlador de odor. ajuda o meio ambiente, a saúde do Vale ressaltar que o problema suposseu bebê e o conforto também.” Fral- tamente gerado pelo plástico acontedas descartáveis possuem mais de 30 ce, na verdade, pela má destinação do substâncias tóxicas, que causam produto. Se houvesse melhor descarte assaduras na criança. Diferentemente do material, o cenário seria
diferente. “O problema é do plástico ? Não, o problema é da gente”, diz a doutora em Química da Universidade Federal do Paraná, Cida Oliveira. É necessário pensar na reutilização e reciclagem do mesmo.
É verdade que a reutilização traz grandes benefícios para a sociedade e é o que acredita a jornalista Beatriz Jarzinski. “Acho muito pertinente a reutilização dos plásticos em geral, já que isso contribui diretamente para a preservação e cuidado com o meio ambiente.” Beatriz também diz que se cada um fizesse sua parte, o retorno ambiental seria muito maior e haveria maior aproveitamento para todos num geral.
Assim como algumas outras pautas ambientais, este assunto ainda não é tão veiculado na sociedade, mas não deixa de ser um ponto muito importante a ser discutido, já que tem tanta influência na vida das pessoas como um todo e na preservação do planeta. Muitas pessoas ainda relutam em usar coisas derivadas de materiais reutilizáveis e, de acordo com Beatriz, essa relutância está ligada ao desconhecimento. “Acho que essa relutância vem muito do ensino. As pessoas realmente não aprendem sobre esse assunto quando são mais novas e se isso acontecesse o cenário poderia ser diferente.”
Convencer uma sociedade a adotar uma cultura de reutilização pode ser um desafio. Tudo é derivado do conhecimento, já que nem sempre sabemos o tamanho do benefício que uma atitude como esta pode trazer para nossa vida. “Para convencer as pessoas de que é seguro usar coisas derivadas de materiais reutilizáveis, devemos saber como é produzido, como influencia, quais são os benefícios. Ter essa base de ensino para depois saber quais são os benefícios no cotidiano”, finalizou a jornalista.
COLETOR MENSTRUAL
Ainda que não haja total aprovação e desavenças a respeito de fraldas e absorventes menstruais de pano, outra saída muito eficaz para aqueles que querem reduzir o consumo de plástico é utilizar o coletor menstrual. Ele consiste em um pequeno copo de silicone hipoalergênico que se encaixa no canal vaginal, coletando assim o sangue do ciclo menstrual. O coletor é uma alternativa que agrada não somente pelos fatores ecológicos mas também pela praticidade. A estudante de pedagogia Anna Tojeiro diz ter aderido ao coletor em 2018 quando precisou ir viajar e buscou uma saída para não se preocupar com a menstruação. Desde então Anna passou a usar sempre e a se inteirar com as pautas ambientais que envolviam o produto.
Apesar dos impactos gerados pelo uso do plástico, é importante lembrar da utilidade do mesmo para a qualidade e duração de alguns produtos. Segundo a doutora Cida Oliveira, é necessário fazer o uso racional do plástico. “Não podemos generalizar o problema do plástico.” Para ela, a saída para isso seria não somente a substituição do material, ainda que eficaz, mas também a reutilização.
Lixo no Paraná
Raissa Micheluzzi
Segundo a assessoria de imprensa da Secretaria do Desenvolvimento Sustentável e do Turismo do Paraná, não existe um número específico da produção de lixo a partir do consumo de absorventes e fraldas em todo o estado, porque para ter esta informação precisaria regularmente fazer a gravimetria dos resíduos, uma análise que os identifica em várias tipologias, antes de serem dispostos nos aterros sanitários. Essa prática só é realizada nas grandes cidades do estado, então temos esse dado apenas de cidades como a Capital do estado, onde são geradas uma média de 13 toneladas de fralda por dia em Curitiba e Região Metropolitana. As legislações do país sempre se preocupam e incentivam a reciclagem. Além disso, o governo estadual tem programas de incentivo e apoio às cooperativas e associações de recicladores em todo estado.
Raissa Micheluzzi O coletor menstrual substitui o absorvente descartável e pode ser usado por até 12 horas. Seu tempo de vida útil é de três anos.