E&M_Edição 18_Setembro 2019 • 2019 - O caminho certo

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o caminho certo
Florestas MoçaMbique perdeu Mais de Metade da Mancha florestal na voz de ÂnGelo MacuÁcua , pca do fundo de estradas Área 1 da occidental à total a nova ‘dona’ da anadarko sociedade “MoçaMbique devia ser patriMónio Mundial do MoviMento Moderno” os planos de cresciMento da rede de estradas para os próxiMos anos SetembrO 2019 • ano 02 • nO 18 Preço 200 mZn 9789895408504 00018
moçambique

ObserVaçãO

Oktoberfest a imagem de uma celebração icónica a nível mundial

Panorama economia, banca, Finanças, Infra-estruturas, Investimento, País

MaCrO

Florestas Moçambique perdeu metade da sua mancha florestal em apenas três décadas

AviAçãO Civil

20 Estradas a e&M analisa os planos de crescimento da rede de infra-estruturas rodoviárias no país 28 na voz de... Ângelo Macuácua, o PCa do Fundo Nacional de estradas

PrOVÍNCIa

Macaneta Como cresceu esta localidade turística por excelência com a nova ponte 38

MerCaDO e FINaNças

Oil & Gas a história de todo o processo de compra da anadarko pela Occidental 42 EMPresas

Green Print a história de uma empresa que quer deixar uma impressão verde. Literalmente 44 MegaFONe

Marketing O que está a acontecer no mundo das marcas em Moçambique e lá por fora

ócio

46 FIgura DO MÊs

48 SOCIeDaDe

Arquitectura “Moçambique devia ser património Mundial do Movimento Moderno”

Wellington Soares CeO do Corredor de Desenvolvimento do Norte e da CLN faz um balanço sobre a operação das empresas 52 lÁ FOra

Angola a conclusão de que a salvação do banco público bPC passa pela alienação a privados

www.economiaemercado.co.mz | Setembro 2019 3 Sumário 59
60 Escape Xai Xai, quando achamos que já conhecemos o mar... 62 Gourmet Os aromas e sabores da África Oriental, no Kwetu 63 Adega Nederburg 1791, o charme discreto da casta Pinotage 64 Agenda Música, livros, filmes 65 Arte Fundação Celebra os 500 anos da morte de Da Vinci 66 Ao volante Mini lança edição especial 60 anos 6
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RaDar
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20 naçãO
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Conferências E&M “Transformação Digital e Inovação no Sector Financeiro’

Iacumba Ali Aiuba

enquadrada no ciclo anual de Conferências da revista Economia & Mercado, vai ter lugar na última semana deste mês de Setembro, em Maputo, a Confe rência sobre Transformação Digital e Inovação no Sector Financeiro. As novas tecnologias de informação e comunicação revolucionaram, como sa bemos, o sector financeiro, sendo de destacar a banca. Além de torná-la mais di nâmica e eficiente, tornam-na, também, mais inclusiva. Num país como Moçam bique, onde os índices de bancarização ainda são significativamente baixos, os custos operacionais das agências físicas são elevados, a transformação digital da banca e outros serviços financeiros digitais, assim como as novas platafor mas de pagamento e transacção permitem não só a redução de custos, mas também uma maior inclusão financeira, que é um dos desígnios do nosso País. Inúmeros especialistas defendem que, se a inclusão financeira em economias mais desenvolvidas ocorreu por via da bancarização tradicional, em econo mias de países em desenvolvimento ela deve ser acelerada com a introdução de formas inovadoras e disruptivas de prestação de serviços financeiros. Assim, a Economia & Mercado, publicação de referência em Moçambique — re conhecida como Credível, Relevante e de Intervenção Positiva sobre todos os temas de actualidade Económica e Financeira com preponderância na Econo mia Nacional — juntamente com a Deloitte Moçambique, que tem vindo a par ticipar nos últimos anos na implementação de múltiplos processos de transfor mação digital, ajudando desta forma as organizações a utilizar as metodolo gias e plataformas tecnológicas como veículo para melhorar a boa governa ção, combate à corrupção, inovação e produtividade, decidiram juntar os prin cipais intervenientes do sector financeiro e das tecnologias de informação e co municações. Para contextualizar o estágio actual, as oportunidades e desafios da transformação digital e a inovação no sector. Será debatida a dinâmica da bancarização no país à luz da evolução dos meios de pagamento e as perspec tivas actuais e futuras ligadas ao Cyber Risk e ao branqueamento de capitais. E serão, ainda, apresentados casos de sucesso de toda esta nova dinâmica. Acreditamos que este evento vai ser uma oportunidade para partilhar expe riências e perspectivar a evolução do mercado financeiro em Moçambique no contexto das novas tecnologias de informação e comunicação.

MÊS ano • nº 01

Setembro 2019 • Nº 18

PROPRIEDADE Executive Moçambique

DIRECTOR Iacumba Ali Aiuba

DIRECTORA EDITORIAL DO GRUPO

EXECUTIVE Ana Filipa Amaro

DIRECTOR EXECUTIVO Pedro Cativelos

propriedade Executive Mocambique Liquatis nienis doluptae velit et magnis enis necatin nam fuga. Henet exceatem seque cus, sum nis nam iu Qui te nullant adis destiosse iusci re in prae voles sant laborendae nihilib uscius sinusam rehentius eos resti dolumqui dolorep reprem vendipid que ea et eumque non nonsent qui officiasi

COnsELhO EDITORIAL

Alda Salomão; António Souto; Narciso Matos; Rogério Samo Gudo

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JORnALIsTAs Celso Chambisso; Hermenegildo Langa; Cristina Freire, Elmano Madaíl, Rui Trindade PAGInAÇÃO José Mundundo FOTOGRAFIA Jay Garrido REVIsÃO Manuela Rodrigues dos Santos PRODUÇÃO Executive Moçambique PUBLICIDADE Ana Antunes (Gestora Comercial - Moçambique) ana.antunes@ executive-mozambique.com; iona@iona. pt/contacto@iona.pt (Portugal) ADMInIsTRAÇÃO, REDACÇÃO E PUBLICIDADE Executive Moçambique; Av. Salvador Allende, nº 1039, Bairro Polana Cimento, Maputo – Moçambique; Tel.: +258 21 485 652; Tlm.: +258 84 311 9150; geral@executive-mozambique.com

DELEGAÇÃO EM LIsBOA Telheiras, Rua Poeta Bocage, Nº 2 – 1º Escritório D • 1600233 Lisboa • Portugal; Tel. +351 21 381 3566; iona@iona.pt

IMPREssÃO E ACABAMEnTO Minerva Print - Maputo - Moçambique

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TIRAGEM 4 500 exemplares núMERO DE REGIsTO 01/GABINFO-DEPC/2018

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www.economiaemercado.co.mz | Abril 2019
Editorial
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Director da revista Economia & Mercado

observação

A festA de OutubrO que cOmeçA em setembrO

Celebrada anualmente, em Munique, no estado germânico da Baviera, desde 1810, a Oktoberfest é hoje, porventura, a maior celebração mundial. A todos os níveis. Criado pelo rei bávaro Luís I para celebrar o seu casamento com Teresa, que deu o nome ao parque (Theresienwiese) que é, ainda hoje, o palco das festas, o festival de cerveja de Munique tem ganho, ano após ano, uma dimensão maior que na edição anterior. Por ali passaram, em 2018, perto de sete milhões visitantes que consumiram sete milhões de litros de cerveja nos 18 dias da celebração, sendo justo dizer que, ali, são as diversões, (jogos, comida tradicional e música animada) que acompanham a bebida. E, claro, a atmosfera é desenhada e vestida a rigor, com as vestes tradicionais da Baviera. Mas a Oktoberfest não cresce só na Alemanha, espalhando-se por todos os cantos do mundo onde há germânicos. De Cincinnati a São Paulo, viajando até Maputo onde também se celebra todos os anos. E com cerveja, claro.

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AlemAnhA , PArque Theresienwiese, 22 de seTembro
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valE rEvê prOduçãO EM baixa

tia soberana para financiar a sua participação no projecto do gás natural da Área 1, da Bacia do Rovuma, cujas obras de construção da fábrica de liquefacção arrancaram no mês passado.

Carvão. A mineradora Vale anunciou, no final de Agosto, a revisão em baixa da pro dução do carvão este ano, de 14 milhões de toneladas para 10 milhões, devido a intensas chuvas que caem no centro do país. As receitas da empre sa situaram-se em 271 mi lhões de dólares no segun do trimestre deste ano, va lor que representa uma redução de 15 milhões de

Extractivas

dólares, em comparação com o trimestre anterior. “O volume de vendas es tá em linha com o primeiro trimestre, manteve-se na casa dos 2,2 milhões de to neladas e o que tivemos de impacto nas receitas foi por conta dos preços que recua ram no segundo trimestre se comparado com o pri meiro”, informou Marcelo Tertuliano, director finan ceiro da mineradora.

Mais-valias. Vêm aí mais re ceitas extraordinárias. A equipa interministerial está ainda a calcular o valor que o Estado deverá receber pela compra dos activos da Ana darko na Área 1 da Bacia do Rovuma pela Occidental, ga rantiu, em Agosto passado, o ministro dos Recursos Mine rais e Energia, Max Tonela, citado pelo jornal “O País”. Apesar da incerteza quanto aos números, Tonela garante que o valor será pago ainda em 2019 e que o Governo es tá a acompanhar o processo que vai culminar com a pas sagem dos activos que eram da Anadarko para a Total por 55 mil milhões de dólares.

Combustíveis. A fornecedora de combustíveis Fienergy en frenta dificuldades que já re sultaram em alguns atrasos no abastecimento, em Agosto. O Governo diz estar a “moni torar a situação para que não se registe ruptura no abas tecimento de combustíveis” tal como em anos anteriores. Caso a empresa continue a falhar deverá ver o contra to rescindido, tendo ainda de compensar a Imopetro pelos danos causados. A Imopetro, entidade detida por todas as empresas distribuidoras de combustíveis, avança ainda que já existem compensações ainda não calculadas que esta fornecedora deve pagar,

EcONOMia

Transparência. “Moçambique está no bom caminho quanto à gestão dos recursos do sec tor extractivo”, conclui a mais recente avaliação da Inicia tiva de Transparência na In dústria Extractiva (ITIE). Mo çambique aderiu à ITIE (pa drão global que promove a transparência e governação

do sector extractivo, possibili tando aos países uma melhor governação de recursos, com vista a melhorar o ambien te económico, político e so cial), em 2009. Em 2012, o país foi considerado como ‘cumpri dor da iniciativa’, pela obser vação dos requisitos exigidos, como o acesso a informação e o envolvimento do Governo.

Hidrocarbonetos. O acordo de financiamento à Empresa Nacional de Hidrocarbonetos (ENH), no valor de 2 mil mi lhões de dólares, fecha em Setembro corrente. A ga rantia foi dada pelo PCA da empresa, Omar Mithá. A con cretizar-se, a operação re presentará “um desfecho sa tisfatório de uma solicitação feita em 2018”, quando a ENH pediu ao Governo uma garan

Petromoc. A empresa Petró leos de Moçambique - Petro moc precisa de uma injecção de 7 mil milhões de meticais para normalizar a sua ac tividade no mercado. So breendividada e com o seu principal accionista, o Estado, descapitalizado, a empresa desdobra-se para não decla rar falência.

O Presidente do Conselho da Administração da Petromoc, Hélder Chambisse, reconhece as dificuldades da petrolífera pública, mas não quer passar, na totalidade, os encargos de recuperação da mesma ao Estado, por saber que se trata de um accionista também em dificuldades financeiras.

Dívida interna. O Governo ga rante eliminar a dívida com fornecedores de bens e ser viços ainda no presente ano. Importa recordar que entre 2007 e 2017, o Executivo con traiu uma dívida de 29,7 mil milhões de meticais junto dos fornecedores sendo que, des te valor, assumiu o pagamen to de apenas 19,5 mil milhões. Os pagamentos da dívida em atraso junto dos fornecedores de bens e serviços do Estado iniciaram-se em Novembro do ano passado. Numa pri meira fase, o Governo priori zou as obrigações de até 60 milhões de meticais às Peque nas e Médias Empresas (PME). Esta medida mereceu o elogio da classe empresarial, repre sentada pela Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), porque vai aliviar as contas das PME que são os fornecedores com menor capacidade financei ra, mas com maior impacto económico e social.

Comércio externo. O volume das trocas comerciais entre Moçambique e China situou -se em 1 149 milhões de dó lares no primeiro semestre

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deste ano, representando uma queda na ordem de 5% face a igual período de 2018. O saldo da balança comercial continua a ser desfavorável a Moçambique. Entre Janeiro e Junho deste ano, as exporta ções nacionais foram de 285 milhões de dólares, menos 11,24% em relação ao período homólogo de 2018. Já as im portações moçambicanas de bens provenientes do gigante asiático situaram-se, no mes mo período, nos 864 milhões de dólares (menos 2,81%), segundo dados dos serviços alfandegários da China, que não especificam as razões da quebra verificada.

lhões de dólares dos 1,3 mil milhões prometidos na Confe rência de Doadores realizada na cidade da Beira. Do valor disponibilizado, 930 milhões de dólares vão para recons trução e 118 milhões para o Orçamento do Estado (OE). Durante a conferência havida na Beira, de 31 de Maio a 1 de Junho, os parceiros compro meteram-se a doar 1,2 mil mi lhões de dólares, mas de lá até agora o valor subiu para 1,3 mil milhões.

Ainda em Agosto, foi lançado o Mecanismo de Recuperação Social, uma plataforma atra vés da qual vários parceiros vão canalizar fundos destina dos à recuperação das zonas afectadas pelos ciclones Idai e Kenneth, com foco exclusivo em questões sociais.

ENErgia

Taxas de juro. O Banco de Mo çambique voltou a reduzir a taxa de juro de política monetária em 50 pontos ba ses para 12,75% e, na mes ma proporção, a Facilidade Permanente de Depósitos e a Facilidade Permanente de Cedência para 9,75% e 15,75%, respectivamente. A redução da taxa de juro de política monetária é justifi cada pela melhoria contínua das perspectivas de inflação para o médio prazo. “A nossa avaliação dos riscos associa dos a essa previsão tornou-se mais favorável com o recente Acordo de Paz e consequente início do processo de desar mamento, desmobilização e reintegração. Contudo, per sistem incertezas que justifi cam a postura conservadora da política monetária”, revela comunicado emitido pelo Ban co Central no mês passado.

Reconstrução. O Governo já tem disponíveis 1,05 mil mi

Energia. Nacala-a-Velha, Nam pula, terá uma central ter moeléctrica a partir de 2022, ano em que serão concluídas as obras de construção da infra-estrutura. O empreen dimento prevê a geração de 200 megawatts para suprir o défice energético daquela região do país, onde a disponi bilidade de energia é de ape nas 42 megawatts. A central será instalada pela Somagec Moçambique, subsidiária da chinesa CEEC, em cooperação com a EDM, e está orçada em de 21,7 mil milhões de meticais.

Electricidade. A Alemanha vai ajudar a financiar o projecto de interligação eléctrica Mo çambique-Malawi, ao abrigo de um acordo assinado en tre o banco alemão KfW e o Governo, representado pela Electricidade de Moçambi que (EDM). O projecto con siste na construção de uma subestação de 400 KV e de uma linha de transporte de energia, com 218 quilómetros, entre Matambo (província de Tete) e Phombeya (Malaui).

papEl da bMM Na cOMErcializaçãO agricOla

A Campanha de Comercialização Agrícola 2018/2019, cujo lançamento oficial teve lugar no passado mês de Julho, na Província de Manica, decorre sob o lema “Comercialização Agrícola como Factor Dinamizador do Agronegócio e Competitividade Agrícola’’.

A Bolsa de Mercadorias de Moçambique (BMM), no âmbito das suas atribuições, auxilia os produtores na redução das perdas pós-colheita e na estabilização do preço das mercadorias, através do armazenamento (em armazéns e em silos), intermediação da compra e venda de commodities agrícolas e não agrícolas, entre outras actividades, embora, de momento, apenas as commodities agrícolas estejam abrangidas, com realce para milho, soja, gergelim, arroz, feijões e castanha-de-caju.

No âmbito da comercialização agrícola, a BMM tem um papel de facilitação do acesso ao mercado, ligando compradores e vendedores, bem como garantir o armazenamento, conservação e tratamento de commodities, incluindo em situações de emergência nacional, como se verificou, recentemente, aquando dos ciclones Idai e Kenneth.

Para dar mais ímpeto ao seu papel de facilitação de acesso ao mercado, a BMM está a realizar leilões, com vista a melhorar a competitividade do sector da comercialização, quer do ponto de vista de preço quer da qualidade dos produtos.

Os agricultores, agentes económicos do ramo do agronegócio e demais intervenientes da cadeia de comercialização podem se aproximar à BMM para receberem assistência na transacção dos seus produtos.

telefone: (+258) 21 902503 ou pelo (+258) 84 3203371 Email geral: info@bmm.co.mz

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Trabalho: uma reforma suficiente?

como é público, o processo legislativo de revisão da lei do tra balho atingiu uma fase adiantada, tendo a respectiva antepro posta sido aprovada em Conselho de Ministros e enviada à As sembleia da República. Uma reforma global do regime das re lações de trabalho, como a que está em causa, deve ser susten tada em objectivos claros e traduzir-se em normas perceptí veis para todos os cidadãos, de fácil interpretação, aplicação e cumprimento. Neste caso, a iniciativa legislativa foi promovi da com os objectivos de flexibilização das soluções legais, tam bém para melhorar o ambiente de negócios no país, aperfei çoamento técnico e correcção das incongruências que a aplica ção da actual lei foi revelando. Mas, a julgar pelas críticas que foram feitas, sobretudo do lado dos empregadores, o resultado parece não corresponder às expectativas criadas. Para dotar as empresas de instrumentos de gestão facilitado res da adaptação às exigências e mudanças do mercado, são propostos novos modelos de contratação do trabalho subordi nado, como sejam o pluriemprego, o trabalho intermitente e o teletrabalho. Este último assenta no desenvolvimento crescen te das tecnologias de informação e comunicação para regular o trabalho à distância, fora do escritório – mais do que da fábri ca –, muitas vezes a partir da própria casa do trabalhador, que assim fica dispensado da deslocação diária ao local de trabalho. Todavia, o teletrabalho depende fortemente da segurança e fiabilidade da rede de comunicações, sem a qual terá reduzida aplicação prática.

Também não se antecipa grande utilização para a nova figu ra do trabalho intermitente, que permite alternar a prestação de actividade com períodos de inactividade, durante os quais o trabalhador mantém direito a receber (alguma) remunera ção. Este custo torna a solução menos apetecível para as em presas, por confronto, por exemplo, com a faculdade de contra tação a termo com fundamento na sazonalidade das necessi dades de produção.

Na perspectiva da flexibilização do trabalho, terá porventura maior importância a solução do trabalho em regime de alter nância, modo de organização do tempo de trabalho que permi te até quatro semanas de trabalho efectivo, seguidas de perío do de descanso de duração não inferior a metade dos dias de ac

tividade. Nestes, o período normal de trabalho pode atingir 12 horas, com intervalo de descanso nunca inferior a 30 minutos. Trata-se, por isso, de regime particularmente adaptado a em presas com ciclos curtos, mas intensos, de produção. Em contraponto, são desenvolvidos diversos direitos e garan tias dos trabalhadores, desde logo os que respeitam à tutela da dignidade e da personalidade, mas também em matéria de promoção e protecção da maternidade e paternidade. Tam bém o princípio do tratamento mais favorável ao trabalhador ganha maior relevo, tornando-se agora critério de escolha en tre instrumentos de regulamentação colectiva negociais. Importante é, ainda, a regra que dispensa quem depende eco nomicamente de outra pessoa de fazer prova da existência de contrato de trabalho entre ambos. Neste caso, caberá ao pre sumível empregador provar que as condições em que a acti vidade é realizada não revelam a existência da subordinação jurídica, ou seja, que o trabalho é realizado de modo autónomo, apesar da subsistência de quem o presta depender do rendi mento assim auferido.

Os vários anos de aplicação têm evidenciado deficiências e la cunas da actual lei do trabalho, em matérias muito diversas, de que a contratação a termo, o poder e o processo disciplinar ou a cessação do contrato constituem meros exemplos. Até pe los objectivos anunciados para a reforma, esperava-se a cor recção das inconsistências já identificadas e maior apuro téc nico no enunciado das novas regras, mas o texto conhecido da anteproposta aprovada nem sempre o demonstra. Para além das indicadas, são numerosas as alterações previs tas, com incidência em diversos domínios da relação de tra balho. Uma vez consolidada esta reforma laboral, isso obriga rá a rever conceitos, estudar as novas soluções, adaptar docu mentos, de modo a corresponder às exigências decorrentes da lei e evitar as consequências negativas do seu incumprimento. Porém, não haverá muito tempo para preparação, pois o tex to conhecido anuncia a entrada em vigor no dia seguinte ao da respectiva publicação. Prazo desnecessariamente curto pa ra uma alteração com o significado e a importância em causa. Outro aspecto, por isso, em que a actual revisão da lei do traba lho mereceria maior ponderação e aperfeiçoamento.

São numerosas as alterações previstas, com incidência em diversos domínios da relação de trabalho. Uma vez consolidada esta reforma laboral, isso obrigará a rever conceitos, estudar as novas soluções de modo a corresponder às exigências e evitar consequências negativas

OPINIÃO www.economiaemercado.co.mz | Setembro 2019 10

Florestas da memória... Futura?

Se a indústria extractiva é onde está o grande potencial para o futuro imediato da economia nacional, é nas florestas que cresce o futuro do país a longo prazo. Só que estas parecem ter sido, literalmente, abandonadas

sempre que se fala dos recursos naturais no país existem sempre questões que fi cam sem resposta: se Moçambique dis põe de um enorme potencial em recur sos naturais nunca se sabe ao certo a sua quantidade e muito menos quanto va lem para a nossa economia. E o sector florestal também entra nessa incógnita. A única verdade que se tem é que há receitas que são perdidas, e de que maneira. Os estudos provam-nos isso. Só pela exploração e exportação ilegal da madeira o país perdeu, de 2003 a 2013, cerca de 540 milhões de dólares, segun do aponta um estudo feito pela Universi dade Eduardo Mondlane (UEM), a pedido da WWF (World Wide Fund for Nature). Para Aristides Muhate, do Fundo Nacional

emyslaw walotek

rP z

Especialista para a área de florestas na FAO diz que “a capacidade está a diminuir porque as florestas são exploradas para além do que é previsto”

de Desenvolvimento Sustentável (FNDS), há necessidade de se fazer a quantifi cação dos recursos florestais, visto que “não podemos falar de gestão desses re cursos sem saber o que temos e qual é o seu valor económico”. E os estudos fazem menção a outro problema, no que se re fere à exploração e gestão não sustentá vel dos recursos florestais no país. Prova disso é o que revela à E&M, Przemyslaw Walotek, especialista para a área de flo restas na Organização das Nações Uni das para a Alimentação e a Agricultura (FAO): “A capacidade das florestas es tá a diminuir porque exploramos muito além do que é previsto pelo inventário”. O director nacional de Florestas, Xa vier Sakambuera, assume mesmo que

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acro

a gestão neste sector “ainda represen ta um enorme desafio para o país”, diz.

Potencial adormecido

A par do mar, a floresta é sinónimo de vi da para qualquer país e fonte de rique za económica e social. Tal como afirma a directora nacional do Fundo Mundial pa ra a Natureza em Moçambique (WWF), Anabela Rodrigues: “as florestas não são apenas as madeiras, têm muito mais im portância do que isso. É uma das maté rias-primas para o desenvolvimento económico, é também capital natural e é um reservatório de bens, mas também de serviços”, sublinha a responsável. Na verdade, a floresta tem um valor eco nómico que, de um modo geral, não está estimado ou contabilizado. Segundo da dos da WWF, em 2016, o sector florestal no país gerou emprego para 22 mil pes soas, e contribuiu de forma directa e in directa para 13,7% do PIB, cerca de 2 mil milhões de dólares.

E há muito potencial que ainda não es tá a ser aproveitado. Há cerca de 47 pro dutos florestais que teriam potencial de ser explorados e de contribuir pa ra a geração de renda, como a produ ção de amarula e moringa, produtos que podiam gerar rendimento, conforme indica a WWF.

os perigos

Se na Europa e na América, o fogo vem pressionando os espaços verdes, em África, incluindo Moçambique, a explo ração ilegal da madeira é a maior fon te de perigo para os recursos florestais. Actualmente, o corte ilegal de árvores constitui um enorme desafio para a cria ção e manutenção de mercados eficien tes e práticas sustentáveis de extracção madeireira. Entretanto, as práticas ilí citas no sector madeireiro têm resulta do no aumento de danos ambientais, so bretudo na degradação florestal e per das de receitas para o Governo. Ainda assim, apesar de haver várias políticas empenhadas para preservar a floresta, que cobre 31% do planeta e absorve dois mil milhões de toneladas de dióxido de carbono, para além de ser também fon te de 75% da água que consumimos e ha bitat de 80% de todas as espécies, nota -se que a devastação florestal vem sen do uma realidade que ainda não tem fim. Mais do que isso, num momento em que as mudanças climáticas tendem a peri gar o planeta, as florestas são imprescin díveis para a produção do oxigénio. No entanto, a devastação neste sector ten

milhões de dólares

É o valor que o país perdeu de 2003 a 2013, devido à exploração e exportação ilegal da madeira, segundo aponta um estudo da WWF

es a n nazerali

Director de Financiamentos Inovadores na Biofund defende “a necessidade de melhorar a coordenação interinstitucional”

540de a ganhar proporções alarmantes no país. Um trabalho feito em 2016 pela Uni versidade Eduardo Mondlane (UEM), em colaboração com a Direcção Nacional de Florestas (DINAF), mostra que Maputo é uma das províncias onde já não existem florestas, pois nos últimos anos perdeu 17 600 hectares de área verde, mormente devido ao abate indiscriminado de árvo res para a produção do carvão.

E assim o jambirre, pau preto, umbila ou chanfuta, só para referir alguns exem plos de madeiras de alta qualidade que o país dispõe, através das quais é conheci do no mercado internacional, estão a dei xar de existir.

Um estudo divulgado pelo FNDS, em Maio deste ano, indica que, cada ano que passa, o espaço florestal tem vindo a di minuir de forma drástica.

Se em 1990, ano em que se fez o primei ro inventário florestal, o país dispunha de 71 milhões de hectares de cobertura, actualmente restaram apenas qualquer coisa como 31,6 milhões de hectares, o que significa que o país perdeu, em três décadas, cerca de 39,4 milhões de hecta res, ou seja, metade de toda a sua man cha florestal.

Aristides Muhate revelou que há espé cies que estão a ser muito danificadas pela acção humana, entre elas a Chan futa, Mondzo, Nkula, Tule, Panga-panga e Pau-preto, sendo que o seu desmatamen to se situa nos 267 mil hectares por ano. “Estamos a implementar projectos de recuperação da fauna e flora em nove distritos da província da Zambézia, on de o objectivo é reduzir cerca de 10 mi lhões de toneladas de emissão de dióxi do de carbono até 2024, visto que o país emite anualmente cerca de 38,9 milhões de toneladas de dióxido de carbono”, anuiu Muhate.

Mas não é só a exploração ilegal da madeira que tem ameaçado a floresta. É também a prática da agricultura iti nerante, bem como o abate de árvores para a produção de lenha e carvão, ou tras causas principais dos desmatamen tos florestais no país.

Sean Nazerali, director de Financia mentos Inovadores na Biofund, defen de que “apesar da boa legislação, en quanto não for bem implementada na da irá ser resolvido”. Aristides Muha te, do FNDS, está de acordo: “tem de, necessariamente, haver uma gran de melhoria na coordenação interinstitucional, e teremos, sem sombra de dúvida, de passar a adoptar as melhores práticas de maneio sustentável”.

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macro

anos, o sector florestal

“Continuam a existir pessoas com alto peso que estão envolvidas na exploração ilegal de madeira, e há problemas a vários níveis ligados a essa questão”, considera o responsável da Biofund Sean Nazerali

licenças simples são um “grande fracasso” Existem duas formas de explorar os re cursos florestais no país: uma é por via das concessões, que são grandes áreas alienadas a empresas que devem fazer o processamento da madeira de acordo com licenças e planos de exploração sus tentável. Outra, que á a grande fraqueza do sistema, nas chamadas licenças sim ples, que são atribuídas a cidadãos nacio nais para explorar pequenas áreas. “É aqui que está a dor de cabeça, por que as áreas não estão bem delimi tadas, e a sua exploração não é cla ra. Não há controlo se realmente o do no vai lá fazer esse corte ou exploração. O que acontece muitas vezes é que os compradores de madeira vão em par ceria com os nacionais, que possuem es sas licenças, e exploram maiores quanti dades em relação àquelas que a lei pre vê”, explica Sean Nazerali, da Biofund.

Fiscalização... não fiscaliza Falar de fiscalização em todos os recur sos naturais existentes no país é o mes mo que falar de uma acção quase nula. Primeiro, porque as entidades fiscais não têm quadros suficientes para fazer o controlo efectivo de todos os recur sos disponíveis. E depois, porque os pou cos efectivos não estão dotados de meios

técnicos e eficientes para o exercício da sua actividade.

João Carrilho, do Observatório do Meio Rural (OMR), explica à E&M que “existem inúmeras fraquezas dos serviços de fis calização que acabam por ser aprovei tadas pelos operadores ilegais que conti nuam assim nesta verdadeira fraude ao Estado e ao país”.

Mas não é só a falta de capacidade técnica do pessoal de fiscalização que faz com que estes não sejam mais actuantes. “Continuam a existir pessoas com ‘es tatuto’ e peso que estão envolvidas na exploração ilegal de madeira e há sé rios problemas a vários níveis ligados a essa questão”, considera o responsável da Biofund Sean Nazerali.

luz ao fundo túnel

Embora a situação no sector florestal se ja crítica nesta altura, há que assumir que nem tudo está mal. Até porque exis tem alguns sinais de melhoria desde que o sector começou a ser remodelado, o que culminou com a proibição da explo ração e exportação de algumas espécies. Hoje em dia já se nota algum interesse em trazer melhorias a este sector. “Só que há pessoas que ainda se beneficiam desse sistema fraco e disfuncional, e que obviamente gostariam de continuar

nos moldes actuais”, enuncia a Biofund. A FAO também acredita que os projec tos de assistência técnica e de revisão do quadro concessional, que tem vin do a implementar em colaboração com o Banco Mundial, já começaram a dar sinais, embora estejam ainda na sua fase inicial.

À E&M, Xavier Sakambuera, Director Nacional das Florestas, explica que uma das grandes medidas tomadas pela DI NAF resultou na redução no volume de corte anual. “O volume baixou de 600 mil metros cúbicos para 350 mil metros cúbicos e, até Agosto do presente ano, temos registo de 36 mil metros cúbicos até agora licenciados”, revelou a fonte. Já com a interdição da exportação de madeira em toro, o volume de madeira serrada produzida registou um aumen to de 71% (648,560 metros cúbicos), em 2017, comparando com os 379,679 metros cúbicos de 2016. Já o volume de madei ra em toro exportada reduziu em cerca de 53%, em 2017 (87,579 metros cúbicos), comparativamente a 2016 (187,747 metros cúbicos).

Depois de anos de abates ilegais, a legis lação tenta repor a ordem natural das coisas num meio onde natural tem sido o abuso dos recursos existentes que são ca da vez menos. E porque estão a cair dras ticamente torna-se necessário agir para que o futuro seja, de facto, sustentável.

www.economiaemercado.co.mz | Setembro 2019 14
Queimadas para produção artesanal de carvão são outra das grandes causas da desflorestação
FOtOgrAFIA d.r.
tExtO Hermenegildo langa
71 61 40 31
Metade da floreSta perdida eM trêS déCadaS
1990 1994 2007 2018
Em 29 perdeu mais de metade do seu espaço de cobertura em todo o território Em milhares de milhões de hectares FONTE Inventário Florestal

Números em conta

O que custa a fOme

entre agosto e setembro do ano pas sado, o SETSAN - Secretariado Técnico de Segurança Alimentar e Nutricional proce deu a uma avaliação de Segurança Alimen tar e Nutricional - em todas as províncias do país. De um modo geral, registou-se uma melhoria, mas os resultados da pes quisa que avalia o “Custo da Fome” indi cam que, com as actuais taxas de desnu trição, cerca de um terço da mortalidade registada nos menores de cinco anos está associada a uma causa comum, com im pacto na saúde de milhões de moçam bicanos, mas também na economia e na sociedade. No geral, e analisando todas as províncias, verificou-se um aumento de agregados familiares com consumo ade quado no período pós-colheita de 2017 a 2018, não obstante a redução significativa de agregados familiares com dieta adequa da na ordem de 6% em Manica. Relativamente ao consumo inadequado, e a nível nacional, as províncias de Gaza e Cabo Delgado são as que apresentam uma situação mais preocupante. Como resposta a este cenário, no primeiro trimestre do ano foram priorizadas 737 mil pessoas em 31 distritos, necessitando de intervenções de assistência humanitária.

crianças subnutridas não recebem cuidados de saúde adequados.

Para classificar a severidade da insegurança alimentar aguda foi usada a escala do IPC-InSAA (Classificação da Insegurança Alimentar Aguda em Fases) que classifica a insegurança alimentar aguda em cinco fases: mínima, stress, crise, emergência e fome, sendo que a partir da fase de crise a assistência alimentar é necessária e urgente.

O SETSAN realizou, em Junho de 2017, um inquérito de Segurança Alimentar que cobriu todo o país e os resultados mostraram que a situação de insegurança alimentar aguda foi classificada na fase 1 (mínima) em todas as províncias do território, mas havia cerca de 51 909 pessoas na fase 3 (crise), tendo este número baixado

crianças moçambicanas sofrem de desnutrição crónica.

para cerca de 25 473 pessoas no período de Outubro de 2017 a Março de 2018. Como resultado desta análise adicional foram priorizadas cerca de 814 mil pessoas em 31 distritos do país até Dezembro do ano passado, que foram alvo de uma intervenção urgente de assistência humanitária.

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Niassa 52 43 5 Cabo DelgaDo 15 30 54 Nampula 2 41 57 ZambéZia 2 40 59 TeTe 5 43 52 maNiCa 2 37 61 60,2% 45,2% 43,1% 26% da
das
das
dos
q&a: cOmO fOi desenvOlvidO O estudO?
população moçambicana adulta já sofreu de desnutrição crónica infantil.
casos de mortalidade infantil estão associados à desnutrição.

mil milhões de meticais ou 1,6 mil milhões de dólares (10,9% do PIB). É o terrível custo anual associado à desnutrição infantil em Moçambique.

é o impacto da mortalidade infantil associada à desnutrição na força de trabalho.

da taxa de insucesso escolar está associada à desnutrição crónica.

www.economiaemercado.co.mz | Setembro 2019 iNhambaNe 7 47 45 mapuTo províNCia 12 42 50 sofala 6 34 60 mapuTo CiDaDe 7 37 56 gaZa 12 36 53
10% 162
18,8%
FONTE SETSAN 2017 Estudo sobre o custo da fome e o Impacto Socio Económico da Desnutrição Infantil em Moçambique. 2 refeições/dia 3 refeições/dia 1 refeição/dia

Reabilitar a rede rodoviária é uma decisão óbvia, mas qual o modelo para a financiar?

a importância do eixo Norte-Sul e dos vários eixos Este-Oeste que ligam Moçambique à África do Sul e restantes países do chamado hinterland é inquestionável. O actual estado de de terioração de alguns troços representa um custo adicional pa ra as operações logísticas e, consequentemente, a redução da competitividade do país.

Dos pontos de vista social e macroeconómico, os benefícios da reabilitação destes troços são óbvios, pelo que é preferí vel focar no maior obstáculo à renovação da rede rodoviária: o financiamento.

Existem quatro modelos base para o financiamento de infra-estruturas rodoviárias: empreitada de reabilitação e manutenção; concessão com pagamentos por disponibilidade; concessão com pagamentos de portagem virtual; e concessão com pagamentos de portagem real.

A aplicabilidade de cada modelo depende de vários factores: custo do investimento inicial, custo de manutenção, volume de tráfego de ligeiros e pesados, qualidade de crédito das partes envolvidas no contrato, prazo e outros factores específicos de cada troço a reabilitar.

Relativamente à aplicabilidade de cada modelo de financia mento às principais estradas nacionais existem prós e contras que é importante realçar.

1) O modelo de empreitada através de concurso público é nor malmente o que apresenta o preço inicial mais baixo e tem o prazo de negociação mais curto. Em contrapartida, o risco de desvio no custo do investimento inicial e no custo de manuten ção é mais elevado e implica que o Estado tenha acesso a fun dos para pagar a obra à medida que vai sendo efectuada. No entanto, para investimentos com uma vida útil longa, o ins trumento de financiamento deverá ter uma maturidade se melhante à do projecto. Tendo em conta o rating actual do país e as restrições à contratação de dívida comercial em moe da estrangeira, Moçambique apenas deverá conseguir obter

financiamento com maturidades longas se recorrer a finan ciamento concessional. Este factor limita a capacidade de ne gociação do preço da obra uma vez que este tipo de financia mento está condicionado à adjudicação da obra a uma empre sa do país de origem.

2) O modelo de parceria público-privada com concessão de pa gamentos por disponibilidade é mais utilizado em estradas já existentes, mas com pouco tráfego. Neste modelo, o priva do efectua o investimento inicial de reabilitação, ficando com a responsabilidade de gerir a obra e angariar o financiamen to. Após o término da obra o privado tem direito a receber uma renda do Estado que poderá ser reduzida como forma de penalização quando os troços de estrada não estejam opera cionais ou incumpram os termos do contrato de concessão.

As vantagens deste modelo incluem a transmissão do risco de construção e de manutenção para o privado, obrigando o mes mo a manter níveis de serviço elevados sob pena de perder parte da rentabilidade do investimento. Outra vantagem é o facto de as rendas que reembolsam o investimento inicial pa gam os custos de manutenção e remuneram o risco dos priva dos, serem fixadas no momento da assinatura e pagas ao lon go da vida da concessão, que normalmente coincide com a vi da útil da infra-estrutura.

Ao falarmos de desvantagens importa destacar que o custo fi nal é mais alto que no modelo de empreitada uma vez que o Estado terá de contratar equipas de monitorização e que os riscos assumidos pelos privados terão de ser remunerados, reflectindo-se esse prémio no valor do contrato.

3) As parcerias público-privadas com concessões de porta gem virtual têm uma natureza muito semelhante ao mode lo anterior com excepção aos pagamentos do Estado que estão indexados ao tráfego real.

Para além das vantagens referidas no modelo anterior, é im portante referir que, neste modelo, os pagamentos do Estado

Existem quatro modelos base para o financiamento de infra-estruturas rodoviárias: empreitada de reabilitação e manutenção; concessão com pagamentos por disponibilidade; concessão com pagamentos de portagem virtual e concessão com pagamentos de portagem real

OPINIÃO 18 www.economiaemercado.co.mz | Setembro 2019
Bernardo Aparício • Head of Corporate and Investment Banking do Barclays Bank Moçambique

irão variar de acordo com o tráfego, pois o mesmo tem impac to directo no custo de manutenção e desgaste do troço, ao in vés do modelo de disponibilidade em que os pagamentos são fixos. Da mesma forma, a rentabilidade dos privados estará indexada ao tráfego.

Entre as desvantagens, está a maior rentabilidade exigida pelos privados e um risco de insolvência do parceiro privado mais elevado, caso o tráfego seja menor que o previsto e con sequentemente os pagamentos do Estado não sejam suficien tes para cobrir os custos operacionais e de manutenção.

4) O modelo de concessão de portagem real, no qual os utentes da infra-estrutura pagam portagem pelo número de quilóme tros percorridos, distingue-se dos anteriores porque permite a partilha do custo da infra-estrutura entre o Estado e os uten tes dos troços. Dependendo do volume de tráfego e das tarifas praticadas, as receitas das portagens podem ou não ser sufi cientes para reembolsar o investimento inicial, pagar os cus tos operacionais e de manutenção e gerar retorno ao parceiro privado. Caso as receitas não sejam suficientes, é possível com binar o modelo de portagem real com qualquer um dos três modelos anteriores.

Por outro lado, a grande desvantagem deste modelo é o risco do tráfego ser inferior ao previsto, o que tem impacto na ren tabilidade do projecto para os privados. O tráfego num troço rodoviário pode ser influenciado pela tarifa, tempo de viagem, vias alternativas, crescimento macro-económico, crescimento

do poder de compra, entre outros. Devido à dificuldade em prever todas estas variáveis, existem muitos exemplos de concessões em que o tráfego real foi muito mais baixo que o previsto, levando à insolvência do projecto.

No caso específico da renovação dos principais eixos rodoviá rios de Moçambique, a melhor opção poderá ser uma combi nação de dois modelos dependendo da especificidade dos tro ços em termos de localização, tipologia de tráfego e objectivo socio económico.

Para a determinação do modelo mais eficiente é fundamen tal efectuar estudos detalhados de viabilidade técnica, finan ceira e operacional utilizando consultores com experiência em projectos semelhantes. Um plano desta natureza neces sita igualmente de uma equipa de trabalho dedicada exclu sivamente ao projecto, à gestão dos concursos públicos e im plementação dos contratos de concessão. Desta forma aumen taremos a probabilidade de sucesso na redução do custo pa ra o Estado e maximização da qualidade das infra-estrutu ras para os utentes. Este tipo de equipa de trabalho ainda não existe em Moçambique, mas pela experiência em países co mo África do Sul, Portugal e Reino Unido, foram possíveis me lhorias significativas no processo de governação, decisão e implementação dos projectos.

Em conclusão, se o modelo for adequado ao projecto, o financiamento vai certamente existir e a um custo socialmente aceitável.

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Os modelos de financiamento de infra-estruturas rodoviárias estão criados, resta saber qual será o caminho a seguir
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Estradas
Nação

O MesMO hOrizOnte... cOM nOvas estradas e destinOs

Dos 750 milhões de dólares necessários anualmente para construir, manter e reabilitar estradas, Moçambique dispõe de apenas 300 milhões, o que acaba por aguçar a consciência de que não há volta a dar se não privatizá-las para combater a elevada precariedade e conferir dinâmica à actividade económica. Mas a profundidade dos problema exige muito mais.

A E&M analisa os planos para a rede nacional de estradas

“não faz sentido que, até hoje, não te nhamos uma rede de estradas de Norte a Sul de qualidade e com padrões de segurança internacionalmente acei tes. Andamos sempre nos remendos e quando são realizadas obras em deter minados troços, estas são mal feitas, não têm durabilidade. Ainda assim, todos os dias se procede ao lançamento de novos concursos para a reabilitação de vias com valores exorbitantes”.

Eis o desabafo de quem conhece as estra das de Moçambique, Junaide Lalgy (um dos mais importantes empresários da área dos transportes de Moçambique e da SADC), e que encaixa bem como pon to de partida para descrever a situação precária das vias, de um modo geral.

milhões de dólares

É o que falta anualmente, ao nível das despesas de construção, manutenção e reabilitação de estradas em moçambique

450Este é, de resto, um desabafo que tam bém encontra eco nos dados da última avaliação do Índice de Competitividade Global do Fórum Económico Mundial, que classifica a rede nacional de estradas como a 8ª pior em 140 países avaliados. Uma desvantagem a ter em conta quan to à capacidade de competir com a maior parte das economias do mundo, e principalmente de uma região em pro cesso acelerado de integração económica. Para se ter uma ideia, segundo dados do Fundo de Estradas, só 25% dos cerca de 30 mil quilómetros de vias classificadas estão pavimentadas. Países como a Na míbia apresentam quase 90% das suas estradas em boas condições e, por isso, com custos e tempos de transporte bem

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Nação

mais baixos do que os de Moçambique. “Isso pesa directamente nos custos das operações. E os exemplos são vários: na EN1, o troço Palmeiras – Xinavane está degradado, é estreito e muito susceptí vel a acidentes. O mesmo ocorre no troço Vilankulo – Rio Save que, de tão precário, não merece o estatuto de Estrada Na cional, ou com o troço Gorongosa – Caia, entre tantos outros, incluindo estradas recentes, mal feitas”, descreve com ar de revolta, o empresário Junaide Lalgy. Com uma rede cuja matriz vem da era colonial (até 1975, ano da independência nacional), o défice financeiro tem sido o maior obstáculo. É que o país só investe 300 milhões de dólares por ano, dos 750 milhões (estimativa do próprio Fundo de Estradas) que seriam necessários para a construção e reabilitação da malha ro doviária. Desses, cerca de 100 milhões são para pagar despesas de manuten ção (de rotina periódica de todo o tipo de estradas, incluindo as não classificadas),

“A logística é um factor muito importante para a competitividade das nações. Se Moçambique quiser competir, sobretudo no quadro da integração económica da SADC, naturalmente precisará de estradas em qualidade e em quantidade”

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Estradas
fonte Ane … E A SituAção é MAiS CrítiCA no
E
692 708 950 953 901 648 990 486 762 732 3 087 2 336 3 171 3 071 2 005 1 775 1 326 2 250 2 001 1 508 niassa cabo delgado
tete manica sofala inhambane gaza maputo
Revestidas não revestidas Quem
… em
rEvEStiDAS não
7
25,8% 22
74,2%
CEntro
nortE Do pAíS
nampula zambézia
O desnível entre vias pavimentadas e não pavimentadas é considerável em quilómetros
já percorreu distâncias por terra não se surpreende com estes números
uM quArto DA rEDE EStá pAviMEntADA
quilómetros
rEvEStiDAS
822
530

sendo os restantes 200 milhões alocados à construção de novas estradas e pontes. A insustentabilidade deste modelo e o fac to de não haver melhorias visíveis pelo país (ver gráfico) fez com que, nos últi mos dois anos, a Administração Nacional de Estradas (ANE) tenha vindo a estudar os efeitos de uma mudança de paradig ma através de uma aposta voltada para a privatização de algumas destas vias.

aposta de consenso Este é um cenário novo no país. Re centemente, foi anunciada para breve a concessão de cinco estradas nacionais a operadores privados, no meadamente os troços: Marracuene – Xai-Xai, na EN1, com uma extensão de 185 quilómetros; Matola – Boane – Na maacha, na EN2 (65,9 quilómetros de extensão); Impaputo – Goba, na EN3 (31 quilómetros); Nampula – Namialo, Lúrio – Metoro, na EN1 e Nacala – Namialo, na EN12, totalizando 415 quilómetros de via.

estradas dO zaMbeze: experiência beM-sucedida

Mesmo com um histórico incipiente no que diz respeito à concessão de estradas, o país está em altura de apontar vantagens dignas de menção. “Quando as Estradas do Zambeze iniciaram a operação, em tete, desde o início da obra, em 2009, até ao arranque da actividade propriamente dita, em 2012, tínhamos índices elevados de acidentes, muitos deles resultando em perda de vidas. Quem entrava na província de tete por Changara e fazia todo o eixo principal da EN7 levava no mínimo cinco horas e arriscava-se a ter danos na viatura dada a quantidade de buracos na via. Hoje, o mesmo percurso é feito em duas horas e a sinistralidade rodoviária reduziu em mais de 150%. Estas são as vantagens de uma estrada concessionada”, explica sucintamente Joaquim dai, administrador das Estadas do Zambeze, concessionária da EN7. Outro bom exemplo foi destacado numa visita efectuada à EN4 pelo ministro das Obras Públicas, Habitação e recursos Hídricos, João Machatine, que reconheceu que a via que liga Maputo à África do sul é, também, “um exemplo de concessão, na segurança e tempo de viagem”.

como acontece actualmente com a ponte Maputo-Katembe”, explicou.

Com pouca informação detalhada, tudo o que se assegura é que “existe interesse de várias empresas na gestão de estra das, mas há também muita coisa por estudar e acautelar. Talvez a principal seja o facto de não se saber ainda bem que estradas têm ou não o tráfego míni mo para se tornarem viáveis para um concessionário, ao nível da exploração comercial”.

“estamos no caminho certo”

Numa conversa com a E&M, o direc tor-geral da ANE, César Macuácua, assegura que este é um processo que só está a começar: “as concessões irão con tinuar nos próximos tempos”, garante. Preferindo não avançar com mais de talhes, admite que este será o modelo a seguir, “e a melhor alternativa para li bertar o Estado” dos elevados encargos com as estradas, concentrando esforços em prover outros bens primordiais à população (escolas, hospitais, habitação, segurança, etc.).

O PCA do Fundo de Estradas, Ângelo Macuácua, também reforça essa apos ta na privatização. “As concessões de natureza comercial precisam de um significativo volume de tráfego. Nem todas podem ser concessionadas, daí que o sector esteja a avaliar outras al ternativas de concessões, como por exemplo para a manutenção no sentido de gerar recursos que assegurem pe lo menos a manutenção de estradas, tal

Joaquim Dai, administrador da em presa Estradas do Zambeze (consórcio detido pela Ascendi Group, Mota-Engil Engenharia e Construção África e Infra Engineering), concessionária de 700 qui lómetros de estradas na província de Tete, revela que “vários estudos já com provaram que a concessão de estradas em muitas vias é, de facto, rentável para as concessionárias, o que reforça a ideia de que este modelo traz ganhos para to dos e sobretudo para a economia do país”. Segundo Dai, “nos últimos dez anos, o Estado gastou muito pouco com a ma nutenção de estradas em Tete porque existe uma empresa que faz esse inves timento, incluindo a zona que gerava a maior despesa, o eixo principal, a EN7. As próprias contas que o Governo faz do re sultado desta política, tanto com a TRAC como com a Estradas do Zambeze, enco rajam-no a prosseguir”. Para o empresário Junaide Lalgy es te é, de facto, o caminho a seguir: “é assim em todo o mundo e não se esta rá a inventar nada. Em Moçambique os corredores deviam ser concessiona dos. A EN4 por exemplo, concessionada à TRAC, apesar de apresentar diferen ças de padrão (que é muito melhor no lado sul-africano do que no de Moçam bique), é uma estrada transitável e de boa qualidade. Outro bom exemplo é do corredor da Beira, que oferece a possi bilidade de concessionar os troços que vão a Machipanda (Província de Mani ca), Tete e Malaui, que têm muito tráfego, daí que sejam apetecíveis às concessio nárias. Também se pode concessionar a estrada que está em construção, no corredor do Norte, que vai ligar Cuam ba e Lichinga ao Malaui”, antevê. Lalgy também tem a imagem do que se ria o ponto óptimo: “tendo estas estradas concessionadas, incluindo a EN1 (ainda que parcialmente) e se for construída ou tra estrada que ligue o Sul ao Norte (até Palma), com ramificações em Macuba

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Nação

OperadOres rOdOviáriOs quereM ter vOz activa

Os privados que trabalham essencialmente na área do transporte rodoviário entendem que deviam participar activamente dos planos que se traçam para o sector, porque, embora (eventualmente) não tenham conhecimentos em engenharia, a experiência no terreno confere-lhes conhecimentos suficientes para partilhar com os decisores neste domínio. É da falta desse espaço que se queixa Junaide Lalgy. segundo o empresário, um dos problemas é a existência de várias organizações, associações que se supõe serem responsáveis por dar voz aos operadores e influenciar a acção dos decisores. “É com alguma frustração que digo que estas organizações não têm qualquer peso, servem para ‘show off’, clientelismo, lobby, negócios particulares. Não temos nada voltado para o bem comum no sentido de desenvolver este país” criticou, igual a si mesmo, o empresário, preferindo não indicar a quem se refere concretamente.

para ir a Cuamba e Lichinga, teremos o essencial quase resolvido no domínio das estradas”, enuncia.

privatizar com pragmatismo Olhando para a má qualidade da rede viária e para a o grande défice de finan ças do país, o PCA do Fundo de Estradas, sugere uma espécie de maximização da alocação do pouco que há disponível: “É preciso que olhemos para estas questões com pragmatismo, já que a concessão não deve ser vista como solução de to dos os problemas do sector, porque uma concessão é para que os utilizadores pos sam contribuir para o desenvolvimento daquela estrada em particular. Agora, o benefício que há é que o financiamen to alocado pelo Estado para manter as rodovias passa a reforçar outras estra das”. Isto, claro, desde que o Estado não desista de alocar os fundos que forem destinados ao sector mesmo quando a privatização for efectiva, apostando na melhoria da malha não concessionada. O estado precário de muitas estradas nacionais não é de hoje. Ao longo dos anos, vários concursos públicos foram

não havendo dúvidas sobre a necessidade de privatizar, o trabalho agora será definir a padronização das regras entre países vizinhos. por exemplo, a experiência mostra regras divergentes entre Moçambique e Malaui, na mesma estrada, que dificulta o seu uso nos dois lados

anunciados, mas pouco se fez, por razões que as autoridades do sector dizem des conhecer. Tudo dá a entender que o “sufoco” financeiro que o actual Gover no enfrenta terá aguçado a consciência da privatização já que, desde Abril de 2016, os parceiros deixaram de apoiar o Orçamento do Estado e limitaram outras formas de ajuda ao país.

Joaquim Dai explica que “este pensamen to (concessão de estradas a privados) foi tomado já há algum tempo, mas faltava a sua materialização, tendo começado a andar quando foi concessionada a EN4 à TRAC e depois a EN7 à Estradas do Zam beze.” Também admite nunca ter havido “tanto cometimento” em privatizar es tradas como agora parece começar a acontecer. “Com os concursos lançados resta saber quem serão os vencedores e quando se iniciam as actividades. Garan tidamente vamos verificar melhorias na qualidade das estradas”, antevê. No entanto, nesta nova abordagem do desenvolvimento dos projectos, há ques tões de fundo a serem salvaguardadas. Começando por um necessário e urgente levantamento sobre a rápida degradação

www.economiaemercado.co.mz | Setembro 2019 24
Estradas
A rede de estradas em Moçambique ainda é predominantemente em terra batida

Moçambique tem a 8ª pior rede de estradas em 140 países avaliados pelo fórum Económico Mundial no quadro do Índice de Competitividade global de 2018. a realidade revela uma fragilidade preocupante se lançarmos olhar à competitividade no quadro da integração da sadC

EntrE AS piorES rEDES DE EStrADAS Do MunDo Ranking Global fonte fórum económico Mundial

da rede. Neste ponto, o Fundo de Estra das “garante” que os intervenientes do sector estão prontas a corrigir.

Até porque, ainda hoje, mais de 90% do transporte de carga (e até de pessoas) que se movimenta dentro do país acon tece por via das estradas o que mostra a necessidade de investir no desenvol vimento dos outros modos de transporte complementares.

Depois, há a não observância dos li mites de carga por desobediência dos transportadores e falta de controlo das autoridades, a invasão das bermas para desenvolver diferentes actividades e a fixação de infra-estruturas de distribui ção de água e energia, encarecendo em até 40% a eventual ampliação das vias. É por isso que o PCA do Fundo de Estra das garante que “não haverá estrada a ser intervencionada, daqui em diante, sem que a fiscalização aperte o cerco pe lo cumprimento destas normas”.

pAiS

rAnking lesoto 131º Nigéria 132º MOçaMbique 133º guiNé CoNaCri 134º Chade 135º YémeN 136º r d. CoNgo 137º aNgola 138º haiti 139º mauritâNia 140º pAiS

siNgapura 1º suíça 2º holaNda 3º hoNg KoNg 4º portugal 5º Japão 6º FraNça 7º omaN 8º emirados Árabes uNidos 9º Áustria 10º

áfrica ainda distante… … dO restO dO MundO fonte fórum económico Mundial oS 10 piorES top 10

contexto global e regional Obviamente que é nos países mais de senvolvidos que estão as melhores malhas rodoviárias (ver infografia) por que neste sector, os projectos são caros e, por isso mesmo, exigem grande capaci dade e independência financeira, algo que Moçambique não tem. Na SADC, Mo çambique só é melhor do que Angola e República Democrática do Congo, o que revela que parte para a integração eco nómica regional em clara desvantagem. Mas há contextos que explicam a for ma como os países se posicionam no ranking global. Joaquim Dai lança um breve olhar aos países da SADC e conclui que “é relativamente fácil ler os números. Países que tiveram guerra e os que não tiveram têm classificações diferentes, já que na guerra uma das principais ar mas de ataque são as emboscadas, em que se destroem estradas para que as viaturas se movam devagar facilitan do ataques”.

Por outro lado, prossegue, “era impossível desenvolver novas es tradas para ligar novas vias que estivessem dentro das zonas de conflito. Por isso a Namíbia (que nunca teve guer ra) apresenta uma situação tão favorável, ao contrário da sua vizinha a Norte, Angola (que saiu da situação de conflito já neste século), têm um desenvolvimento ao nível das estradas tão diferentes entre si.”

26 Nação www.economiaemercado.co.mz | setembro 2019 Estradas
d.r. namíbia Angola botsuana zimbabué malaui zâmbia tanzânia áfrica do Sul rd congo eswatini lesoto moçambique seychelles maurícias 28º 138º 84º 122º 115º 96º 83º 28º 137º 57º 131º 133º 28º 50º
tExtO Celso Chambisso fOtOgrafia Jay Garrido &
Os governos não têm conseguido realizar investimentos satisfatórios para fazer crescer as vias de acesso
a esse nível, as melhores estradas estão, sem surpresa, na américa do Norte, Europa e Ásia rAnking
Na voz
www.economiaemercado.co.mz | Setembro 2019 28 Estradas
de...

“Temos de melhorar os planos de expansão da rede de esTradas”

sem fundos suficientes para construir novas estradas, há que preservar as vias que já existem, através da manuten ção periódica, melhoramentos localiza dos e fortalecimento da capacidade de li dar com emergências como enxurradas. Mas até para isso há pouco dinheiro. Há já muitos anos que se fala de uma rede de 30 mil quilómetros de estradas classificadas para um processo de reabi litação, mas começa a faltar o tempo de ampliar a grelha viária para responder aos desafios da competitividade e de de senvolvimento que o país se prepara pa ra abraçar.

Ainda assim, o presidente do Fundo de Estradas, Ângelo Macuácua, mostra-se optimista quanto a essa mudança, mui to por força da nova dinâmica das con cessões de gestão para operadores pri vados, mas começa e encerra a conver sa com a E&M com o mesmo apelo: a ne cessidade de uma planificação integra da para o futuro.

Parte dos factores que pesam na fra ca qualidade das estradas parece remeter-nos à falta ou deficiente coordenação entre diferentes insti tuições do Estado. Referimo-nos, por exemplo, à colocação de infra-estru turas e instalação de outras activi dades próximas às vias, bem como o incumprimento dos limites de carga. O que pode e deve ser melhorado a este nível?

Essencialmente, tem de se melhorar a coordenação e a articulação inter-insti tucional, levando a que cada uma das ins tituições envolvidas faça as devidas con sultas a outras instituições antes de que rer instalar infra-estruturas. Além disso,

é preciso que qualquer instituição seja mais proactiva no sentido de olhar para o que acontece no país. por exemplo, se quisermos desenvolver uma plantação florestal, que leva entre 20 e 25 anos, é preciso sermos capazes de perceber que quando chegar a fase de maturação das árvores será necessário ter estrada pa ra escoar a produção. o mesmo se apli ca a todos os outros recursos do país. É necessário que haja capacidade de per ceber que haverá necessidade de criar estradas enquanto se desenvolvem pla nos de produção e não pensarmos nelas quando estivermos na fase de produção comercial, como tem acontecido. Temos recursos e não os escoamos nas quanti dades necessárias por deficiência ou fal ta de vias. Precisamos de uma planifica ção integrada.

Olhando para os dados da ANE vemos que a maior parte das estradas não revestidas se concentram no Centro e Norte do país. Que leitura se pode fazer desta realidade, sem perder de vista que as decisões de investimento em estradas tomam como determi nante o nível de actividade produtiva dos locais? se calhar precisamos de aprofundar me lhor a leitura dos dados. olhando para os investimentos que estão a acontecer, vejo mais projectos de revestimento de estradas no centro e norte. por exemplo, niassa é uma das províncias onde pra ticamente toda a rede era de estradas não revestidas, mas agora sente-se uma mudança, já que os investimentos do Ban co Africano de desenvolvimento (BAd) estão concentrados nesta província. o projecto de estradas rurais (avaliado

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TEMos rEcursos E não os EscoAMos nAs quAnTidAdEs nEcEssáriAs por dEFiciênciA ou FAlTA dE viAs. prEcisAMos dE uMA plAniFicAção inTEgrAdA

em 150 milhões de dólares) que nos pre paramos para executar, vai revestir al gumas estradas em 10 distritos nas pro víncias de Zambézia (Centro) e Nampula (norte). paralelamente, temos a En6 rea bilitada com grande extensão na zona centro e a estrada Tica – Búzi, uma via estratégica para a província de sofala, também reabilitada. Portanto, não gosta ria de olhar para a regionalização do in vestimento em estradas. As prioridades têm a ver com questões definidas pelo governo em função de vários elementos sociais e económicos que são considera dos e em coordenação com os parceiros de cooperação.

No meio de tantos desafios, uma ques tão que vem sendo mencionada é a necessidade de uma via alternativa à EN1, por ciclicamente apresentar tro ços de difícil transitabilidade chegando ser mesmo intransitáveis em determi nadas ocasiões. Que lugar ocupa esta questão nas prioridades do sector? É um projecto já concebido em termos de pensamento estratégico, mas não em termos de planeamento de médio pra zo. olhando para os recursos existen tes, a prioridade tem sido a En1. para pôr em condições só a EN1 (reabilitar os tro ços mais degradados e realizar a manu tenção periódica) precisamos de mais de 600 milhões de dólares.

De um total de 750 milhões de dólares, Moçambique só tem disponível um orçamento de aproximadamente 300 milhões para atender às necessida des do sector. Considerando o facto de este défice ser permanente, será cor recto aferir que temos a condição das estradas a piorar progressivamente com o passar do tempo? o que ocorre é que, com recursos limi tados, temos de definir prioridades e pe neirar o que é absolutamente necessá rio que é manter as estradas, sobretu do as que produzem maior benefício económico para o país, estradas que li gam zonas de alto padrão de produ ção principalmente agrícola e pesquei ra. Também é prioritária a manuten ção de rotina e melhoramentos locali zados. se olharmos para os nossos ín dices de actividade, uma das áreas em que não conseguimos ter grande reali zação é a manutenção periódica, que é a que assegura a preservação do acti vo rodoviário. se ela não é feita, tem im plicações no futuro, ou seja, quando che gar a vez de investir, por cada dólar que

não realizamos em manutenção, acaba remos por investir 3 a 4 dólares quando estivermos a reabilitar.

E por causa disso há uma ginástica permanente que se faz para mobili zar financiamento junto dos parceiros internacionais… o nosso orçamento tem uma grande participação do financiamento exter no (cerca de 70%) porque a filosofia do fi nanciamento ao sector de estradas é de que os recursos internos, não só de Mo çambique mas de todos os países em vias de desenvolvimento, têm de asse gurar a manutenção de estradas. depois, através das alocações adicionais do or

çamento do Estado, mais o financiamen to dos parceiros, faz-se assistência a no vos projectos de asfaltagem e reabilita ção de estradas.

A esse nível, quais são, actualmente, os principais parceiros externos de financiamento?

instituições como o BAd ou o Banco Mun dial (BM) e todas as outras são muito im portantes. indispensáveis mesmo. os parceiros multilaterais são, de facto, os principais financiadores do sector de es tradas. São bastante activos e financiam projectos concretos. O volume de finan ciamento depende um pouco da maturi dade do projecto, não há financiamentos

N
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a voz de...
Estradas
“As prioridAdEs TêM A vEr coM quEsTõEs dEFinidAs pElo govErno quE são considErAdos E EM coordEnAção coM os pArcEiros dE coopErAção”

ao orçamento geral do sector, por isso não há valores fixos. Por exemplo, no ano passado terminámos o projecto financia do pelo BM para as estradas de emergên cia da província de gaza. portanto, vínha mos com um ritmo de execução financei ra bastante elevado porque os projec tos já estavam na fase de maturação. Agora estamos a implementar um pro jecto de 150 milhões de dólares para as estradas rurais, estando ainda no pri meiro ano, que é essencialmente de estu dos, pelo que as alocações financeiras são ainda diminutas, apesar de ter sido acti vada a componente de emergência por causa dos ciclones, à luz da qual o Ban co Mundial já disponibilizou 35 milhões de dólares já na fase de execução. no ca so do BAd, estamos a implementar a Es trada do niassa e o corredor de nacala.

Qual é a extensão das estradas rurais a ser construída nos diferentes pro jectos e em quanto tempo?

no caso do Banco Mundial, o pacote de 150 milhões de dólares contempla qual quer coisa como 4 mil quilómetros de es tradas. não será para asfaltar todas, vis to que parte das intervenções vão bene ficiar de estruturas hidráulicas mais ro bustas e outras, sim, poderão vir a ser as faltadas. Estamos, nesta altura, a termi nar a avaliação das necessidades. no ca so do financiamento da União Europeia (uE) não temos dados exactos, mas acre dito que devem ser entre 1 000 e 2 000 quilómetros.

Recentemente nota-se um esforço vi sível das autoridades do sector em avançar com a concessão de estradas a privados. É um tema que já vinha sendo ensaiado há muito tempo, mas não se conseguia ir longe. Porquê? A realidade objectiva mostra-me que a melhor concessão, que é citada como exemplo em áfrica, é a da En4. somos pioneiros de uma das concessões mais exemplares no continente por causa da natureza e dos resultados que trouxe, nomeadamente ao aumentar o comér cio entre Moçambique e a África do Sul e pelo facto de que acabávamos de sair de uma guerra. Há uma concessão pa ra a Estradas do Zambeze que incide so bre as estradas da província de Tete. Com alguns desafios que enfrentou, a Es tradas do Zambeze tem sido uma con cessão também de sucesso. Houve outros concursos que não tiveram a efectivida de que se esperava e não estudei esses dossiers para me poder pronunciar com propriedade. Mas estamos esperançosos que as novas concessões tragam bons resultados.

Se, no passado, existiram projectos de concessão que não avançaram, que progressos foram realizados para mudar o rumo das coisas?

Há muito interesse dos investidores. o próprio sector privado tem estado a so licitar a concessão de estradas. por outro lado, sentimos que, na fase em que esta mos, os próprios utentes compreendem melhor o conceito de utilizador-pagador e a vontade de pagar é fundamental pa ra que a concessão possa vingar. Esta mos numa fase de maturação do conceito de utilizador-pagador e as condições es tão criadas para que as coisas avancem de forma mais firme.

Uma preocupação geralmente le vantada é a fraca qualidade das es tradas logo na fase de construção.

As próprias autoridades criticam aquilo a que já se assistiu por diver sas vezes: estradas mal executadas, que cedem a uma qualquer primei ra intempérie. Como pode ser feita uma melhor salvaguarda do interes se público?

A qualidade é uma questão importantís sima no investimento rodoviário. os sis temas activados para que haja qualida de incluem o empreiteiro, fiscal da obra e a supervisão que é feita pela AnE. Tam bém existe o Laboratório de Engenharia de Moçambique (LEM) que atesta e cer tifica os materiais utilizados nas obras. Existe também o departamento técni co que acompanha a execução da audi toria e de procurement aos projectos de estradas, contribuindo para que estas tenham, de facto, melhor qualidade. do nosso lado (Fundo de Estradas), temos es tado a fortalecer o departamento de au ditoria técnica colocando mais pessoas qualificadas e experientes para que fa çam este trabalho. A questão da qualida de também tem que ver com a forma co mo a estrada é utilizada. por exemplo, os técnicos podem avisar (até mesmo com a devida sinalização) que determinada estrada é de baixo volume de tráfego, mas em alguns momentos passam por ali veículos com excesso de carga que a danificam. Aos olhos de quem não este ve na definição dos padrões do projec to de construção, pode parecer que está diante de uma estrada de baixa qualida de, daí que não devamos olhar somente para a desonestidade dos empreiteiros ou má fiscalização.

Que desenvolvimentos podemos esperar de tudo isto, ao longo dos próximos anos?

Acredito que estamos à altura dos diver sos desafios. Estamos no bom caminho, mas é necessário que não canalizemos aten ção exclusivamente para as estradas. Temos de olhar para outros modos de transporte, porque se continuar mos a transitar muita carga por estra das, com o aumento do volume de pro dução que se perspectiva na economia, não seremos competitivos. Teremos igualmente de desconcentrar a rede de estradas da zona litoral e olhar com maior atenção para o interior onde tam bém há muita produção, sobretudo agrí cola, que precisa de ser escoada,

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tExto Celso Chambisso fotografia Jay Garrido

Macaneta ganhou vida coM a ponte

Com a construção da ponte sobre o rio Incomáti, o turismo passou, definitivamente, a ser o mais valioso cartão de visita da Macaneta. É claro que essa mudança também trouxe desafios. Saiba quais

Às portas de maputo (a pouco mais de 40 quilómetros) mora um paraíso natu ral, ainda hoje, pouco explorado. Apesar da proximidade da capital, a Macaneta nunca foi, no entanto, o desti no principal de férias de quem vivia em Maputo. Muito por culpa das dificulda des do acesso que tinha de ser cumprido, morosa, e desorganizadamente, como muitos certamente se lembrarão, por via de um batelão que fazia prolongar uma viagem, hoje feita em 30 minutos, numa penosa aventura de duas horas. No entanto, esses problemas são hoje

província Maputo

Distrito De Marracuene área 703 kM²

Habitantes 61 000 região Sul

apenas memórias longínquas. Tudo porque a partir de Novembro de 2016, foi inaugurada a ponte que atravessa o rio Incomáti que liga a Vila de Marra cuene e a localidade de Macaneta. Assim, passados quase três anos de fun cionamento da infra-estrutura, e se no passado aquele destino turístico conse guia receber pouco mais de 100 mil tu ristas por ano (de acordo com estimati vas dos empresários locais), mesmo com todas as questões relacionadas com a transitabilidade, acredita-se que hoje o número quase tenha triplicado, visto

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Macaneta
rovíncia

que lugares de atracção de turistas — mais de 110 — é o que mais abunda na pequena localidade, entre os que estão em funcionamento ou os que ainda estão em fase de projecto.

O desenvolvimento turístico é, pois, um dos exemplos que elucidam a evolução trazida pela nova infra-estrutura, sen do que muitos agentes turísticos que lá operam não hesitam em afirmar à E&M que Macaneta “se transformou num dos pólos de maior desenvolvimento turísti co do país”, dizem-nos.

As opiniões, multiplicam-se. “Já não temos motivos para reclamar, a ponte galvani zou tudo”, garantiu Elvis Barros, gestor da Sunrise Lodge Macaneta.

Mais negócios

Quem já começa a esfregar as mãos de contente são os operadores turísticos, claro, porque o negócio começou a fluir como nunca. E nos dias que correm, turis tas é o que não falta por ali, mesmo que, na sua maioria, ocasionais, de fim-de -semana, para apreciar a paisagem das águas azuis e tudo aquilo que a natureza ainda pouco tocada pode oferecer. Para o presidente da Associação dos Agentes Económicos de Marracuene (AGEM), João das Neves, “a ponte veio aumentar de forma significativa a pro cura de serviços de turismo na região. Não há dados estatísticos, mas sente-se que o nível de receitas provenientes do turismo triplicou nestes dois últimos anos, em resultado da disponibilidade da ponte”, assegura, para depois sublinhar que “há uma grande oferta de servi ços de hotelaria e restauração ao longo da praia, mas muitos outros estão ainda em construção”.

Mais do que isso, a ponte não só fomentou o número de turistas, como também aca bou por facilitar a instalação de novas estâncias turísticas dinamizando o desen volvimento no local até pelo facto de, se gundo João das Neves, “haver pessoas da cidade de Maputo que agora começaram a instalar as suas residências e negócios na Macaneta. E a razão não seria outra, se não estar mais perto do local de lazer ten do, com isso, melhor qualidade de vida.”

A mesma fonte explica também à E&M que a Estrada Circular de Maputo (que liga a capital a Marracuene) é um outro factor que veio impulsionar o turismo em Macaneta, pois acaba por facilitar a circulação de pessoas e bens. “Natural mente que veio aliviar as dificuldades que a população tinha de se aproximar do desenvolvimento e trouxe, por outro

É o número de estabelecimentos existentes na macaneta, entre complexos que estão a funcionar e aqueles que estão em construção

100lado, uma oportunidade para os agricul tores e pescadores da Macaneta, facili tando as suas vidas para levar os pro dutos aos grandes mercados de Maputo”, considera o presidente da Associação dos Agentes Económicos de Marracuene. Carol Dias, gestora do Lodge ‘Lugar do Mar’, destaca os benefícios que a ponte trouxe à localidade da Macaneta, afir mando mesmo que “veio colocar Maca neta num lugar de topo, onde sempre de via ter estado ao nível da província de Maputo. Agora já não temos motivos de queixa. Por exemplo, na quadra festiva passada, esgotámos todas as reservas,”, enfatizou.

turismo doméstico com muito peso Se, por um lado, a entrada em funcio namento da ponte sobre o rio Incomáti galvanizou a entrada de investimentos públicos e privados na localidade e apro ximou toda a província de Maputo das praias de águas azuis e areias brancas, por outro, estimulou a prática de turis mo doméstico que, antes, se deslocava para as praias do Bilene, Xai Xai e Ponta do Ouro. No entanto, nem tudo é positivo. “De certa forma, a enorme afluência afu gentou uma parte daqueles turistas que tradicionalmente vinham visitar a Ma caneta”, explica João das Neves. No entanto, apesar disso há que assumir que o sector turístico de Macaneta este ve sempre, ao longo das últimas décadas, muito vinculado ao mercado sul-africano. E o surgimento, em força, do turismo do méstico fez com que alguns turistas sul -africanos que, tradicionalmente, eram os mais avistados por ali, e que tiveram um importante papel no desenvolvimen to do turismo de Macaneta, se retraís sem e escolhessem outras paragens. Já ao nível dos preços, e mesmo com a en trada em funcionamento da ponte, conti nuam a ser competitivos e a inflação não se fez notar. É isso mesmo que nos garan tem alguns agentes locais, e uma obser vação no local. “Os preços continuam a ser muito competitivos e acessíveis para o mercado da classe média, em relação a outros pontos turísticos da região”, ga rante a gestora do ‘Lugar do Mar’.

problemas ambientais são um grande desafio São questões que se colocam sempre que o desenvolvimento chega em forma de crescimento urbanístico, multidões e au tomóveis, com as consequências imedia tas da erosão num sistema que não está preparado ao nível das infra-estruturas sanitárias e sociais. É por isso que a

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província

gestão ambiental, sobretudo dos resí duos sólidos, já se tornou um desafio para a comunidade da Macaneta, sobretudo para os operadores turísticos, aqueles que mais recebem (e de forma directa) reclamações dos turistas.

Segundo João das Neves, o desenvolvi mento que se torna hoje facilmente ob servável na Macaneta “não é estrutura do e muito menos planificado a médio e longo prazos.” Desse rápido crescimento, que se vai verificando em outras zonas do país em situação semelhante (como na Ponta do Ouro, após a entrada em funcionamento da nova estrada e pon te, por exemplo) não está a ser acom panhado das necessárias infra-estru turas básicas, sobretudo de segurança, saúde e saneamento. “É preciso que se trabalhe no plano de desenvolvimento de toda a região, envolvendo os actores lo cais. O que acontece agora é que os proble mas ambientais, sobretudo relacionados

com a existência de mais resíduos sóli dos, já estão a tornar-se evidentes, e a levar à necessidade de criação de meca nismos de desenvolvimento estrutura dos de modo a transformar a Macaneta num destino turístico de excelência”, de fende o empresário João das Neves. Mais do que isso, questões relacionadas com a segurança (em terra e no mar) também se têm mostrado como um novo desafio às autoridades locais, uma vez que, segundo contam os operadores tu rísticos da Macaneta, o número do pes soal do corpo de salvação “é ainda muito reduzido” e não são poucas as notícias de afogamentos provocados pela agitação marítima. A seu tempo, iremos perceber se a maré cheia de turismo se traduz, de facto, em maior desenvolvimento.

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Macaneta
texto Hermenegildo langa fotografia d.r.
“A ponte veio aumentar de forma significativa a procura de serviços de turismo na Macaneta”
Ponte demorou a chegar mas, quando abriu, alargou os horizontes de quem apostou na Macaneta, nas áreas do imobiliário e turismo

Droga, um mal que consome o país

o consumo e tráfico de drogas ilícitas está a atingir níveis preocupantes no país. Dados do Gabinete Central de Prevenção e Combate à Droga indicam que, entre 2012 e 2016, foram apreendidos 27 mil quilos de “cannabis sativa”, vulgo ‘soruma’, seis toneladas de haxixe, mais de uma tonelada de efedrina e 553 quilogramas de heroína. Entretanto, em 2017, as autoridades apreenderam cerca de oito toneladas de soru ma, das quais 73,39% na província da Zambézia, no Centro do país. Este mal atinge sobretudo adolescentes e jovens, conside rados os grupos mais vulneráveis.

O relatório das Nações Unidas de 2019 também aponta que cerca de 35 milhões de pessoas sofrem, em todo o mundo, de transtornos por uso de drogas, mas apenas uma em cada sete recebe tratamento médico adequado.

Até aqui, nota-se que o país já se encontra num nível preocu pante, mas o mais grave, pelas informações que vêm sendo reportadas pelos órgãos de comunicação social, é que o país se tornou, nos últimos tempos, num corredor aberto ao tráfico para abastecer o exterior, sobretudo a África do Sul e um con junto de países da Europa. E, pela permeabilidade das nossas fronteiras, os traficantes exploram a vasta fronteira terres tre e os cerca de 2 500 quilómetros de costa.

Na verdade, esta é uma situação grave para qualquer país que luta contra o enriquecimento ilícito, sobretudo pela lava gem de dinheiro que já tomou conta de inúmeros segmentos económicos em vários países africanos, e não só.

A questão aqui é simples: sabemos que o país é usado, há tempo de mais, como corredor para o tráfico de dro gas. Mas de onde vêm essas drogas? Quem são os pro dutores? E por que o nosso país é usado como corredor? Nesta senda, muita coisa existe por ser esclarecida, a bem da

saúde pública. No entanto, o que a realidade mostra é que, em regra, não passam duas semanas sem que as autoridades re portem alguma apreensão. Mesmo assim, os traficantes não se cansam de desafiar as autoridades. Leva-me a pensar que, para lá do que é apreendido, existam muitas outras coisas que escapam dos radares das autorida des. E, quando isso acontece, pode crer-se que a ousadia terá valido a pena. Se a má fama se transformasse em pontos para ganhar algum Óscar, o nosso país seria um dos mais cotados no tráfico de droga, marfim ou madeira.

É recorrente as nossas autoridades apreenderem cidadãos nacionais ou estrangeiros transportando drogas, mas, mesmo sabendo desde logo que esses não são os verdadeiros donos, nunca convocam a imprensa para apresentar os legítimos do nos dessas maléficas mercadorias, o que suscita muitas dúvi das sobre a eficácia desse combate.

O comportamento das nossas autoridades leva-nos a pensar que simplesmente se “contentam” em prender os cidadãos usados para transportar essas drogas.

No meu modesto entender, seria interessante um dia ouvir da Polícia que conseguiu deter os verdadeiros donos dessas drogas que tanto mal criam na nossa juventude.

Sem menosprezar o esforço das autoridades da Lei e Ordem, acho que há necessidade de envidar mais esforços, se real mente as nossas autoridades gostariam de ganhar crédito no seio da sociedade.

Sabe-se que não é tarefa fácil chegar a estes barões, mas é preciso que a nossa Polícia comece a valorizar o seu juramen to. Se isso acontecer, acredita-se que essas pessoas que usam Moçambique como corredor de drogas, e até mesmo os seus consumidores, poderão se sentir-se minimamente ameaçados.

As nossas autoridades da Lei e Ordem devem envidar mais esforços, se realmente gostariam de ganhar crédito no seio da sociedade

OPINIÃO www.economiaemercado.co.mz | Setembro 2019 36
Hermenegildo Langa • Jornalista da Economia & Mercado

ercado e finanças

Da OcciDental aO DesafiO tOtal a que se vai assistir nO rOvuma

A nova detentora dos activos da Anadarko diz estar “comprometida” com o projecto da Área 1 da bacia do Rovuma, depois de, em Agosto passado, ter fechado a compra da totalidade das acções e a sua venda posterior à Total

“a anadarko moçambique área 1 (“AMA1”) tem o prazer de confirmar a conclusão bem-sucedida da aquisição da Anadarko Petroleum Corporation (“Anadarko”) pela Occidental Petroleum Corporation, (ou ape nas ‘Oxy’ no New York Stock Exchange), no dia 8 de Agosto de 2019.”

Como resultado da fusão, garantia -se também, “a Anadarko Moçambique continuará a existir como subsidiária integral da Occidental, com os accionis tas pré-fusão da Anadarko a deterem aproximadamente 16% das acções or dinárias da ‘Oxy’”. Depois, e conforme

55mil milhões de dólares foi o valor que a ‘oxy’ pagou pela anadarko, batendo os 33 mil milhões que a chevron havia oferecido

anunciado a 3 de Agosto, a Occidental “celebrou um contrato de compra e ven da definitivo com a Total, segundo o qual esta irá adquirir todos os activos da Ana darko na Argélia, Gana, África do Sul e Moçambique, incluindo todas as parti cipações da Anadarko na AMA1”, lia-se, num outro comunicado da Anadarko.

É o epitáfio bolsista de “uma jornada ex traordinária, especialmente para uma empresa que começou com alguns po ços de gás no Vale Central da Califórnia”, e que se encontrou, finalmente, com o seu “destino enquanto empresa de

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m

classe mundial, no centro do lugar mais dinâmico de toda a indústria global de pe tróleo”, escrevia Daniel Yergin, autor de “O Prémio: A Busca Épica por Petróleo, Dinhei ro e Poder”. Título sugestivo, sem dúvida. Até para a Anadarko que, depois da des confiança inicial demonstrada, através do seu presidente-executivo, Al Walker, elo giou o resultado da licitação, dizendo em comunicado estar “orgulhoso do substan cial prémio” que entrega aos accionistas.

mas quem é a ‘Oxy’?

De certa forma, a difícil batalha da aqui sição da Anadarko é um retrocesso para um capítulo muito diferente da história da Occidental. De 1957 a 1990, a empre sa foi liderada pelo magnata Armand Hammer, que fez grandes e arriscados negócios na Líbia e em outros pontos do mundo em desenvolvimento, com a ideia de transformar a Occidental num gran de player do mundo do petróleo. Ao nível do público desinteressado pelo sector não conseguiu. Mas os negócios multi plicaram-se, e sob a sua administração, a empresa tornou-se um conglomerado com interesses em outras áreas, para lá do ouro negro, como a criação de cavalos ou o empacotamento de carne. No entanto, nas últimas décadas, a Occidental mudou e... recuou na di versificação. Concentrou-se na Bacia Permiana, que recentemente se tor nou o campo de petróleo mais produtivo do mundo e entrou na batalha de aqui sições a que por ali se assiste. Quando aconteceu o colapso global dos preços do petróleo, há cinco anos, dezenas de companhias americanas faliram. Mas ali, entre o Texas e o Novo México, uma combinação de inovação tecnológica, in vestimentos agressivos e abundantes camadas de petróleo de xisto, transfor maram um corredor outrora esgotado, no maior produtor mundial de petróleio. Disputada nos últimos anos pela BP, a Shell, a Exxon Mobil, a Concho Resources a Apache, a Chevron e a Anadarko (pa ra além da Oxy, claro), a Bacia tornou-se o foco da empresa que, nos últimos anos, estava praticamente empatada com a Chevron no número de acres de explo ração que tinha na zona. E é nesse ‘desempate’ que se encontram os motivos pela vontade, primeiro, da Chevron tentar ‘abocanhar’ a Anadarko (que também é um importante player da Bacia) e o da ‘vontade de comer’ a Ana darko, consumada pela ‘Oxy’, que nunca fez segredo que o foco dessa aquisição eram, de facto, os activos da Anadarko.

quem CONTROLA A ÁReA 1

A Anadarko Moçambique Área 1, agora detida pela Total, irá operar a Área 1 Offshore com uma participação dominante de 26,5% da concessão

Percentagem da participação no consórcio

E que vão ser agora combinados com os seus próprios recursos na Bacia, conseguindo uma posição bem mais competitiva numa região, já fortemen te disputada por outros competidores esfomeados.

E foi isto que a Oxy pagou: os 600 mil acres da Anadarko na região, que es tão entre os mais lucrativos dos EUA, a presença nos campos de águas profun das do Golfo do México onde a produção tem vindo a aumentar e, claro, as opera ções em África.

Biliões no feminino

Vicki Hollub, directora executiva da Oc cidental Petroleum, tem-se mantido discreta desde que se tornou a primeira mulher a liderar uma companhia petro lífera norte-americana desde há três anos. No entanto, nos últimos tempos, co meçou a perder a timidez: avançou para a maior operação no oil & gas a nível mundial dos últimos anos, e até expres sou publicamente o “desgosto” pelo facto de a Anadarko ter inicialmente recusa do a operação da Occidental, que havia oferecido mais do que a Chevron.

Ainda assim, nem todos parecem felizes com a operação pensada por Hollub. As acções da empresa caíram mais de 6% nos dias que se seguiram ao anúncio da operação que alguns analistas de Wall Street classificaram como “uma aquisi ção demasiado cara.”

A Moody’s, empresa de rating, dizia mes mo que o acordo “poderia aumentar a dívida da Occidental em 40 mil milhões de dólares e que o esforço para vender activos, reduzir custos e integrar efecti vamente a Anadarko poderia stressar significativamente as operações da empresa.”

Greig Aitken, director de pesquisa sobre fusões e aquisições da Wood Mackenzie, escrevia mesmo que alguns investido res da Oxy “podem achar perturbador o facto de a sua empresa estar a pagar muito mais do que a Chevron estava dis posta a fazer.”

Já a Chevron, ultrapassada no negócio, pondera a aquisição de outras empre sas activas na Bacia Permiana, incluindo a Pioneer Natural Resources, a Concho ou a Diamondback Energy. Mas, até ver, o mercado até reagiu bem à derrota. “A Chevron demonstrou o seu com promisso com a disciplina de capital e políticas financeiras conservadoras”, disse Pete Speer, vice-presidente sé nior da Moody’s ao New York Times. E complementava: “Se a Chevron tivesse

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e&P 10% 10% 10% 8,5% 15% 26,5% 20%
Anadarko

mercado e finanças

a tOtal nO munDO

A nível global, é um dos principais grupos de exploração de oil & gas. Opera 14 311 estações de serviço no mundo, sendo que a distribuição de derivados de petróleo equivale a 50,8% das suas vendas. A multinacional francesa também actua na produção de energia a partir de centrais de gás de ciclo combinado e energias renováveis, na transformação de químicos e produtos de petróleo, transporte, armazenamento e vendas de gás natural, GNL, GLP e carbono. As vendas líquidas dividem-se da seguinte forma: Europa, 47,5%; França, 22,8%; África, 10,6%; América do Norte, 10,6% e outras localizações, 8,5%.

acrescentado mais dinheiro à sua oferta, como a Occidental fez há alguns dias, ela teriaaumentadomaterialmenteasuaala vancagem financeira mas enfraquecido em demasia o seu perfil de crédito”, enuiu. aprovação total

A oferta de aquisição da Anadarko pela ‘Oxy’, oficialmente aprovada por 99% dos seus accionistas numa assembleia geral extraordinária até pode ter sido o maior negócio no sector, em décadas, mas colo cou a petrolífera numa posição complexa e desafiante: porque comprou um activo caro e endividado, apesar de com mui to potencial para ser explorado, claro. Com a passagem dos activos moçambi canos da Anadarko, agora no balanço da Oxy e com a recente FID aprovada em Junho passado, não andará longe de se tornar um novo grande player do mercado de oil & gas a nível mundial. E é nesse sentido que nada irá mudar pe lo menos no que importa a Moçambique. São os próprios (novos) donos da Área 1 que o afirmam: “A Occidental está forte mente comprometida em garantir que, durante o período em que for proprietá ria da AMA1, a direcção e o cronograma do projecto permaneçam inalterados. Durante as minhas discussões com o CEO da Total, Patrick Pouyanné, este expres sou o forte compromisso da Total para com o projecto e de construir sobre as bases sólidas estabelecidas pela Ana darko. Como resultado, estou confiante que a estreita parceria que a Anadarko

A oferta de aquisição da Anadarko pela ‘Oxy’, oficialmente aprovada por 99% dos seus acionistas numa assembleia geral extraordinária até pode ter sido o maior negócio, em décadas, no sector, mas colocou a petrolífera numa posição complexa e desafiante

estabeleceu irá continuar e tornar-se-á mais forte”, afirmou Vicki Hollub.

Já Pouyanné, CEO da Total, reafirma va também o compromisso da empresa, referindo-se a Moçambique como “um activo único que se encaixa perfeita mente” na estratégia e competências da petrolífera francesa. “Tenham, por fa vor, certeza do nosso compromisso em trazer o melhor das nossas capacidades humanas, técnicas e financeiras para fortalecer a execução do projecto sobre as bases sólidas estabelecidas pela Ana darko e seus parceiros, e implementar o projecto no interesse de todos os envol vidos, incluindo o Governo e o povo de Moçambique”, complementava.

A Total, de resto, conhece bem Moçam bique onde está presente no negócio dos postos de abastecimento há já lar gos anos. Mas na história da empresa no país há também alguns capítulos de pesquisa de hidrocarbonetos, que inter rompeu há três anos nas áreas 3 e 6, por falta de descobertas que justificassem o investimento.

Agora, prepara o regresso à extracção, numa altura em que está entre os líde res de produção de gás natural liquefeito (GNL) a nível mundial, posição que será reforçada quando o consórcio da Área 1, que agora lidera, começar a produzir resultados, em 2024.

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Presença da Total no país vai deixar de ser apenas no retalho (downstream) passando para o upstream
Cativelos FOTOGrAFiA d.r.
TExTO Pedro

BNOME DA EMpREsA green Print REspONsávEL DaviD Malauene FuNDAçãO 2017 ENDEREçO ONLINE www.greenprint.co.mz 40

cLIENtEs da banca, saúde e empresas de consultoria fazem parte do portefólio da green Print

Uma impressão ecológica

A Green Print actua no segmento de venda de artigos e serviços de tecnologia de informação com uma preocupação ambiental, tendo na gestão de impressão em vários formatos o seu core business

num ambiente de negócios, nenhuma empresa se deveria orgulhar de não ter clientes. Porém, e por estranho que pareça, a Green Print é das poucas que se orgulha dessa realidade visto que no lugar de considerá-los assim, prefe re chamar-lhes de parceiros ou amigos... do ambiente.

Um primeiro sinal da diferença, na for ma de se posicionar no mercado des ta empresa criada em 2017, que ven de os seus produtos através de uma plataforma online, também como forma de minimizar a pegada ecológica, e com o foco em fazer acreditar que é possível aliar preocupação ambiental, redução de despesas e maior efectividade comercial. Criou por isso um serviço integrado deno minado Escritório Verde através do qual reduz o consumo de impressões, papel, água e energia dos seus clientes. David Malauene, fundador da Green Print, não hesita em afirmar que “tivemos aceitação logo desde o início, uma vez que acredita mos que qualquer negócio pode vingar sem ter de contribuir para a devasta ção do meio ambiente. O que nos mantém resilientes às adversidades do mercado é reduzir a pegada ecológica do cliente e superar as suas expectativas a nível de inovação tecnológica”, justifica o gestor. No entanto, Malauene entende que tra balhar com os toneres remanufactura dos ainda não é uma realidade mains tream do mercado nacional, visto que “o mais comum é falar dos reciclados recar regados”. Para tal, explica que “os tóne res remanufacturados são, de facto, uma grande inovação que a Green Print tem e que a diferencia dos competidores”. Mas o que são afinal tóneres remanufac turados? O gestor exemplifica: “Pegamos num tóner antigo e desmontamos total mente. Depois lavam-se todos os seus componentes e volta-se a montar um

novo, usando a carcaça e peças do antigo. Diferentemente do reenchimento, nos remanufacturados algumas peças são substituídas por novas equivalentes às originais e consegue-se garantir que haja um tóner com qualidade equipa rada ao original e com uma durabilida de assinalável”. Ou seja, o cliente ganha uma peça nova ao preço de uma antiga. O ambiente agradece.

Ainda assim, existem outros produtos que fazem a Green Print assumir-se como diferente das concorrentes. “Por exem plo, o Ezigo ou Laptop Stand é uma base que se coloca por baixo do laptop a fim de dar uma pequena inclinação que faz muita diferença ao usuário, sob o pon to de vista do conforto e da postura. Ela é produzida por meio de plástico total mente reciclado que provém da recicla gem de cartuchos de toneres”, releva. Contudo, não é só a qualidade ou a ausência de danos para o ambiente que o cliente pro cura no mercado: o preço é também funda mental. E para isso, o gestor da Green Print afirma que, também a esse nível, a empre sa quer causar o mínimo impacto nos custos operacionais dos seus parceiros: “o tóner é vendidoa40%dopreçodooriginal,eissoéum ganho para as empresas que escolham este produto. E mais do que isso, os nos sos toneres têm a certificação ISO9001 e ISO14001 de qualidade e do ambiente”, rei tera o gestor.

Como em qualquer empresa, embora esteja a registar sucesso no seu negó cio, existem sempre desafios. E para a Green Print, estes passam por continuar “a satisfazer o cliente garantindo-lhe a qualidade e respeitando, acima de tudo, o meio ambiente.”

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LANGA fotografia JAy GARRIDO
texto HERMENEGILDO
pegadaecológica
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MediMoc vai ser vendida

Através do Instituto de Ges tão de Participações do Estado (IGEPE), o Governo vai alienar a empresa estatal de importação e distribuição de medicamen tos, Medimoc.

Em anúncio público, o IGEPE re fere que pretende alienar a Me dimoc a uma entidade nacional ou estrangeira, que já tenha rea lizado negócios similares e com capacidade técnica e financei ra comprovada para dar conti nuidade ao negócio da empresa. Segundo o Governo, esta ven da enquadra-se no processo de reestruturação do sector em presarial do Estado.

A Medimoc é uma das oito em presas estatais cujo processo de reestruturação foi concluído no ano passado.

banco Único cria cartão “#geração deMais”

cartão direcciona-se ao target universitário

Em mais uma acção solidária in serida no programa de respon sabilidade social associada à celebração do Eid AL-Adha, ce lebração muçulmana, a com panhia eléctrica Karpowership doou bens alimentares às crian ças do Orfanato African Muslim Agency, em Nacala.

Segundo os responsáveis da empresa, a iniciativa “vem no seguimento de outros projec tos de responsabilidade social que a empresa está a desenvol ver no país, em que o objectivo é contribuir activamente para a melhoria das condições de vida das comunidades.”

“criar uma geração que vai além do expectável, que se supera e surpreende, e ao mesmo tempo acrescentar um valor real a este segmento, estimulando valores e atitudes vencedoras, para que sejam bem-sucedidos tanto na vida académica, como na vida pessoal e profissional” é o foco do Banco Único ao criar este projecto.

Através do Cartão Demais, a instituição bancária acredita que, “mais do que ser um simples cartão, é também um símbolo de uma geração que vai diferenciar os melhores estudantes dos outros.”

Segundo António Correia, Presidente da Comissão Executiva (PCE) do Banco Único, o lançamento deste novo projecto “é sinónimo de orgulho” da instituição que lidera e prossegue: “Torna-nos cada vez mais inovadores no mercado. Acredita mos que esta é a geração que vai marcar o futuro e, mais uma vez, queremos estar ao lado e acrescentar valor real de quem tem o potencial de fazer a diferença”, sublinhou o PCE.

O Millennium bim, juntamente com a seguradora Ímpar, lançou em Agosto passado, no cen tro de Reassentamento de Ku ra, na província de Sofala, a pri meira acção de Voluntariado Empresarial associada à cam panha “Millennium bim Solidá rio”, para a angariação de fun dos para apoiar as populações afectadas pelas cheias e pe lo ciclone Idai. Os colaborado res das duas instituições, clien tes e cidadãos entregaram bens alimentares, vestuário, e ou tros materiais de primeira ne cessidade a 163 famílias. As ac tividades decorreram com a su pervisão do Conselho Cristão de Moçambique.

1º edição do préMio jornalisMo cdM aMbiente

O Banco Único está entre os seis maiores bancos de retalho do sistema financeiro moçambicano e opera no mercado desde 22 de Agosto de 2011, estando presente em oito cidades do país.

O Prémio de Jornalismo CDM Ambiente surge no âmbito da parceria entre a cervejeira e a Cooperativa de Educação Am biental REPENSAR e faz parte do seu modelo de inclusão edu cacional para a preservação do Ambiente. A iniciativa visa pro mover a conservação, desta car a importância do Ambien te para a sociedade e premiar os melhores trabalhos jornalís ticos produzidos em 2019 so bre uma variedade de temáticas ambientais tais como a protec ção do Ambiente e envolvimen to da Comunidade, reciclagem e ecologia em Moçambique.

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‘MillenniuM biM solidário’ chega ao distrito de nhaMatanda
Karpowership doa bens aliMentares a crianças de orfanato eM nacala

igura do mês

de África e comparável aos da Europa e Estados Unidos. E to talmente operado por moçam bicanos, é de salientar.

Há um enorme potencial de crescimento

a caminho dos três anos de funcionamento operacio nal, a CDN (Corredor de Desen volvimento do Norte), pela voz do CEO, Wellington Soares, faz um balanço positivo de uma operação que ainda não ‘anda sobre carris’. No transporte de carvão, operação gerida pela CLN (Corredor Logístico de Na cala, que gere também a in fra-estrutura ferro-portuá ria), e da qual é também o CEO, mas também no transporte de carga geral. Até porque, apesar do “enorme potencial do carvão”, será esse o factor decisivo para o grande cres cimento do Corredor “que che gará com o desenvolvimento económico do país”, diz à E&M.

Que desafios encontrou e co mo os resolveu desde 2014, quando chegou?

Nessa época, o Corredor de Na cala estava em reabilitação e não se tinha iniciado a ope ração. A linha foi inaugurada em 2017 com capacidade total de transporte de 18 milhões de toneladas de carvão e 2 mi lhões de carga geral. No car vão, oriundo de Moatize com direcção a Nacala, tem sido feito um trabalho de evolução. Neste momento há dificulda des de operação na mina, é sa bido, mas irá chegar aos 18 mi lhões de toneladas por ano. No outro negócio, o da carga ge ral (gerido pela CDN), tem ha vido uma evolução constan te nos negócios de fertilizan tes, trigo, contentores, o que

demonstra a confiabilidade que é o Corredor do Norte. Temos uma operação segura, confiável e isso tem sido um motor para esta evolução. No ano passado transportámos 500 mil toneladas de carga ge ral e já no ano que vem chega remos às 700 mil.

De que forma a obra de re construção do Porto de Na cala, agora em curso, terá impacto nos níveis de carga transitada e em toda a ope ração da CDN e da CLN?

A obra do Porto incide no au mento da capacidade insta lada, na melhoria das infra -estruturas, equipamentos, em questões de drenagem e na parte eléctrica, benefícios que o irão transformar nu ma infra-estrutura mais mo derna. Isso terá um impac to grande na operação por que vai duplicar a capacida

de de manuseamento de car ga do Porto de 2 para 4 mi lhões de toneladas por ano. A sintonia com a política ge ral das infra-estruturas do país é constante, claro. O Por to vai evoluir por duas vias: na confiabilidade e eficiência da operação. E depois, vai ser adicionada capacidade a um Porto que tem vocação natu ral para ser um hub, uma vez que está próximo da região de Pemba e dos grandes con sumidores de commodities, como a Índia e a China. O pró prio Governo tem uma expec tativa forte e estamos em to tal sintonia. Da nossa parte, o projecto é desenvolver, cres cer e gerar emprego. A CDN emprega aproximadamente 400 pessoas no Porto e a fer rovia cerca de 700 pessoas de forma directa, e mais de mil indirectamente.

Havendo outros players a extrair carvão, eles pode rão utilizar a linha?

Neste momento, não utilizam porque nunca fomos deman dados para isso, mas o termi nal de carvão é multiusuário e pode ser utilizado por qual quer empresa.

Qual é o grande potencial de crescimento no Corredor de Desenvolvimento?

O carvão vai crescer, é cer to, mas o potencial ilimitado, digamos assim, está no negó cio de carga geral que já está em desenvolvimento. Sempre foi um negócio deficitário, mas a partir do momento em que chegarmos às 700 mil tonela das por ano atingimos o break even. O movimento ainda é, hoje, de 80% a ir para o hin terland e 20% a ser exporta da via Nacala mas, a cada ano, a tendência é crescer porque há oportunidades.

Que projectos existem de li gação a outros corredores de desenvolvimento?

Já estamos ligados à Linha do Sena e estamos a avaliar a li gação com a Zâmbia que co necta depois ao corredor Atlântico e ao de Dar-Es-Salam.

curriculum vitae

engenheiro mecânico de formação, tem uma carreira que se iniciou na Vale, em 2002. Chegou a Moçambique em 2014. Lidera a CDN desde 2018.

Como funciona a interliga ção entre a CDN e a CLN? São dois negócios independen tes. O controlo accionista per tence 50% à japonesa Mitsui e 50% à mineradora Vale, sendo a gestão independente. A CLN, com o carvão, tem um clien te fixo que é a Vale, que tem a operação de ferrovia e do Por to. E na CDN, onde temos o ne gócio de carga geral, há vá rios clientes. A parte operacio nal tem de funcionar de forma harmónica porque a ferrovia é a mesma e o centro de contro lo é um único. E aproveito pa ra dizer que é o mais moderno

A CDN também faz o trans porte de passageiros, que fa rá uma enorme diferença na vida das pessoas da região, embora seja uma operação pouco lucrativa, imagino... Sem dúvida. O comboio trouxe uma mudança grande. Só no ano passado, foram transpor tadas 500 mil pessoas. Temos muito orgulho nisto, até por que é um bem social. Para nós, é prioritário porque repre senta uma alavanca de desen volvimento em toda a região.

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f
cv
CDN

CresCer e desenvolver “Estamos a avaliar a ligação com a Zâmbia que conecta depois ao Atlântico e a Dar-Es-Salam”

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“MoçaMbique deVia ser patriMónio Mundial do MoViMento Moderno”

Incontornável na paisagem urbana da cidade da Beira e no panorama arquitectónico nacional – quiçá mais além, segundo os especialistas – o edifício dos Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM) e a respectiva gare estão a ser objecto de estudo profundo patrocinado pela Fundação Getty, visando a sua conservação e reabilitação

a instituição sediada em Los Angeles, nos Estados Unidos da América, premiou com 160 mil euros o projecto apresenta do pela Universidade do Minho (UMinho), de Portugal, que lidera uma equipa mul tidisciplinar com técnicos dos próprios CFM, que são proprietários do edifício, e da Universidade Eduardo Mondlane (UEM). A intervenção no singular prédio, se já era imprescindível volvido meio sécu lo do acto inaugural, após a destruição do ciclone Idai, que varreu as provín cias da Beira e Sofala em Março passa do, tornou-se mais urgente. Para desen volver novas funções e devolver a dig nidade a um dos maiores ícones do Movi mento Modernista. Em Moçambique e no mundo inteiro.

Vários técnicos para problemas diversos “A nossa intervenção tem várias ver tentes: em termos do construído, além dos problemas devidos a 50 anos de uso –como as fissurações, o revestimento em mosaico de vidro, partido em muitas zo nas, a maioria das ferragens dos que bra-luzes, que já não funciona, o siste ma de iluminação embebido nas cober turas das plataformas estar apodrecido... – acrescem os danos do ciclone Idai, que

ocorreu já depois da nossa candidatura, nomeadamente pela destruição de cai xilharias e quebra-luzes da fachada sudoeste. Temos, portanto, uma série de problemas que é preciso avaliar para apresentar propostas”, explica o arqui tecto Elisário Miranda, professor da Es cola de Arquitectura da UMinho e um dos elementos da equipa financiada pe los dólares da Getty.

Para lá da resolução das patologias cons trutivas que o prédio apresenta, a equi pa, que integra também um sociólogo, irá abordar a vertente utilitária da obra inaugurada em 1966: “Propomos estudar e avaliar a utilização actual do edifício e redinamizar os espaços, adequando -os às necessidades actuais e repensan do o papel que a estação pode desempe nhar nas dinâmicas sociais da cidade da Beira”, acrescenta Miranda.

estação das utopias

Enquanto este não fica estabelecido pelo estudo ora em curso, o papel simbó lico que a Estação Central da Beira de sempenhou, durante a vigência do regi me colonial em Moçambique e em prol do Estado Novo, ficou claramente definido pelas autoridades de então – ela foi, a seu

tempo, a expressão de uma dupla utopia. “O edifício é uma declaração política. O Porto da Beira e os Caminhos-de-Ferro da Beira são nacionalizados em 1949, nu ma operação a que as autoridades cha mam de “resgate”, e se a estação é inau gurada a 1 de Outubro de 1966 é para co memorar dois eventos importantes pa ra o regime: esse “resgate”, que ocorreu a 1 de Outubro; e, simultaneamente, os 40 anos da Revolução Nacional que deu ori gem ao Estado Novo (1926)”, explica o aca démico minhoto.

“A Estação Central da Beira é, no dizer dos governantes de então, um símbolo do progresso e da permanência de Por tugal em África. Este edifício significa va a utopia da arquitectura moderna (a qual, por si só, teria de ter a capaci dade de mudar a sociedade), interna cionalista e democrática, que é utili zada por outra utopia – a do Portugal pluricontinental, plurirracial e pluri cultural alardeada pelo Estado Novo. Assim, a Estação Central da Bei ra é um edifício muito significativo”, garante Miranda.

Mas, mais do que a hermenêutica dos devaneios utópicos de outrora, interessa à Getty a concretude da arquitectura

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Palácio das Repartições (Governo da província do Niassa), Aerogare do Aeroporto.

o mapa da Arquitectura Modernista em Moçambique

PEMBA

LICHINGA

QuELIMANE

NANPuLA

Cine Pemba, Paço Episcopal, Palácio das Repartições (Governo da Província de Cabo Delgado).

Edifício da Companhia de Seguros Nauticus / Hotel Portugal; Hospital Egas Moniz (actual Hospital de Nampula).

Palácio das Repartições (Governo Provincial da Zambézia); Paço Episcopal; Complexo comercial, turístico e habitacional Montegiro (quarteirão do Hotel Chuabo); Fábrica Cerâmica e Aglomerado Residencial Monteiro & Giro; Dependência do antigo BNU (actual Banco de Moçambique).

Escola Primária da Manga; Cine-Teatro São Jorge (actual Centro Cultural da Universidade Pedagógica); Igreja do Imaculado Coração de Maria (Igreja da Manga); Pavilhão de Desportos do Clube Ferroviário; Instituto Liceal Dom Gonçalo da

Silveira; Clube da Beira/ Automóvel & Touring Clube de Moçambique (actual Palácio dos Casamentos); Igreja do Sagrado Coração de Jesus (Igreja do Macúti); Estação Central; Aerogare do Aeroporto Sacadura Cabral (actual Aeroporto Internacional da Beira).

Escola Técnica dos Caminhos-deFerro (actual Escola Superior de Hotelaria e Turismo da UEM); Escola dos CTT (actual Direcção Provincial dos Transportes e Comunicações).

Arquitectura Neoclássica Correios de Moçambique

Art Déco

Cine Teatro Gil Vicente; Rádio Moçambique; Igreja de Nossa Senhora da Imaculada Conceição/ Catedral de Maputo; Clube Ferroviário de Moçambique; Hotel Cardoso; Cinema Scala; Edifício Ruby; Edifício Cardiga.

Estilo Português Suave Antiga Reitoria; Villa Algarve.

Movimento Pop e Brutalismo Cinema Dicca; Estúdio 222 (Cinema Gungu).

Arquitectura Modernista Padaria Saipal (actual FIPAG); Edifício Leão que Ri; Edifício Montepio; Igreja de Santo

António da Polana; Escola Técnica Elementar Governador Joaquim de Araújo (actual Escola Secundária Estrela Vermelha); Abrigo dos Pequenitos de Nossa Senhora ou Infantário Piramidal (actual Nhoxani); Filial do antigo BNU (actual Banco de Moçambique); Hospital Central Sede do Grupo Entreposto; Residência de Estudantes Khovolar; Escola Secundária da Polana.

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MAPuto CHIMoIo BEIrA INHAMBANE Dependência do antigo BNU; Cinema Montalto (actual Centro Cultural Académico do Instituto Superior Politécnico de Manica).

per si. E, nesse aspecto, a Estação Cen tral da Beira merece todos os encómios. Ex-libris da cidade e término do siste ma ferroviário que liga o porto da cida de ao hinterland africano, composta por três corpos distintos articulados entre si – átrio, bloco da administração e zona do cais – foi desenhada pelos arquitectos Francisco José de Castro, João Garizo do Carmo e Paulo de Melo Sampaio. Foi a sua linguagem ortodoxamente fi liada na arquitectura do Movimento Moderno internacional do pós-guerra (pilotis, quebra-luzes, arcos e abóbadas parabólicas e catalãs, grelhagens de ven tilação, murais cerâmicos, entre outros) que a tornou elegível para figurar entre os dez edifícios marcantes do século XX, a nível mundial, que são agora apoiados pela Getty. Uma dezena de obras – on de figura também o Museu Nacional do Uganda – que irá beneficiar de 1,4 mi lhões de euros no âmbito da iniciativa “Keeping It Modern”, e que já contribuiu, em cinco anos, para planear e investigar a conservação de 64 edifícios modernis tas em todo o mundo.

quantidade e qualidade em Moçambique Assim sendo, é possível que haja outros edifícios, em Moçambique, a merecer a atenção da Getty no futuro. Porque não faltam, em todo o território, obras de re levo, de altíssima qualidade, tanto no de senho como na construção, legadas pelo Movimento Modernista.

Abundância que se explica, segundo Mi randa, pela conjugação de factores que tornaram a África lusófona no laborató rio vivo de uma arquitectura cujo exer cício, paradoxalmente, estava vedado na metrópole. “O regime do Estado Novo não permitia, em Portugal, esta arqui tectura nos edifícios oficiais até meados da década de 1950. Naquela epoca, havia uma linguagem oficial que se expressa na escolha de alguns estilos arquitectónicos para os principais edifícios oficiais e reli giosos: a arquitectura inspirada no neo classicismo nazi alemão e fascista italiano, como na antiga agência do Banco Nacio nal Ultramarino, actual Banco de Mo çambique, na cidade da Beira, em que tu do se destina a esmagar o indivíduo nu ma afirmação de poder; a mistura eclé tica de estilos originários da História da Arquitectura, como nas fisionomias neo barrocas do Banco de Angola, em Luanda, e da Catedral de Nossa Senhora de Fátima, em Nampula; ou ainda na sobreposição estilizada de formas da arquitectura popular portuguesa no chamado estilo

é possível que haja outros edifícios, em Moçambique, a merecer a atenção da Getty no futuro. Porque não faltam, em todo o território, obras de relevo, de altíssima qualidade, tanto no desenho como na construção, legadas pelo Movimento Modernista

Português Suave, como se convencionou chamar a esta invenção dos ideólogos do regime, tal como é patente na Villa Algarve, em Maputo”, enumera. “Mas”, continua Elisário Miranda, “nas províncias ultramarinas, as necessida des eram outras. A seguir à II Guerra Mundial, temos um programa de de senvolvimento acelerado, de industria lização, de infra-estruturação onde se fomenta o crescimento das cidades já existentes. Surgem assim necessidades novas, havendo que executar tudo mui to rapidamente e com os meios disponí veis”, historia o arquitecto. “E o que havia para isso era o betão, o ferro, o vidro, por permitirem uma construção mais rápi da e mais barata do que os métodos an teriores, que implicavam, também, uma mão-de-obra especializada que não exis tia naquelas regiões”.

as inovações do brasil Especializados eram os técnicos que, par tindo da metrópole, deveriam conceber os edifícios institucionais que dessem corpo ao plano desenvolvimentista do Governo autocrata de Oliveira Salazar. E esses tinham já ideias muito diferentes do estilo cultivado pelo Estado Novo:

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Edifício dos Caminhos-de-Ferro, na Cidade da Beira, é “testemunho político” e marco arquitectónico do país

“Houve muitos jovens arquitectos que fo ram para África, principalmente aque les formados na escola do Porto, que era muito mais progressista do que a de Lis boa, e levaram com eles o ideário con ceptual e formal do Movimento Moder no”, diz Miranda.

Um ideário que postulava a funcionali dade dos espaços e a pureza das linhas – ficou célebre a frase “less is more” (me nos é mais) cunhada por Mies Van der Rohe, um dos nomes maiores do Moder nismo, a par de Le Corbusier, em Fran ça, ou Frank Lloyd Wright nos EUA –mas que, internacionalizada, levantava questões de adaptação climática. Como fazer esta arquitectura de grandes pla nos de vidro em zonas tropicais? – inter rogavam-se os mestres de então. “Os brasileiros são os grandes adaptado res da adequação climática da Arquitec tura Moderna às condições dos trópicos. E introduzem várias inovações, como os sombreadores da Estação Central da Beira, as grelhas de betão que permi tiam a circulação do ar e davam leveza aos edifícios, as lâminas de vidro orien táveis, as coberturas duplas... Todas es tas características vão influenciar uma arquitectura mundial e os arquitec

A capital moçambicana é ainda, não obstante a destruição irresponsável que a gula dos promotores imobiliários vai promovendo, um imenso mostruário das diversas escolas e estilos da arquitectura do século XX. A começar pelo desenho do plano urbano. “É muito interessante. Concebido pelos engenheiros Joaquim José Machado e António José de Araújo, conhecido pelo “Plano Araújo”, cujo anteprojecto foi concluído em 1887, tem a forma de uma malha quadriculada, abstracta, mas que, ao pousar naquele terreno ondulado, se torna muito orgânica, com a relação que estabelece com a baía através daquelas avenidas transversais”, refere Miranda.

“Outra característica interessante é esta sobreposição de estilos arquitectónicos de várias épocas”, realça, oferecendo um rol de exemplos ainda visíveis em Maputo: a arquitectura eclética e neoclássica das Belas-Artes (Correios de Moçambique); o estilo internacional

do ferro, na ruas da Baixa, com pilares de ferro e chapas de zinco; o estilo Art Déco, que tem uma quantidade enorme de exemplares espalhados pela cidade, principalmente nos programas de habitação unifamiliar ou colectiva; e, em simultâneo, alguma arquitectura do estado Novo, como a Villa Algarve, com o estilo Português Suave, que também ganhou certo interesse, até pelo exotismo naquele lugar; e, depois, toda a arquitectura dos anos 50, de qualidade, Modernista; e ainda os anos 60, ligados à arquitectura Pop e ao Brutalismo, como em algumas obras do Luís Vasconcelos ou do João José tinoco. Uma profusão de estilos e exemplares que deveria ter, enfim, melhor sorte que o camartelo, podendo ser rentabilizada para benefício de todos, moçambicanos e forasteiros: “Com toda essa riqueza, e não só em termos arquitectónicos, a cidade de Maputo poderia ser um pólo importantíssimo, em termos culturais e turísticos, na África Austral”.

tos portugueses em particular”, refere o docente minhoto.

Essa influência explica-se, desde lo go, pelo vínculo privilegiado da lín gua comum, mas também pela rele vância e difusão que a arquitectu ra modernista brasileira, absoluta mente revolucionária à época, alcan çou graças à exposição que, então, decorreu no Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova Iorque, em 1943, chama da “Brazil Builds”.

“Para essa exposição foi enviado ao Brasil um fotógrafo para fazer o le vantamento da arquitectura colonial (barroca) de origem portuguesa e, simultaneamente, documentar a arqui tectura que se estava a desenvolver naquela época.

preservar e acrescentar

O catálogo da exposição teve um gran de impacto: todos os arquitectos em Por tugal tinham o “Brazil Builds” nos gabi netes...”, diz Miranda. De modo que es ses jovens arquitectos que acabaram por se espalhar pelas colónias portu guesas de África tinham tudo: o espa ço, os materiais e todos os conhecimen tos técnicos que também decorriam do

conhecimento dessa publicação. Acres centar conhecimento é também um dos objectivos da equipa liderada pelo pro fessor catedrático da Escola de Enge nharia da UMinho, Paulo Lourenço, e da qual constam, além de Elisário Miran da, Maria Manuel Oliveira (UMinho), Luís Lage (UEM), o engenheiro Fernan do Ferreira e o arquitecto Edmundo Cândido (CFM).

Deverão compilar desenhos históricos, fotografias e histórias orais para com plementar um dossier a partilhar com a África lusófona, visando elevar o nível e as práticas de conservação do patrimó nio arquitectónico Modernista, bem co mo o conhecimento das ferramentas de última geração existentes neste âmbito. E não falta trabalho, dada a profu são de exemplares relevantes no país. De tal modo extensa que Elisário Miran da não hesita em considerar que “To do o Moçambique, e Maputo em par ticular, deveria ser considerado pa trimónio mundial da arquitectura do Movimento Moderno”.

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Capitalizar o patriMónio CoM turisMo Cultural
fOtOgrAfiA
teXtO Elmano madaíl
d.R.

SALVAÇÃO DO BPC PASSA POR ALIENAÇÃO A PRIVADOS

Em menos de três anos passaram já pelo BPC, que em 2018 somou prejuízos pela terceira vez consecutiva, quatro conselhos de administração. No ano passado, perdeu também o título de maior banco em activos

a estratégia, até ao momento, utilizada pelo Estado angolano para resga tar o maior banco público nacional, o BPC, que enfrenta um processo de rees truturação baseado fundamentalmente na injecção sistemática de capitais, con tinua a não dar resultados do ponto de vista prático.

Depois de já ter gasto mais de 568 mil milhões de kwanzas desde 2016, o Estado prepara-se para injectar este ano mais 230 mil milhões, dos quais 180 mil mi lhões de kwanzas para aumentar o ca pital social do banco e 50 mil milhões pa ra comprar crédito malparado, segundo indica o Plano Anual de Endividamento 2019 do Governo.

Numa primeira fase, o Estado vai injec tar 100 mil milhões de kwanzas no BPC

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mil milhões de kwanzas é o valor já gasto pelo estado angolano, desde 2016, para resgatar o BpC

para garantir que a entidade bancária mantenha a actividade normal, segundo um Decreto Presidencial de 30 de Janei ro deste ano. O documento autoriza o Mi nistério das Finanças a recorrer à emis são de Obrigações do Tesouro com prazo de reembolso a quatro anos e a uma ta xa de juro de 16,5% ao ano para possibili tar que o BPC “cumpra na sua plenitude a missão para a qual foi criado”.

No entanto, esta estratégia governa mental de injecção de dinheiro fresco, praticamente todos os anos, no maior banco comercial público nacional come ça já a preocupar não só os especialis tas na matéria, mas também o próprio Governo que, através do Ministério das Finanças, já se revelou incapaz de con tinuar a socorrer a instituição bancária, através da mobilização de recursos fi nanceiros adicionais.

O economista Victor Hugo de Morais, que critica a política de resgate adopta da pelo Estado, defende que um dos ca minhos para resolver a situação de “fa lência” do BPC seria o Estado, na quali dade de único accionista, alienar par te do capital do banco a um grupo de privados que pudesse rentabilizar a instituição.

“O Estado deveria ceder pelo menos 30% do capital a um grupo de privados que pudesse mudar a estrutura funcional do BPC, dotando-o de uma nova dinâmica e, assim, rentabilizar o banco”, defendeu o economista, acreditando ser esta uma das formas do Estado limitar a sua inter venção nas operações da instituição com a injecção sistemática de capitais.

Victor Hugo de Morais revela-se perple xo pelo facto de o Estado insistir em segu rar sozinho o BPC, mesmo estando o ban co a apresentar só prejuízos nos últimos anos. O economista atribui, por isso, res ponsabilidades ao próprio Estado pela si tuação actual por que passa o banco, “al go incompreensível”, na sua opinião, e que só se explica pelo facto de o “accio nista insistir em financiar acções incor rectas do próprio Estado”.

Lucros no vermelho Aquele que até há pouco tempo era o maior banco em activos do sistema fi nanceiro nacional – sendo que perdeu esta posição para o BAI, em 2018 – tem somado, nos últimos três anos, prejuízos nos seus principais indicadores de de sempenho, sobretudo no capítulo dos re sultados líquidos.

Nos últimos oito anos, os lucros do BPC atingiram o vermelho pela primeira

Lá fora
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vez em 2016, cinco anos após Paixão Jú nior, então PCA da instituição, ter assu mido o cargo, com os resultados desta ru brica a atingirem um saldo negativo de 21,6 mil milhões de kwanzas.

Mas foi em 2017, já sob o comando de Ri cardo Viegas d´Abreu – actual ministro dos Transportes – que o maior banco pú blico do país registou o maior prejuízo de sempre da banca nacional: 73,1 mil mi lhões de kwanzas. No ano passado, por exemplo, altura em que o banco era já dirigido por Alcides Safeca, os resultados líquidos voltaram a atingir o vermelho ao registar um sal do negativo avaliado em 26,7 mil milhões de kwanzas.

O economista Juvelino Domingos tam bém defende a abertura da estrutura accionista a privados como uma das so luções para que o BPC ultrapasse o mau momento actual. “Não é necessário pen sarmos numa privatização total”, realça, acrescentando, no entanto, que pode op tar-se pela redução da participação do Estado nestes bancos (públicos) sem que este perca o controlo dos mesmos. “Uma estrutura accionista maioritaria mente privada para estes bancos ga rante uma gestão capaz de colocá-los em níveis de desempenho que satisfaçam tanto o interesse do Estado como do siste ma financeiro”, defende, sugerindo, toda via, que a estratégia do BPC deve essen cialmente focar-se na recuperação do crédito, no aumento da eficiência por via da redução da estrutura de custos, quer em termos de quadro de pessoal, quer em termos de canais físicos não rentá veis, de modo a que a actividade gere cash flow suficiente para que a opera ção do banco ande por si.

Os motivos do calvário por que passa o BPC – que além da redução dos activos e dos lucros teve de fechar 74 depen dências bancárias e reduzir 550 postos de trabalho no ano passado – estão re lacionados essencialmente, segundo os analistas, com o crédito malparado que em 2017 atingiu, em todo sistema ban cário nacional, a cifra mais elevada dos últimos cinco anos. Dos 33% de nível de malparado registado naquele ano, 84% couberam ao BPC e 16% ao resto do sec tor bancário.

De acordo com o jornal “Expansão”, ao todo, a Recredit – empresa criada para comprar o crédito malparado do BPC – já adquiriu processos no valor de 297 mil milhões de kwanzas ao maior banco comercial público, não correspondendo este montante ao total do crédito malpa

último ano em que a entidade BanCária registou aumento

luCros.

rado do banco, sendo que o valor em cau sa representa apenas a primeira cartei ra adquirida. Consta que, para este ano, está prevista a aquisição de mais 50 mil milhões de kwanzas.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) manifestou, em Junho de 2018, a preocu pação com o crédito malparado no BPC, recomendando ao Governo que novas injecções de liquidez ficassem condicio nadas à concretização do plano de rees truturação, mantendo-se proibida a con cessão de novos empréstimos.

“O Governo está a desenvolver uma estratégia para restaurar a viabilida de financeira do BPC. Uma vez que nos apresentem essa estratégia, fornecere mos o nosso conselho, baseado nas boas práticas internacionais para lidar com situações semelhantes”, ressaltou Max Allier, representante do FMI em Angola, em recentes declarações à Economia & Mercado, durante a nova edição do Fó rum Banca, realizado pelo jornal “Expan são”, em Luanda.

Já em 2017, o relatório de auditoria exter na às contas daquele ano do BPC, elabo rado pela UHY - Auditores & Consultores, alertava que a “capacidade do banco para continuar as operações depende do suces so das suas actividades futuras, da manu tenção dos depósitos dos seus clientes e da continuação do suporte financeiro dos seus accionistas”.

Fusão fora de hipótese O processo de reestruturação agora em curso na instituição dirigida por André Lopes, ex-presidente do Banco Yetu, in clui, entre outras medidas, a redução de agências e de pessoal, mas descarta, para já, qualquer possibilidade de haver um processo de fusão que, no caso, seria com o congénere BCI, também estatal, como admitiam inicialmente alguns analistas. A fusão entre as duas entidades, na opi nião do economista Victor Hugo de Mo rais, não é viável de momento devido, so bretudo, aos prejuízos e demais passivos do BPC nos últimos três anos.

“A fusão é feita por duas entidades que nos últimos anos mostraram uma capa cidade de rentabilidade minimamen te satisfatória. Quer o BPC, quer o BCI são bancos falidos. E não se pode fundir duas entidades bancárias falidas. O que deve fazer-se, neste caso, é permitir a entrada de capital no BPC e privatizar -se por completo o BCI”, defendeu o tam bém docente universitário que critica, no entanto, o Estado por ter dois bancos no mercado o que, a seu ver, representa

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2015
de
8 289 -21 659 -73 100 -26 852 0 foNtE Relatórios e Contas BCP 2017 e 2018 2015 201620172018 Valores em mil milhões Kwanzas

uma concorrência desleal às demais en tidades do sistema bancário nacional. Sobre este mesmo assunto, uma fonte co nhecedora do sistema bancário, que pre feriu o anonimato, defendeu, em decla rações à Economia & Mercado (E&M), que o Estado devia estar presente na banca em apenas duas instituições bancárias: um banco universal com foco na inclusão financeira e no serviço universal, no ca so o BPC, e um outro de desenvolvimento económico e social, neste caso o Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA).

Para a mesma fonte, um dos motivos que levaram o BPC ao seu estado actual foi o facto de o accionista Estado nunca ter definido, claramente, qual a sua missão. “Uma das missões do BPC é fazer aquilo que os bancos comerciais não fazem, ou seja, marcar presença em todos os muni cípios. O BPC deve entender-se como um banco de complemento e não como mais um para concorrer com os demais. É tam bém um banco com uma função modera dora e reguladora dos preços”, referiu. A um banco com essa missão, segundo es te especialista, não se pode exigir que te nha uma rentabilidade igual à dos bancos

A Recredit – empresa criada para comprar o crédito malparado do BPC – já adquiriu processos no valor de 297 mil milhões de kwanzas ao maior banco comercial público, não correspondendo, este montante, ao total do crédito malparado do banco, sendo que o valor em causa representa apenas a primeira carteira adquirida

privados. “Mas também não pode dar prejuízo”, advertiu, acrescentando que “o Estado como accionista desse banco de via definir uma janela de rentabilidade dos capitais investidos (entre 5% e 10%) e não mais do que isso. O banco devia, as sim, elaborar os seus planos estratégicos com base nessa janela de rentabilidade”. Na opinião desta mesma fonte, foi um grande erro levar o Instituto Nacional de Segurança Social (INSS) e a Caixa das Forças Armadas a investirem no BPC. “Es tas instituições deviam investir, sim, nos bancos mais rentáveis e mais bem geri dos da praça para salvaguarda dos fun dos que gerem”, defende.

A saída do Estado da banca, ainda segun do a fonte da E&M, seria uma grande oportunidade para desenvolver o mer cado de capitais porque, considera, os bancos são das poucas ou únicas empre sas bem geridas e com prestação de con tas regulares, algo que ocorre por força da regulação do BNA.

Lá fora 54 www.economiaemercado.co.mz | Setembro 2019
texto António nogueirA fotografia istock photos Injecção de capitais no BPC não está a dar resultado e o banco público de Angola vai ter mesmo de mudar de vida

A sombra das sombras

dizem-nos as notícias que a amazónia tem estado a arder nas últimas duas semanas de Agosto. As queimadas, tradicio nais da época, tal como acontece também em África, por esta altura, ganharam proporções que não tomariam noutros tem pos, quando as épocas traziam certezas imutáveis e as chuvas chegavam só porque era tempo de elas caírem. E o fogo alastrou para consumir o que o clima tem vindo a dei xar secar nos últimos anos, com apetite voraz que, enquanto escrevo, ainda não está saciado. Não vou falar do clima que aqueceu, no geral, ou enumerar tudo o que a Amazónia nos dá sem pedir de volta. Na ver dade, esta será a floresta mais conhecida do mundo, uma espécie de estrela Pop do mundo natural. Aquela que todos reconhecem desde os tempos de escola, nem que seja só por isso, apesar de pensar que, se calhar, tal como todas as es trelas de qualquer coisa, só bem poucos a conhecem de facto. Mas é única e é importante. É o que chega, e já é muito. Há, no entanto outras florestas, pelo mundo, menos reconheci das, para não dizer que são mesmo completamente anónimas para todos nós quando comemos carne, atestamos o carro ou deitamos uma garrafa de plástico no lixo. Algumas delas estão (estiveram) aqui mesmo em Moçambique. Revelamos nesta edição que, em três décadas, mais de metade de toda a mancha florestal do país, simplesmente desapareceu. Pelo abate ilegal que alimenta uma indústria criminosa e pelo consumo de car vão das famílias que, em muitas zonas do país, ainda utilizam a madeira carbonizada de árvores vivas como fonte energética. Será este, a desflorestação, um dos pontos em que o país anda à frente da média mundial. O que, a este nível, também não é brilhante, diga-se. A área florestal mundial diminuiu de 31,6% da área terrestre do mundo para 30,6% entre 1990 e 2015, segundo um relatório divulgado pela FAO, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura.

Na sua edição de 2019, o estudo sobre o “O Estado das Florestas no Mundo” alerta que o desmatamento “é elevado”, embora tenha abrandado na América Latina, na África Subsaariana e no Sudeste da Ásia, “regiões onde há maior exploração de recursos vegetais, como a lenha, e onde há menos planos de protecção dos solos e da água potável.”

Taisplanos,sãoessenciaise,quesesaiba,inexistentes.Oqueé preo cupante, num país em que as principais riquezas ou alavancas de crescimento e desevolvimento não são propriamente,

como sabemos, limpas ou isentas de impacto ecológico. Longe disso. Sem a necessidade de uma aturada pesquisa, lembramo-nos que as três maiores fontes de receita do país, actualmente, e nas próximas décadas, são ambientalmente arriscadas: o carvão, maior fonte de receita de exportação da economia nacional, alimenta toda uma indústria altamente poluente que, por isso mesmo, tem vindo a ser descontinuada na Europa, nos Estados Unidos (embora Trump a tenha reac tivado) e até na China (que, pelo abandono dos EUA desta cor rida ecológica, tem assumido a dianteira na busca de soluções energéticas renováveis, por incrível que pareça). Depois, a segunda maior exportação nacional, o alumínio. Como é con sensualmente aceite, também não está isento, ao longo da sua cadeia de valor, de uma série de impactos ambientais. Por fim, o gás natural, a maior de todas as riquezas do país que, sendo uma fonte energética mais limpa que o carvão, também causa mossa nos ecossistemas marinhos junto às zo nas de exploração, ainda para mais numa zona tão rica em termos de biodiversidade como Cabo Delgado.

Mas há outros exemplos que nos levam a questionar os mo delos de desenvolvimento ou que, pelo menos, devem servir para que se estudem devidamente os seus impactos nocivos. Como o caso da grande exploração de pasta de papel que será ‘semeada’ na Zambézia, outro exemplo de indústria poluente que requer estudos e planos para minimizar o seu impacto. Depois, a floresta do país reduziu para metade e ainda Mo çambique não chegou ao ponto de ter uma agricultura de es cala, um dos grandes motivos do desmatamento na Amazónia, em que alguém se terá lembrado que era preciso abater ár vores centenárias para semear a soja de crescimento rápido, ou aumentar os acres da área de pasto para o gado bovino en gordar as exportações totais de carne, decisivas na economia brasileira (aumentaram 27% só no primeiro semestre deste ano em comparação com igual período de 2018, atingindo as 828 669 toneladas, qualquer coisa como 3,1 mil milhões de dó lares, de acordo com números da Abrafrigo, a Associação Bra sileira de Frigoríficos).

Voltando a Moçambique, faz-me pensar que se, metade das árvores que demoram vidas a crescer morreram em menos de meia vida, e sem sofrer tanto com a agricultura ou a indús tria, que sombras aí vêm com os novos ventos de crescimento que começam a soprar. Que sombra teremos daqui a 30 anos?

A floresta do país reduziu para metade e ainda Moçambique não chegou ao ponto de ter uma agricultura de escala, um dos grandes motivos do desmatamento na Amazónia

NOVOS ÂNGULOS www.economiaemercado.co.mz | Setembro 2019 56

ócio

(neg)ócio s.m. do latim negação do ócio

Nesta edição visitamos o Xai Xai, quando achamos que já conhecemos o mar...

Os sabores da África Oriental do Kwetu

O charme discreto da casta Pinotage, no Nederburg 1791

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Província de Gaza

Xai

Xai

eQuando achamos Que já

conhecemos o mar...

a pouco mais de três ho ras da cidade capital, Mapu to, para norte, está deitada no Índico a antiga Vila João Belo, hoje Xai Xai. A cidade frenética que acorda ao nas cer do sol com as cores das capulanas das mulheres mo çambicanas, é atravessada pela EN1. E tem aos seus pés as maiores praias de Moçam bique, escondidas e protegi das por dunas. Para conhecer tanto mar, pode optar por um fim-de-semana prolongado ou por uma semana inteira. Ao redor da cidade há imen sos locais para pernoitar, quase todos com self catering. O mesmo é dizer que pode comprar frutas e legumes na cidade e peixes ou maris cos aos pescadores locais e cozinhá-los ao seu gosto. Se para si descanso não é sinó nimo de cozinha, não se preo cupe, todos os lodges têm res taurante, com deliciosos pra tos temperados com aromas da terra. A vantagem de tudo tão perto é que pode dormir

num e aproveitar para al moçar ou jantar nos outros. Com tanto mar para escolher, começámos por Chizavane. Depois de dez quilómetros de terra batida, em bom estado, chegamos. Aqui somos os do nos da praia e perdemo-nos ao olhar para o horizonte. O sol é mais brilhante e o mar azul tem um intenso cheiro a maresia. As ondas são feitas de espuma branca que nos dá vontade de mergulhar para sentir na pele o leve toque do sal. Ao longo da praia, que não tem fim, há um cordão de ro chas que na maré baixa aju da a formar pequenas pisci nas naturais e deixa à vista mexilhão e ostras, prontos a serem degustados pelo palato mais exigente. Aconselhamos que leve para a praia, além do protector solar, um cani vete e limão. Garantimos um bom repasto antes de a maré voltar a subir. Se os molus cos não são o que mais apre cia, pode fazer uma longa ca minhada à beira mar. Pela

areia, além do sorriso das gentes locais, só se encontra a si. E quando as ondas desa parecem e o mar fica raso, há um delicioso silêncio que ca minha ao seu lado. No fim da tarde, acontece a magia afri cana, o céu vai ganhando tons que vão do laranja ao verme lho vivo e o dia abraça a noite. E, porque um sítio tão boni to merece que se fique mais uns dias, escolhemos pernoi tar no Nascer do Sol, um local abençoado pela natureza que se completa com várias ca sas, um parque de campismo e um restaurante.

Depois do jantar pode deixar o corpo repousar numa das confortáveis espreguiçadei ras que estão na varanda da casa e observar milhares de estrelas que vivem por cima de nós, tudo ao som das ondas. No dia a seguir e, logo pela ma nhã bem cedo, vai ser acor dado pelos inúmeros pássa ros que fazem das árvores as suas casas. É sempre um bom momento para observar as aves enquanto saboreia o pe queno-almoço e decide o que vai fazer. Tem várias opções.

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Pode juntar-se aos pesca dores locais e ir à pesca, fa zer snorkeling e observar peixes e corais.

E caso viaje entre Maio e Se tembro, é sentar-se num lo cal alto e ver as baleias que passam no mar, mesmo à nos sa frente, no seu percurso migratório.

areia branca, corais, peixes e mais mar

Ainda há tanto mar e areia por explorar. A paisagem pode ser muito igual mas não cansa, só descansa. Nem que seja por 48 horas. Vale a pena. A praia de Xai Xai é também um local de pausa obrigatória. Oferece areia branca, água transparente e é deserta. Aqui existe um dos melhores restaurantes da localidade, o Café Pescador, situado no Reef Resort. O chef moçambicano faz magia na cozinha e para a mesa vem um distinto con junto de sabores que dão von tade de voltar. A mariscada é soberba mas a gula leva-nos até às sobremesas. E aí o doce pecado foi o petit gateau de chocolate, crocante por fora e cremoso por dentro, acom panhado de uma bola de gela do. Se a refeição o deixou sem forças para voltar a conduzir, pode ficar no resort ou pas sear na praia. Ao fim do dia chegam os barcos com os pes cadores carregados de pei xe e sorrisos. E é tão bom ver tanta felicidade envolta em tanta simplicidade. Neste éden virado para o Ín dico, além de descansar, há muito para fazer. Os resorts têm actividades para todos os gostos. Há pesca em alto mar e em terra, no recife. Pode an dar de canoa e visitar as pis cinas naturais que a maré baixa deixa atrás de si. Visi tar a cidade e o mercado local, onde vai com certeza com prar fruta, legumes e algum artesanato, é outra opção. Não se esqueça de comprar capu lanas, os panos que dão vida e cor a todo o Moçambique.

roteiro

Como ir Pode viajar com a LaM até inhambane ou Maputo. Depois, alugue um carro no aeroporto, aconselhamos um 4X4.

o que Fazer aproveitar a maré baixa para usufruir das piscinas naturais que ficam junto ao recife. Pescar em alto mar. fazer snorkeling e visitar a cidade e o mercado.

onde dormir a nossa escolha recai no lodge Nascer do Sol , em Chizavane. aproveite e veja o nascer do sol, é uma experiência única. Os preços vão desde os 2 500 meticais por noite/pessoa numa casa pequena, até aos 14 500 meticais por noite/pessoa numa casa para dez.

onde Comer No Café Pescador. Situado na praia, a decoração oferece um ambiente intimista e o chef de cozinha leva-nos a pecar pela gula. Qualquer prato que esteja no menu deve ser experimentado. e atenção às sobremesas, são divinas.

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Xai Xai tem aos seus Pés as maiores Praias de moçambiQue, escondidas e ProteGidas Por dunas
teXtO Cristina Freire fOtOgrafia riCardo FranCo

o kwetu tem tido, até agora, uma presença discreta na ci dade. O que não significa que seja um espaço desconheci do ou ignorado. Pelo contrá rio, é o exemplo consumado de como um projecto com uma identidade muito própria se pode tornar, de modo quase imperceptível, num lugar de peregrinação obrigatória. Antes mesmo do desfrute gas tronómico, o sentimento que primeiro perpassa, quando se chega, é o de se “estar em ca sa”. Esse sentimento não seria possível, certamente, se esse não fosse também o desígnio de quem o concebeu. Ter con seguido materializá-lo é o pri meiro dos méritos do Kwetu. Mas o que significa este “es tar em casa”? Alguns restau rantes fazem-nos sentir “em casa” sobretudo por via da confecção dos alimentos. Por que evocam em nós, pelo em penho num esmerado prepa ro artesanal, memórias que nos remetem para a afecti vidade e a intimidade das re feições caseiras que outrora vivenciámos. Esta componente “familiar”

KWetu, aromas e sabores da áFrica orientaL

também está presente no Kwetu. Mas o que torna di ferente e dá outra dimensão ao “estar em casa” que se sen te no Kwetu assenta mais nu ma perspectiva que se pode ria dizer de ordem “existen cial”, ou seja, decorre do facto de que a informalidade do es paço propicia um sentimento de liberdade e de comunhão incomum.

Por ser um espaço aberto so bre a rua, no qual não se “en tra” mas para o qual se tran sita sem esforço e, pela mes ma razão, por estar na rua, não propôe o tradicional her mético confinamento restau rativo, mas está aberto ao flu xo dos passantes, o Kwetu in duz a um “estar em casa” que é mais amplo e abrangente. É esta configuração que pro pociona algumas iniciati vas que são particularmente atractivas e cativam, de ime diato, quem procura espaços alternativos na cidade. Uma delas é o buffet dos sábados,

uma excelente oportunidade para ficar a conhecer a va riedade da oferta do Kwetu. Refira-se que a matriz inspi radora da sua ementa é a co zinha da África oriental. Isto deve-se ao facto de o funda dor do Kwetu (Ndori Kambari Sady) ser nativo do Ruanda. Do arroz pilau às almondegas, do frango com leite de coco às di versas saladas, do café ruan dês ao chá balacate, é todo um programa de aromas e sabo res inesquecíveis. Convém, em particular, estar atento às edições do Kwetu Neighbou rhood Market, uma feira que mistura, entre as 12h e as 19h, para além do buffet, manifes tações musicais (dj’s ao vivo), moda, arte... e muitos e inespe rados cocktails.

A outra iniciativa a que con vém estar atento é a “Kwetu Pop Up Cozinha Vegana”. Mes mo para quem, à partida, não se identifica com o “espírito vegan”, vale a pena experi mentar. Talvez tenha uma boa surpresa. Num dos últimos “pop ups” realizados, a emen

ta propunha: nas entradas, badjias, mandioca frita, ba nana frita e beringela assa da; nos pratos principais, abó bora com leite de coco, mata pa, feijoada, imvange de ervi lha, sukumawiki (um refoga do de couve) e quiabo; dispo níveis ainda vários tipos de acompanhamento (arroz de coco, arroz biryani, mucapa ta, apas), saladas, sumos natu rais e bolos. Se ficar “adepto” poderá mesmo frequentar as “oficinas de comida vegan” e aprender como confeccionar em casa o que experimentou no Kwetu.

Mas independentemente des tes dias especiais (o buffet dos sábados, o Kwetu Neighbou rhood Market, ou os “pop up” de cozinha vegan) o Kwetu convida a visitas repetidas. Pe lo prazer de comer, certamen te. Mas sobretudo porque a “vibração” é boa, aconchegan te, descontraída e cosmopolita.

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teXtO rui trindade fOtOgrafia Jay Garrido Av. Márires da Machava 133 Maputo +258 84 415 5558
KWetu
é o eXemPLo de como um Projecto com uma identidade muito PróPria se Pode tornar num LuGar de PereGrinação
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barista

PinotaGe (2018)

País África do Sul

reGião Paarl

Casta Pinotage

Cor Cereja intensa

aroma Intenso e rico a café, chocolate e baunilha com notas de amoras maduras, ameixas e cerejas Paladar Equilibrado com taninos suaves

Final Picante com boa persistência teor alCoóliCo 13,5%

n 1791 PinotaGe (2018)

nederburG 1791

o charme discreto da casta PinotaGe

L’avenir

PinotaGe (2016)

País África do Sul

reGião Stellenbosch

Casta Pinotage

Cor Rubi intenso com reflexos violáceos aroma Frutas vermelhas e pretas maduras, como cerejas, amoras e framboesas, notas herbáceas e de especiarias, além de toques de chocolate e couro Paladar Equilibrado com taninos firmes

Final Boa persistência marcado por frutas vermelhas maduras e notas de chocolate teor alCoóliCo 13,5%

País África do Sul reGião Paarl Casta Pinotage Cor Vermelho rubi com reflexos de cor púrpura aroma frutado (ameixa e mirtilo) e notas picantes de alcaçuz Paladar Seco, frutado e com taninos suaves Final Boa persistência teor alCoóliCo 14%

a áfrica do sul tem-se destacado por produ zir vinhos brancos e tintos de altíssima quali dade e com um estilo muito próprio, e posiona -se, actualmente, entre os dez maiores produ tores a nível mundial. Esta realidade é o re sutado de uma longa tradição na produção de vinhos. A história da vinicultura na Áfri ca do Sul tem início, ainda de forma rudimen tar, no século XVII, quando colonos holande ses se instalaram na região de Table Bay (Ci dade do Cabo), plantando vinhas importa das de França e da Espanha. O primeiro vi nho de produção sul-africana surgiu em 1659.

Ao longo do tempo, plantações foram sen do espalhadas por outras regiões do país.

Constantia foi a principal delas, elaborando vinhos com nível elevado de qualidade e tor nando famosa a produção da África do Sul.

As castas tintas mais comuns são: Cabernet Sau vignon, Merlot, Pinotage, Pinot Noir e Shiraz.

As principais brancas são: Chardonnay, Che nin Blanc (Steen), Sauvignon Blanc e Sémillon. Outras também são cultivadas em terras sul -africanas, mas a uva característica do país é a Pinotage, um cruzamento raro e bem su cedido de duas variedades diferentes: a Pi not Noir e a Hermitage. Para se ter uma ideia da importância da Pinotage na África do Sul, mais de 20% dos vinhos tintos do país são pro duzidos com esta variedade. O resultado é um vinho rico, complexo e cheio de especiarias.

A nossa proposta principal deste mês é, preci samente, um dos exemplares mais bem con seguidos produzidos com esta casta: o Neder burg 1791 Pinotage (2018). A Nederburg es tá entre as principais casas vínicolas do país (senão mesmo a principal) e a designação 1791 que o rótulo ostenta faz referência ao ano em que ela começou quando o imigrante alemão Philippus Wolvaart comprou os seus primei ros hectares, na região de Paarl.

neethLinGshoF estate

PinotaGe 2015

País África do Sul

reGião Stellenbosch

Casta Pinotage

Cor Rubi com reflexos violáceos aroma Frutas negras maduras, como ameixas e notas de frutas secas e especiarias, como canela Paladar Frutado, equilibrado, taninos macios e boa acidez Final Equilibrado e persistente teor alCoóliCo 14,5%

O Nederburg 1791 Pinotage apresenta-se com uma cor profunda. É vermelho rubi com re flexos de púrpura. Os aromas mais presentes nesse vinho são os frutados que remetem a frutas maduras escuras como ameixa e mirti lo com notas picantes de alcaçuz que são, aliás, muito típicas da casta Pinotage. Na boca, o Ne derburg 1791 Pinotage é um vinho frutado e muito fácil de beber com taninos bem suaves. Uma outra sugestão, igualmente interessan te, é o Barista Pinotage, vinho criado por Ber tus Fourier, um dos mais famosos enólogos sul -africanos. É um vinho exuberante em aro mas e sabores, com notas de café sem que ne nhum grão de café seja utilizado no Barista.

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Fundada no sécuLo Xviii, é uma das PrinciPais marcas vínicoLas da áFrica do suL

eXPosiçÕes

música filmes livros

thunDEr souL (DocuMEntÁrIo) MarK LanDsMan

• em destaque Serotonina Michel houellebecq editora alfaguara

roX MazIto rhoDÁLIa sILvEstrE , onésIa MuhoLovE E XIXEL LanGa

Centro Cultural Franco-Moçambicano Dia 13 de Setembro Hora: 20h30

Centro Cultural Franco-Moçambicano Sala de exposições inauguração: 3 de Setembro Hora: 18h30 Patente até 28 de Setembro

coMo uM fIo DE ÁGua MIGuEL césar

Fundação Fernando Leite Couto galeria inauguração: 11 de Setembro Hora: 18h Patente até 3 de Outubro

“BIoDIvErsIDaDE aMEaçaDa E MoçaMBIquE”

Centro Cultural Franco-Moçambicano inauguração: 23 de Setembro Hora: 17h30 Patente até 30 de Setembro

cinema

IMpunIDaDEs crIMInosas DE soL DE carvaLho (MoçaMBIquE , 2013, 75’), sEGuIDo DE convErsa coM as actrIzEs EspErança naIEnE E LucrécIa paco

Centro Cultural

Franco-Moçambicano

Dia 2 de Setembro Hora: 19h

Fundação Fernando Leite Couto Dia: 3 de Setembro Hora: 18h

KarInGana: LIcEnça para contar DE MônIca MontEIro (BrasIL , MoçaMBIquE , anGoLa, 2017, 72’)

Centro Cultural Franco-Moçambicano Dia 9 de Setembro Hora: 19h

mÚsica

sIzoDIvana MasX 20 –BanDa hoDI convIDaDos: IrMãos BEIrEnsEs

Centro Cultural Franco-Moçambicano Dia 5 de Setembro Hora: 19h

chEnY Wa GunI KonGoLEtI sEssIons

Fundação Fernando Leite Couto

Dia: 5 de Setembro Hora: 18h

Jazz p aprEsEntação Do ÁLBuM sELf GrInDInG

Fundação Fernando Leite Couto

Dia: 12 de Setembro Hora: 18h

No romance-profecia de um futuro pouco per feito, Michel Houellebe cq reafirma-se uma vez mais como um cronista impiedoso da decadên cia da sociedade ociden tal, um escritor indómi to, incómodo e por isso imprescindível. em “Serotonina” acom panhamos florent-Clau de Labrouste que tem 46, é funcionário do Mi nistério da agricultu ra e detesta o seu no me. Divide o apartamen to na periferia de Paris com Yuzu, a namorada japonesa, muitos anos mais jovem. Cínico, profundamen te desesperançado e in timamente só, tudo lhe parece insuportá vel: a frança está à bei ra do precipício, a euro pa ameaça ruir, a sua vi da é um beco sem saída. romance lírico, irónico, cruel, cirúrgico e profé tico, Serotonina – que venceu o Prémio de Lite ratura europeia - é uma radiografia do futuro que nos espera, atravessa da pelo olhar sempre provocador de Michel Houellebecq.

LÁ na MorGuE MahaMBa cpa

Fundação Fernando Leite Couto

Dia: 17 de Setembro Hora: 18h

Moça Das Docas corEoGrafIa: GIGLIoLa zacara; IntErprEtação: YucK MIranDa E osvaLDo passIrIvo

Centro Cultural Franco-Moçambicano Dia 18 de Setembro Hora: 19

DorotEIa Fundação Fernando Leite Couto

teatro Literatura

Dia: 26 de Setembro Hora: 18h sarau DE poEsIa trIButo ao poEta, EscrItor E actIvIsta cuLturaL José pastor

Fundação Fernando Leite Couto Dia: 19 de Setembro Hora: 18h

na ofIcIna DE “crIME E castIGo” DE DostoIEvsKI DÁLIa MatsInhE

Fundação Fernando Leite Couto

Dia: 24 de Setembro Hora: 18h

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Ich MoI Yo /

Fundação ceLebra da vinci

este ano celebram-se os 500 anos da morte de Leonardo da Vinci. Pintor, escultor, ma temático, arquitecto, urba nista, físico, astrónomo, enge nheiro, naturalista, químico, geólogo, cartógrafo, criador de engenhos bélicos e inven tor de instrumentos musicais. Leonardo nasceu emAnchiano, pequena aldeia toscana perto de Vinci, na região de Floren ça em Itália, a 15 de Abril de 1452, e morreu a 2 de Maio de 1519, em Ambroise, na França. Autor de algumas das mais emblemáticas pinturas de todos os tempos (“Mona Lisa”, “A Última Ceia” e “Homem Vi truviano”), Leonardo da Vinci corporizou, como nenhum ou tro, os ideais do Renascimento explorando todas as áreas do conhecimento.

Foi um dos primeiros a sondar os segredos do corpo humano através da dissecação de ca dáveres, observou o voo dos pássaros e insectos, o cresci mento das plantas, as formas, sons e cores da natureza. Como inventor criou centenas

nos 500 anos da sua morte

de projectos de hidráulica, cosmologia, geologia, mecâni ca, música e engenharia. Na década de 1960 descobriram -se, em Madrid, mais de 700 páginas de desenhos sobre aviação, arquitectura e enge nharia mecânica, datadas en tre 1491 e 1495. Muito embora a maioria de seus projectos nunca tenha saído do papel a sua contribuição para as ciências é hoje inegável.

As celebrações dos 500 anos da morte de Leonardo da Vinci vão acontecer não ape nas em Itália, mas em muitos outros países e decorrem ao longo do ano.

Mas começando por Itália, o Governo anunciou, no pass do mês de Março, que estão previstas mais de 500 ini ciativas envolvendo escolas, museus, bibliotecas e insti tuições públicas e privadas. Deste vasto programa desta ca-se a exposição “Leonardo da Vinci: Desenhado o Futu

as ceLebraçÕes dos 500 anos da morte de da vinci vão acontecer não aPenas em itáLia, mas em muitos outros Países

ro”, na cidade de Turim em que serão exibidos mais de 50 desenhos, entre os quais o famoso “Códice sobre o Voo dos Pássaros”, “O Rosto de uma Menina” e o seu também fa moso “Auto-retrato”. Mas será em Milão, onde Leonardo passou uma parte significativa da sua vida – e onde deixou a sua marca com trabalhos como “A Última Ceia” - que irá acontecer, no Castello Sforzesco, uma das mais ambiciosas exposições deste vasto programa que lhe é dedicado. De referir ain da a exposição “A Ciência an tes da Ciência”, em Roma, com mais de 200 peças de Da Vinci. Outras exposições estão pro gramadas também fora de Itália, nomeadamente em França, Polónia, Reino Unido e Estados Unidos (para re ferir apenas alguns exem plos), numa homenagem que pretende sublinhar a “uni versalidade do génio” de Leonardo da Vinci. Também em Moçambique, a Fundação Fernando Leite Couto, em Ma puto, irá dedicar a sua pro gramação de Outubro à sua figura e obra.

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mini edição esPeciaL 60 anos

mini ‘edição esPeciaL 60 anos’ um carro de coLecção

Cooper 1.5 136cv, Cooper S 2.0 192cv) e duas versões Diesel (Cooper D 1.5 116cv, Cooper SD 2.0 170cv)

Preço 35 000 dólares

em 1959, Alec Issigonis criou um ícone de design intempo ral que captou o espírito de uma geração. Inteligente, fas cinante e carismático, o Mini original era diferente de to dos os outros automóveis. Para celebrar os seus 60 anos, os designers da Mini eleva ram a fasquia para criarem um automóvel de colecção único, fascinante de qualquer perspectiva: o Mini Edição Es pecial 60 Anos irradia estilo e atitude – assumindo o passa do de glória com os olhos pos tos no futuro.

vA apresentação deste Mini Edição Especial 60 Anos foi um dos pontos altos da edição deste ano do Festival de Velo cidade de Goodwood – um dos mais importantes eventos do automobilismo em Inglaterra, realizado no ínicio do passado mês de Julho, em West Sussex. Assim, um amplo espaço de nominado Electric Ave nue (“Avenida Eléctrica”) ce lebrou o universo da fa bricante de Oxford exibin do momentos marcantes do seu passado - como uma instalação que recriava um anúncio publicitário da

Mini de 1959 - e o presente, representado por lançamen tos actuais, como os novos Mini Clubman e Mini John Cooper Works Clubman, para lá do inédito Mini John Cooper Works GP 2020 (ainda como um protótipo de testes). De referir ainda que, tam bém no passado mês de Julho, a marca revelou o novo Coo per SE, o seu primeiro modelo totalmente eléctrico. O aparecimento do Mini está directamente ligado à con juntura histórica da déca da que o viu nascer e que foi marcada pela chamada “cri se do petróleo”. O que a Mor ris pediu a Alec Issigonis foi que concebesse um carro pe queno com, no máximo, três metros de comprimento, que transportasse quatro adul tos com relativo conforto,

fosse barato e consumisse pouquíssima gasolina. Apre sentado ao público britânico em Agosto de 1959 o merca do foi surpreendido por um carro compacto (apenas 3,05 metros de comprimento) e leve (pesava apenas 620 kg). Mas para além das suas inú meras características inova doras e da acessibilidade do seu preço - que o definiu, na época, como um carro “class lessness”, isto é, para todas as classes sociais - o que tornou o Mini um carro de culto não pode ser dissociado da “revo lução” que marcou a década de 60, durante a qual emergiu a “cultura pop”, que definiu um novo “estilo de vida” e um “imaginário” que caracteriza ria as décadas subsequentes. E até os “Beatles” adoptaram o Mini como o seu carro.

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o Que tornou o mini um carro de cuLto não Pode ser dissociado da “revoLução” Que marcou a década de 60 e o surGimento da cuLtura PoP

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