“Pra matar preconceito eu renasci”: O samba como uma ferramenta de emancipação em Direitos Humanos.

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As vozes feministas no samba

As mulheres sempre estiveram presentes na história do samba. Como pastoras, “tias”, passistas, compositoras, intérpretes e instrumentistas, elas sempre participaram do processos de produção que envolvem o samba. Em uma entrevista ao site do “Observatório de Favelas”, Leci Brandão relata um pouco dessa presença:

Minha avó, minha mãe e minha madrinha foram pastoras da Mangueira e eu, assim que comecei a frequentar os ensaios da escola, quando ainda aconteciam na fábrica de cerâmica, eu via Dona Neuma e Dona Zica à frente das pastoras adentrando o salão para que depois os demais pudessem entrar. Era um momento de extremo respeito a história e a imagem destas mulheres. Essas mulheres tinham uma autoridade fundamental para a identidade da escola, pois conheciam profundamente a comunidade em que estavam e traziam a realidade do povo para as rodas. Cantavam um cotidiano onde homens e mulheres eram representados e as mulheres eram reconhecidas pela sua sensibilidade e essência e não pela expressão física de seus corpos.50

O lugar que Leci Brandão retrata é para além do lugar da mulata passista da escola de samba. Entretanto, a visibilização das mulheres nos processos de construção do samba, e quais os papéis que elas ocupam nesses processos, dependeram e dependem das ideias predominantes naquele contexto, da metodologia social hegemônica. Isso significa, por exemplo, que o papel das “tias” como cozinheiras era de grande importância, pois dentro de um contexto de diáspora, a partir de uma perspectiva do cultural negro, a mulher e o alimento sustentavam a comunidade; mas que, diferentemente, o papel da mulher cozinheira e cuidadora, desde o patriarcalismo, é tido como submisso e subjugado ao homem, delimitando uma nítida divisão sexual do trabalho. O feminismo, como investigaremos a seguir, compreendido como um processo cultural emancipador, mudou o contexto de participação das mulheres nos processos de produção do samba patriarcalizados. Hoje, as mulheres negras sambistas no Rio de Janeiro, em específico as cantoras e compositoras do ÉPreta têm buscado utilizar o samba como um discurso a favor dos direitos humanos, entendidos como os processos de luta pelos bens materias e imaterias necessários para uma vida digna, fazendo antagonismo à metodologia de ação social dominante. Pretendo demonstrar neste capítulo, então, brevemente, como as mulheres se envolveram no processo cultural que é o samba e, com mais profundidade, como elas podem 50 http://of.org.br/noticias-analises/as-negras-mulheres-do-samba/


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ANEXO B – Transcrição da entrevista com Marina Iris

15min
pages 106-111

ANEXO A – Diretriz inicial e perguntas

1min
page 105

CONCLUSÃO

4min
pages 96-98

Referências bibliográficas

8min
pages 99-103

3.2. O samba como um processo cultural emancipatório feminista

19min
pages 87-95

3.1. Mulheres no samba

15min
pages 80-86

3 AS VOZES FEMINISTAS NO SAMBA

2min
page 79

2.3. O controle social informal da mulher como um processo cultural regulador

12min
pages 73-78

2.2.2. Indústria cultural e apropriação cultural capitalista

9min
pages 69-72

feminista

19min
pages 44-52

contra saúde pública

18min
pages 61-68

2.1. Cultural e processos culturais

16min
pages 54-60

x processos culturais reguladores

2min
page 53

1.2.2. O discurso das sambista do ÉPreta

13min
pages 38-43

INTRODUÇÃO

4min
pages 12-13

1.1. Direitos humanos como processos de luta

15min
pages 26-32

i.1 Prólogo: situando-me no mundo do samba

7min
pages 14-16

1.2. Direitos humanos para as mulheres sambistas

2min
page 33

1.2.1. Uma análise de discurso feminista

9min
pages 34-37

i.2. Caixa de ferramentas: para pensar os direitos humanos

6min
pages 17-19

1 QUAIS DIREITOS HUMANOS?

2min
page 25

i.3. Questões epistemológicas e metodológicas

10min
pages 20-24
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