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Ai, que vergonha

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Psicologia mental

Psicologia mental

Conciliar diversas atividades sem sair de casa e manter a aparência elevada é um dos muitos desafios que surgiram com a pandemia

Isabelle Almeida, Jéssica Pretto e Nathalia Brum O horário de levantar da cama, o percurso até o local de trabalho, a roupa para vestir e até a relação com a figura que aparece no espelho ou na câmera do celular, mudou. Com o isolamento social provocado pela pandemia da COVID-19, nosso ambiente de trabalho e descanso se tornou o mesmo. E como se adaptar a ele e a nossa presença virtual?

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De acordo com a pesquisa Gestão de Pessoas na Crise COVID-19, realizada pela Fundação Instituto de Administração (FIA), 46% das empresas adotaram algum tipo de trabalho remoto estilo home office em que 34% dessas pessoas apontaram algum tipo de dificuldade ao usar os equipamentos. Referente à autoestima durante esse período, 21% das mulheres relataram que não houve mudanças em comparação a 38% dos

Maria Eduarda Stelle

homens. Isso é um reflexo dos estímulos que as redes sociais promovem sobre a supervalorização do corpo e a cuidados com a beleza.

Acordar em cima da hora atrapalha nossa aparência, ficar muito tempo sentado dá dores nas costas, usar a mesma roupa o dia inteiro estraga e por aí vai. Na rotina da estudante de Direito Maria Eduarda Stelle, Duda, 18, o look principal é o moletom, e quando um vai para lavar, já vem outro em seguida. Mas a monotonia da pandemia trouxe uma surpresa: a melhoria na autoestima. Para ela, passar mais tempo sozinha se tornou uma oportunidade para mudar seu visual e ter um novo olhar sobre si mesma. “Eu me encontrei na pandemia, mudei meu cabelo e outras coisas, e hoje me sinto melhor me arrumando do que me sentia antes, me sinto eu mesma.”

As chamadas de vídeo que Duda faz no seu dia a dia geralmente não envolvem câmera, exceto pelas consultas quinzenais on-line com sua psicóloga em que a intimidade não exige embelezamento. O conforto proporcionado por estar em casa não é um problema para suas atividades, no horário de aula ela gosta de estar no seu cantinho, embaixo das cobertas e confortável.

A rotina dos educadores e outros profissionais que tiveram que se adaptar ao home office não ficou muito diferente da de Maria Eduarda. Sem a preocupação de se arrumar por completo e passar produtos referente a perfumaria, o professor de Jornalismo Rodolfo Stancki comenta que prefere usar roupas mais confortáveis, mas nem por isso parecer menos profissional. “O vídeo é bem menos exigente com a gente e me parece muito com o que as pessoas estão vivendo no mundo real.” Apesar da rotina on-line ser “puxada”, Stancki relata que gosta do conforto que o trabalho em formato home office proporciona e que teve que estabelecer algumas regras mentais para conseguir seguir uma rotina de trabalho dentro de casa, como deixar de usar pijama o dia todo e tomar um banho antes do início de cada aula. “Eu sempre tomo banho antes de dar aula, mas é porque eu preciso colocar o meu cérebro para entender que eu vou trabalhar, o que é difícil, porque eu tô em casa o tempo todo.”

As estudantes Maria Fernanda Almeida, 20, e Gabrielle Portes, 19, estão gostando bastante do conforto de estar em casa, porque a vida antes da pandemia era muito corrida e, agora, atividades exaustivas como lo-

comoção até os compromissos abriram espaço para mais tempo de descanso. E esse conforto todo mexeu com o armário delas, enquanto as roupas favoritas estão pegando mofo, pijamas, moletons e outros looks estão indo à guerra. “Eu tenho outfits para cada momento, tenho dois pijamas, um pra dormir e outro pra ficar em casa, roupa de fazer exercício e a terceira roupa que é a roupa de guerra que é a roupa que eu uso pra sair de casa e que já coloco pra lavar quando volto por medo do coronavírus”, afirmou Gabrielle. E a relação da Maria Fernanda com o pijama nunca foi tão próxima, resultando até em desgastes no relacionamento: “Tem um pijama que eu uso todos os dias que ele fez vários rasgos enormes que eu tive que jogar no lixo e comprar outro”, assumiu.

“Tem um pijama que eu uso todos os dias que ele fez vários rasgos enormes que eu tive que jogar no lixo e comprar outro.”

Maria Fernanda Almeida, estudante

A advogada Suellen Cavalcanti, 35, conta que, no começo da pandemia, se arrumava normalmente para fazer reuniões com os colegas de trabalho, mas conforme os meses foram passando, a necessidade de estar vestida formalmente foi ficando de lado. “Como eu tenho uma filha pequena e ela ficou um bom tempo sem ir pra escola, minha rotina mudou, ficou mais corrido, então acontecia de eu não ter aquele tempo todo para me

arrumar, sem contar o ânimo. A gente fica com mais preguiça de se arrumar pra ficar em casa”, conta.

Além disso, ela relata que houve mudança com relação a sua autoestima, já que, atualmente, tem se arrumado apenas em situações que o trabalho exige. “Deixei de ir ao salão fazer as unhas ou o cabelo por conta do isolamento, salto alto meu pé não vê há meses. é confortável, mas sinto saudades de me arrumar e sair.” Suellen passou por uma situação na frente das câmeras que considerou constrangedora. “Eu estava fazendo uma reunião com cliente, com uma camisa por cima, e por baixo um short de academia, porque estava fazendo exercício um pouco antes. No meio da reunião precisei levantar para pegar alguns documentos do outro lado da sala, e só me lembrei do shorts quando estava voltando para o computador e vi na tela.” Ela diz que ficou envergonha-

da e sem graça, pois era uma roupa mais íntima que um cliente jamais veria, se não fossem as confusões que reuniões online podem causar.

“A pessoa acaba se isolando cada vez mais, porque não se aceita, nem com ela mesma, nem no grupo.”

Verônica Alves, psicóloga

DEPRESSÃO

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de brasileiros com depressão já ultrapassa 13 milhões de pessoas. A psicóloga Verônica Alves diz que a autoestima baixa pode causar a doença, dificuldade de sair

Maria Fernanda Almeida

Rodolfo Stancki em sua rotina como professor dando aula de forma virtual na pandemia.

de casa e até mesmo fobias. “A pessoa acaba se isolando cada vez mais, porque não se aceita, nem com ela mesma, nem no grupo.”

Para se aceitar e se sentir melhor durante este período, a psicóloga comenta que o autocuidado é muito importante. “Fazer exercícios de respiração, yoga, exercícios em casa. Estar em contato com a natureza, aquilo que der pra fazer, ou mesmo uma caminhada na rua. E nutrir o corpo, cuidados com a alimentação, beber água.” Verônica também comenta sobre a importância de fazer terapia, que ajuda bastante no autoconhecimento, em se aceitar e tratar traumas do passado.

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Confira dicas de autocuidado para você praticar durante a pandemia!

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Em casa, na prática

Resultados de enquete do Google Forms sobre a nova rotna na pandemia e seus constrangimentos

Em uma pesquisa realizada por meio da plataforma Google Forms, sobre a vida on-line na pandemia, observou-se que a maioria dos entrevistados está gostando de realizar seus compromissos em casa e não passou nenhuma grande vergonha em chamadas virtuais. Entretanto, 14 dos 46 participantes do questionário afirmaram já ter passado alguma vergonha com a câmera ou microfone ligados em chamadas de vídeo e encontros virtuais. Entre as experiências, foram micos individuais, e até coletivos, relatados. “Tirei meu fone pra falar com a minha mãe. Por acidente, meu microfone estava ligado, e acabei atrapalhando a aula por um minuto completo até perceber”; “Esqueci que tava de samba canção e levantei para pegar uma coisinha”; “Não estava arrumado e liguei a câmera sem querer no meio da aula” e até “Achei que o microfone estava desligado e soltei gases”. Questionados sobre a mudança no hábito de se arrumar na pandemia, o número de entrevistados que se arrumavam no início da pandemia, 43,2%, caiu pela metade em relação a hoje, 25,6%.

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