10 minute read

O que é ser mulher no mundo de Damares

A “ministra maluca” e o que pensam as mulheres sobre a onda retrógrada que ameaça tantos direitos já conquistados

Paula Moran

Advertisement

Aatual ministra do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, divide opiniões. Suas afirmações e posturas polêmicas tornaram-se alvo de críticas e muito rapidamente ganharam as redes sociais. Isso é o que todos já sabem. Mas e o que as mulheres pensam sobre a pastora que hoje as representa no governo federal? A reportagem da CDM ouviu várias vozes femininas para saber como Damares é percebida a partir de diferentes pontos de vista.

QUEM É DAMARES ALVES?

Há mais de 20 anos vivendo em Brasília, Damares Regina Alves, a pastora por trás de inúmeras declarações espontâneas possui uma trajetória um tanto quanto curiosa na política. Ela nasceu no Paraná, em 1964, mas foi só no final da década de 1990 que a, hoje, ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, deu início à sua atuação política. Começou no gabinete de seu tio, o pastor Josué Bengtson (PTB-PA) e, depois, se tornou assessora parlamentar para quase dez outros deputados durante alguns anos.

Lutou pelos direitos das crianças em diversas partes do país. Sudeste, Norte, Nordeste. Estados pelos quais passou durante sua juventude. Em uma de suas pregações quando passou por Belo Horizonte, em maio de 2016, Damares contou sua história. Contou que sofreu abuso sexual quando criança e isso se tornou o motivo pelo qual ela dedica sua luta e atuação na política, que desde 2015 vêm se mostrando muito polêmica.

No dia de sua posse, em 2 de janeiro de 2019, um vídeo tomou conta das redes sociais e gerou uma das maiores polêmicas desde que Damares assumiu o cargo no ministério. Nele, a ministra afirmava que seria inaugurada uma “nova era” no país, em que “menino vestiria azul e menina vestiria rosa”. As imagens foram gravadas na quarta-feira do dia 2, quando aconteceu a cerimônia de transmissão do cargo em que Damares assumiu a pasta. Outra declaração da ministra foi proferida em uma audiência na Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara que aconteceu em abril. Nela, Damares foi questionada sobre a flexibilização do porte de armas e seus efeitos para a violência contra as mulheres. Ela preferiu não comentar muito sobre o assunto, mas reiterou: “Homens matam com dentes, com mão, com pau. A violência doméstica se configura de diversas formas e não deve ser tolerada.”

“Ao falar sobre violência doméstica, ela está abordando uma questão que precisa ser mudada para que as mulheres recebam o apoio do Estado.” Cristina Castillo, aposentada

Para Cristina Castillo, secretária executiva aposentada, 56 anos, algumas afirmações de Damares não estão totalmente erradas: “São assuntos atuais, é a realidade que estamos vivendo agora no Brasil. Eu acho que o ponto de vista dela não está de todo errado, ao falar sobre violência doméstica, ela está abordando uma questão que precisa ser mudada para que as mulheres recebam o apoio do Estado”, afirma.

MUITO ALÉM DO AZUL E ROSA

Ainda na mesma reunião da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara, Damares opinou sobre questões relacionadas à educação sexual e de gênero nas escolas: “O menino vai ter que aprender a respeitar e proteger a menina. Quando eu disse que vamos ensinar o menino a abrir a porta do carro, quero dizer não somente isso. Quero dizer que ele terá de abrir também a porta da fábrica, a porta do seu escritório, das indústrias, do seu partido e desse parlamento.”

“Gostei muito quando ela falou que os homens precisam não somente abrir a porta do carro para as mulheres, mas outras portas também - as portas que não são físicas. Da indústria, do mercado de trabalho”, comenta Cristina.

A aposentada acredita que o respeito tem que ser demonstrado não somente com gentileza, mas o menino deve ser ensinado desde criança a respeitar: “A criança vai ver isso refletido com o exemplo que ela tem em casa e nas escolas.”

E sobre a educar o respeito às mulheres nas escolas, a frase que Damares afirmou esclarece: “Os meninos vão ter que entender que as meninas são iguais em direitos e oportunidades, mas são diferentes por serem mulheres, e precisam ser amadas e respeitadas como mulheres”, declarou a ministra.

É TUDO SOBRE A CONCEPÇÃO CRISTÃ?

Damares teve outro vídeo viralizado na internet após proferir uma declaração em sua igreja e foi questionada pela deputada Alice Portugal do PCdoB-BA sobre se ela realmente pensava que a mulher deveria ser submissa ao homem. A ministra afirmou que “dentro da doutrina cristã, o homem é o líder do casamento”.

Na mesma comissão, Damares completou a resposta à deputada dizendo que não está incentivando as mulheres a “abaixar a cabeça para o patrão ou para o agressor”, mas que pensar dessa forma é uma “questão de fé” e que isso não a faz incompetente ou menos capaz de comandar um ministério.

A doutora em Ciências Sociais Solange Fernandes afirma que a ministra não a representa. “A Damares confunde um cargo de política pública com a vida privada, dentro das Ciências Sociais nós chamamos isso de patrimonialismo e o Estado é laico, você como pessoa pode até professar uma fé, mas isso não pode ser levado aos espaços profissionais e imposto às pessoas.” A doutora explica que os direitos das mulheres estão sofrendo uma invisibilização com o governo atual que ameaça extinguir, inclusive, políticas públicas de saúde que as mulheres já têm como garantia do Estado há muito tempo, como no caso da interrupção da gravidez nos três casos em que ela é permitida no país: em casos de estupro; feto anencefálico e quando há risco à vida da mulher.

“Eu vejo uma mudança no comportamento da sociedade, com os conservadores mais extremistas ganhando espaço. O Bolsonaro é um só, mas a Damares é uma extensão do pensamento ideológico dele, ela faz parte do seu plano de governo - que quer desmoralizar os direitos das minorias. A Damares é mulher, mas ela não representa as mulheres brasileiras.”

Solange afirma enxergar a concepção do patriarcado, do machismo e do preconceito contra as minorias e de gênero voltarem com muita força na política do país: “O que eles representam é assustador, porque a gente estava em um processo de avanço de políticas públicas que agora parece estar se tornando um sonho cada vez mais distante. Dentro de alguns anos, essas políticas públicas vão estar inviabilizadas.”

UMA POLÍTICA DE DISTRAÇÃO

Ao ser frequentemente chamada de louca, a ministra, ainda na mesma reunião em que comentou sobre outras polêmicas, lamenta os ataques que tem sofrido: “Enquanto tentam desqualificar a ministra, tem mulheres morrendo, sendo abusadas.”

A designer Vanessa Fogaço, de 26 anos, sempre foi muito engajada politicamente, como ela mesma afirma, mas há algum tempo tem visto uma tentativa de distração por parte do governo ao conferir pautas de políticas públicas para as mulheres e as minorias em geral:

Cassio Tisseo

“Eu acho que a atuação da Damares nesse governo é pura distração, é tanta coisa absurda que ela fala, que a gente perde totalmente a vontade de acompanhar notícias e a política em si. Penso que é uma forma de eles afastarem a gente do que realmente importa. Vejo como uma figura de desserviço.”

Outras opiniões se mostraram bastante similares às de Vanessa na produção dessa reportagem. E assim, buscando entender o lado das mulheres e como elas vêm seus representantes, finalmente entendi a questão: como uma população que não acredita em seus representantes pode avançar como sociedade? A resposta é simples: ela não avança.

Para Jhanayna Ribeiro, 25 anos, analista financeira, o caminho que Damares segue é decepcionante. “Eu acredito que definitivamente não, ela não tem capacidade para assumir a posição que ela tomou no dia da posse do presidente. Ela tem se mostrado muito ignorante ao tratar de temas importantíssimos para as mulheres e a sociedade num geral.”

Já para Damaris Pedro, 31 anos, produtora musical é uma utopia pensar que as coisas vão melhorar. “Eu acho que ela mistura muito as coisas, religião com governo, e pauta temas que nada tem a ver com o progresso das políticas para as mulheres no Brasil. Eu acredito que o conservadorismo ameaça nossos direitos e com certeza pode prejudicar os que já conquistamos.”

A auxiliar de limpeza Eliozete de Brito, 56 anos, que apesar de se mostrar bastante apreensiva ao ser questionada sobre a atuação de Damares, afirma que, em sua opinião, a ministra não tem capacidade para cumprir o seu papel. “Ela tem se mostrado incapacitada e preocupada com outras questões que não as que se relacionam a nós, mulheres. Acho que ela não garante os nossos direitos e pode não conseguir lutar por nós.”

Entender como essas mulheres se sentem é crucial para entendermos o caminho que estamos trilhando na política brasileira. Ainda somos o 5º país entre os países com as taxas mais altas de feminicídio no mundo. Se Damares não nos representa, quem irá?

o poder feminino no universo da marvel

Por Emilia Jurach

O universo da Marvel é conhecido por suas produções de super-heróis poderosos e invencíveis. Com a predominância masculina, as heroínas tinham pouca representatividade, com mulheres coadjuvantes nos filmes e que, até então, nunca tinham sido protagonistas de uma obra do estúdio.

Mas foi em 2019 que a empresa lançou seu primeiro filme com uma protagonista feminina, a Capitã Marvel, que foi recebido com duras críticas à atriz Brie Larson e à obra em si, que estaria sendo lançada para “lacrar” e “se aproveitar da onda feminista da atualidade”.

As críticas foram, na maior parte, feitas por homens, mas o que poucos sabem é que a época em que o filme se passa, anos 1990, o feminismo estava no seu auge e a personagem representava um dos maiores símbolos dessa luta.

Capitã Marvel foi o primeiro filme com uma protagonista mulher na Marvel. Porém, outras heroínas têm extrema importância no universo e uma delas é a Viúva Negra, que chama atenção pela suas habilidades de combate, liderança e firmeza em suas ações. A personagem começou como uma vilã, mas depois se tornou parte da SHIELD e mudou e lado, compondo o time dos Vingadores. A

heroína protagonizará um filme que ainda não tem data de estreia, mas já é um dos mais aguardados pelos fãs e admiradores do estúdio. Vai ser mais um filme feminista para a conta!

Com o lançamento de Vingadores: Ultimato em 2019, várias cenas chamaram atenção por darem foco às heroínas. Uma delas é a cena da Capitã Marvel carregando a nave de Tony Stark (Homem de Ferro) logo no começo do filme, o libertando do espaço e levando para a Terra. Esse primeiro passo foi essencial para todo o desenrolar do filme acontecer.

A morte da Viúva Negra também foi uma cena que mostrou a grandeza da personagem, que se sacrificou em busca de um objetivo e no lugar de um amigo que também estava na batalha.

A heroína Feiticeira Escarlate também teve destaque em uma cena na qual lutou sozinha contra Thanos. O vilão dizia nem conhecê-la, mas a personagem não se importou e mostrou a sua força em nome do principal objetivo de derrotá-lo.

A importância da representatividade feminina em um estúdio com tanta influência no mundo do cinema é gigante. A quebra do estereótipo de “mulher frágil, doce e sensível” com trechos mostrando personagens femininas extremamente fortes, determinadas e até pilotando aviões é essencial para o empoderamento feminino desde crianças até adultas. Uma cena anterior à batalha contra Thanos, na qual todas as heroínas se juntam para lutar contra ele, é histórica. Quem assistiu com certeza sentiu a determinação das personagens ao encarar o vilão e, consequentemente, o tamanho da importância da visibilidade da mulher em um universo predominantemente masculino.

Isso se relaciona, também, com a representatividade que

Pantera Negra trouxe ao ser o primeiro filme com um protagonista negro, fazendo muitas pessoas se identificarem com o que viam nas telas.

COM CRIATIVIDADE E ESTRATÉGIA, encontramos o que você precisa.

A Célula é uma agência acadêmica composta por alunos de comunicação da PUCPR, que desenvolve campanhas publicitárias, pesquisas mercadológicas, planejamento de campanhas, peças gráficas e conteúdos digitais, encontrando o que nossos clientes precisam.

This article is from: