12 minute read
Lotados e tensos
from CDM 59
Em 2020, mais de dois mil protocolos sobre a aglomeração em ônibus foram registrados na Central 156.
Pandemia de covid-19 revela a presença de problemas graves na logística do transporte público de Curitiba e região
Advertisement
Beatriz Bleyer Lorena Rohrich Lucca Marreiros Lucas pega quatro ônibus por dia. Morador de Pinhais, região metropolitana de Curitiba, e usuário da linha Weissópolis e Pinhais/Campo Comprido, o jovem de 24 anos se desloca até o Centro da capital para trabalhar em sua web rádio Pop FM.
Sem condições de se locomover por outro meio de transporte, ele se sente inseguro ao entrar no ônibus, por conta do alto risco de contaminação da covid-19 . “Uso por necessidade, mas tenho muito medo. Muita gente não respeita, não usa máscara e espirra.
Tudo isso me deixa muito aflito.” O medo do jovem é justificável, já que, até o momento em que esta reportagem foi escrita, o Brasil atravessava uma das piores fases da pandemia.
Uma pesquisa realizada pelo Centros de Prevenção e Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos indica que as partículas infecciosas podem ficar suspensas no ar por até duas horas e, então, em um ambiente onde não há ventilação correta, o perigo de contrair a doença é maior. O contágio, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), pode acontecer, ainda, por meio do contato das mãos e uma superfície contaminada e após à boca, ao nariz ou aos olhos e com a inalação das gotículas que os infectados exalam ao falar ou tossir.
Daiane Santana, 25 anos, é enfermeira de um hospital em Curitiba e pega dois ônibus “na maioria das vezes
lotados” para chegar ao trabalho. Apesar de não atuar na linha de frente no combate ao coronavírus, o seu turno cobre 12 horas diárias de tratamentos de outras doenças. “É desagradável ter que encarar uma rotina cansativa depois de enfrentar um ônibus cheio e, mais tarde, voltar para casa na mesma situação”, afirma.
O risco se torna ainda maior quando se contam os casos de desrespeito às medidas de prevenção à Covid-19. No ano de 2020, houve 2.145 protocolos registrados na Central 156, pela subdivisão “Melhoria na oferta de veículos/viagens”, que direciona a situações de superlotação nos veículos do transporte coletivo. Dentro desse total, houveram 292 menções sobre preocupações com a “covid-19” ou “coronavírus”, correspondendo a 13,6% do total. Em 2021, foram 491 registros envolvendo o assunto e subdivisão citado, dos quais 36 relacionados à pandemia, o que representa 7,3% até aqui. Mesmo com a presença dos fiscais nos principais terminais de Curitiba e RMC, o desrespeito às medidas sanitárias acontece. Para quem enfrenta diariamente essa e outras doenças, como Daiane Santana, o cenário é bastante ofensivo: “A gente se sente desanimado, porque estamos trabalhando para evitar mortes e as pessoas não entendem a gravidade”.
Odinéia de Fátima também precisa utilizar o transporte público todos os dias. É moradora da região metropolitana de Curitiba e, aos 51 anos, a diarista enfrenta a lotação dos ônibus da linha Pinhais/Rui Barbosa, principalmente. O principal receio é pegar o vírus e repassar para o seu marido e seus dois filhos, com quem mora na mesma casa. “Tenho muito medo de pegar o ônibus, mas não tenho escolha. É a única maneira de me locomover para trabalhar.”
Um estudo do DataFolha encomendado pela empresa de aplicativo de automóvel Uber, indica que o principal fator decisivo para a escolha do modelo de transporte utilizado durante a pandemia pelos entrevistados é o grau de aglomeração (29%). A segurança que o transporte oferece (20%) e, empatados com 14%, a facilidade de acesso ao meio e o risco de contaminação, seguem como essenciais na hora da escolha. Assim como Odinéia e Daiane, muitas pessoas não têm outra opção de locomoção.
Houve uma tentativa de mudança nas normas do transporte público na capital, como a redução da frota e da capacidade de transporte nas linhas. De acordo com dados da URBS, empresa responsável pelo planejamento,
A recomendação é manter uma distância de 2 metros de outras pessoas.
Lucca Marreiros
operação e fiscalização do transporte público de Curitiba, atualmente, existem 254 linhas de ônibus na cidade, sendo que seis foram extintas e outras duas foram fundidas. Segundo a instituição, o número de passageiros reduziu muito durante a pandemia. Antes, o sistema contabilizava cerca de 734 mil passageiros de ônibus por dia em Curitiba. Agora, esse número caiu para 347 mil.
PASSAGEIROS ENCHEM E FUNCIONÁRIOS RESISTEM
A situação também impacta quem está trabalhando diariamente nas linhas. De acordo com o Sindicato dos Motoristas e Cobradores nas Empresas de Transporte de Passageiros de Curitiba e região metropolitana apontou que cerca de 53 trabalhadores do transporte coletivo, tanto na capital quanto na Região Metropolitana da cidade, morreram por complicações causadas pelo coronavírus.
Motorista da linha Biarticulado, Cleverton Camargo trabalha seis horas por dia, um total de 180 horas semanais. Dentro do ônibus é impossível cumprir com as normas de segurança estabelecidas pela prefeitura, especialmente a do distanciamento social. “Quem trabalha no sistema sabe que o distanciamento de 1,5 metros jamais vai ser possível dentro dos ônibus. Não tem o que fazer, já que os passageiros não podem esperar o próximo transporte”, afirma. Para quem mais precisa, o poder público se fez inexistente. “Não me sinto abandonado, porque nunca estiveram do nosso lado. Nunca tomaram nenhuma decisão a favor do transporte coletivo.”
Rodrigo Lins é defensor da categoria e trabalhou por 17 anos como motorista de ônibus em Curitiba. Atualmente é jornalista, mas mantém contato constante com os antigos companheiros de trabalho e participa ativamente do processo de decisões em prol da categoria, defendendo assiduamente os interesses do grupo. “Inclusive, em uma manifestação recente, fui em cima de caminhão de som na frente da Assembleia, cobrar vacina para todos”, conta. “Dizem que o transporte coletivo não é uma fonte de contaminação. Isso é mentira! Onde há uma quantidade maciça de população, há uma grande chance de contaminação. O risco é muito grande. A contaminação vem de fora para dentro.”
E A SAÚDE DE QUEM ESTÁ ENVOLVIDO NESSE CENÁRIO?
Mesmo que as acusações e as ideias de que os meios de transporte coletivo são potenciais transmissores da covid-19, o professor de Medicina da PUCPR Giovanni Breda prefere tratar o assunto de uma forma mais cautelosa. De acordo com ele, é impossível confirmar que os ônibus contribuem
de forma decisiva para a proliferação do vírus. “Ainda é cedo para dizer isso, justamente porque não existem estudos que comprovem essa situação. Há uma ideia, mas não um fato científico 100 % comprovado.”
Breda, porém, explica que a falta de execução das medidas de segurança pode influenciar diretamente a saúde de todos os envolvidos e alerta para a importância de se proteger. “É fato que, quando você está dentro de um ônibus lotado, ou até mesmo em uma grande fila para entrar no transporte, o risco de contaminação é alto. Portanto, é muito importante que a população, enfim, se conscientize e use os aparatos para se proteger do vírus”, afirma.
A psicanalista Nilma Bittencourt afirma que a locomoção diária por meio do transporte público pode causar uma série de efeitos negativos sobre as pessoas. Os incômodos, além dos psicológicos, também podem se manifestar de forma física. “É um adoecimento que vai assolando a psiquê dos passageiros e também dos funcionários do transporte público. Isso pode, inclusive, chegar a atingir o corpo, gerando sintomas como mal-estar, angústias, insônias, inseguranças, medos e até mesmo pânico.”
Além disso, a profissional confirma que, sim, é possível que algumas pessoas desenvolvam transtornos psicológicos e de comportamentos a partir da angustiante e tensa rotina. “São pessoas que não encontraram recursos que deem sustentação para seu aparelho psíquico diante de uma realidade extremamente devastadora que assola a humanidade. São crises que podem se desencadear em sujeitos até então bem organizados psiquicamente, mas que frente a situações de perdas ou notícias tão assombrosas se desestabilizam”, explica.
Giovanni Breda, professor de Medicina da PUCPR
Para reduzir as chances de contágio dentro dos ônibus, é necessário seguir algumas medidas de segurança. URBS e COMEC têm em mãos uma série de recomendações, aliadas às já aplicadas pelas secretarias municipais de saúde. Dentre as medidas, destacam-se a solicitação para que as empresas distribuíssem álcool em gel e máscaras aos trabalhadores, além da limitação no número de passageiros nos veículos.
Além disso, a prefeitura de Curitiba afirmou que o transporte coletivo tem sido uma das áreas de maior foco de ações para conter o avanço do Covid-19. O órgão municipal destaca algumas das ações realizadas para proporcionar uma maior segurança aos passageiros, com a realização de assepsias especiais realizadas em todos os terminais da cidade e a prorrogação dos créditos do Cartão Transporte durante a pandemia.
Medidas de proteção para maior segurança sanitária dentro dos meios de transporte públicos.
Recomendações entregues pelo SINDIMOC às organizações e ações preventivas indicadas pela Organização Mundial da Saúde.
Respeite o isolamento dos bancos próximos aos motoristas e cobradores, para evitar passageiros em cima dos trabalhadores do transporte
Pedido para que os trabalhadores com comorbidades e grávidas fossem afastados do trabalho e para que os trabalhadores do transporte coletivo fossem testados Busca para a aprovação do custeio emergencial do transporte coletivo de Curitiba, garantindo tanto o salário quanto os benefícios dos trabalhadores Solicitação para que os trabalhadores do transporte fossem vacinados contra Covid-19 na primeira fase. Os trabalhadores foram incluídos na fase quatro Solicitação para que os cartões transporte daqueles que não exercem atividades essenciais e para os que testam positivo para a covid-19 fossem bloqueados
Não coloque as mãos no rosto durante o trajeto (mantenha-as especialmente longe dos olhos, boca e nariz)!
O uso de máscaras é uma das principais medidas de proteção. A proteção serve tanto para você quanto para as pessoas a seu redor. As máscaras funcionam como uma barreira física para a liberação de gotículas que contêm o coronavírus e são expelidas por pessoas infectadas quando alguém tosse, espirra ou até mesmo conversa. A máscara deve necessariamente cobrir o nariz e a boca! Use corretamente!
Ilustração: Lana Patrícia Dê preferência por pagar com cartões magnéticos (cartão transporte). O uso de dinheiro ajuda na propagação e transmissão do coronavírus. Em Curitiba, nas linhas convencionais as viagens passaram a ser pagas exclusivamente com o cartão.
Se tossir ou espirrar, cubra o rosto com o antebraço ou utilize um lenço
Mantenha as janelas do veículo sempre abertas para a ventilação do ar
Ao chegar em casa, coloque as roupas usadas imediatamente para lavar
Ao chegar ao destino, lave as mãos ou aplique álcool gel e limpe os objetos pessoais que tocou durante o trajeto
Ande com álcool em gel e aplique nas mãos durante a viagem, principalmente se o trajeto for longo.
Saiba mais
O descumprimento das medidas obrigatórias de segurança contra a Covid-19 (aglomerações ou de funcionamento irregular de comércios e serviços em desacordo com as medidas sanitárias vigentes) pode ser denunciado através do site da Central 156, da Prefeitura de Curitiba.
portalcomunicare.com.br
Três vezes história
Ricardo Luiz
A Catedral, primeira igreja de Curitiba, possui o estilo arquitetônico neogótico. O estilo é conhecido como “a arte das catedrais” sendo utilizado pelas mais famosas igrejas, como Notre Dame e Duomo di Milano
As três primeiras igrejas de Curitiba são a Catedral Basílica de Curitiba, a Igreja do Rosário e a da Terceira Ordem de São Francisco das Chagas.
Isadora Vargas, Raissa Micheluzzi, Rebeca Trevizani e William Zaramella
Ocentro histórico de Curitiba é composto por elementos que nos contam muito sobre a presença do catolicismo na cidade. Do largo da ordem à Praça Tiradentes, encontramos as três primeiras igrejas da religião , carregando grande peso histórico e pérolas valiosas da estética e arquitetura, que narram visualmente a história da cidade.
A primeira igreja a ser construída foi uma pequena capela de pau a pique em meados do século XVII, localizada onde hoje se encontra a Matriz. Os faiscadores de ouro do Rio Atuba a levantaram em homenagem a Nossa Senhora da Luz. No ano de 1720 foi construída a Antiga Matriz no estilo colonial português. Apenas em 1893 ela passou a ser a Matriz da cidade e tornou-se Catedral no ano seguinte. A segunda igreja foi a do Rosário. Originalmente chamada de Igreja da Nossa Senhora dos Pretos de São Benedito. Ela foi construída por escravos negros do século XVIII para que eles pudessem exercer sua fé uma vez que não podiam frequentar uma igreja de brancos. Inaugurada em 1737, a igreja do Rosário possuía estilo colonial e foi reformada em 1946 mudando para o estilo barroco. Entre os anos 1875 e 1893 ela serviu de Matriz, logo após a abolição da escravatura.
A Igreja da Ordem Terceira de São Francisco das Chagas foi a terceira. Inicialmente chamada de Nossa Senhora do Terço, o nome foi mudado quando a Terceira Ordem chegou a Curitiba. A Terceira Ordem se inicia com pessoas leigas, sem exercerem alguma posição
Ricardo Luiz A Igreja do Rosário é a segunda igreja de Curitiba. Diferente da Catedral, ela possui o estilo barroco apesar de ter sido inicialmente construída com o estilo colonial.
Ricardo Luiz A terceira igreja de Curitiba é a Igreja da Terceira Ordem de São Francisco das Chagas. Assim como a Catedral seu estilo arquitetônico é o neogótico, marcado pela verticalidade, abóbodas ogivais e um grande número de janelas e portas.
Ricardo Luiz
clerical, apenas seguiam as normas franciscanas. Com o estilo colonial, a igreja foi inaugurada em 1787 pelo Coronel Mota. Pouco tempo depois, no ano de 1880 a igreja foi ampliada e reformada para o estilo neogótico. Teve suas despesas financiadas por Antonio Ricardo de Andrade, deputado provincial da época. Lendas dizem existir túneis que conectam as três igrejas, construídos durante a Segunda Guerra Mundial para facilitar a fuga dos alemães que moravam em Curitiba caso fosse necessário. As visitações e missas estão sujeitas a mudanças devido aos decretos locais com medidas contra o covid-19. Vitrais coloridos e cheios de vida, marcados por um grande valor monetário investido em cada um deles.