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Da poesia ao empoderamento

Grupo feminino de slam dá voz às mulheres em Curitiba

Poesias essencialmente autorais recitadas em até três minutos, sem o apoio do texto escrito ou instrumentos musicais. Esse é o slam: uma batalha de poesia falada que anda chamando atenção de pessoas no Brasil e no mundo inteiro. Os grupos são, geralmente, mistos, com homens e mulheres, mas nos últimos quatro anos o interesse de mulheres pela modalidade cresceu, fazendo aumentar o número de grupos femininos na área.

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O Slam das Gurias é o grupo feminino pioneiro em Curitiba. Fundado pelas artistas Gabriela Carneiro e Jaqueline Mancebo, o campeonato foi inspirado pelo grupo “Slam das Minas”, de São

Emilia Jurach

Paulo. “Nós sentamos, conversamos e vimos que tínhamos um objetivo em comum, que era fomentar poesia para as mulheres ou quem se identifica com o gênero feminino”, relata Gabriela, que realizou a primeira batalha junto à Frente Feminista da Universidade Federal do Paraná (UFPR) no dia oito de março.

O objetivo de criar um grupo feminino, segundo Jaqueline, é o de em grupos mistos as mulheres não se sentirem confortáveis e, por consequência, não irem tão longe nas competições. “Em grupos femininos, elas podem falar sobre menstruação sem medo, por exemplo, porque sabem que as outras se identificam e não irão ridicularizá- -la”, explica.

EMPODERAMENTO

As mulheres se sentirem mais empoderadas participando de um grupo feminino é um fato comprovado pela idealizadora Gabriela Carneiro. De acordo com ela, “estar presente num espaço com a sua voz, com seu texto e sua opinião é uma simbologia plena de empoderamento”. Letícia Munhoz, 19 anos, é estudante de Letras e escreve poesias desde os 10 anos. Quando conheceu o Slam das Gurias, encontrou uma oportunidade de expressar sua opinião diante de outras mulheres e, desde então, participa das batalhas mensais que o grupo promove. “Eu nunca tive interesse nos grupos mistos pela vergonha e, principalmente, por ter mais homens do que mulheres. Mas, quando encontrei o grupo feminino logo me enturmei, me sinto mais confortável lá”, desabafa a estudante, que escreve poesias românticas. Segundo a artista e fundadora Jaqueline Mancebo, as participantes do Slam das Gurias geralmente escrevem poesias marginais, com temas de resistência - como racismo, machismo e homofobia - e, predominantemente, apresentam obras inspiradas na vivência em sociedade. “É histórico que quando nós (mulheres) falamos, a importância é menor de quando um homem fala. Então dando voz às mulheres no slam, elas vêem que as pessoas gostam, aplaudem e aí elas se sentem muito mais empoderadas”, confessa Jaqueline. Karen Debertólis, jornalista e escritora que oferece aulas de prosa e poesia, relata que as pessoas que escrevem suas histórias para o slam se sentem muito mais incluídas e representadas. “Quando tive alunos mais interessados na modalidade, pude ver que eles se sentiam mais abertos à escrever, pois tinham a liberdade de colocar coisas “Estar presente num espaço com a sua voz, com seu texto e sua opinião é uma simbologia plena de empoderamento.”

Gabriela Carneiro, artista

de dentro de casa, por exemplo, no papel e, depois, apresentar publicamente em uma batalha. Isso é engrandecedor”, conta a escritora. A jornalista reitera que o fato de o formato da poesia do slam ser mais descolado, chama mais atenção ainda das pessoas. “O escritor pode recitar o texto do jeito que quiser, com gírias e até onomatopeias”, conclui.

POESIA NAS ESCOLAS

As fundadoras do Slam das Gurias Jaqueline e Gabriela realizam, também, oficinas de poesia e palestras em escolas para crianças e adolescentes. Segundo elas, é preciso fazer uma desconstrução do que é poesia para então introduzir o slam para os estudantes. “Os alunos enxergam a poesia como algo chato, então tentamos quebrar isso desde o início e mostrar que poesia que eles conhece não é a mesma que a nossa”, relata Jaqueline. Segundo a artista, os estudantes começam a se interessar mais pela obra depois de serem ensinados a ligar o cotidiano deles com a poesia, fazendo com que se sintam, realmente, representados, e tenham a essência do slam, que é expressar a sua opinião e pensamento em forma de escrita.

Serviço

A batalha de slam ocorre todo primeiro domingo do mês no pátio da Reitoria da UFPR, em Curitiba. Todas as informações são postadas antecipadamente no instagram (@slamdasguriascwb) e Facebook (Slam das Gurias) do grupo.

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