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3 AS VOZES FEMINISTAS NO SAMBA

3 As vozes feministas no samba

As mulheres sempre estiveram presentes na história do samba. Como pastoras, “tias”, passistas, compositoras, intérpretes e instrumentistas, elas sempre participaram do processos de produção que envolvem o samba. Em uma entrevista ao site do “Observatório de Favelas”, Leci Brandão relata um pouco dessa presença:

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Minha avó, minha mãe e minha madrinha foram pastoras da Mangueira e eu, assim que comecei a frequentar os ensaios da escola, quando ainda aconteciam na fábrica de cerâmica, eu via Dona Neuma e Dona Zica à frente das pastoras adentrando o salão para que depois os demais pudessem entrar. Era um momento de extremo respeito a história e a imagem destas mulheres. Essas mulheres tinham uma autoridade fundamental para a identidade da escola, pois conheciam profundamente a comunidade em que estavam e traziam a realidade do povo para as rodas. Cantavam um cotidiano onde homens e mulheres eram representados e as mulheres eram reconhecidas pela sua sensibilidade e essência e não pela expressão física de seus corpos.50

O lugar que Leci Brandão retrata é para além do lugar da mulata passista da escola de

samba.

Entretanto, a visibilização das mulheres nos processos de construção do samba, e quais os papéis que elas ocupam nesses processos, dependeram e dependem das ideias predominantes naquele contexto, da metodologia social hegemônica. Isso significa, por exemplo, que o papel das “tias” como cozinheiras era de grande importância, pois dentro de um contexto de diáspora, a partir de uma perspectiva do cultural negro, a mulher e o alimento sustentavam a comunidade; mas que, diferentemente, o papel da mulher cozinheira e cuidadora, desde o patriarcalismo, é tido como submisso e subjugado ao homem, delimitando uma nítida divisão sexual do trabalho.

O feminismo, como investigaremos a seguir, compreendido como um processo cultural emancipador, mudou o contexto de participação das mulheres nos processos de produção do samba patriarcalizados. Hoje, as mulheres negras sambistas no Rio de Janeiro, em específico as cantoras e compositoras do ÉPreta têm buscado utilizar o samba como um discurso a favor dos direitos humanos, entendidos como os processos de luta pelos bens materias e imaterias necessários para uma vida digna, fazendo antagonismo à metodologia de ação social dominante. Pretendo demonstrar neste capítulo, então, brevemente, como as mulheres se envolveram no processo cultural que é o samba e, com mais profundidade, como elas podem

50 http://of.org.br/noticias-analises/as-negras-mulheres-do-samba/

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