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Ai, que vergonha
from CDM 59
Conciliar diversas atividades sem sair de casa e manter a aparência elevada é um dos muitos desafios que surgiram com a pandemia
Isabelle Almeida, Jéssica Pretto e Nathalia Brum O horário de levantar da cama, o percurso até o local de trabalho, a roupa para vestir e até a relação com a figura que aparece no espelho ou na câmera do celular, mudou. Com o isolamento social provocado pela pandemia da COVID-19, nosso ambiente de trabalho e descanso se tornou o mesmo. E como se adaptar a ele e a nossa presença virtual?
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De acordo com a pesquisa Gestão de Pessoas na Crise COVID-19, realizada pela Fundação Instituto de Administração (FIA), 46% das empresas adotaram algum tipo de trabalho remoto estilo home office em que 34% dessas pessoas apontaram algum tipo de dificuldade ao usar os equipamentos. Referente à autoestima durante esse período, 21% das mulheres relataram que não houve mudanças em comparação a 38% dos
Maria Eduarda Stelle
homens. Isso é um reflexo dos estímulos que as redes sociais promovem sobre a supervalorização do corpo e a cuidados com a beleza.
Acordar em cima da hora atrapalha nossa aparência, ficar muito tempo sentado dá dores nas costas, usar a mesma roupa o dia inteiro estraga e por aí vai. Na rotina da estudante de Direito Maria Eduarda Stelle, Duda, 18, o look principal é o moletom, e quando um vai para lavar, já vem outro em seguida. Mas a monotonia da pandemia trouxe uma surpresa: a melhoria na autoestima. Para ela, passar mais tempo sozinha se tornou uma oportunidade para mudar seu visual e ter um novo olhar sobre si mesma. “Eu me encontrei na pandemia, mudei meu cabelo e outras coisas, e hoje me sinto melhor me arrumando do que me sentia antes, me sinto eu mesma.”
As chamadas de vídeo que Duda faz no seu dia a dia geralmente não envolvem câmera, exceto pelas consultas quinzenais on-line com sua psicóloga em que a intimidade não exige embelezamento. O conforto proporcionado por estar em casa não é um problema para suas atividades, no horário de aula ela gosta de estar no seu cantinho, embaixo das cobertas e confortável.
A rotina dos educadores e outros profissionais que tiveram que se adaptar ao home office não ficou muito diferente da de Maria Eduarda. Sem a preocupação de se arrumar por completo e passar produtos referente a perfumaria, o professor de Jornalismo Rodolfo Stancki comenta que prefere usar roupas mais confortáveis, mas nem por isso parecer menos profissional. “O vídeo é bem menos exigente com a gente e me parece muito com o que as pessoas estão vivendo no mundo real.” Apesar da rotina on-line ser “puxada”, Stancki relata que gosta do conforto que o trabalho em formato home office proporciona e que teve que estabelecer algumas regras mentais para conseguir seguir uma rotina de trabalho dentro de casa, como deixar de usar pijama o dia todo e tomar um banho antes do início de cada aula. “Eu sempre tomo banho antes de dar aula, mas é porque eu preciso colocar o meu cérebro para entender que eu vou trabalhar, o que é difícil, porque eu tô em casa o tempo todo.”
As estudantes Maria Fernanda Almeida, 20, e Gabrielle Portes, 19, estão gostando bastante do conforto de estar em casa, porque a vida antes da pandemia era muito corrida e, agora, atividades exaustivas como lo-
comoção até os compromissos abriram espaço para mais tempo de descanso. E esse conforto todo mexeu com o armário delas, enquanto as roupas favoritas estão pegando mofo, pijamas, moletons e outros looks estão indo à guerra. “Eu tenho outfits para cada momento, tenho dois pijamas, um pra dormir e outro pra ficar em casa, roupa de fazer exercício e a terceira roupa que é a roupa de guerra que é a roupa que eu uso pra sair de casa e que já coloco pra lavar quando volto por medo do coronavírus”, afirmou Gabrielle. E a relação da Maria Fernanda com o pijama nunca foi tão próxima, resultando até em desgastes no relacionamento: “Tem um pijama que eu uso todos os dias que ele fez vários rasgos enormes que eu tive que jogar no lixo e comprar outro”, assumiu.
Maria Fernanda Almeida, estudante
A advogada Suellen Cavalcanti, 35, conta que, no começo da pandemia, se arrumava normalmente para fazer reuniões com os colegas de trabalho, mas conforme os meses foram passando, a necessidade de estar vestida formalmente foi ficando de lado. “Como eu tenho uma filha pequena e ela ficou um bom tempo sem ir pra escola, minha rotina mudou, ficou mais corrido, então acontecia de eu não ter aquele tempo todo para me
arrumar, sem contar o ânimo. A gente fica com mais preguiça de se arrumar pra ficar em casa”, conta.
Além disso, ela relata que houve mudança com relação a sua autoestima, já que, atualmente, tem se arrumado apenas em situações que o trabalho exige. “Deixei de ir ao salão fazer as unhas ou o cabelo por conta do isolamento, salto alto meu pé não vê há meses. é confortável, mas sinto saudades de me arrumar e sair.” Suellen passou por uma situação na frente das câmeras que considerou constrangedora. “Eu estava fazendo uma reunião com cliente, com uma camisa por cima, e por baixo um short de academia, porque estava fazendo exercício um pouco antes. No meio da reunião precisei levantar para pegar alguns documentos do outro lado da sala, e só me lembrei do shorts quando estava voltando para o computador e vi na tela.” Ela diz que ficou envergonha-
da e sem graça, pois era uma roupa mais íntima que um cliente jamais veria, se não fossem as confusões que reuniões online podem causar.
Verônica Alves, psicóloga
DEPRESSÃO
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de brasileiros com depressão já ultrapassa 13 milhões de pessoas. A psicóloga Verônica Alves diz que a autoestima baixa pode causar a doença, dificuldade de sair
Maria Fernanda Almeida
Rodolfo Stancki em sua rotina como professor dando aula de forma virtual na pandemia.
de casa e até mesmo fobias. “A pessoa acaba se isolando cada vez mais, porque não se aceita, nem com ela mesma, nem no grupo.”
Para se aceitar e se sentir melhor durante este período, a psicóloga comenta que o autocuidado é muito importante. “Fazer exercícios de respiração, yoga, exercícios em casa. Estar em contato com a natureza, aquilo que der pra fazer, ou mesmo uma caminhada na rua. E nutrir o corpo, cuidados com a alimentação, beber água.” Verônica também comenta sobre a importância de fazer terapia, que ajuda bastante no autoconhecimento, em se aceitar e tratar traumas do passado.
Saiba mais
Confira dicas de autocuidado para você praticar durante a pandemia!
portalcomunicare.com.br
Em casa, na prática
Resultados de enquete do Google Forms sobre a nova rotna na pandemia e seus constrangimentos
Em uma pesquisa realizada por meio da plataforma Google Forms, sobre a vida on-line na pandemia, observou-se que a maioria dos entrevistados está gostando de realizar seus compromissos em casa e não passou nenhuma grande vergonha em chamadas virtuais. Entretanto, 14 dos 46 participantes do questionário afirmaram já ter passado alguma vergonha com a câmera ou microfone ligados em chamadas de vídeo e encontros virtuais. Entre as experiências, foram micos individuais, e até coletivos, relatados. “Tirei meu fone pra falar com a minha mãe. Por acidente, meu microfone estava ligado, e acabei atrapalhando a aula por um minuto completo até perceber”; “Esqueci que tava de samba canção e levantei para pegar uma coisinha”; “Não estava arrumado e liguei a câmera sem querer no meio da aula” e até “Achei que o microfone estava desligado e soltei gases”. Questionados sobre a mudança no hábito de se arrumar na pandemia, o número de entrevistados que se arrumavam no início da pandemia, 43,2%, caiu pela metade em relação a hoje, 25,6%.