MOÇAMBIQUE
AÇÚCAR UMA DAS POUCAS INDÚSTRIAS EM QUE O PAÍS É AUTO-SUFICIENTE PONTA DO OURO O QUE ESTÁ A MUDAR NO PARAÍSO QUE JÁ NÃO O É BMM O PLANO DE VICTÓRIA PAULO, A NOVA PCA DA BOLSA DE MERCADORIAS SOCIEDADE A SUCATA É A NOVA RAINHA DO SECTOR INFORMAL
NEGÓCIOS DA
CHINA
OS PLANOS DE INVESTIMENTO DO GIGANTE ASIÁTICO PARA MOÇAMBIQUE FEVEREIRO 2019 • Ano 02 • NO 11 Preço 200 MZN
Sumário 6
Observação
Design A partir de 27 de Fevereiro arranca, em Cape Town, o Festival Design Indaba
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Radar
Panorama Economia, Banca, Finanças, Infra-estruturas, Investimento, País
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67 ócio 68 Escape Pedalar pelo palmar de Quelimane 70 Gourmet A Tailândia nos sabores do Spicy Thai 71 Adega A descoberta do sake 72 Agenda Música, livros, filmes 73 Arte A Cape Town Art Fair acontece em Fevereiro 74 Ao volante Motos eléctricas estão a chegar e vêm para ficar
Macro
ENQUADRAMENTO 14 Açúcar O ‘raio-X’ a um dos segmentos do mercado agro-industrial que melhor funciona
26 nação CHina 26 Os planos do gigante para Moçambique O gigante asiático aposta, cada vez mais, na economia nacional. Do gás às infra-estruturas passando por novas áreas como a agricultura 34 Na voz de... Su Jian, o embaixador da China em Moçambique
38 provÍncia Ponta do Ouro O que mudou com a nova Ponte e o que tem mesmo de mudar, para a Ponta não acabar
42 mercado e FinanÇas As 100 Maiores A E&M analisa os resultados do estudo da KPMG sobre as maiores e melhores em Moçambique
48 empresas PME Ideia Lab Uma empresa que surgiu do ideal de tornar Moçambique um país empreendedor
50 Megafone Marketing O que está a acontecer no mundo das marcas em Moçambique e lá por fora www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2019
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figura do mÊS
Victória Paulo Depois de ter tomado posse, a nova PCA da Bolsa de Mercadorias traça os objectivos do seu mandato
54 sociedade Sucatas O negócio que se tornou, nos últimos anos, num dos mais rentáveis da economia informal
60 lÁ fora Angola Os planos de João Lourenço para a recuperação económica do país, ao estilo de Deng Xiaoping
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EDITORIAL
Cooperação ChinaMoçambique com novo paradigma? Iacumba Ali Aiuba a cooperação de Moçambique com a República Popular da China remonta aos tempos da luta de libertação nacional, através de apoio logístico e de formação daquele país asiático ao movimento armado que liderou o processo de conquista da independência, ocorrida em 1975, facto que permitiu estabelecer e fortalecer laços de amizade históricas. A parceria económica entre a China e a África é encarada com alguma desconfiança e desconforto pelo volume de crédito e donativos concedidos sem muitos condicionalismos, por um lado, e pelo forte envolvimento na exploração desenfreada de recursos naturais, florestais, realização de obras de infra-estruturas por empresas chinesas e com financiamento daquele país, em muitos casos, com padrão de arquitectura chinesa. Moçambique é um dos maiores beneficiários dos créditos chineses e, de acordo com o embaixador chinês que está no país desde 2015, cuja entrevista publicamos nesta edição, é considerado pela China, a segunda maior economia do mundo, um parceiro estratégico e prioritário com quem pretende diversificar a forma de cooperação, passando da tradicional intervenção do governo para um maior protagonismo das empresas chinesas na capacidade produtiva deste país do Índico. É visão da China a diversificação do financiamento, isto é, não se limitar a empréstimos concessionais ou crédito à exportação, mas apostar em investimentos financiados com os fundos de desenvolvimento e cooperação África-China, outros de cooperação entre a China e a CPLP e o Fundo da nova Rota da Seda. Anuncia ainda que a nova forma de cooperação deve alavancar a modernização da indústria e da agricultura, a criação de emprego, o desenvolvimento de infra-estruturas vitais e a capacitação dos operários qualificados para uma economia mais estável e sustentável. A nova abordagem de parceria económica com África, poderá mudar a percepção generalizada de que a China pretende endividar os países africanos a níveis insustentáveis, para torná-los reféns do seu credor, com o objectivo único de exploração desregrada dos seus vastos recursos. A E&M pretende, desta forma, trazer ao estimado leitor, a nova visão do gigante asiático em relação a África e Moçambique em particular pois ‘quem lê sabe mais’.
FEVEREIRO 2019 • Nº 11 PROPRIEDADE Executive Moçambique DIRECTOR Iacumba Ali Aiuba DIRECTOR EXECUTIVO Pedro Cativelos CONSELHO EDITORIAL Alda Salomão; António Souto; Narciso Matos; Rogério Samo Gudo JORNALISTAS Celso Chambisso; Hermenegildo Langa; Cristina Freire, Elmano Madaíl, Rui Trindade; PAGINAÇÃO José Mundundo FOTOGRAFIA Jay Garrido; Vasco Célio REVISÃO Manuela Rodrigues dos Santos PRODUÇÃO Executive Moçambique PUBLICIDADE Ana Antunes (Gestora Comercial - Moçambique) ana.antunes@ executive-mozambique.com; iona@iona. pt/contacto@iona.pt (Portugal) ADMINISTRAÇÃO, REDACÇÃO E PUBLICIDADE Executive Moçambique; Rua do Telégrafo, nº 109 – Sala 6, Bairro Polana Cimento, Maputo – Moçambique; Tel.: +258 21 485 652; Tlm.: +258 84 311 9150; geral@executive-mozambique.com DELEGAÇÃO EM LISBOA Rua Filipe Folque, nº 10 J – 2º drtº,1050-113 Lisboa; Tel.:+351 213 813 566; iona@iona.pt IMPRESSÃO E ACABAMENTO Minerva Print - Maputo - Moçambique TIRAGEM 4 500 exemplares NÚMERO DE REGISTO 01/GABINFO-DEPC/2018
Director da revista Economia & Mercado
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observação
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Cape Town, FEVEREIRO de 2019
Pela criatividade, para um mundo melhor A partir de 27 de Fevereiro arranca, em Cape Town, o Festival Design Indaba, um dos mais importantes e prestigiados do género, a nível mundial. Para além da conferência internacional, ela própria um acontecimento em moldes distintos do habitual em eventos do género, todo o conceito do Design Indaba é apresentado num formato de “experiência imersiva” que inclui não apenas uma série de palestras de design de ‘pesos pesados’ da indústria criativa global, mas também da música, performance e teatro. E por ali se assiste ao lançamento de produtos e aparições surpresa de líderes da indústria criativa em áreas tão diversas como a moda, design, joalharia, ilustração e artes visuais. fotografia D.R
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RADAR Moçambique no ‘top 5’ dos melhores destinos de investimento em áfrica Negócios. Moçambique é um dos cinco melhores países para investir em África, a par de Angola, Etiópia, Gana e Mauritânia. A avaliação é feita pela consultora de risco EXX Africa, que fundamenta a sua avaliação na “proposta de usar o gás como meio para pagamento da dívida pública”. Ao acordo alcançado pelo Executivo no final do ano passado, acresce, na análise “a capacidade de mobilização de receitas do Estado no contexto de ausência de apoio externo e a possibili-
ECONOMIA
Crescimento. A Economist Intelligence Unit (EIU) é mais pessimista que o Governo de Moçambique quanto à previsão de crescimento para este ano. Num relatório divulgado no mês passado, os analistas britânicos revelam que a economia “não deverá apresentar grande alteração em 2019”, com a taxa de variação do PIB a cair 10 pontos base relativamente a 2018, para 3,4%, face às previsões de 4,7% de crescimento, por parte do governo. A EIU sustenta o seu posicionamento com “a redução dos preços do carvão e a dificuldade no acesso ao crédito à agricultura, que continuará a impedir o crescimento do sector.”
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Desenvolvimento. O Banco Mundial elogia o “ritmo de redução da pobreza em Moçambique.” Na sua mais recente análise sobre a economia nacional, a instituição refere que “a economia moçambicana tem vindo a sofrer uma transição estrutural gradual em sentido positivo”, situação que, de acordo com o BM, “impulsionou o rendimento per capita, estabeleceu a produtividade como o motor do crescimento nos últimos anos e aumentou o ritmo da redução da pobreza.” Ainda assim, o Banco Mundial reitera que o país deve “diversificar as suas fontes de crescimento, reduzindo a dependência em relação à indústria extractiva.” Títulos da dívida. O Banco Central realizou, em Janeiro, a primeira emissão de Bilhetes do Tesouro em 2019 para financiar o défice das contas públicas, que desde Abril de 2016 não contam com donativos dos parceiros internacionais. Dias depois, a emissão seria contestada pelo sector privado, alegando que “o crédito fica mais caro e limitado para famílias e empresas.” Além disso, a Confederação das
Associações Económicas de Moçambique (CTA) entende que a medida “pode afectar negativamente” os ganhos macroeconómicos que o país vinha registando, nomeadamente a taxa de inflação e o nível dos câmbios, factores que também podem influenciar negativamente as previsões de crescimento para 2019. Moodys. A agência norte-americana de notação financeira mantém Moçambique no nível mais baixo da recomendação para contrair crédito externo devido ao seu histórico de incumprimento no pagamento das prestações. A classificação mantém-se, assim, no patamar de “lixo”. Num relatório divulgado em Janeiro, a Moody’s diz “não esperar melhorias” na qualidade do crédito na África Subsaariana.
dade de início de exploração do gás a partir de 2023”, cruciais para “a resolução do problema da dívida pública, que em 2017 estava em 113% do PIB.” Já os principais desafios para a economia nacional até às eleições gerais de Outubro próximo são, para a consultora, “os consensos sobre paz efectiva com a Renamo, melhorar a capacidade de resposta aos ataques armados em Cabo Delgado e garantir uma resolução duradoura para o problema da dívida pública.” Impostos. Moçambique passa a beneficiar da liberalização nas exportações de mercadorias para a Índia, excepto no álcool e tabaco. A garantia surgiu na voz do embaixador daquele país em Moçambique, Rudra Shrest, citado pelo jornal “Domingo”. Em tom irónico, dizia ainda: “somos muitos na Índia e precisamos de mais tipos de feijão, mas Moçambique só nos manda feijão bóer”, o tipo de feijão mais exportado no país. Moçambique é o maior parceiro comercial da Índia no continente africano com uma cifra acima de dois mil milhões de dólares anuais. Importações. O processo de desembaraço aduaneiro nas fronteiras moçambicanas reduziu de 21 dias para apenas dois, revelou, em Janeiro, o presidente da Câmara dos Despachantes Aduaneiros de Moçambique, Dixon Chongo. O avanço é atribuído à entrada em vigor da Janela Única Electrónica e será, certamente, considerado na avaliação anual do país no ranking Doing Business, do Banco Mundial, que mede a facilidade de fazer negócios em 190 países. www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2019
Ainda assim, há constrangimentos por corrigir, visto que “existem instituições do Estado envolvidas no comércio internacional que ainda não estão filiadas à Janela Única Electrónica”, lamentou Chongo. Reformas. O Governo garante ter iniciado a “implementação de uma profunda reforma no processo de fazer negócios”. A ideia será melhorar o indicador da “abertura de negócios”, um dos dez considerados pelo Banco Mundial na avaliação que anualmente faz a 190 países (Doing Business). “A reforma introduzida consiste em transferir para o Balcão de Atendimento Único (BAU) da Cidade de Maputo, os actos constitutivos inerentes à reserva de nome e o registo de empresa, outrora realizados na Conservatória de Registos de Entidades Legais (CREL), por forma a haver um único ponto para a efectivação de actos inerentes ao ciclo de início de negócios”, lê-se no comunicado emitido pelo Governo.
INVESTIMENTO Crédito. A Índia anunciou a abertura de uma linha de crédito de 95 milhões de dólares para compra de equipamento ferroviário, mais concretamente material circulante (locomotivas, carruagens de passageiros e vagões de diversos tipos). Trata-se, assim, do 13º financiamento do género concedido pelo Banco de Exportações e Importações da Índia, em nome do governo indiano ao seu congénere de Moçambique, cujo montante agregado atinge, actualmente, os 734,4 milhões de dólares. IDE. O Investimento Directo Estrangeiro (IDE) reduziu 26%, para 2,3 mil milhões de dólares no ano passado. O número, revelado no World Investment Report 2018, foi www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2019
divulgado a 24 de Janeiro passado, confirma a quebra sentida na economia nacional desde 2014, quando esta chegou mesmo a ser a segunda maior de África ao nível da entrada de IDE (depois da Nigéria), ultrapassando a casa dos 7 mil milhões de dólares. A UNCTAD prevê, ainda assim, a recuperação do IDE a longo prazo, “quando o gás começar a ser explorado e quando a produção de carvão expandir.” Mas este ano, já deverá subir, de acordo com as previsões do governo no Orçamento de Estado, para perto de 5,7 mil milhões de dólares.
Inhambane. O governo da província de Inhambane está a mobilizar parceiros para viabilizar a construção de uma central térmica a gás em Temane, no distrito de Inhassoro, durante este ano. A iniciativa visa, de acordo com o executivo local, “a melhoria da qualidade de energia eléctrica fornecida à maioria dos distritos da província e parte de Sofala, bem como o aumento da oferta, para utilização pessoa e industrial.” Projecta-se que a central térmica tenha capacidade para gerar, anualmente, 400 megawatts de energia que irão alimentar os distritos de Mabote, Vilankulo, Inhassoro, Govuro, em Inhambane e Machanga. na província de Sofala. Os parceiros identificados incluem grandes empresas do sector, nomeadamente a EDM, HCB, ENH, INP e o grupo sul-africano Sasol, que explora depósitos de gás natural precisamente naquela província, em Pande e Temane.
OPINIÃO
Emprego, distribuição do rendimento e as suas implicações no desenvolvimento Salim Cripton Valá • PCA da Bolsa de Valores de Moçambique o trabalho é o mais importante aspecto da vida para a maior
parte das pessoas e um mecanismo de partilha dos ganhos do crescimento económico, mesmo quando estão oficialmente classificadas como “não trabalhando”, como no caso das donas de casa, com frequência com horários prolongados e em situações difíceis. Nos países em vias de desenvolvimento até boa parte das crianças trabalha, e muitas pessoas estão tão desesperadas que muitas vezes “inventam” trabalhos para sobreviver. Apesar disso, em algumas análises económicas, as pessoas são conceptualizadas como consumidores e não como trabalhadores. Há-Joon Chang (2016), que escreveu “Economics: The User Guide”, reconhece que o trabalho recebe mais atenção quando está ausente, ou seja, quando há desemprego. No entanto, nem sequer o desemprego foi levado devidamente a sério, no sentido de continuar a ser aceite como algo inevitável. O pleno emprego - anteriormente considerado um objectivo político importante nos países capitalistas avançados - é hoje considerado, em muitas Nações, como algo inalcançável e irrelevante, descurando quase completamente os custos humanos do desemprego, incluindo dificuldades económicas, depressão, humilhação, mendicidade, criminalidade e até suicídio. Pensar e falar de depressão económica, imediatamente evoca o espectro do desemprego em massa e a expansão da pobreza que ocorre em períodos ditos de crise económica. O risco de um derretimento sistémico total tem sido de alguma forma reduzido pelas acções de muitos governos, mas os previstos declínios no comércio, nos fluxos de investimento directo estrangeiro e nas remessas irão e estão actualmente a afectar os mercados de trabalho e o emprego. Adjiedj Bakas, na sua obra “Beyond the Crisis - The Future of Capitalism” (2010), refere que aumentos bruscos no desemprego irão traduzir-se em decréscimos adicionais na demanda agregada e não se sabe se os pacotes de estímulo equacionados serão suficientes e até que ponto eles poderão quebrar o círculo vicioso da espiral descendente. Segundo Eliana Cardoso (2006), que escreveu “Fábulas Económicas”, a lição a tirar do Brasil é que os programas de transferência de renda são a solução para famílias que precisam de atenção
especial e temporária do Estado. Mas são igualmente um dispositivo limitado, orientado para grupos bem identificados, e paliativo, resgatando da total exclusão certos grupos da economia de mercado da falta de oportunidades de emprego e de boas escolas. A autora sublinha que transferências de renda sustentáveis só funcionam onde há crescimento e desenvolvimento económico e que, acabar com a indigência, exige políticas públicas compreensivas, o reforço da competência das lideranças, o fim das políticas demagógicas. E conclui dizendo que “são caras e de pouca valia para os pobres as políticas económicas inconsistentes, conectadas apenas pela lógica do poder”. No início da década de 1990, Amartya Sen, autor dos livros “Desenvolvimento Como Liberdade” e “Pobreza e Fomes”, descobriu que havia cerca de 100 milhões de “mulheres desaparecidas ou invisíveis”, que eram vítimas de privação económica extrema, má nutrição, sem nenhuma escolarização e falta de cuidados médicos. Muitas mulheres realizam um “trabalho invisível”, não remunerado nem capturado pelas estatísticas, e ainda considerado ironicamente de “trabalho leve”, como cozinhar, limpar a casa, lavar a roupa, cuidar das crianças, dos idosos e dos doentes, assegurar a disponibilidade de água, buscar lenha, cultivar a terra para garantir a segurança alimentar, entre outras actividades domésticas e comunitárias. As mulheres, em particular nos países em desenvolvimento, porque marginalmente integradas na vida económica dos países, devem ser as beneficiárias prioritárias de iniciativas de promoção de emprego e distribuição do rendimento. Estudos recentes mostram que a distribuição do rendimento e o acesso ao emprego tem piorado em vários países em vias de desenvolvimento, apesar de alguns deles terem taxas de crescimento elevadas. Esse facto tem levado à alteração das políticas e estratégias tradicionais de desenvolvimento no sentido de, não apenas, estarem focados em objectivos de crescimento económico, mas dando igualmente prioridade à geração de empregos e ao processo de distribuição do rendimento. O recente relatório publicado pela UA & OCDE (2018), intitulado “Dinâmicas do Desenvolvimento em África: Crescimento, Emprego e
As mulheres, em particular nos países em desenvolvimento, porque marginalmente integradas na vida económica dos países, devem ser as principais beneficiárias de iniciativas prioritárias
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“Muitas mulheres realizam um ‘trabalho invisível’, não remunerado nem capturado pelas estatísticas, e ainda considerado ironicamente de ‘trabalho leve’”
Desigualdade 2018”, é um exemplo sintomático do que antes foi referido, ou seja, apesar de África ter tido uma taxa média de crescimento anual de 4,7%, derivado da subida do preço das matérias-primas, melhoria da gestão macroeconómica, adopção de estratégias de diversificação económica e investimentos em infraestruturas, o desenvolvimento económico do continente tem sido altamente volátil e assiste-se a uma séria e gritante limitação de gerar empregos. Para o caso específico de Moçambique, há indicações de que as três áreas que desempenham o papel principal na determinação do emprego total são a agricultura, as pescas e os serviços (fundamentalmente negócios informais) que, em conjunto, criam emprego para mais de 80% da população activa. Se considerarmos a agricultura e pescas como os sectores em que o potencial de produção não tem sido plenamente atingido, isso sinaliza que necessitamos de satisfazer o aumento da procura de alimentos originado pela redistribuição do rendimento sem fazer excessiva pressão na balança de pagamentos (importação de alimentos), isto é, a produção agrícola tem de ser drasticamente expandida, quer através do cultivo de novas áreas, quer principalmente pelo uso intensivo das terras já cultivadas. As características do funcionamento do mercado de emprego estão interligadas com uma estrutura produtiva em que a principal parcela dos postos de trabalho tem um grau baixo de sofisticação e de conteúdo tecnológico, e com uma estrutura de mão-de-obra onde os trabalhadores pouco qualificados são predominantes. Essa situação exige uma reestruturação dos processos produtivos nacionais e investimentos estruturantes que permitam alargar o impacto dos programas de formação técnico-profissional, reduzir as incompatibilidades de competências e aptidões entre o que as empresas demandam www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2019
e o perfil dos graduados, promover iniciativas de reforço da empregabilidade da mão-de-obra e contornar as barreiras ainda existentes para iniciar e fazer crescer negócios. Moçambique tem cerca de 70% da sua população a viver nas áreas rurais, em que o grosso dela dedica-se a actividades agrárias de baixo rendimento, e as várias instituições de formação superior e os institutos médios “derramam” para o mercado de trabalho não menos de 300 mil graduados anualmente. O país está num processo de transição demográfica, com condições apropriadas para um melhor aproveitamento da demografia em virtude da taxa de crescimento da população ser elevada, ao nível de 2,9%, não obstante a taxa de desemprego para o país ser de 21%, mais baixa do que nas zonas urbanas, onde ronda os 24%. Jeremy Rifkin, que escreveu “The End of Work” (1995), aponta que o rápido aumento no uso da automação e das tecnologias de informação poderá eliminar muitos postos de trabalho no sector da indústria transformadora, agrícola, na venda a retalho e nas indústrias de serviços, enfatizando que a tecnologia tem o potencial de destruir postos de trabalho num ritmo mais acelerado do que a criação de novos empregos e essa tendência poderá agravar-se no futuro à medida que apostamos na economia do conhecimento. As estratégias de desenvolvimento económico deverão, ainda mais do que acontece hoje, erguer um sistema educativo que seja menos teórico e vacilante, cristalize o espírito empreendedor entre os jovens graduados, estanque a crescente desigualdade de rendimentos, promova prioritariamente os empreendimentos de mão-de-obra intensiva e implemente um programa consistente de distribuição de rendimento focado na promoção da educação relevante e de qualidade e em políticas activas de geração de mais postos de trabalho.
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macro
‘Sugar high’ ou um doce despertar? É um dos poucos segmentos em que o país é praticamente auto-suficiente e até exporta. Apesar da baixa de preços a nível mundial, a indústria nacional do açúcar tem vindo a crescer enquanto mercado, fruto de uma procura interna crescente e da busca constante por novos mercados externos para exportar de visita ao quénia, em Novembro do ano passado, o Presidente da República, Filipe Nyusi, manifestava a “firme intenção” de adicionar aquele destino ao conjunto dos mercados de exportação de açúcar nacional. O discurso não era novo. Já o tinha feito, meses antes, no Ruanda e seria secundado pouco tempo depois, quando foi inaugurada a primeira refinaria de açúcar branco do país, pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, que assegurava ao seu homólogo angolano, de visita a Moçambique, a disponibilidade para o excedente de produção ser exportado para Angola. Há que perceber as particularidades deste doce despertar (porque é do
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530 Mil toneladas É o total da produção instalada em Moçambique
‘acordar’ de um importante segmento económico, no caso o do açúcar, de que se fala aqui) e que, para além da busca de novos mercados, é marcado pelo aumento de investimentos na produção, sobretudo por se tratar de um ramo exigente, em que gigantes como o Brasil, Índia e União Europeia impõem o ritmo de uma competição global. “Estamos a fazer todo o esforço possível para elevar a contribuição do açúcar nas receitas de exportação, porque existem condições para isso e o futuro poderá testemunhar os bons resultados do esforço que estamos a realizar”. É esta a convicção que justifica o foco, aparentemente repentino, no subsector do www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2019
açúcar, e que é expressa pelo directorexecutivo da Associação dos Produtores de Açúcar de Moçambique (APAMO), João Jeque, em entrevista à E&M, e na qual faz ainda referência a projectos importantes (entre os agendados e os que estão em curso), impulsionados por investimentos públicos e privados. O mercado global No entanto, antes de explorar o que está a ser feito, em concreto, e para melhor compreensão da posição de Moçambique no mundo do açúcar, importa lançar um breve olhar a um dos grandes pontos fracos a nível global, e que internamente poderia criar receio quanto ao retorno dos investimentos na produção: o preço baixo do açúcar nos mercados internacionais, actualmente, um fenómeno que tem gerado alvoroço e alterado as estratégias dos grandes produtores. É o caso do Brasil. O maior produtor mundial (produz 40 milhões de toneladas de açúcar por ano) equaciona reduzir consideravelmente a produção interna e canalizar boa parte dela para a produção de etanol, cujo preço é mais apetecível e o mercado não está tão saturado. “Há açúcar a mais, e estamos a deparar-nos com dificuldades provocadas por uma produção global em crescimento, causadas pela aposta política de muitos governos na criação de enquadramentos favoráveis à produção”, dizia Michael McDougall, broker de commodities na ED&F Capital Markets ao Financial Times, em Abril do ano passado, quando o açúcar atingia um ‘pico’ negativo de preços, abaixo dos 12 cêntimos por libra (450 gramas), pela primeira vez desde 2012. De lá até ao final do ano, haveria de cair ainda mais, para perto dos dez cêntimos, o que levou companhias como a Louis Dreyfus (multinacional da comercialização e processamento de produtos agrícolas) a recapitalizar a sua operação no Brasil (da Biosev) em 1,4 mil milhões de dólares e a germânica Suedzucker (maior produtora de açúcar da Europa, com uma produção anual de 4,8 milhões de toneladas), que emitiu uma nota à Moodys para baixar o seu rating de “estável” para “negativo”. Não sendo uma ilha isolada de um mundo cada vez mais global, Moçambique também sofre com a quebra do preço do açúcar, que deverá continuar baixo ao longo do ano (apesar de apresentar uma ligeira recuperação nas últimas semanas), de acordo com os analistas deste mercado. Mas, ao contrário do Brasil, www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2019
Onde está o açúcar? As açucareiras de Xinavane e da Maragra representam 66% da capacidade instalada para a produção de açúcar, utilizando 61% do total da área de cultivo da cana no país Açucareira de Xinavane Maputo 18 564 240 000
Província Hectares Toneladas
Açucareira de Mafambisse Província Sofala Hectares 9 866 Toneladas 90 000 Açucareira da Maragra Maputo 10 578 110 000
Província Hectares Toneladas Companhia de Sena
Província Sofala (Marromeu) Hectares 8 647 Toneladas 90 000
O oitavo mais exportado O açúcar ocupa um lugar de destaque nas exportações do país e poderá conhecer um impulso adicional com os novos acordos de exportação celebrados com Angola e Ruanda Em milhões de dólares carvão mineral
1 687 barras e perfis de alumínio
1 100 energia eléctrica
360 gás natural
359 tabaco
211 areias pesadas
210 madeira
59 açúcar
47 Fonte Anuário Estatístico - INE
(e provavelmente de outros colossos do sector agrícola, excepto a União Europeia que já admitiu manter elevada a sua produção), Moçambique faz ‘vista grossa’ ao fenómeno. Ou, pelo menos, é isso que os resultados demonstram. O director da APAMO explica: “É verdade que há uma crise de preços, mas os grandes produtores mundiais sentem-no mais. A verdade é que há sempre mercado para esta commoditie. Os grandes produtores são também grandes consumidores e compram açúcar de outros países. Não fazendo parte dos grandes players globais da indústria açucareira e com uma economia ainda pequena que precisa de recursos, vamos continuar a procurar o nosso espaço, apostando em aumentar a produção e em buscar novos mercados de exportação. E procurando maximizar a captação de divisas a partir do oitavo produto que o país mais exporta”, esclareceu João Jeque. Auto-suficiência sim, mas… Outra das razões pelas quais o mercado nacional do açúcar não se tem ressentido da crise de preços internacional tem a ver com o espaço que o consumo ainda tem para crescer a nível interno. Em Moçambique, o consumo anual médio de açúcar por pessoa ronda os nove quilogramas e é um dos mais baixos em toda a África Austral, ficando pela metade do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O Ministério da Indústria e Comércio estima que, devido ao crescimento económico que se aguarda para os próximos anos, e ao desenvolvimento social que dele, espera-se, advirá, o consumo médio de açúcar tenderá a aproximar-se dessa meta da OMS (passando de nove para 15 quilos por pessoa), o que, por si só, seria suficiente para absorver toda a produção anual da indústria açucareira nacional, sendo que não sobraria excedente para exportação. Por enquanto, o açúcar é um tema doce, numa época de assuntos políticos um tanto ou quanto amargos. E é, de resto, justo dizer que o papel do Governo tem sido benéfico para o crescimento da indústria no país, ao longo dos últimos anos. Como? Mantendo o pulso forte na promoção da exportação e criando barreiras tarifárias à importação de sacarose castanha (que o país já produz de forma excedentária há alguns anos). Em 2015, Max Tonela, então Ministro da Indústria e Comércio, estabeleceu mesmo uma barreira técnica que consistia na
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Macro Nem tudo é doce, para os produtores de Xinavane São cerca de 3 500 agricultores organizados em 22 associações e 15 produtores individuais. Embora reconheçam que a relação com o empreendimento melhorou a qualidade de vida das famílias, eles arrolam um conjunto de dificuldades sobre as quais vale a pena dedicar atenção: “A seca e estiagem são as grandes ameaças à nossa produção, mas há mais: os níveis baixos de água na bacia de Corrumana, o baixo preço do açúcar no mercado internacional aliado à concorrência desleal face ao aumento da produção subsidiada, o aumento do açúcar importado nos mercados, as elevadas taxas de juro dos bancos comerciais dado o alto risco da actividade agrícola e a retirada do incentivo fiscal que consistia na redução do IRPC para 10% na actividade agrícola, são as barreiras mais significativas ao crescimento da nossa actividade”. Nova açucareira de Xinavane. A Tongaat inaugurou, em Dezembro, a segunda refinaria de açúcar branco no país
elevação dos preços de referência do açúcar (castanho) para resolver questões conjunturais, que constituíam uma séria ameaça ao desenvolvimento do sector açucareiro nacional. Em paralelo, a medida preconizava ainda a isenção de imposto sobre as importações, apenas para as indústrias alimentares que usam o refinado como matéria-prima, e com o compromisso de que logo que o país estivesse em condições de instalar refinarias, elas deveriam começar a produzir, no sentido de colmatar as tais 70 mil toneladas necessárias para o mercado interno. Entre as dunas e os canaviais O coração da produção de açúcar no país bate em Xinavane, na província de Maputo. É ali, na margem do Incomati, para lá das dunas e por entre canaviais, que ‘mora’ a açucareira de Xinavane, a maior do país, com uma produção global de 240 mil toneladas de sacarose castanha por ano. No entanto, em finais de Novembro passado, a empresa agrícola sul-africana Tongaat Hullet, detentora da maioria do capital da Açucareira, inaugurou, ali mesmo, a sua primeira refinaria de açúcar branco no país, num investimen-
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Entre 2015 e 2016, a exportação de açúcar caiu para quase metade, de 241 mil toneladas para 138 mil, sobretudo devido à seca, que limitou a produção. Hoje a situação está ultrapassada e a produção deverá atingir um pico de perto de 500 mil toneladas
to avaliado em 2 mil milhões de meticais. Os (bons) resultados deste empreendimento começam já a fazer-se sentir e irão trazer resultados cada vez melhores com o passar do tempo. Construída em cerca de 18 meses (concluída em Outubro do ano passado), a nova refinaria criou 605 postos de trabalho directos de curta duração. Destes, 436 foram ocupados por jovens moçambicanos e, na sua fase operacional, a refinaria irá contar com cerca de 90 trabalhadores permanentes. Ao nível da produção, a fábrica irá, até ao fim deste ano, refinar 20 mil toneladas de açúcar, apesar de ter capacidade instalada para 90 mil. Claro que a capacidade de expansão da produção depende do fornecimento da matéria-prima, um factor que parece estar assegurado, não só pela capacidade e compromisso expressos pelos produtores do distrito da Manhiça (que devem, de acordo com o que a E&M apurou, contar com o apoio do Governo da província de Maputo), mas também pela entrada em acção da Hidráulica de Chókwè, na província de Gaza onde vão ser semeados mais dois mil hectares de cana. Todo o aparato relativo à revitalização do subsector do açúcar (fortemente www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2019
Macro Açúcar orgânico em perspectiva Há três grandes investimentos privados já anunciados, mas que ainda estão pendentes de aprovação do antigo Centro de Promoção do Investimento (actual APIEX) voltados para a produção de açúcar orgânico, um produto de consumo de elites, e “com um preço de mercado mais elevado essencialmente destinado à exportação para os mercados europeus”, segundo explicou à E&M o director da APAMO. Um desses empreendimentos foi anunciado em Abril do ano passado e deveria ter entrado em funcionamento quatro meses depois, no distrito da Moamba, província de Maputo. Pertence a uma empresa de capital indiano, denominada Pure Diets Moçambique, que detém mais de quatro mil hectares de terra para cultivo de cana. A fábrica custou o equivalente a mais de dois mil milhões de meticais, e ainda não está operacional, por motivos que a APAMO desconhece, visto que o empreendimento, à semelhança dos outros dois, não faz parte da associação. O segundo foi anunciado em Maio do ano passado e deveria ter iniciado actividade dois meses depois. Trata-se de um projecto que foi desenvolvido através de um financiamento estimado em 35 milhões de dólares, desembolsados pela empresa EcoFarm, detentora da iniciativa, com o apoio do Banco Mundial, e dos governos de Moçambique e Holanda. O plano é explorar uma área máxima de 850 hectares para produzir entre 80 e 120 toneladas diárias de açúcar orgânico, gerando perto de 1 200 postos de trabalho directos e indirectos. Por fim, o último está inserido num projecto denominado Ouro Verde e foi projectado para o distrito de Chiúre, na província de Cabo Delgado. As projecções financeiras indicam uma operação rentável, e estimam um lucro líquido médio de 500 mil dólares a partir do terceiro ano, que será reinvestido na expansão gradual das operações.
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Produção a aumentar. Cana registou crescimento, em 2018, e espera-se que bata recordes este ano
afectado pela guerra civil entre 1976 e 1994) encontra eco no início da produção do açúcar branco, ou refinado (e o mais utilizado na indústria alimentar), até agora pouco expressivo, embora esteja, de igual forma, ligado a outras acções que impulsionaram o fomento do cultivo da cana e a uma produção a larga escala de açúcar castanho. Hoje, Moçambique importa 90% das necessidades, para um consumo global de cerca de 70 mil toneladas ao ano. Os restantes 10%, provinham até agora da refinaria de Marromeu, que já produz 15 mil toneladas. E reside aqui o grande impacto que a refinaria de Xinavane promete. Com uma capacidade instalada para produzir 90 mil toneladas por ano, meta à qual preten-
de chegar, dentro de um período entre sete a dez anos, será ela própria capaz de suprir toda a necessidade do mercado interno, gerando ainda um superavit destinado à exportação. De visita a Moçambique para a inauguração da nova refinaria, Bahle Sibisi, presidente da multinacional sul-africana Tongaat Hulett, assegura à E&M que a visão dos investimentos daquela companhia em Moçambique “é de longo prazo e não está dependente do comportamento de preços (pouco atractivos) do mercado internacional, visto que há potencial de produção e possibilidade de retornos para um produto de consumo universal e em défice da África Austral”, admite. A esse respeito, na região da SADC (Comunidade para o Desenvolvimento da África www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2019
Novo pico na produção de cana de acúcar… Espera-se que a produção ultrapasse o pico de 2014, graças ao crescimento dos investimentos dos últimos anos Em milhões de toneladas
3,9
3,6 3,1
3,5 3 2,7
2013
2015
2,9
2017
(1)2019
… apesar do preço não favorecer os produtores Baxa de preços do açúcar nos mercados internacionais é a maior ‘dor de cabeça’ dos produtores Em cêntimos de dólar por libra (450 gramas)
24,4 18,2
16,5
14,1 10,3
13,1
2014 2015 2016 2017 2018 (2)2019 (1) Estimativa (2) a 17 de Janeiro Fonte Nasdaq
1 000 Quilogramas ou uma tonelada De cana produzem, em média, 108 quilos de açúcar refinado
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Austral), formada por 15 países, são produzidos cerca de 3,5 milhões de toneladas de açúcar por ano, para um consumo médio anual de seis milhões de toneladas. É neste ‘gap’ de oportunidade, que surge entre oferta e a procura, que Moçambique “está de olho”, pelo que, Bahle Sibisi, sublinha mesmo que “o projecto da Tongaat Hulett na produção de açúcar branco e castanho reflecte o compromisso da empresa com o futuro da indústria açucareira moçambicana assim como com o sector agrário nacional.” Produção em crescimento A intensificação da produção de açúcar está reflectida no aumento produtivo que se está a verificar nas quatro açucareiras do país (Xinavane e Maragra,
na província de Maputo, e Marromeu e Mafambisse, em Sofala), graças aos investimentos realizados naquelas unidades, estimados em cerca de 900 milhões de dólares nos últimos cinco anos. A produção da cana, que tinha conhecido uma histórica quebra de 3,6 para 2,7 milhões toneladas entre 2014 e 2016, foi gradualmente recuperando e espera-se que, este ano, chegue a quase 3,9 milhões toneladas (de acordo com o Plano Económico e Social para 2019), o que vai permitir que a produção global se aproxime das 500 mil toneladas de açúcar castanho (a capacidade instalada de produção actual no país é de 530 mil toneladas por ano), o dobro do consumo interno, estimado em cerca de 250 mil toneladas, o que irá gerar um excedente destinado inteiramente aos mercados externos. “E tudo indica que estes números deverão crescer num futuro breve”, garante o director-executivo da APAMO, João Jeque”. Prioridade das relações externas Estas perspectivas fazem com que o país continue, até por isso, em busca de “vaga” em mais e maiores mercados, sobretudo os da região, em parte para compensar o possível (e temido) fim da exportação para o Reino Unido (para onde segue mais de metade do açúcar exportado) devido ao Brexit. Ao Quénia, o Presidente da República, Filipe Nyusi, já ‘vendeu’ açúcar, num encontro com o Presidente daquele país, Uhuru Kenyatta, e no qual participaram empresários de ambos os países. Do presidente do Quénia, Nyusi obteve a garantia de que “há espaço para o comércio, pelo que resta estudar os moldes da sua realização definindo quantidades, preços, entre outros aspectos relevantes no âmbito do comércio bilateral.” Em Julho do ano passado, pela mesma via, o Presidente da República conseguia algo semelhante, no Ruanda, tendo estabelecido, numa primeira fase, a remessa para país da África oriental, de cerca de dez mil toneladas de açúcar. E no começo de Novembro de 2018, o açúcar voltava a estar na mesa de café das relações externas, desta vez com o Executivo de Angola, onde os tempos amargos (e conturbados) que se têm vivido, parecem pedir um pouco de adoçante. E que falta ele faz, também do lado de cá do continente, à beira do Índico. texto Pedro Cativelos & Celso Chambisso fotografia D.R.
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Números em conta Moçambique cai no índice de democracia a posição de Moçambique no Índice de Democracia, elaborado anualmente pelo The Economist, deteriorou-se em 2018, estando agora classificado como ‘regime autoritário’, numa avaliação em que a generalidade dos países lusófonos manteve as pontuações face ao ano anterior. Se, em 2017, o país ocupava a 115.ª posição (em 167 países avaliados) e era considerado um ‘regime híbrido’, caiu, em 2018, para a 116.ª posição, uma alteração justificada no estudo pelas “disputadas eleições locais de Outubro passado, que arriscam desestabilizar o processo de paz em curso entre o partido no poder, a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), e o partido da oposição armada, a Resistência Nacional Moçambicana [Renamo]”, segundo o The Economist.
Democracias com falhas predominam Costa Rica foi o único país a juntar.se às fileiras das ‘democracias plenas’ em 2018
Democracias plenas
Regimes autoritários
20
53
Regimes híbridos
Democracias com falhas
39
55
África Subsaariana melhorou, mas ainda está abaixo da média mundial Continente ainda é o ‘parente pobre’ da democracia, apesar da melhoria registada por países como Cabo Verde, Maurícias ou Etiópia Pontuação de 0 a 10 processo eleitorial e pluralismo
6 4 funcionamento do governo
5 3 participação política
5,3 4,1 cultura política
5,8 5,1 direitos e liberdades
5,9 4,1 avaliação global
5,8 4,2 Mundo
Africa Subsaariana
O mais democrático do mundo….
… sem surpresa, o que é menos…
1ª
167º
Noruega
Coreia do Norte
O frio país do Norte da Europa encabeça a lista de apenas 20 países em todo o mundo, classificados enquanto ‘democracias plenas’, diz o estudo.
Os zeros em ‘pluralismo’ e ‘liberdades civis’ são esclarecedores em relação ao posicionamento da Coreia do Norte.
9,97 pontos
1,08
fonte The Economist Intelligence Unit.
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os mais e menos da democracia em português
26º Cabo Verde 7,88
Mantém-se como o país lusófono mais bem colocado (e o segundo melhor em África, atrás das Maurícias), ocupando a 26.ª posição. Teve a melhor pontuação em ‘pluralismo’ (9.17) e ‘liberdades civis’ (8.82). Democracia com falhas.
27º Portugal
116º Moçambique
7,84
Democracia com falhas.
3,85
O país obteve uma pontuação global de 3,85 em 10 pontos possíveis, face aos 4,02 pontos conseguidos na avaliação anterior. ‘Participação política’ (5,00 pontos) e ‘cultura política’ (5,00) foram os critérios mais bem avaliados, enquanto a pior pontuação foi atribuída ao ‘funcionamento do Governo’ (2,14) e às ‘liberdades civis’ (2,53). ranking regional processo eleitoral e pluralismo participação política
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funcionamento do governo
2,14
3,58
cultura política
5
5
direitos e liberdades
2,53
42º Timor-Leste 7,19
Manteve a pontuação, subindo um lugar no índice. ‘Processo eleitoral e pluralismo’, e ‘liberdades civis’ foram as categorias mais bem avaliadas. É uma democracia com falhas.
50º Brasil 6,97
Melhorou, passando de 6,86 para 6,97, mas caiu uma posição no ranking.
123º Angola 3,62
... e o primeiro no continente africano
17º Maurícias
8,22
Tem subido no índice (tal como no Doing Business). É hoje, a única democracia plena da região, chegando a atingir 9,41 em ‘direitos e liberdades’.
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Q&A: O que é o Índice de Democracia? Publicado anualmente, o Índice da Democracia do The Economist Intelligence Unit avalia a prestação dos países em cinco indicadores principais - processo eleitoral e pluralismo, funcionamento do Governo, participação política, cultura política e liberdades civis. A edição deste ano tem como tema ‘ Democracy Index 2018. Me too? Political Participation, protest and democracy’.
Manteve a pontuação de 3,62 relativamente à avaliação anterior, mas passou da 125.ª posição para a 123.ª.
157º Guiné-Bissau 1,98
Obteve uma pontuação de zero no critério ‘funcionamento do Governo’. A vizinha Guiné Equatorial (também parceira da CPLP) ficouse pelo zero em ‘processo eleitoral e pluralismo’.
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OPINIÃO
Programação Colectiva e a Venda de Guarda-Chuvas Denise Branco • Investigadora e Consultora em Comunicação Intercultural e Tradução para Fins Empresariais, Técnicos e Científicos recentemente, num simpósio internacional promovido pela Agência Internacional de Energia Atómica (IAEA), mais de 90 países discutiram a importância de escolher as “palavras certas” para “gerir pessoas” (o público) em situações de risco e emergência radiológica e nuclear. A motivação para o evento residiu na certeza pragmática de que “a palavra certa, na hora certa, pela pessoa certa, salva vidas”. Discutiu-se também o impacto nocivo da voz do medo e do desconhecimento e da importância de criar mecanismos de diálogo com o público. Especialistas, cientistas e governos debateram o desafio de mediar conhecimento técnico e científico de modo a que este se torne funcional para o público, com vista a garantir que cada indivíduo possa 1) sentir que controla as suas circunstâncias num momento em que perdeu todas as suas referências, e que 2) os comportamentos resultantes da recepção da informação não aumentassem os riscos, contribuindo, antes, para auxiliar a restauração da normalidade do dia-a-dia. Principais conclusões? 1) É essencial que o público confie em quem faculta a informação estratégica e 2) é preciso que os stakeholders partilhem a mesma terminologia. Atenta à discussão, recordei-me da Teoria das Dimensões Culturais desenvolvida pelo Professor Geert Hofstede na multinacional IBM (entre 1967-1973), em mais de 40 países, que estudou o impacto da cultura nacional na cultural organizacional. O referido estudo identificou seis valores transversais às culturas nacionais que influenciam significativamente a dinâmica organizacional: a distância do poder (hierarquia por necessidade ou por conveniência?), individualismo vs colectivismo (evitar o conflito ou expressar pensamentos?), aversão à incerteza (a incerteza é uma ameaça ou parte da vida diária?), masculinidade vs feminilidade (focado na qualidade de vida ou na ambição?), orientação a curto prazo vs orientação a longo prazo (perseverança e esforço vs resultados imediatos?) e complacência vs repressão (bens materiais são utilitários ou conferem status?). A analogia entre os desafios dos Estados Membros em alinhar
realidades nacionais com compromissos de cooperação internacional e os contextos operacionais dos gestores a trabalhar em contexto internacional com equipas multiculturais e multilingues era clara. Um gestor experiente que exercite a reflexão crítica no seu dia-a-dia, entende que a distribuição destes seis valores traz um outro olhar sobre o mapa da cultura organizacional. Verá que o não alinhamento de valores colectivos e valores individuais com o enquadramento cultural esvazia o seu discurso de sentido, levando-o a falar para o Outro e não com o Outro. Resultado? Disfuncionalidade, frustração e confusão. Philippe Rosinski, autoridade mundialmente reconhecida na área do coaching executivo e de desenvolvimento de liderança global explica que “uma em cada duas situações de fusão falha. Duas em cada três não produzem a criação de valor prometida durante a operação. E a questão das pessoas e da cultura de empresa é, de longe, o primeiro factor de insucesso.” Se a gestão estratégica exige alianças estratégicas com stakeholders com motivações que variam extraordinariamente, pela positiva e pela negativa, como conciliar diferenças irreconciliáveis sem comprometer os valores organizacionais e o seu alinhamento interno e externo com outras empresas/ organizações e com a sociedade em geral? Um dos caminhos consiste em reflectir sobre a análise da sua identidade comunicativa organizacional e pessoal e “por que diz o que diz”? Outra consiste em reflectir sobre o que a disfuncionalidade e a frustração revelam: 1) necessidade de revisão de estratégia? 2) Vulnerabilidade e, consequentemente, uma atitude defensiva, resultante do enquadramento cultural do gestor e/ou da organização? Mais importante do que conhecer as outras empresas é conhecer a sua. Sabe onde está a sua empresa no eixo dos valores? Protege-se das tempestades e do medo do desconhecido com a ajuda de quem vende guarda-chuvas, ou enfrenta-as, e aprende com a exposição à diferença, a criar comportamentos novos e dinâmicos, passando da análise de dados à reflexão sobre os mesmos?
Mais do que a forma, como se diz “o quê” a “quem”, é perceber “por que se diz”. Mais importante do que conhecer as outras empresas, é procurar saber se conhece a sua
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Nação
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china
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Os (novos) negócios da china em Moçambique A história da presença da China em Moçambique é longa e diversificada, mas tem um denominador comum – a oportunidade. Do lado de cá, de poder contar com um player global com um mercado de consumo em crescimento e muita vontade de investir. Do lado de lá, porque Moçambique tem matérias-primas como o gás, a ilmenite ou a madeira e um potencial de crescimento que assenta, como uma luva, numa nova lógica de investimento chinês. Mais vocacionado para a consolidação do que para a exploração pura e dura de recursos naturais, África é, agora, um continente essencial para a consumação da Nova Rota da Seda a china é, nos dias de hoje, o maior parceiro de áfrica. Só isso já diz tanto de
uma relação que tem muito para contar. Ao nível do comércio, investimento, financiamento e de parcerias a vários níveis. E, tal como em todas as relações duradouras, também há planos de futuro. O comércio é hoje o que mais nos liga à grande potência do Oriente, o que fica bem expresso no facto de, pelo nono ano consecutivo, a China ter liderado as trocas comerciais com os países de língua portuguesa. No ano passado, cifraram-se em 134,981 mil milhões de dólares, valor que representa um aumento de 25,3% face ao período homólogo. Se, por um lado, as importações da China para o bloco lusófono bateram os 38,3 mil milhões de dólares e registaram um aumento de 16,1% relativamente ao mesmo período de 2017, no sentido inverso, do universo da CPLP para Oriente, as exportações chegaram aos 96,6 mil milhões de dólares, uma subida homóloga de 29,3%. www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2019
134,9 mil milhões de dólares o volume de comércio bilateral entre a CHina e os países da CPLP, em 2018
Se atentarmos apenas ao caso de Moçambique, o peso da China na balança comercial também tem aumentado ano após ano. A economia nacional exportou, em 2018, 589,8 milhões de dólares (madeira, titânio e outros metais raros provenientes das explorações de areias pesadas) e importou 1,7 mil milhões (maior fatia para o arroz, material eléctrónico, pneus e maquinaria pesada). Peso-pesado da economia nacional Os dados publicados no site do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os países de língua portuguesa, já em Janeiro deste ano, mostram, assim, uma realidade indesmentível... A China pesa, e não é pouco, na balança. Em África, no espaço da CPLP (tendo o Brasil como maior cliente) e em Moçambique. Com as pontes do comércio alicerçadas numa relação histórica que se iniciou, em Moçambique, no século XIX, quando os primeiros chineses se estabeleceram
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Nação
china
Um país que é um continente… e que está aqui Nas últimas duas décadas, a China colocou em prática um modelo único de capitalismo — em que é o Estado que decide quanto, como e onde investir — e que produziu resultados invejáveis. Cidades inteiras foram construídas e algumas das maiores infra-estruturas do mundo foram erguidas. Com um crescimento médio do PIB na casa dos 10% ao ano, o peso da China na economia global quase triplicou nesse período, em que os EUA viram a sua contribuição reduzir. No espaço da CPLP, continua a ser o Brasil o grande parceiro comercial mas é em África a grande aposta, com a Nova Rota da Seda a dar o toque final, para tornar verdadeiramente global o capitalismo chinês Participação no PIB mundial(1) (em %)
7%
3%
3%
11% 18%
20%
70%
3%
68%
1997
64%
2007
Brasil
2017
China
Dívida pública
(em milhares de dólares)
(em % do PIB)
60
120
40
80
20
40
1980
Outros
Estados Unidos
PIB per capita(1)
0
18% 15%
2022(2)
0
Em África 2001
2022(2)
Reservas internacionais da China (em trilhões de dólares)
4,0
2,0
2008
2010
2012
2014
2016
2018
crescimento lento fez a china lançar rota da seda
Balança cada vez mais pesada
(em %)
China já é o segundo parceiro comercial do país com um crescimento médio de 25%
9,3%
10,2%
14,6%
7,7%
6,6%
Em milhões de dólares
1997
2002
2007
2012
2015(2)
2000 2007 2016 2017 2018
33,5 284,3 1 560 1 850 2 330
(1) Em paridade de poder de compra (2) Previsão Fontes: FMI e OCDE
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2 500 117 Empresas chinesas
3,0
1,0
O plano chinês para reforçar o domínio em África passa por diversificar o investimento em áreas como a agricultura e até o turismo
mil milhões de dólares Quanto exporta para a China
92
mil milhões de dólares É quanto se importa da China
42
mil milhões de dólares O IDE da China desde 2015
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Na CPLP O Brasil manteve-se como o principal parceiro da China com o volume total de comércio a ultrapassar os 134 mil milhões de dólares no ano passado Em milhares de milhões de dólares brasil
101,5 angola
25,6 portugal
5,5 moçambique
2,3
5,7
mil milhões de dólares Volume de IDE que a China injectou na economia nacional
1,73
Mil milhões de dólares As importações da China
20 000
moçambicanos trabalham em empresas chinesas
589,8 Milhões de dólares As exportações para a China
Em moçambique Gigante asiático já é o segundo parceiro comercial do país atrás da África do Sul e comanda a lista dos maiores investidores externos FONTE Embaixada da China em Moçambique; Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os países de língua portuguesa
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10 000 O número de chineses em Moçambique
130
As empresas chinesas em Moçambique
no país, já as sementes do Investimento Directo Estrangeiro são bem mais recentes, e têm dado frutos de betão, bem visíveis por todo o continente. Desde 2015, a média anual do IDE proveniente da China, em África, fixou-se nos 3 mil milhões dólares, com destaque claro para a construção de infra-estruturas. Os resultados da cooperação com Pequim, preconizados nos vários acordos de cooperação em vigor nas áreas económica e comercial, ratificados no Fórum de Cooperação China África (FOFAC), que se realizou em Joanesburgo, em 2015, espelham-no bem: desde então, nasceram cerca de 30 mil novos quilómetros de estradas, registou-se um aumento da capacidade portuária em 85 milhões de toneladas e foi melhorada a capacidade de produção eléctrica em 20 mil megawatts. No ano seguinte, em Maio de 2016, durante uma visita de cinco dias do Chefe do Estado, Filipe Nyusi, à China, foi assinado o Acordo de Parceria e Cooperação Estratégica Global, onde foram fixados 14 princípios de cooperação focalizando novos investimentos em áreas como a construção, mas também na agricultura, indústria, saúde, formação, defesa e assistência técnica. Este entendimento tornou, à época, Moçambique num caso único da diplomacia chinesa fora da Ásia, já que, só fora, até então, assinado entre Pequim e Cambodja, Laos, Vietname, Birmânia e Tailândia. Se, em Fevereiro de 2007, quando Hu Jintao visitou Moçambique, o investimento chinês no país não passava do milhão de dólares anuais, pouco mais de uma década depois, o IDE chinês rondará os 200 milhões de dólares por ano, e segundo dados do CPI, já ultrapassou os 6 mil milhões de dólares (desde o início do século) sendo hoje, em termos agregados, o maior investidor externo da economia nacional. Não se contam aqui, por enquanto, os cerca de 5 mil milhões de dólares que a CNPC (China National Petroleum Corporation) tem no seu plano de investimentos para a Área 4 da Bacia do Rovuma (Coral Sul, num consórcio liderado pela ENI), que deverão ser contabilizados a partir de 2020. Ou os investimentos da CBRC (China Bridge and Road Corporation) em vias terrestres por todo o país. Mas há outros grandes investidores chineses no país, como a Sogecoa (hotelaria e exploração mineira), a tecnológica Huawei ou a ZTE (Zhongxing Telecom Equipment). No que diz respeito à Sogecoa, no país desde 1996 e responsável pela construção
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Nação
china
As marcas do investimento chinês em Moçambique A China tem diversificado a presença económica em Moçambique, com mais e maiores investimentos direccionados a novos segmentos e sectores produtivos
Infraestruturas Os projectos da Ponte MaputoKatembe, a Estrada Circular de Maputo, a Nacional 6 e o cais de pesca do Porto da Beira são bons exemplos, a que se somam o projecto Intaka e a aldeia Olímpica.
Agricultura O Centro de Investigação e Transferência de Tecnologias Agrárias é uma obra de 40 milhões de dólares que ocupa uma área de 52 hectares, em Boane. É o maior investimento agrícola de origem chinesa em África.
Educação e Tecnologia A Escola Profissional de Nampula, o Centro Cultural Moçambique-China e o Instituto de Arte e Comunicação sã uma realidade já. A China tem também apoiado a TVM com veículos e emissores, e na migração digital.
Saúde A construção do Edifício de Pediatria do Hospital Central da Beira e o edifício de residência para médicos moçambicanos e chineses em Maputo são uma realidade. E há um acordo de partilha de quadros médicos.
Transportes A China ofereceu, com condições especiais de crédito, desde 2011, 152 autocarros para o transporte público de passageiros. Além disso, financiou a construção da Oficina de Manutenção de Autocarros na Matola.
Turismo Um grupo de empresas chinesas já construíram cinco hotéis em Moçambique. O maior é o hotel Glória, em Maputo, uma obra que custou 250 milhões de dólares. FONTE BAD
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do Hotel Glória em Maputo (investimento de 250 milhões de dólares), ou o Golden Peacock na Beira, Guo Manyi explica que o que torna Moçambique apetecível, é a sua estabilidade política e os bons incentivos ao investimento”. A Sogecoa já fez um investimento de 650 milhões de dólares no país e está, nesta altura, a investir num projecto de exploração de areias pesadas, no norte do território. A mineração é, de resto, uma das áreas onde os chineses têm apostado fortemente nos últimos anos. A grande exploração de areias pesadas que está a crescer, no Chibuto, Província de Gaza, é disso um bom exemplo. No entanto, e ao contrário do que se possa pensar, continua a não ser demasiado fácil investir em Moçambique. Nem para os chineses. Hefeng Dong, da Africa Great Wall Mining, refere a “falta de infra-estruturas e de rede energética que encarece o preço de instalação dos projectos de investimento. Depois, há as políticas de trabalho e o processo de atribuição de vistos que também não ajuda”, conta. Noor Momade, responsável pelo pelouro da Cooperação Internacional da CTA, corrobora de algumas das queixas de muitos empresários chineses (e não só). “Moçambique precisa de melhorar o ambiente de negócios para atrair mais investimento porque, nesta altura, estamos a ser ultrapassados pela Etiópia, África do Sul ou Uganda, onde os governos foram capazes de ser ousados e oferecer maior clareza e objectivos mais definidos e ambiciosos, envolvendo ainda os parceiros locais”, assinala. Mais investimento, menos crédito Apesar disso, a participação da China na economia real de Moçambique é, na opinião do empresário, “inevitável”. Mas, por enquanto, continua, “ela acontece essencialmente ao nível governamental. A China está muito interessada nos grandes projectos de infra-estruturas, pesca, recursos minerais e energia, mas creio que podem também ser úteis na dinamização das PME nacionais. Na China, a economia tem outra dimensão e por isso estão sempre mais interessados em projectos de grande investimento”, analisa. O embaixador da China em Moçambique, Su Jian, reconhece este facto, mas não deixa de antever uma mudança na actuação dos empresários chineses no país, mais virados para uma lógica de parceria e permanência na economia nacional. “A nossa estratégia mudou a partir de 2015. Agora, o objectivo da cooperação www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2019
passa menos pela concessão de créditos e mais por investimento feito através de empresas chinesas na modernização da indústria e da agricultura, sectores que podem criar empregos e fazer aumentar as exportações de Moçambique”. E acrescenta mesmo já existirem cerca de 40 empresas chinesas com projectos em curso, em Moçambique, orçados em, pelo menos, 10 milhões de dólares cada um. Má reputação O expansionismo da China em África tem sido alvo de um conjunto de críticas que todos, mais ou menos, reconhecemos: a grande fatia do financiamento chinês em África parece servir o crédito à exportação e a promoção do endividamento dos países em desenvolvimento. Ou como, muitas vezes, as empresas chinesas apenas exploram recursos naturais sem qualquer sustentabilidade, com o intuito único de alimentar uma indústria chinesa que não pode abrandar, para não perder a corrida com os EUA. “A maior fatia do financiamento não visa permitir
Moçambique, enquanto soberano, deve escolher ter o poder de estruturar esta relação comercial de forma vantajosa para todas as partes. Se se deixar o negócio fluir sem regras, é provável que se estabeleça um regime de negócios selvagem, no qual vence sempre o mais forte, o que terá um impacto negativo na economia local
um crescimento económico significativo para os países receptores”, aponta a unidade de investigação China AidData, sediada nos Estados Unidos, que nota ainda que “o financiamento chinês vai, habitualmente, para países que votam alinhados com Pequim nas Nações Unidas.” Do lado chinês vem a resposta: “O mundo inteiro tem de admitir que a China foi a principal responsável por atrair as atenções para África. Sem a cooperação chinesa, muitos países ocidentais não estariam atentos ao enorme potencial do continente”, escrevia, recentemente, o jornal chinês Global Times. A esse respeito, Noor Momade fala da importância de “Moçambique, enquanto soberano, escolher ter o poder de estruturar esta relação comercial de forma vantajosa para todas as partes. Se se deixar o negócio fluir sem regras, é provável que se estabeleça um regime de negócios selvagem, no qual vence sempre o mais forte, o que terá um impacto negativo na economia local e na vida dos empresários nacionais. Isto
Nação
china
pode ser facilmente mitigado com uma posição politico-governamental clara e de promoção do empresariado nacional. A verdade é que há um misto de verdade e exagero no entendimento sobre a China. É preciso que nos aproximemos mais da cultura chinesa e da sua forma de trabalhar. É uma sociedade desenvolvida e altamente competitiva e, se pretendemos fazer negócios com eles, precisamos de conhecer a sua realidade. Creio que a formação do empresariado nacional em mandarim poderia ajudar a melhorar muito esta relação. Por outro lado, a legislação de trabalho em Moçambique continua a ser extremamente proteccionista do trabalhador, razão pela qual eles preferem contratar mão-de-obra chinesa”, explica Noor Momade. A China já aqui Ainda em Setembro passado, e antecedendo o Fórum de Cooperação China-África (FOCAC) que se realizou em Pequim, uma delegação de empresários incluídos numa comitiva liderada pelo Chefe de Estado assinou vários memorandos de parceria entre Moçambique e a China. Na área da construção, foram anunciados novos investimentos em vias de acesso entre Niassa e a Tanzânia, e Pambara, em Vilanculos e Mangungumete, no distrito de Inhassoro, bem como a construção de um sistema integrado de transportes entre o vale do Limpopo e o porto de Chongoene, em Gaza. Foram também assinados acordos para lançar novos parques industriais em Boane e Marracuene e, no sector da tecnologia de telecomunicações, a chinesa Huawei selou um acordo com a Moçambique Celular. Na área financeira, o Millennium bim (detido pela multinacional chinesa Fosun) assinou um memorando com a UnionPay, empresa chinesa líder em sistemas de pagamentos electrónicos. No sentido inverso, e do lado chinês, a vice-ministra do Comércio falava, em Lisboa, no Encontro de Empresários para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e a CPLP, de uma “porta aberta às importações de produtos e serviços de qualidade dos países de língua portuguesa.” Da estrutura à conjuntura, ou as coordenadas do caminho da Nova Rota da Seda Tudo o que não se pode dizer da China é que não tem uma estratégia definida e pensada a longo prazo. No Fórum de Davos, em 2017, o Presidente Xi Jinping desafiava, pela primeira vez,
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A China está a mudar e já vê o mundo com outros olhos, sem deixar de partir de uma perspectiva ideológica
os EUA na liderança do processo de globalização, afirmando que “se não adoptam uma via mais mercantilista, asiáticos e europeus terão de se combinar para preservar o comércio livre”. Mais tarde, em plena reunião da cúpula dos BRIC (Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul), a China assumia-se como líder do mundo (e do comércio) livre, e tomava para si a oportunidade conjuntural que Donald Trump lhe tem dado de mão beijada, com a sua política externa proteccionista. Os parceiros de reunião concordaram e até defenderam uma maior proximidade comercial entre todos. Para, Charles Pennaforte, especialista em relações internacionais e fundador do Centro de Estudos em Geopolítica e Relações Internacionais do Brasil, “a tendência aponta para que o isolamento dos EUA não pare de crescer e, com isso, os outros actores do comércio internacional pas-
sem a reorganizar-se politicamente”. Para Fernanda Ilhéu, professora do ISEG e presidente da Associação Amigos da Nova Rota da Seda, “anos antes de o mundo ter tomado conhecimento da atitude proteccionista dos EUA na era Trump, o Presidente chinês Xi Jinping lançou, em 2013, uma iniciativa ambiciosa que pretende, simultaneamente, resolver os problemas globais e... os da China”. Essa iniciativa é a Nova Rota da Seda, um ambicioso masterplan com uma forte componente economicista e que pretende alcançar uma nova globalização, “respeitando, no entanto, a filosofia confucionista de Harmonia no Mundo e da Sociedade Global”, complementa. De acordo com o documento orientador desta iniciativa, ‘Vision and Actions in Jointly Building Silk Road, Economic Belt and 21st Century Maritime Silk Road’, publicado em Março 2015, pela Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma do www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2019
40 mil milhões de dólares Os fundos do New Silk Road Fund são destinados a promover o investimento privado “ao longo de Uma Faixa Uma Rota”. A maior parte desse investimento será aplicado em grandes infra-estruturas no continente Africano
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Ministério do Comércio da República Popular da China, a iniciativa permitirá expandir e aprofundar a sua abertura e fortalecer a cooperação com todo o mundo. “A China propõe-se a definir consórcios formados por empresas chinesas a actuar em África, Médio e Extremo Oriente, principais zonas fornecedoras de recursos, tornando-as principais produtoras de produtos de alta qualidade comercializados na União Europeia (UE), a maior zona de consumo a nível global.” Para realizar esta visão, prossegue, a China preconiza “a construção de uma network de zonas de comércio livre”, que já está, de resto, estabelecida nos Acordos de Parcerias Estratégicas, assinados com 47 países (Moçambique incluído) e três espaços integrados, a UE, a ASEAN (China Free Trade Area) e a União Africana. “A cooperação no investimento e comércio é o objectivo principal desta iniciativa e a eliminação de barreiras à circulação de capitais e produtos, assim como a abertura de áreas de comércio livre, são tarefas essenciais para a expansão da cooperação entre os países da Nova Rota da Seda.” Para que o comércio flua, a estratégia pressupõe um enorme projecto de construção de infraestruturas de transportes e bases de produção e logística, ligando a China à Europa com uma rota terreste que percorre seis corredores, e uma rota marítima, traçada no percurso inverso àquela que os navegadores portugueses fizeram nos séculos XV e XVI, e que partem de vários locais da China e rasgam o mundo, até à Europa, atravessando África. Do Índico ao Atlântico, de Sul para Norte. “A China liga, ainda, a iniciativa Uma Faixa Uma Rota com duas iniciativas complementares: ‘A Cooperação na Produção Internacional’ (que combina a produção industrial da China com a procura global) e ‘Cooperação em Mercados de Terceiros Países’ (que preconiza o desenvolvimento de mercados menos evoluídos, caso de Moçambique). Para isso, alocou recursos consideráveis a esta iniciativa. Criou o New Silk Road Fund, dotando-o de 40 mil milhões de dólares destinados promover o “investimento privado ao longo de Uma Faixa Uma Rota” e o Banco Asiático de Investimento em Infraestruturas. Com um capital inicial de 50 mil milhões de dólares e financiamento já garantido aos 47 países subscritores do acordo, deverá chegar rapidamente aos 100 mil milhões de dólares, uma vez que existe uma lista de 25 nações que já demonstraram interes-
se em entrar com capital para este banco. No caso da Cadeia de Valor Global da China com os Países de Língua Portuguesa a responsabilidade de coordenação das economias destes países a esta iniciativa está acometida ao Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os países da CPLP. Criado em 2003 e com um Secretariado Permanente em Macau é tido como a Plataforma de Cooperação Económica e Comercial entre a China e a CPLP. Neste sentido, durante a 5ª Conferência Ministerial, e pela própria importância estratégica que o universo dos países de língua portuguesa tem em toda esta estratégia da China, várias medidas de apoio foram anunciadas por Li Keqiang, o primeiro-ministro e chefe do governo chinês. Da concessão, aos países membros do Fórum de Macau, em África e Ásia, de 300 milhões de dólares de empréstimos em condições preferenciais para serem aplicados “no reforço da capacidade produtiva dos países beneficiários”, e de mais 300 milhões para “apoiar projectos que visem o bem-estar das populações, nomeadamente agrícolas, e de prevenção e combate à malária.” Foram também anunciadas medidas de apoio à saúde materno infantil, 2 mil vagas de formação em diversas áreas e 2 500 bolsas de estudo. Por fim, a China acrescentou ainda um perdão de 500 milhões de renmimbi em dívidas já vencidas de empréstimos contraídos. A nova abordagem da China a África e à CPLP, está assim em pleno curso. “O Governo chinês irá promover activamente a conexão das indústrias e a cooperação da capacidade produtiva”, releva Fernanda Ilhéu. E essa nova visão, passa até por ganhar terreno ao dólar. Não é de agora que se fala na possibilidade de a moeda chinesa começar a circular nas trocas comerciais entre África e o gigante do Oriente. O vizinho Zimbabué já a adoptou, há cinco anos, e essa pode ser uma realidade em Moçambique, como ainda recentemente, durante a visita de uma delegação de empresários de Macau à CTA, se aventou. A verdade, é que a dimensão geográfica da China é grande mas, ainda maior, é a sua visão para um Mundo com novas coordenadas. Certo é que Moçambique terá o seu papel nesta nova dinâmica. Cabe ao país, definir qual será.
texto Pedro Cativelos fotografia D.R.
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Na voz de...
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“Entrámos numa nova fase de cooperação” Su Jian Embaixador da China em Moçambique
depois de alguns anos em Angola,
um país com fortes ligações à China, Su Jian está em Moçambique desde 2015. Não será por acaso, até porque passou também por Macau, que tem um conhecimento profundo sobre a identidade económica do país. E das suas expectativas e anseios, algo que perpassa no seu discurso, em português fluente, a língua que é tantas vezes obstáculo a uma melhor visão (e compreensão) do que é hoje a China em África e o que ela, enquanto segunda maior economia mundial, tem planeado para Moçambique. Em exclusivo à E&M, o embaixador chinês fala sobre isso e desvela o princípio de uma mudança de paradigma, no que à aposta chinesa no país diz respeito: “já não somos apenas credores, somos investidores no país. E não só em infra-estruturas, mas na agricultura, na educação e na saúde”. Em que ponto está hoje a parceria entre a China e Moçambique? A parceria económica que temos hoje começou há décadas, em moldes diferentes. Hoje, a situação mudou e Moçambique é um parceiro estratégico e um país prioritário para nós. A partir de 2015, no fórum de cooperação entre África e China, realizado na África do Sul, os dois chefes de Estado dos nossos países tiveram o seu primeiro encontro e é aí que surge um reposicionamento da China em Moçambique e começamos, de facto, a diversificar a forma da nossa cooperação.
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Existem actualmente, por todas as províncias, cerca de 40 empresas privadas chinesas com investimentos em curso de, no mínimo, 10 milhões de dólares
De que forma se nota isso? Inicialmente, essa cooperação era feita com uma intervenção muito forte do governo, mas agora são as empresas as protagonistas. O mercado desempenha o seu papel. Agora já não é só vender coisas, comprar materiais, minérios ou carvão, e também já não são só empresas chinesas que só fazem obras consagradas pagas por outros financiadores, isso já mudou. Agora estamos na fase da cooperação para a capacidade produtiva, olhamos mais para a indústria transformadora, queremos empresas chinesas a assumir mais responsabilidade nas grandes obras, mas também a investir. O que me está a dizer, e isso foge um pouco à visão que habitualmente temos da presença chinesa em África, é que há uma lógica de investimento a longo prazo? O nosso financiamento agora é mais diversificado, não é feito com base em empréstimos concessionários ou crédito à exportação, mas através de investimentos provenientes dos fundos de desenvolvimento e cooperação África-China, outros de cooperação entre a China e a CPLP e o fundo da nova Rota da Seda. O objectivo da cooperação passa pela modernização da indústria e da agricultura, dois sectores que podem criar empregos e fazer aumentar as exportações para que Moçambique tenha um sistema de indústria próprio e uma economia mais autónoma. Nesse sentido, o www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2019
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plano passa por desenvolver infra-estruturas vitais para o país, como estradas, pontes, portos, aeroportos e serviços públicos, e depois pela capacitação dos operários qualificados para a nossa capacidade produtiva. Por fim, o apoio financeiro. Agora estamos só a financiar projectos economicamente viáveis, temos muito cuidado na selecção de projectos que ajudem a promover a exportação dos produtos moçambicanos para o mercado internacional e a criar empregos. Em que áreas se nota já essa presença, e essa aposta chinesa? Temos hoje empresas chinesas a investir em áreas prioritárias de que são exemplos o projecto de cultivo de arroz Wambao, na província de Gaza, o maior de toda a cooperação chinesa na área agrícola no continente africano. E agora também plantamos o algodão no norte do país para depois exportar para o mercado internacional. Também financiámos e construímos aquele primeiro centro de investigação e de transferência de tecnologias agrícolas da China para o continente africano, no distrito de Boane. Noutra área, estamos na exploração de energia com a CNPC, na Área 4 da Bacia do Rovuma, com um investimento de mais de 5 mil milhões de dólares. E há vários bancos chineses que também participaram na Área 1, como financiadores. Depois, temos empresas chinesas que estão aqui a fazer a exploração das areias pesadas em Gaza, Nampula e Zambézia. Existem hoje mais de 40 empresas privadas chinesas por todas as províncias com investimentos em curso de mais de 10 milhões de dólares. Em sentido inverso, temos tentado promover o comércio e ainda no ano passado convidámos empresários moçambicanos para participar na Feira Internacional de Importação da China (Import Expo). Lembro que 97% dos produtos de Moçambique exportados para a China usufruem de isenção dos impostos. Por fim, oferecemos também bolsas de estudo a cerca de 500 estudantes que estão na China e já temos aqui em Moçambique um Instituto Confúcio onde cerca de oito mil jovens já foram formados no curso de mandarim. Agora, as empresas chinesas precisam muito de técnicos moçambicanos e de trabalhadores que falem um pouco o mandarim. Anualmente, também enviamos especialistas agrícolas de alto nível da China para vir a Moçambique dar formação e ajuda nesta área tão fundamental..
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Agricultura é uma nova prioridade de investimento chinês em Moçambique
“A China acha que para os países em desenvolvimento ou sub-desenvolvimento como Moçambique, no primeiro período da sua intensificação, ainda necessitam de crédito externo. Mas tem que ser bem controlada a capacidade de endividamento, claro”
Porque é que Moçambique é importante para a China? Porque há uma amizade tradicional que vem desde a luta de libertação, e uma confiança política recíproca. Há também complementaridade económica. Moçambique precisa da China, mas a China também precisa de Moçambique. Agora, temos é de tentar aperfeiçoar essa cooperação para beneficiar, não só empresas moçambicanas ou determinados sectores, mas também estender esses efeitos positivos à população. Temos desenvolvido projectos administrativos ou de serviços, hospitais, escolas, institutos, projectos de abastecimento de água, acabámos de entregar um hospital na cidade da Beira e um edifício de pediatria no Hospital Central da Beira, e aqui em Maputo finalizámos um edifício de residências para médicos moçambicanos. Qual é, agora, o próximo grande foco de investimento, são as vias de acesso? Não só estradas e pontes, mas portos e projectos de expansão da rede eléctrica. Muitas empresas chinesas querem investir aqui, mas só o podem conseguir se houver energia, água e acessos. A vantagem de Moçambique está na sua posição geográfica como ponte para a China entrar no continente africano, também como terminal de circulação de pessoas e bens. Para nós, Moçambique pode ser um corredor de transporte internacional entre o oceano Índico e a Ásia. www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2019
Quanto é que a China investe a Moçambique anualmente? Cerca de 200 milhões de dólares, mas esse número está aquém da realidade, porque ainda não contamos com aqueles investimentos do CNPC (avaliado em cinco mil milhões de dólares). Se, devido às dívidas ocultas, outros parceiros deixaram de apoiar Moçambique, a China nunca se pronunciou sobre isso, reforçando até a aposta na economia a vários níveis. Porquê? Numa primeira fase, os países em desenvolvimento, como Moçambique, ainda necessitam de crédito externo. Mas tem de ser bem controlada a capacidade de endividamento, claro. Com o anterior governo oferecemos alguns empréstimos concessionários para financiar determinados projectos, como a circular de Maputo, a reabilitação do porto de pesca na cidade da Beira ou a estrada N-6, um corredor para transporte de carga entre Moçambique e Zimbabué. Com essa pressão da dívida externa, também desacelerámos o nosso ritmo de concessão de crédito e por isso, nos últimos quatro anos, só concedemos um crédito concessional de 166 milhões de dólares para
financiar aquele projecto da migração para a televisão digital, porque é um projecto importante para Moçambique na sua ligação com África e o mundo. No geral, a posição da China em África evoluiu muito, mas há muita gente que não pensa dessa forma, e não faltam críticas à sua actuação no país… A verdade é que, por vezes, falha a comunicação dessa estratégia. O nosso investimento no mercado moçambicano nos últimos anos aumentou, há mais de uma centena de empresas chinesas de média e grande dimensão. Isso mostra que acreditamos cada vez mais em Moçambique, fruto do esforço empreendido pelos nossos governos. Não é um pouco estranho, do vosso ponto de vista, que Moçambique não tenha um parceiro claramente definido e mantenha relações com países tão diferentes como os EUA a União Europeia, o Vietname ou a Coreia? Moçambique é um país diferente, com uma diplomacia equilibrada e faz boas relações com todos. Ter muitos amigos é bom para os investidores e, por outro lado, se são tantos, é porque estão
gás vai dar possibilidade de angariar receitas para fazer completar o sistema de infraestruturas nas zonas mais pobres
tranquilos e confiantes para fazer investimentos a longo prazo. Ainda a esse respeito, devo dizer que temos vários projectos de cooperação tripartida entre Moçambique, China e EUA. É algo incomum, concorda? Sim, mas tem corrido muito bem. Há um projecto de agricultura, para ajudar famílias camponesas, no centro de transformação tecnológica agrícola em Boane. Os financiadores são a Fundação Bill Gates e o ministério do comércio da China e o operador do projecto é uma empresa chinesa. Qual é o seu grau de expectativas em relação à exploração de gás natural? É elevado. As receitas do gás vão dar possibilidades de angariar receitas para fazer completar o sistema de infra-estruturas nas zonas mais pobres. Entendemos que mesmo com essas receitas muito volumosas, Moçambique ainda precisa de economia real e de autonomia económica que só será conseguida quando a agricultura e a indústria crescerem e se desenvolverem. Do nosso lado, estamos a investir para concretizar e garantir esse caminho e para Moçambique ser mais sustentável. A China será um grande cliente do gás? Sim, temos um acordo de compra de uma parcela significativa de gás da Área 1. Há, por vezes, uma percepção também um pouco negativa da participação chinesa em certas economias. Em Moçambique fala-se da questão do tráfico de madeira, marfim e há a própria questão do pescado e do marisco. Estas são questões que também preocupam o governo chinês? A embaixada da China tem indicações para sensibilizar as empresas chinesas que querem fazer investimentos ou negócios em Moçambique a obedecerem à lei moçambicana e aos costumes e regras do país, por forma a ter uma convivência harmoniosa com a população. A exploração da madeira tem uma história e não vem de hoje. As nossas empresas que actuam nesse mercado possuem licenças e caberá ao país certificar-se de que os regulamentos são cumpridos. É isso que defendemos sempre. Porque o nosso objectivo é ter uma cooperação cada vez mais sustentável.
texto Pedro Cativelos & Hermenegildo Langa fotografia Jay Garrido
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província Da ponte à Ponta, ONDE o Ouro JÁ brilhOU mais Tal como se previa, o turismo disparou na Ponta do Ouro depois da inauguração da nova ponte. Três meses depois, a E&M testemunhou um movimento desusado de pessoas e bens que está a causar impacto
Ponta do Ouro se no passado, chegar à Ponta do Ouro
era uma verdadeira dor de cabeça (e de costas) para quem não tinha uma viatura com tracção às quatro rodas, agora tudo mudou, e já é possível lá chegar em menos de duas horas. partindo da cidade de Maputo, um percurso que chegava a ser feito em mais de cinco horas antes da construção da nova estrada Katembe-Ponta do Ouro. Assim, a Ponta é agora acessível a todos os cidadãos, sobretudo nacionais, uma vez que, até há bem pouco tempo, aquele era um lugar quase exclusivamente ocupado por sul-africanos, pela proximidade (dois quilómetros) da fronteira com o país vizinho. Exemplo disso foi o que se verificou, recentemente, durante a quadra festiva, onde, com a entrada em funcionamento da infra-estrutura, ficou a abarrotar de visitantes provenientes dos mais diversos cantos do país, pretendendo apreciar a sua imensa paisagem com uma praia repleta de cristalinas. É caso para dizer que tudo mudou naquele que é (ou era) considerado um paraíso inacessível para a maioria dos moçambicanos de baixa renda, começando pelos preços dos produtos e serviços. Se antes as estâncias turísticas da Ponta do Ouro já eram conhecidas por praticar tarifas elevadas (para o rendimento médio dos moçambicanos) quer em hospedagem, quer na alimentação, há quem diga que agora os preços se tornaram ainda mais proibitivos. “Penso que os preços subiram ainda mais, principalmente aqueles praticados na restauração”, considera Glória Mavue, uma turista de fim de semana, oriunda de Maputo que a E&M encontrou numa das ruas de areia da Ponta do Ouro. “Se assim continuar, mais vale trazer tudo da cidade de Maputo sempre que quisermos vir aqui”. E é isso que tem acontecido, o que de resto, até está ligado
província
Maputo
Distrito Matutuíne área 5 387 km² população 44 000 região sul
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à polémica que, a todos, nos tem chegado via redes sociais, com as imagens da falta de limpeza das praias, outrora intocadas e que, ao fim do dia, acabam por servir de poiso final a latas, sacos e guardanapos usados. Já lá vamos. Ainda em relação aos preços, talvez seja a lógica do negócio a imperar, até porque se costuma dizer que “quanto maior for a procura para uma oferta que não cresceu, mais elevados tendem a ser os preços praticados”. Ainda assim, nota-se que, ali, negócio é coisa que não falta. E há espaço para todos, desde os informais até os formais. É por isso que alguns cidadãos entrevistados pela E&M não hesitaram em afirmar que “a ponte e a estrada podem ser boas e más. Depende da utilização que as pessoas vão fazer daquele espaço. Até agora tem trazido mais gente, pouco mais negócio, mas também ruído, poluição e até alguma insegurança”, contam-nos. Gina Matola, proprietária e gerente do Pinto´s Beach Bar, em pleno areal da Ponta, explica à E&M que, devido à maior procura que a estância tem registado, viu-se obrigada a “reestruturar a linha de negócio de modo a torná-lo mais dinâmico e a conseguir atender a tempo e horas os seus clientes.” Uma das reformas baseou-se, explica, “em limitar o menu, ficando apenas com pratos de fácil preparação, como são os casos das pizzas e salgados. Foi uma solução que tivemos de adoptar uma vez que já não conseguíamos atender a demanda dos nossos clientes”, explica. No entanto, a reestruturação do negócio não parou por aí: o estabelecimento passou a ter duas tabelas de preços, principalmente nas bebidas, havendo uma que funciona durante a semana e outra que é praticada só aos fins-de-semana, algo que considera tratar-se de uma “estratégia do negócio”, ainda que um pouco para lá das leis. Há que aproveitar a maré cheia do mercado, o que acaba por se compreender. Enquanto isso, Olga Moita, gerente do Restaurante Piripiri e do Novo Café, dois dos estabelecimentos mais frequentados pelos turistas (os novos e os antigos), garante estar a registar ganhos que advieram da entrada em funcionamento da ponte e da estrada que liga a cidade de Maputo à Ponta do Ouro. Os directos, fruto do aumento dos visitantes, e até os indirectos: “agora conseguimos comprar os produtos facilmente, mas em termos de preços nada mudou ainda. Temos tido clientes, o estabelecimento sempre www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2019
60 mil É o número de turistas que deram entrada na Ponta do Ouro no período da quadra festiva.
cheio, principalmente aos fins de semana, e isso é muito positivo. Agora todo a gente quer conhecer a Ponta do Ouro, algo que antes não era fácil devido às condições das vias de acesso”, revela. Mercado imobiliário ainda esmorecido Se com a entrada em funcionamento da ponte, a actividade económica na região ganhou um novo fôlego, este ainda não incidiu na área imobiliária, visto que até ao momento pouco ou nada mudou. Hortência Chichango, gestora da Agência Imobiliária Pôr-do-Sol, bem no centro da pequena vila, queixa-se, precisamente, desta estagnação. “Por enquanto está tudo em silêncio. Talvez a partir de Março as coisas mudem, espero. Tem havido pequenas mudanças, mas ainda não são satisfatórias. Os preços, em muitos casos, até desceram, há mais gente a querer vender do que pessoas interessadas em, sequer, procurar”, conta. Lino Camilo é um desses casos. Tem um imóvel à venda, há já meio ano, e ainda não encontrou comprador. “Está tudo parado”, lamenta. Ao contrário do que seria expectável, há alguns meses, o aumento do número de pessoas a visitar a Ponta, não se constituiu um número de somar nas contas de quem tem imóveis para vender. Pelo contrário. Se, por um lado, existiram ganhos evidentes para o segmento de serviços da localidade (hotéis, restaurantes e mercados), por outro, trouxeram com eles toda uma torrente de questões em forma de desafios. Uma prova evidente de alguns deles aconteceu recentemente, durante a quadra festiva, período em que se registou um pico de procura de turistas nunca antes visto por ali, e que deixou a nu a necessidade de uma intervenção estruturada, a todos os níveis, sendo urgente pensar, adaptar e dotar a Ponta de infra-estruturas várias (saúde e salubridade), e mais segurança. Infra-estruturas insuficientes Para que o paraíso de outrora não seja apenas coisa do passado, torna-se urgente actuar. E não faltam vozes a pedi-lo. “Se existem infra-estruturas na Ponta do Ouro? Claro que existem, mas já não são, de todo, as suficientes para responder à procura que se está a registar”. Estas palavras são assumidas, à E&M, pelo próprio administrador de Matutuíne, Artur Muandule, que coloca a área de infra-estruturas como “o grande desafio” do seu elenco governativo para os próximos anos.
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província
Ponta do Ouro
A nova ponte e a estrada abriram caminho ao progresso e, com ele, chegaram também as partes indesejadas do desenvolvimento como a poluição e o ruído em excesso
Nesse sentido, ele explica existir já um plano de acção. “Estamos a identificar as novas áreas que devemos explorar para aumentar o número de alojamento, bem como beneficiar os vários espaços públicos”, garante o administrador. Artur Muandule revela a existência de 95 estabelecimentos para alojamento e 57 restaurantes, até ao momento, um número que já é considerado irrisório, tendo em conta o fluxo de turistas que o lugar passou a receber. Esta situação foi sentida pelos agentes turísticos e pelos clientes em Dezembro,. As queixas sobre os preços, a falta de produtos e as demoras no atendimento correram depressa. “Desta vez registámos o maior número de turistas de sempre, e infelizmente não estávamos preparados para atender a toda essa demanda”, afirma Pedro Dias, gerente do Hotel Phaphalati, na Ponta Malongane, ali bem perto. Por ali, até o parqueamento de viaturas começou já a ser desafiante para condutores, caminhantes e autoridades. “A Ponta não tem um verdadeiro parque de estacionamento de viaturas, porque o que havia chegava. Mas, tendo em conta o número de carros que têm dado entrada desde Novembro passado, é preciso fazer algo”, alerta Euclério Rafael, proprietário de um pequeno comércio à bei-
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“Se existem infraestruturas na Ponta do Ouro? Claro que existem, mas já não são, de todo, as suficientes para responder à procura que se está a registar”. Estas palavras são assumidas pelo administrador de Matutuíne, Artur Muandule
ra da estrada. “Durante a quadra festiva foi um verdadeiro caos circular na Ponta do Ouro e isso acabou por prejudicar o negócio, e a imagem da nossa terra”, relata. Mas, e porque é de trânsito que se fala, os problemas não param (ou arrancam) por aqui, e existe também a falta de segurança em terra e no mar, sem deixar de lado a falta de caixotes de lixo junto à costa. A todas estas questões, Muandule responde com a criação do corpo de salvação pública, sem deixar de assumir que “é ainda insuficiente para o número de banhistas”, e com um trabalho partilhado entre município e agentes económicos “no sentido de criar uma rede de sanitários públicos na qual já estamos a trabalhar. Temos um plano para colmatar esse vazio”, garante o administrador. Ao longo do ano, será possível avaliar o que, afinal, terá ganho a Ponta do Ouro em ter, agora, uma estrada que a liga à capital do país. Mas será também o tempo a dizer o que teremos perdido todos se nada for feito no sentido de manter limpa, segura e bonita, uma das zonas mais diferenciadas que o turismo de Moçambique tem para oferecer a quem a visita. texto hermenegildo langa fotografia jay garrido
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OPINIÃO
Liderança, um desafio permanente. Seja o Líder de Sucesso que pretende ser Eva Rosa • Leadership and Gender Diversity Enthusiast
é sempre um prazer escrever para além-fronteiras. Considero-me por isso uma sortuda mas, mais do que isso, também uma cidadã do mundo. Afinal cada vez mais vivemos num mundo global e sem fronteiras, onde a partilha de informação é realizada em microssegundos. E o que era novidade neste preciso momento, quando terminar de ler este artigo, já não será notícia. Mas é nesta realidade, neste mundo global em que vivemos, em que há temas que são transversais e que nunca estão desactualizados, sendo quase que “imortais”. Mesmo que não sejam novidade, ultrapassam as barreiras e fazem parte do quotidiano. Falar de Liderança e na Gestão de Pessoas, é de facto um tema universal e que acarinho bastante. Este é o grande desafio que as organizações exigem às suas pessoas: Capacidade de Liderança. O que se exige? Que sejam líderes de sucesso, com resultados acima da média, que mantenham as suas pessoas motivadas, envolvidas, e que também elas tenham sucesso. Tão simples de se exigir, não acha? Mas, se é tão fácil exigir, porque olhamos em redor e vemos tantos casos de insucesso? Porque estão as pessoas desmotivadas? Porque é que mais de 75% dos colaboradores (a nível mundial) estão descomprometidos com a sua organização? Um facto é certo: todos querem ser líderes de sucesso. Mas aquilo que para mim pode funcionar em determinado contexto poderá não funcionar consigo na mesma situação. Para ajudar a consolidar e estruturar este tema, é de todo relevante partilhar consigo os diferentes estilos de liderança: a) Estilo Visionário – canaliza as pessoas para visões e sonhos partilhados. Adequa-se às situações em que ocorram mudanças que exigem uma nova visão ou quando necessária uma orientação clara. O efeito sobre o clima de trabalho é fortemente positivo; b) Estilo Conselheiro – relaciona os desejos das pessoas com os objectivos da organização. Adequa-se às situações em que é necessário ajudar um empregado a ser mais eficiente, melhorando as suas capacidades a longo-prazo.
O efeito sobre o clima de trabalho é positivo; c) Estilo Relacional – cria harmonia melhorando o relacionamento entre as pessoas. Adequa-se às situações em que é necessário resolver e sarar conflitos num grupo; dá motivação em períodos difíceis e melhora o relacionamento entre as pessoas. O efeito sobre o clima de trabalho é positivo; d) Estilo Democrático – valoriza o contributo de cada um e obtém o empenho das pessoas através da participação. Adequa-se às situações onde se pretende conseguir adesão ou consenso; obtém o contributo dos empregados. O efeito sobre o clima de trabalho é positivo; e) Estilo Pressionador – atinge objectivos difíceis e estimulantes. Adequa-se às situações em que leva uma equipa competente e motivada a produzir resultados de elevada qualidade. O efeito sobre o clima de trabalho é por vezes muito negativo, porque é frequentemente mal executado; f) Estilo Dirigista / Autoritário – acalma os receios dando instruções claras em situações de emergência. Adequa-se a situações de crise para desencadear uma reviravolta na situação com subordinados difíceis. O efeito sobre o clima de trabalho é muito negativo, por ser muitas vezes mal utilizado. Ao ler estas descrições, o leitor certamente teve a oportunidade de se rever em mais do que um estilo ou então identificar-se com um deles. Se o conseguiu fazer, então essa pode ser a sua fórmula mágica. Primeiro, autoconhecer-se. Que estilo de liderança utiliza com mais frequência? Que estilo se adequa à situação ou às situações que vivencia? O estilo de liderança que utiliza traz-lhe resultados positivos e de sucesso? E é o que gosta de exercer? Se não é, existe mais algum outro com o qual se reveja e que considera de facto relevante? E que seja capaz de adaptar ou utilizar? Provavelmente, num mesmo dia, será necessário vestir a “pele” de diferentes estilos de liderança, pois estes podem ajustar-se à situação em que esteja e, consequentemente,
Porque estão as pessoas desmotivadas? Porque é que mais de 75% dos colaboradores a nível mundial estão, de facto, descomprometidos com a sua organização?
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produzir os resultados desejados. Não tenha receio de usar tantos quanto necessário! Permita-se a utilizar os diferentes estilos e tente adequá-los à nossa realidade Africana, com todos os seus desafios e adversidades. Se o fizer, pode ser que tenha surpresas agradáveis... Tenha, por isso, o devido cuidado de ter presentes as consequências na utilização dos diferentes estilos, já que todos têm impactos diferentes na organização, nomeadamente os negativos. Se bem utilizados, ou seja, com a devida ponderação e enquadramento, então podem trazer resultados positivos. A liderança é indispensável nas organizações, na nossa vida pessoal, familiar, social… ela está lá sempre presente! Somos líderes, lideramos e somos liderados, mas podemos sempre aperfeiçoar, evoluir, consolidar, inovar e, quem sabe, até experimentar algo novo. Permita-se a isso, permita-se a crescer e a consolidar, a sair da sua zona de conforto! A liderança é um desafio permanente, tal como a tecnologia que está em constante actualização. Também acho que a liderança deve ser encarada da mesma forma, não se resignar e habituar… Afinal, há sempre tanto ainda para explorar! E o facto de estarmos no início do ano não implica que já seja tarde para inovar. Não! Este é um assunto de tal forma importante que deve encará-lo com a urgência, seriedade e relevância que ele efectivamente tem na sua vida profissional. No hoje! No impacto que você quer ter nas pessoas que lidera, no prazer e no sucesso que quer ter para si enquanto líder mas, mais importante, no encontrar da sua fórmula mágica! Ela está aí, se calhar já a encontrou e é um líder excepcional, de sucesso! Excelente. Mas então de que forma pode melhorar? E para si que ainda não a encontrou, não se preocupe. Ocupe-se e mantenha-se motivado para a encontrar, porque vai de certeza concretizar! Todo este processo só faz sentido se for consistente, resiliente e tiver, de facto, vontade de agir, criar, motivar e desenvolver as Pessoas e, claro, de cumprir ou mesmo ultrapassar os objectivos que lhe são apresentados. Trazer retorno à Organização terá de certeza um impacto e uma satisfação maiores se for realizado com o envolvimento necessário em ser um Líder de Excelência! Mas, seja o Líder de Sucesso Hoje! E não amanhã!
GAPI ajuda jovem de Madimba a dar expressão à sua fé na soja GAPI helps young Madimba to express his faith in soy beans O PROMER é um programa da GAPI dedicado a melhorar a renda de pequenos produtores e a aumentar a rentabilidade dos seus produtos
PROMER is a GAPI program dedicated to improving income of small producers and increasing the profitability of their products in the markets
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embora bastante novo, de 24 anos
apenas, Inocêncio Sualei fala já com a convicção dos profetas sobre a cultura agrícola que abraçou por conselho do técnico da GAPI que lhe dá apoio: a soja. A qual, garante o jovem administrativo de Madimba, faz milagres. Documentados. Com o êxito produtivo comprovado e profunda fé nas propriedades nutritivas da soja, Inocêncio almeja aprofundar a relação com a GAPI para exponenciar a produção e o comércio da soja processada. “Tudo começou quando surgiu lá no serviço uma senhora a pedir doadores de sangue para a sobrinha, que tinha o sangue muito fraco e, por isso, estava sempre doente”, explica-se Inocêncio. “O remédio seria melhorar a alimentação, mas ela replicou que já dava ovo, banana...”. Porém, Inocêncio, mesmo sem competências clínicas, achou que tal regime alimentar “demoraria muito tempo a dar efeito. Então dei-lhe farinha de soja, que ela misturou na xima e, numa semana, a sobrinha subiu o nível de hemoglobina de 4 para 9 - os próprios médicos se admiraram”.
inocêncio sualei is quite young, only 24, but he speaks with the conviction of the prophets about the agricultural commodity that he embraced on the advice of the GAPI technician who gives him support: soy. Which, says the young administrative man of Madimba, performs real miracles. Documented!. With proven productive success and deep faith in the nutritional properties of soy, Inocêncio aims to deepen the relationship with GAPI to expose the production and trade of processed soy. “It all started when a lady came to the service to ask for blood donors for her niece, who had very weak blood and therefore, was always sick,” explains Inocêncio. “The remedy would be to improve nutrition, but she replied that she already gave eggs, bananas, and other foods recommended by doctors.” However, and even without clinical skills, Inocêncio felt that such a diet “would take a long time to take effect. Then I gave her soya meal, which she mixed up, and in one week her niece raised the hemoglobin level from 4 to 9 - the doctors themselves were very surprised.
Momento de mundança Foi nesse momento de admiração geral que Inocêncio teve uma epifania: “Percebi que, com a produção de soja, era possível ganhar dinheiro e, ao mesmo tempo, fazer o bem aos outros”. Se bem o pensou, melhor o fez. Beneficiando do apoio técnico da GAPI no âmbito do PROMER, Inocêncio, que já processava farinha de soja em pequenas quantidades, com a capacitação, consultoria e treino da GAPI avançou para a produção. Ali mesmo, no próprio quintal, no Bairro de Ntondooco.
Changing moment “It was at this moment of general admiration that Innocent had an epiphany: “I realized that with the production of soy, it was possible to earn money and, at the same time, to do good to others.” If he thought of it, he did it even better. Benefiting from GAPI technical support under PROMER, Inocêncio, who was already processing soybean meal in small quantities, with GAPI’s training and consulting advanced to production phase. Right there, in the yard itself, in the Ntondooco neighborhood. www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2019
O PROMER é o Programa da GAPI para Promoção de Mercados Rurais em Niassa, Cabo Delgado, Nampula e Zambézia
PROMER is a GAPI Program for the Promotion of Rural Markets in Niassa, Cabo Delgado, Nampula and Zambézia
Numa área de 1 000 metros quadrados cercada por capim, semeou 1,5 quilogramas de soja, em Dezembro. “Foi para experimentar a produção, porque eu só era processador, fabricava leite de soja”, justifica Inocêncio. “Mas, com a ajuda do senhor Aurélio, (o técnico) da GAPI, correu muito bem – em Maio, colhi 70 quilos”, contabiliza o administrativo, cuja ambição na vida e fé na soja são perfilhadas pela esposa de conúbio recente. “Na próxima campanha, já vou aumentar para meio hectare”, diz, tendo em vista “produzir grandes quantidades e fazer um estabelecimento onde possa vender a soja já processada”. Para isso, Inocêncio Sualei quer aprofundar a relação com a GAPI, agora visando financiamento “para produzir mais e abrir uma loja”. Porque o escoamento está garantido, assegura: “Tenho clientela – chego a uma pessoa, falo-lhe das vantagens da soja, ela fica animada e compra um quilo; passado um bocado, percebe os benefícios e torna-se cliente”. Simples e eficaz. Tal como o próprio Inocêncio que, tendo experimentado cheio de cautelas, percebeu os benefícios do apoio da GAPI e quer, agora, não só renovar os laços, mas aprofundá-los para levar a relação, e a sua condição de produtor e comerciante, a um outro nível. Texto & Fotografia Gapi para a E&M
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In an area of 1 000 square meters surrounded by grass, it sowed 1.5 kilograms of soybeans in December. “It was to try the production, because I was only a processor, I made soy milk,” he tells. “But with the help of Mr. Aurélio (the technician) of the GAPI, it went very well - in May, I collected 70 kilograms,” says the administrative officer, whose ambition in life and faith in soy are outlined by his wife. “In the next campaign, I will increase to half a hectare,” he says, with a view to “producing large quantities and building an establishment where he can sell processed soy.” For this, Inocêncio Sualei wants to deepen the relationship with GAPI, now aiming at the financing mechanisms of this institution “to produce more and open a store”. The outlets are guaranteed, she says: “I have clients - I come to a person, I tell them about the advantages of soy, they get excited and buy a kilo. After a while, they realize the benefits and become frequent customers.“ Simple and effective. Like Inocêncio himself, who, having experienced a lot of caution, realized the benefits of GAPI’s support and now wants to not only renew ties, but also deepen them to take the relationship, and its status as producer and merchant, to another level. Content by GAPI to E&M
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mercado e finanças
As 100 maiores empresas vistas à lupa Nos últimos anos, em plena crise, algumas empresas começavam a dar sinais de recuperação. Nascia assim o primeiro testemunho da retoma económica, ainda que lenta, alavancada pelo sector extractivo. Assim, 2017 seria então um ano de mudanças com o protagonismo a recair no fim da hegemonia da Mozal e na ascensão da Vale não há empresa moçam-
bicana que não guarde más memórias do ano 2016, independentemente da dimensão e capacidade financeira. A severidade do clima económico naquele ano, tido como o do pico da crise, levou à falência 10 mil empresas (baixando para 46 mil o universo actual, de acordo com dados do IPEME) que não resistiram à quebra de facturação imposta por um mercado onde os custos operacionais subiram e a procura caiu de forma acentuada, atirando milhares para o desemprego. Já em 2017, o “céu escuro” come-
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çava a dar lugar a alguma luz de optimismo. Era o prenúncio do fim da tempestade, e a possibilidade de voltar a sonhar com dias melhores. Os dados apresentados na 20ª edição do relatório ‘100 Maiores Empresas de Moçambique’, da consultora KPMG, publicado em finais de Dezembro passado, espelham o desempenho das empresas em 2017. A publicação, que avalia a performance das empresas valorizando o aumento do volume de negócios (num agregado de 16 indicadores), revela que as 100 Maiores Empresas de Moçambique
movimentaram, em 2017, no seu conjunto, um volume de negócios de cerca de 549 mil milhões de meticais, face aos 448 mil milhões no ano anterior, um aumento de 101 mil milhões. De acordo com o relatório, o crescimento ficou a dever-se “ao bom desempenho dos sectores de indústria, com um volume de negócios global de 257,1 mil milhões de meticais,” representado quase metade (cerca de 47%) do volume de negócios das 100 maiores empresas. Depois, as actividades financeiras e de seguros (73,9 mil milhões de meticais) e comércio (72,4
mil milhões). Os três sectores perfizeram 73,5% do total do volume de negócios das 100 maiores. Mas nem por isso 2017 deixou de ser um ano difícil, pois havia, naturalmente, uma pesada herança da instabilidade que tinha começado dois anos antes. “Economicamente, 2017 foi interessante, e definitivamente o mais desafiador dos últimos dez anos”, observa o director-geral da KPMG, Quintino Cotão, num dos trechos do prefácio da última publicação,. Ainda assim, nas últimas duas décadas, o volume de negócios global cresceu cera de 800%. www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2019
Carvão ganha supremacia Por 16 edições consecutivas, a Mozal foi a empresa com maior volume de negócios e, por isso, líder das 100 maiores empresas a operar no mercado nacional. Mas, pela primeira vez, o primeiro lugar do pódio é ocupado pela Vale Moçambique (que não foi avaliada na edição anterior). A empresa, de capitais brasileiros, teve um volume de negócios de 97,4 mil milhões em meticais, bastante superior à sua mais directa concorrente (a Mozal) que se ficou pelos 61,1 mil milhões no final do ano. É claro que as receitas de exportação (estimadas, no caso do carvão em cerca de 1,7 mil milhões de dólares, face aos 1,1 mil milhões de dólares das receitas do alumínio), são o grande desequilibrador, num ano em que os preços da commodity subiram exponencialmente. E embora a Vale não seja responsável pela totalidade dos recursos produzidos pelo sector do carvão, é válido afirmar que a empresa responde por parte significativa, dado o grande peso que tem entre as empresas exportadoras de carvão. Um olhar atento aos sectores São no total nove os sectores avaliados no estudo anual da KPMG, que trazem uma descrição um pouco mais detalhada do desempenho das empresas, podendo facilitar a avaliação do contributo individual destas na performance desses mesmos sectores de actividade. Aqui são considerados, não só os números das receitas das empresas que constam da lista das 100 maiores do país, como de todas as que foram inquiridas no levantamento, lembrando que a amostra da KPMG foi de um universo de 210, das quais 39 nele constaram pela primeira vez. Nota que merece destaque tem a ver com o volume de negócios agregado das empresas que fazem parte das www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2019
100 maiores em cada sector, geralmente em torno dos 95%, sendo muito pequena a representatividade daquelas que não estão nesta lista. Banca de boa saúde ‘Actividade Financeira e Seguros’ foi o segmento com o segundo maior volume de negócios (perde apenas para a indústria), com cerca de 76 mil milhões de meticais, dos quais perto de 74 mil milhões (97,5%) pertence a empresas que constam no ranking. Aqui, quem continua a liderar é o Millennium bim, com um volume de negócios a rondar os 15 mil milhões de meticais, seguido pelo Standard Bank (13 mil milhões) e pelo BCI (12 mil milhões). Os lucros do sector cresceram 56,5%, o que corresponde a 13,2 mil milhões de meticais em comparação com 2016. Neste indicador, a melhor é a Moçambique Companhia de Seguros, com uma taxa de crescimento de 233%, tendo superado o prejuízo de 2016 na ordem de 43,9 mil milhões de meticais e gerado um lucro de 58,5 mil milhões em 2017. Agricultura e pescas desiludem Todo o potencial reconhecido a sectores vitais da economia como a agricultura e as pescas traduziu-se, em 2017, num volume de negócios agregado de apenas 3,4 mil milhões de meticais, dos quais cerca de 83% (2,8 mil milhões) foram produzidos por empresas que constam no ranking. No entanto, cerca de 40% desses recursos são da responsabilidade de apenas uma empresa: a Pescamar. Já os lucros do sector (incluindo o das empresas que não estão no ranking) foram na ordem 103 milhões de meticais, sendo que, aqui, o destaque recai na empresa Belúzi Bananas, que conseguiu proventos de 116 milhões de meticais. Esta é seguida pela Sociedade Industrial de Pescas (SIP), com 11 milhões.
Melhores resultados, A distinção de menos emprego Melhor Com o aumento do volume de negócios, todos os outros indicadores de desempenho acompanharam a mesma trajectória. Com efeito, os lucros das 100 Maiores Empresas de Moçambique totalizaram 110,7 mil milhões de meticais, fazendo esquecer os prejuízos na ordem de 201,7 mil milhões de meticais do ano anterior, no pico da crise. Os activos líquidos das 100 maiores também registaram um aumento significativo, para 64,6 mil milhões de meticais, num salto de mais de 268% face a 2016. Mas, apesar da retoma da estabilidade, o número de trabalhadores absorvidos pelas 100 maiores caiu de 77 014 em 2016 para 76 118 profissionais no ano seguinte, uma redução na ordem de 1,16% (896 trabalhadores).
o carvão
O minério marca o ano, e as actividades da Maior… e da Melhor. E se a Vale é a Maior Empresa do país, já o Terminal de Carvão da Matola foi apurado como a Melhor de Moçambique, premiação que foi introduzida nesta décima edição e tem como fundamento a independência financeira da empresa. Um breve perfil da empresa pode ajudar a explicar a sua dimensão no mercado e a provável razão da distinção. Entre os operadores, estão duas multinacionais de renome: a empresa de logística Grindrod (que transporta carga diversa por terra, mar e por via aérea ligando vários pontos do mundo) e o grupo Vitol, uma das maiores empresas independentes de energia em todo o mundo. O Terminal, explorado em regime de leasing, possui uma área de armazenagem a céu aberto de 170 mil metros quadrados.
A distinção para a Melhor Empresa de Moçambique resulta dos indicadores de desempenho avaliados de forma agregada, a começar pelo crescimento do volume de negócios na ordem de 47% (para cerca de 2,4 mil milhões de meticais). Depois a taxa de rentabilidade do volume de negócios que se situou nos 34%; a rentabilidade de capitais próprios em 38,77% e a autonomia financeira de 188%. O somatório dos sete indicadores avaliados (cuja pontuação varia de 1 a 100), totaliza 477 pontos, a maior pontuação de todas as empresas.
Mais um minério entre os melhores…
A segunda melhor empresa é a a Montepuez Rubi Mining, que opera no distrito de Montepuez em Cabo Delgado, e que tem arrecadado importantes receitas da venda de rubis. Em Junho do ano passado, por exemplo, a Gemfields, que detém 75% do capital da MRB, vendeu 71,8 milhões de dólares de rubis em bruto, num leilão realizado em Singapura. Seria, até à data, o décimo lote leiloado desde 2014, num valor agregado de 407 milhões de dólares relativos à venda de rubis moçambicanos.
Outras melhores
Ainda nesta categoria, há empresas que, não estando entre as melhores na classificação geral, distinguem-se por serem líderes em pelo menos um dos sete indicadores avaliados. Casos do Moza, com a maior taxa de crescimento do volume de negócios (370,59% para 2,5 mil milhões de meticais) ou na rentabilidade de capitais próprios a A & L Enterprises.
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mercado e finanças As dez mais das 100 maiores do ranking da KPMG O ciclo de 16 anos consecutivos da Mozal como a maior empresa de Moçambique termina com a ascensão da mineradora Vale, impulsionada pelo exponencial aumento do volume de exportação de carvão que tomou, também, a liderança nas exportações Em milhões de dólares
1 530,6
960,7
425,5
Vale 1 n/a
Mozal 2 (1)
EDM 3 (2)
367,8
Petromoc 4 (4)
262,3
261,9
247,7
244,9
236,7
220,2
CDM 5 (12)
MOTRACO 6 (6)
CFM 7 (9)
HCB 8 (8)
BIM 9 (10)
Intelec 10 (11)
*Entre parênteses o ranking de 2016 *n/a – Não avaliada
bancos dominam área financeira
Turismo renasce das cinzas
Comércio atestado pelos combustíveis
Mcel e TDM estão bem ligadas
A banca foi dos sectores cujos resultados operacionais menos se ressentiram da crise devido ao aumento das taxas de juro
O sector do alojamento, restauração e similares foi dos mais penalizados pela crise, que levou ao encerramento de muitas estâncias turísticas
A procura caiu e arrastou consigo o sector, que agora aguarda ansiosamente pelo resgate do aumento do consumo pelas petrolíferas
Apesar das dificuldades que atravessaram, as empresas que, recentemente, consumaram uma fusão apresentam bons resultados
Em milhares de milhões de meticais
Em milhões de meticais
Em milhares de milhões de meticais
Em milhares de milhões de meticais
millennium bim
turvisa
15 standard bank
hotéis polana
13
459,2
12
mcel
23,4 petrogal moçambique
grupo vip
bci
3,5 tdm
9 puma energy
328,2
2,5 tv cabo
8,7
1,3
Construção com quebra de receitas
Indústria é o sector dos colossos
EDM ilumina os serviços
Transportes do prejuízo ao lucro
Sector não escapou aos efeitos da instabilidade e, sem surpresas, o volume de negócios caiu 53,8% e os lucros, 79,6%
Além da Vale e da Mozal, a CDM e a Topack Indústria de Plásticos também tiveram um desempenho digno que as colocou entre as maiores
O grande desafio de assegurar acesso universal à energia deu mais força à EDM, que se posicionou em 3º lugar no ranking das 100 maiores.
CFM, Cornelder e MPDC conseguiram recuperar de prejuízos agregados de aproximadamente 5,9 mil milhões de meticais
Em milhares de milhões de meticais
Em milhares de milhões de meticais
Em milhares de milhões de meticais
Em milhares de milhões de meticais
mota-engil áfrica
vale moçambique
edm
cfm
3,5 teixeira duarte moçambique
97,4 mozal
2,5 c.m.c africa austral
27,1
61,1
16,6
8,2 mpdc
intelec holdings
16,7
15,7 cornelder moçambique
motraco
cervejas de moçambique
1,3
46
petromoc
633,6
14
5,7
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Aumento do preço do carvão no mercado, em 2017, foi decisivo para o aumento de receitas operacionais da Vale
Carvão, alumínio e energia são os grandes motores da economia, algo que o relatório das ‘100 Maiores Empresas de Moçambique’ evidencia. Destaque também para os desempenhos da EDM e da CDM. Já a agricultura, a base da economia, continua num plano... terciário Crise quase “matou” o turismo O sector de Alojamento, restauração e similares foi o que menos dinheiro produziu, o que se justifica pela acentuada queda da procura perante a crise. O volume de negócios perfez cerca de 2,1 mil milhões de meticais, com quase metade (1,1 mil milhões) produzidos pelas duas empresas que constam no ranking das 100 maiores. O sector averbou prejuízos na ordem de 126 milhões de meticais, em 2017, ainda assim, um importante avanço em relação aos prejuízos do ano anterior, que se fixaram em 312 milhões. Para a melhoria dos resultados contribuíram, em grande medida, a Salvador Hotéis Moçambique e Mozaico do Índigo, que no seu conjunto tiveram um lucro de 42 miwww.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2019
lhões de meticais, superando o prejuízo agregado das três empresas (224 milhões, no ano anterior). Petrolíferas dominam o comércio No total, o volume de negócios das empresas avaliadas do sector chegou aos 74,2 mil milhões de meticais. Destes, 72,4 mil milhões (97,6%) foram produzidos por 18 das empresas que constam das 100 maiores. O sector é liderado pela PETROMOC, cujo volume de negócios cresceu 3,95% para 23,4 mil milhões de meticais em 2017 relativamente ao período homólogo. Olhando, no entanto, ao sector ele continuou, ainda assim, a registar prejuízos, de 2,6 mil milhões de meticais em 2017, não obstante a melhoria em relação aos prejuízos de
cerca de 3,8 mil milhões registados em 2016. Em termos individuais, destacaram-se três empresas: a Petrogal Moçambique, com lucro de 819 milhões de meticais, a Total Moçambique (595 milhões) e a Sasol (297 milhões). “Moçambique Telecom”, lidera nas comunicações Um facto curioso: a Mcel e a TDM viram concluído, em Janeiro deste ano, o processo de fusão que dará origem à nova Moçambique Telecom, para minimizarem os maus resultados operacionais dos últimos anos. Mas, estranhamente ou não, são justamente estas as telefónicas as que mais se destacaram, se olharmos ao volume de negócios alcançado em 2017. A Mcel com 3,5 mil milhões de meticais e
a TDM com 2,5 mil milhões. No global (juntando Vodacom, Movitel e outras) o volume de negócios chegou aos 8,5 mil milhões de meticais, dos quais cerca de 7,6 mil milhões (quase 90%) correspondem ao agregado das quatro empresas que fazem parte da lista das 100 maiores. No entanto, em 2017, as comunicações somaram 106 milhões em prejuízos, ainda assim uma significativa recuperação face aos mais de 6 mil milhões em prejuízos no ano anterior. Portugal domina construção O volume de negócios do sector chegou aos 17,8 mil milhões de meticais, apresenta uma redução de 58,3% em relação a 2016, resultado da quebradoinvestimentopúblico. Olhando aos players do mercado, este continuou a ser liderado por empresas de capitais portugueses, como a Mota-Engil África, com 9,2 mil milhões de meticais e a Teixeira Duarte, com 4,4 mil milhões.
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mercado e finanças Grande salto no volume de negócios de todas as 100… Em duas décadas de análise da KPMG ao universo empresarial moçambicano, e desde a primeira edição deste concurso, em 2008, o crescimento do volume de negócios das 100 maiores empresas é assinalável e aumentou 800%
Em milhares de milhões de dólares
7,3
8,6
5,5
1,2 1998
2008
2016
2017
... maiores... Eis as empresas que mais se destacaram em relação a cada um dos mais importantes indicadores de desempenho. No indicador do maior empregador o destaque recai na empresa de segurança G4S com mais de 11 mil trabalhadores Em milhares de milhões de meticais activos - bci
154,7 capitais próprios - mozal
Receita do alumínio aumentou, ancorada na produção de 271 mil toneladas
69,3 resultados líquidos - vale
66,2
... e melhores A melhor empresa do país é apurada somando as pontuações de um total de sete indicadores de desempenho que incluem, entre outros, volume de negócios, capitais próprios, activos líquidos, autonomia financeira e liquidez geral, numa escala individual para cada um dos indicadores de 1 a 100 pontos Pontuação total agregada dos sete indicadores terminal de carvão da matola
477 montepuez rubi mining
462 standard bank
458 hollard moçambique companhia de seguros
454 mahs - mozambique airport handling services
451
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O relatório destaca também o bom desempenho da Lúcios Moçambique (nova participante no estudo), que entra assim no ranking das 100 maiores depois de atingir 415 milhões de meticais de volume de negócios. Em 2017, o lucro do sector também reduziu acentuadamente em relação ao ano anterior, ao fixar-se em 557 milhões de meticais face aos 2,7 mil milhões em 2016 (uma redução de 79,6%). Indústria é o elo mais forte Trata-se do sector mais valioso da economia, se olharmos ao volume de negócios. E não é por acaso porque é aqui que se integram as duas maiores empresas do ranking. O volume de negócios de todas as empresas do sector que participaram no inqué-
rito foi de 258,2 mil milhões de meticais, representando uma taxa de crescimento de 32,7% em comparação com o ano transacto. Já os lucros das 17 empresas que constam no ranking das 100 maiores, em 2017, atingiram os 92,9 mil milhões de meticais, com destaque para a Topack Moçambique - Indústria de Plásticos, a registar a maior taxa de crescimento do lucro (2 140%) de 1,4 mil milhões de meticais em 2016 para 31,2 mil milhões no ano seguinte. EDM iluminou serviços O volume de negócios das participantes nesta categoria totalizou 68,7 mil milhões de meticais, dos quais, 95% (65,4 mil milhões) foram produzidos pelas empresas que integram as 100 maiores do país. A Electricidade de Moçambiwww.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2019
que (EDM), terceira maior do país, segundo o ranking, liderou o sector, com um volume de negócios de 27,1 mil milhões de meticais. No geral, o sector conseguiu reduzir o elevadíssimo prejuízo que havia atingido (4,3 mil milhões de meticais) em 2016. Numa outra vertente, a Intelec Holdings foi a empresa que acabou o ano com maiores lucros operacionais no sector de serviços, com 2,5 mil milhões de meticais, seguida pela G4S Secure Solutions (346 milhões) e a MOTRACO (314 milhões). CFM foram locomotiva O volume de negócios das empresas da área dos transportes atingiu os 53,3 mil milhões de meticais, sendo 51,5 mil milhões atribuídos às empresas que participaram em mais www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2019
uma edição do estudo da KPMG. A este respeito, a Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM) continuou a liderar, com um volume de negócios de 15,7 mil milhões. Olhando aos lucros totais das empresas de transportes e logística, chegaram à casa dos 6,6 mil milhões de meticais, uma evolução assinalável, se olharmos aos prejuízos de mais de 5,9 mil milhões contabilizados em 2016, o que representa um crescimento de 211,65%. Aqui, o destaque recai, uma vez mais, nos CFM (com proveitos a atingirem os 3 mil milhões de meticais), seguidos pela Cornelder de Moçambique com quase 2 mil milhões. texto Celso Chambisso fotografia istock Photo
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empresas
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Iluminar as fraquezas para criar novas forças A Ideia Lab surgiu... de um ideal: fazer nascer um ecossistema empreendedor no país e fazer crescer toda uma nova geração de jovens moçambicanos há uma década, falar de empreendedorismo no país era quase um tema tabu. Por várias razões – culturais, sociais e económicas. A realidade, e as dificuldades, terão alterado o estado das coisas. E é incontestável o crescendo da onda do empreendedorismo. Muitas vezes apenas discursiva, é certo, a verdade é que hoje há cada vez mais jovens, sobretudo recém-formados, que se viram para as novas alternativas do autoemprego. E é assim se vai formalizando um novo conceito, que até já era, muitas vezes, praticado, mas de forma… informal. Com a chegada desta tendência ao quotidiano, um conjunto de novos instrumentos foram também surgindo para conferir sentido a novos conceitos como ‘network’, ‘pitch’, ‘crowdfunding’ ou ‘startup’. A Ideia Lab terá sido uma das primeiras empresas do país a fazer esse link entre o despertar de um novo mundo e as ferramentas para entrar, e existir nele. E com sucesso. Fundada em 2010, surgiu por via da “necessidade de formar um crescente número de jovens para a necessidade de arriscar e colocar os seus planos de negócios em prática.” ‘Envolver, inspirar e investir’ são os três pilares nos quais, ainda hoje, assenta a acção da Ideia Lab. Tatiana Pereira, chief-executive e co-fundadora da empresa (em parceria com a economista Sara Fakir) fala da importância da formação e mentoria a futuros empreendedores com um brilho nos olhos. “É o que nos guia desde o primeiro dia. Inspirar empreendedores, apoiar o desenvolvimento de startups, acelerar o crescimento de MPME e promover o empreendedorismo e a inovação no nosso país”, conta. Foi aqui, neste lugar onde mora o sentido prático do idealismo, que as duas amigas (se) descobriram, num leque de oportunidades por explorar. “Fala-se sempre em potencial, mas muito pouco se fazia de forma
estruturada para potenciar essa riqueza existente, primeiramente em cada um de nós”, explica Tatiana. Começaram por criar uma incubadora de negócios trabalhando individualmente com vários aspirantes a empreendedores, mas com o passar do tempo, fizeram evoluir e estruturar o conceito de acção da Ideia Lab. “Tivemos que repensar o nosso modelo de negócio. Também para nós, e para mim pessoalmente, a Ideia Lab foi um salto no empreendedorismo, feito de constante aprendizagem, em busca do melhor modelo para fazer passar aquilo que é a empresa”, explica. Nesse percurso de quase uma década, projectos como o ‘#EuSouCapaz’ ou o ‘Fora da Caixa’, o primeiro concurso nacional de ideias de negócio, foram determinantes para o crescimento dos desafios, e dos resultados também. “Passámos a desenhar e a implementar projectos que criam impacto directo no ecossistema dos empreendedores. Hoje em dia, ‘vendemos empreendedorismo’, ou seja, concebemos o projecto e todas as fases da sua implementação, como é o caso do Orange Corners ou a incubadora de startups no Standard Bank.” Para além disso, continua, “a ideia passa por ampliar os tais links entre quem quer entrar no mercado e quem já lá está. E para isso, criámos um clube de mentoria onde juntamos voluntários que aceitam o desafio de, durante um ano, trabalhar com os nossos empreendedores”, assinala Tatiana. Anda assim, desafios não faltam para a Ideia Lab. A fundadora sorri. “Temos uma lógica de crescimento com um objectivo bem simples e muito recompensador para toda a nossa equipa: criar impacto e fazer realmente a diferença.”
B Empresa Ideia Lab Fundadoras Tatiana Pereira e Sara Fakir Fundação do grupo 2009 Parceiros Holanda, Finlândia e estados unidos
formandos
1 000
O número de jovens que participaram em acções de ‘mentoring’ da Ideia Lab Iniciativas
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Ideate Bootcamp; TOT – Train the Trainers; VR/AR Africa ackathon – Moçambique; Orange Corners - Maputo; Startup Weekend; Women´s Entrepreneurship Day; Semana de Empreendedorismo; YALI RLC SA Maputo Campus; Fora da Caixa e #EuSouCapaz
texto Pedro Cativelos & Hermenegildo Langa fotografia Jay Garrido
sejaempreendedor www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2019
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megafone HCB ultrapassou meta de 1,39% na produção de energia eléctrica A produção hidro-energética anual da HCB fixou-se em 13,659 GWh, em 2018, o que representa 1,39% acima do planeado. Conseguida num ano em que, mercê das medidas de gestão hidrológicas tomadas pela empresa, em conjugação com a melhoria das afluências, este superavit representa, de acordo com a empresa, a “melhoria do desempenho e o aumento da produção energética, maximizando a capacidade instalada”, resultado do plano de modernização das infraestruturas da cadeia de produção, que a HCB está a implementar. Para este ano, a hidroeléctrica estabeleceu 14,809 GWh como meta de produção global.
fusão da TDM e Mcel concluída. Agora é a Moçambique Telecom “Salvar as empresas estatais que já estavam à beira da falência com elevadas dívidas”. A decisão de iniciar um processo de fusão da agora ex-Telecomunicações de Moçambique (TDM) e Mcel foi finalmente consumada, com a criação da Moçambique Telecom. Está assim concluído um processo que se iniciou em 2016, depois da decisão do Conselho de Ministros em que o governo definia que a fusão das empresas tinha como intuito a criação de uma “nova instituição dotada de meios tecnológicos, financeiros e humanos adequados”.
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bim eleito “Melhor Banco” nacional em ‘Trade Finance’ Distinção foi anunciada em Londres pela publicação Global Finance
UBA ‘quer’ as comunidades a empreender
a distinção foi anunciada na Global Finance, uma publicação especializada em informação sobre mercados financeiros e análise do sector bancário mundial, tendo o Millennium bim sido considerado como a “melhor instituição bancária do mercado nacional em soluções de ‘Trade Finance’ disponibilizadas aos seus clientes, no apoio a operações de comércio internacional.” Segundo o PCE do banco, José Reino da Costa, “este prémio vem reconhecer, uma vez mais, o empenho e a qualidade da instituição na promoção de serviços e produtos que tenham um impacto significativo na vida dos moçambicanos”. A distinção aconteceu durante uma cerimónia de premiação que teve lugar em Londres, Reino Unido, designada BAFT Europe Bank to Bank Forum.
O Millennium bim é o maior grupo financeiro de Moçambique, tendo, actualmente, 1,8 milhões de clientes.
“Empoderar a comunidade, ensinando ofícios que, a curto prazo, e com poucos recursos, possam desenvolver actividades económicas que lhes garantam um rendimento”. É este o mote da campanha levada a cabo pelos colaboradores do Banco UBA Moçambique. Inserida na política de responsabilidade social da instituição, a acção visa fomentar o empreendedorismo nas comunidades. Assim, os colaboradores do UBA deslocaram-se à Cadeia Feminina de Ndlavela e ao Centro de Reabilitação de Drogas da Remar com vista a partilhar o seu know-how em diversas áreas do empreendedorismo social.
Pepsi lança campanha de comunicação e novo headline global “Ligar-se aos seus consumidores e tornar a marca mais moderna”, é o objectivo do lançamento do novo slogan da marca Pepsi, ancorado numa campanha de comunicação global que pretende incentivar os consumidores a “abraçarem as suas paixões”. Baptizado de “For the Love of it”, o novo slogan será utilizado pela Pepsi em mais de 100 mercados mundiais (Moçambique incluído), em substituição do anterior “Live for Now”. Acompanhando esta mudança, as latas do refrigerante também terão a sua imagem redesenhada. Actualmente, a Pepsi busca uma identidade que lhe permita reposicionar-se no mercado. www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2019
figura do mês É preciso melhorar a cadeia de produção agrícola Victória Paulo PCA da BMM o surgimento da Bolsa de Mercadorias de Moçambique (BMM), em 2012, procurava responder aos principais desafios do sector agrícola. Das elevadas perdas pós-colheita à falta de financiamento no sector, mas essencialmente a estabelecer uma ponte entre os produtores e os diversos mercados de compra e venda. Depois de anos em que a ligação com produtores de todo o país foi sendo ampliada através de acções de sensibilização e da criação de uma rede de silos de armazenagem de produtos agrícolas, fala-se agora da criação de uma plataforma de gestão da produção depositada a nível nacional, que permita melhorar a comercialização dos produtos agrícolas de forma digital, aberta a ‘traders’ de todo o mundo. Victória Paulo, recém-empossada PCA da BMM, fala à E&M sobre os objectivos do seu mandato. Qual é, hoje, a importância da BMM para a agricultura? Somos uma instituição pública criada pela necessidade de repensar o país em termos de organização do mercado e das transacções comerciais no sector agrícola. Era importante que o mercado se organizasse para que os intervenientes estivessem todos mais próximos, através de uma plataforma comum. O objectivo essencial da BMM
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é elevar a qualidade de vida daqueles que intervêm no processo produtivo, através da facilitação da comercialização de grãos secos (milho, feijões, arroz, castanha e gergelim) não fechando a porta, no futuro, à negociação de outras commodities como o gás ou as pedras preciosas. A BMM detém a gestão de um complexo de silos onde é feita a armazenagem das diversas produções a nível nacional. Este sistema já está a funcionar na plenitude? Com certeza. A Bolsa recebeu do Governo sete complexos de silos (entre 2014 e 2015). A BMM actua entre o produtor e o comprador, estabelecendo o preço dos diversos produtos armazenados. Queremos desenvolver o nível de confiança entre as partes que intervêm no processo e melhorar a cadeia de produção agrícola. O valor de armazenamento para o milho não é igual ao dos feijões, por exemplo. Isso depende de período em que o produto vai ficar em stock, que, no máximo, vai até seis meses. Neste período, a Bolsa tenta encontrar um mercado para o produto armazenado. Qual é a vantagem do uso dessas infraestruturas para os produtores? É conseguir agregar produção de vários produtores, acumulando stock e ganhando
cv
curriculum vitae
Victória Paulo foi Delegada Provincial de Cabo Delgado do extinto Centro de Promoção de Investimento (CPI) e é, desde Agosto de 2018, PCA da BMM, substituindo António Grispos, que liderou instituição desde 2014.
BMM ‘leverage’ ao nível dos preços. Com volume, conseguimos ter melhores preços de negociação, o que beneficia, em última análise, os próprios produtores ao nível do preço e do escoamento da produção. O preço é negociado em conjunto, em leilões, ou através da plataforma de negociação ou ‘trading digital’ que queremos introduzir este ano. Estamos seriamente a trabalhar nesse sentido. Em que fase está o processo? Estamos a iniciar o cadastramento de todos os complexos de silos, bem como dos stocks, neste sistema online. Isto já não é um sonho apenas, mas um objectivo que tem de
ser real devido às necessidades do país. Precisamos de catapultar o nível de vida social dos 70% dos moçambicanos que estão na agricultura. No passado, falou-se na possibilidade de se incluir o carvão mineral e o gás natural no portefólio de produtos transaccionados via BMM. Será assim? O rubi, por exemplo, é transaccionado em Singapura e podemos tender a criar as condições na BMM para que Moçambique passe a ser, também, uma plataforma de compra e venda de outras commodities determinantes para a economia nacional. Quais são as outras prioridades definidas para o seu mandato à frente da BMM? Gostaria que toda a legislação de operações da BMM fosse aprovada. Temos ainda a proposta da revisão do Estatuto Orgânico, o Regulamento Geral das Operações da Bolsa, do Sistema de Armazenamento com Certificado de Depósito, o Regulamento de Corretores da BMM, o Código de Ética dos Funcionários e Operadores e a aprovação das taxas dos serviços para as PME. Tudo isto precisa de ser aprovado pelo Ministério da Indústria e Comércio e pelo Conselho de Ministros. Estamos a trabalhar para aumentar o espectro da nossa presença na ligação com outras Bolsas e queremos continuar a estar nas províncias e a explicar o papel decisivo da BMM. Queremos que os Governos provinciais percebam a nossa existência e olhem para a Bolsa como o mecanismo regulador do mercado agrícola, tornando-o mais eficiente, transparente e padronizado, e com preços justos e competitivos a favor do pequeno agricultor.
texto Pedro Cativelos & Hermenegildo Langa fotografia Jay Garrido
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Potenciar a cadeia de valor agrícola “Queremos desenvolver o nível de confiança entre as partes que intervêm no processo produtivo” www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2019
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sociedade
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sucata
a rainha da economia informal Um negócio que passa despercebido aos olhos de muitos, não entra nas contas da macro-economia, mas que garante um precioso rendimento a milhares de famílias. No entanto, a verdade é que a sucata é, hoje, a nova rainha da actividade informal a par dos veículos motorizados, o trânsito nas estradas da capital é também feito de veículos sobre duas rodas, empurrados por homens, mais ou menos jovens, que vão anunciando disponibilidade para comprar artigos em ferro, velho já. Baterias obsoletas, metal enferrujado e aço desusado, são geralmente os mais procurados. “Sucata é todo o material ferroso e não ferroso, susceptível de reciclagem”. É esta a definição do presidente da Associação dos Sucateiros de Moçambique (ASSUMO), Rui Paulino, entrevistado pela E&M. Em torno disto, há toda uma indústria, mais ou menos formal. Não se sabe quanta gente movimenta a actividade, mas serão, certamente milhares de moçambicanos, por todo o país, num negócio que é simples de descrever: a matéria-prima, o ferro velho, é comprada www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2019
por sucateiros, nos bairros e na periferia, e posteriormente transportado até às fundições onde é revendido, e pago a peso. Curiosa, ou nem por isso, é a inexistência de um quadro tributário específico para o efeito, constituindo um negócio que passa quase despercebido à Autoridade Tributária – a sucata ferrosa não transformada está isenta de IVA e somente após a sua transformação é sujeita ao pagamento dos 17%. Não se sabe, ao certo, quanto pode render aos cofres do Estado, mas haverá matéria colectável significativa, a avaliar pela quantidade de pessoas e dinheiro que movimenta. O negócio A sucata é, a este respeito, apelativa por uma questão simples, relacionada com os custos. Em comparação com a produção a partir do minério de ferro, o pro-
cesso de reciclagem do aço, por exemplo, necessita de menos 74% de energia, 90% de insumos virgens e menos 40% de água. E mais: segundo as Nações Unidas, “o uso do material reciclado, sobretudo a sucata ferrosa, apresenta vantagens em relação a matérias-primas virgens na produção de ferro e aço, reduzindo cerca de 58% da emissão de gás carbónico (CO²)”. Embora Moçambique seja um país ainda com fracos índices de industrialização, nota-se uma crescente busca por ferro-velho, dada a necessidade das usinas produtoras de materiais de ferro obter um melhor aproveitamento de todos os produtos e subprodutos gerados na cadeia produtiva. Estes envolvem empresas e singulares informais que, essencialmente, se dedicam à recolha, separação, processamento e comercialização de sucatas, tanto
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sociedade O caminho da sucata O trajecto das sucatas no país compreende, de uma forma geral, três dimensões. Da compra informal, nas ruas de bairros limítrofes das grandes cidades, à pré-transformação nas sucatarias, e, por fim, acaba na transformação para a produção de novos materiais, nas fundições
Como é que chegam… É uma actividade com uma abrangência vertical que se inicia com a recolha do material (colectadores de sucatas) através de carrinhas de mão (txovas). Estes recolhem diariamente nos bairros tudo que é material reciclável, ou seja, material ferroso e não ferroso.
… para onde vão… Depois de ‘apanhadas’, as sucatas são encaminhadas para as diferentes sucatarias espalhadas por Maputo e Matola. É aqui que se inicia o processo de separação e selecção de tudo que é material ferroso e não ferroso para a sua pré-transformação.
… e como regressam ao mercado FInalizado o processo de prétransformação, as sucatas são transportadas para as fundições (grande maioria), e outras (10%) seguem logo para exportação. Nas fundições, elas são recicladas em novos objectos de consumo, como panelas e varões para construção civil. Algumas são até transformadas em objectos de arte, ainda nas sucatarias.
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no mercado interno como no externo. Não admira que a sucata atraia muita gente porque, na verdade, é um segmento rentável nos quatro cantos do Mundo. A título de exemplo, os Estados Unidos de América (EUA) é apontado pelo Observatório da Complexidade Económica (The Observatory of Economic Complexity – OEC) como o maior exportador de sucata de ferro no mundo, e representa um ramo de actividade avaliado em 3,23 mil milhões de dólares por ano. É seguido pela Alemanha e o Japão onde o negócio das sucatas movimenta 2,74 e 2,31 mil milhões, respectivamente. Do lado inverso estão os maiores importadores do mundo, sendo que a primeira posição é ocupada pela Turquia, que compra 3,69 mil milhões de dólares de sucatas por ano, seguida pela Índia com 2,2 mil milhões, Bélgica e China que gastam 2,1 e 1,81 mil milhões de dólares, respectivamente. Mercado garantido Ao contrário de muitos produtos nacionais, a sucata tem mercado garantido dentro e fora do país (uma fatia de mercado dominada maioritariamente por chineses). Segundo Rui Paulino, gestor da Limetal Vulcano, uma sucateira que trabalha com alumínio, cobre, bronze, chapas, ferro fundido e aço, o mercado “mostra uma predominância para as fundições talhadas para o aço macio, usado na produção de varões de construção civil. Depois, alumínio, cobre, bronze e chumbo são aproveitados pelas fundições para a produção de peças em grandes quantidades, como são os casos de panelas, que são abastecidas aos grandes compradores nacionais (o Ministério da Defesa, o Instituto de Prisões e alguns hospitais do país)”, explica. Para a ASSUMO, a saúde do mercado de sucatas “é boa e recomenda-se”, graças à grande procura de matéria-prima barata por parte das fundições nacionais para assegurar o fornecimento de um mercado que procura, cada vez mais, substituir as importações. No entanto, Rui Paulino reconhece que, ainda falta regulação ao mercado. “A existência de fundições que se mostram incapazes de responder positivamente aos desafios, que têm fraco poder de compra e, muitas vezes, acabam não honrando os seus compromissos com os abastecedores de sucata é um problema bem real”, diz.
Um dos serviços que a associação acredita poder ser uma “mais-valia” económica para o país, é a ampliação de fundições recicladoras que não sejam apenas de ferro, uma vez que existem outros tipos de sucata como, por exemplo, tubos de material de construção, chapas, veios, vigas e outras variedades, com valor de mercado considerável e actualmente subaproveitadas. No entanto, a percepção de lucratividade não é transversal a todos os operadores. E há mesmo quem esteja a somar prejuízos e já cogite abandonar a actividade. Caso do gestor Fausto Miguel, da empresa Miguel Sucatas, que lamenta a “quebra de rentabilidade do negócio a que se vai assistindo com o passar do tempo.” O sucateiro revela que, actualmente, “a margem é muito pequena, quando comparada com os custos de operação e de estrutura da empresa.” E lamenta as “poucas regras de funcionamento neste www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2019
da dos nossos ‘amigos’ orientais”, explica. O ferro e o aço são as traves-mestras da rentabilidade porque são, igualmente, os mais solicitados no mercado. Os dados fornecidos pela ASSUMO à E&M, indicam que, diariamente, as fundições nacionais são abastecidas com 30 toneladas de sucata, o que, num cálculo rápido, nos leva às 10 mil toneladas de sucata processadas anualmente no país, uma parte, exportada. “Só no ano passado foram vendidas cerca de mil toneladas de sucatas para a África do Sul”, sublinha o presidente da Associação dos Sucateiros de Moçambique (ASSUMO), Rui Paulino.
A paisagem urbana foi invadida por um fenómeno novo nos últimos anos. Homens empurrando txovas contendo artigos aparentemente sem qualquer utilidade. Mas, afinal, há um negócio rentável por detrás de toda esta actividade negócio”, uma vez que, prossegue, “noutros países, a sucata é subsidiada, os municípios ajudam os sucateiros e há isenções, porque acabamos também por prestar um serviço público, como é a reciclagem. Mas, no nosso contexto, a actividade virou apenas uma forma de ganhar dinheiro e cada um faz o que lhe apetece”, considera. Pão para centenas de famílias Um dos grandes players do mercado é a Vulcano Sucatas, detida por Egas Francisco, que sem pejo em afirmá-lo, considera a sua empresa “uma gigante na área da www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2019
sucataria”, diz, com alguma graça na voz. Emprega mais de 130 trabalhadores sem incluir os que estão afectos à fábrica de sucataria, um empreendimento paralelo, que faz o processamento do material. De acordo com o presidente da Associação dos Sucateiros, existem neste momento 12 empresas filiadas na agremiação (seis das quais, na grande Maputo). “Já tivemos mais de 20, mas, devido à entrada dos chineses no mercado, muitas acabariam por falir, principalmente as pequenas e médias empresas colectoras de sucatas que foram engolidas pela procura desregra-
“Há operadores desonestos” Ainda assim, a Munguambe Sucatas denuncia o que chama de “falta de vontade e de honestidade”, em alguns operadores da indústria sucateira nacional, visto que não cumprem as regras estabelecidas no mercado, ou seja: qualquer revendedor de sucata somente pode abastecer as fundições certificadas para o efeito o que, na voz do seu proprietário, João Munguambe, permite que não haja vandalização de infra-estruturas públicas (como recentemente circulou na redes sociais, em que se mostravam imagens de sucateiros informais a retirar ferro da nova ponte Maputo-Katembe). Havendo cumprimento das regras temos mais condições para que as sucatarias estejam preparadas para reciclar e transformar a matéria-prima localmente, de forma legal, sem recorrer ao mercado externo e evitando o contrabando que acaba por lesar as empresas nacionais”, explica. Chineses ofuscam pequenos sucateiros De acordo com Jorge Cossa, proprietário da empresa Ferro & Aço Sucatas, a entrada de operadores chineses no mercado veio “desestabilizar e ofuscar os pequenos sucateiros que deixaram de ter condições mínimas para a compra de sucatas devido ao preço elevado praticado pelos chineses, insustentável para as fundições nacionais. Na verdade, os chineses compram tudo, até latas de alumínio misturadas com plásticos e ferros, porque aquilo não é para ser aproveitado como sucata mas para tapar o contrabando de cá para lá. Como a fiscalização não funciona, é isto que está a acontecer”, alerta Egas Francisco. texto Hermenegildo Langa fotografia Jay Garrido
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Lá Fora
ANgola
Luanda a fazer o que nunca foi feito Dias depois de tomar posse, a 26 de Setembro de 2017, João Lourenço deixava claro para todos que pretendia ficar na história pelo seu papel na recuperação económica, através de uma reforma ao estilo de Deng Xiaoping Na altura, ainda era pouco visível o que vinha no horizonte. Um ano depois, as propostas de reformas económicas e políticas já são conhecidas: combate à corrupção, privatização de empresas públicas deficitárias, abertura económica e sujeição ao escrutínio das instituições internacionais. Foi assim que o Conselho Executivo do Fundo Monetário Internacional (FMI) aprovou no início de Dezembro, em Washington, o Programa de Financiamento Ampliado (EFF), no valor de 3,7 mil milhões de dólares, para apoiar as reformas económicas em curso em Angola, tendo como bases o Programa de Estabilização Macroeconómica (PEM) e o Plano Nacio-
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3,7 MIL MILHÕES USD O valor do pacote de ajuda externa a Angola anunciado pelo Fundo Monetário Internacional
nal de Desenvolvimento (PDN) 2018-2022. O montante é disponibilizado depois de o FMI notar a vontade de Angola de implementar as suas recomendações de reformas estruturais, ou seja, medidas de austeridade, que considera essenciais para enfrentar os obstáculos à diversificação e ao crescimento económico. O EFF aprovado pelo Conselho Executivo do FMI terá uma duração de três anos, num valor de 2,6 mil milhões de DES (Direitos Especiais de Saque, moeda de reserva do FMI), equivalentes a cerca de 3,7 mil milhões de dólares, 361% da quota de Angola na instituição, da qual é membro desde 19 de Setembro de 1989. Com o EFF aprovado, deverão ser apoiados os esforços de mewww.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2019
lhoria da governação, reduzidos os riscos associados às empresas estatais, corrigidos os obstáculos estruturais à competitividade e melhorado o acesso ao financiamento, aspectos que, entre outros, são considerados fundamentais para acelerar o crescimento económico liderado pelo sector privado. Assim, o programa acordado entre Angola e o FMI prevê ajudar o país a restaurar a sustentabilidade fiscal e externa e lançar as bases para uma diversificação económica sustentável. Nesse contexto, o país terá de implementar cortes orçamentais – destinados a moderar a dívida pública, que está em 80,5% do PIB este ano –, flexibilizar a taxa de câmbio e implementar uma política monetária para reduzir a inflação, actualmente nos 20,5%. Receios à volta das medidas Com efeito, as medidas de austeridade do FMI geram, desde Abril, receios, já que as reformas recomendadas poderão afectar funções sociais do Estado, embora se saiba que, em 2019, o Orçamento Geral do Estado (OGE), com despesas e receitas avaliadas em 11,3 biliões de kwanzas, regista um aumento de 18,7% face à alocação programada no OGE 2018. O escritor Jacques Arlindo dos Santos, antigo deputado do MPLA, expressou de modo efusivo os receios relativos à austeridade, na sua habitual crónica no “Novo Jornal”, no início de Dezembro: “(Mesmo sem as medidas em causa), a situação económica e social é péssima. Sou suficientemente lúcido para entender que a situação vigente não é boa, tanto política como económica”. O antigo técnico da Empresa Nacional de Seguros (ENSA) vai mais longe: “As dificuldades vão obrigar a uma hercúlea determinação de todos nós. Mais disciplina dos cidadãos e das instituições vai exigir-se para, entre o mais, se corrigirem as contas públicas”, analisa o escritor, referindo-se à necessidade de começar-se pelo princípio, ou seja, “por se erguer do chão a sonolenta economia do país”. É dessa “sonolenta economia” que o FMI pretende também ver fortalecido o sistema bancário, permitindo melhorar o ambiente de negócios assim como actualizar o quadro legal de LBC/CFT (combate ao branqueamento de capitais e financiamento do terrorismo). A propósito do entendimento alcançado, o Ministro das Finanças, Archer Mangueira, expressou, em nome do Executivo angolano, a satisfação pela aprovação do Programa de Financiamento Ampliado, www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2019
Serviço da dívida em Moeda estrangeira cai... Acordo de financiamento facilita a emissão de dívida pública Valores em %
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2016
2017
ME = Moeda Estrangeira
... mas o rácio do Serviço da dívida mantém-se Melhoria na colecta de receitas ainda sem grande impacto no rácio
confirmando assim o “apoio do FMI às reformas em curso, criando um ambiente macroeconómico favorável à retoma do crescimento inclusivo”. Para beneficiar do apoio, Angola apressou-se a implementar o Sistema Geral de Divulgação de Dados Reforçado do FMI, cujo processo ficou concluído exactamente em Dezembro. A medida, saudada pela instituição financeira internacional, visa melhorar a publicação de dados macroeconómicos oficiais referentes a Angola, particularmente através da Página Nacional de Síntese de Dados (NSDP), também referida por “central de dados” económicos, ou ainda e-GDDS, lançada pelo Conselho Executivo do FMI em Maio de 2015, com os objectivos de apoiar a melhoria da transparência dos dados, encorajar o desenvolvimento estatístico e ajudar a criar sinergias entre a disseminação de dados, formulação de políticas e assistência técnica. “A publicação dos dados no NSDP constitui um bem público no apoio à transparência das informações, em benefício dos decisores políticos, investidores e do próprio público”, sublinhou Louis Marc Ducharme, director do Departamento de Estatísticas e da Divulgação de Dados Económicos do FMI.
Valores em %
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115
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2017
2018
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2014
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2016
fonte PEM 2018
Receita Fiscal de 2018 alavancada pelo petróleo Apesar disso, a Lei de Bases das Privatizações vai definir novas modalidades de privatização para fazer diversificar a base tributária
159% 29%
Petrolíferas Não Petrolíferas
Reduzir a intervenção do Estado na economia Na sequência das recomendações do FMI, foi aprovada a proposta de Lei de Bases das Privatizações, que define novas modalidades de privatização, maior participação de investidores particulares e maior arrecadação de receitas para o Estado. Segundo o Ministro das Finanças, Archer Mangueira, com a proposta de lei, o Executivo pretende promover a redução do Estado na economia e possibilitar a concretização dos princípios fundamentais que regem a organização económica, estando já a ser feito um diagnóstico das empresas que têm potencial para a privatização. Enquanto isso, o economista Filomeno Vieira Lopes compreende a necessidade da redução do peso do Estado na economia, mas alerta para os riscos de uma má privatização: “A lógica tem de ser alterada. Não podemos fazer privatizações a favor de uma elite que está ligada ao poder. O que foi um desastre! Angola tem pessoas empreendedoras, não tem classe empresarial porque esta esteve sempre muito ligada ao partido do poder”, disse em entrevista ao semanário angolano “Vanguarda”, no início de Dezembro. O diploma incentiva a participação de pequenos investidores nos processos de
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Lá Fora
Angola
Aumentar a base tributária. Angola terá de fazer crescer a receita de impostos para lá do sector petrolífero
privatização, incluindo os próprios trabalhadores das entidades que sejam privatizadas. Ainda assim, se Filomeno Vieira Lopes receia que dirigentes tirem proveito das privatizações, os deputados da oposição temem que os estrangeiros venham a dominar a economia, comprando empresas de sectores estratégicos. Enquanto o Estado está a reduzir o seu peso na economia, várias medidas estão a ser tomadas para a formalização de pequenos negócios. A introdução do IVA em Angola, por exemplo, uma medida há muito reclamada pelo FMI, vai tirar maior proveito com a formalização de operadores económicos até então à margem da economia. A sua implementação progressiva, que estava prevista para Janeiro de 2019, passa para Julho, devido à legislação ainda em preparação. O FMI, com uma experiência vasta no campo da implementação do IVA em diversos países, concordou com o adiamento da entrada em vigor para o segundo semestre de 2019, de forma a conseguir-se um processo sólido. Entretanto, a implementação do referido imposto tem uma componente estratégica na diversificação das receitas. Só na sua primeira fase, a Administração Geral Tributária (AGT) espera que o IVA represente 4,2 % do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto o Imposto de Consumo, em vias de ser substituído pelo primeiro, constitui apenas 1,3%. Isto acontece por-
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“Não podemos fazer privatizações a favor de uma elite que está ligada ao poder. O que foi um desastre! Angola tem pessoas empreendedoras, não tem classe empresarial porque esta esteve sempre muito ligada ao partido do poder”, afirma Filomeno Vieira Lopes
que o Imposto de Consumo se resumia a uma classe restrita de contribuintes que realizavam pagamentos de importação, produção e alguns serviços de segurança e consultoria contabilística. Ao contrário, o novo sistema de impostos vai permitir alargar a base tributária a todos os serviços, reduzindo o comércio informal. Enquanto isto, o representante do FMI em Angola, Max Alier, afirmou em Novembro, em Luanda, que as medidas constantes do Programa de Estabilização Macroeconómica (PEM) do Executivo angolano para melhorar a economia estão a surtir os efeitos desejados, acreditando num crescimento na ordem dos 2,5% em 2019 e 3,5% até 2021. Em relação à inflação, Max Alier antevê uma percentagem abaixo dos 20% até ao final do ano, em relação ao período homólogo. “Acreditamos que a inflação vai continuar a diminuir e a dívida pública vai aumentar, se nos basearmos na dívida do Governo, da TAAG e da Sonangol”, disse. Para Max Alier, a Lei de Investimento Privado foi um passo na direcção certa para a diversificação da economia, que deixa de depender das receitas petrolíferas. O representante do FMI encara a informalidade como um sistema que deve ser combatido pelo Estado, ressaltando que a formalização da economia é uma fonte de inúmeros benefícios para o crescimento do país. A E&M soube que a AGT registou, até Dezembro, um aumento de 96% da receita total arrecadada face ao período homólogo, superando desta forma o objectivo traçado no OGE de 2018 em cerca de 27%. A receita petrolífera teve um crescimento de 159% relativo a 2017 e a não petrolífera um aumento de 29% face ao período homólogo. De acordo com a Administração Geral Tributária, os números reflectem a aposta da instituição na modernização de serviços e sobretudo em tecnologias de informação, proporcionando serviços mais céleres. Ao coro dos bons resultados junta-se igualmente o Standard Bank, cujo Gabinete de Estudos Económicos considerou, em Dezembro, que o acordo de financiamento com o FMI facilita a emissão de dívida pública nos mercados internacionais em 2019, não só para aumentar as reservas em moeda externa, mas também para tornar mais fácil a emissão de mais dívida pública em moeda estrangeira. texto Adão Gil fotografia Istockphoto e D.R.
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OPINIÃO
A importância das percepções Pedro Cativelos • Editor Executivo da Economia & Mercado dizem-nos as notícias que Moçambique tropeçou e derrapou,
pelo terceiro ano consecutivo, no Índice de Percepção da Corrupção da Transparência Internacional. Assim, tanto no quadro global quanto no que avalia o continente africano, por entre os países da África Austral e também no universo das nações falantes de português, o país regista a maior quebra. Cinco lugares abaixo, que o Centro de Integridade Pública associa à divulgação das chamadas “dívidas ocultas”, trazidas ao conhecimento desvelado em 2016, e de facto coincidentes com a quebra acentuada neste ranking. Agora, o país ocupa o lugar 161, num total de 183 países avaliados. Na verdade, mal ou bem, essa assunção é comum. E nem sequer são necessárias t-shirts para o comprovar. “Um aumento nos raptos e ataques a analistas políticos e jornalistas investigativos cria uma cultura de medo, que é prejudicial ao combate à corrupção”, lê-se no documento da Transparency International, que ainda cita o caso das dívidas ocultas, considerando-o “um dos maiores escândalos de corrupção em África”. Curioso, o facto de Angola ter crescido duas posições (para 165º, mas ainda abaixo de Moçambique) no Índice divulgado no final de Janeiro, continuando, ainda assim, no grupo de países “com elevadas taxas de corrupção”. A este respeito, assinala-se o facto de o presidente João Lourenço ter “promovido reformas com a demissão de mais de 60 funcionários do Governo”, destacando o “afastamento da filha do antigo Presidente José Eduardo dos Santos, Isabel dos Santos e a prisão do filho, José Filomeno Santos.“ A organização considera, de resto, que Angola “deve ser um país a seguir” e exorta o governo a “mostrar consistência na luta contra a corrupção”. Entre os outros lusófonos, a Guiné-Bissau que, ao descer um lugar, é o pior classificado. Do lado oposto, e sem surpresas, Cabo Verde, que subiu três lugares e já é o terceiro em todo o continente africano. Outro dado curioso, tem a ver com os Estados Unidos, Com 71 pontos, (menos quatro do que na avaliação anterior) e, pela primeira vez desde 2011, abandonaram o grupo dos 20 países líderes, caindo da 16ª para a 24ª posição. Claro que ainda não acabámos de ler a frase e pensamos nos dois anos de presidência de Trump. E nos dois que ainda lhe faltam. Até porque quem também acabou por tombar foi o Brasil, que ocupa a 105ª posição. Não, aí a culpa não foi de Bolsonaro que tomou posse há pouco mais de um mês. Até porque a conta
da corrupção no Brasil vai longa como uma parada carnavalesca no sambódromo. E até foi nisso, na sua dimensão quase inultrapassável, que ele ganhou o fôlego do povo e conquistou o lugar do poder no Planalto. Por fim, Portugal, o melhor lusófono e 20º no Índice. Curioso que, na semana em que se divulga esta aparente percepção de limpeza na vida pública, na imprensa portuguesa não se fale noutra coisa senão de corrupção. Diria que isso acontece há pelo menos 20 anos, passados entre percepções sucessivas sem resultados tomadas em conversas de café. Viriam, finalmente, a dar origem a escândalos efectivos (não penas) de corrupção. Da política ao futebol, da construção aos bancos e banqueiros. Talvez há tanto tempo se fale de corrupção, por ali, que as pessoas já se tenham esquecido dela. Com um ex-primeiro ministro (José Sócrates) em vias de ser condenado por corrupção e peculato e um ex-ministro seu (Armando Vara) a cumprir pena efectiva pelos mesmos crimes, a imprensa (a não fake) habituou-se a noticiar os naufráfios advindos dos enormes rombos financeiros que levaram alguns dos maiores bancos portugueses (BES e BPN) a fechar. Agora, é a Caixa Geral de Depósitos, o banco estatal, a meter água, mergulhada num pesadelo. Recentemente, uma auditoria ao banco do estado levada a cabo pela consultora EY, revelava algo surpreendente. Entre 2007 e 2012 (Vara era lá administrador, por acaso), 7% das operações analisadas foram autorizadas contra os pareceres de análise de risco desfavoráveis, sem terem tido toda a informação exigível e sem as garantias reais necessárias em situações de maior risco, o que redundou na concessão de créditos milionários que se traduziriam em imparidades avaliadas em 1,2 mil milhões de euros. Para já. Há quem avente que chegam aos 2 mil milhões. A auditoria foi pedida pelo governo, paga pelos contribuintes (que já são, por inerência, accionistas do banco do Estado) mas, o ministério das Finanças esclareceria que “no âmbito do exercício da sua função, deu instruções para que o relatório fosse remetido ao Banco Central, bem como a outras autoridades judiciais de inspecção, de supervisão ou em matéria tributária”, não o tendo disponibilizado ao Governo por conter “informação sujeita a sigilo bancário”. Claro que tudo acabou por se tornar público. E foi aí que o Público descobriu um novo nível de percepção da corrupção que não se mede em nenhum estudo. A percepção de que está na hora de mudar.
Moçambique voltou a cair no índice de corrupção. Angola subiu porque João Lourenço quer mais luz no país. Os EUA caíram porque Trump não gosta de gastar energia. E Portugal já não leva a mal
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ócio
(neg)ócio s.m. do latim negação do ócio
68 Nesta edição, pedalamos pelo que já foi o maior palmar do mundo. Uma boa desculpa para revisitar Queimane
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e 70 O destino gourmet de Fevereiro é o Spicy Thai, um lugar para despertar os cinco sentidos em pleno centro de Maputo
71 A escolha da Adega recai, este mês, no famoso sake Hakutsuru Junmai Dry
Quelimane
Uma alameda de palmar Quelimane
Direcção Provincial de Cultura e Turismo da Zambézia, tel: 256 24218130
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com bicicletas dentro várias crónicas narram que já foi o maior palmar do mundo. Hoje, não se sabe qual é a posição que ocupa, mas o palmar da cidade de Quelimane, na província da Zambézia, centro de Moçambique, continua a dar coqueiros aos magotes, o que transforma a urbe numa autêntica alameda. Ali, em Quelimane, a cerca de 1 600 quilómetros de Maputo, as palmeiras abrem alas para o asfalto ou a terra batida passarem com os incessantes cortejos de bicicletas dentro. Fascinante é vê-las pela Avenida Samora Machel, numa extensão de 45 minutos a pé ou de 15 minutos de carro, desde o Aeroporto de Quelimane até ao Txapo-Txapo. Ou pela Avenida Eduardo Mondlane, uma das principais do município. A maior e melhor gra-
ciosidade do palmar de Quelimane capta-se ao longo dos 35 quilómetros da estrada que liga a cidade à praia de Zalala. Mas se Quelimane é palmar também é arquitectura rica. E a imponência dos edifícios faz jus ao estatuto de quarta maior cidade de Moçambique. A morfologia das construções da urbe é uma justa homenagem à chamada arquitectura moderna tropical. A Biblioteca Municipal de Quelimane, na Praça da Borga, é um dos arquétipos do desvelo arquitectónico com que a cidade foi construída. Segue uma geometria projectada em forma de cubo e assente num interior formado por alvéolos constituídos por quadrados salientes, que contêm as aberturas usadas como estantes. Pela Avenida
da Marginal, mira-se o rio dos Bons Sinais – rio Cuacua para os locais – que vai dar ao Porto de Quelimane, uma das mais importantes infra-estruturas económicas da cidade e da província da Zambézia. Estar em Quelimane é também fazer uma viagem simbólica no tempo.
atrás do ciclista está sempre sentado um passageiro
Em Quelimane, se atrás do ciclista vem um assento forrado de esponja e napa, é um táxi, descreve Timóteo Dias, 26 anos, a bordo de uma “bike-táxi”. Mas em Quelimane, qual é a bicicleta que “não faz” táxi? São aos milhares as que circulam todos os dias. Em pelotão ou num solitário “contra-relógio” emergem por todos os lados. Numa Avon Ero 26, a marca mais presente na frota das bicicletas que inundam Quelimane, pode seguir a fa-
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mília toda. Pai e filho à frente e mãe no assento de trás, com mais um filho às costas. Com a ajuda de uma, faz-se a mudança de casa. Vêem-se homens literalmente cobertos com os seus pertences a transferir-se de um local para o outro. Até o tecto pode ir junto, na bicicleta, pois claro. É normal ver-se colmo usado para a cobertura de casas quase que a engolir a bicicleta e o ciclista. Alguém está a mudar de residência. A bicicleta faz parte do tecido sócio-económico de Quelimane e é uma marca dentro de uma marca e um importante ganha-pão para os ciclistas que cobram pelos préstimos, mas também para os passageiros que a confiam para não atrasar os seus afazeres. Timóteo Dias pega na sua às cinco da manhã e despega às 22 horas. Cobra, em média, dez meticais. Sobre quanto faz de receita, responde apenas: “Quem tem força, pode fazer entre 250 e 300 meticais por dia, quem não tem força pode não passar dos 100”. Se calhar, sem darem por isso, as mulheres de Quelimane têm na bicicleta um aliado para a promoção do seu estatuto social na luta pela igualdade de género. Pedalam tão bem ou melhor que os parceiros e ganham mais um degrau na escada do reconhecimento social. Contam com um meio que as libertou das agruras de algumas lides domésticas, porque podem ser expeditas nas tarefas do seu dia-a-dia. Para as gentes de Quelimane, a bicicleta é também uma questão de soberania. Não reagem com simpatia às tentativas de disciplinar o sector e tratam com desdém os automobilistas. As avenidas e vielas são ciclovias. E ponto. Mas porquê a bicicleta?”. A resposta vem de Abel Leite, empresário da restauração: “É um meio barato e não é fisicamente exigente, porque Quelimane é uma cidade plana”. texto José Machicane fotografia Ricardo Franco
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A bicicleta faz parte do tecido sócio-económico de Quelimane, uma verdadeira marca dentro de uma outra, e um importante ‘ganha-pão’ informal ROTEIRO Como ir
LAM, Ethiopian e Fastjet disponibilizam vôos diários entre Maputo e Quelimane. Onde dormir
No centro da cidade, pode hospedar-se nos Hotéis Milénio, Elite, Flamingo ou na Residencial Vila Nagardás. Fora da cidade, pode ficar no Zalala Beach Hotel. Onde comer
O restaurante Vila Nagardás, na Praça da Borga; o restaurante Bar Marina Tchapo Tchapo, na Avenida Samora Machel; ou ainda o Bar Xeque Mate. O que fazer
As bicicletas-táxi oferecem opções de city tours. Pode ainda fazer uma visita guiada pela Delegação do Arquivo de Património Cultural de Moçambique ou à Catedral Velha. Não deixe de contemplar, a partir da Quelimane, o histórico rio dos Bons Sinais.
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Spicy Thai
Av.Julius Nyerere 657 Maputo Reservas: 84 309 9993
g rica em sabores e texturas, a comida tailandesa conquistou o mundo inteiro e é, sem dúvida, uma das grandes experiências para quem tem a oportunidade de visitar o país. Trata-se de uma culinária que exibe uma fascinante complexidade, cheia de subtilezas e nuances, algo particularmente evidente quando pensamos, por exemplo, como o uso dos temperos permite misturar o doce, o salgado, o ácido e o picante num mesmo prato. Como seria de esperar, a gastronomia tailandesa sofreu múltiplas influências, nomeadamente de chineses, indianos e europeus, graças aos contactos e trocas comerciais que foi tendo ao longo da sua história, com estas regiões. As especiarias, por exemplo, chegaram das Índias; as pimentas foram introduzidas pelos portugueses e, da China, vieram as técnicas de fritura com óleo e a preocupação em harmonizar os cinco sentidos do paladar: amargo, salgado, azedo, picante e doce. No entanto, e como sempre
‘Spicy Thai’, cozinha acontece nas gastronomias mais sofisticadas, os tailandeses souberam apropriar-se destas influências e dar-lhe a sua própria interpretação. As especiarias e as pimentas são abundantes nesta culinária mas o seu uso varia de região para região e de acordo com as estações do ano. Por isso, é possível encontrar tanto criações picantes como suaves. Gengibre, alho, erva-cidreira, chillies e outras ervas enriquecem pratos como sopas, peixes e carnes, acompanhados do tradicional arroz, a base da cozinha tailandesa, e que aparece quer na forma de noodles, ou cozinhado ao vapor. Um dos ingredientes mais importantes nos pratos principais tailandeses é o caril. No entanto, o curry tailandês é bem diferente do dos indianos. Enquanto este último é em pó, o tailandês é uma pasta que leva ingredientes frescos e es-
Um dos ingredientes mais importantes nos pratos principais tailandeses é o caril. No entanto, o curry tailandês é bem diferente do dos indianos
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para despertar os cinco
sentidos peciarias que são macerados no pilão. A pasta pode ser cozida com carnes, aves, peixes, bambu ou outros vegetais. Em Maputo existem vários restaurantes tailandeses. A nossa sugestão deste mês é uma visita ao “Spicy Thai”, um dos melhores da cidade. Nas entradas existem várias opções interessantes. Para além dos spring rolls, o satay de frango é incontornável. As sopas têm uma presença muito forte no dia-a-dia dos tailandeses. Aparecem em todas as refeições, inclusivé no café da manhã. É mais um caldo, para abrir o apetite, do que propriamente uma sopa. No menú do “Spicy Thai” sugerimos experimentar a Tom Yum. Esta sopa, que pode incluír ingredientes diversos, é considerada por muitos um dos pratos mais saborosos e representativos do país. Para além de várias saladas (picantes), o menu inclui o prato mais famoso da cozinha tai-
landesa: o Pad Thai. Na Tailândia, o Pad Thai está em todo o lado, tanto nas barracas de rua de rua como nos restaurantes mais conceituados. Por isso, há uma infinidade de formas de preparo mas a base permanece: noddles salteados com soja, alguma carne, camarões, tofu ou vegetais. É igualmente comum que se adicione amendoim. Os molhos picantes podem ser incorporados conforme o gosto de cada um. Outra sugestão é o Massaman Curry, um dos outros pratos mais populares no país. Pode ser preparado usando vários tipos de carne (as opções no “Spicy Thai” são ou frango ou vaca) e é normalmente acompanhado com arroz branco e uma salada de pepino, chilli e cebola, temperada com vinagre e açúcar. Há, portanto, motivos de sobra, para uma visita ao “Spicy Thai”, no coração de Maputo. texto Rui Trindade fotografia Jay Garrido
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Hakushika Yamadanishiki Honjozo País de origem: Japão Região: Hyogo Ingredientes: Arroz maltado e fermentado, água e álcool destilado Tipo de arroz: Yamadanishiki Polimento: 70% Sabor: Neutro Teor Alcoólico: 14,7%
Hakutsuru Tokusen Yamadaho País de origem: Japão Região: Hyogo Ingredientes: Arroz, levedura, água Tipo de arroz: Yamadaho Polimento: 45% Sabor: Neutro Teor Alcoólico: 15,5%
Hakkaisan Ginjo País de origem: Japão Região: Nigata Ingredientes: Arroz, água, koji, álcool Tipo de arroz: Gohyakumangoku, Todorokiwase, Yamadanishiki Polimento: 50% Sabor: Seco Teor Alcoólico: 15,5% www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2019
só muito recentemente é que o sake começou a ser devidamente conhecido
À DESCOBERTA
DO SAKE apesar da gastronomia japonesa ser uma das mais globalizadas e o sushi se ter tornado um dos seus produtos mais emblemáticos, só muito recentemente é que o sake, uma bebida com uma história milenar naquela país, começou a ser devidamente conhecido e apreciado. Esta popularização do sake a nível mundial deve-se, em parte, a uma jovem geração de mestres de sake japoneses que lhe estão a dar uma nova vida. Daí que comece agora a ser reconhecido como uma bebida sofisticada, elegante e adequada para harmonizar uma vasta variedade de pratos. Outro factor, algo inesperado, que tem contribuído para este interesse pelo sake, deriva do facto de muitos ‘bartenders’ terem descoberto que a bebida funcionava muito bem em inúmeros cocktails. O sake tem desempenhando um papel central na vida e na cultura japonesas dos últimos 2 mil anos. Embora a sua origem não seja bem conhecida, antigos relatos falam de seu surgimento no período Yayoi (300 a.C. a 300 d.C.) sendo nessa altura consumido exclusivamente pela nobreza. Posteriormente, a sua produção passou a ser controlada pelos monges, que consumiam a bebida para elevar o espírito e entrar em contacto com os deuses (daí o sake ser muitas vezes referido como a “bebida dos deuses”). Embora o sake seja muitas vezes designado como “vinho de arroz”, o seu processo de produção lembra mais o de uma cerveja. As fábricas de sake, chamadas de ‘kuramoto’, produzem a bebida utilizando apenas dois ingredientes: arroz e água. Os sakes são classificados pelo grau de polimento do arroz e pela adição de álcool destilado. Quanto mais polido, maior a qualidade do sake. Os sakes mais consumidos no dia-a-dia são o Junmai e o Honjozo, produzidos com grãos polidos com 70% de aproveitamento. Mas existem também outras duas variedades principais: o Ginjo e o Daiginjo. Curiosamente, ao contrário do que se pensa, a maioria dos sakes não harmoniza com o sushi. Como ambos são feitos de arroz, seria uma redundância de sabor. O sake combina melhor com o sashimi, e o sushi com o chá. A nossa sugestão principal do mês vai para o Hakutsuru Junmai Dry – a Hakutsuru é a maior produtora de sakes do Japão – que se caracteriza por ser bem-amadurecido, encorpado e levemente seco. Utiliza dois tipos de arroz (Gohyakumangoku e Nihonbare) com 70% de polimento, tem um teor alcoólico de 15,5% e pode ser consumido frio, morno ou quente consoante o gosto.
hakutsuru junmai dry
País
Japão Região
Kobe
IngredienteS
Arroz fermentado, álcool, água e açúcar Tipo de arroz
Gohyakumangoku e Nihonbare Polimento
70%
Sabor
Seco
Teor Alcoólico
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música filmes livros EXPOSIÇÕES “FIVE PHOTOGRAPHERS / CINCO FOTÓGRAFOS” Um tributo a David Goldblatt: exposição de Alexia Webster, Jabulani Dhlamini, Mauro Vombe e Pierre Crocquet Curadoria: John Fleetwood e David Goldblatt
Centro Cultural Franco-Moçambicano Sala de Exposições Inauguração: 5 de Fevereiro Hora: 18h30 Patente até 4 de Março Reflexos – Lizzie Ana
Fundação Fernando Leite Couto Galeria Patente até 25 de Fevereiro
MÚSICA Alcídio 4D
Fundação Fernando Leite Couto Dia 7 de Fevereiro Hora: 18h LUCIBELA Com: Aldair Neves, Walter Mabas, Hélder Gonzaga, Tony Paco e Onésia Muholove
Centro Cultural Franco-Moçambicano Sala Grande Dia 15 de Fevereiro Hora: 20h30
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MGODO TRACKS Colaboração entre Moçambique, África do Sul e Bélgica Com: Matchume Zango, Walter Verdin, Tinoca Zimba, Noma Nyiki, Nelton Miranda e Stélio Mondlane
Centro Cultural Franco-Moçambicano Sala Grande Dia 21 de Fevereiro Hora: 19h
TEATRO Os Netos de Ngungunyane A partir da triologia As Areias do Imperador de Mia Couto
Centro Cultural Franco-Moçambicano Dia 8 de Fevereiro Hora: 20h30 Teatro Avenida Dia 8 de Fevereiro Hora: 20h30 Workshop c/ os actores José Rodrigues e Suzana Branco (Teatro O Bando) no âmbito da apresentação da peça “Os Netos de Ngungunyane”
• em destaque Digital Democracy, Analogue Politics: How the Internet Era is Transforming Kenya Nanjala Nyabola Editado por Zed Books (dísponivel em www.amazon.com)
Embora o livro, recém-publicado, “Digital Democracy, Analogue Politics: How the Internet Era is Transforming Kenya” da autoria de Nanjala Nyabola, se foque especificamente na situação queniana, as reflexões produzidas estão longe de se poderem circunscrever apenas àquele país. De facto, a recepção da critica ao livro tem destacado, precisamente, a circunstância da análise de Nanjala Nyabola poder ser extrapolada, sem dificuldade, para outros países do continente. Nanjala Nyabola defende, à semelhança do que se tem vindo a verificar em ensaios recentemente publicados por outros autores, que tem predominado, até agora, uma “narrativa” excessivamente simplista e reducionista que propõe a noção, empiricamente não confirmada, de que “mais tecnologia = mais democracia”. Em “Digital Democracy, Analogue Politics: How the Internet Era is Transforming Kenya”, Nanjala Nyabola, apoiando-se no conceito de “esfera pública” desenvolvido pelo filósofo alemão Jürgen Habermas, analisa as múltiplas problemáticas que resultam da intersecção do mundo digital (online) com o analógico (offline) procurando, nomeadamente, avaliar as dinâmicas complexas (e conflituais) de uma realidade em que os poderes “analógicos” (em particular o Estado), embora produtores de uma “narrativa” que glorifica as virtudes do “digital”, sobretudo na vertente do desenvolvimento económico, procura, em simultâneo, limitar (ou mesmo silenciar) a dimensão democrática que lhe é inerente.
Camões - Centro Cultural Português em Maputo Dia 7 de Fevereiro Hora: 9h30-13h
África do Sul
Hélio Nhanala
Cape Town Art Fair
Centro Cultural Franco-Moçambicano Dia de 21 Fevereiro Hora: 18h
Camões - Centro Cultural Português em Maputo Dia 7 de Fevereiro Hora: 9h30-13h www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2019
Arte contemporânea cape town, na África do Sul, vai acolher durante o mês de Fevereiro dois grandes eventos de dimensão internacional: a Cape Town Art Fair, uma das mais importantes feiras de arte contemporânea no continente africano (e não só), e o festival Design Indaba que se tornou, em anos recentes, um destino incontornável para designers, arquitectos e criativos de todo o mundo. A edição de 2019 da Cape Town Art Fair vai decorrer de 15 a 17 de Fevereiro no International Convention Centre. O programa desta edição da feira de arte contemporânea de Cape Town confirma, uma vez mais, que este evento se tornou um dos principais pontos
e design juntam-se de convergência de artistas e galerias de todo o mundo. De regresso a Cape Town estão galerias internacionais como: a Perrotin (Paris/França), a Galleria Minini (Brescia/Itália), a Galerie Cécile Fakhoury (Abidjan/Costa do Marfim), a Galleria Continua (San Gimignano/Itália), a Circle Art Gallery (Nairobi/Quénia), a Officine dell’Immagine (Milão/Itália), a Gregor Podnar (Berlim/Alemanha), a First Floor Gallery (Harare/ Zimbabwe), a October Gallery (Londres/Reino Unido), a Galleria Giovanni Bonelli (Milão/ Itália), a Addis Fine Art (Addis
Em Fevereiro realiza-se a Cape Town Art Fair, uma das mais importantes feiras de arte contemporânea no continente africano, e não só
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em Cape Town
Cape Town Art Fair
Cape Town De 15 a 17 de Fevereiro
Ababa/Etiópia), e a Afriart Gallery (Kampala/Uganda). Mas há também um número significativo de novas galeria internacionais a participar: a Templon (Paris/França), a MAGNIN-A (Paris/França), a LOOM Gallery, a Ayyam Gallery (Dubai), a Retro Africa (Lagos/Nigéria), a Lia Rumma (Milão/Itália), a Omenka Gallery (Lagos/Nigéria), a Montoro12 Gallery (Roma/Itália) e a Edoardo Secci Contemporary (Florença/Itália). De referir ainda, para além da participação de numerosas galerias sul-africanas, a presença de duas galerias angolanas: a ELA - Espaço Luanda Arte e a This is Not a White Cube. texto rUI tRINDADE fotografia d.r.
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Livewire & Hera
O primeiro modelo eléctrico da HarleyDavidson enfrenta a concorrência da Hera, da Curtiss Motorcycles
Motos eléctricas chegam em força
em 2019 a harley-davidson acaba de apresentar, nos Estados Unidos, a sua primeira moto eléctrica, a LiveWire, que vem sendo desenvolvida desde 2014 e deverá chegar ao mercado norte-americano já em 2019. A LiveWire insere-se num novo conceito que a Harley designa de “twist and go”, através do qual a empresa pretende atraír novos consumidores, sobretudo mais jovens, e posicionar-se no novo (e crescente) segmento das motocicletas eléctricas. Uma decisão que pode parecer algo surpreendente, tendo em conta o perfil histórico da marca, mas que se torna mais compreensível se se tiver em conta que as vendas das motorizadas Harley-Davidson têm estado em queda nos últimos dois anos, não só a nível global como, de forma mais preocupante, no seu principal mercado, os Estados Unidos. Apesar de a Harley-Davidson
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continuar a ser uma marca poderosa, a verdade é que irá ter de competir com uma série de concorrentes muito fortes, como a Curtiss Motorcycles. Conhecida como Confederate Motors, uma marca centenária e histórica, a Curtiss, não só deixou para trás o motor de combustão (no qual a Confederate se baseava), como aposta agora em motores eléctricos e modelos com um design arrojado. No ano passado, lançou a Zeus, uma mota eléctrica com 140 kW, o primeiro motor elétrico “e-twin” do mundo e um design fabuloso. Entre as suas principais características, o destaque vai para o estilo que a torna inconfundível, e que não seria possível sem a complexa suspensão da frente e o estranho braço oscilante traseiro, com a Curtiss a colocar o motor eléctrico numa posição
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mais elevada, a fim de deixar espaço para as baterias, sempre mais pesadas, junto ao solo. Agora a Curtiss Motorcycles prepara-se para colocar no mercado a Hera. Este novo modelo inspira-se na moto equipada com motor V8, que Glenn Curtiss usou para bater o recorde de velocidade para um veículo de duas rodas, atingindo os 219,3 km/h a 23 de janeiro de 1907, numa praia na Florida. À semelhança da moto de 1907, a Hera será bastante longa, com as baterias que dão potência ao motor eléctrico montadas de modo a parecerem um motor V8 a gasolina, e uma distância entre eixos de 168 cm. Com acabamentos luxuosos, incluindo jantes cobertas e o uso em profusão da fibra de carbono, para reduzir o peso total, para Matt Chambers, CEO da Curtiss Motorcycles, a Hera é a moto mais luxuosa do mundo.”
A Harley-Davidson acaba de apresentar a LiveWire, a sua primeira moto eléctrica www.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2019