o futuro está no ar moçambique IDaI “Não há atrasos Na ajuda à recoNstrução” na voz De joão carlos Pó jorge fala sobre o futuro da laM DoIng busIness as assiMetrias No MaPa dos Negócios eM MoçaMbique socIeDaDe ‘café da goroNgosa’ vai ser coMercializado Pela NesPresso Mais Passageiros, voos e coMPaNhias aéreas dão Nova vida a uM segMeNto estruturaNte Agosto 2019 • Ano 02 • no 17 Preço 200 MZn 9789895408504 00017
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Observação
A guerra dos tomates a imagem de uma celebração única no mundo, anualmente, no sul de espanha 8 Radar
Panorama economia, banca, Finanças, Infra-estruturas, Investimento, País 12 Macro
Idai o ponto da situação à ajuda pós-ciclones, com a garantia de que, até agora, “não há atrasos” 20 nação
AvIAçãO CIvIl
20 O futuro está no ar a e&M lança um olhar sobre a aviação civil e analisa o papel que terá no desenvolvimento económico do país na próxima década 28 na voz de... João carlos Pó Jorge, director-geral da LaM 32 ProvÍncIa
Matola a cidade mais industrial do país sofreu com a crise mas já dá mostras de recuperação 38 Mercado e FInanças
Doing Business relatório intercalar do banco Mundial assume as disparidades de fazer negócios no país 42 eMPresas
ADPP a história de uma associação que, fruto do seu trabalho, ganhou dimensão nacional
44 MegaFone
Marketing o que está a acontecer no mundo das marcas em Moçambique e lá por fora
46 fIgura do MÊs
federação das Câmaras de Comércio evaristo Madime fala da recém-criada Federação e da sua importância para o fomento do comércio em Moçambique
48 socIedade
Café do Gorongosa a história de um produto que faz da sustentabilidade uma marca para o mundo
52 lÁ Fora
Angola o desafio de contornar o vertiginoso e perigoso declínio das reservas Internacionais Líquidas
59 ócio
60 escape uma viagem até ao Lago do niassa 62 Gourmet a descoberta do socko café e dos ícones da gastronomia contemporânea 63 Adega o cem reis syrah 2016 celebra uma casta antológica 64 Agenda Música, livros, filmes 65 Arte resgate, uma produção independente de Mickey Fonseca e Pipas Forjaz 66 Ao volante gladiator assinala regresso da Jeep
www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2019 3 Sumário
Conferência sobre Transporte Aéreo: um espaço de reflexão
Iacumba Ali Aiuba
realizou-se em julho, a 1ª Conferência Internacional sobre o transporte aé reo, turismo e carga aérea, um espaço privilegiado de reflexão sobre os cons trangimentos actuais dos vários operadores, troca de experiências de repre sentantes de outros países e em que foram reconhecidas as várias oportuni dades potenciais de negócios futuros, no contexto de realização de projectos no Norte de Moçambique relacionados com os hidrocarbonetos. Mais uma vez, voltaram à tona as velhas discussões sobre taxas e im postos nos serviços de transporte aéreo que encarecem as tarifas e di ficultam a fluidez do turismo inibindo o tráfego aéreo, a ineficiência da transportadora aérea de bandeira e a insustentabilidade crónica das empresas públicas em geral. Estas conferências tornam-se ainda mais eficazes e úteis se as discussões ou re flexões forem levadas a sério e alinhadas com a visão estratégica do Governo, traduzindo-se em acções concretas e visíveis que permitam alterações estru turais nos sectores. Para que os benefícios sejam sentidos pelos vários actores e beneficiários dos serviços. O país continua, ainda, a não imprimir mudanças estruturais, por exemplo, no sector empresarial do Estado que passou a contar com uma nova Lei que esten deu o leque empresarial, ao incluir, na alçada do IGEPE, as empresas públicas, muitas delas, representando um peso de centenas de milhões de dólares nas con tas do Orçamento do Estado, algumas em situação de falência técnica, com insufi ciência crónica de liquidez e sem capacidade de endividamento. Estas empresas requerem uma visão estratégica clara para que se possam de senvolver acções alinhadas, consubstanciadas num plano estruturado capaz de provocar alterações profundas para o restabelecimento do equilíbrio patrimo nial e das contas, e um melhor desempenho operacional, económico e financei ro, que se irá traduzir na melhor prestação de serviços a preços competitivos e na valorização das empresas. Tudo isto em conjugação com outras medidas es tratégicas governamentais que influenciem positivamente mudanças nos vá rios sectores, que estimulem o tráfego aéreo de passageiros e carga pela via da redução ou eliminação de taxas e impostos e assinaturas de vários protocolos. Em suma, é necessária uma visão estratégica clara e integrada do Governo sobre os vários sectores, Empresas Públicas e Participadas, alinhadas com acções con cretas, cujo impacto económico e social deve ser sentido de facto e mensurável.
MÊS ano • nº 01
AGOSTO 2019 • Nº 17
PROPRIEDADE Executive Moçambique DIRECTOR Iacumba Ali Aiuba
DIRECTORA EDITORIAL DO GRUPO EXECUTIVE Ana Filipa Amaro
DIRECTOR EXECUTIVO Pedro Cativelos COnsELhO EDITORIAL
propriedade Executive Mocambique Liquatis nienis doluptae velit et magnis enis necatin nam fuga. Henet exceatem seque cus, sum nis nam iu Qui te nullant adis destiosse iusci re in prae voles sant laborendae nihilib uscius sinusam rehentius eos resti dolumqui dolorep reprem vendipid que ea et eumque non nonsent qui officiasi
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Alda Salomão; António Souto; Narciso Matos; Rogério Samo Gudo JORnALIsTAs Celso Chambisso; Hermenegildo Langa; Cristina Freire, Elmano Madaíl, Rui Trindade PAGInAÇÃO José Mundundo FOTOGRAFIA Jay Garrido
REVIsÃO Manuela Rodrigues dos Santos PRODUÇÃO Executive Moçambique PUBLICIDADE Ana Antunes (Gestora Comercial - Moçambique) ana.antunes@ executive-mozambique.com; iona@iona. pt/contacto@iona.pt (Portugal)
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ADMInIsTRAÇÃO, REDACÇÃO E PUBLICIDADE Executive Moçambique; Av. Salvador Allende, nº 1039, Bairro Polana Cimento, Maputo – Moçambique; Tel.: +258 21 485 652; Tlm.: +258 84 311 9150; geral@executive-mozambique.com
DELEGAÇÃO EM LIsBOA Telheiras, Rua Poeta Bocage, Nº 2 – 1º Escritório D • 1600233 Lisboa • Portugal; Tel. +351 21 381 3566; iona@iona.pt
IMPREssÃO E ACABAMEnTO
Minerva Print - Maputo - Moçambique
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TIRAGEM 4 500 exemplares núMERO DE REGIsTO 01/GABINFO-DEPC/2018
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www.economiaemercado.co.mz | Abril 2019
Editorial
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Director da revista Economia & Mercado
observação
Agosto, Buñol, EspAnhA A guerrA dos tomAtes
Nos arredores de Valência, a pequena vila de Buñol, tornou-se famosa mundialmente por La Tomatina, uma batalha sui generis que atrai dezenas de milhares de turistas de todo o mundo, motivados pela nobre arte de atirar tomates a quem estiver por perto, entre as 11h da manhã e o meio dia. Calcula-se que, anualmente (este ano realiza-se a 28 de Agosto), sejam atirados mais de 100 mil quilos de tomate fornecidos por uma empresa que separa para a festa as unidades que não cumpram os requisitos básicos para serem comercializadas. Há quem diga que a Tomatina terá nascido em 1945, fruto de uma iniciativa publicitária da marca de polpa Guloso, que aproveitou para aí gravar um anúncio publicitário em que as pessoas se digladiavam com tomate. Mas outros dizem que não terá sido bem assim, e que tudo terá acontecido num acaso, quando alguém atirou o primeiro tomate, dando início a uma guerra sumarenta que nunca mais parou até aos dias de hoje. Fossem todas as guerras feitas assim, sem malícia e com muito sumo vermelho, just for the fun.
FoToGrAFiA D.R.
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extractivas
ministrativo de Nairoto, onde já foi instalado um pequeno complexo mineiro no meio de uma densa floresta.
Governo lança Projecto de habitação em larGa escala
Habitação. O Governo lançou um projecto de construção de 35 mil casas para jovens e funcionários do Estado, que pode arrancar no início do próximo ano, sendo 15 mil no Sul, 10 mil no Centro e igual número no Norte do país. O projecto insere-se na coope ração Moçambique – China e será implementado numa Parceria Público–Privada (PPP) entre o Fundo de Fomen to de Habitação (FFH) e a gigan te chinesa CITIC Construções. Foram, de resto, os próprios dirigentes das duas institui ções que assinaram o acordo
que viabiliza o projecto, um acto testemunhado pelo mi nistro das Obras Públicas, Ha bitação e Recursos Hídricos, João Osvaldo Machatine, e pela ministra da Juventude e Desportos, Nyeleti Mondlane. Machatine lembrou que a assinatura do acordo “fecha uma longa etapa de negocia ções com várias rondas entre Maputo e Pequim num mo delo de parceria para jovens e funcionários públicos que ainda não têm casa própria”. O PCA do FFH estima que os preços das habitações irão custar até 40 mil dólares.
Ouro. Foram descobertaz grandes reservas de ouro na província de Cabo Delgado, que se calcula que estejam en tre as maiores da África, se gundo uma pesquisa reali zada pela Mwiriti, uma das maiores mineradoras do país. De acordo com Azghar Faqhr, director-geral da Mwiriti, Lda, “os primeiros resultados indi cam uma reserva de ouro seis vezes maior do que a que foi descoberta na África do Sul”. Além da quantidade de mine ral existente, a reserva é con siderada especial devido à ocorrência de ouro, com qua se 100% de pureza.
A reserva está localizada no distrito de Montepuez, concre tamente no remoto posto ad
Gás. Um grupo de empresá rios moçambicanos e fran ceses assinaram, em Mapu to, um protocolo de coopera ção tendo em vista o negó cio de gás e petróleo da bacia do Rovuma, Cabo Delgado. O acordo estabelece que os franceses transfiram conhe cimento em diversos domí nios e firmem parcerias com empresas moçambicanas.
A delegação empresarial francesa era composta por cerca de 30 firmas com larga experiência na indústria do gás e petróleo, com destaque para a multinacional Total.
comércio
ZCL. Uma delegação moçam bicana chefiada pela vice -ministra dos Negócios Estran geiros e Cooperação, Maria Manuela dos Santos Lucas, reafirmou “o compromisso re lativo aos objectivos da Zona de Comércio Livre (ZCL) em África”, no princípio de Julho
passado em Niamey (Níger), durante a 12ª Sessão Extraor dinária da Conferência dos Chefes de Estado e de Governo da União Africana (UA). Durante o evento, os Chefes de Estado e de Governo ce lebraram ainda o primeiro aniversário da assinatura do acordo que estabelece a ZCL e lançaram a fase operacional do Mercado Interno Africano. Na ocasião, os governantes decidiram que o Gana será a sede da ZCL Africana.
refere que 2018 “foi o ano mais crítico, principalmente nos sec tores da saúde e saneamento.”
No rastreio das despesas de Janeiro a Setembro, a coliga ção constatou ainda ter ha vido “falhas e limitações nas projecções” do Orçamento do Estado de 2018 e “no seu en quadramento com a realida de económica do país.”
As receitas do Estado só alcan çaram 68,4% do previsto, uma falha de 6,6%, tendo os recur sos externos alcançado 54% da meta prevista.
Sistema financeiro. O Banco Mundial (BM) considera que os actuais requisitos para abertura de uma conta ban cária “excluem 50% dos mo çambicanos”. O director do BM, Mark Lundell, defende, por isso, “mais reformas no sistema financeiro.”
Despesa pública. Uma pesquisa da coligação de organizações da sociedade civil moçam bicana, liderada pelo Fórum de Monitoria do Orçamento (FMO), concluiu que a despesa pública em sectores sociais esteve “aquém” do espera do nos últimos quatro anos. Divulgada em Julho, a análise
A esse propósito, uma missão do Banco Mundial e da Alian ça para a Inclusão Financeira esteve, em Julho, em Maputo, para a avaliação de médio prazo da Estratégia Nacional de Inclusão Financeira, que estabelece como meta 60% dos moçambicanos com idade adulta com acesso a uma con ta bancária até 2022.
RADAR 8 www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2019
Cooperativismo. Um estudo da consultora WinResources projecta ganhos na ordem de 25 mil milhões de meti cais para os cofres públi cos até 2030, provenientes do negócio e movimento das cooperativas. “Acredita mos que essa contribuição pode ser ainda maior, uma vez que o movimento coo perativo está a crescer por todo o território nacional.” Nesse sentido, foram identi ficadas muitas associações que, quando organizadas em cooperativas, “podem ultra passar largamente esse va lor (25 mil milhões de meti cais)”, segundo Pedro Tivane, consultor da WinResources.
de Inhambane) e Maputo, e uma central de ciclo combina do, disse uma fonte do Minis tério dos Recursos Minerais e Energia. A mesma fonte adianta que, com esta doação, ficam reunidos os 550 milhões de dólares necessários para a construção da linha de alta tensão com uma extensão de 563 quilómetros.
Há que recordar que o BM aprovou, em Junho passado, doações e garantias no mon tante de 420 milhões de dóla res para o Projecto Regional de Electricidade de Temane (TREP), com a finalidade de re forçar a capacidade de trans missão de energia eléctrica doméstica e aumentar tam bém a capacidade de produ ção através de investimentos do sector privado.
certiFicado de dePÓsito como instrUmento imPUlsionador da comercialiZação aGrÍcola
Caju. O Executivo está à pro cura de formas de reduzir custos de tratamento de ca jueiros e atenuar perdas com as pragas. É que anualmente são desembolsados mais de 100 milhões de meticais para aquisição de químicos e pul verização das plantas. A produção de castanha de caju em Moçambique é um negócio rentável, mas os produtores ainda não estão em condições de fazer o tra tamento de cajueiros sem o apoio do Governo, devido ao alto custo dos químicos para o combate a doenças e pragas.
inFra-estrUtUras
Electrificação. O Banco Islâmi co de Desenvolvimento (BID) vai doar 99,7 milhões de dóla res para a construção de uma linha de transmissão de ener gia entre Temane (província
Ferrovia. Foi anunciada a compra de cinco novas loco motivas, 90 carruagens, 300 vagões e cinco automotoras, num investimento avaliado em 95 milhões de dólares. “Até finais de Maio de 2020, teremos os equipamentos disponíveis, devendo ser dis tribuídos pelas zonas Sul e Centro do país”, disse Carlos Mesquita, ministro dos Trans portes e Comunicações. O investimento vai ser reali zado através de uma linha de crédito disponibilizada pelo Governo indiano, no âmbito do fortalecimento da coope ração entre os dois países.
Ponte. O Governo está a fazer esforços para conseguir os 25 milhões de dólares neces sários para a construção de uma ponte sobre o rio Inco mati, na província de Mapu to, disse o Presidente da Re pública. “Já fizemos o estudo e estamos a angariar recursos para a construção”, afirmou Filipe Nyusi. “Este projecto é antigo, mas não era, até ago ra, prioritário porque direc cionámos os nossos recursos para comida e sementes”, acrescentou o chefe de Estado moçambicano.
O Certificado de Depósito (CD) é um documento em formato físico ou electrónico, emitido pela Bolsa de Mercadorias de Moçambique (BMM) e por entidades públicas e privadas por si certificadas para o efeito. CD pode ser registado num sistema de registo e de liquidação financeira, adquirindo a equivalência de título de crédito.
A Central de Valores Mobiliários (CVM), enquanto entidade centralizadora do registo, pelo Decreto n.º 25/2006, de 23 de Agosto, fará o registo dos CDs, permitindo assim a sua transação na bolsas de valores, nos termos do artigo 6 do Decreto n.º 100/2014, de 31 de Dezembro, que cria e aprova o Regulamento do Certificado de Depósito.
O “Sistema de Certificados de Depósito” poderá impulsionar a comercialização agrícola através da (i) facilitação de acesso ao crédito bancário para os interveniente, através do uso da mercadoria armazenada como garantia; (ii) provisão adequada de informação sobre qualidade e quantidades, facilitando acesso a mercados relevantes, e elevando a competitividade; e (iii) gestão eficaz do risco nos mercados agrícolas.
O grande desafio da BMM é garantir a implementação integral do projecto, em benefício das partes interessadas: bancos, seguradoras, BVM, produtores, intermediários diversos, armazenistas, agro-processadores, exportadores, entre outros agentes.
Como projecto, há um pontencial para revolucionar o sistema de financiamento à agricultura, estando em curso os primeiros passos da sua implementação, sendo de destacar: o desenvolvimento e testagem da plataforma electrónica de interoperatividade; acordos com bancos comerciais; alinhamento técnico-legal para o registo dos CDs na CVM; seguro das mercadorias; campanhas de disseminação de informação e de serviços prestados às partes interessadas; entre outras acções.
Com o projecto, espera-se reforçar a inclusão financeira, com impacto positivo e directo para milhares de famílias, incluindo os pequenos produtores rurais.
telefone: (+258) 21 902503 ou pelo (+258) 84 3203371 email geral: info@bmm.co.mz
www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2019
A administração e os robôs
Salvador Aragón • Director Geral de Inovação da IE University e professor da IE BUSINESS SCHOOL.
frequentemente, os membros do conselho de administração questionam-se sobre se a abordagem aos negócios e o suces so que tiveram no passado permanecem válidos num contex to de digitalização e inovação permanente. A minha respos ta é convidar-vos para um exercício aparentemente simples: construir um robô.
O ponto de partida é um kit inicial de robótica que contém todas as peças e componentes desmontados, em que há um tempo limi te para montar o robô, programá-lo e pô-lo em funcionamento. No comportamento mais comum, o “orientado para a acção”, os membros da administração lançam-se directamente para a montagem, tentando descobrir a funcionalidade de cada uma das peças e a maneira correcta de combiná-las. Este processo de exploração é geralmente longo: há compo nentes que estão a faltar, partes que não se encaixam correc tamente e, muitas vezes, tem de se desfazer e remontar. Nada disso desencoraja os participantes que estão a aprender progressivamente. Até que cerca de 20 minutos depois, eles colocam as peças com sucesso e o robô ganha forma. Apesar dessa conquista, a fiabilidade dos vários componentes ainda está pendente. De cada pequeno motor do robô, sai um cabo que deve ser conectado a uma pequena caixa de conec tores localizada no corpo central. Todos os cabos são os mes mos, não há instruções e cada um é identificado apenas por uma letra e um número: A1, A2 até ao C4. Os membros do con selho redobram esforços e optam por testar as soluções mais lógicas: os conectores A correspondem à cabeça e pescoço, B aos braços, C às pernas. Uma lógica impecável que, ao ligar o robô, se mostra, no entanto, incorrecta. E recomeça-se o pro cesso, de tentativa e erro. Após mais 15 minutos, o robô já está funcional. Tempo total: 35 minutos. Resultado: um robô funcio nal e cinco membros do conselho satisfeitos. No entanto, de tempos a tempos, surge outro comportamen to, a que chamo de “orientado para a integração”. Nesse ca so, enquanto os colegas montam o robô, um dos membros ten de a separar-se do grupo. Depois de alguns segundos de dú vida, ele pega no telemóvel e começa a procurar vídeos ex plicativos sobre como montar e configurar um robô e, em apenas um minuto, é possível localizar pelo menos meia dú zia de vídeos que detalham como concluir com êxito a tarefa. Dois minutos depois, os restantes estão a seguir as instruções
em detalhe e, em apenas cinco minutos, o robô está operacional. Tempo total: 8 minutos. Resultado: um robô funcional e cinco membros do conselho satisfeitos.
Estes dois comportamentos ilustram a maneira como as di recções ou administrações abordam a sua função principal: a construção de um portefólio de modelos de negócios. A abor dagem mais comum implica que a organização tenha a maio ria dos principais recursos necessários para o sucesso, a mon tagem do robô neste simples exemplo figurativo. Para isso, de vemos acrescentar que esses recursos devem ser ajustados dinamicamente através de um processo baseado no método de tentativa e erro, o mais natural para construir relaciona mentos dentro de uma organização; ou envolvendo fornecedo res e parceiros de negócios.
Aabordagemminoritáriaéradicalmentediferente.Apremissa básica é que muitas vezes não é necessário desenvolver o mo delo adicionando recursos e ajustando-os posteriormente por tentativa e erro. De facto, é muito mais eficiente explorar os modelos existentes primeiro e se eles são apropriados para prosseguir com a sua incorporação. “Assim podemos reinven tar a roda seguindo as instruções”.
Esta dupla abordagem tem profundas repercussões estratégi cas. Quem segue a segunda opção tenderá a explorar modelos de negócios existentes fora da organização para integrá-los rapidamente por meio de modelos de parceria que podem va riar da aquisição à participação em ecossistemas empresariais ou até ao uso de novas plataformas. Pelo contrário, quem é pro penso à primeira opção promoverá a construção de seus pró prios modelos de negócios com base nas capacidades existentes. Qual destas duas modalidades é a melhor? A resposta é que todas as administrações devem ter uma representação ade quada de ambas as abordagens que depende da volatilidade da sua actividade. Em sectores menos voláteis, como a mi neração, a proporção pode ser de 5:1 a favor da aborda gem orientada para a execução. Mas se, por outro lado, a empresa competir num sector muito volátil, a relação po deria ser perfeitamente a oposta. A diversidade do conse lho de administração deve reflectir a diversidade deseja da dos modelos de negócio sob sua responsabilidade. E tudo isso com uma interpelação pessoal. Agora a pergunta para si: O que teria feito para construir um robô?
“Muitas vezes não é necessário desenvolver o modelo adicionando recursos e ajustando-os posteriormente por tentativa e erro. De facto, é muito mais eficiente explorar os modelos existentes primeiro e se eles são apropriados para prosseguir com a sua incorporação”
OPINIÃO www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2019 10
“Não há atraso dos apoios à recoNstrução”
Parece haver sinais de abrandamento da ‘euforia solidária’ anunciada a seguir aos ciclones do primeiro semestre. Para o Gabinete responsável pela reconstrução não há, ainda assim, motivos de preocupação. Bem pelo contrário
dois meses após a conferência de doa dores, apenas três parceiros de coope ração disponibilizaram a assistência prometida a Moçambique para a re construção pós-ciclones (Idai no Centro, e Kenneth no Norte). Trata-se do Banco Mundial (540 milhões de dólares), Ban co Africano de Desenvolvimento (50 mi lhões de dólares) e as Nações Unidas (cujo apoio não é pecuniário, mas através da assistência técnica).
Se, desde cedo, a grande preocupa ção era o facto de se não ter consegui do alcançar os 3,2 mil milhões de dólares anunciados pelo Governo para uma co bertura integral das necessidades, hoje sobrepõe-se a (aparente) lentidão na dis
MIL Famílias vulneráveis perderam tudo nos dois desastres naturais, número que corresponde a cerca de 2 milhões de pessoas, segundo dados do gabinete de reconstrução pós- ciclones
400ponibilização de 1,2 mil milhões de dóla res garantidos em Maio passado. A “demora” no desbloqueio do dinheiro tem sido tema dominante e parece res valar para uma espécie de crítica aos doadores, dado o risco adiar o processo de reconstrução, elevar os seus custos, agudizar a difícil situação dos cerca de 2 milhões de pessoas afectadas e compro meter todo o processo já desenhado.
o alarme
“Estamos numa situação em que anún cios bombásticos foram feitos, mas a aju da prometida não chegou”. Era a manifes tação de aflição do Presidente Filipe Nyusi a 4 de Julho, quando visitou Portugal para
www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2019 12
m
acro
uma conferência de negócios entre am bos os países, sublinhando a importância da flexibilidade dos doadores já que, além da necessidade de repor infra-estrutu ras públicas (estradas, pontes, escolas e hospitais.), “muitas pessoas perderam ca sas e precisam de cimento e de começar a plantar, antes das chuvas começarem em Novembro próximo”. Motivos para alimentar a preocupação não faltam. Em comunicado de 11 de Ju lho, o ministro das Obras Públicas, João Machatine, disse que os doadores estão ainda a realizar um plano de reconstru ção que será apresentado ao Conselho de Ministros a 13 de Agosto, o que suge re que os fundos dos doadores não esta rão disponíveis até Setembro, não poden do, por isso, chegar a tempo de beneficiar os afectados antes do início das chuvas. “Temos insistido fortemente que não deve haver uma lacuna muito grande entre promessas e desembolsos, porque real mente precisávamos de recursos para ontem, mesmo antes de hoje”, disse na oca sião o governante.
cobrar prontidão aos doadores?
Se o dito popular “promessa é dívida” for levado em conta, faz todo o sentido. Mas não é só por aí. Para este caso, a co brança conta com um importante adep to, o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, por uma causa mais profunda que a simples promessa.
De visita a Moçambique, em Julho pas sado, Guterres defendeu ser “legítimo que Moçambique exija da comunida de internacional uma forte solidarie dade e apoio, quer na resposta aos dra mas criados pelas tempestades que as solam o país, quer na reconstrução pa ra preparar o país para as situações fu turas”. Guterres argumentou ainda que “Moçambique tem autoridade moral ine gável porque é hoje claro que as altera ções climáticas se reflectem com cada vez com maior intensidade… e Moçambi que praticamente não contribui para o aquecimento global, mas está na primei ra linha das vítimas desse fenómeno”. Um posicionamento mais ousado do que o do secretário-executivo do Gabinete de Reconstrução Pós-Ciclones, Francisco Pe reira, que, mesmo reconhecendo essa responsabilidade da comunidade inter nacional, entende que esta não é “obri gada” a apoiar Moçambique.
afinal, está tudo nos eixos… Francisco Pereira é peremptório: “Não há atraso”, afirma na entrevista concedida
Do total prometido pelos parceiros na Conferência de Doadores, apenas 33% foram desembolsados
Em milhões de dólares
banco mundial
união europeia fmi eua reino unido bad áustria noruega alemanha suécia holanda aga khan espanha itália áfrica do sul igreja maná guiné equatorial
Muito ainda Por deseMBolsar 470 226 118 100 48 45 30 28 26 26 18 18 9 4 3 3 2
1 174 milhões de dólares Ajuda garantida pelos doadores só chegará, na totalidade, num prazo de até dois anos.
FONTE Gabinete de Reconstrução Pós-Ciclones
à E&M uma hora após manter reunião de concertação com cerca de 50 doadores, em meados de Julho passado. O respon sável reconhece a relevância do “rápido desbloqueio das verbas” mas desdrama tiza a situação, começando por explicar que “para se dizer que qualquer coisa está em atraso, tem de haver um calen dário”. Algo que não foi ainda feito por que a realização dos compromissos assu midos na Conferência dos Doadores tem de ser antecedida de acordos de finan ciamento, já que os doadores (sejam eles o Banco Mundial, Banco Africano de De senvolvimento, a Comissão Europeia ou outros) não têm habitualmente proces sos automáticos de canalização de fundos. “Eles identificam e fazem a avaliação dos projectos e é em função destes que se realizam os acordos de financiamen to envolvendo o Ministério da Economia e Finanças e os próprios financiadores, num processo que chega a durar entre um ano e um ano e meio. Portanto, é com pletamente errado dizer que se registam atrasos”, esclareceu Francisco Pereira. Ainda de acordo com o nosso entrevista do, as necessidades que foram apresen tadas na Conferência de Doadores (3,2 mil milhões de dólares) são globais e co brem um programa entre cinco e sete anos. Pelo que “não era expectável que as organizações dessem todo o dinheiro que cobrisse a totalidade deste período. Mas o que foi recolhido, em termos de compromisso, dá para começar com os trabalhos de emergência e de médio prazo”.
Mesmo assim, “se conseguirmos, a partir de Setembro, começar a implementar al gumas obras (de reconstrução), devemos considerar tratar-se de um facto inédito, porque normalmente isso não acontece. E se acontecer, não será por sermos melho res do que os outros (e por isso merecer mos atenção especial por parte dos doa dores), mas porque alguns projectos fo ram concebidos como sendo de emergên cia, o que leva a que o prazo dos desem bolsos seja acelerado de um ano ou seis meses para apenas dois a três meses”, ex plicou o responsável.
No encontro entre o Gabinete e os doado res, estabeleceu-se como prioridade a in formação sobre quando é que estará dis ponível a totalidade dos montantes pro metidos. “Todos foram unânimes em com prometer-se a dar a informação a curto prazo sobre os prazos dos desembolsos. Nós sabemos da necessidade de alguma celeridade. Que cheguem rápido para aproveitarmos a época seca”, assevera.
www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2019 13
“as necessidades apresentadas na Conferência de doadores cobrem um programa entre cinco e sete anos, pelo que não era expectável que dessem todo o dinheiro já”
… e o futuro pode trazer mais
As preocupações também devem ser afastadas em relação ao défice global de 2 mil milhões de dólares, porque já há “muitas promessas” de cobertura do que falta para planos de longo prazo. A USAID, por exemplo, já se predispôs a financiar (embora não se tenha referi do ainda ao montante). A lista das novas promessas inclui Portugal, França e Ban co Árabe para o Desenvolvimento Eco nómico de África (que também não defi niram o valor).
“Este processo irá continuar ao lon go dos próximos anos. Por exemplo, in tegrei a comitiva do primeiro-minis tro à Assembleia Geral das Nações Uni das, falámos com a Fundação Bill Clin ton e outras organizações interes sadas em apoiar e não sabiam ain da como, mas querem participar. E na recente visita do Presidente da Re pública a Portugal fiz duas palestras so bre a reconstrução e há entidades inte ressadas em participar”, assegurou com optimismo.
Uma avaliação a fundo das necessida des indica que os 3,2 mil milhões de dó lares levantados e anunciados na con
ferência de doadores, segundo Francis co Pereira, provavelmente não abran gem a totalidade dos gastos, porque a dimensão do desastre é de tal forma grande que levará muitos anos a re cuperar, sobretudo a vida das pessoas mais pobres, que perderam casas, ma chambas e outras fontes de rendimento. “Apoiar as pessoas mais vulneráveis a recuperarem os meios de subsistência é a parte mais desafiadora de todo es te processo de reconstrução”, enuncia o responsável.
reconstrução já começou Francisco Pereira aborda ainda o facto de já estar em curso o plano de emergência na área de estradas. Por ser habitualmente assistida pelo Ban co Mundial, esta instituição mobilizou já cerca de 35 milhões de dólares. No sector das águas, foram entregues 10 milhões de dólares para obras de emergência, outros 10 milhões des tinaram-se a projectos de agricul tura, estando já 55 milhões de dó lares a serem utilizados em vários dos pontos do plano de reconstrução. Depois, além dos grandes doadores, há os
mais pequenos. Por exemplo, já está a pro ceder-se à reconstrução de 150 salas de aula, através de um fundo designado por “Education cannot wait” (Educação não pode esperar), que pertence a um con junto de organizações (UNICEF, UNESCO), que desembolsaram cerca de 5 milhões de dólares para este fim.
Assim, a fase imediatamente a seguir se rá a da assinatura dos acordos de finan ciamento, estando agora dois consultores (arquitectos da cidade da Beira) a colher informações dos sectores que gerem os diferentes projectos para saberem qual é o estágio dos mesmos, já que as obras não podem ser executadas por adminis tração directa.
“Ninguém mais pode admitir que as construções caiam ao primeiro sopro. As facilidades de construção têm de ser de terminadas, isto é, mesmo que façamos construções de baixo custo, temos de in troduzir a noção de resiliência”, promete o responsável pelo Gabinete de Recons trução Pós-Ciclones.
Nas construções relativamente pre cárias, o principal será ligar a cober tura ao resto das casas e criar susten tabilidade (houve escolas e outras in fra-estruturas sem travamentos nas coberturas ou que não estavam correc tamente ligadas às paredes que acaba ram por ceder com relativa facilidade à força do vento).
Equipas técnicas, projectistas, fiscais, são agora chamados a observarem rigoro samente as regras de segurança no qua dro da reconstrução, porque os eventos extremos terão tendência a acontecer com maior frequência.
Aliás, uma das questões em discussão com os parceiros é a protecção costeira da cidade da Beira, um empreendimen to que deverá custar 150 milhões de dó lares, estando ainda só garantidos en tre 30 e 50 milhões de dólares, já que os parceiros dão apenas cobertura ao que foi destruído.
É aqui que reside um dos grandes de safios do Gabinete: ligar a reconstrução necessária ao desenvolvimento indis pensável, o elemento-chave que irá ser vir de garantia a que todas as infra-es truturas recuperadas não voltem a ser um alvo demasiado fácil em eventos si milares, e a segurança de que o venda val que se abateu sobre as gentes do Cen tro e Norte do país não se volte a repetir.
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texto Celso Chambisso fotogrAfiA D.R. macro
ajuda de emergência cumpriu o seu papel. Fundos para a reconstrução chegarão nos próximos anos
Números em conta
Os grandes númerOs da OPV da HCB
acabou a primeira fase da Oferta Pública de Venda (OPV) de 7,5% do capital da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) e o resultado foi uma procura “massiva” por títulos em pra ticamente todas as regiões do país. A Bolsa de Valores de Moçambique (BVM) anunciou assim, pela voz do Presidente do Conselho de Administração, Salim Valá, que a OPV sobre uma percentagem do capital da hidroeléctrica foi “um gran de sucesso”, tendo sido vendidos 4% das acções da HCB, mais 1,5% do que tinha sido planificado para esta primeira fase da operação, o que “demonstra a eficácia da estratégia de comunicação de toda a operação, bem como dos veículos digitais utilizados para a subscrição (podia ser feita através de uma app desenhada para o efeito e por via de um código USSD, que não requer uma ligação do telemóvel à Internet)”. E foi esse o factor destacado, igualmente, pelo PCA da HCB, Pedro Couto, durante a cerimónia de apresentação dos resul tados da OPV dos 7,5% das acções da empresa, atribuindo a decisão de alargar a oferta “a uma procura substancialmente acima das expectativas verificada nesta primeira fase.”
Quem investiu?
3 297
mil milhões de meticais
O valor arrecadado pela venda de 4% das acções da HCB, alienadas a um custo unitário de três meticais, resultou numa receita de cerca de 53 milhões de dólares.
9
empresas cotadas
A completar duas décadas de existência, a BVM passa a ter 9 títulos cotados.
Só no primeiro trimestre deste ano transaccionou o equivalente a 9,8 milhões de euros, atingindo no final do período uma capitalização bolsista total acumulada de 1,263 milhões de euros (cerca de 9% do Produto Interno Bruto de Moçambique).
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Adesão “massiva” explica-se pelo número de pequenos investidores de todo o país que investiram em lotes de acções da hidroeléctrica FONTE BVM Investidores colectivos 715,9 156 Público em geral 335,4 4 426 Trabalhadores 3,8 296 Pequenos investidores 43,7 12 502 Procura total atribuída Número de accionistas
|
Em milhões de acções
Em unidades
1 099
milhões de acções
Na primeira fase, a HCB tinha inicialmente colocado no mercado apenas 2,5% das suas acções, correspondentes a 680 milhões de unidades, mas procedeu à venda de mais 1,5% do que o inicialmente previsto.
191%
Só a operação da HCB fez crescer em 15 mil os novos investidores na BVM que tem agora um universo global de 23 257 investidores registados na central de valores mobiliários.
410,6
milhões de acções
Foi o volume de procura que ficou por satisfazer na OPV inicial e que levou ao aumento do número de acções disponibilizadas para venda.
A sigla significa Oferta Pública de Venda, é a quinta na história da BVM mas, pelos valores envolvidos, ficará registada como a, de longe, maior operação da história do mercado capitais em Moçambique.
De referir que a subscrição para a primeira fase de venda das acções da HCB decorreu entre os dias 17 de Junho e 12 de Julho, sendo que apenas eram elegíveis cidadãos, empresas e instituições nacionais. A operação foi efectuada através da Bolsa de Valores de Moçambique e executada pelo consórcio bancário composto pelo BCI (Banco Comercial e de Investimento) e BIG (Banco Internacional Global).
Os restantes 3,5% do capital serão colocados no mercado, ao que se sabe, no primeiro semestre do próximo ano.
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Q&a: O Que é uma OPV e O Que signifiCa Para O merCadO de CaPitais?
Decisão Final de Investimento – Impacto Hoje ou Amanhã?
as imagens da assinatura do acordo para a Decisão Final de Investimento da Área 1 percorreram o mundo, mostran do que Moçambique está de regresso à primeira liga dos destinos de investimento.
Este anúncio coincidiu com a Conferência Estados Unidos –África, em Maputo, que contou, não só com um número histó rico de chefes de Estado, mas também com centenas de em presas norte-americanas interessadas em investir em Áfri ca, com um foco muito particular em Moçambique.
A estabilidade macro-económica dos últimos dois anos, com binada com a Decisão Final de Investimento, são os dois prin cipais factores para o aumento da atractividade do país aos olhos dos investidores estrangeiros.
Caso se confirme o progresso na reestruturação das dívidas externas e a consequente melhoria no rating, Moçambique completará este ciclo negativo com instituições e politícas mais fortes, uma economia mais equilibrada e a confiança dos parceiros internacionais.
Com esta decisão, e a possibilidade bem real de uma similar para a Área 4, Moçambique volta a ser um país com excelen tes perspectivas para as empresas que querem fazer parte de uma cadeia de valor que irá mover milhares de milhões de dólares de investimento e de exportações, e que a partir de hoje é uma realidade.
Mas será tudo isto imediato ou teremos de esperar dois, três ou mesmo seis anos, até que os Moçambicanos possam sentir o impacto das Decisões Finais de Investimento?
As perspectivas para os próximos 12 meses, o Hoje, são essencialmente: (1) o aumento do número de empresas estran geiras a investir em Moçambique, com o consequente aumen to dos fluxos de entrada de capitais; (2) a aceleração do cresci mento económico no segundo semestre de 2019 e no primeiro
de 2020; e (3) a continuação de contenção na despesa e investimento público, resultado em parte do esforço que o Estado terá de efectuar nas zonas impactadas pelos furacões Idaí e Kenneth.
O impacto destes três factores nos indicadores macro-econó micos será ainda muito ligeiro, com a expectativa do Investi mento Directo Estrangeiro (IDE) aumentar 30% em 2019 e 31% em 2020, vindo de bases historicamente muito baixas em 2017 e 2018; o PIB crescer acima de 5% em 2020, comparado com os 2% a 3% em 2019; e a inflação situar-se em torno dos 5% a 7% em 2019 e 2020.
Importa referir que o aumento do IDE, combinado com uma inflação controlada, permitirá manter a estabilida de do metical face ao dólar, apesar do aumento já verificado nas importações.
No entanto, o verdadeiro impacto das Decisões Finais de Investimento irá verificar-se, numa primeira fase, num hori zonte de dois a seis anos e, numa segunda fase, a partir de 2025, ou seja, no Amanhã.
Com um investimento de aproximadamente 50 mil milhões de dólares nos próximos seis anos, grande parte em equipamen to e mão-de-obra especializada, iremos entrar numa nova era de investimento no país.
Deste montante, estima-se que cerca de 10% do valor de in vestimento seja em mão-de-obra, bens e serviços produzidos e disponibilizados localmente, o que representaria 5 mil mi lhões de dólares ao longo de seis anos de construção.
Para os mais cépticos, 10% de um projecto é manifestamen te pouco, mas quando colocamos este valor em perspectiva, o contributo adicional de mil milhões de dólares por ano, para um PIB que actualmente se situa nos 14 mil milhões de dólares, representa um impacto de 7% ao longo deste período.
A estabilidade macro-económica dos últimos dois anos, combinada com a Decisão Final de Investimento, são os dois principais factores para o aumento da atractividade do país aos olhos dos investidores estrangeiros
OPINIÃO 18 www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2019
Bernardo Aparício • Head of Corporate and Investment Banking do Barclays Bank Moçambique
Desta forma, prevê-se um aumento do crescimento económico neste período para níveis de 6% a 7%, que os níveis de in flação se mantenham controlados e o metical se situe entre 60 e 65 para o dólar.
Na segunda fase, que representa a de produção após 2025, ire mos realmente assistir à revolução da economia Moçambica na, fruto das exportações de gás que poderão atingir 12 mil mi lhões de dólares por ano.
Para além destas, prevê-se um contributo anual provenien te de impostos, royalties e dividendos para os cofres do Es tado Moçambicano de 3 a 5 mil milhões de dólares por ano, montante superior à totalidade das receitas fiscais angariadas actualmente.
O impacto desta segunda fase nos indicadores macro-econó micos será obviamente muito elevado com o PIB a crescer próximos dos 10%, o metical a apreciar para níveis abaixo dos 60 e a inflação mantendo-se abaixo dos 10%. O principal impacto, no entanto, será ao nível das contas públicas e a retoma da capacidade de investimento público, que deverá ocorrer no período após 2025.
Este factor, tal como no passado, será um elemento multipli cador do crescimento económico e deverá contribuir de for ma muito significativa para Moçambique voltar a ser um dos países com maiores taxas de crescimento em África e globalmente.
A conclusão principal que se pode retirar de um mês de Junho cheio de boas notícias é que a plataforma para o regresso ao to po da lista dos países que mais crescem no mundo está montada, que 2019 e 2020 servirão de rampa de lançamento, mas o perío do realmente transformacional ocorrerá na fase de produção. O que temos de fazer Hoje é continuar a preparar o Amanhã, se possível sem cometer os erros do passado.
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Nação AviAção civil
O FuturO está nO ar
No início da década o mercado da aviação civil, a nível interno, transportava perto de 700 mil passageiros. Até ao ano passado, esse número quase duplicou e, só no primeiro semestre de 2019, registou-se um aumento de 17%. São os primeiros bons sinais da liberalização do espaço aéreo nacional. Mas há outros que mostram a forma como a aviação pode (e deve) estar ligada ao bom desempenho de sectores essenciais ao desenvolvimento do país
ao longo dos últimos anos, um dos de bates que ‘aquecia’ qualquer conversa no espaço público era o da liberalização do espaço aéreo e de como a aviação civil poderia melhorar na oferta dos serviços, dos preços e da pontualidade, essen cialmente. Era uma discussão antiga, essa, que vinha já desde o início do sé culo, quando a legislação entreabriu a porta para uma possibilidade que, no en tanto só seria consumada há pouco mais de dois anos quando o Executivo tomou pulso à iniciativa e começou a forçar o sector a abrir-se a novos players promo vendo a concorrência de que qualquer área de actividade necessita para se ir aperfeiçoando. Na forma e no serviço prestado ao seu consumidor, neste caso, os passageiros mas também no seu con tributo aos sectores económicos, que dele dependem, como o turismo, por exemplo.
Ventos de mudança
Quando os chefes de Estado africanos as sinaram o tratado de Abuja, segundo o qual, até ao dia 31 de Dezembro de 2015, somente os aeroportos certificados de veriam receber tráfego internacional, a ideia era simples: concentrar o tráfego,
4mil milhões
Em 2018, mais dE mEtadE dE toda a população do planEta andou dE avião, um númEro quE sE prEvê quE chEguE aos 7,2 mil milhõEs até 2035
melhorar as infra-estruturas e poten ciar economicamente algumas regiões.
Ao nível da SADC, estimava-se que a li beralização aí iniciada influenciasse toda a região. Da Tanzânia ao Malaui, do Zimbaué a Moçambique, claro. Mais tarde, com a aprovação, na Assem bleia da República (AR), “em definitivo e por consenso”, da proposta de revisão da Lei de Aviação Civil, a aviação civil ganhava a base legislativa que a fez co meçar a voar. Depois, o IACM (Instituto de Aviação Civil de Moçambique) ganhava novas asas, e tornava-se a entidade re guladora do espaço aéreo nacional. Não tardou o anúncio da abertura de con cursos para dar outras cores, de novas companhias, aos céus de Moçambique. A primeira a aterrar, nesta nova fase da aviação civil, foi a Fastjet, uma operado ra pan-africana de voos de baixo custo (detida pela Solenta Aviation, desde 2018) e que começou por ligar as cidades de Maputo e Beira, Tete e Nampula.
Até aí, só a estatal Linhas Aéreas de Mo çambique (LAM) realizava de forma consistente a ligação doméstica a todas as províncias do país, mas os proble mas de gestão e de falta de aviões que
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Nação AviAção civil
A evolução do MercAdo 2002
Nas últimas duas décadas, o segmento da aviação civil mudou a sua face
com a revisão da politica do transporte, abria-se o segmento doméstico, regulando as restrições e impedindo o controlo monopolista do mercado.
Em Maio, o Governo aprovou o novo Regulamento sobre a concorrência nos Serviços de Transporte Aéreo de Moçambique, que estabelece regras para boas práticas competitivas nos serviços de transporte e trabalho aéreo, definindo práticas, acordos ou condutas que tenham um efeito anti-concorrencial. Em Setembro do mesmo ano, o instituto de Aviação civil anunciou o apuramento da Ethiopian Airlines e da Malawi Airlines (detida pela gigante etíope). As companhias iriam operar a par das outras já no mercado (Fastjet, MEX, cFM Transporte Aéreo e TTA).
2018
começa a vigorar a Decisão de Yamoussoukro, que visa a liberalização do mercado único de transporte aéreo africano, projecto lançado por 19 chefes de Estado africanos, em Addis Ababa, na Etiópia. Esta medida tem como objectivos aumentar a conectividade entre os países africanos, reduzir os preços de passagens e criar um desenvolvimento sustentável do mercado aéreo no continente.
Em Setembro, foi aprovado o estatuto orgânico do iAcM para desempenhar as funções de regulação, supervisão, fiscalização e sancionamento no domínio da aviação civil.
2017 2019
Espaço aéreo aberto com a Solenta Aviation (detentora da Fastjet) e a Ethiopian Airlines Moçambique, para além da lAM. Moçambique sai das listas negras de inibição de voar para a União Europeia.
provocavam atrasos e cancelamentos de voos trouxeram um desgaste à re putação da LAM, algo que tem vindo a resolver-se na actual gestão (ver entre vista do director-geral na página 28). Seguiu-se a Ethiopian Moçambique, no segundo semestre do ano passado. A operadora moçambicana detida pela gi gante aeronáutica etíope trouxe ao céu de Moçambique um dinamismo concor rencial que se reflectiu essencialmente nos preços dos bilhetes (baixaram, em média, entre 7% e 10%), e na diversida de dos voos.
Mas claro que nem tudo é um mar (neste caso um ar) de rosas. “Internamente, há a melhoria dos preços, dos serviços, novas rotas, menos tempo de viagem e de
retenção nos aeroportos e escalas que já reduziram significativamente” diz o co mandante João Abreu, PCA do Instituto de Aviação Civil. Por outro lado, prossegue, “as companhias também beneficiam com novas rotas, mais e melhor tráfego aé reo e a possibilidade de parcerias como a da Solenta com a LAM. Depois, a partilha de códigos já acontece e traz companhias como a Air France ou a KLM até nós. Mais serviços aéreos para os grandes projectos e a descentralização dos hubs para que cresça o peso do sector na eco nomia nacional são o futuro da aviação”. O ministro dos Transportes e Comuni cações também enaltece o trabalho em curso de reguladores e players do mer cado “no quadro da liberalização do
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PASSAgeiroS AuMeNtAM
com a entrada de novos operadores a nível interno e externo, o número dos passageiros tem aumentado de forma consistente em todos os segmentos
funcionar em conjunto. Temos de cons truir aeroportos sustentáveis, perceber como podemos trabalhar em conjunto para desenvolver os destinos e mudar a percepção dos consumidores. Aumen tar as rotas é captar turistas, e há que conciliar temperatura e preço, apostar no mercado dos charters. Cabo Verde é um bom exemplo disso. Até porque cons truímos hotéis e eles são suportados pelo transporte aéreo. A ordem é esta, não o contrário. Em Moçambique, muitas das questões como os vistos, a segurança, o conflito político, estão resolvidos, o que falta então?”, questionava, num dos pai néis da Conferência.
A este respeito, o líder do IACM, anun ciou estar em curso “a produção de um Masterplan a dez anos que vai en volver todos os parceiros do conselho aeronáutico.”
De casa até à praia Apesar da mudança em curso, os turis tas que entram em Moçambique pela via aérea para usufruir das praias, par ques nacionais e oportunidades de negócio ainda estão aquém do desejável e do potencial que o país oferece.
Um paradoxo num continente que viu o número de entradas de turistas inter nacionais duplicar, entre 1995 e 2016, e a receita mais do que triplicar, gerando 47 mil milhões de dólares em 2016. Ainda assim, o continente responde por apenas 3% do movimento global de viajantes de avião e por isso é que este deverá ser um esforço regional.
Abreu
PcA do iAcM diz que “há melhorias” nos preços, serviços, tempos de viagem e de retenção nos aeroportos
espaço aéreo, da certificação dos aero portos de Maputo e Nacala e de outras reformas em curso”, dizia, à margem da Conferência Internacional de Transpor te Aéreo, Turismo e Carga Aérea (CITA), realizada em Julho passado, em Maputo.
Já o primeiro-ministro (PM), Carlos Agos tinho do Rosário, no seu discurso de abertura da Conferência, repisava o desafio “da aplicação de tarifas competi tivas, porque só assim se pode assegurar que o transporte aéreo seja mais acessí vel para os cidadãos e um factor indutor do desenvolvimento do turismo, e da eco nomia do país e da região.”
O director geral da SATA Açores, Gavin Eccles, concorda com a estratégia deli neada: “Planeamento e promoção devem
Aviação e turismo estão directamente relacionadas, como é fácil imaginar. E o seu crescimento é, de resto, assinalável. Cerca de 3,9% em 2018, representando 10,4% do PIB mundial e contribuindo com uma receita recorde de 8,8 biliões de dó lares, gerando 319 milhões de empregos e, pelo oitavo ano consecutivo, fican do acima da taxa de crescimento do PIB mundial (3,2%). Os números fazem par te da pesquisa anual do World Travel & Tourism Council (WTTC) sobre o impacto económico de um sector responsável por um em cada cinco novos postos de traba lho criados no mundo e que voa à frente da Saúde (+ 3,1%), Tecnologias da Informa ção (+ 1,7%) e Serviços Financeiros (+ 1,7%). Outro dado interessante tem que ver com o facto de 71,2% dos gastos em turis mo, a nível global, serem provenientes de turistas nacionais, o que demonstra a importância do turismo doméstico. Mas para percebermos o peso da avia ção civil no turismo, ficamos também a
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Em milhões Em milhares Em milhares 1,02 2017 1,2 2018 Domésticos Regionais Intercontinentais 550 2017 586 2018 119,2 2017 124,3 2018 +18% +6,5% +4,2%
oJ Ã o
FONTE AdM
Nação AviAção civil
OS DEZ INDICADORES A TER EM CONTA NO fACTOR pREçO
Em Moçambique, como em qualquer outro mercado, o custo das passagens aéreas é composto por diferentes elementos com um peso específico na estrutura de custos dos operadores. Saiba quais são e, especificamente, os que mais pesam no preço final dos bilhetes
o Que deterMiNA o Preço doS bilheteS?...
combustível
O peso do JET A1 na estrutura de gastos operacionais directos varia entre os 29% e os 35% e Moçambique não é diferente do resto do mundo, situando-se nessa mesma margem.
Aluguer de aeronaves
Corresponde ao custo de utilização cujo valor poderá ser incorrido através de uma renda se existir leasing, ou por depreciação da aeronave quando esta tiver sido comprada e registada nos activos da companhia aérea.
Manutenção
Garante a fiabilidade e segurança da operação e permite efectuar as revisões intermédias do equipamento e substituição de peças.
Seguros
Obrigatórios para qualquer companhia certificada e credível, pois garante que estão segurados os tripulantes, o equipamento de voo (aeronave) e os passageiros.
taxas de aterragem
Sob gestão da ADM, Aeroportos de Moçambique, este valor é estabelecido e publicado para cobrança da utilização das pistas de aterragem, iluminação e ajuda na aterragem e na descolagem.
taxas de sobrevoo
O pagamento das ajudas de navegação aérea em território nacional ou estrangeiro sendo que o seu valor varia em função do seu posicionamento aéreo.
handling
Sob gestão da MAHS, a Mozambique Handling Services, o valor cobre o serviço de manuseamento de aeronaves e de outros equipamentos na placa.
Mão-de-obra
Directamente relacionada com a operação que inclui tripulações, tendo em conta que o custo por hora de voo é calculado observando os períodos de trabalho.
Formação
A falta de academias credenciadas para a formação de pilotos comerciais onera as operação das companhias aéreas com custos que os seus concorrentes internacionais não têm, como a contratação de pilotos estrangeiros qualificados ou a formação de pilotos em academias credenciadas e reconhecidas no mercado a ficar a expensas da companhia.
outros serviços e custos
Os gastos com sistemas internacionais de reservas, sistemas de gestão de comunicação e relacionamento com os passageiros. E depois há os anúncios de reprogramação de horários e a acomodação de tripulação em escalas intermédias por limite de períodos de trabalho.
QueM oPerA cá deNtro... ... e A Nível regioNAl e iNterNAcioNAl
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2 1 3 4 5 6 7 8 9 10
... e PorQue São eleS cAroS eM MoçAMbiQue?
variáveis macroeconómicas
As variações cambiais, a inflação e as taxas de juro de mercado que, no caso moçambicano, são demasiado elevadas.
dimensão do mercado
Quanto maior o mercado, maior é a escala de utilizadores de serviço, o que naturalmente propicia um custo por passagem aérea mais baixo. Moçambique tem 2 milhões de passageiros enquanto a África do Sul está acima dos 18 milhões...
base operacional
Companhias aéreas cuja base operacional principal está sediada a uma distância curta em relação aos seus destinos beneficiam de custos operacionais mais baixos. Quanto menor for a distância média dos voos a ser operados por uma companhia, maior utilização das aeronaves será garantida o que resulta na redução dos custos fixos por assento.
tipo de operação e de serviço
Uma companhia que opera rotas longas com aeronaves de grande porte tem melhores condições de obter equilíbrios tarifários resultantes da partilha dos custos fixos.
horário dos voos (slots)
O horário mais conveniente para os passageiros permite taxas de ocupação mais elevadas, o que significa maior repartição do custo de operação por um maior número de passageiros.
tamanho e idade das aeronaves
perceber que, em 2018, o sector da aviação contribuiu com 4 biliões de dólares para a economia mundial e vale 4% do PIB glo bal, cerca de 300 vezes mais do que o que é gerado em toda a economia moçambi cana num só ano.
E quando já se fala do que aí vem na próxima década, com conceitos como a digitalização na aviação e do próprio turismo, tendo por base a redução da pegada ambiental, melhoria da segu rança e o aperfeiçoamento da economia de custos e tempo, percebe-se que, em Moçambique, é preciso entrar em velo cidade de cruzeiro. Para não se perder o comboio, ou o voo, no caso.
O mercado nacional
Período de rotação do voo
As condições de desembaraço, manuseamento de aeronaves e atendimento de passageiros na escala de operações de voo irá determinar o tempo que a companhia leva a fazer a sua rotação, momentos que, a não serem eficientes, resultarão no atraso dos voos com todas as consequência que daí advêm.
Número de operadores
Aeronaves de menor dimensão têm custos por assento mais elevados. Quanto maior e mais moderna for a aeronave, menores serão os custos associados e as condições para operar, porque serão repartidos por uma maior capacidade de lugares disponíveis para venda. É um dos pontos em que Moçambique mais peca devido às aeronaves envelhecidas com custos de manutenção, assistência técnica, peças e sobressalentes muito elevados.
No país, o número de passageiros aéreos ressentiu-se da crise dos últimos anos. Como todos os outros sectores de acti vidade, aliás. E dos perto de 2 milhões (provenientes de voos domésticos, regio nais e intercontinentais) que voaram em 2014 foi sempre a descer até aos 1,5 milhões registados no final de 2016. Só voltaria a aumentar consistentemente desde aí, recuperando até aos 1,9 milhões do ano passado, de acordo com dados do Governo. O tráfego doméstico, onde a LAM con tinua a predominar (companhia de bandeira transportou 524,9 mil passa geiros no ano passado) teve uma quota de mais de 62% do total de passageiros transportados em todos os segmentos.
O número de operadores a operar numa rota ditará o preço do serviço com base nas forças do mercado. Um maior número de operadores gera maior concorrência, e é um factor essencial à tendência generalizada de redução dos preços.
horários dos aeroportos
Em Moçambique os aeroportos operam em períodos bastante limitados e, em alguns deles, só é possível operar voos de manhã devido à falta de iluminação. Fora desses horários, eles são pagos.
Academias de formação de pilotos e outros quadros da aviação
A falta de uma academia de formação de quadros da aviação no mercado onde uma companhia aérea opera induz os operadores a incorrem em custos elevados de formação de quadros no exterior.
Já os voos regionais, onde o predomínio vai para a South African Airways, são responsáveis por 30,5% de todo o mer cado, tendo sido transportados 586 mil passageiros no ano passado. Por fim, os voos intercontinentais, com a TAP à ca beça, valem 6,4% do mercado da aviação civil, tendo movimentado 124,3 mil pas sageiros ao longo do ano.
No quadro geral, o tráfego de passa geiros nos aeroportos de Moçambique aumentou significativamente na última década e meia, (829 mil em 2002), contri buindo hoje, de forma directa e indirecta, com 300 milhões de dólares (2,3%) para o PIB nacional. Mas, apesar do desenvol vimento dos dois últimos anos, o tráfego aéreo nacional tem crescido abaixo do PIB, algo que contrasta com o que aconte ce no Quénia (1,44% acima) ou na Tanzânia (mais 1,45%), países vizinhos que foram submetidos a uma substancial libera lização do mercado da aviação civil. “Fazemos muitas referências aos países vizinhos mas, a única dificuldade que te mos, é não conseguirmos trazer para as nossas contas o que o turismo produz.
www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2019 25
Nação
Em 1974 tínhamos 600 mil turistas. De lá para cá aumentámos para os 2,8 milhões de 2018 mas ainda queremos mais”, diz Silva Dunduro, o ministro da Cultura. No entanto, há previsões optimistas no horizonte, estimando-se que o número de passageiros em Moçambique aumente para aproximadamente 10 milhões até 2027, catapultando para o triplo a contri buição do sector do turismo no PIB.
A previsão surge plasmada na visão estratégica do Governo para a avia ção civil, em que se reconhece o papel dos transportes como “catalisadores do desenvolvimento económico” e se iden tifica claramente como a aviação civil deve suportar o crescimento económi co sustentável através da melhoria do seu alinhamento com as estratégias do turismo, agricultura, mineração, indús tria e mega-projectos, através de mais e melhores mecanismos regulamentares, facilitando a negociação de acordos den tro da SADC e a nível internacional. Com esta base, a estratégia enuncia a criação de cinco geografias principais servidas por três aeroportos interna cionais: Maputo para eventos e negócios, Gorongosa para o turismo cinegético (caça) e científico servida pelo aeropor to da Beira. Já a Ilha de Moçambique (turismo histórico-cultural), Niassa e Norte como zonas de aventura e o vec tor do desenvolvimento associado aos mega-projectos do gás natural serão abrangidos pelo eixo Nacala-Pemba, ten do por base o novo e moderno aeroporto de Nacala que será o grande hub logísti co do Norte. Será ali onde se congregam, as infra-estruturas aeroportuárias, os caminhos-de-ferro e o Porto de Nacala que alimentarão assim toda a zona Nor te, até à cidade do gás de Afungi.
reposicionamento em curso Este é, até aos dias de hoje, o maior de safio que a aviação civil moçambicana enfrenta: atender à crescente deman da de transporte de equipamentos e de quadros empregues na construção das plataformas para a exploração do gás da Bacia do Rovuma. Por isso mesmo, “o problema da aviação civil no país de ve ser partilhado pelo sector público e privado”, diz o vice-presidente da CTA, Castigo Nhamane. “É imperioso que conti nuem as reformas legislativas do sector, em particular, o pacote fiscal. Há uma necessidade de se aplicarem isenções de direitos aduaneiros na importação de ae ronaves e outros equipamentos, pois só desta forma estaremos à altura de res
Foram criadas cinco geografias principais servidas por três aeroportos internacionais: Maputo, beira e Nacala, onde será criado o grande hub logístico que vai alimentar cabo delgado
ponder à demanda dos mega-projectos.”
João Carlos Pó Jorge, director geral da LAM, coloca a tónica na liberalização como “oportunidade, mas também um grande desafio.” E explica: “Precisamos de maior formação e de uma correcta percepção do destino e dos níveis de qualidade do que Moçambique tem para oferecer. Te mos aeronaves suficientes para o que aí vem? Se não, há que colocar os planos em marcha, e já o estamos a fazer através de parcerias”, enuncia. Caso da que já existe com a TAAG (para Angola e São Paulo, em Setembro do ano que vem) falando-se ago ra de uma outra com a TAP, para retomar os voos para a Europa já nos primeiros me ses de 2020.
Os mega-projectos vão requerer mão -de-obra deslocalizada, matérias-primas, perecíveis, e fluidez de movimentação. Prevê-se que, no pico da obra da base lo gística para a exploração de gás, em Cabo Delgado, haverá 20 mil pessoas de vá rios pontos do mundo, em simultâneo. “Há um ano estivemos a reflectir sobre os desafios do transporte aéreo e concluí mos que não estávamos preparados. Agora estamos. Quando digo nós, não sou só eu, ou a LAM, mas um conjunto de
instituições. A indústria do petróleo vem, e de repente, impõe uma explosão em tudo. O volume é enorme e o nível de exi gência também, especialmente para a nossa indústria. Teremos de nos associar com parceiros aos quais não con seguimos chegar sozinhos. As certificações nacionais e internacionais são funda mentais, como as auditorias internas de processo sem as quais não seremos capazes de responder e servir os mega -projectos”, diz o director-geral da LAM. E prossegue: “Actualmente servimos to do o país, estamos a olhar para Harare e Cape Town, por causa também do pe tróleo. Temos pedidos de empresas, para criar charters entre Joanesburgo e o Nor te. Com isto, estamos a dinamizar também o turismo. Assinámos com a GSA, que já nos trouxe a Thompsons e outros operadores turísticos para verem a oferta, em termos de natureza. Mas precisamos de melhorar as infra-estruturas”, diz. E até dá um exem plo da dimensão dos desafios que aí vêm: “ Fomos contactados por uma das empre sas dos mega-projectos que vai precisar de transportar 5 mil ovos e galinhas por dia. Será uma empresa do extremo Orien te. Como fazê-lo com qualidade? Os desafios
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de passageiros e carga serão enormes. Em Afungi estarão milhares de pessoas da Indonésia, Filipinas ou Malásia. A pon tualidade é essencial e foi essa melhoria que permitiu com que até estejamos aci ma da média no cumprimento de horários (85%, enquanto que os outros operadores estão nos 80%)”, refere.
Apesar de tudo, e voltando ao ponto de partida, o crescimento que se espera para o mercado será impulsionado pelos mega -projectos mas será o turismo a colher os frutos desse grande impulso, dando-lhe um cunho de sustentabilidade a médio e longo prazo. “Iremos crescer economicamen te como país, a criar serviços para estas grandes obras, gerando turismo interno em quantidade e qualidade. Está a fazer-se um esforço ao nível das infra-estruturas, como em Nacala, o melhor aeroporto da região em termos técnicos, mas é preciso mais hospitais, estradas e hotéis para que o turismo possa ser de facto a chave do de senvolvimento”, diz João Carlos Pó Jorge. Para já, o previsível crescimento da pro cura parece aguçar a vontade de gigantes internacionais começarem a incluir Ma puto nos seus destinos.
Ainda recentemente, a Aeroportos de Mo çambique (AdM) anunciou a vontade de atrair a Emirates para iniciar os voos pa ra o país, à luz de um entendimento com a DNATA, empresa que presta serviços de check in e manuseamento de cargas (handling) no aeroporto do Dubai. Nesse sentido, o Governo, anunciou a assinatu ra de um contrato de cedência das suas acções à DNATA, que vai ser o player res ponsável por “atrair novas companhias internacionais” para o espaço aéreo na cional. A informação foi avançada pelo PCA da AdM, Emanuel Chaves. “Decidimos que devemos atrair um parceiro estra tégico para ser um elemento de atracção de companhias aéreas para o país. Estamos, neste momento, a negociar com a DNATA para fecharmos o contrato de ce dência das nossas acções no MAHS para que possam participar da estratégia de desenvolver novas rotas. A Emirates pode colocar o país na rota internacional.”
Assim, propulsionado por um crescimen to económico alavancado na exploração de gás natural, a aviação civil de Moçam bique parece querer deixar para trás muitas décadas de letargia, e estar fi nalmente pronta para se fazer à pista e descolar. Até porque o futuro está no ar.
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TEXTo Pedro Cativelos
FoToGRAFiA Jay Garrido & d.r.
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Na voz de...
“Privatização da LaM deve ser avaLiada coM rigor”
João carLos Pó Jorge Director-geral da LAM
com apenas um ano de “cockpit”, co mandando as Linhas Aéreas de Moçam bique (LAM), a nova administração tem um ambicioso plano de reformas que de ve começar a dar resultados visíveis a partir do próximo ano, quando tiver em operação cerca de dez aviões e com a operacionalização de novas rotas domés ticas, regionais e até intercontinentais. Os progressos, entretanto, não significam que estejam ultrapassadas as (já com “barbas brancas”) dificuldades financei ras, mas resultam de uma estratégia as sente no redimensionamento gradual das necessidades e da alocação dos re cursos que a companhia tem, em fun ção das necessidades e das oportunida des que começam a surgir no horizonte, sendo já uma certeza a necessidade de atacar a dinâmica indústria do oil & gas. E porque os problemas estão todos em torno das finanças, a capitalização da companhia é um imperativo para o su cesso da LAM, que está, inclusive, avan çada na busca de parceiros nacionais e multilaterais. Privatização? Não está descartada. João Carlos Pó Jorge, direc tor-geral da companhia, reconhece as suas vantagens, mas mostra-se céptico quanto à sua eficácia.
Uma das grandes dificuldades que se arrasta há vários anos na LAM é a insu ficiência da frota. Quais são os planos de senhados para ultrapassar esta ques tão e em que estágio está hoje a LAM? Temos de identificar primeiro os desafios que temos pela frente. Como foi dito na Conferência Internacional sobre Trans porte, Turismo e Carga Aérea, nós te mos dois componentes – o de carga e o de passageiros. Dentro desta, temos movi
A CoMPoNENTE DE sErvIços, DA ACEITAção Ao CLIENTE
E DA PoNTuALIDADE rECuPErou bAsTANTE A IMAgEM DA EMPrEsA, DE TAL MANEIrA quE foMos busCAr EM MArço uM boEINg 737–700 ADICIoNAL EM LEAsINg quE Nos foI CoNCEDIDo NEssA bAsE, Por sE ACrEDITAr NA CAPACIDADE DA EMPrEsA E No MErCADo
A quE vAI TEr ACEsso Por CAusA DEssA NovA CAPACIDADE
mento intenso de pessoas para as plata formas e para as fábricas de transfor mação de petróleo e gás e depois temos o componente do turismo e família. Assim, o ideal é termos voos combinados para transportar estas diferentes demogra fias do mercado. Paralelamente, há dois aspectos na questão da frota: aumentar a capacidade e a flexibilidade, o que im plica ter aviões maiores e outros não tão grandes, mas que possam fazer voos en tre os diferentes destinos nas áreas de ex ploração mineral, de turismo e pontos fa miliares. Também é necessária a moder nização da frota porque estes são merca dos exigentes e a nossa intenção é ofere cer produto moderno com facilidade na conectividade e informação videográfica dentro do avião. Mas como iremos bus car tudo isto? obviamente que precisa mos de financiamento e a LAM não tem capacidade de se financiar internamen te, ao passo que externamente a capaci dade de obtenção é neste momento difi cultada pelo facto de a empresa ter uma fraca folha de balancete e pelos juros na banca continuarem elevados. Ainda as sim, a componente de serviços, da aceita ção ao cliente e da pontualidade recupe rou bastante a imagem da empresa, de tal maneira que fomos buscar em Mar ço um boeing 737–700 adicional em lea sing que nos foi concedido nessa base, por se acreditar na capacidade da empresa e no mercado a que vai ter acesso por cau sa dessa nova capacidade.
Ao nível do financiamento, quais são os parceiros identificados?
Estamos a falar com a banca local e com instituições externas, como o banco Afri cano de Desenvolvimento (bAD) para
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saber se, na perspectiva de desenvolvi mento, teremos acesso a linhas de finan ciamento que não nos sejam tão onerosas na reconstrução da frota. A esse respeito, aproveito para dizer que temos alguns aviões já encomendados à boeing e com uma parte dos depósitos pagos que pro vavelmente virão até 2022 ou 2023.
Face ao que hoje o mercado oferece e olhando aos desafios que se avizi nham no transporte de passageiros e carga, qual seria o número ideal de aeronaves?
Ao nível das aeronaves de passageiros (que também levam carga no porão) te remos quatro aviões boeing 737 até ao próximo ano e dois ou três aviões bom bardier q-400. A nível de cargueiros, para o mercado doméstico e regional, estamos a procurar aviões alugados com tripulação na África do sul, estando estes na fase final de negociação. Depois quere mos garantir o contrato que nos permite trazer um boeing 737 com porta de carga, podendo contar com dois destes aviões até ao próximo ano, número que pode aumentar caso a demanda o justifique.
Já admitiu que a realização destes ob jectivos encontra sempre a barreira da dificuldade financeira. Quanto di nheiro a LAM prevê investir no refor ço da frota, nesta primeira fase? quando falamos em adquirir um avião novo, o financiamento ronda os 50, 60 mi lhões de dólares. Mas um avião usado, operado em leasing, vem com custos na ordem de 200 a 250 mil dólares por mês, incluindo a manutenção. Portanto, a ope ração mensal dos leasings normalmen te é paga pela renda de bilhetes, embo ra também haja casos em que é necessá rio capital para financiar o depósito ini cial de cerca de meio milhão de dólares. Em princípio, iremos combinar as duas modalidades e estão ainda a ser estuda dos os detalhes que serão determinados pelas oportunidades de aquisição que nos sejam viáveis.
Há já algum tempo que se fala na ne cessidade de uniformizar a frota em termos de modelos para facilitar a gestão, poupar nos custos, melhorar a definição dos fornecedores. Essa per pectiva foi prioritária?
Já estamos a uniformizar a frota, uma vez que estamos a reformar os aviões Embraer 190 e a basear a nossa frota nos q-400 e nos boeing 737. Neste momento temos os Embraer 145 operados pela
MEX, mas provavelmente vão ficar mais posicionados no Norte, essencial mente para o segmento de charter. A intenção é, gradualmente, uniformi zar com os modelos bombardier q-400 e boeing 737-700.
A abertura de capital, até como solu ção para a entrada de financiamento, estará a ser equacionada? obviamente que a abertura de capital terá de ser feita com base numa reflexão que o Estado vai ter de fazer. saiu ago ra o decreto sobre o sector empresarial do Estado e nós estamos sob a alçada do Instituto de gestão das Participações do Estado (IgEPE) com uma série de outras estatais. Terá de ser uma decisão que de ve ser tomada olhando para cada indús tria para saber onde se deve abrir o ca pital. fazê-lo tem o grande atractivo de trazer uma nova gestão e capital vivo que pode fazer mover a empresa a uma velocidade maior. Mas também tem ou
tra parte que é o facto de a empresa ter efectivamente um interesse estratégi co muito grande e, por via disso, poder trazer benefícios sociais pelo facto de ser total ou maioritariamente do Estado, daí que seja preciso avaliar o peso des ses benefícios. Por exemplo, aquando dos ciclones, nós servimos as necessidades do país porque somos uma companhia de bandeira. uma empresa puramente privada poderia não ter condições para o fazer. ou seja, ao abrir o capital a em presa terá de funcionar como puramen te privada. É uma reflexão que tem de ser feita pesando os prós e contras, para depois tomar a decisão.
A LAM prevê também abrir novos destinos olhando para a dinâmica da economia e à medida que se for robus tecendo através de novos investimen tos na frota e formação de capital hu mano. Que mudanças irão ter lugar a este respeito, a partir de quando, e
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de...
AviAção Civil
“NuMA PrIMEIrA fAsE vAMos fAzEr LIgAçõEs PArA HArArE (zIMbAbué), vITorIA fALLs E LusAkA (zâMbIA), CAPE TowN (ÁfrICA Do suL) E LuANDA (ANgoLA) EM CooPErAção CoM A TAAg”
que novos pontos poderão ser ligados a nível doméstico e internacional?
A LAM tem direito de tráfego aéreo pa ra vários países, o governo está a assi nar acordos com o maior número pos sível deles. Numa primeira fase, va mos fazer ligações para Harare (zimba bué), vitoria falls e Lusaka (zâmbia), Ca pe Town (África do sul) e Luanda (Ango la) em cooperação com a TAAg. Mas de pois, estamos a pensar, provavelmente a partir do princípio do próximo ano, re tomar a rota de Lisboa (fala-se de uma parceria com um operadorr europeu, a este respeito), que é bastante rentá vel dado o elevado número de passagei ros, além de que há uma diáspora mui to grande que é preciso servir, o que é para nós um grande privilégio. Para lelamente há tráfego no sentido con trário, de portugueses para Moçam bique, e que podemos também servir. Também estamos a equacionar ligar são Paulo através de voos operados em par ceria com a TAAg a partir de Luanda, o que está previsto que se inicie em se tembro de 2020.
Que transformações os mega-projec tos vão trazer ao sector de aviação em Moçambique, de um modo geral?
o petróleo e o gás terão uma deman da que vai crescer exponencialmen te a partir do próximo ano com a fábri ca de processamento que está a ser ini ciada em Afungi (Cabo Delgado), podendo atingir cerca de 17 mil estrangeiros e 6 ou 7 mil moçambicanos na fase de pico. A LAM será, naturalmente, o principal candidato a começar a transportar tan to moçambicanos como pessoas para e da região. é uma grande oportunidade pa ra nós. obviamente, queremos levar os estrangeiros para destinos turísticos do país e os moçambicanos que lá trabalha rem das zonas de origem até ao seu posto trabalho. Isso vai ajudar-nos a acelerar a capacidade de resposta às necessidades do mercado.
Logisticamente, como irá funcionar? Nesta primeira fase, estamos já a projec tar a colocação permanente de aviões nas bases onde estão os operadores pe trolíferos, o que explica o tal investi mento no aumento da frota em pelo menos dois aviões (um boeing 737 e um bombardier q-400).
Um dos desafios da LAM é a formação de técnicos, incluindo pilotos. O que é que se está a fazer neste domínio e qual é o peso desta componente nas contas? o Ministério dos Transportes e Comunica ções tem grande preocupação com esta questão e mandatou um grupo de espe cialistas para repensar a formação de pi lotos moçambicanos e outros técnicos da aviação. Temos, noutra área, o caso da Es cola Náutica que já está a formar com bas tante sucesso e queremos fazer o mesmo com a Escola Aeronáutica, que já foi uma das referências da região, tendo forma do profissionais de quase todos os paí ses da sADC. Isso é essencial porque co mo moçambicanos vamos poder crescer. Mas, para participar neste crescimen to, a formação é essencial. só que isso é caro e requer tempo e um piloto ou um mecânico levam cerca de dois anos a serem formados.
Como avalia o estágio das competên cias técnicas do capital humano que a LAM tem hoje?
Temos uma grande falta de pilotos, de mecânicos, de alguns técnicos de outras especialidades como, por exemplo, nas áreas de marketing e comerciais, mas asseguro que temos a vantagem de uma equipa jovem e muito motivada, com al guma formação básica, e que facilmente poderemos formar para os desafios.
A questão dos quadros externos é um problema?
Neste momento temos quatro estrangei ros e o plano é que saiam num intervalo de até um ano e meio. Temos, por exem plo, um piloto estrangeiro que deve en trar para a reforma e que nos tem da do bastante apoio trazendo a experiên cia de que precisamos. Estamos a intro duzir pessoas que estão a iniciar a car reira e algumas que estão a ser con vertidas para comandantes. Acabá mos de converter agora a primeira co mandante do boeing 737 e interessa-nos ter pessoas com muita experiência. Nas outras áreas tivemos estrangeiros que saíram porque já tinham formado mo çambicanos capazes e temos um pla no de formação de quadros para subs tituir os estrangeiros que cá estão. De um total de 850 trabalhadores, só quatro são estrangeiros, pelo que não se trata de problema de proporção, mas de melhorar o nível de competências pa ra responder aos níveis de exigência de uma competitividade maior, num mer cado cada vez mais exigente e dinâmico.
Que balanço faz da evolução do de sempenho da LAM na era da sua ad ministração e que perspectivas tem para o crescimento da empresa?
A primeira fase da nossa actuação foi vi rada para dentro, num processo de rees truturação em que todas as transforma ções realizadas foram feitas com base na estrutura de pessoas e de recursos já existente. Pela confiança depositada pelo governo, as pessoas sentiram-se capazes de demonstrar o que valiam e sabiam fazer e isso teve resultados na pontualidade e qualidade do serviço. Portanto, começaram a ter sucesso a par tir da sua própria capacidade e foi neces sário começar a contar essas histórias. A partir daí, abrimo-nos bastante à im prensa, abraçando-a como parceira e não como nossa controladora, porque faz chegar ao público histórias interes santes desde que nós as contemos. que remos ter uma comunicação sistemáti ca e repetitiva para participar em con ferências de meios de comunicação que nos ajudem a divulgar o que somos. Is to para além de continuar a comunicar pelos nossos meios próprios, que são as redes sociais e a nossa revista de bordo (a Índico).
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texto Celso Chambisso fotogrAfiA Jay Garrido
Uma receita de sUcesso qUe passoU a crise e agora bUsca a revitalização
A Matola ficou, ao longo dos anos, conhecida como a casa das máquinas e o dormitório do país, algo que nem sempre gerou uma convivência pacífica. Agora, depois de anos de abrandamento económico, há sinais de retoma
Quando se fala de indústria no país, nenhuma cidade moçambicana é símbo lo maior dessa realidade do que a Matola. Algo que se afere até pelo facto de a maior parte das suas receitas fiscais te rem proveniência precisamente aí, no sector industrial.
É aqui mesmo, nos arredores de Mapu to, que, as diversas (e grandes) indústrias instaladas respondem por praticamente 80% das receitas da cidade e de toda a província de Maputo.
E se a capital financeira e administrativa de Moçambique fica alguns quilómetros
ProvínCia Maputo
Cidade Matola área 333 kM² PoPulação 1,6 Milhões região sul
a caminho do Índico, a capital industrial do país é, efectivamente, a cidade da Matola. Até por ser ali que foi instalado o par que de Beluluane, o maior pólo indus trial do país (e onde se encontra a fá brica de alumínio da Mozal). Mas é tam bém naquele distrito que encontra mos outras grandes indústrias de re ferência, como a Companhia Industrial da Matola, uma das maiores da área alimentar no país, a par da concor rente Merec, a poucos quilómetros, na Avenida das Indústrias, na Machava. Há também a Cimentos de Moçambique
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Matola
rovíncia
e o terminal de combustíveis, que alimenta todo o mercado nacional. Claro que, sendo uma região eminen temente residencial (mais de milhão e meio de pessoas), há problemas relacio nados com a poluição de muitas destas grandes empresas que se colocam no dia-a-dia de muitos moçambicanos e que, mais cedo ou mais tarde, terão de ser re solvidos, a bem das populações e de um crescimento económico sustentável.
o sol volta a brilhar Olhando meramente ao contexto econó mico, os últimos anos foram complicados na região, fruto do abrandamento econó mico súbito que se abateu sobre o país na segunda metade da década, e que levou algumas indústrias à falência (pequenas e médias empresas de construção e co mércio local, essencialmente) enquanto outras sobreviviam num aperto parti lhado pelos moçambicanos.
Mas desde o ano passado que o pior pa rece ter ficado para trás, e notam-se pequenos sinais de que a economia local está a a ganhar alento. À E&M, o director provincial da Indústria e Comércio de Maputo, Ernesto Mafumo, confirma esta tendência e revela que nos últimos dois anos o volume global de investimentos cresceu para 2,2 mil milhões de dóla res o que conferiu à província o segun do lugar em termos de investimentos a nível nacional, logo a seguir à cidade de Maputo, que registou 2,9 mil milhões de dólares, e antecedendo a província de Cabo Delgado.
No entanto, embora a Matola volte a dar sinais, ténues é certo, de recuperação, nota-se que ainda não conseguiu atingir os níveis da retoma a que se assistiam antes da crise, quando o crescimento económico anual rondava os 5%. O di rector da Indústria e Comércio lembra “a quebra de 2016 e 2017”, quando o cres cimento se quedou apenas nos 2%, mas confirma que “o sector industrial regis tou uma ligeira recuperação para um crescimento de 3,5%. Esperamos para este ano uma continuação dessa recu peração, já que não se espera a queda do preço do alumínio”, fenómeno que em 2017 prejudicou o mercado, com reflexos claros na redução da produção global da província. “A Mozal sempre foi determi nante para as receitas do sector indus trial da província”, recorda Mafumo. Mas onde se nota a recuperação não é apenas nos grandes projectos, havendo novos e diversificados investimentos de pequena e média dimensão que estão a
2,2
mil milhões de dólares
É o volume global de investimentos registado nos últimos dois anos. dessa fatia a indústria transformadora foi responsável por 550 milhões de dólares
gerar emprego e, sobretudo, novas e im portantes fontes de colecta de receitas fiscais para o Estado.
Com isso o Governo distrital já esfrega as mãos de contente, visto que só a in dústria transformadora que por ali se estabeleceu nos últimos anos trouxe um investimento global de 550 milhões de dólares.
maior procura por espaços Anualmente, a Matola tem vindo a re gistar uma crescente pressão de em presários nacionais e estrangeiros que procuram por espaço para instalar as suas indústrias e empresas. Com efeito no preço por metro quadrado. A apos ta dos investidores deve-se ao facto de estar nas imediações das Estradas Na cionais número 4 e 1 (EN4 e EN1), conside radas como principais corredores para a entrada de matéria-prima e para o es coamento de mercadorias para o resto do país e toda a região da África Austral, via África do Sul.
É por isso que, apesar de nos últimos anos estarem a surgir novos focos industriais, sobretudo no Centro e Norte do país, em resultado dos mega-projectos, o director provincial da Indústria e Comércio, em Maputo, não tem dúvidas de que Mato la “vai continuar a ser o maior parque industrial do país.” Aliás, Mafumo revela à E&M que Matola quer “posicionar-se cada vez mais como um player na presta ção de serviços para os mega-projectos”. Segundo o Governo local, existe um pro grama que surge de uma iniciativa da Anadarko para o desenvolvimento de fornecedores, que preconiza a criação de uma unidade de desenvolvimento empresarial na qual a Matola se vai en caixar como pólo principal de prestador de serviços. “É um programa que não nos permite ficar de fora e apenas a de pender de circunstâncias, pois tem uma acção direccionada para reforçar estas ligações da nossa indústria às oportu nidades que vão nascer nos próximos anos”, considera.
parque industrial de beluluane ganha uma nova vida
Considerado o maior do país e dotado de capacidade para acomodar mais de 500 empresas, o Parque Industrial de Belu luane andou durante anos desprovido de investimentos. O baixo nível de explora ção da capacidade instalada no parque, que até ao ano passado tinha apenas 38 empresas em funcionamento (7,6% da sua capacidade), denunciava problemas
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província
conjunturais e estruturais, como a fra ca disponibilidade de energia e água para o seu normal funcionamento. No entanto, existem várias mudanças em curso. De acordo com a administra dora do distrito da Matola, Anastácia Quitane, “há novos ramos de actividade que vêm permitindo a diversificação das indústrias” e que, com isso, levaram mais investimento para dentro do parque. E dá exemplos: “Assistimos à expansão da indústria química de produção de mate riais de construção, de tubagem, reser vatórios e outros utensílios”, exemplifica. Ernesto Mafumo concorda, e explica esse movimento recorrendo ao exemplo da recém-criada “infra-estrutura que per mitiu a disponibilidade de mais energia no parque e o que de bom isso trouxe.” Já para o gestor de desenvolvimento de infra-estruturas no Parque Industrial de Beluluane, Onório Manuel, “o futuro só pode ser de sucesso” porque, prossegue, “os constrangimentos enfrentados a nível de fornecimento de energia e de água já estão a ser acautelados. Caminhamos para termos um nível de
Se a Matola já viu chegar e partir empresas históricas como a Vidreira de Moçambique, a Texlom, a Zuid, a Metal Box, a Ceres, a Fábrica de Cápsulas, a Lusalite ou a Tudor, hoje há novos e diversificados investimentos de pequena, média e grande dimensão que estão a gerar emprego e, sobretudo, receitas para o Estado. E até se assiste ao regresso de algumas das antigas fábricas que faliram há várias décadas
infra-estruturas estáveis, situação que, conjuntamente com a janela de oportuni dades que representa para as empresas estarem ali, nos deixa esperançados de que poderemos, de facto, fazer aumentar o número de empresas das actuais cerca de 50 para mais perto das 500, de acordo com o nosso plano estratégico”, garante. Se a Matola já viu chegar e partir em presas históricas como a Vidreira de Mo çambique, a Texlom, a Zuid, a Metal Box, a Ceres, a Fábrica de Cápsulas, a Lusalite ou a Tudor, hoje há novos e diversifica dos investimentos de pequena, média e grande dimensão que estão a gerar em prego e, sobretudo, receitas para o Estado. E até se assiste ao regresso de algumas das antigas fábricas que faliram há várias décadas. Como a antiga Texlom agora convertida em Moztex, unidade fabril detida pela Rede Aga Khan para o Desenvolvimento (AKDN). Será assim que se tecem os novos tempos da Matola.
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Matola
texto Hermenegildo langa fotografia
d.r.
Para Ernesto Mafumo, director provincial da Indústria e Comércio de Maputo, a “Matola quer posicionar-se na prestação de serviços para os mega-projectos”
Três mitos sobre o emprego jovem em África e as estratégias para a mudança
Louise Fox • Chief Economist da USAID
mito um: a África Subsaariana enfrenta um desafio demográfico único. África enfrenta um desafio sem prece dentes em relação ao emprego para jovens.
Os factos para sustentar apontam para a causa demográfica, e por ser o continente mais jovem do mundo, dizendo-se muitas vezes que, até 2050, o número estimado de jovens a entrar no mercado de trabalho será superior ao do resto do mundo com binado. Mas os dados contam uma história diferente. É verdade que as transformações demográficas e económi cas em África estão bem atrás do resto do mundo - em parte porque a maioria dos países africanos iniciou esses processos mais tarde, com instituições económicas, sociais e políticas me nos desenvolvidas.
Mas a juventude dos africanos, ou a parcela de sua popula ção em idade activa no seu nível máximo, chegou a cerca de metade do pico das populações jovens do Leste Asiático, sen do mesmo 20% menor do que o pico registado no sul da Ásia. Na verdade, a força dos jovens africanos na força de trabalho atingiu o pico neste século, com 38% (apenas 4% acima dos pi cos asiáticos), e agora até está em declínio. E todas as outras re giões passaram por este período de pico de participação, sem enfrentar uma crise.
Mito dois: o dividendo demográfico. O que é único em Áfri ca é a lentidão com que a participação dos jovens na popula ção em idade activa deverá diminuir. Enquanto se pensa que a elevada participação de jovens na força de trabalho gerará um dividendo demográfico que ajudará a impulsionar o cresci mento económico, os dados históricos voltam a contar uma his tória bem diferente dessa. Sendo que os dez países com maior fertilidade estão, de facto, em África. No Quénia ou no Gana, por exemplo, essa taxa tem diminuído constantemente na exacta medida em que aumenta a expectativa de vida, que é a essência da transição demográfica.
No entanto, mesmo nesses países, a transição não fará o rápido progresso que pudemos observar noutras regiões, em parte devido à teimosa parcela de jovens mulheres com filhos, abaixo dos 18 anos (8% no Quénia e 7% no Gana, comparados com apenas 4% no sul da Ásia).
Mito três: formação é a solução para a situação de de semprego da juventude. A melhoria dos sistemas educa cionais poderia ser decisiva para a construção das capacida des fundamentais da futura força de trabalho no continen te. No entanto, instituições educacionais não criam empregos. Empresas e pessoas é que o fazem. O emprego assalariado sur ge com novas empresas, ou quando as existentes expandem a produção, encontrando novos mercados. Isso leva tempo, pro vavelmente décadas. Na verdade, pode argumentar-se que, devido à melhor política educacional do que económica, os jo vens africanos são excessivamente qualificados para as suas economias, o que é uma das razões pelas quais o desemprego é, estatisticamente, mais elevado entre os jovens mais instruídos. Na falta de oportunidades de usar as suas capacidades, a maioria dos jovens africanos, de todos os níveis de competên cias, terá de aproveitar para criar a sua própria vida atra vés do trabalho por conta própria, muitas vezes com mem bros da família, em explorações agrícolas ou em sectores não agrícolas. Algumas pessoas, tipicamente 2% a 5% da for ça de trabalho, serão capazes de criar um negócio orienta do para o crescimento e empregar cinco ou mais pessoas. Issodesafiaoimpulsomaciçoemdirecçãoaoempreendedorismo juvenil como a solução para o desafio do desemprego na região. Infelizmente, as empresas jovens - operando em ambientes económicos hostis, com capital, redes e know-how limitadostendem a permanecer pequenas e sustentáveis, servindo os mercados locais.
A educação é necessária para, mais do que ganhar dinheiro, possibilitar todos os aspectos da transição da juventude da de pendência para a independência. Perguntemos se todo o dinheiro gasto em pequenos projectos de jovens com resultados minúsculos fosse investido em infra -estruturas, conectividade, facilitação do comércio e melhor gestão nos sectores público e privado para facilitar a criação de empregos no sector formal? Difícil de fazer, mas é o que os jovens realmente precisam.
Opinião publicada no Capítulo 3 do relatório Foresight Africa 2019 da Brookings Institution
A educação é necessária para, mais do que ganhar dinheiro, possibilitar todos os aspectos da transição da juventude da dependência para a independência
OPINIÃO www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2019 36
mercado e finanças
Os velhOs prOblemas e Os nOvOs desafiOs dO dOing business
Os obstáculos ao bom ambiente de negócios são, afinal, bem mais profundos e começam a nível local. A realidade é desvendada no mais recente estudo do Banco Mundial que não deixa de acrescentar (boas) recomendações
É uma verdade de que já suspeitávamos:
Em Moçambique, “a regulamentação de negócios varia com a localização geo gráfica e os empresários enfrentam diferentes tipos de constrangimentos regulatórios dependendo de onde esta belecem os seus negócios”.
Mais grave ainda: “Nenhuma província domina a classificação dos indicadores (que avaliam o ambiente de negócios)”, o que acaba por não permitir que “todas as localidades aprendam umas com as ou tras em termos de boas práticas”. Estas são conclusões marcantes de uma avalia ção ao ambiente de negócios, publicada pelo Banco Mundial em Junho passado, no primeiro relatório de avaliação sub-na cional do Doing Business, em Moçambique.
113ª
Posição que MoçaMbique Poderia ocuPar no doing business se rePlicasse todos os bons exeMPlos de cada Província na cidade de MaPuto. actualMente está na 135ª Posição eM 190 Países avaliados
Dos dez indicadores tradicionalmen te avaliados, a pesquisa sub-nacional baseou-se em apenas quatro que se consideram determinantes e mais sus ceptíveis de variar em função do espaço geográfico, nomeadamente a ‘abertura de empresas’, ‘registo de propriedades’ e ‘execução de contratos’. O quarto indi cador mede as ‘transacções do comércio internacional’ através dos três princi pais portos marítimos – Beira, Maputo e Nacala – e uma travessia de fronteira terrestre de Ressano Garcia.
génese das incoerências
A pesquisa, que compara os processos regulatórios em dez províncias do país (considerando Cidade e Província de Ma
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puto como uma só), revela que a maioria dos regulamentos e leis para abrir uma empresa e executar contratos se aplicam a nível nacional, mas são admi nistrados a nível provincial.
Em ‘registo de propriedades’, por exem plo, as autoridades provinciais e as autárquicas aplicam leis nacionais. Tanto a Autoridade Tributária como as Conser vatórias do Registo Predial são regidas a nível nacional e operam a nível provin cial, enquanto as repartições de finanças autárquicas e departamentos de planea mento urbano autárquicos funcionam a nível da cidade. Desta forma, mesmo em áreas regidas por regulamentos nacio nais, medidas tomadas localmente por um tribunal ou operador portuário, por exemplo, podem incidir negativamente sobre o grau de complexidade e eficiên cia do processo regulamentar.
É a partir destas constatações que nasce a primeira sugestão de descentralização. É que “o processo de descentralização em curso em Moçambique tem atribuí do, progressivamente, mais poderes às províncias e autarquias, o que des loca o centro de atenção da agenda de reforma para a melhoria da presta ção de serviços a nível local”, revela o Banco Mundial.
se assim não for…
Vejamos exemplos práticos destas assi metrias detectadas pelo Banco Mundial: É mais fácil abrir uma empresa na Cidade de Maputo, onde um empresário consegue registá-la e publicar os estatu tos da sociedade no Boletim da República no mesmo local - a Conservatória do Re gisto de Entidades Legais (CREL). E é por isso que o processo de abertura de uma empresa pode ser até três semanas mais célere na Cidade de Maputo (onde de mora, em média, apenas 17 dias) do que nas outras nove províncias do país, em que a média é de 35,2 dias para o mes mo processo. Mas também em Maputo cidade se regista um menor número de procedimentos (dez, comparados com 10,9 da média nacional) para a abertura de negócios.
Outro exemplo é o da Zambézia, a província que apresenta o melhor de sempenho no registo de propriedades, devido a um processo de aprovação de transferência simplificado a nível au tárquico, digitalização avançada dos planos cadastrais e implementação de um sistema de informação geográfica. O tempo de registo de propriedade po de ir até aos 39 dias, substancialmente
MudAnçAs estruturAis
Das sugestões e recomendações do Banco Mundial para mudar o actual quadro do ambiente de negócios resulta a noção de um longo caminho a trilhar, com a necessidade de reordenar e harmonizar processos a nível nacional. Para cada província, e em relação a cada um dos três indicadores avaliados (lembrando que o quarto está ligado ao comércio externo), o Banco Mundial apresenta uma extensa lista de recomendações específicas, mas de um modo geral, as sugestões estão distribuídas da seguinte forma:
Abertura de empresas
Melhorar a implementação da Certidão da Mera Comunicação Prévia no Balcão de Atendimento Único (BAÚ); simplificar as tabelas de emolumentos actuais para a incorporação de empresas e torná-las disponíveis publicamente na Conservatória de Registo de Entidades Legais e online; melhorar a coordenação entre as partes interessadas e reforçar o fluxo de trabalho administrativo no BAÚ. Reforçar a transparência no sistema de gestão fundiária urbana; agilizar o processo de pagamento do imposto de transferência; melhorar a coordenação entre as entidades relevantes estabelecendo sistemas de comunicação entre conservatórias do registo predial e autarquias; e aumentar a informatização dos planos cadastrais e dos títulos de propriedade.
registo de propriedade execução de contratos
Publicar leis e julgamentos; melhorar a formação dos juízes e do pessoal de apoio judiciário; aumentar a responsabilização dos juízes, através da realização de inspecções judiciais periódicas e de estatísticas de desempenho; utilizar o mapeamento de processos para identificar constrangimentos no sistema judiciário.
menos do que os 47 da média nacional. E ali são necessários apenas sete proce dimentos (face aos 7,4 da média nacional), a um custo que representa 5,2% do va lor da propriedade (a média nacional é de 5,7%).
Já a resolução de um litígio comercial é mais facilitada em Manica, graças a pro cessos judiciais relativamente rápidos e aos baixos honorários cobrados pelos advogados. Em Manica, a execução de contratos leva 380 dias contra uma mé dia de 612,5 do país.
Pelo lado positivo, um dado a ressalvar, transposto no facto de praticamente todas as províncias, com excepção de Sofala e Tete, se posicionarem nos três primeiros lugares em pelo menos um in dicador dos quatro medidos.
Já em relação ao comércio internacio nal, medido de uma outra forma face aos outros três por não ter abrangência nacional, a travessia de fronteira de Res sano Garcia supera o desempenho dos três portos marítimos medidos. Ressano Garcia regista tempos mais curtos e cus tos mais baixos relativos aos serviços de processamento de carga em terminais e menos requisitos documentais. O seu bom desempenho é também resultado da implementação gradual do projecto de Fronteira de Paragem Única, confor me o acordo de 2007 entre Moçambique e a África do Sul para melhorar os pro cessos de desembaraço aduaneiro para carga comercial na fronteira e reduzir os tempos de espera.
A grande conclusão a que o Banco Mundial chegou, do cruzamento de to dos os dados recolhidos, é que “se a Cidade de Maputo adoptasse todas as boas práticas que, ainda assim se en contram nas restantes províncias do país, a classificação geral de Mo çambique na medição global Doing Business subiria 22 posições (para 113ª)”.
afinal, o que explica esta desconexão? Ninguém parece ter certezas. O estudo trouxe à tona um problema face ao qual as autoridades ouvidas pela E&M nun ca haviam reflectido, por falta de da dos conclusivos. A E&M ouviu a entida de responsável por questões relativas ao ambiente de negócios e que tem vin do a trabalhar com o sector privado nas reformas pelo alcance de melhor posi cionamento do país no Doing Business (a Direcção Nacional de Apoio ao Sector Privado a nível do Ministério da Indús tria e Comércio). Nicolau Sululo, o direc tor, começou por assumir a legitimidade
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mercado e finanças
As dez províncias avaliadas apresentam abordagens diferentes relativamente aos mesmos indicadores do ambiente de negósios
Pontuação | Registo de Propriedade
Ranking Nacional
67,56 | 1 66,65 | 3 61,07 | 6 60,38 | 7 59,04 | 9 66,16 | 9 58,77 | 8 59,01 | 10 67,32 | 2 61,33 | 5
52,94 | 6 54,78 | 2 54,77 | 3 53,61 | 5 49,94 | 10 52,61 | 7 56,72 | 1 50,92 | 9 52,13 | 8 54,18 | 4
39,78 | 10 50,34 | 9 57,05 | 4 64,4 | 1 56,52 | 5 53,38 | 6 52,74 | 7 58,45 | 2 51,53 | 8 57,37 | 3
Abertura de empresas tem sido a área com mais reformas, mas ainda há espaço para melhoria, já que o processo leva uma semana a mais, requer mais três procedimentos e custa o triplo da média das economias da sAdC
Abertura de Empresas
Execução de Contratos
FONTE Relatório de avaliação sub-nacional do Doing Business em Moçambique
das constatações da pesquisa. “É caricato que as províncias apresen tem comportamentos diferentes so bre procedimentos previstos na mes ma Lei. Se o Governo aprova uma legis lação sobre o processo de licenciamen to das empresas, por exemplo, é lógi co que, como gestor central, eu espere que esta legislação seja uniformemen te aplicada. Mas não é o que acontece. Em Tete aplica-se de uma forma, na Zambézia de outra… são estes aspec tos que revelam a disfunção das nor mas que resvala nas deficiências de
interpretação com efeitos nefastos no ambiente de negócios”, admite Sululo. e daqui em diante…?
“Este relatório vai dar lugar ao iní cio, agendado para breve, das activida des de implementação das recomenda ções (que serão abordadas mais adian te) à escala nacional”, afirmou o direc tor de Apoio ao Sector Privado no MIC. Nicolau Sululo diz estar já a ser pla nificado um programa de dissemina ção do relatório para que as provín cias aprofundem estas questões. E deixa
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deseMpenhO disfOrMe
cidade de maputo gaza (xai xai) inhambane (inhambane) manica (chimoio) sofala (beira) tete (tete) zambézia (quelimane) nampula (nampula) cabo delgado (pemba) niassa (lichinga)
uma crítica: “Muitas províncias não es tão, de facto, a levar a sério os indica dores sobre ambiente de negócios, daí que o programa vá consistir em deba ter o relatório olhando para a situação específica de cada uma delas”, afiança. Em princípio, e ainda de acordo com Su lulo, as reuniões irão integrar equi pas do Ministério da Indústria e Comér cio, do Banco Mundial e governos de ca da uma das províncias e consistirão na análise profunda sobre os aspectos que minam o ambiente de negócios, visan do encontrar um modelo de concertação dos procedimentos transformadores a aplicar nos próximos anos.
A grande certeza que parece haver, entretanto, é que a descentralização dos processos (em resposta a uma das
recomendações mais importantes do Banco Mundial) será efectiva. A partir deste ano, o Governo vai trabalhar no programa já a ser desenhado e uma das mudanças iminentes é que as decisões a nível central começarão a submeter-se às de nível local. Assim, “os governado res provinciais terão autonomia de de cidir sobre questões pontuais em ma térias que visam melhorar o ambiente de negócios”, antecipou Nicolau Sululo. “A descentralização vai municiar as províncias de ferramentas para ob servar com mais seriedade os indica dores sobre o ambiente de negócios. Terão balizas sobre como poderão mo nitorar e aplicar as medidas previs tas para torná-las capazes de atrair mais e melhores investimentos.”
O caminho: criar e replicar bons exemplos
De acordo com a análise dos resultados publicada pelo Banco Mundial e, de um modo geral, nenhuma província dominar a classificação dos indicadores, a pes quisa confirma a importância do que devem ‘aprender’ umas com as outras nos aspectos em que tiverem melhor pontuação.
Este será, de igual forma, um princípio a ser seguido pelo Governo nas próximas reformas que estão a ser actualmente desenhadas. “Há uma combinação de fac tores positivos de cada uma das provín cias, que deve ser feita para gerar im pacto positivo no ambiente de negócios em geral”, defende Nicolau Sululo.
No entanto, não há tempo a perder, até porque se fossem feitas algumas peque nas mudanças, o posicionamento modesto da economia nacional poderia alterar-se drasticamente. No sentido ascendente, claro, com tudo o que isso traria de bom. No que respeita à execução dos contra tos, por exemplo, uma localidade na qual se resolve um litígio comercial em 348 dias (como em Tete), com um custo de 21,8% do valor da dívida (como em Ma nica) e pontua 8,5 no índice da qualidade dos processos judiciais (como na Cidade de Maputo, Nampula, Sofala e Tete) posi cionar-se-ia em 35º na classificação glo bal desse indicador - 132 lugares acima da classificação actual de Moçambique entre 190 economias, de acordo com o Doing Business 2018.
Outro exemplo de como a conjugação de boas práticas, de forma uniformizada, seria positiva: ao nível do registo de pro priedades, uma localidade em que o pro cesso leva 37 dias (como em Inhambane) custa 5,2% do valor da propriedade (na Cidade de Maputo e Zambézia), exige sete procedimentos (como em seis pro víncias) e tem uma pontuação de 10 no índice da qualidade da administração fundiária (como em Tete) classificar-se-ia em 113º lugar. Isso representaria um sal to de 20 lugares na classificação global do país no ranking global anual do Doing Business, ultrapassando economias mais avançadas, como a do Quénia. No entan to, “todo este processo vai requerer mui to trabalho e é possível que, mesmo que se comece já este ano, os resultados não se façam sentir na classificação de Mo çambique no ranking de 2020”, avisa Ra fael Saúte, economista do Banco Mundial.
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tExto Celso Chambisso
fotogRAfiA D.R.
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empresas
ADPP, Pequenos gestos grAnDes Acções
A associação chegou a Moçambique em 1982, focada na área da educação, tendo evoluído para projectos ligados à saúde, agricultura e renováveis
o altruísmo que caracteriza a Associação de Desenvolvimento do Povo para o Povo (ADPP) teve a sua génese no Zimbabué e na Namíbia, no início da década de 1980, mas só chegou em definitivo a Moçambique, em Abril de 1982. “Começámos a trabalhar depois da Independência do Zimbabué com refugiados que estavam em campos de deslocados, em Moçambique”. Foi assim que surgiu a “primeira ideia de ficar a tra balhar por cá”, conta Birgit Holm, a direc tora executiva da ADPP Moçambique desde a sua fundação.
O pano de fundo de então era o combate ao regime do Apartheid, o ideal que trou xe a jovem dinamarquesa até África. “Essa luta fez com que muito rapidamen te fizéssemos muitos aliados na África Austral. Depois de Moçambique, vieram Angola, Malaui, Zâmbia”. Mas, desde esses primeiros tempos, mui to mudou. “Na altura éramos poucos, hoje temos quase três mil trabalhadores de vários níveis, todos assalariados”, conta. A história da ADPP guarda, em si, capítu los da História de Moçambique. Mais, ou menos felizes, mas todos vividos com o sentimento de dever para com os moçam bicanos. Das lágrimas sentidas no tem po da guerra, quando tiveram de se des fazer da Escola de Produção e Formação de Professores de Matutuine, ou depois, mais duramente, quando o orfanato da Costa do Sol foi atacado. “Quando chegá mos ainda nem havia legislação para enquadrar ONG’s, a fome era endémi ca e a guerra civil estava em curso... era tão difícil. Hoje tudo é diferente”, recorda. E é por isso que a dirigente associativa coloca o ano de 1992 como “um marco his tórico”, da evolução do país e da própria pegada da ADPP no desenvolvimento sus tentável de centenas de comunidades. Ao nível dos projectos, a actuação da asso ciação assenta hoje em quatro pilares: educação que, fruto de um acordo com o
Governo, deu origem a 12 escolas técnicas de formação de professores em todo o ter ritório; saúde, cujos projectos auxiliam as comunidades na prevenção e tratamen to de várias doenças, principalmente, da tuberculose e HIV/SIDA; agricultura, para a melhoria da segurança alimentar e dos meios de subsistência nas zonas rurais através da criação de Clubes de Agricul tores; e as energias renováveis, que pre conizam soluções para projectos de irriga ção e não só: “também temos trabalhado com biogás e fogões poupa-lenha”, revela. O alinhamento dos pilares de actuação da ADPP, até porque a instituição depende, em larga medida, de doadores externos, foi sendo alinhada com as grandes agen das globais, e com os Objectivos do Desen volvimento Sustentável. “O nosso trabalho baseia-se no humanismo solidário e esse é um foco que se mantém desde o primeiro dia. É o que nos guia.”
É por isso que, após quase quatro déca das de acções com impacto directo sobre milhões de moçambicanos, a ADPP se tor nou sinónimo de algo bom. A fundado ra sorri. “Sim... em qualquer sítio no país vamos sempre ouvir as pessoas reconhe cerem a ADPP. Talvez porque a nossa filo sofia sempre foi a de querer fazer o máxi mo e com maior abrangência, combinan do estes quatro princípios de actuação. Há que ter qualidade e uma base para real mente criar desenvolvimento e fazer um trabalho sério”.
Atenta a uma realidade em constante mudança, Birgit alerta ainda para o fac to de, com os grandes projectos que o país está a conhecer, “haver uma grande opor tunidade de ser um exemplo e de fazer realmente a diferença. Mas é também um grande desafio.”
BdesiGnação: aDPP direCtora exeCutiva: Birgit Holm Fundação: Abril de 1982
desenvolvimentosocial
2 milhões 3
000 60 12
de beneFiCiários trabalhadores ProJeCtos esColas em todo o País
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texto Pedro Cativelos & emídio massaCola fotografia Jay Garrido
“Melhorar o acesso e a mobili dade das comunidades circun vizinhas à mina de Moatize” é o objectivo das obras de revitali zação da estrada que dá aces so ao Bairro 1º Maio, e às comu nidades de Calambo, Bwambwe, Ntchenga, Chipasse e Nhance. Desenvolvidas pelo Grupo Va le Moçambique, os troços têm uma extensão de aproximada mente dez quilómetros.
Inserido nos projectos “Fazer acontecer” e “Crescer e Evoluir Juntos”, o acesso irá contar com trabalhos de colocação de lom bas de segurança nas proximi dades das escolas e sinalização beneficiando cerca de 1 800 fa mílias dos bairros adjacentes.
Vumba financia reabilitação de orfanato
Cerca de 111,5 mil meticais é o valor que a Sociedade Águas Vumba decidiu disponibilizar pa ra as obras de reabilitação do or fanato da Associação dos Ami gos de Crianças Órfãs de Sida (AACOSIDA), localizado na ci dade da Matola. O apoio se rá destinado à compra de mate rial de construção para a reabili tação de uma instituição que al berga uma média de 80 crian ças, entre os 4 e 18 anos, das quais a maioria são meninas ví timas de doenças, violência do méstica, abuso e abandono. A Vumba tem um total de 176 trabalhadores, e em 2014 foi dis tinguida com o Prémio Interna cional de Sabor e Qualidade na Área Alimentar nos ITQI Awards.
“melhorar
é
o objectivo anunciado pela multinacional sul-africana Sasol, durante o lançamento da primeira pedra da construção do Centro de Formação Profissional de Inhassoro, na província de Inhambane.
O investimento pressupõe ainda a construção de três oficinas de electrotecnia, uma de mecânica e uma outra de soldadura, incluindo infra-estruturas de apoio, com mobiliário e equipa mento para uma capacidade de cerca de 460 formandos por ano. Segundo a multinacional, “foi também adjudicado um contrato de 4,5 milhões de dólares para a construção do cen tro de formação técnica permanente da CETA”, uma empresa 100% moçambicana.
O custo total da instalação, incluindo móveis e equipamentos, deverá superar os 17,6 milhões de dólares.
fundação Galp e Helpo entreGam bicicletaS no norte do paíS
O Projecto ‘Educar para o Futuro’ tem o objectivo de apoiar comuni dades com a atribuição de bolsas de mérito e bicicletas que ajudam os alunos a encurtar distâncias e a continuar o percurso escolar.
A Fundação Galp completou as sim, em Julho passado, a entre ga de bicicletas previstas para o primeiro ano do Projecto, em par ceria com a HELPO ONGD, a alu nos de escolas do Norte do país. Nas actividades que decorre ram durante todo o mês de Ju lho foram entregues 28 bicicle tas aos melhores alunos nas co munidades de Natoa e Nam pula na inauguração do no vo posto de abastecimento da gasolineira.
A Sasol é uma empresa integrada de produtos químicos e energia fundada em 1950 na África do Sul, com actuação em 32 países.
Em Moçambique, o grupo opera nos blocos de Pande e Temane, na província de Inhambane, onde explora reservas de gás natural que é transportado através de um gasoduto de 865 quilómetros até à fronteira a Sul de Moçambique.
SoJoGo diStribui 29 milHÕeS de meticaiS em prémioS
A SOJOGO, associação a que está confiada a gestão da ex ploração de Lotarias e Apos tas Mútuas no país, distribuiu até ao final do primeiro semes tre do ano, 29 milhões de meti cais em prémios. Só na Lotaria, foram sorteados cinco primei ros prémios, no valor de 18 mi lhões de meticais. O Totobola foi o segundo jogo mais premiado, com 7 300 milhões de meticais, seguido do Totoloto, com 3 300 milhões e, por fim, o Joker, com 547 mil meticais. No conjun to dos quatro jogos sociais da SOJOGO foram registadas qua se 3,2 milhões de apostas que resultaram em 160 mil prémios.
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Vale reVitaliza ViaS de aceSSo em moatize
o nível de vida e mão-de-obra local”
petroquímica sul-africana prossegue com acções de responsabilidade social
SaSol conStrói centro de formação em inHaSSoro
Queremos tornar as câmaras de comércio mais interventivas
evaristo madime
Presidente da Federação das Câmaras de Comércio de Moçambique
mais de uma dezena de câmaras de comércio sur giram no país ao longo das últimas duas décadas, um fe nómeno motivado pelos si nais encorajadores que a eco nomia nacional registou até 2015, mas também pelo de senvolvimento de acordos de comércio com a União Euro peia, a SADC, a China e os Es tados Unidos.
Agora, a ideia passa por criar mecanismos de articu lação para que estas câma ras deixem de funcionar iso ladamente e passem a ser integradas na recém-cria da Federação das Câmaras de Comércio de Moçambique. O que vai mudar? É o que nos explica, a seguir, Evaristo Madime.
Com que objectivo foi criada a Federação das Câmaras de Comércio de Moçambique?
É um organismo que surge porque existe a necessidade de reforçar o associativismo empresarial, sobretudo o networking, congregando todas as câmaras de comércio que já estão, hoje, a funcionar na eco nomia moçambicana. Como se sabe, temos mais de uma de zena de câmaras bilaterais e existe a percepção de que, se sozinhas, têm desempenhado
acções significativas, em con junto poderão fazer ainda mais e melhor, sobretudo em aspectos de interesse comum, como por exemplo na área re gulamentar. Quando nos jun tamos numa federação, temos um grupo maior e com mais força. Repare que estamos a falar de mais de 300 empre sas filiadas nas várias câma ras e isso é fundamental.
Esse alinhamento será então o foco do seu mandato?
Podemos esperar um enorme contributo por parte da Fe deração que vai, certamente, contribuir para catapultar o empresariado ligado às câma ras bilaterais para um papel cada vez mais interventivo. Com a existência da Federa ção podemos reforçar a nos sa acção em questões como a melhoria do ambiente de ne gócios ou na mobilização de in vestimento externo, porque as câmaras de comércio são a porta de entrada do inves timento. É assim que vamos contribuir para o aumento da produção, competitividade, qualidade e certificação.
Em que fase está o trabalho da Federação?
Estamos ainda em proces so de legalização e desenvol
vimento institucional e num processo de criação do nosso plano estratégico que espe lha a visão da nossa equipa. Mas ainda não temos uma fo calização em relação a secto res de actividade. Em princí pio, os nossos membros, que são as várias câmaras de co mércio, e que têm essa visão em relação aos vários secto res, serão assimilados pela Federação que irá funcionar enquanto plataforma ideal de networking entre as várias câmaras. Mas iremos tam bém intervir, tendo em conta a vontade e estratégias dos membros nos vários sectores em que eles intervêm.
cvcurriculum vitae
evaristo Madime é economista e gestor, membro do Conselho de administração da arterial Network e da Câmara de Comércio Moçambiqueestados Unidos.
Comércio
Há uma visão de que Mo çambique pouco tem apro veitado os vários acordos de parcerias económicas. Qual é a sua ideia em rela ção a esta questão? A exploração dos mecanismos bilaterais de comércio tem que ver um pouco com conhe cimento. Moçambique, embo ra não tenha uma oferta lar ga, tem oferta. O que se passa é que os operadores não conhe cem bem os vários mecanis mos de facilitação do comér cio bilateral. Há um conjunto alargado de mecanismos com potencial para apoiar o cres cimento das exportações mo çambicanas. O que é preciso é que sejamos capazes de apro veitar todos eles da melhor forma. Até aí, ao nível das câ maras e da federação, pensa mos que no futuro teremos de dar um forte contributo para que esses mecanismos sejam mais conhecidos e que sejam também mais aproveitados por empresas e empresários com vontade de exportar. E tendo sempre presente que o objectivo das câmaras é a pro moção do comércio bilateral entre os países e os mercados.
figura
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do mês
texto Hermenegildo langa fotografia Jay garrido
Visão
Integrar e ajudar a melhorar o trabalho da dezena e meia de câmaras de comércio
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sociedade www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2019 48
Um café para conservar o sabor da natUreza
o projecto desenhado em 2010 pelo Parque Nacional da Gorongosa para a refloresta ção dos locais afectados pelo abate das árvores não teve grande sucesso junto da po pulação, uma vez que os pe quenos agricultores não ob tinham daí qualquer rendi mento. Era então preciso mu dar de estratégia e criar um plano com mais impacto que servisse dois pontos essen ciais: reflorestar e gerar ren da. Em 2014 teve início a pla nificação do Gorongosa Natio nal Parks’ Coffee Agrofores try Under Shade, um projec to piloto de cultura de café Arábica à sombra, de forma a conhecer a sua viabilida de, uma vez que em Moçam bique não havia histórico da cultura deste arbusto da fa mília das rubiáceas. Era necessário saber se uma montanha coberta por uma floresta tropical iria rece ber bem esta nova cultura que ajudava à reflorestação e, simultaneamente, agrega va valor aos rendimentos dos agricultores que ali habitam. Depois de conferida a viabi lidade, que teve apoio de es pecialistas na cultura de ca fé, oriundos da Universidade Federal do Espiríto Santo, no Brasil, foram reunidos os lí deres comunitários que abra çaram a ideia e hoje existem muitas famílias produtoras
de café como revela à E&M Matthew Jordan, responsá vel pela iniciativa. “O Café da Gorongosa está actualmen te a trabalhar com mil fa mílias que vivem na Serra mas temos planos para che gar às três mil muito em bre ve. Estamos todos alinhados numa relação integrada en tre o uso sustentável da ter ra, o desenvolvimento comu nitário e a manutenção da biodiversidade”.
Através da implementação de práticas agrícolas mais sustentáveis os pequenos produtores aprenderam a se mear em fileiras e, ao mesmo tempo, verificaram que po dem tirar partido da rotação de culturas, entre cada fila de cafezeiros. Assim não per dem milho e legumes o que também se traduz em renta bilidade para o solo, uma vez que ajudam a produzir nitro génio mantendo a terra fértil, reduzindo a necessidade de procurar novos locais de cul tivo, e por isso mesmo, evitan do o corte e a queima da flo resta tropical. Ao mesmo tem po torna-se possível travar a erosão dos solos, fazendo a re tenção da água das chuvas.
moçambique na rota do café Sem se alterar a natureza, foi assim criado na Serra da Go rongosa um viveiro onde se aproveita a sombra das ár
3mil famílias
“O Café da GOrOnGOsa está aCtualmente a trabalhar COm mil famílias que vivem na serra mas temOs planOs para CheGar às três mil muitO em breve”
vores que já existem, para que os agricultores possam ter formação e treino de mo do a saberem fazer as respec tivas mudas. Matthew Jordan explica que “a primeira equi pa modelo começou a traba lhar com a comunidade para promover a cultura junto de outros produtores, uma vez que os resultados começaram a ser visíveis. Em pouco tem po foi gerado um mosaico sus tentável de arbustos de ca fé e hoje podemos observar cerca de trezentos mil pés plantados, numa extensão de perto de 100 hectares.”
Mas estes arbustos não estão sozinhos. Como era necessário realizar o reflorestamento de muita da área abatida nos úl timos anos, têm sido planta das, à razão de 10% do plantio de café, árvores nativas (cer ca de três mil árvores até ao momento). O objectivo, diz-nos, “é crescer em cerca de duzen tos mil arbustos por ano, ao longo dos próximos cinco anos, para alcançar um milhão de pés de café plantados e conti nuar a expansão ao longo des se período de tempo”.
A safra registada este ano, a primeira desde o final da fa se piloto do projecto, chegou às dez toneladas de grãos de Arábica de qualidade supe rior. E se tudo se confirmar, na próxima década, é esperado um rendimento anual a ron
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Depois da Guerra Civil e do mais recente conflito foi o abate descontrolado de árvores a ameaçar a Serra. Mas, o projecto do Café da Gorongosa quer inverter o sistema, criando uma marca de desenvolvimento sustentavél
dar as 800 toneladas, o que fa rá com que Moçambique ve nha a ter alguma expressão junto dos países produtores de café da região.
Mas para que nada falte ao Café da Gorongosa, até por que o seu aroma único está a isso directamente ligado, toda a cadeia de valor acontece ali mesmo na zona da Gorongosa, da secagem à torrefacção, fi nalizando no empacotamento. Tudo realizado no Parque Na cional da Gorongosa, onde ain da foram criadas as áreas da comunicação, vendas e distri buição. E assim as bagas ver melhas do Arábica recém co lhidas mantêm a identidade que se bebe e onde se sente Moçambique na sua essência.
agro-negócio de inclusão social com geração de renda Todo o projecto Café da Goron gosa foi pensado no bem-es tar da comunidade, onde se incluem os beneficiários di rectos, milhares de peque nos produtores ou extensio nistas e os beneficiários indi rectos, que são os familiares de cada um. No que diz res peito aos produtores, estes fo ram capacitados com técnicas agrícolas, aprenderam ges tão financeira através do pro grama Farm Business School e foram sensibilizados para a conservação das espécies. Para os beneficiários indi rectos, a grande preocupa ção é a redução do absentis mo escolar, principalmente das meninas. Por isso, foram criados clubes de sensibiliza ção e construídas várias esco las para que possam frequen tar as aulas perto de casa. Há também grandes campanhas de sensibilização sobre noções básicas de saúde e vacinação. E, como nos confessa Matthew Jordan, “tudo isto acontece em paralelo com a produção do café porque quando falamos em desenvolvimento susten tável, temos de avançar em várias frentes”.
A capacitação é fundamental aqui. E para que ela possa ser
A entrada no mercado europeu está também prevista através de uma parceria com a Nespresso, em cápsulas próprias para as máquinas da marca
efectiva, foram criadas siner gias com a Universidade de Lisboa, a Cooperação Portu guesa, a Cooperação Brasilei ra e a Universidade de Espí rito do Santo, no Brasil, o que levou até à Goronogosa deze nas de estudantes de agrono mia moçambicanos e de ou tras nacionalidades ao longo dos últimos três anos, ali con cluindo Teses de Mestrado e Doutoramentos no estudo da produção de café e conserva ção da biodiversidade em sis temas agro-florestais. E não é nada incomum o projecto ser visitado por inúmeros técni cos internacionais que, fasci nados pela plantação de ca fé de qualidade superior à sombra da floresta, chegam à Gorongosa para aprender e ensinar.
O princípio de toda esta his tória começa com o filantro po Greg Carr que, através da Fundação com o seu nome e em conjunto com o governo da Noruega e o Global Envi ronment Facility, que agrupa 183 países e instituições inter
nacionais, conseguiram jun tar fundos para contrariar a tendência de desflorestação e ajudar esta enorme comuni dade de pequenos agriculto res na província de Sofala.
contas e café
As mudas e os serviços de ex tensão oferecidos aos peque nos agricultores têm um cus to elevado, difícil de quanti ficar. Contudo, o investimen to anual centra-se nos 500 mil dólares, sendo a parte que vai para os agricultores, operacionais de momento, é perto de mil dólares per capita. Aqui não estão incluídas des pesas com os serviços de saú de, educação ou insumos mais complexos. Sabemos que o ca fé é um commodity com pre ço variável que se situa ho je nos 2,5 dólares por quilo. Contudo, o Café da Gorongo sa, por ser Arábica de qua lidade premium e devido ao impacto social que abrange, pode chegar até aos sete dó lares por quilograma.
Feitas as contas ao café, as
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Projecto tem uma forte componente social e envolve centenas de famílias da região da Gorongosa
margens de lucro são encai xadas no Projecto Gorongosa para que exista uma conti nuidade na assistência à saú de e escolar. Aos produtores é pago um preço considera do justo por cada quilo de ca fé no momento da colheita, de modo a constituir um incenti vo para que as plantações se jam sempre de alta qualida de e ao mesmo tempo contri buam para a conservação e sustentabilidade da Serra da Gorongosa.
Até 2024 é esperado um in vestimento de um milhão de dólares, e será esse, esti ma-se, o ano do break even do projecto.
partir para outras terras Em Moçambique, o Café da Go rongosa pode ser encontra do em dois tipos de moagem - uma para expresso e outra para cafeteira - em alguns su permercados, cafés e dentro do próprio Parque Nacional. Mas a vontade dos mentores do projecto é que os grãos da Gorongosa possam perfumar
a serra sagrada
Diz a lenda que a Serra da gorongosa é sagrada porque Deus viveu ali com os povos da montanha Naquele tempo, os seres humanos eram gigantes e passavam o tempo a pedir favores ao Criador. Cansado por ser importunado, ter-se-á, então, mudado para o céu. Mas mesmo assim, os gigantes não desistiram e subiram a montanha para continuar a fazer os seus pedidos. É então que Deus decide colocá-los na ordem e torna esses seres em homens comuns. terá sido aí que a vida começou a ficar difícil... para todos na Serra.
chávenas de café de gran des mercados internacio nais, estando já em avança das negociações para a en trada nos Estados Unidos da América onde até já é ven dido no Boise Zoo, em Idaho.
A entrada no mercado eu ropeu está também previs ta através de uma parceria com a Nespresso, em cápsulas próprias para as máquinas da multinacional suíça detida pelo grupo Nestlé.
Em todas as cidades do mun do as pessoas sentam-se pa ra saborear o café. E é por is so que não constitui surpresa que este aromático grão seja, hoje, a terceira bebida mais consumida do mundo, depois da água e do chá.
A ideia é que, um dia, este fruto de Moçambique possa espalhar-se pelo mundo, con tando a história da Serra da Gorongosa e das suas gentes.
texto Cristina Freire fotografia Brett Kuxhausen, GoronGosa Media
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O desafiO de cOntOrnar O vertiginOsO declíniO das ril
Depois de, no ano anterior, Angola ter acumulado Reservas Internacionais Líquidas de 32,2 mil milhões de dólares, em 2014, o montante desceu 27,7 mil milhões, caindo novamente no ano seguinte, numa notória tendência decrescente dos activos externos de disponibilidade imediata preocupante para a economia
sob o controlo da autoridade mone tária, e destinadas ao financiamento de desequilíbrios da Balança de Pagamen tos, as Reservas Internacionais Líquidas (RIL) do país passaram de 24,3 mil milhões de dólares em 2016 para 10,8 mil milhões em finais de 2018, servindo apenas para cinco meses de importação de bens e ser viços, contrariando todas as garantias do Governo que apontavam para cerca de oito meses.
A queda das RIL, numa assinalável (e preocupante) redução de 65% desde Abril de 2014, deveu-se ao que já imaginamos: a
65%
foi quanto baixaram as reservas internacionais Líquidas de angoLa entre 2014 e 2018
baixa do preço da sua principal (e pratica mente única) fonte de receita, o petróleo. Estudos apontam ainda que, apesar dos avultados recursos registados entre 2013 e 2017, a economia não teve uma redução proporcional de despesas, o que resultou em défices fiscais sistemáticos financiados por meio do endividamen to interno e externo. “Não houve uma transformação estrutural da economia”, diz o economista Fernandes Wanda, investigador da Universidade Agostinho Neto, para quem a referida transforma ção deveria e deve ainda passar por um
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fora
rápido processo de industrialização. À E&M, o economista e sociólogo guineen se Carlos Lopes, que esteve recentemente em Angola, elege igualmente a trans formação, aliás, tema do seu livro que o levou a Luanda.
O também Alto Representante da União Africana para as Negociações com a Eu ropa é categórico: “Transformação estru tural passa pela industrialização. Esse debate da diversificação é muito lento. Precisamos de falar de política industrial, num debate mais vigoroso e interventor”. E é isso que parece faltar. É que, no início da queda das Reservas Internacionais Lí quidas, em 2014, o então ministro dos Pe tróleos, Botelho de Vasconcelos, reconhe cia que Angola necessitava de um preço médio de 80 dólares por barril para equi librar as suas finanças públicas, embora as estimativas apontassem para 95. Assim, já naquele ano, receava-se um preço de 60 dólares, o que levaria natu ralmente ao défice de receitas petrolífe ras de 25 mil milhões de dólares, mesmo para uma produção de 1,9 milhões de barris. “O que está para vir não é segu ramente bom”, concluía assim o Relatório Energia em Angola 2016, do Centro de Es tudos e Investigação Científica da Univer sidade Católica de Angola.
A previsão não podia estar mais certa. Angola não pôde estruturar alternativas às suas receitas de exportação, perpe tuando uma situação de “quase reclusão estrutural”, como lhe chamou o relatório, sendo prova disso a recente revisão do seu Orçamento Geral do Estado (OGE) cujo preço de referência passa de 68 para 55 dólares, revelando que o país não evitou o que já se receava em 2014. Paga-se, as sim, por se terem adiado reformas genui namente estruturantes que levassem à construção de uma economia de exporta ção diversificada e com crescimentos eco nómicos mais endógenos e duradouros.
A revisão do OGE elevou os receios de a economia entrar novamente em reces são, já que bastará que o sector petrolí fero se torne mais negativo na variação da sua produção para isso acontecer. “Os países ganharam uma mentalidade rentista, que pode vir de um produto que nos dá conforto financeiro ou pode vir da ajuda ao desenvolvimento utilizado da mesma maneira”, explica Carlos Lopes, confirmando os receios de nova recessão devido à volatilidade do preço do petróleo, principal fonte de receitas de Angola.
A tendência decrescente das reservas leva o presidente da Associação Indus trial de Angola (AIA), José Severino,
A previsão não podia estar mais certa. Angola não pôde estruturar alternativas às suas receitas de exportação, perpetuando uma situação de “quase reclusão estrutural”, como lhe chamou o relatório, sendo prova disso a recente revisão do seu Orçamento Geral do Estado (OGE) cujo preço de referência passa de 68 para 55 dólares, revelando que o país não evitou o que já se receava em 2014. Paga-se, assim, por se terem adiado reformas genuinamente estruturantes
a deixar uma posição contundente. “Não é sustentável a continuação desta importação, em dez anos foram 40.000 mi lhões de dólares. Não temos infra-estru turas, não temos dinheiro para comprar máquinas e equipamentos”, observou. Em 2018, 47,7% das divisas disponibiliza das pelo Banco Nacional de Angola (BNA) foram canalizadas para a importação de mercadorias, muitas das quais podiam ser produzidas localmente. Importa assi nalar que, em 2017, a percentagem desti nada foi maior, 61%.
Tal descida, não explica necessariamente um aumento na produção nacional, mas encontra amparo na diminuição das pró prias reservas, bastará para isso olhar para o peso da agricultura no Produto Interno Bruto (PIB) angolano, que teve um crescimento insignificante de 6,03% para 6,21%, de 2017 a 2018.
Veja-se que, por exemplo, a África do Sul apresenta um peso de 16%, a Nigéria de 21% e Moçambique de 22%.
O próprio BNA reconhece que só o “desenvolvimento do sector primário da economia, concretamente da agricultura e toda a sua cadeia de valor garantirá maior robustez à economia angolana, permitindo-lhe amortecer os choques provenientes da volatilidade dos preços das commodities”.
O Banco Central adianta ainda que se o país mantiver os actuais níveis de impor tação e adiar a produção local, as suas re servas não serão suficientes para fazer face à demanda.
Contudo, de 2017 a 2018, Angola passou de 11 meses de importação para sete meses, numa tendência decrescente que se man tém mais ou menos constante.
Só no primeiro trimestre de 2019, Angola já gastou 583,1 milhões de dólares para importação de bens alimentares, enquan to nos últimos anos a média anual foi de 3 mil milhões.
c orrida contra o tempo De acordo com o BNA, factores como a diminuição do preço do petróleo e da produção interna resultaram na redução das reservas internacionais, acrescentando ainda que estas se encon tram agora num patamar insustentável devido ao aumento da importação dos bens mais essenciais.
Assim, parte da resolução do problema deve passar pela produção dos 54 bens es senciais para a redução das importações. Um valor de 434 milhões de dólares será o montante a ser financiado por nove ban cos comerciais, no âmbito do Programa
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de Apoio ao Crédito (PAC), destinado a apoiar os empresários nacionais do sector. O financiamento é resultado dos memo randos de implementação do PAC, rubri cados entre o Ministério da Economia e Planeamento (MEP), o Banco de Desenvol vimento de Angola (BDA), o Fundo de Ga rantia de Crédito e oito bancos comerciais de direito angolano.
O programa dará prioridade aos opera dores económicos que já produzam al guns dos 54 produtos e que pretendam expandir a sua actividade. Além dos memorandos de implementação do PAC, com os oito bancos comerciais, fo ram também assinados outros memoran dos entre o MEP e as ordens profissionais dos advogados, contabilistas, economistas e engenheiros de Angola.
Com peso significativo nas importações, a cesta básica das Forças Armadas Ango lanas (FAA) e da Polícia Nacional vai ser, brevemente, assegurada por bens pro duzidos no país, segundo o MEP. A E&M sabe ainda que o PAC será destinado tan to para as pequenas, médias e grandes empresas, com taxas de juros que irão até 7,5%, estando já registadas na sua pla taforma 4 000 empresas nacionais com possibilidade de produzirem os 54 produ tos seleccionados para a implementação do Programa de Apoio à Produção e Di versificação das Exportações e Substitui ção das Importações (PRODESI).
Enquanto o PAC é operacionalizado, a Companhia de Bioenergia de Angola (Bio com) revela um exemplo que se deveria estender a vários sectores. É que a em presa permitiu ao país poupar, de 2015 a 2018, cerca de 170 milhões de dólares, com a produção nacional de açúcar e etanol, na ordem dos 55% e 50%, respectivamen te. Em 2020, prevê-se uma poupança de divisas na ordem dos 80 milhões de dóla res, com a produção local de 110 mil tone ladas de açúcar (mais 37 mil que em 2018) e 19 mil metros cúbicos de etanol neutro (mais dois mil), 8 500 dos quais serão ex portados para os mercados europeus de França e Suíça.
Perspectivas de crescimento levam o mi nistro da Agricultura e Florestas a ter uma visão optimista, que sempre carac terizou as retóricas do Governo mais do que os resultados: “Angola poderá atingir, nos próximos cinco anos, a auto-suficiên cia alimentar em quase todos os produtos agrícolas, como resultado dos programas em curso de apoio à agricultura familiar, do aumento das áreas de cultivo e da subvenção do preço dos combustíveis”. Um tal resultado significará necessaria
Estudos apontam que, apesar dos avultados recursos registados entre 2013 e 2017, a economia não teve uma redução proporcional de despesas, o que resultou em défices fiscais sistemáticos financiados por meio do endividamento interno e externo.
mente uma reduzida pressão nas recei tas petrolíferas, fonte das RIL.
Mas Carlos Lopes deixa um outro alerta: “Se fizermos uma transfor mação estrutural na base, unicamen te, de uma grande dependência ex terna, vamos continuar a falar de coisas que não são as mais prioritárias. Vamos fazer coisas que não são as melho res para a economia angolana”. E esclare ce ainda o professor da Mandela School of Public Governance: “Se eu produzo pa paia e passo a produzir de igual forma o ananás, isso significa que diversifiquei, mas acabei por não transformar coisa alguma e continuo na mesma depen dência. Transformação estrutural pas sa pela industrialização e não pela diversificação apenas”.
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a transformação que pode vir do petróleo Além da importante descida do preço do petróleo no mercado internacional, a acen tuada queda nas Reservas Internacionais Líquidas deve-se igualmente a várias res trições técnicas e operacionais que causa ram uma redução na produção de petróleo e, em consequência, provocaram um rom bo na arrecadação de receitas fiscais. A isso junta-se o facto de o país importar cer ca de 80% dos derivados de petróleo devido à falta de capacidade interna de refinação. Assim, está em marcha o Programa de Desenvolvimento e Consolidação do Nível de Petróleo e Gás, que faz parte do Pla no Nacional de Desenvolvimento 2018-2022, e compreende três grandes metas: a substituição de reservas para atenuar o declínio acentuado da produção; a auto
loslopes
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economista e alto representante da União africana para as Negociações com a europa
“Se fizermos uma transformação estrutural na base de uma grande dependência externa, vamos continuar a falar de coisas que não são as mais prioritárias”
UM diferencial cOM QUe nÃO se cOnta
o oge revisto de 2019 preconiza, como podemos ler no artigo, um valor abaixo dos 60 dólares por barril de petróleo, valor de que se receia desde 2014 por apresentar défice de receitas petrolíferas.
angola parece assim afundar-se nas suas próprias contas pelo facto de apresentar “uma estimativa do preço do petróleo consideravelmente mais conservadora”, descendo de 68 dólares para os 55 dólares.
e, ao longo da sua execução orçamental, o diferencial do preço deverá servir para “encurtar o prazo do pagamento dos atrasados”.
todas as dívidas em atraso a fornecedores, sobretudo as “constituídas dentro das regras de execução orçamental”, serão, no entanto, liquidadas em 2019 sendo que as restantes serão pagas até 2021.
Com isto, angola, que já tem vindo a perder inúmeras e sucessivas oportunidades para transformar estruturalmente a sua economia assente num só produto de exportação, deve contar com cada vez menos recursos para, ao longo dos próximos anos, poder dinamizar todo um conjunto de sectoreschave que levariam à tão desejada diversificação das suas fontes de receita macro-económicas.
-suficiência de produtos refinados através da construção de novas refinarias; e a melhoria da rede de distribuição de com bustíveis e lubrificantes por via da expan são da capacidade de armazenamento. Uma das principais prioridades do Gover no é a construção das Refinarias do Lobito e de Cabinda e a reabilitação da Refinaria de Luanda. É com estas apostas que o Exe cutivo de João Lourenço pretende aliviar e reverter o quadro decrescente das RIL, já que só a redução das importações de deri vados na ordem dos 40% poderá poupar ao país, em 2022, cerca de dois mil milhões de dólares, segundo cálculos da E&M
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texto Adão Gil fotografia d.r. e cArlos AGuiAr
O aquecimento global e o esquentamento localizado
Pedro Cativelos • Director Executivo da Economia & Mercado
dizem-nos as notícias que... não há notícias. Boris Johnson é o novo primeiro-ministro britânico, o que já toda a gente sabia. E também nos vão mostrando que se assemelha a Donald Trump, na estética capilar, sobre a qual não me vou pronunciar por falta de argumentos válidos para tal, como nas palavras. Faltam os actos mas ainda é cedo para os julgar poucos dias de pois de ter tomado posse. O britânico, que já foi jornalista, tornou -se famoso por dizer coisas controversas em colunas de jornais e em plataformas públicas: é o número 15 milhões a consegui-lo. E até nos highlights que lhe são atribuídos, dizendo que as mu lheres que usam véus em rostos islâmicos parecem “caixas de correio”, ou ter recorrido a termos racistas para descrever pessoas da Commonwealth faz descansar a novidade. Boring. O que mostra que a fama está cada vez menos exigente e já abra ça qualquer idiota que, hoje, pode aspirar a, no contexto certo, deixar de ser um qualquer alguém anónimo se disser umas parvoíces. Até pode chegar a presidente, ou primeiro-ministro. Mas, repreendendo-me a mim próprio, na realidade, qual é a notícia disso se, pensando bem, sempre foi assim? Johnson, como Trump, que já foi uma estrela da TV e acha que continua a ser, também favorece a redução de impostos para os mais ricos. Só que, ao contrário do impaciente norte -americano, não é um proteccionista e acredita ser o Brexit que lhe vai fazer entrar o mundo pelas portas da economia do Reino Unido, passando por cima, ou ao lado, da União Europeia. Claro que, entre Boris e Donald, as semelhanças são mais mar cantes do que as assimetrias e que, valha a verdade, vão ter muito que conversar sobre um possível acordo de comércio entre ambos, que dificilmente será mais vantajoso para o Rei no Unido do que uma saída limpa negociada com a UE. O que provocará um esquentar de relações arrefecidas. Ou vice-versa, dependo de onde se está a olhar. Talvez até provo que alguma notícia a sério. Mas só lá mais para a frente. Por falar em acordos comerciais, um em particular ficou sela do há semanas, entre os países do Mercosul e UE, e que preco niza a criação de uma das maiores áreas de livre comércio do planeta. O que já não é notícia porque foi em Junho. Juntos, representam 25% da economia mundial e um mercado de 780 milhões de pessoas, num acordo que vai
eliminar as tarifas de importação para mais de 90% dos produtos comercializados entre os dois blocos. Quando se considera o número de envolvidos e a extensão territorial, o acordo só perde para o Tratado Continental Africano de Livre Comércio, que envolve 44 países africanos, assinado em Março passado. Que também já foi notícia. Trade será, por isso, uma das palavras do ano. Por ser em inglês americanado como é moda (e não novidade), e um tema quente do momento. Logo numa altura em que quente é palavra que ferve. Pelo menos no hemisfério Norte onde é Verão (no news) embora tenha sido no Sul, aqui mesmo em Moçambique, que o secretário-geral das Nações Unidas António Guterres, de visita ao país, voltou a defender “a necessidade imperiosa de um combate às mudanças climáticas”. De visita ao Centro de Reassentamento de Mandruzi, numa província de Sofala ainda abatida pelo Idai, Guterres lembrou que “sempre houve ciclones”, mas que eles “nunca foram tão fortes, tão frequen tes, tão intensos e com tantas devastadoras consequências.”
Por isso, avivou a necessidade “de se ouvir a comunidade cien tífica” e relembrou que “não podemos permitir um aumento da temperatura superior a 1,5 graus até ao fim do século.”
As tempestades que recentemente aconteceram na região são exemplos do “impacto dramático e devastador da mudança climática em África, do avanço da seca em áreas como o Sahel num continente que praticamente não contribui para as mu danças climáticas, mas onde o seu efeito é maior.” E a notícia é?! Claro que o ideal seria dizê-lo aos senhores de cima. Do texto e do tecto do mundo. A Trump, que anunciou, mal tomou posse, a saída do Acordo de Paris, afirmando querer “dar primazia à produção de energia americana.” E aos outros todos. Até a nós próprios. Alcançado na capital francesa em 2015 foi, então, considerado um compromisso histórico para reduzir a emissão de gases com efeitos de estufa e travar o aquecimento global. Mas qua tro anos depois, é na mesma Paris onde, no final deste mês de Julho, os termómetros batem os 45 graus centígrados e um recorde de décadas. O que nos leva a pensar que não há desacordo que não valha uma sombra, nem um mergulho que não faça esquecer uma boa ideia. No fim, a não notícia de parecer natural que Paris, a cidade do amor, esteja a arder. Sem se ver.
Como um conjunto de não notícias nos podem dar algumas novidades. Ou, porque é que, afinal, tudo muda tão depressa, embora pareça que não saímos do lugar?
NOVOS ÂNGULOS www.economiaemercado.co.mz | Agosto 2019 56
ócio
(neg)ócio s.m. do latim negação do ócio
Nesta edição visitamos o Lago do Niassa que, pela sua dimensão e beleza, faz inveja a um oceano
À descoberta do Soko Café, onde se brinca, à mesa, com os ícones da gastronomia contemporânea
O Cem Reis Syrah 2016 celebra uma casta de culto
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62 60
Um LAgO DE fAzER INVEjA
Niassa A Um OCEANO
o lago niassa banha Moçam bique, uma parte do Malaui e da Tanzânia, mas não só.
Ele é, pela sua dimensão, uma verdadeira metáfora de um oceano, e foi ali, onde se for jou ao longo dos séculos, uma onda de afectos que se espa lhou pelas várias etnias que por lá vivem, na sua orla. Com 560 quilómetros de com primento, 80 quilómetros de largura, uma profundidade máxima de 700 metros e uma área estimada de 31 mil qui lómetros quadrados, é um te souro de água com que se pode tudo.
Vê-lo de qualquer parte do lado moçambicano é um des lumbramento. A sua água é azul-turquesa, cristalina e com a inocência de um re servatório natural ainda no seu estado imaculado e puro.
eAli, a tentação para um mer gulho é imensa e as tempe
raturas amenas, que osci lam entre os 22º e os 29º, con vencem os mais resistentes. Logo à saída nordeste de Li chinga, capital de Niassa, pela Estrada Nacional Número 249, decentemente alcatroa da ao longo de cerca de 106 quilómetros, os maciços co bertos de um lençol verde gabam-se de não lhes faltar a água do lago.
Do lado de Cóbué, a cerca de 200 quilómetros de Lichin ga, o lago é propício ao des porto aquático como snow boarding, vela ou scuba di ving. “O desporto é melhor durante o mwela season, a estação dos ventos do sul. Aparecem boas ondas para competição, apesar de a prá tica desportiva ainda ser muito esporádica”, conta Pat son Chambo, trabalhador malauiano de um dos lodges que se encontram na orla do Niassa.
O turismo de sol e mar na parte moçambicana tem ou
tro ponto de grande referên cia, a praia de Chwanga, em Metangula, a 106 quilóme tros de Lichinga. É uma pe quena varanda para o lago Niassa e a enorme esplana da de cimento e tecto de ca niço e colmo completam-lhe a coreografia.
No Inverno, o local fica mais ou menos despovoado, aco lhendo maioritariamente os nativos, mas quando chega o Verão transforma-se numa autêntica romaria para turis tas internos e estrangeiros. Na praia de Chwanga, tor na-se delicioso testemunhar as habilidades dos nyanjas na natação.
Os mais pequenos esgueiram -se agilmente, em mariposa ou de costas, para um pouco longe, com um sorriso preten sioso mal avistam estranhos. “É proibido não saber nadar.
Todos os que vivem perto do lago Niassa aprendem a na dar desde pequenos”, diz Chi rwa Pilinga, trabalhador de
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RESERVA NACIONAL DO NIASSA Visitas Das 06.0oh às 18.0h +258 822682459 +258 87406989
uma estância turística local. Do Nkwichi Lodge, que está a 30 minutos de barco de Có bué, é possível fazer um pas seio de barco, que pode levar até às ilhas malauianas de Txizumulo e Likoma, em pou co menos de meia hora.
biodiversidade de encher o olho O Niassa é a casa da maior variedade de peixes do mun do, cerca de 1300 espécies, das quais 350 são endémi cas, assim como acolhe cer ca de 450 espécies de pássa ros. Esta rica biodiversidade levou a UNESCO a declará-lo Património da Humanidade, em 1984.
Mais recentemente, o Gover no de Moçambique atribuiu -lhe o estatuto de Reserva Parcial do Lago Niassa (RPLN) como medida de protecção do ecossistema. Noventa e nove por cento das espécies de peixes de água doce de todo o mundo só ocorrem dentro deste lago.
O fascínio do Niassa não está apenas no seu imenso lençol de água. O meneio com que a viagem Lichinga-Cóbué ser penteia o complexo monta nhoso Maniamba-Aramanba alimenta a fantasia de um al pinismo que se faz de carro. E para os mais aventureiros, algumas das serras que la deiam as suas margens con vidam ao montanhismo.
A densidade da floresta de al guns trajectos do troço que leva aos vários miradouros do lago e o avistamento fugaz de macacos e babuínos pro porcionam a experiência de um pequeno safari.
“Que não venha o petróleo, cujas pesquisas Malaui e Tan zânia disputam ferozmente, porque será o fim do lago e do seu ecossistema”, sentencia Patson Chamba. Enquan to isso não acontece, e espe rando que não aconteça, o ca pricho da natureza, que é o Niassa, está lá, para propor cionar momentos de lazer inesquecíveis.
textO José Machicane fOtOgRafia Vasco célio
ROtEIRO
coMo ir
Partindo de Maputo ou de outro destino qualquer do país, pode apanhar os voos da LaM que o levarão até Lichinga. No aeroporto poderá alugar um carro que o levará até ao Lago.
o que fazer apreciar a beleza do Lago e as suas espécies diversificadas de peixes. Pode também nadar, fazer surf, snowboarding, vela ou scuba diving. Nas serras é possível fazer montanhismo.
onde dorMir
Se quiser ficar no centro da cidade de Lichinga, opte pelo Hotel girassol (telefone: +258 27121280; e-mail: girassollichingahotel@ visabeira.co.mz). Se preferir uma aventura fora da cidade, escolha o Nkwichi Lodge, onde deverá fazer uma reserva prévia (site: www.nkwichi.com; e-mail: info@nkwichi.com).
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QUEm tEm Um LAgO ASSIm, COmO O pOVO NyANjA , DA pROVíNCIA DE NIASSA , NãO pRECISA NEm INVEjA Um OCEANO
o menu proposto pelo “soko” ilustra, de forma exem plar, um conceito que se apli ca a muitas áreas criativas: “less is more”. Se a lista pare ce curta, em termos de ofer ta, é porque a opção foi pegar em alguns ícones contempo râneos da gastronomia mun dial – como o Hamburger, o Hot Dog, a sopa Ramen ou os Huevos Rancheros – e dar -lhes uma “interpretação” personalizada.
E, não haja dúvidas, este é ho je o factor diferenciador por excelência. É uma equação “simples” desde que, pelo me nos, duas condições de base estejam asseguradas: a quali dade dos ingredientes e, cla ro, a mestria do “intérprete”. Quando a estes pressupostos essenciais se acrescenta o ce nário adequado (uma boa am biência e uma apresentação cuidada e elegante do produ to gastronómico) e um serviço atento e eficiente, estão reu nidas as condições fundamen tais para o sucesso. E é o que acontece no “Soko”. Vejamos, então, mais em deta lhe alguns dos itens do menu.
UmA VIAgEm pELOS íCONES
Comecemos pelo Hamburguer.
Reza a história que o Ham burguer, tal como hoje o co nhecemos, se tornou popular, nos Estados Unidos, a partir do início do século XX. No en tanto, a sua massificação só acontece mais tarde, com o aparecimento do conceito de “fast food” desenvolvido pe la McDonald’s na década de 50. Na viragem para o sécu lo XXI, com a progressiva im plosão do modelo massifica do que caracterizou a “socie dade de consumo” da segun da metade do século passado, também o Hamburguer co meçou a ser objecto de uma “reinvenção”. O “Hamburguer à Soko” é um bom exemplo disso: envolvido num pão es pecial amanteigado, a carne é embebida num molho de ca fé e acompanhada por repo lho vermelho com maionese. Duas outras propostas no me nu do “Soko” merecem um des taque especial: a sopa Ramen e o Bunny Chow, um clássico de Durban, na África do Sul.
DA CULtURA gAStRONÓmICA
A sopa Ramen, um ícone da cozinha japonesa, tornou-se popular, em anos recentes, à escala mundial. A tal pon to que existe mesmo hoje um museu (o Shin-Yokohama Rau men) que lhe é inteiramente dedicado. Apesar de ser con siderado um prato típico da gastronomia nipónica, a ver dade é que a sopa Ramen é oriunda da China. Embora se ja designada como sopa, deve mos considerá-la mais apro priadamente como uma “so pa-refeição”, tantos e tão va riados podem ser os seus in gredientes. No “Soko” existem três variantes: a vegetaria na, com camarão ou com pica nha. E todas elas são merece doras de uma prova. Quanto ao Bunny Chow, as suas origens são indianas e a sua identificação como um prático típico de Durban pa rece remontar ao início do sé culo XIX quando muitos imi grantes indianos vieram tra balhar nas plantações de ca na-de-açúcar da região do KwaZulu-Natal. Crê-se, aliás, que a grafia “Bunny” é uma adaptação para o inglês da
designação indiana origi nal: “baniya” ou “banyan”. O “Bunny Chow” é um prato fei to à base de curry caldoso que pode ser de legumes, car neiro, frango, peixe ou maris co, que depois de pronto é co locado dentro de uma metade de pão escavado. No “Soko”, o “Bunny Chow” é proposto nas variantes de frango ou cama rão e há a opção, para além da versão tradicional no pão, de ser acompanhado com ar roz branco.
Mas se estes são os pratos que optámos por destacar, há vá rios outros que devem mere cer igual atenção, como as sa ladas, as tostas de carne des fiada (porco ou vaca), os ovos mexidos com queijo feta e co gumelos, etc. Para acompa nhar as refeições, o “Soko” propõe ainda uma lista varia da de bebidas (que vão das al coólicas aos sumos e aos chás). Tudo boas razões para não deixar de experimentar uma visita ao “Soko”.
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textO rui Trindade fOtOgRafia Jay Garrido Avenida Kim Il Sung, 83 Maputo +258 84 411 8126
SOKO CAfé
SE A LIStA pARECE CURtA NA OfERtA , é pORQUE A OpçãO fOI CUStOmIzAR E REpRODUzIR íCONES DA
gAStRONOmIA
g
hERDADE
DO ESpORãO SyRAh 2013
País Portugal
reGião Alentejo (Herdade do Esporão) casTa Syrah
cor Vermelho denso e concentrado aroMa Nariz compacto, com sugestões de aromas de cacau, eucalipto e ligeiras notas de café torrado
Paladar Revela fruta negra com taninos sólidos e acidez que equilibra o conjunto e lhe confere personalidade final Longo com boa persistência Teor alcoólico 14,5%
SyRAh 2016”
A SyRAh tORNOU-SE UmA DAS CAStAS mAIS ApRECIADAS Em tODO O mUNDO
CEm REIS SyRAh 2016 CELEbRANDO UmA CAStA DE CULtO
ERmELINDA fREItAS SyRAh 2016
País Portugal
reGião Setúbal (Casa Ermelinda Freitas) casTa Syrah cor Granada aroMa Reminiscente de conservas de frutas escuras muito maduras e toque de balsâmico Paladar Aveludado e cheio no paladar, com taninos muito bem integrados final Longo com boa persistência Teor alcoólico 14,5%
País Portugal reGião alentejo (Herdade da Maroteia) casTa Syrah cor Violeta escuro aroMa exuberante, notas de frutos pretos, mentoladas, terminando com amêndoa tostada Paladar Cheio e redondo final firme com boa persistência Teor alcoólico 16%
apesar das muitas especulações em torno das suas origens (seria proveninente da cida de persa Chiraz ou da Síria, onde existia uma variedade de uva conhecida por Syriaca, pa ra citar apenas dois exemplos) e da existên cia de igual número de teorias para explicar a sua chegada à Europa, a verdade é que, depois do trabalho desenvolvido por cientistas con temporâneos, no final da década de 90, ficou comprovado que a Syrah é originária do Va le do Ródano, em França, e que resulta de um cruzamento entre duas castas aí existentes: a Mondeuse Blanche, branca, e a Dureza, tinta. Contudo, apesar do seu berço ser francês, a fa ma do Syrah começou a surgir com o boom dos vinhos australianos entre os anos 1980 e 1990. Parte do prestígio chegou quando o Penfolds Grange Hermitage – criado pelo enólogo Max Schubert- ganhou, em 1995, o prémio de vinho do ano da revista “Wine Spectator” e projec tou o nome da casta tornando-a tão conhecida quanto outras já mundialmente famosas como a Cabernet Sauvignon, a Merlot e a Pinot Noir. De acordo com dados recentes, a casta é a sexta no mundo com maior área plantada. França (70 mil hectares) e Austrália (42 mil hectares) são os países onde o seu cultivo é mais proeminente mas noutros países - co mo Espanha, Argentina, África do Sul, Estados Unidos, Itália, Chile e Portugal - tem também já uma presença assinalável.
CRAStO SUpERIOR SyRAh
2014
País Portugal
reGião Douro (Quinta do Crasto) casTa Syrah cor Roxo escuro aroMa Frutos silvestres e notas de cacau fresco
Paladar Bom volume e estrutura, taninos frescos, textura aveludada e notas florais final Equilibrado com boa persistência Teor alcoólico 14%
Mas qual é razão do sucesso dos vinhos Syrah? O facto de a uva ter uma personalidade for te é talvez a que conta mais. Os vinhos feitos a partir dela apresentam bom corpo, são poten tes e cheios de sabor. As suas notas mais carac terísticas variam entre frutas negras (como mirtilos e amoras), violetas e azeitonas pretas, além de especiarias picantes, muitas vezes pi menta preta, às vezes branca. Com o tempo, as dimensões aromáticas evoluem e costumam surgir notas terrosas como as associadas ao defumado, ao couro e às trufas.
Entre as muitas opções possíveis, a nos sa sugestão deste mês vai para um Syrah português, o “Cem Reis Syrah 2016” da Herda de da Maroteia. Como aconteceu noutros paí ses, até à década de 90, a casta era pouco co nhecida em Portugal, mas ultrapassou já as plantações de uvas clássicas como Tinta Bar roca, Vinhão/Sousão e Alvarinho.
Com 16 meses de estágio (50% em barricas de carvalho francês e 50% em barricas de car valho americano), o “Cem Reis Syrah 2016”, do enólogo António Maçanita, é um Syrah pode roso, concentrado, com uma estrutura firme e persistente e carregada.
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música filmes livros
• em destaque
TexTo AnA Queiroz/ilusTrAções PAulo Queiroz edição: escolA PorTuguesA de MoçAMbiQue
EXpOSIçÕES
WORLD PRESS CARTOON
Camões - Centro Cultural Português em Maputo
Patente até 23 de agosto Horário: Segunda a Sexta das 11h às 18h
MEMÓRIAS
ExPOSIçãO DE ULISSES
Fundação Fernando Leite Couto galeria
inauguração: 8 de agosto às 18h Patente até 31 de agosto
4ª ExPOSIçãO
ANUAL DO PROJECTO MUSEU DO CINEMA
Centro Cultural Franco-Moçambicano Sala de exposições inauguração: 13 de agosto Hora: 18h30
MARIA ChALEN
16Neto – Espaço Criativo Dia: 21 de agosto Hora: 18h30
CINEmA
CONDITIONED BODIES –DECLARATION Of INDEPENDENCE TINA KRUgER
Centro Cultural Franco-Moçambicano
Dia: 15 de agosto Hora: 19h
À ESPERA SÓNIA ANDRé E NIvALDO vASCONCELOS
Centro Cultural Franco-Moçambicano
Dia: 19 de agosto Hora: 19h
fERRO EM BRASA LíCINIO DE AzEvEDO
Fortaleza de Maputo Dia: 19 de agosto Hora: 16h
ShIPITO – A LENDA DO MAPIKO ATANáSIO NyUSI E ALEx DAU NhENhA – ANfRé BAhULE
Fundação Fernando Leite Couto Dia: 20 de agosto Hora: 18h
mÚSICA
TA ByLA yESU – ROSA NOvELA (LANçAMENTO DE CD)
Teatro Avenida Dia: 3 de agosto Hora: 18h
SMOLLER
16Neto – Espaço Criativo
Dia: 14 de agosto Hora: 19h
MARRABENTA vELhA gUARDA
Museu da Mafalala Dia: 16 de agosto Hora: 18h
“tangerina”, de ana Queiroz e ilustrações de Paulo Queiroz, conta a história de uma menina que se confronta com o dilema de recuperar o seu lugar no quarto dos pais, após o nascimento da sua irmã, ou enfren tar as primeiras dores de crescimento. Publicado pela escola Portuguesa de Moçam bique, este é o 26º títu lo dedicado aos mais no vos no âmbito do traba lho desenvolvido na edi ção na literatura infanto -juvenil. ana Queiroz estudou Ci nema, em Portugal, na escola Superior de tea tro e Cinema. Des de aí, participou na es crita de vários docu mentários entre Por tugal e Moçambique. Publicou na Revista Ca LiBaN, na Revista 365, e foi destacada entre os Jovens Criadores 2009. Paulo Queiroz estudou pintura na faculdade de Belas-artes da Universi dade de Lisboa. enquan to artista plástico partici pou na exposição “Quin ta do gato Cinzento” co mo membro do colecti vo Mesa-de-Luz. trabalhou ainda como assistente de produção e curadoria de artes Vi suais na associação Cul tural ZDB em Lisboa.
MAvUNDJA
Fundação Fernando Leite Couto Dia: 22 de agosto Hora: 18h
gOSPEL - SARA MANhIqUE
Centro Cultural Brasil Moçambique Dia: 31 de agosto Hora: 16h30
tEAtRO
INCêNDIOS WADJI MOUAWAD
Centro Cultural Franco-Moçambicano Dia: 9 de agosto Hora: 20h30
NKARINgANA WA NKARINgANA ALBERTO MAgASSELA
Centro Cultural Brasil Moçambique Dia: 13 de agosto Hora: 18h30
fALA COMIgO DOCE COMO A ChUvA TENNESSE WILLIAMS
Centro Cultural Brasil Moçambique Dia: 24 de agosto Hora: 18h30
BRINCANDO NO ESCURO (TEATRO INfANTIL) CARLOS ANTONhOLLI
Fundação Fernando Leite Couto Dia: 31 de agosto Hora: 10h30
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“RESgAtE” , A pRODUçãO
a estreia da longa-metra gem “Resgate” nos cinemas Lusomundo (Maputo e Matola) é um acontecimento que me rece, por diversas razões, um destaque especial. Não apenas pelas suas quali dades cinematográficas mas, em especial, pelo que repre senta em termos do seu mo delo de produção, pois reflec te a procura de alternativas, em termos de financiamento, aos mecanismos tradicionais. Filmado entre 2017 e 2018, “Resgate” é uma obra cine matográfica independente com realização e guião de Mi ckey Fonseca e direcção de fotografia e edição de Pipas Forjaz. Os dois fundadores da Mahla Filmes são também os produtores executivos desta que é a sua primeira longa-metragem.
O filme conta a história de Bruno que, depois de passar quatro anos na famosa Cadeia
INDEpENDENtE DE mICKEy fONSECA E pIpAS fORjAz
Central de Maputo por rou bar carros, é finalmente um homem livre e quer distân ciar-se do seu antigo gangue. Com o apoio de Mia, sua na morada, abre uma pequena oficina de mecânica. A vida parece estar no caminho certo quando Bruno é sur preendido por um misterioso empréstimo bancário feito pela falecida mãe. Em deses pero, a única saída é fazer alguns ‘jobs’ para o seu anti go gangue. Não tarda, porém, a envolver-se até ao pescoço numa rede de raptos violen tos que só beneficiam o impla cável novo ‘boss’ do gangue. A ideia para o filme surgiu há alguns anos quando os raptos, abordados no filme, se torna ram mais frequentes no país.
mODELO DE pRODUçãO REfLECtE A bUSCA DE ALtERNAtIVAS AOS mODELOS tRADICIONAIS DE fINANCIAmENtO
No entanto, e tendo em aten ção o tema, para Mickey Fonseca e Pipas Forjaz, era essencial ter total liberdade criativa nesta sua primeira longa-metragem. Daí que te nham decidido investir uma parte significativa dos rendi mentos da Mahla Filmes - que se dedica maioritariamente à produção publicitária - em equipamento que permitisse reduzir o orçamento de “Res gate”. E, posteriormente, te nham lançado também uma campanha de crowdfunding através das redes sociais.
A sua estreia em sala re presenta, por isso, um sinal inequívoco de que é possível produzir cinema indepen dente em Moçambique.
O elenco do filme combina o estreante Gil Alexandre, no papel do protagonista, com alguns actores já conheci dos como Arlete Bombe, To más Bié, Laquino Fonseca e Cândido Quembo.
Lusomundo (Maputo
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Cinemas
e Matola) estreia 19 de Julho
“RESgAtE”
Motor V6
3.6L a gasolina que debita 285 cv e 353 Nm de binário
gLADIAtOR ASSINALA REgRESSO DA jEEp AO SEgmENtO
va nova pick-up jeep gladiator foi apresentada, no final do ano passado, durante o Sa lão Automóvel de Los Angeles. Segundo Tim Kuniskis, res ponsável da marca para a América do Norte, este re gresso deve-se ao facto de ha ver “uma enorme procura deste tipo de modelo por parte dos nossos tradicionais clien tes Jeep e de compradores de pick-ups de todo o mundo”. O modelo exibe uma estéti ca robusta, de design distin to, imediatamente identificá vel com os tradicionais ele mentos de estilo Jeep. A equi pa de design manteve a len dária grelha de sete entra das já conhecida do Wran gler, mas com as aberturas alargadas para aumentar a entrada de ar, de forma a compensar a maior capaci dade de reboque. O topo da típica grelha foi ligeiramen te dobrado para trás para melhorar a aerodinâmica. A Gladiator baseia-se, no es sencial, no conhecido mode lo Wrangler, mas apresen
ta diferenças significativas. É 79 centímetros mais com prida e a distância entre ei xos foi alongada em quase 50 para acomodar a caixa tra seira de 1,52 metros. Tal como no Wrangler, a Gladiator pre tende diferenciar-se da con corrência pela oferta de re cursos únicos (como pára-bri sa rebatível e opção de tecto removível), e outros atributos que evidenciam a sua capaci dade off-road (incluindo dife rencial traseiro bloqueador, barra estabilizadora desco nectável e pneus de 33”).
A construção é baseada numa estrutura chassi sepa rada da carroçaria e oferece reboque de quase 3 500 quilos (a melhor marca para uma pick-up média), carga útil de 730 quilogramas e imersão de 75 centímetros. Em termos de motorizações, a Gladiator
A NOVA jEEp gLADIAtOR fOI ApRESENtADA DURANtE O SALãO AUtOmÓVEL DE LOS ANgELES
DAS pICK-Up
vaicontarcomdoismotoresV6. O primeiro é um 3.6L a gaso lina que debita 285 cv e 353 Nm de binário. A partir de 2020, a Jeep vai oferecer a Gladiator com um motor Die sel V6 de 3.0L que debita 260 cv e 599 Nm de binário, po dendo ser equipada com cai xa manual de seis velocida des ou com automática de oito. A Gladiator será vendida em três versões: Sport, Sport S e a topo de gama Rubicon. En tre os equipamentos disponí veis estão faróis de LED, di ferenciais dianteiro e tra seiro com bloqueio electró nico e desconexão da barra estabilizadora.
Há ainda uma câmara fron tal que transmite imagens para a central multimédia. E dependendo da versão do equipamento, o écran dessa central multimédia pode ser de 5, 7 ou 8,4 polegadas com patíveis com os sistemas Ap ple CarPlay e Android Auto. O Gladiator 2020 oferece mais de 80 recursos de segurança e proteção activos e passivos.
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jEEp gLADIAtOR