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Pano para mangas Margarida Vargues

PANO PARA MANGAS

Margarida Vargues

Preconceito

Segundo a gramática esta não é mais que uma palavra derivada por prefixação, onde a “conceito” se junta o prefixo “pré-”, que significa anterioridade.

Nada de extraordinário se se tratasse da resolução de um exercício sobre processos morfológicos de formação de palavras num teste de Língua Portuguesa, porém, ao analisarmos a palavra, a simplicidade muda-se para os antípodas e ficamos com algo entre mãos que, fazendo jus, a esta rubrica, dá pano p’ra mangas.

Por todo o lado vemos grupos, mais ou menos organizados que lutam ferozmente contra os preconceitos que, quer queiramos quer não, estão enraizados na nossa sociedade.

São os “ismos” e as “ias” da actualidade, como o machismo, o sexismo ou o racismo, a misoginia, a xenofobia ou a gordofobia. Podemos aqui também incluir o preconceito religioso, contra os pobres ou ainda contra portadores de deficiência.

Com excepção dos extremistas que derrubam monumentos, queimam livros ou destroem filmes, como se quisessem apagar da memória coletiva de um povo a sua história, estes grupos têm, na minha opinião, um papel relevante nos dias de hoje, mais que não seja para chamar a atenção, gerar burburinho, mostrar uma vontade de mudança.

Há que arrancar as raízes como se de ervas daninhas se tratassem. Mas por onde começar? É difícil... Por vezes, na trivialidade do quotidiano usamos expressões que, analisadas, são testemunho da profundidade destas plantas invasoras.

Não são nossas, apenas. Ouvimo-las dos nossos pais, dos avós e, para os mais sortudos, dos bisavós. Ouvimo-las também de vizinhos, da mesa ao lado no café, de familiares e amigos, dos amigos dos pais e dos avós que, de vez em quando, aparecem lá por casa para “dar de vaia”, que é como quem diz “dizer olá e ver como anda a familia”.

Pensando bem, também as usamos e nem damos por isso, ou quando nos apercebemos já as dissemos.

De todos os “ismos” e “ias” que referia acima há dois que me tocam em particular: o sexismo e a gordofobia.

Os “ismos” e as “ias” do nosso mundo (A Raiz do Preconceito)

Numa outra vida convivi diariamente com uma pessoa – mulher, de salientar – que de vez em quando dizia, como quem não quer a coisa, que uma mulher jovem com filhos pequenos era um verdadeiro estorvo numa empresa. Porquê? Porque faltava muito, porque saía mais cedo, porque lhe doía a cabeça, a barriga ou a unha do pé. A sua produtividade era mínima e representava um prejuízo enorme a qualquer entidade. Ouvia-a. Calava-me. Afinal, precisava do emprego... As raízes cresciam cada vez mais fundo.

Quanto à gordofobia, e não sendo eu obesa – “ligeiramente” mais pesada do que o desejado, pois herdei a amplitude da minha avó – volta e meia levo com ela, especialmente, nas ancas. Tem a certeza que lhe vai servir? Que número de calças veste? Depois não pode trocar. Ouvi isto há dias depois de ter solicitado uma peça de roupa que sabia ser o meu tamanho.

Grandes marcas já iniciaram este processo de re-educação da sociedade. Fazem por passar a mensagem de forma a chegar às massas. E fazem-no porquê? Porque acreditam? A medo? Conscientes da necessidade? Ou apenas para calar algumas bocas? Teria de levar a cabo uma investigação mais profunda para ser mais assertiva nas conclusões, se é que as há.

Basta passar os olhos pelas redes sociais, especialmente pelo Instagram, Youtube e TikTok – sim, aqui não há só adolescentes a dançar! Deslizamos o dedo pelo ecrã do telemóvel e eis que algumas das tais marcas surgem a cada 4 ou 5 publicações. É de aplaudir, sem dúvida. Mas...e na prática? Será que a mensagem é verdadeiramente integrada? Tenho dúvidas. Muitas dúvidas mesmo. Até porque num mundo de Big Brothers e outros que tais, “outros valores se alevantam” – com o perdão de Camões pelo uso da expressão. É tão mais fácil carregar no ícone de “skip”.

O preconceito está nas palavras, nos actos e espelhado no rosto. Melhor: no olhar! – já que o uso de máscara oculta muito do que dizemos sem abrir a boca, como o sorrisinho

trocista, o nariz franzido, os insultos em surdina que não precisam ser pensados e podem ser balbuciados,... A lista é infindável.

Cabe a cada um de nós prestar atenção ao que faz, ao que diz, ao que vive. E de cada vez que pisarmos o risco, tenhamos consciência disso. Não podemos voltar atrás, mas compete-nos não perpetuar o erro cometido. A mudança somos nós que a fazemos.

Sejamos o exemplo para quem está ao nosso lado e pouco a pouco começaremos a ver o jardim que nasce onde havia ervas daninhas.

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