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A voz que não cala os invisíveis

Dados de 2010 mostram que o Brasil é o país com o maior número de ativistas ambientais pelo segundo ano consecutivo Thaís Mota

sempre em eventos, como marchas, defendendo a inclusão da luta das mulheres. Esse bloco atua politicamente por meio da cultura e da música, chamando atenção das pessoas que não têm acesso às leituras científicas. “A gente quer tornar democrático a politização, então atuamos com o feminismo dessa maneira”, conta a publicitária. Para ela, quando se trata da luta de minorias, a maioria dos governos não dá apoio completo, pois o capitalismo tende a sempre explorar as minorias em detrimento da elite e do que é considerado “mais forte”. “No presente governo, no qual nosso país está sendo presidido pelo político do PSL, enfrentamos um obstáculo ainda maior em direção à igualdade e respeito tanto para as mulheres, quanto para a população LGBT.” Vimos mais de uma vez o atual presidente eleito proferir insultos contra essa parcela da sociedade e isso sempre foi algo escancarado por parte do Bolsonaro”, explica Giovanna. Sobre os movimentos ativistas, a publicitária afirma que é preciso falar e debater sobre esses temas, além de se questionar as piadas de mau gosto, as brincadeirinhas, violências concretas e a opressão enfrentada pelas mulheres. Para ela, “nenhuma luta se faz no silêncio. Precisamos de uma militância ativa e disposta a mover as estruturas sociais.” Quando chegamos aos dados, o susto é grande: o Brasil é um dos países mais perigosos do mundo para os defensores dos Direitos Humanos. No balanço divulgado em 2018 pela ONG britânica Global Witness, o país A s frentes de luta dos movimentos ativistas existem há muito tempo e contam histórias que ficaram marcadas para sempre na história do mundo e na evolução da humanidade. Esses grupos são capazes de dar voz àqueles que sofrem com a invisibilidade. Há que se questionar, inclusive, o conceito de minorias, já que mais da metade da população brasileira é negra (54%, de acordo com o Censo do IBGE de 2010) e feminina (51%, de acordo com o Censo do IBGE de 2012). O mundo que conhecemos é grandioso e acolhe diferentes etnias, orientações sexuais e de gênero, e opiniões sobre assuntos divergentes. É intuitivo pensar que o governo de cada país não consegue dar atenção a todas as causas - o que não é certo, pois deveríamos, supostamente, viver em equidade e com garantia de direitos para todos. Sendo assim, o movimento ativista aparece, justamente, para trazer à tona assuntos que são contornados pelas instâncias, majoritariamente, políticas e excludentes perante as “necessidades” de uma maioria. O movimento sufragista, por exemplo, foi o resultado do ativismo militante feminista que se deu na sociedade, após anos de luta das mulheres pela transformação da democracia com a ampliação dos direitos das mulheres e trazendo - ainda que não completamente - uma equidade com os direitos entre os homens. Esse ativismo, entretanto, não é bem visto pelo atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro. Em entrevista ao programa humorístico Pânico, da Jovem Pan, durante a época de eleições, no ano passado, Bolsonaro declarou que “Tem ativismo em qualquer lugar. O ativismo não é benéfico, e nisso, nós devemos pôr um ponto final”. Giovanna Silveira faz parte do “Bloca Feminista Ela Pode, Ela Vai”, um bloco de batuque curitibano, que está “A gente quer tornar democrática a politização, então atuamos com o feminismo dessa maneira.”

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Giovanna Silveira, publicitária

Arquivo pessoal

Arquivo pessoal

chega em primeiro lugar, pelo segundo ano consecutivo, como o país com maior número de mortes de ativistas ambientais, tendo, no ano anterior, 57 ativistas mortos. A organização salienta que 60% das 207 vítimas identificadas em 22 países estão na América Latina.

A fundadora do Grupo Anjo Azul, uma organização de apoio às pessoas com síndrome do espectro autista, Fernanda Rosa, diz que, infelizmente, são os invisíveis da sociedade e lembrados apenas em época de eleições.“Somos acreditam na esperança de melhoras no que se refere aos temas voltados aos grupos invisíveis da sociedade.

mães e fazemos das nossas dificuldades a nossa maior inspiração. Temos a obrigação de dar voz aos nossos filhos”, declara orgulhosa.

Fernanda viaja com o grupo por todo o interior do Paraná para fazer palestras e debater o tema, que nada mais é a questão das políticas públicas e famílias, levando informação sobre o assunto e contribuindo ativamente com a inclusão e o desenvolvimento social.

A questão das minorias, que faz parte dos grupos ativistas, também é uma problemática no país perante a visão de Jair Bolsonaro, que já proferiu inúmeras frases de desprezo a essas pessoas, como por exemplo no encontro na Paraíba, em fevereiro de 2017, quando disse “Deus acima de tudo. Não tem essa histórinha de Estado laico não. O Estado é cristão e a minoria que for contra, que se mude. As minorias têm que se curvar para as maiorias.”

Apesar desse impasse grandioso e significante, ainda existem pessoas que Para ela, que trabalha no projeto Viva Melhor Sabendo, fazendo teste de HIV nas pessoas, a partir do conhecimento que se adquire ao estar ouvindo sobre outros povos, etnias, identidades de gênero e orientações sexuais, é que se chega a um desfecho positivo para todos.

“Somos mães e fazemos das nossas dificuldades a nossa maior inspiração.

Temos a obrigação de dar voz aos nossos filhos.” Fernanda Rosa, fundadora do grupo Anjo Azul

Educadora voluntária do grupo Dignidade, Melissa Souza vê o ativismo como um diálogo no qual se precisa falar sobre equidade e sobre os povos invisibilizados que são vulneráveis e precisam de uma atenção “a mais”. “Geralmente, as pessoas deturpam muito tudo o que nós dialogamos, porque a gente trabalha com a questão da articulação política pensando no direito básico a todos”, conta.

“Eu tenho esperança de que esse novo governo tenha olhos e consiga enxergar que existem corpos que são excluídos e que são apagados, que existem pessoas que não são enxergadas, que existem pessoas que sofrem simplesmente por existirem. E, basicamente, eu tenho esperança de que nós tenhamos um diálogo produtivo, que as pessoas sejam vistas, tenham seus direitos, que amem e sejam felizes”, finaliza.

Entre medos, desamparo e luta, o importante é não se calar, mas ser a voz dessas pessoas invisíveis e, claro, acreditar num futuro e em uma sociedade justa e melhor para todos, sem restrições.

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