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Comida pra quem tem fome
from CDM 59
Foto: Sophia Gama
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Iniciativa do MST Paraná, em parceria com voluntários, leva alimentos para pessoas em situação de vulnerabilidade social
Herick Pires Isadora Mendes Mariana Scavassin Sophia Gama
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- Leonardo Santos, comunicador popular
Acordar, ir ao trabalho, viver o dia e, ao se deitar na cama à noite, não saber se terá o que comer no dia seguinte. Essa é a realidade de mais da metade das famílias brasileiras, conforme o estudo “Efeitos da pandemia na alimentação e na situação da segurança alimentar no Brasil”, divulgado no início deste ano. De acordo com a pesquisa, mais de 59% dos entrevistados passaram por algum nível de insegurança alimentar no último ano; essa porcentagem representa, aproximadamente, 125,6 milhões de brasileiros.
Atualmente o Brasil passa pela pior situação em relação à segurança alimentar dos últimos 17 anos. Estima-se que, no fim de 2020, cerca de 19 milhões de brasileiros passavam fome. Uma pesquisa realizada pelo IBGE em setembro do ano passado apontou que, só no Paraná, pelo menos 250 mil pessoas estavam nesta situação, e que outros 2 milhões não tinham a garantia das principais refeições do dia.
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Apenas em Curitiba, o Cadastro Único do Ministério do Desenvolvimento Social aponta 2,7 mil pessoas vivendo nas ruas. Frente a um momento tão crítico, a solidariedade mobilizou grupos a formarem projetos para colocar comida na mesa de quem mais precisa. O Marmitas da Terra, iniciativa do MST Paraná, é uma dessas iniciativas.
O projeto surge quando integrantes do MST percebem a dificuldade ainda maior que a pandemia traria à população de rua e situação de risco no Paraná. Uma das organizadoras e idealizadoras do Marmitas da Terra, Adriana de Oliveira, lembra que foi lançada uma campanha ao nível nacional pelo MST, para arrecadar alimentos para aqueles que mais precisam. Entretanto, foi em Curitiba que os militantes resolveram montar uma cozinha para o preparo de refeições para serem distribuídas à população de risco.
No início, eram cerca de dez voluntários, que produziam as marmitas, mas devido ao aumento da demanda e ao crescimento do projeto, hoje são mais de 170 pessoas trabalhando na produção.
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Muitos dos voluntários já tinham contato com os projetos sociais do MST, e assim que souberam do Marmitas da Terra procuraram alguma forma de ajudar. Vanessa Dotto, uma das voluntárias da ação, faz parte do coletivo desde julho de 2020 e esteve em diferentes áreas de atuação, ela conta que foi motivada pela emergência da fome e desemprego no país, e decidiu que sairia do isolamento para ajudar
nas ruas. “Eu não tava saindo para canto nenhum, e falei: ‘Bem, se eu sair de casa, vou sair para fazer alguma ação, para doar um pouco do meu tempo para conseguir colaborar’.”
No dia 2 de maio o projeto completou um ano, quase o mesmo tempo que o Brasil passa pela pandemia da Covid-19, e, nesse tempo, foram distribuídas mais de 55 mil marmitas, o equivalente a 600 toneladas de alimentos orgânicos, produzidos por meio da organização popular.
O que começou com a distribuição de 300 refeições semanalmente foi aumentando exponencialmente, e, depois de um ano, a produção semanal passou a ser de 1.100 refeições integralmente realizadas pela cozinha do MST, com alimentos oriundos do Assentamento Contestado, na Lapa.
No dia das entregas - todas as quartas, sem falta - uma fila dupla com aproximadamente 100 pessoas se estende pela Praça Rui Barbosa, no Centro da cidade, à medida em que as marmitas são entregues, porém, a fila parece não diminuir. Por 30 minutos, pessoas chegam incessantemente ao local à procura do “almoço de graça da Rui Barbosa”. Algumas se espalham pela praça para comer, outras apenas pegam o kit que contém a marmita, um copo de água, uma fruta e uma máscara e vão embora. Em um clima quase familiar, os mais distintos tipos de pessoas almoçam ali juntos. Ao perguntar para algumas delas o motivo pelo qual pegavam comida ali, as respostas eram diversas: “Enquanto eu estiver nessa situação, tenho que pegar”, “O cheiro da marmita traz a gente aqui, a fome fala”, “Essa marmitinha aqui eu vou levar para a minha família”.
Apesar da divulgação on-line, grande parte dos beneficiados descobrem o projeto nas ruas - um conhecido ouviu falar, alguém foi perguntar, um amigo indicou. José, o vendedor de alfajor, é uma dessas pessoas e se beneficia do projeto desde o início. “Eu passei por aqui um dia, vi a fila e perguntei: é de graça? Desde então eu venho”.
O comunicador popular Leonardo Santos, 26, faz parte da equipe de entrega dos alimentos e define o Marmitas da Terra como uma “ação assistencial imediata”. “As pessoas estão com fome e a gente compartilha o alimento”, conta.
O objetivo principal do projeto, porém, não se resume apenas a sanar a fome da população em situação de vulnerabilidade. O Movimento Sem Terra visa um projeto de sociedade que engloba o fim da fome, a repartição igualitária de terras e o fim da luta de classes. O projeto, portanto, é um passo inicial para alcançar essa meta.
O Marmitas da Terra distribui, semanalmente, mais de 1.100 refeições para a população curitibana.
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Por meio do projeto, mais de 600 toneladas de alimentos foram entregues apenas por meio da iniciativa popular.
Saiba mais: Insegurança alimentar
Conforme a Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (Losan), a segurança alimentar é definida como “a realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais”. De modo a compreender o impacto da pandemia na segurança alimentar dos brasileiros, pesquisadores nacionais e estrangeiros uniram-se no estudo “Efeitos da pandemia na alimentação e na situação da segurança alimentar no Brasil”. Confira dados abaixo.
Conheça o Marmitas da Terra
Se interessou pelo projeto e quer saber como ajudar? Conheça as redes sociais do Marmitas da Terra!
portalcomunicare.com.br
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