E&M_Edição 22_Janeiro 2020 • Os rubis que aquecem a economia

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Na voz de Samora Machel Agostinho vuma,jr. que lidera a montepuez presidente daruby CTA mining 2020 do gás Cidade as previsões económicas Os grandes números de paramega o anoinfra-estrutura que aí vem uma

moçambique

Energia Turismo programa Get.Invest Um sector que parecevai apoiar novos projectos ter tirado férias

Sociedade A mezimbite está a afinal, reformular Como trabalham, a forma como vemos a floresta moçambicanos e portugueses?

doing business Os rubis que Como desatar o nó? aquecem a economia

o janeirO 2020 DEzEMbrO 2019• ano • ano0302• n• on22 21 Preço 200 MZN

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A E&M procura o caminho para A E&M visitou a mina melhorar a posição ranking deno montepuez



Sumário 6

Observação

Fórum Económico Mundial A reunião anual que junta líderes mundiais para discutir como criar um mundo melhor

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Radar

Panorama Economia, Banca, Finanças, Infra-estruturas, Investimento, País

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Macro

Crescimento Como África, Moçambique incluído, está em contraciclo com o abrandamento económico

20 nação Rubis de Montepuez 20 Reportagem A E&M visitou a mina da Montepuez Ruby Mining em Cabo Delgado e viu como está a crescer um dos maiores jazigos mundiais da pedra preciosa vermelha. 30 Na voz de... Samora Machel Jr., o PCA da Montepuez Ruby Mining

34 provÍncia

48 figura do mÊS Luze Guimarães A gestora do Muva fala dos resultados alcançados ao nível do acesso a oportunidades económicas pelos jovens

50 sociedade Mezimbite Forest Centre Um projecto que se propôs a construir uma floresta sustentável e para todos

54 lÁ fora Angola O desafio político e económico de fazer regressar os dólares a uma economia em crise

59 ócio 60 Escape A descoberta do sempre fascinante deserto do Namibe 62 Gourmet À descoberta do Galeria, um espaço com características únicas em Maputo 63 Adega Uma degustação de escolhas da Casta Malbec 64 Agenda Música, livros, filmes 65 Arte Português de Moçambique no Caleidoscópio 66 Ao volante Cybertruck, a pick-up do século XX

Energia Como o programa GET.invest quer levar energia aos cantos mais remotos do país

38 mercado e FinanÇas 2020 A E&M traça o cenário de crescimento da economia nacional no ano que agora começa

44 empresas CUBE Enterprise A história de uma empresa que conquistou o seu lugar no mercado da segurança

46 Megafone Marketing O que está a acontecer no mundo das marcas em Moçambique e lá por fora www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2020

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Editorial foto recorte

Rubis de Montepuez VS Comunidades Locais Iacumba Ali Aiuba a montepuez ruby mining (mrm) que começou a operar em Moçambique des-

de 2012 depois de ter vivido momentos conturbados no relacionamento com as comunidades circunvizinhas devido à mineração artesanal ilegal em áreas concessionadas àquela empresa parece estar a respirar de alívio. Não foram poucas as vezes em que a empresa se queixou das constantes invasões da sua área de concessão por garimpeiros ilegais, tendo esta situação gerado polémica sobre alegados maus tratos a estes informais. Segundo o PCA da MRM, cuja entrevista reproduzimos nesta edição, a convivência entre a empresa e as comunidades pode ser considerada pacífica em resultado de nova abordagem de relacionamento com estas, com envolvimento dos seus líderes. Esta abordagem preconiza entre outras acções, a identificação de oportunidades e preocupações locais, investimento em projectos comunitários e de conservação na região. O PCA faz o balanço das actividades da empresa desde a sua instalação no distrito de Montepuez, província de Cabo Delgado, a norte de Moçambique e traça as perspectivas de investimento para os próximos anos. Por ter sido bastante mediatizado, aborda igualmente o caso do processo movido por alguns moçambicanos contra a Gemfields no tribunal Superior de Londres por alegada violação de direitos humanos. Pela relevância do tema destacamos a entrevista nesta edição de Janeiro de 2020. Mais uma vez, a E&M reitera votos de um próspero 2020.

MÊS ano • Nº 01 JANEIro 2020 • Nº 22 propriedade Executive Mocambique PROPRIEDADE Executive Moçambique Liquatis nienis doluptae velit et magnis DIRECTOR Iacumba Ali Aiuba enis necatin nam fuga. Henet exceatem DIRECTORA EDITORIAL DO GRUPO seque cus, sum nis nam iu Qui te nullant EXECUTIVE Ana Filipa Amaro adis destiosse iusci re in prae voles DIRECTOR EXECUTIVO Pedro Cativelos sant laborendae nihilib uscius sinusam conselho EDITORIAL rehentius eos resti dolumqui dolorep Alda Salomão; António Souto; reprem vendipid que ea et eumque non Narciso Matos; Rogério Samo Gudo nonsent qui officiasi JORNALISTAS Celso Chambisso; lorem ipsum Executive Mocambique Hermenegildo Langa; Cristina Freire, Liquatis nienis doluptae velit et magnis Elmano Madaíl, Rui Trindade enis necatin nam fuga. Henet exceatem PAGINAÇÃO José Mundundo seque cus, sum nis nam iu Qui te nullant FOTOGRAFIA Jay Garrido adis destiosse iusci re in prae voles REVISÃO Manuela Rodrigues dos Santos sant laborendae nihilib uscius sinusam PRODUÇÃO Executive Moçambique rehentius eos resti dolumqui dolorep PUBLICIDADE Ana Antunes (Gestora reprem vendipid que ea et eumque non Comercial - Moçambique) ana.antunes@ nonsent qui officiasi executive-mozambique.com; iona@iona. lorem ipsum Liquatis nienis doluptae pt/contacto@iona.pt (Portugal) velit et magnis enis necatin nam fuga. ADMINISTRAÇÃO, REDACÇÃO Henet exceatem seque cus, sum nis nam E PUBLICIDADE Executive Moçambique; iu Qui te nullant adis destiosse iusci re in Av. Salvador Allende, nº 1039, Bairro Polana prae voles sant laborendae nihilib uscius Cimento, Maputo – Moçambique; Tel.: sinusam rehentius eos resti dolumqui +258 21 485 652; Tlm.: +258 84 311 9150; dolorep reprem vendipid que ea et geral@executive-mozambique.com eumque non nonsent qui officiasi DELEGAÇÃO EM LISBOA Telheiras, Rua lorem ipsum Liquatis nienis doluptae Poeta Bocage, Nº 2 – 1º Escritório D • 1600velit et magnis enis necatin nam fuga. 233 Lisboa • Portugal; Tel. +351 21 381 3566; Henet exceatem seque cus, sum nis nam iona@iona.pt iu Qui te nullant adis destiosse iusci re in IMPRESSÃO E ACABAMENTO prae voles sant laborendae nihilib uscius Minerva Print - Maputo - Moçambique sinusam rehentius eos resti dolumqui Tiragem 4 500 exemplares dolorep reprem vendipid que ea et Número de Registo eumque non nonsent qui officiasi 01/GABINFO-DEPC/2018 lorem ipsum Liquatis nienis doluptae velit et magnis enis necatin nam fuga. Henet exceatem seque cus, sum nis nam iu Qui te nullant adis destiosse iusci re in prae voles sant laborendae nihilib uscius sinusam rehentius eos resti dolumqui dolorep reprem vendipid que ea et eumque non nonsent qui officiasi

assinatura digitalizada

Director da revista Economia & Mercado

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observação

Davos, Suíça 21 a 25 de Janeiro de 2020

As grandes questões do mundo em debate A 50ª reunião anual do Fórum Económico Mundial vai, uma vez mais, juntar líderes mundiais para discutir agendas globais, regionais e sectoriais para criar um mundo melhor. A abrir a década, há algumas questões globais que vão ter grande destaque na agenda: como enfrentar os desafios climáticos e ambientais, como transformar indústrias para alcançar modelos de negócios mais sustentáveis e inclusivos, como governar para que as tecnologias que impulsionam a Quarta Revolução Industrial beneficiem os negócios e a sociedade e, por fim, como adaptar as tendências demográficas, sociais e tecnológicas na reformulação da educação, emprego e empreendedorismo. fotografia D.R.

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RADAR Millennium Challenge Corporation apoia desenvolvimento social

Moçambique volta a beneficiar de fundos do Millenium Challenge Corporation para apoiar programas de desenvolvimento sectorial. A decisão foi anunciada na reunião trimestral do Conselho de Administração do Millennium Challenge Corporation (MCC), realizada em Washington, no passado mês de Dezembro. O valor a ser alocado ainda não foi revelado, mas no comunicado divulgado na sua página online, o MCC refere que o novo programa terá

ECONOMIA

Retoma. A agência de notação financeira Fitch voltou deixar boa nota sobre as perspectivas económicas de Moçambique. Depois de subir a classificação no rating a Fitch

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a duração de cinco anos e os investimentos serão direccionados para o crescimento económico. O MCC fornece doações a países em desenvolvimento que respondam a padrões rigorosos de boa governação, combate à corrupção e respeito aos direitos democráticos. Moçambique já beneficiou, em 2007, de pouco mais de 500 milhões de dólares do primeiro pacote do MCC, que financiaram projectos de abastecimento de água e saneamento. lança um olhar positivo sobre a redução da dívida pública. “Moçambique vai tentar um acordo sobre os valores em dívida por parte das empresas públicas, no seguimento da conclusão de uma reestruturação dos títulos de dívida soberana”, perspectivou a Fitch no início de Dezembro, estimando que, no presente ano, o rácio da dívida pública face ao PIB vai descer dos actuais 101% para 93,9%. Empresas. Os resultados líquidos das 100 maiores empresas de Moçambique caíram 84% de 2017 para 2018, altura em que o volume de negócios global destas empresas cres-

ceu na ordem dos 8,73%. Em termos de valor, o resultado líquido das empresas foi de 105,2 mil milhões de meticais em 2017 e, no ano passado, as 100 maiores firmas facturaram apenas 16, 6 mil milhões de meticais. Ou seja, houve uma redução de 88,5 mil milhões de meticais, de acordo com os resultados apresentados em Dezembro passado pela consultora KPMG e que aponta a crise de que o país se tenta refazer como a maior responsável pela quebra.

Fundo soberano. O príncipe herdeiro da Noruega, Haakon Magno, irá visitar Moçambique entre 12 e 13 de Fevereiro deste ano. De acordo com um comunicado da Presidência da República “a visita do monarca surge em resposta ao convite do Presidente Filipe Nyusi, aquando da sua visita ao Reino da Noruega, em Novembro de 2018”, e tem como principal objectivo o “reforço dos laços de amizade e de cooperação política, económica, social”. É preciso sublinhar que esta acontece numa altura em que o país procura amadurecer a ideia de criar um Fundo Soberano, matéria na qual a Noruega goza da melhor reputação a nível mundial. Desenvolvimento. O Banco Mundial desembolsou 150 milhões de dólares para financiar projectos de desenvolvimento no município de Maputo nos próximos cinco anos. As prioridades passam pela provisão de infra-estrutruras básicas e zonas susceptíveis a cheias.

Descentralização. O Programa da Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) disponibiliza 60 milhões de dólares americanos para financiar o programa de governação descentralizada ao nível provincial em todo o país. O Governo de Moçambique e o PNUD reuniram-se no passado mês de Dezembro para validar o projecto que será implementado já a partir de Janeiro corrente. Pobreza. Moçambique mantém-se no grupo dos dez países do mundo com mais baixo Índice de Desenvolvimento Humano. Apesar de alguns progressos alcançados nos últimos anos, o país ocupa a posição 180 de um universo de 189 países analisados. As conclusões do mais recente relatório das Nações Unidas, divulgado em Dezembro passado, indicam, desta forma, que as desigualdades socioeconómicas tendem a crescer no mundo. O relatório de 28 páginas coloca a Noruega como o melhor classificado a nível mundial.

ENERGIA

Gás. A petrolífera italiana Eni acaba de seleccionar um total de 19 jovens moçambicanos para estágio no projecto da Fábrica Flutuante de Gás Natural Liquefeito na Área 4 da bacia do Rovuma. Ao todo serão 800 moçambicanos a serem contratados pela Eni e seus parceiros no projecto da Fábrica Flutuante de www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2020


Gás Natural Liquefeito, mais conhecido por Coral Sul FLNG, na Área 4 da bacia do Rovuma, em Cabo Delgado. Os 19 agora recrutados não são o primeiro grupo. Antes, a petrolífera contratou 12 jovens que beneficiaram de estágio profissional na Coreia do Sul.

Programa. As primeiras obras do Programa Energia para Todos terão início ainda no presente trimestre. Trata-se da primeira fase de projectos que vai custar pouco mais de 300 milhões de dólares. A meta é fazer com que todos os moçambicanos tenham energia eléctrica nas suas residências até 2030. “Contamos nós que até ao primeiro trimestre do próximo ano já teremos obras no terreno e iremos começar com o processo de ligação de novos consumidores”, revelou Joaquim Ou-chim, director da Energia Social da Electricidade de Moçambique. Crédito. A Electricidade de Moçambique (EDM) conta com 80 milhões de dólares para obras de emergência nas cidades de Maputo e Pemba. O financiamento é do Banco de Desenvolvimento da África do Sul (DBSA) e teve a intermediação do Banco Nacional de Investimentos (BNI). As obras de emergência fazem parte de um conjunto mais abrangente que o PCA da EDM, Aly Sicola, criou para facilitar a procura pelo financiamento. Investimento. O Governo da Índia manifestou o interesse em ampliar os investimentos www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2020

em Moçambique e aproveitar as muitas oportunidades a serem criadas pela indústria do gás que está a arrancar no país. “Moçambique é um parceiro importante da Índia. E é por isso que pretendemos elevar as nossas relações apostando no desenvolvimento das TIC”, disse Rajeev Kumar, Alto-Comissário daquele país em Moçambique. Banca. O Banco de Moçambique revogou sete licenças de actividade, entre as quais cinco de casas de câmbio e duas de cooperativas de crédito, anunciou em Dezembro. Trata-se da cooperativa de crédito Mulheres de Nampula e UGC, que viram as suas licenças revogadas por renúncia de sócios e por degradação dos principais indicadores prudenciais, respectivamente. Por outro lado, o BM revogou também as licenças de actividade de cinco casas de câmbio, nomeadamente a Executivo Câmbios, Sara Moçambique, Al-Meca, Acácio Câmbios e Sarbaz Câmbios. Entre os motivos para a revogação das licenças, foram constatadas violações de leis e regulamentos que disciplinam a actividade das instituições de crédito e sociedades financeiras no país. O BM ordenou, ainda, a dissolução e liquidação das sociedades, que agora deverão designar fundos de garantias de depósitos para praticar todos os actos necessários à liquidação das instituições. Nacala. O Governo anunciou que a concessão do Porto de Nacala vai ser gerida pelos CFM. “A exploração comercial do serviço portuário no perímetro da Concessão Portuária do Porto de Nacala passa para a responsabilidade da Portos e Caminhos-de-ferro de Moçambique”, lê-se no comunicado emitido pelo Executivo. A concessão do sistema ferroviário é válida por um pe-

ríodo de 30 anos. A CDN – Corredor de Desenvolvimento do Norte, é uma sociedade anónima constituída e registada em Moçambique, cujo objectivo é a gestão, reabilitação e exploração comercial de forma integrada das infra-estruturas do Porto de Nacala e da rede ferroviária do norte de Moçambique. Integra-se no Projecto Corredor Nacala, que engloba a região norte de Moçambique, o Malaui e a Zâmbia. Interliga o Porto de Nacala com o sistema ferroviário do norte que permite a ligação ao Malaui. Biofund. O Conselho de Administração da BIOFUND aprovou, em Dezembro, um aumento do apoio às Áreas de Conservação e Protecção Ambiental. Esta cobertura vai representar um crescimento significativo nos incentivos à fiscalização daquelas áreas, protegidas sendo de destacar para este ano, o incremento dos fundos dedicados às Áreas de Conservação afectadas pelos ciclones Idai e Kenneth. Uma parte significativa deste financiamento provém do KFW, do Governo moçambicano através do Fundo Global do Ambiente (GEF) e da Conservation International.

Diamantes. A maior empresa do mundo de mineração, processamento e comercialização de diamantes, a russa AIrosa, acredita que Moçambique “é um país rico” nesta pedra preciosa, segundo o seu presidente da comissão executiva, Sergey Ivanov, que foi recebido em audiência pelo Presidente da República, Filipe Nyusi, no quadro

da cimeira Rússia-África. Para a pesquisa no terreno, a Rússia irá enviar uma equipa de geólogos que iniciam os trabalhos na fronteira com o Zimbabué, onde já operam. “Vamos focar-nos nas áreas de fronteira e os nossos geólogos vão discutir com o Ministério das Minas sobre possíveis outras áreas de cooperação. Temos a certeza de que o país pode vir a ser rico em diamantes”, disse Ivanov.

Empresas. Cerca de 184 empresas forneceram bens e serviços diversos ao Estado sem nenhum contrato assinado. A dívida é estimada em cerca de 5,7 biliões de meticais. Entre 2007 e 2017, o Estado moçambicano contraiu dívidas nometicais em três fases. Numa lista divulgada no final de Dezembro pelo Ministério da Economia e Finanças, consta que 184 empresas forneceram bens e serviços ao Estado sem nenhum contrato assinado. A longa lista de empresas inclui fornecedores de vários tipos de bens e de serviços, obras de construção civil e firmas de transportes. Mar. Em Dezembro, uma embarcação com 12 cidadãos estrangeiros foi apreendida na Baía de Pemba, numa operação entre as Forças Armadas e o Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC). A embarcação transportava cerca de uma tonelada e meia de heroína o que levou o Governo a “mostrar preocupação” com a criminalidade registada na costa nacional.

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OPINIÃO

Insolvência em Moçambique Fabrícia de Almeida Henriques & Salvador Buce Joconias • HRA Advogados o regime jurídico da Insolvência e Recuperação de Empre-

sários Comerciais é regido pelo Decreto-Lei n.º 1/2013, de 4 de Julho de 2013 (“Lei da Insolvência”), que privilegia, no contexto da liquidação de empresas com fracas perspectivas económicas, a maximização do património, através da venda do negócio no seu todo, por contraposição com a venda parcelar de activos. Nos casos em que o procedimento é desencadeado pelos credores, a Lei da Insolvência determina que o pedido apenas pode prosseguir caso o devedor, injustificadamente, não pague a obrigação líquida que conste de título executivo, seja alvo de processo executivo e não nomeie bens à penhora dentro do prazo legalmente previsto ou execute transacções ou negócios fraudulentos com o objectivo de evitar o pagamento aos seus credores. Já no caso do procedimento ser desencadeado por iniciativa do devedor, este deve invocar e provar que se encontra numa situação financeira difícil, que o impossibilita de desenvolver actividade comercial. A declaração de insolvência pelo tribunal determina o vencimento automático de todas as dívidas do devedor e implica a apreensão automática dos activos (aos credores garantidos não pode ser atribuída a posse de um activo garantido ou a possibilidade de “vender” esse activo separadamente para ser pago do produto da venda), a inabilitação do devedor para realizar quaisquer actividades comerciais, a perda do direito de administrar ou dispor dos seus bens e, bem assim, a ineficácia dos negócios jurídicos realizados imediatamente antes da declaração de insolvência. A actividade do devedor (tecnicamente, a massa insolvente) e a execução de acordos bilaterais passam a ser levadas a cabo pelo administrador da insolvência. Os negócios jurídicos ou instrumentos que sejam contrários à massa insolvente, cuja implementação prejudica os direitos dos credores, podem ser anulados. A liquidação da massa insolvente é realizada com o objectivo de maximizar o valor dos activos. A venda da empresa ou dos vários estabelecimentos comerciais ou unidades de produção que a compõem é privilegiada face à venda separada dos activos. Os credores são pagos com o produto da venda, pela seguinte

ordem: créditos laborais, créditos garantidos, créditos tributários, créditos ordinários, sanções contratuais e tributárias e créditos subordinados. No que respeita à recuperação judicial, apenas os devedores podem iniciar o procedimento respectivo junto do tribunal. A aceitação do pedido de recuperação judicial protege os activos do devedor contra credores, enquanto que um plano de recuperação é apresentado pelo devedor ao tribunal e aprovado pelos credores. Adicionalmente, a menos que os administradores do devedor tenham estado envolvidos em má gestão ou acções fraudulentas contra o devedor, continuarão a ter a possibilidade de conduzir os negócios da empresa. O plano de recuperação engloba, por exemplo, aumentos de capital, mudanças ao nível do controlo da empresa ou venda de activos, e pode ser contestado pelos credores no prazo de 30 dias após divulgação da lista de credores. Em caso de aceitação do pedido pelo tribunal, e não contestação por parte de credores, o plano é aprovado e os créditos reestruturados serão vinculativos para o devedor e os credores. Se, por outro lado, o plano for contestado, uma assembleia de credores será convocada para o analisar e só será aceite mediante aprovação dos credores. O procedimento de recuperação extrajudicial é um procedimento de mediação especial no qual os activos do devedor não estão protegidos das reclamações dos credores. Contudo, se o procedimento for aprovado e um acordo de recuperação que reestrutura os créditos do devedor for depositado em tribunal judicial, esse acordo vai constituir, de facto, um título executivo. O devedor pode negociar um plano de recuperação extrajudicial com os credores se o devedor não for insolvente ou, caso o seja, as suas responsabilidades tiverem sido declaradas extintas por uma decisão final, ou se não tiver, nos últimos dois anos, obtido aprovação para um procedimento de reestruturação judicial; e não tiver sido condenado ou não estiver a ser julgado, enquanto administrador ou accionista principal, por um delito criminal específico. O procedimento deve ser aprovado pelos credores que representam mais de 3/5 dos créditos da sua espécie, excepto se se tratar de créditos laborais ou tributários (que, por serem de interesse publico, não são afectados por tal plano extrajudicial).

O plano de recuperação engloba, por exemplo, aumentos de capital, mudanças ao nível do controlo da empresa ou venda de activos, e pode ser contestado pelos credores no prazo de 30 dias após divulgação da lista de credores.

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macro

PIB mundial está em recessão mas África é um oásis de crescimento Enquanto uma já bastante esperada recessão global ganha força, a maioria das economias africanas não se mostra afectada devido à grande diversidade económica em algumas regiões. Moçambique incluído a constatação surge plasmada no úl-

timo relatório do Institute of Chartered na Inglaterra e no País de Gales (ICAEW), “Economic Update: Africa Q4 2019” a que a E&M teve acesso e em que o órgão de contabilidade profissional fornece previsões de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para várias regiões do globo, com especial atenção na zona da África Oriental.

Cresimento Ao nível mundial, segundo o último relatório, e de acordo com as estimativas apresentadas, esta região de África

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6,3% A percentagem de crescimento do PIB que, de forma agregada, tornou a África Oriental na zona do continente que mais cresceu em 2019

experimentou o crescimento real mais rápido do PIB, de 6,3% em 2019, e a previsão aponta mesmo para que este aumento acelere nos próximos dois anos. Moçambique é, de resto, um bom exemplo desta realidade com níveis de crescimento económico expectáveis para os próximos dois anos a variar entre os 3,5% (em 2020) e os 5,5% (em 2021), de acordo com as várias entidades que fazem a previsão, como o Banco Mundial ou o FMI. Logo a seguir surge a zona francófona, a segunda região que mais cresce em África, e para a qual as previsões aponwww.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2020


tam para um crescimento do PIB a rondar os 4,9% no próximo ano. O relatório da ICAEW, produzido em parceria com a previsão da Oxford Economics, aponta ainda um outro dado curioso: África irá, invevitavelmente, tornar-se o lar de metade das dez economias de crescimento mais rápido do planeta nos próximos cinco anos. O que só pode ser um bom sinal. Mundo abranda, África acelera. Será? Se o relatório conclui que mesmo apesar de haver um cenário sombrio criado pelo crescimento lento nas ‘economias locomotiva’ do mundo, como o são os Estados Unidos, a China e a Europa (zona Euro), o continente africano passará a ser o lugar de muitas e boas histórias económicas positivas. Ainda que as duas maiores economias do continente, Nigéria e África do Sul, continuem a lutar diariamente com cenários económicos complexos e perturbadores, nota-se a ascensão de novos players económicos como o Quénia ou a Etiópia, impulsionada pelo Investimento Directo Estrangeiro (IDE) essencial para melhorar a situação externa do país, e com um plano claro para atrair investidores através da privatização parcial da Ethio Telecom paraestatal, da concessão de duas outras licenças de telecomunicações móveis (programadas para Março de 2020). Estando ainda prestes abrir uma bolsa doméstica em 2020, existem, hoje, grandes empresas internacionais de telecomunicações como a MTN, a Vodacom, a Orange e a vietnamita Viettel, que estão a entrar no lucrativo mercado móvel, sempre um barómetro do pulso económico de qualquer sociedade, e um indicador relevante que nos diz algo sobre o desenvolvimento social de um qualquer mercado. Falando durante o lançamento do último relatório, o director regional da ICAEW para o Médio Oriente, Ásia e África, Michael Armstrong, observa que “a força das economias diversificadas no Leste do continente desempenha um papel importante, amortecendo os choques” de uma, há algum tempo esperada, desaceleração global do crescimento económico. “O desempenho assinalável do crescimento de África num contexto de recuos económicos das grandes economias mundiais é o palco ideal para continuar a atrair o interesse dos grandes investidores de todo o mundo. Esse interesse mantém as economias africanas numa trajectória de crescimento com a entrawww.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2020

“O desempenho assinalável do crescimento de África num contexto de recuos económicos das grandes economias mundiais é o palco ideal para continuar a atrair o interesse de grandes investidores de todo o mundo”

da de dinheiro novo nas respectivas economias, o que só pode ser uma coisa boa quando analisada em comparação com as perspectivas globais, que mostram um enfraquecimento do crescimento do PIB mundial”, diz Armstrong. “Espera-se, desta forma, que o crescimento económico da África Oriental continue robusto, diminuindo ligeiramente de 6,3% este ano para 6,1% em 2020.” O porquê explica-o pelo facto de “a maioria das economias da região continuar a beneficiar-se dos preços mais baixos das commodities internacionais, enquanto o crescimento do consumo predominante na região isola, de certa forma, essas economias da desaceleração do comércio global”, releva. O crescimento económico na zona franca da SADC também deve, segundo o estudo, permanecer forte, passando de 4,7% em 2019 para 4,9% no próximo ano, algo que é fundamentado pela “exploração efectiva dos recursos minerais e agrícolas da Costa do Marfim, acompanhada por um ambicioso plano de desenvolvimento do Governo, enquanto a economia relativamente diversificada do Senegal é apoiada pela estratégia de desenvolvimento do Plan Senegal Emergent”, assinala Armstrong. Olhando mais a Norte no continente, o desempenho económico permanece volátil devido à instabilidade na Líbia, com o crescimento regional a subir apenas 2,8% este ano para 4,5% em 2020. Já no Egipto, que é, desde há anos, a âncora económica da região, os ajustes de políticas favoráveis à economia estão a traduzir-se em melhores fundamentos macroeconómicos com resultados positivos nas perspectivas de crescimento. Locomotivas desaceleram Foram, durante anos, as economias propulsoras do crescimento no continente, mas a baixa nos preços do petróleo com reflexo directo na estabilidade cambial (nos casos de Angola e Nigéria) e os problemas sociais (África do Sul) trouxeram-nas à dura realidade da crise. E com impactos que vão além das suas próprias economias. Assim, e embora se vá notar um aumento no próximo ano, o PIB de várias regiões do continente vai permanecer relativamente moderado, em grande parte devido, precisamente fracos desempenhos na Nigéria, Angola e África do Sul. Espera-se que o crescimento na África Ocidental e Central aumente de 3,4% em 2019 para 3,7% em 2020, em grande parte retido por um de-

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Macro

África do Sul, a par de Angola e Nigéria, é um exemplo de como as economias locomotiva de África não souberam lidar com o crescimento económico

sempenho económico moderado da Nigéria devido a algumas decisões políticas erráticas e ineficazes. Na África Austral, espera-se um crescimento de 2,2% em 2020, em comparação com uma expansão de 1,3% em 2019, algo que se explica por uma “estagnação” da economia sul-africana, também devido à incerteza política e às restrições de energia eléctrica que tiveram um impacto negativo na indústria e dissuadiram os investimentos em geral. Uma nova época de liberalização? O desempenho do crescimento da África continua a atrair o interesse dos investidores, em larga medida sob a forma de pedidos para privatizar algumas das numerosas empresas estatais do continente, não apenas para beneficiar investidores privados, mas também para melhorar o desempenho dessas instituições em benefício dos países para os quais se destinam servir. Se, na época da independência, havia uma predisposição ideológica para um papel central do Governo no alívio da pobreza, nas

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O desempenho do crescimento da África continua a atrair o interesse dos investidores, em larga medida, sob a forma de pedidos para privatizar algumas das numerosas empresas estatais africanas

décadas seguintes as privatizações proliferaram por todo o continente. A Costa do Marfim foi uma das primeiras a propor privatizações na década de 1960. Mas na década de 1990, essa tendência disseminou-se, muito devido à pressão do FMI e do Banco Mundial. Até a África do Sul, a nação mais industrializada do continente, continua sobrecarregada com uma miscelânea de empresas estatais de baixo desempenho em vários sectores, sendo a mais conhecida a concessionária de energia Eskom, com os problemas conhecidos de todos. Em Moçambique, a tendência deverá seguir a do continente, havendo espaço para que os privados comecem a entrar em muitas das estatais, aliviando o seu peso nas contas do Estado e gerando receita e competitividade económica, um tema “fulcral” quando se pensa em desenvolvimento económico a médio e longo prazo. texto Pedro Cativelos fotografia D.R.

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Números em conta Mulheres africanas tomam o seu lugar no mundo dos negócios apresentada no final de Dezembro, a terceira edição do Mastercard Index of Women Entrepreneurs (Índice Mastercard de Mulheres Empresárias) analisa o progresso e as conquistas de mulheres empreendedoras em 58 sociedades em todo o globo. A grande surpresa surge quando se revelam três países africanos como líderes globais em termos de empresas detidas por mulheres. Uganda, Gana e Botsuana são classificados como os três principais mercados com as maiores percentagens de empresas pertencentes a mulheres. Os resultados reafirmaram que estas são capazes de “fazer novos avanços nos negócios” e têm taxas mais elevadas de participação da força de trabalho em mercados abertos e vibrantes, mas, nestes

casos, o apoio às Pequenas e Médias Empresas (PME) e a facilidade de fazer negócios continuam abaixo do ideal. Para Beatrice Cornacchia, directora de marketing e comunicação da Mastercard para o Médio Oriente e África, “as mulheres empresárias continuam a ter um impacto directo no crescimento económico e no bem-estar da sociedade. Na região da África Subsaariana, em particular, continuam a demonstrar um compromisso inabalável em apoiar as suas comunidades mas, para libertar todo o potencial do continente africano, precisamos de continuar a promover um ecossistema de empreendedorismo para as mulheres que as ajude a superar as barreiras existentes, quer sejam culturais, legais, sociais ou tradicionais”.

80%

45%

As conclusões também destacaram a capacidade das mulheres de prosperar como donas de empresas e na busca de oportunidades. Segundo o Banco Mundial, 45% das economias em todo o mundo têm leis que restringem a decisão das mulheres de ingressar e permanecer na força de trabalho.

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Representando quase 80% da força de trabalho feminina do mundo, o relatório destaca como os 58 mercados diferem ao nível dos resultados do avanço das mulheres, dos activos de conhecimento e acesso financeiro e apoio aos empreendedores.

Angola

Foi incluída pela primeira vez no índice e, de acordo com o relatório, demonstra características únicas na posse de negócios por mulheres, com taxas de actividade empresarial classificadas entre o top dez. São no entanto apontados vários obstáculos no mercado angolano, como o acesso ao financiamento e a falta de apoios ao empreendedorismo feminino.

Nigéria

Teve a segunda maior proporção de mulheres em funções profissionais técnicas entre os 58 mercados pesquisados, e uma percentagem excepcionalmente elevada de mulheres empreendedoras. Especificamente, quase quatro em cada dez mulheres em idade activa estão envolvidas em actividades empresariais em estágio inicial (40,7% em comparação com 39% para os homens).

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Uganda, Gana eApesar Botsuana do fraco ambiente de negócios em que estes mercados estão mal classificados no Mastercard Index of Women Entrepreneurs 2019, devido a factores inibidores, como baixa qualidade da governança, reduzida inclusão financeira das mulheres, fraco apoio às PME e menos oportunidades para elas ascenderem como líderes, ainda assim, nestes mercados, quatro em cada dez donos de negócio próprio são mulheres.

Mulheres assumem a dianteira Surpreendentemente, ou nem por isso, as mulheres africanas ocupam os três lugares do pódio dos países que mais mulheres têm com negócio próprio no mundo. O sexo feminino está a alcançar a paridade de género com os homens em termos de actividade empreendedora em vários mercados, incluindo Gana, Nigéria e Uganda. Enquanto isso, as melhorias em Angola e Malaui também ajudaram a diminuir a disparidade de género. Percentagem do total de negócios uganda

38,2 gana

37,9 bostsuana

36 eua

35,1 nova zelândia

31,8 rússia

31,2 malaui

31,1 Austrália 30,9 angola

30,3 Portugal 30,2 FONTE Mastercard Index of Women Entrepreneurs 2019

Q&A: O que é o Index Mastercard?

África do Sul É uma das nações com maior

pontuação quando se trata de mulheres com acesso igual ao ensino superior, e também pontua mais que as suas contrapartes africanas em relação à inclusão financeira (86%), em comparação com os homens.

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O Mastercard Index of Women Entrepreneurs 2019 é o terceiro relatório que mostra o progresso e a conquista de mulheres empresárias em 58 sociedades em todo o mundo. Com Angola como o mais novo mercado adicionado à região do Médio Oriente e África, o Índice amplia a sua tentativa de rastrear os factores que sustentam a diferença de género entre os empresários.

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OPINIÃO

2020 e a (r)evolução de talento 4.0, a Humanização do futuro Andreia Narigão • Managing Partner da Jason Moçambique era uma vez o passado do palco empresarial. E 2020 é mote

ao futuro, um brinde à Revolução 4.0 e o compromisso na luta pela Guerra do Talento. “This is a Talent War!”, ouvimos ecoar dos últimos pisos das grandes, médias e pequenas empresas, por Moçambique e em vários outros mercados no Mundo. A preocupação pela atracção das pessoas certas, pela sua retenção e pelo desenvolvimento é comum, mas a forma como poderemos olhar e tentar responder a estas mesmas preocupações pressupõe lentes culturais e geracionais díspares. Foquemos a nossa lente em Moçambique: o que antevemos nós para o futuro? Não que tenhamos descoberto uma fórmula mágica e facto é que “one size does not fit all”, mas sabemos que hoje ter uma “bola de cristal”, desenvolvendo a nossa capacidade de inferir sobre o futuro, é o que vai fazer de nós, líderes e gestores empresariais, soldados efectivamente preparados para lutar num contexto de “Guerra pelo Talento” e, mais do que isso, sermos nós e a nossa equipa os verdadeiros protagonistas do nosso próprio futuro, com menor exposição ao factor “surpresa”, mas certos de que esta será uma variável presente e à qual iremos saber responder de mente e coração abertos. É fundamental que os Gestores 4.0 sejam verdadeiros, claros e precisos nas suas prioridades de gestão e transformem a sua visão em “must win battles”. Na nossa antevisão ao ano de 2020, seleccionámos #4 orientações-chave que consideramos ser críticas e que deverão fazer parte activa da agenda do Gestor 4.0 para pôr em prática ou reforçar a partir de hoje, porque o futuro está a acontecer agora. #1 Antes de entrar em campo, definir um propósito: o seu! Aceite que gestores e empresas sem propósito será o mesmo que músicas sem melodia. E existem, infelizmente, em demasia! Quando não existe melodia, rapidamente queremos procurar a música que sintoniza com a nossa alma e com o nosso coração. Assim são as organizações com verdadeiro propósito, que existem para fazer acontecer algo muito forte em que acreditam e que vai transformar a vida das pessoas que se

comprometem a servir. Se ainda não descobriu o seu propósito e o da sua empresa, retroceda o próximo movimento no campo de batalha e reveja primeiro - e bem - a sua estratégia, depois de definir/reforçar/alinhar o seu propósito e o da sua empresa. Seja um gestor audaz e aberto: comunique o seu sonho e deixa a sua equipa sonhar! Depois desta etapa, faça por comunicar este propósito dentro e fora da organização de forma consistente e criativa e aposte no “walk the talk”. Faça exactamente o que diz querer fazer pela sua Comunidade! Os seus líderes são a linha da frente de batalha e serão, eles mesmos que, já defendia Madiba, “definirão o calibre da sua organização” e a força do seu propósito. Escolha-os de forma cirúrgica e mantenha-os emocionalmente conectados à sua empresa. Eles tratarão de fazer o mesmo pelas suas respectivas equipas e pelos seus interlocutores externos, sejam eles Clientes, Fornecedores ou Parceiros de outra natureza. #2 Atrair soldados imperfeitos. Os desafios são imensos num mercado a efervescer essencialmente em potencial. O Gestor 4.0 deve, cada vez mais, preocupar-se em focar a atracção de novos quadros com verdadeiro fit à organização, pessoas com as características comportamentais mais adequadas à cultura da empresa, passando esta a ser um dos veículos a atingir o(s) seu(s) sonho(s). Não contrate “clichés” nem candidatos perfeitos: não existe perfeição e o que é bom hoje, amanhã será diferente. Contrate sim a pessoa que melhor vai servir a missão em causa e tenha em atenção o panorama do nosso mercado de trabalho, em evolução e com uma curva de potencial acentuada. Assuma que o seu desafio enquanto Gestor 4.0 é ser criativo na contratação dos seus futuros quadros, é sair da caixa cinzenta do recrutamento distanciado e apostar em lentes que permitam aferir o comportamento das pessoas e testar as suas emoções em contextos próximos da realidade, bem como o seu potencial: “o que é que esta pessoa vai ser capaz de fazer daqui a dois ou três anos e qual será o meu papel enquanto seu líder?” Aproveite para fazer do seu recrutamento uma oportunidade para: a) reforçar o seu propósito e a sua proposta de valor ao

Assuma que o seu desafio enquanto Gestor 4.0 é ser criativo na contratação dos seus futuros quadros, é sair da caixa cinzenta do recrutamento

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A estrutura das empresas 4.0 terá de ser necessariamente mais leve, com processos fluidos de partilha de informação

mercado, b) criar verdadeiros promotores da sua marca ao longo desta experiência, e c) renovar os seus votos enquanto “líder coach” dos seus futuros quadros! #3 Inspirar e desenvolver novos generais. A sucessão é um tema fulcral da agenda do Gestor 4.0, nomeadamente num palco onde há cada vez mais jovens líderes, da geração Y e sabendo que a geração Z já está a entrar em força no nosso mercado de trabalho. Preparar a sucessão é a chave e o segredo não está em criar seguidores, mas sim novos líderes. Pessoas em quem depositaremos a força do próximo testemunho, dando hoje as ferramentas, formação e informação necessárias para que sejam verdadeiros líderes e desafiadores do futuro. Sabemos que para a maioria da Geração X este é um grande desafio, mas sugerimos que, se for este o seu caso, pare de lutar contra as evidências e foque a sua energia no que pode trazer frutos ao seu negócio e ao legado que pretende deixar na sua empresa. Se quer ser um líder 4.0, ou seja, se acredita que vai vencer esta batalha, assuma que o Mundo mudou e a sua actuação terá necessariamente de mudar e acolher novos paradigmas. Seja parte do futuro e lidere esta mudança. Ela já aí está e veio para ficar. #4 Fazer o pino. Veja a sua empresa também de baixo para cima. Se ainda acha que as transformações devem ser top-down, desiluda-se. Cada vez mais as transformações (mesmo que a liderança de topo não o promova!) acontecem de baixo para cima devido à chegada das novas gerações, aos processos de comunicação cada vez mais informais e menos www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2020

hierarquizados. A estrutura das empresas 4.0 terá de ser necessariamente mais leve, com processos fluidos de partilha de informação e de monitorização de objectivos em tempo real, numa era onde cada vez mais as empresas, nomeadamente as que actuam na área de serviços, reforçam práticas de “working from anywhere, anytime”. Isto implica uma forte cultura de ownership transversal a todos os colaboradores, independentemente do seu poder hierárquico, bem como uma verdadeira proximidade entre a liderança e os seus colaboradores. Esta proximidade pode ser traduzida tanto nos pormenores do dia-a-dia, como cumprimentar, perguntar “Como te sentes hoje?”, verbalizar “Parabéns” e/ou “Obrigado/a”, como nas relações que os Gestores 4.0 estarão dispostos a criar e nos momentos de equipa que estes definem como sagrados, e como activadores dos conectores emocionais essenciais a criar e a manter o que de mais importante há em qualquer relação: a confiança. Estaremos preparados? No futuro, que é hoje, a experiência humana é a principal arma na “Guerra pelo Talento”. E é por isso que acreditamos que a (r)Evolução começa em nós mesmos: desde as mais pequenas às grandes coisas, definindo que “must win battles” derivam da nossa estratégia, totalmente centrada no propósito, nas pessoas e no estímulo às suas emoções. Comece pelas coisas mais pequenas, mas comece! E juntos venceremos as nossas pequenas grandes batalhas desta (r)Evolução!

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Nação

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Rubis de Montepuez

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Os quilates que estão a mudar a economia O brilho do solo no distrito de Montepuez veio trazer uma nova luz a uma região onde os efeitos da exploração de pedras preciosas, numa das maiores reservas de rubis descobertas no mundo, começa a fazer-se sentir. Embora a sua exploração tenha iniciado em 2014, o seu potencial só começou a fazer-se sentir nestes últimos dois anos, graças ao fim da mineração artesanal que havia tomado conta do distrito. E o peso dos quilates já se sente na economia quando, na primeira metade da década, todos os sinais apontavam num

só sentido, e nos contavam que, num futuro breve, todo o crescimento da economia nacional estaria dependente dos mega-projectos, sobretudo na exploração do gás natural, na bacia do Rovuma, bem como do carvão mineral de Moatize, eis que surgia uma boa notícia. A descoberta de um grande depósito de rubis, no distrito de Montepuez, veio fundamentar a ideia de que Moçambique é um país abençoado em recursos naturais. Faltavam as estratégias funcionais para tirar o maior proveito desses recursos, de forma a elevar a economia nacional que surgiriam anos mais tarde.

Moçambique no mapa Quando vemos Mila Kunis, uma das jovens e mais famosas estrelas do cinema, ou folheamos uma revista de moda e nos deparamos com obras-primas da joalharia como os valiosos ovos Faberwww.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2020

33 600 hectares O depósito de rubis de Montepuez está localizado no nordeste de Moçambique, na província de Cabo Delgado. Cobrindo aproximadamente 33 600 hectares, acreditase ser o mais importante depósito de rubi descoberto recentemente no mundo

gé, incrustados de pedras preciosas, Moçambique não surge nem ao fundo do nosso pensamento. De forma errada. Porque a verdade, é que o mais certo é que, quando uma mega estrela de cinema surge evento mediático adornada com jóias de rubi, estes sejam provenientes daqui mesmo, do Norte de Moçambique. Acontece o mesmo com as criações da Fabérgé, as mais famosas e caras peças de joalharia do mundo que, desde há anos a esta parte, apenas utilizam os rubis de Montepuez, em Cabo Delgado. A explicação é simples: a mina de onde eles provêm, foi adquirida em 2011 pela maior empresa do mundo de pedras preciosas, a britânica Gemfields, que contratou recentemente a estrela de Hollywood para ser o rosto das suas pedras, e que desde 2012 detém também a maioria do capital da Fabergé, a mais famosa joalharia do mundo. Não o fez por acaso. O rubi é uma pedra preciosa rara e muito valiosa. Cientificamente chamado

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Nação

Rubis de Montepuez

Receita a crescer De 2017 até cá as receitas da Ruby Mining têm passado os 100 milhões de dólares. De forma agregada, chega aos 584,1 milhões de dólares Em milhões de dólares

127 109,8 76,8

74,2

74,7

2014

2015

2016

2017

2018 FONTE MRM

Quem domina... a mina A Montepuez Ruby Mining Limitada é uma joint venture que recebeu uma licença de mineração e exploração de 25 anos do Governo de Moçambique em Novembro de 2011 válida até novembro de 2036 Mwiriti Limitada

25%

75%

Gemfields

Cientificamente chamado de corindo de coloração vermelha, o rubi “existe em Moçambique desde sempre”

de corindo de coloração vermelha, o rubi “existe em Moçambique desde sempre”, explica João Marques, da Gondwana, uma empresa de consultoria geológica e mineira, a operar no país desde 2001. “Já se sabia da existência de corindos desde o início da década de 1960 do século passado. Acredito que os primeiros com qualidade gemológica, mas de dimensões pequenas, devem ser os que foram encontrados nos concentrados das explorações, na região de Cuamba, no Niassa”. Receitas aumentam É lá onde, anualmente, se realizam leilões de pedras preciosas que ge-

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“Já se sabia da existência de corindos desde o início da década de 1960 do século passado. Acredito que os primeiros com qualidade gemológica, mas de dimensões pequenas, devem ser os que foram encontrados nos concentrados das explorações, na região de Cuamba, no Niassa”

ram milhares de milhões de dólares. Enquanto a imprensa e a esperança da prosperidade estão tão concentradas nos MTPA (Milhões de Toneladas Por Ano) de carvão e, mais recentemente, nos Tfc (Triliões de Pés Cúbicos) do gás, os rubis no distrito de Montepuez, sobretudo na localidade de Namanhumbir, geram cada vez maiores receitas para a economia nacional. Mas o seu contributo só começou a ter destaque nos últimos dois anos, visto que, nos primeiros tempos da concessão, a mina foi alvo de um grande saque dos garimpeiros ilegais provindos de países vizinhos e até longínquos de Moçambique. www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2020


Na verdade, o garimpo ilegal dos rubis em Montepuez sufocou o distrito de tal modo que as comunidades acabaram a não ter paz nem sossego devido à onda de criminalidade perpetrada pelos garimpeiros. E na mina, era a lei do mais forte que predominava, o que resultou em inúmeros relatos de mortes anunciadas diariamente, em resultado dos conflitos que envolviam diferentes grupos rivais de mineiros artesanais que se autoproclamavam detentores de território, a fim de adquirir e controlar os espaços de exploração do rubi. Entretanto, com o desmantelamento das redes de garimpo www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2020

ilegal, desde 2017 que os rubis de Montepuez começam a provar o seu real potencial na arrecadação das receitas para o Estado. E, na região, voltou o clima de sossego e segurança. Uma indústria a ter em conta Com ele, chegou uma constatação que já não deixa dúvidas: os rubis podem ser, de facto, uma verdadeira indústria criadora de riqueza para a economia do país, tanto na geração de mais-valias como na de criação de cada vez mais postos de trabalho nacionais. Se antes do desmantelamento da mineração ilegal a produção anual da

Montepuez Ruby Mining (MRM), a única entidade certificada e responsável pela exploração daquela reserva (detida em 75% pela multinacional britânica de pedras preciosas Gemfields e os restantes 25% pelo grupo moçambicano Mwiriti), andava na casa dos 74 milhões de dólares por ano, em 2014 e 2015, nos dois últimos anos ultrapassou a fasquia dos 100 milhões de dólares, tendo chegado, no ano passado, aos 127 milhões. Uma prova concreta dos efeitos que o trabalho realizado pela Polícia em conjugação com a MRM, para acabar com a presença dos garimpeiros ilegais, teve, de facto na produção global da mineradora. Antes disso a mineração artesanal atingia níveis incontroláveis e o grupo MRM queixava-se da invasão do espaço de concessão, apesar de toda a segurança em redor dos 33 mil hectares da reserva. “Em termos de segurança muita coisa melhorou, de facto. Antes era frequente registar situações de garimpeiros ilegais em números impressionantes. Chegavam a ser mais de cinco mil homens agrupados num único ponto. Felizmente esse fenómeno já não acontece actualmente”, considera o presidente do Conselho de Administração da Montepuez Ruby Mining, Samora Machel Jr. À E&M, o PCA da MRM explica mesmo que, só no primeiro ano após o desmantelamento do garimpo, a empresa passou de 30,4 milhões de dólares registados num leilão (2016) para 50,8 milhões de dólares em receitas até Junho de 2017. Indo ao detalhe, a direcção da MRM esclarece que “em 2014, período no qual a mineração artesanal era extrema, amealhou uma produção anual de 76,8 milhões de dólares, fruto de dois leilões onde conseguiu-se um encaixe de 33,5 e 43,3 milhões respectivamente, em seguida, já em 2015, registou-se uma receita fixada em 74,2 milhões, e no ano seguinte arrecadou-se 74,7 milhões. Mais tarde, já em 2017, período durante o qual foi quase erradicado o garimpo ilegal, as receitas anuais fixaram-se em 109,8 milhões de dólares”. Os dados revelados pelo grupo MRM revelam também que, em 2018, os leilões amealharam 127 milhões de dólares. E já este ano, só no primeiro semestre, a empresa já encaixara cerca de 50 milhões, sem contar com o leilão de Dezembro, o 13º leilão de rubis extraídos em Moçambique que a Montepuez Ruby Mining efectua desde 2014, e que proporcionou uma receita de 71,5 milhões de dólares,

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Nação

Rubis de Montepuez

Montepuez tem números valiosos

10 000 000 000 de dólares Quanto a indústria das pedras preciosas movimenta anualmente em todo o mundo

2 700 000 000 de dólares O income previsto pela MRM, em Montepuez, até ao fim da concessão

432 000 000

de quilates Estimativa das reservas de rubis de Montepuez, o que a coloca como a maior do mundo

30 000 000

de dólares Tem 25 quilates o rubi mais caro do mundo, vendido em 2015 pela Sotheby´s na Suíça

1 200 000

dólares por quilate Valor por quilate de Pigeon Blood, 10 vezes mais que o preço das esmeraldas da Gemfields

1 100 000

milhões de dólares foram investidos na comunidade através de projectos de responsabilidade social na área da agricultura, saúde e educação

1 110

funcionários 95% dos quais são moçambicanos

600

membros da comunidade Estão a ser formados na nova vila de Nthoro, alvo de um reassentamento

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MRM enfrentou acusações de maus tratos aos garimpeiros ilegais mas está a tentar mudar a sua imagem

informou a empresa em comunicado. “Dos 104 lotes disponíveis, 91 foram vendidos” (87,5%)”. O leilão teve lugar entre 10 e 14 de Dezembro em Singapura, num evento que contou com a presença de perto de 53 empresas. De forma agregada, os 13 leilões já realizados deram origem a uma receita acumulada de 584,1 milhões de dólares contando já com os números finais de 2019, que provam que o distrito de Montepuez dispõe de uma das maiores reservas de rubis em exploração existentes até aqui em todo o mundo. Retorno para a região Com a dimensão da receita que esta indústria começa a gerar vão-se dissipadando todas as dúvidas e é cada vez certo que a exploração dos rubis está a trazer uma nova dinâmica sócioeconómica a toda a província. Mas, no distrito onde a reserva se encontra, o grande desafio continua a ser como lidar com a mineração ilegal. Sobre este aspecto, Samora Machel Jr. tem um posicionamento claro. “Não é do interesse da MRM combater a mineração artesanal, pois a actividade pode continuar a existir. No entanto, ela deve acontecer de forma ordeira e sem invadir a concessão da MRM”, refere, acrescentando, contudo, que “a mineração artesanal organizada até pode ser benéfica. No entanto, observamos vários casos em que é prejudicial: não fornece

saúde e segurança adequadas, não protege o meio ambiente, não paga impostos e não fornece projectos comunitários”, defende Samora Machel Jr. A fama tomou conta do distrito A descoberta dos rubis no distrito de Montepuez, localizado a Sul da província de Cabo Delgado, representou um boom para as comunidades locais, mas não só, Também o foi para o mundo, visto que muitas pessoas dos vários países vizinhos e até longínquos acorreram àquele lugar, atraídos pela actividade de exploração das pedras preciosas. De lá para cá todos os caminhos foram dar a Montepuez, a terra onde abundam, no chão, algumas das pedras preciosas mais valiosas no mercado de joalharia. Aliás, o distrito de Montepuez, concretamente a localidade de Namanhumbir, não conhece outro cenário senão receber visitas de pessoas de diferentes nacionalidades que pretendem estar a par da exploração dos rubis. Segundo apontam algumas fontes locais, foi graças a um caçador que descobriu toda esta riqueza, quase por acaso. De acordo com o que nos contam, o referido caçador terá apanhado uma pedra colorida durante as suas incursões de caça, que posteriormente foi comercializar no mercado informal. A partir daí todos os caminhos começaram a tomar um www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2020



Nação

Rubis de Montepuez

Acções de responsabilidade social Das várias acções desenvolvidas pelo grupo MRM em torno de responsabilidade social, durante os sete anos de operação a empresa anuncia já ter capacitado mais de dois mil cidadãos locais, tendo desembolsado cerca de 3 milhões de dólares em projectos que beneficiam directamente a comunidade e a conservação da biodiversidade

Na saúde Destaca-se a aquisição de duas clínicas móveis com capacidade para atender 80 mil pacientes das 14 comunidades envolventes da mina.

Na educação A construção e reabilitação de quatro escolas primárias para atender 2 mil alunos, bem como de residências para os docentes e de um centro de formação profissional.

Na agricultura Regista-se o apoio a cerca de 400 agricultores, nomeadamente através do fornecimento de insumos.

Infra-estruturas e ambiente Foi finalizada a construção e reabilitação de 16 sistemas de abastecimento de água, bem como a prestação de apoio às áreas de conservação do Parque das Quirimbas e da Reserva do Niassa. Rubis já renderam 584,1 milhões de dólares nos 13 leilões efectuados desde 2011

sentido único: o distrito de Montepuez em busca do “El dourado”. Neste caso, avermelhado, ou não falássemos de rubis. A fama, chegaria mais tarde, quando um rubi com mais de 40,23 quilates, foi descoberto em estado bruto na mina de Montepuez. Devido à sua pureza e dimensão, acabou por ser leiloado por valores não revelados, na Tailândia. Mas, se sabemos que o mais caro rubi vendido até hoje, com 25,59 quilates, valeu 30 milhões de dólares, este, com um grau de pureza semelhante, poderia chegar quase ao dobro desse valor.

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127 milhões de dólares É o valor encaixado pela Montepuez no ano passado

“Como africano de nascimento e de coração, estou extremamente orgulhoso por aquele que é, provavelmente, um dos melhores rubis descobertos ter sido desenterrado em solo africano”, declarou, então, o sul-africano Ian Harebottle, director executivo da Gemfields. “A pedra preciosa veio definir um novo marco para a qualidade dos rubis africanos e torna a mina de Montepuez, em Moçambique, como a reserva em desenvolvimento mais significativa do mundo”, refere, em comunicado da empresa divulgado em Londres. www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2020


queixa face aos “sérios abusos dos direitos humanos em torno da mina da MRM, na aldeia de Namucho-Ntoro, Namanhumbir, na província de Cabo Delgado”. As 273 queixas incluíam 18 pessoas, alegadamente mortas a tiro pela segurança privada da MRN e pela polícia moçambicana, espancadas até à morte ou queimadas vivas”. A empresa negou as acusações, mas decidiu compensar as comunidades e aumentar, ainda mais, o seu papel social na região. Contribuição dispara Claro que, com a receita a crescer, os impostos pagos ao Estado também o fizeram, sendo mensurável o seu contributo para a economia nacional e até da província. O relatório e contas da Direcção Provincial da Economia e Finanças de Cabo Delgado, referente a 2018, indica que a exploração dos rubis em Montepuez contribuiu em 23% nos impostos da província, em contas simples, perto de 25 milhões de dólares. Mais do que isso, Samora Machel Jr. também repisou recentemente à equipa da E&M que visitou a mina que, nos últimos três anos, o grupo MRM “foi o que mais contribuiu nos impostos ao nível da província de Cabo Delgado. Só para ter uma ideia, até à data já pagámos 121,3 milhões de dólares, criámos 1 383 empregos, entre directos e indirectos, dos quais 95% correspondem a mão-de-obra moçambicana”, avança. Samora Machel Jr. considera este como “um claro sinal do comprometimento da firma nas acções de desenvolvimento económico local e da província”, assinalou.

Foi desta forma que Montepuez entrou (e que entrada) no mundo das pedras preciosas. Claro que toda esta riqueza de que se fala teria de ter algum impacto na região. Nem todo foi positivo, longe disso. As mudanças sociais estão bem à vista e, mesmo com os esforços da empresa ao nível da sua política de responsabilidade social (ver caixa da página 26), há muito por fazer. Ainda no início do ano passado, a Gemfields aceitou pagar uma indemnização de 8,3 milhões de dólares (7,25 milhões de euwww.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2020

ros) num acordo extrajudicial relativo a 273 queixas de mortes, espancamentos e outros abusos aos direitos humanos numa das suas minas de rubis no Norte de Moçambique. O gigante mineiro aceitou ainda criar um painel que “determinará a atribuição de compensações financeiras por queixas ou reclamações que venham a ser feitas no futuro”, anunciou a empresa. O caso chegou ao Supremo Tribunal de Londres em Abril de 2018, por acção da firma de advogados defensores dos Direitos Humanos Leigh Day, que interpôs

Muito por explorar O grupo MRM faz saber que, dos 15 postos de exploração existentes nos três blocos na mina, apenas quatro estão em operação. Merinho Pedro, geólogo da Ruby Mining, explica que essa realidade “não motiva preocupação” por parte da empresa, visto que se relaciona com questões estratégicas do mercado. “A mina está neste momento dividida em três blocos (o bloco de Maning Nice, de Blaceite e de Muguloto). Dos 15 poços que a MRM detém nos 33 mil hectares de concessão, apenas quatro estão a ser explorados porque são aqueles que fornecem o que o mercado precisa, estimando-se que a mina tenha ainda 16 anos de vida útil, tirando partido de algumas das maiores jazidas de rubis do mundo”, explica o geólogo. Segundo Merinho Pedro, a exploração da

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Nação

Rubis de Montepuez

Q&A O rubi O que é o rubi?

Uma variedade do corinto que é o mineral mais duro a seguir ao diamante. É geologicamente idêntico à safira, mas de cor diferente. É vermelho pela presença de óxido de crómio. A Birmânia era o local onde estavam as maiores reservas.

O que determina o valor do rubi?

O tamanho — podemos considerar que 1 quilate equivale a 200mg — a cor, a clareza, e a sua pureza química.

O que é a pureza?

É a ausência de impurezas e fracturas e o seu potencial para a joalharia.

Qual é a importância da cor?

Quanto mais escuro e uniforme mais valioso é. O Pigeon Blood é o grau mais puro e também o mais caro. No leito dos rios, surgem pedras que chegam a valer dezenas milhões de dólares

mina tem sido desenvolvida de acordo com a tipologia que o mercado procura, de tal modo que agora também não se está a explorar os rubis nos depósitos primários, pois a maior procura reside nos depósitos secundários por serem de alta qualidade e maior valor comercial. “O depósito primário de rubis é o ponto onde encontramos pedras em grandes quantidades, mas sem grande valor comercial, enquanto no secundário exploramos os rubis de qualidade e com alto valor económico. Por exemplo, o posto Mining Nice 1 agora não está operacional porque neste momento o mercado não está tão sedento de segunda qualidade, mas sim de primeira”, explica o geólogo. Na verdade, e como parece lógico, os rubis secundários são os mais difíceis de encontrar, visto que, em média, é preciso lavar e tratar cerca de três toneladas de terra para se encontrar não mais que 40 gramas de minúsculas pedras coloridas que, a seguir, passam por vários processos de lavagem e separação, até chegar à chamada casa de selecção e classificação. Mas, no entanto, que se diga, é um trabalho que compensa, a avaliar pelas receitas que estas pedras têm vindo a gerar para a empresa e para a província. Segundo informação avançada pela MRM, o bloco Mining Nice é o posto em que as actividades ilegais

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23% das receitas da Montepuez Ruby Mining são gastos nos impostos

começaram em 2009 devido à quantidade do material existente (podiam encontrar-se rubis pelo chão) e da sua profundidade (não era necessário escavar), isto é, os garimpeiros facilmente acediam à camada mineralizada e daí retiravam os rubis. E quando a MRM chegou também começou com as suas explorações neste ponto tendo sido o bloco de Mining Nice o primeiro posto que a MRM abriu e explorou, em Montepuez. Pelo impacto causado com as escavações, e para viabilizar a exploração sustentável destas pedras preciosas, e mudar um pouco a face que a empresa ganhou ao longo dos anos, a MRM tem vindo a apostar na recomposição dos subsolos assim como na reflorestação da terra lavrada durante os trabalhos de mineração. Até aqui já foram reflorestados cerca de cinco hectares, segundo contou à E&M, Filipe Soto, oficial de saúde, segurança e meio ambiente da empresa. Entretanto, embora haja planos de expansão da actividade, a volatilidade dos preços dos rubis no mercado internacional e o garimpo ilegal para o qual muitos jovens são atraídos por intermediários constituem ainda os principais obstáculos para o grupo MRM. texto Hermenegildo Langa fotografia D.R..

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Na voz de...

rubis de Montepuez

“Convivência com as comunidades já é pacífica” Samora Machel Jr. PCA da Montepuez Ruby Mining longe vão os tempos de convivência conturbada entre o grupo Montepuez Ruby Mining (MRM) e as comunidades circunvizinhas devido à mineração artesanal ilegal, onde, em muitos casos, os garimpeiros não observavam os limites e, tão-pouco, respeitavam os espaços concessionados. Volvidos dois anos de intenso combate ao garimpo ilegal, a Ruby Mining respira de alívio. À E&M, o PCA da MRM, Samora Machel Jr., faz o balanço das actividades da empresa desde a sua instalação no distrito de Montepuez e traça as perspectivas de investimento para os próximos anos. Apesar de recente, a MRM já produz resultados visíveis em termos de facturação. Como avalia esta evolução e qual o peso real da empresa entre as similares do mesmo ramo? A MRM começou a operar em Moçambique em 2012 e temos uma previsão de produtividade por mais 16 anos. A situação da MRM, neste momento, é boa e tende a melhorar. Levamos sete anos de actividade e durante este período a empresa realizou já 13

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leilões, o último, como se sabe, em Dezembro de 2019, sendo que o lucro agregado destas operações é de cerca de 221 milhões de dólares, volume que permitiu à empresa crescer consideravelmente. Exemplo disso é o centro de processamento que temos, com capacidade para 150 toneladas de matéria por dia. Depois, também temos uma sala dotada de tecnologia de ponta para a selecção do rubi, podendo também processar até uma tonelada e meia por dia. Em termos de contribuições, o grupo já entregou mais de 121 milhões de meticais em receitas tributárias ao Governo, e, dessa fatia, 1% destina-se a projectos comunitários e de conservação na região. É por isso que a MRM tem sido reconhecida como a maior geradora de moeda estrangeira e maior contribuinte desde 2014 a 2018, ao nível da província de Cabo Delgado. Olhando os números, mas pensando na operação, obviamente que os sete anos não foram nada fáceis. Houve um processo desde o início até agora, mas estamos confiantes de que as condições de vida das comunidades tendem a melhorar, e tudo isso

A MRM nunca violou os direitos humanos em Namanhumbir ou em qualquer outra parte

alavancado pela capacidade de produção da empresa que, também ela, está a melhorar, o que leva as comunidades a beneficiar desse crescimento. Não foram poucas as vezes em que a empresa se queixou das constantes invasões da sua área de concessão por garimpeiros ilegais. A situação gerou polémica sobre alegados maus tratos a garimpeiros informais, na qual a MRM é, até hoje, alvo de críticas generalizadas. Como está esta situação, actualmente? Este é um tema que todos querem saber, mas é preciso perceber que o garimpo ilegal teve o seu momento mais alto no princípio da nossa actividade. A partir do momento em que a empresa começou a operar no seu pleno potencial esta acção reduziu substancialmente. Neste momento, o garimpo ilegal baixou consideravelmente, temos tido alguns casos isolados, é certo, mas já não é tão reincidente como em anos anteriores. Isso foi resultado da nossa acção junto das comunidades, pois a MRM tem tido muito contacto com as comunidades e com os seus líderes comunitários, para explicar quais são os benefícios de ter um investidor que esteja a trazer mais-valias à região, através de um produto que não pertence à empresa, mas que também não é só das comunidades, mas sim do Estado. Estamos aqui para acrescentar valor a este produto e esse acréscimo é que vai trazer benefícios às comunidades. E estas já começam a ver as suas vidas a melhorar, o que significa que www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2020


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Na voz de...

Rubis de Montepuez

há menos pessoas a entrar para um processo de garimpo ilegal. Depois, a MRM não é, por princípio, contra a mineração artesanal. O que achamos importante é que esta mineração artesanal seja organizada e traga benefícios para as comunidades. No entanto, a experiência mostra-nos que a forma como esta mineração artesanal é desenvolvida não fornece nem a saúde nem a segurança adequadas, assim como não protege o meio ambiente e, muito menos, paga impostos. Defendemos operações de mineração organizadas em larga escala e controladas. Por isso é que investimos mais de um milhão de dólares nas comunidades locais, anualmente, em projectos de educação, agricultura, saúde e conservação. E o vosso relacionamento com as comunidades locais melhorou? Temos, hoje em dia, uma relação muito boa e tudo tende a melhorar. Criámos uma equipa oficial de ligação comunitária que, entre várias funções, identifica as oportunidades e preocupações das comunidades. Além disso, existe uma linha telefónica dedicada a denúncias anónimas. Depois, a empresa tem vindo a promover reuniões regulares por forma a estar sempre inteirada sobre todas preocupações das comunidades. No início do ano, a Gemfields indemnizou em 5,8 milhões de libras (7,8 milhões de dólares ao câmbio de então) uma série de pessoas que, há anos, se queixavam de um conjunto de atropelos aos direitos humaos, o que até foi notícia internacionalmente. O que aconteceu exactamente com estas alegações que a Gemfields enfrentou em Moçambique? Como disse, a nossa presença foi marcada no início por momentos muito difíceis. Os que

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“Queremos continuar a crescer e a investir na expansão da planta de lavagem e na capacidade de mineração do projecto, o que irá significar uma maior oportunidade de emprego” alegaram estes actos pertencem às comunidades circunvizinhas. Hoje, essas comunidades estão integradas na empresa, e outras que estavam dentro da área de concessão vão ser reassentadas. Há um projecto de reassentamento para onde irão algumas famílias e, de entre essas famílias, algumas eram queixosas e já não o são. Devo dizer que a MRM nunca violou os direitos humanos em Namanhumbir ou em qualquer outra parte. Houve situações de alegações por parte de vários elementos, mas todas elas eram infundadas.

Como é que a MRM está a acompanhar esse assunto? Para a MRM isso é uma situação preocupante porque nós, enquanto empresa, temos feito um trabalho totalmente transparente. Se acompanhou as sessões no Tribunal Superior de Londres, o processo foi contra a Gemfields, mas quem opera em Moçambique é a Montepuez Ruby Mining, que é participada pela Gemfields. No entanto, este processo foi espoletado e resolvido na Inglaterra. É preciso dizer que, em nenhum momento, a Gemfields aceitou a responsabilidade dessas alegações, mas para o benefício

de todas as partes envolvidas no caso optou por um entendimento, para fazer-se o pagamento das indemnizações aos que reclamam essas violações, no valor de 5 850 milhões de libras. E este processo de pagamento ou de indemnização aos queixosos é feito à descrição da Leigh Day (empresa representante de 273 moçambicanos queixosos). A MRM não tem responsabilidade nenhuma nesse caso, continuando a fazer os seus trabalhos e a lidar da melhor forma com as comunidades. Mas, então, por que é que a Gemfields concordou em www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2020


realizar esse acordo com a Leigh Day? No geral, não houve admissão de responsabilidade ou culpa e muito menos uma ordem judicial nesse sentido. A Gemfields optou por entrar num acordo voluntário para mostrar que pretende continuar a trabalhar com as comunidades locais e contribuir para a construção de um futuro positivo. A Gemfields alegou não ser responsável pelos supostos incidentes apresentados nas reivindicações, mas considerou que o acordo equilibra os interesses das diversas partes interessadas e evita manchar o relacionamento da MRM nas comunidades locais. Assim, o pagamento será feito e distribuído pelo escritório de advocacia Leigh Day, que agiu em nome dos reclamantes. Têm circulado informações sobre supostos pagamentos feitos pelo grupo MRM a elementos da Al- Shabab. A empresa confirma essas alegações? As alegações que existem de pagamentos a elementos da Al- Shabab não têm que ver com a nossa empresa! A MRM está a trabalhar com as comunidades, mas nós não conhecemos todas as pessoas da região, como é natural. A Gemfields prometeu criar um fundo de desenvolvimento de mais de meio milhão de libras para ajudar a comunidade Namucho-Nthoro. Esse fundo já foi criado? Como vai funcionar? O projecto está, neste momento, em desenvolvimento. A Gemfields concordou, sim, em reservar 500 mil libras como fundo para um projecto de subsistência e agricultura para os requerentes de Namucho. Qual é o desenvolvimento mais recente da nova vila de reassentamento? Os trabalhos de construção www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2020

tiveram início em Outubro de 2018 e a conclusão está prevista para 30 de Janeiro deste ano. O projecto inclui a construção de 105 casas, sendo que 95% delas já estão concluídas, bem como um conjunto de vias de acesso. Depois, além das habitações, o projecto da vila de reassentamento inclui ainda a construção de uma extensa e completa malha de infra-estruturas públicas (igrejas e escolas). A MRM tem um conjunto de parcerias com Pequenas e Médias Empresas (PME) nacionais. Quanto é que a empresa investe anualmente com as PME? A MRM tem desenvolvido parcerias com vários fornecedores de bens e serviços em Moçambique num valor global de, aproximadamente, 13 milhões de dólares por ano. Quais são os planos de investimento da MRM no país para os próximos anos? Queremos continuar a crescer e a investir na expansão da planta de lavagem e na capacidade de mineração do projecto, o que irá significar uma maior oportunidade de emprego e redução dos riscos relacionados com a flutuação do teor de minério. Mas também queremos continuar a ver as comunidades circunvizinhas a crescer. No geral, queremos continuar a ver os impostos que pagamos a aumentar, e devo dizer que não são pouco significativos. Se fizermos as contas, 23% dos nossos ganhos vão directamente para impostos. Então, quanto maior for o nosso investimento, quanto mais crescerem os nossos ganhos, maior será o nosso contributo para o crescimento da economia local e para a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos. texto Hermenegildo Langa fotografia DR.


província

NIassa

Energia revigora interior do país O GET.invest é um programa europeu que apoia investimentos em projectos descentralizados de energia renovável em países em desenvolvimento. Com foco na África Subsaariana, aponta agora para o Centro e Norte de Moçambique faz parte da plataforma europeia get.pro implementada pela GIZ - Coope-

ração Alemã para o Desenvolvimento e opera em diferentes segmentos de mercado de energia renovável descentralizada, incluindo pequenos produtores independentes de energia (IPPs), energia comercial e industrial, mini-redes, sistemas solares autónomos, bem como soluções de cozinha limpa. É apoiado pela União Europeia (UE), Alemanha, Suécia, Holanda e Áustria. O GET.invest tem o objectivo de mobilizar o sector privado, fornecendo informações de mercado, estimulando a procura, procurando o estabelecimento de parcerias através de eventos e fortale-

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província Niassa

CAPITAL: Lichinga área 122 827 km² POPULAÇÃO: 1,8 milhões região Norte

cendo associações que acrescentem verdadeiro valor a uma cadeia produtiva que é preciso incentivar. Além de tudo isto, apoia o desenvolvimento de um pool de projectos através de formação e consultoria (Finance Catalyst), desenvolvimento de documentos de projecto e criação de capacidades públicas e privadas para apoiar um “ambiente propício” ao surgimento de novos projectos relacionados com energia renovável descentralizada. Até porque, ainda hoje, mais de 70%, dos cerca de 28 milhões de moçambicanos não tem acesso à energia eléctrica nem sequer uma perspectiva de que isso possa acontecer num futuro breve. www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2020


Lançamento Neste contexto, no passado dia 20 de Novembro, o Ministério de Recursos Minerais e Energia de Moçambique (MIREME) apadrinhou o evento de lançamento da Facilidade de Preparação de Energias Renováveis, organizado pela Delegação da União Europeia em Moçambique, uma iniciativa que faz parte da PROMOVE, uma estratégia abrangente de desenvolvimento rural desenvolvida pela UE em estreita coordenação com o Governo moçambicano. A Facilidade de Preparação de Projectos da PROMOVE anunciou, então, um programa de apoios através da criação de um Centro de Recursos com a função de capacitar o sector público ligado às energias renováveis de Moçambique, responsável por fornecer à entidade reguladora de energia no país e ao MIREME todo o apoio técnico com vista ao desenvolvimento de projectos públicos, que visem incrementar a utilização de sistemas de energias limpas. A começar pelo investimento necessário à instalação de empresas que os promovam. Depois, o GET.invest, que tem precisamente o seu foco no aumento do investimento do sector privado nas energias sustentáveis, é um programa que mobilizará empresas e promotores privados e irá desenvolver um pipeline de projectos de energia renovável em todo o território nacional, com especial enfoque nas zonas rurais do Centro e Norte do país, regiões onde a cobertura da rede energética, e por razões óbvias relacionadas com a geografia, é, ainda hoje, demasiado baixa. No evento realizado no Hotel Polana, em Maputo, foram então apresentados os detalhes da estratégia do PROMOVE em Moçambique (414 milhões de euros dedicados a uma resposta integrada com maior foco nas províncias de Niassa, Nampula, Zambézia e Cabo Delgado) e anunciadas as actividades específicas do Centro de Recursos e do GET.invest. Para Antonio Sanchez-Benedito, Embaixador da UE em Moçambique, “alavancar a iniciativa privada é um dos grandes objectivos deste mecanismo, bem como reforçar a capacitação das instituições públicas como a EDM, o Mitader ou a FUNAE nesse sentido.” E prosseguiu: “o grande objectivo é desenvolver o potencial das energias renováveis e os interesses do sector privado para que, até 2030, se consiga esse grande desígnio nacional que é o acesso universal à energia”. www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2020

173 milhões de euros Os fundos disponibilizados pela União Europeia e que fazem do GET.invest, o maior programa de apoio ao investimento em projectos de energias no país

Neste mesmo âmbito, a promoção de fogões melhorados, a geração de energia através da produção independente, o PRODER (Programa Nacional das Energias Renováveis), ou o ELECTRIFY, que já está a ser aplicado pelo sector privado, são, na opinião de António Sanchez-Benedito, “mecanismos essenciais para aumentar a produção energética nacional e, até, criar uma importante e única oportunidade de exportação de energia para a região adjacente. Mas todo este esforço conjunto tem como base o engajamento e as políticas do Governo neste sentido. Queremos que a UE lidere em parceria com as entidades públicas. Serão, para já, investidos 172 milhões de euros, os recursos não faltam e as ideias também não. Queremos ajudar a transformar este país.” Já Peter Toffman, director da GIZ em Moçambique, explica que “a mobilização de investimentos em energias renováveis e em projectos ongrid, ligados à rede e isolados ou offgrid, fazem parte daquilo a que chama um ‘scalling up’ de outros programas na área dos sistemas solares e energia para cozinhar, por exemplo, mecanismos que, com a ajuda do sector privado, podem fazer a diferença na vida de milhões de moçambicanos. Temos um projecto de Finance Catalyst onde já recebemos mais de 500 candidaturas, já temos mais de 100 projectos aprovados de 25 fontes de financiamento diferentes. É uma janela de investimentos, que segue o trabalho que havia antes, mas cada vez com maior foco no futuro”, explica. O ministro dos Recursos Minerais e Energia, Max Tonela, sublinha a importância da iniciativa. “A UE tem sido um grande parceiro para o sector da energia moçambicano, que é, como sabemos, um dos vectores mais importantes do desenvolvimento económico e social do nosso país. Foi precisamente por isso que lançámos o Programa Energia para Todos. As energias renováveis gozam de um grande privilégio, e no quadro da implementação do Plano Integrado de Estruturas de Distribuição de Energia, contamos que as renováveis venham a constituir 20% de toda a energia gerada em Moçambique num prazo de 20 anos. É nas renováveis que está a solução óptima de menor custo para os locais mais remotos de Moçambique”, concluiu. texto Mauro Cumbane fotografia D.R.

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OPINIÃO

Decifrando Greta Thunberg, uma Líder incomum Margarita Maio • PhD. Professora da IE University

em maio de 2019, Greta Thunberg foi capa da prestigiada revista TIME que a elegeu como a “líder da próxima geração” pelo seu activismo político contra as mudanças do clima. Pouquíssimos jovens de 16 anos conseguem obter este reconhecimento devido à sua liderança. A Amnistia Internacional concedeu a Greta o prémio anual de Embaixadora de Consciência. Considerada “um exemplo importantíssimo para a sociedade”, chegou a Espanha no início de Dezembro de 2019 para a Cimeira do Clima (COP 25) que reuniu líderes políticos, cientistas e empresários de todo o mundo com quase 25 000 participantes. No entanto, o seu estilo inusitado também foi alvo de muitas críticas e ataques pessoais invocando problemas de saúde mental. O Presidente Donald Trump fez piadas sobre a sua cara de felicidade e a primeira-ministra Theresa May não via com bons olhos que Greta perdesse aulas para protestar contra as mudanças climáticas. Como decifrar o estilo de liderança de Greta Thunberg? O perfil psicológico de Greta como líder da próxima geração é frequentemente comentado. Aos 11 anos ela sofreu uma forte depressão e, finalmente, foi diagnosticada com síndrome de Asperger. Vistas como excêntricas, muitas crianças e adolescentes com este perfil neurológico podem passar por períodos de depressão. O estigma social faz com que a síndrome de Asperger seja um transtorno pouco conhecido, embora tenha sido descoberto há mais de 50 anos. O pediatra vienense, Hans Asperger, identificou um grupo de crianças com uma capacidade intelectual acima do normal, mas que tinham dificuldades de criar empatia com os demais e fazer amigos. A enorme lista de génios

que foram diagnosticados com síndrome de Asperger ou os “Aspies”, como são chamados coloquialmente, é longa, incluindo Albert Einstein, Wittgenstein ou Thomas Jefferson. Com coragem, Greta transformou o que alguns consideram uma doença num “super poder” para despertar a humanidade de sua letargia contra as alterações climáticas e fez isso adoptando quatro estratégias básicas associadas à síndrome de Asperger. Interesse e paixão obsessiva Ter áreas de interesse muito específicas e dedicar-lhes muita energia faz com que estas pessoas sejam realmente brilhantes no que quer que seja que lhes interessa. Exemplo disso é o facto de, desde que tinha 11 anos, Greta ter mostrado o seu interesse pelas mudanças do clima. E assim, em 2018 e com apenas 15 anos, iniciou um movimento de greve escolar faltando às aulas todas as sextas-feiras para protestar contra o aquecimento global em frente ao Parlamento sueco, em Estocolmo. O seu acto ficou conhecido como “Sextas para o Futuro” (Fridays For Future). Um ano depois, quase um milhão de estudantes aderiu ao movimento realizando protestos similares contra as mudanças climáticas. O seu objectivo é consciencializar sobre a gravidade da crise climática e pressionar os parlamentares para que apoiem uma lei mais rigorosa contra as emissões de carbono. Este contágio social é uma das chaves do seu sucesso como líder. Rotina e compromisso Estabelecem rotinas que seguem rigorosamente. Ela mesma é um exemplo disso. Greta decidiu não viajar de avião para evitar as emissões de carbono causadas pelos aviões. No dia 13 de Novembro, partiu junto com seu pai, de Virgínia, Estados Unidos, com destino a Madrid, a bordo de um

Todo este protagonismo é difícil de ser assimilado para uma adolescente como Greta que não está acostumada a ser o centro das atenções nem a falar para grandes audiências

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Jovem sueca tem inspirado milhões de pessoas por todo o mundo. Mas também tem gerado controvérsia

catamarã tripulado por um casal de youtubers e o seu filho. Quando participou do Fórum Económico Mundial em Davos, também foi de comboio, acompanhada com o seu pai. Este comportamento faz com que muitos jovens a vejam como uma referência e um verdadeiro modelo a seguir. Começou o seu activismo ambiental em casa, convencendo os seus pais a mudarem o seu estilo de vida, incluindo não viajar de avião, o que até afectou negativamente a carreira da sua mãe como cantora de ópera. Linguagem contundente Expressam as suas ideias de forma categórica e repetitiva. Greta questiona os líderes mundiais sobre o “preço climático” que pagamos por pensarmos unicamente no sucesso financeiro. Muitas vezes no seu discurso pergunta: “Como é que vocês ousam?” (How dare you?). E recrimina a falta de acções concretas contra as mudanças climáticas de forma categórica dizendo: “vocês roubaram os meus sonhos e a minha infância”. Esta forma de expressar as suas ideias até pode parecer arrogante e dar a impressão de que só estão preocupados com seu próprio protagonismo. Mas esta é uma ideia totalmente equivocada. Várias vezes, Greta tem vindo a assegurar que o seu único e verdadeiro objectivo é lutar por uma causa que é muito maior do que ela mesma. Comunicação directa Concentram-se em conversas que estão directamente ligadas aos seus interesses. No dia 20 de Fevereiro de 2019, www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2020

o New York Times descreveu Greta como “irónica, directa e, muitas vezes, sarcástica”. Na Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas de 2018 (COP 24) ela referiu-se de forma irónica a como os líderes políticos enfatizam que “os jovens são a esperança”, mas “são os líderes políticos os que passaram 30 anos sem fazer nada”. E é por isso que Greta pede, incessantemente, ao longo dos últimos meses, que sejam tomadas medidas urgentes para solucionar a crise do clima quando afirma “que o tempo está a esgotar-se”. Todo este protagonismo é difícil de ser assimilado para uma adolescente como Greta que não está acostumada a ser o centro das atenções nem a falar para grandes audiências. Ela mesma se refere à grande dificuldade desta mudança quando diz: “toda a minha vida fui a menina invisível lá no fundo, que não dizia nada. De um dia para o outro, as pessoas passaram a ouvir o que tenho para dizer. É um contraste estranho. É difícil”. Deve, de facto, ser difícil. Poucos poderiam imaginar que uma jovem de apenas 16 anos pudesse despertar a consciência de tantos milhões de pessoas de tão longínquos pontos do Globo. Todos unidos a favor de uma concreta acção global contra as alterações climáticas que, a todos, ameaçam. Alan Turing, o pai da inteligência artificial, foi outra das grandes figuras diagnosticadas com síndrome de Asperger. Sofreu por isso, também, apesar do brilhantismo. No biopic “O Jogo da Imitação”, ele mostra como “às vezes, as coisas mais surpreendentes vêm de quem menos esperávamos”.

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mercado e finanças

Os rumos da economia em 2020 Uma breve antevisão do desempenho de quatro sectores nucleares para o desenvolvimento sugere uma retoma da estabilidade apesar da prevalência de riscos preocupantes. Veja o caminho da economia nacional em 2020 já há dois anos, 2019 era ‘profetizado’ como o ano da consolidação da recuperação económica que começava, ainda tímida, em 2018. Projectava-se, então, um ano em que se começaria a esquecer a profunda crise espoletada pela famosa história das dívidas que não tinham sido declaradas aos parceiros internacionais e que mergulharam a economia nacional num oceano de incertezas. Mas com 2019 vieram os ciclones que retardaram o processo e a economia não descolou como se previa. E hoje, com o ano fechado, fazem-se novas contas.

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3% é a previsão mais modesta do crescimento do PIB para este ano de 2020

E a tal consolidação, outrora projectada para 2019, foi repassada para o ano que agora está a começar. “Sector extractivo vai assentar as bases” Com as decisões finais de investimento já anunciadas pelas multinacionais, e algumas por anunciar em 2020, mais se ouvirá falar sobre o Conteúdo Local, cuja Lei deve ser aprovada ao longo do ano, e sobre os mecanismos de potenciação dos benefícios do gás para o país. “Sinceramente, não espero muita coisa no próximo ano, porque a própria Lei de Conteúdo Nacional não é fácil de conceber, www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2020


principalmente quando o país está pressionado, tal como se assiste agora. O sector privado não está satisfeito com o conteúdo da Lei e as concessionárias não querem um quadro legal propriamente dito. E até ser aprovada a legislação, provavelmente, haverá ainda muita discussão”, revela o especialista na área do oil&gas, Cláudio Dimande, formado no Brasil e com larga experiência de trabalho na Petrobrás. O engenheiro prevê que, em 2020, o empreendimento que estará mais adiantado seja o FLNG da Área 4 offshore do consórcio liderado pela norte-americana Exxon Mobil e pela italiana ENI. “Prevejo, para este ano, algum comissionamento (montagem de equipamentos para o avanço do projecto de liquefacção de gás). Já na mesma Área 4, onshore, continuará a haver grande mobilização da actividade, mas que significará muito pouco se não se avançar para a Decisão Final de Investimento prevista para o primeiro semestre deste ano”, adiantou, demonstrando algum pessimismo. Essa incerteza tem também que ver com o facto de o país estar em processo de formação do novo Governo porque, “embora não se possam esperar grandes alterações (já que é o mesmo partido que continua no poder), poder-se-ão alterar alguns ministros, directores e chefes de determinados departamentos, o que torna incerto o cenário do presente ano”. Já o projecto da Área 1, recentemente vendido pela Anadarko à Total, também precisará de se consolidar, porque o novo accionista ainda tem de se inteirar da natureza da sua concessão, prevê o engenheiro, que conclui que “2020 será, definitivamente, o ano para assentar as bases”. O engenheiro não resistiu a lançar um olhar além de 2020 e deixou um reiterado conselho. “Na área de petróleo e gás é muito importante a antecipação de cenários, no sentido de buscar o que será necessário daqui a cinco ou dez anos, para evitar a pressão das concessionárias, das empresas nacionais e da população que espera ansiosa pelos resultados da exploração desses recursos.” No caso de Moçambique, a antecipação está atrasada mas, assume, “não é tarde para recomeçar, porque o gás é um recursos que se explora durante séculos e Moçambique vai a tempo de ganhar a corrida”. Actualmente, Cláudio Dimande trabalha no Projecto de Assistência Técnica para Gás e Minas, designado por MAGTAP, e www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2020

O sector privado não está satisfeito com o conteúdo da Lei e as concessionárias não querem um quadro legal propriamente dito. E até ser aprovada a legislação, provavelmente, haverá ainda muita discussão”, revela o especialista na área do oil&gas, Cláudio Dimande

que está avaliado em 84 milhões de dólares desembolsados pelo Banco Mundial a título de crédito, para capacitar o sector governamental ligado à exploração de gás, petróleo e mineração, incluindo as questões relativas ao conteúdo local. Está à frente de tudo o que tem que ver com treinamento, negociação de contratos entre outros aspectos. Do carvão não vêm bons prenúncios Em Novembro, a Vale anunciou que ia reavaliar em baixa o negócio do carvão com uma imparidade de 1,6 mil milhões de dólares em 2019. Já no presente ano, prevê encerrar as suas operações no país por um período de três meses para “uma manutenção mais profunda”, já que regista uma quebra da produção e exportação de carvão metalúrgico desde 2018. A mineradora pondera ainda reduzir postos de trabalho. O carvão é, até agora, o produto de maior peso nas exportações nacionais (cerca de 33%), pelo que a suspensão da actividade da Vale far-se-á seguramente sentir na economia. PME com mais dinheiro... “As perspectivas para 2020 são de forte recuperação da actividade económica, baixa inflação e estímulo económico a partir de uma flexibilização gradual das condições monetárias e da compensação dos pagamentos domésticos em atraso aos fornecedores”, revelou o presidente da CTA (a principal associação empresarial do país), Agostinho Vuma, para quem a construção e outras actividades também serão impulsionadas por investimentos nos megaprojetos de gás. Referindo-se ao já anunciado início do pagamento das dívidas pelo Estado aos fornecedores, falou ainda da “continuidade que se espera na estabilidade dos indicadores macroeconómicos e financeiros para 2020, que projectará um melhor posicionamento das empresas nacionais no mercado, principalmente as Micro, Pequenas e Médias Empresas que irão beneficiar da redução das taxas de juro do mercado”, previu, optimista. ... mas com mau ambiente de negócios “As reformas com vista à melhoria do ambiente de negócios são a primeira inquietação dos empresários.” A este respeito, Vuma projecta que, no contexto do ranking do Doing Business, a CTA irá implementar, já este ano, “um programa focado na melhoria significativa da qualidade de implementação de reformas,

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mercado e finanças

Economia nacional vai crescer em 2020

contribuindo, assim, para a melhoria do ambiente de negócios e a subida no ranking internacional. Actalmente, Moçambique ocupa a 138ª posição (desceu três degraus na última classificação), num conjunto de 190 países avaliados”. Aqui iremos contar, certamente, com o inestimável acarinhamento do Governo de Moçambique e, muito particularmente, do Presidente da República, Filipe Nyusi”, apelou o presidente da CTA. Por outro lado, o líder da associação empresarial enumera um conjunto de factores

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“Em 2020 serão precisos consensos, porque com o sem a Lei de Conteúdo Nacional, os empreendimentos vão acontecer. Nem que seja para as empresas usarem as suas leis, regulamentos e políticas”

que pode afectar negativamente a actividade empresarial e para os quais é necessária uma conjugação de esforços: “preocupa-nos a situação de instabilidade prevalecente em algumas regiões do país e que resulta em impacto negativo no ambiente de negócios”, lamenta Agostinho Vuma, sublinhando que os transportadores interprovinciais de mercadorias e passageiros têm operado de forma retraída, com destaque para a EN 1. Depois, junta-lhe “a situação prevalecente em Cabo Delgado. Uma ameaça não apenas à estabilidade do país mas também www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2020


ao ambiente de negócios, de uma forma geral. Estas são situações que, a continuarem, constituem um verdadeiro risco para as perspectivas que se traçam para 2020 ao nível do crescimento das empresas nacionais”, concluiu. O ano da criação do Fundo soberano? A previsão é de que, em 2020, se concluam os trabalhos técnicos visando a implementação de um modelo transparente para a gestão das receitas provenientes dos recursos minerais, também conhecido por fundo soberano. www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2020

Desses trabalhos técnicos resultará, previsivelmente, uma proposta que servirá de base para as discussões com todos os intervenientes, incluindo a sociedade civil”, anunciou o governador do Banco de Moçambique. Ainda em 2020, o Banco Central prevê implementar uma nova plataforma de pagamentos interbancários, ao abrigo do contrato com a Euronet (dos Estados Unidos), “que marcará uma viragem na história de Moçambique”, segundo Rogério Zandamela. Trata-se da concretização de um acordo rubricado há pouco mais de um ano e que determinou a substituição da portuguesa Bizfirst. A nova infra-estrutura tecnológica será, de acordo com o Banco de Moçambique, “mais segura, sólida, com maior cobertura de transacções e permitirá maior interoperabilidade em todo o sistema financeiro, incluindo entre as instituições de moeda electrónica”. Ao nível dos mercados interbancários, após terem sido suspendidas, temporariamente, as operações com recurso a taxas de câmbio a prazo nas operações de compra e venda de moeda estrangeira, o Banco de Moçambique vai introduzir uma legislação apropriada e em linha com as experiências internacionais, de modo a permitir a cobertura de riscos de mercado, em particular o cambial, por parte dos bancos e demais intervenientes nas operações cambiais. “Em 2020 continuaremos a reforçar a estabilidade do sistema financeiro e a estimular a expansão dos serviços financeiros com recurso às novas tecnologias, tendo em vista incrementar os níveis de acesso e uso dos serviços e produtos financeiros no país”, prometeu o governador. Há que lembrar que a nova administração do Banco Central tem estado a apertar na fiscalização do cumprimento das regras de jogo no sistema, tendo já, por diversas vez, penalizado os bancos incumpridores das normas estabelecidas, das que dizem respeito aos indicadores prudenciais às que se referem aos códigos de ética e boas práticas. Ao mesmo tempo, o Banco Central tem estado a induzir a redução das taxas de juro do mercado, através da redução da taxa de juro de política monetária. Por duas vezes em 2019, passando de 14,25% no início do ano passado, para os 12,75% actuais, numa tendência que deve prevalecer ao longo do presente ano, podendo aliviar o custo do financiamento, permitindo estimular investimentos

e potenciar o crescimento económico. Já o compromisso da banca comercial é o de continuar a expandir a cobertura dos serviços financeiros a todo o território nacional, diversificando produtos e serviços cada vez mais inovadores e expandindo o acesso ao crédito para o investimento privado. Início da privatização de estradas A medida vem sendo ensaiada há décadas, mas finalmente parece que vai avançar já em Abril deste ano, constituindo o primeiro passo para aliviar a necessidade anual de 750 milhões de dólares para o sector de estradas da qual só se conseguem mobilizar 300 milhões. “A concessão de troços de estradas nacionais de Moçambique a operadores privados deverá ter lugar a partir de Abril de 2020”, confirma à E&M o director-geral da Administração Nacional de Estradas (ANE), César Macuácua. De acordo com o engenheiro, decorre agora a fase de análise das propostas técnicas e financeiras apresentadas por empresas nacionais e estrangeiras ao concurso público internacional lançado em Agosto do ano passado. Os troços em causa, nesta fase, são: Marracuene/Xai-Xai, na Estrada Nacional Número 1 (EN1), com numa extensão de 185 quilómetros; Matola/Boane/Namaacha, na EN2, com 65,9 quilómetros; Impaputo/Goba, na EN3, com 31 quilómetros; Nampula/Namialo/Lúrio/Metoro, na EN1 e Nacala/Namialo, na EN12, ambos com 415 quilómetros. O director-geral da ANE revela ainda que os contratos de concessão terão uma validade estendida por um período máximo de 30 anos. A gestão de quase toda a rede viária de Moçambique (cerca de 30 mil quilómetros) é garantida pelo Governo através da ANE que, confrontada com a falta de fundos, não tem conseguido cumprir o calendário de manutenção recomendável, o que concorre para o mau estado de conservação em que muitas estradas se apresentam. A este respeito, é bom recordar que Moçambique até tem, de resto, uma das experiências mais bem-sucedidas de concessão de estradas da região austral: a EN4, que liga Maputo à África do Sul, que foi entregue em Maio de 1997 à Trans African Concessions (TRAC), por 30 anos, empresa que pagou a sua construção, garante a sua manutenção e tem assegurada a receita da cobrança das taxas de portagem.

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mercado e finanças Economia vai reanimar Uns mais pessimistas que os outros, mas todos vislumbram melhor desempenho macroeconómico do que em 2018 e 2019, embora com taxas de inflação maiores, ainda assim na casa de um dígito Valores em %

3

7,1

Economist Intelligence Unit PIB

5,5

5

FMI

6,6

Fitch

4,1

5,9

Focus Economics

3,5

6

3,7

Banco Mundial

5,8

4

Standard Bank

6,5

Banco de Moçambique

Inflação média anual

Crescimento estimulado pela construção do Norte e pela reconstrução do Centro O economista, pesquisador e docente universitário, Elcídio Bachita, traça um quadro macroeconómico animador, mas, com muitos obstáculos por contornar. Começa por estimar o “crescimento moderado do PIB em torno de 3%, como resultado de uma retoma que não prevê eventos adversos como os ciclones que surpreenderam o país no ano passado”. O crescimento previsto terá como suporte, sem qualquer surpresa a este respeito, o sector extractivo, sobretudo através do gás, onde se prevê que suceda, este ano, o início da fase de construção das plataformas de liquefacção podendo criar oportunidades de emprego directos e indirectos para milhares de moçambicanos. Além disso, o Governo começou, no ano passado, a amortizar a dívida para com os fornecedores de bens e serviços ao Estado, as PME, “o que criará um impacto notório na consolidação da retoma”, defende. Já a inflação, prossegue, “tem-se mantido baixa por força do aumento da produção agrícola e pela via da estabilidade cambial do metical em relação ao dólar”. E que advém, explica, “por um lado, do aumento das receitas de exportação do carvão (que valorizam o metical e reduzem o custo das importações) e, por outro, das medidas do Banco Central que, através do Coeficiente de Reservas Obrigatórias em moeda externa, tem vindo a evitar a fuga do dólar para o exterior com a consequente desvalorização do

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3,8

“Apelamos ao Governo, particularmente ao Presidente da República para usar de toda a sua capacidade para solucionar os focos de violência que afectam o país no seu todo, e o mundo de negócios, em particular”.

metical, um factor que concorre, em grande medida, para a inflação, dada a grande dependência das importações.” Entretanto, mesmo com estes aspectos acautelados, o economista adverte para o risco premente de uma aceleração da inflação através da depreciação do metical, visto que, no segundo semestre do ano, os grandes projectos de exploração de gás começarão a importar bens de capital muito elevado. Depois, os ataques terroristas no Norte do país são outro risco à estabilidade de preços e à real capacidade de captação de investimento interno e externo. O Banco Central também faz previsões similares. “As nossas perspectivas apontam para a continuidade da estabilidade de preços, consubstanciada numa inflação estável em níveis de um dígito, dentro da banda de convergência da SADC, embora relativamente acima do nível deste ano. No que respeita à actividade económica, prevemos uma maior dinâmica em 2020, podendo o Produto Interno Bruto acelerar para cerca de 4%”, informou o Governador Rogério Zandamela, que fundamenta esta previsão com base nas acções de reconstrução pós-ciclones, na regularização das dívidas aos fornecedores de bens e serviços ao Estado, e pelo aumento nos volumes de crédito concedidos ao sector privado, sem esquecer, claro, o impulso do investimento no sector do petróleo e gás. texto Celso Chambisso fotografia D.r.

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empresas

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Um negócio à prova de intrusos A CUBE Enterprise actua no mercado de instalação de sistemas de segurança, sistemas de vídeo-vigilância (CCTV) e alarme contra intrusão com os enormes desafios relaciona-

dos com a falta de emprego formal que o país vem enfrentando, associados à retracção da própria economia, muitos jovens têm apostado no empreendedorismo como alternativa para um futuro melhor. Por isso, a área tecnológica tem sido, sem dúvidas, a que vem merecendo cada vez mais aposta por parte de muitos jovens moçambicanos. É assim que surge a CUBE Enterprise, em 2015, uma pequena empresa que encontrou o seu nicho no mercado de instalação de sistemas de segurança, sobretudo na montagem de câmaras de vídeo-vigilância em residências e instituições. À E&M, Mauro Cuber, gestor e fundador da empresa, explica que a ideia de criar o seu próprio negócio surgiu depois de ter trabalhado, também ele, numa empresa de segurança. Foi aí que percebeu uma falha do mercado: não se dava a devida assistência aos clientes. “É verdade. Foi com esse pressuposto que decidi deixar de trabalhar para terceiros e criar a minha empresa, tentando melhorar a assistência aos clientes. Percebi que na empresa onde estava a trabalhar, o processo de execução dos serviços para os clientes não era uniforme e muito menos estável”, esclarece Mauro Cuber, para depois acrescentar que “existe algo mais que é possível dar ao cliente. Hoje, sou mais um concorrente da minha antiga empresa”, admite. Formado em engenharia electrónica

e de telecomunicações, o gestor explica que o ponto forte da sua empresa está “em fornecer ao cliente um serviço ímpar e de compromisso”. Para tal, Cuber considera que “para ser diferente no mercado, é necessária uma visão macro daquilo que é o serviço e seu feed-back. Temos de estar sempre a melhorar”, afiança. Com cinco anos de actividade no mercado nacional, o gestor da CUBE Enterprise assume estar “na vanguarda dos sistemas electrónicos de segurança em Moçambique”, com um leque de serviços que vai da instalação à monitoria e manutenção de sistemas de vídeo-vigilância (CCTV) e alarme contra intrusão. Embora o mercado de sistemas de segurança esteja a registar uma grande evolução e muita concorrência, isso não o preocupa porque, assinala, “existem no país muitas empresas de renome, mas não com serviços de qualidade, infelizmente. É aí o nosso diferencial. O mercado de segurança tende a crescer fortemente e a oferta ao nível de empresas como a nossa, tenho de o dizer, ainda é reduzida”. E nesta óptica, o desafio da CUBE Enterprise, segundo conta o gestor é, sem dúvida, “continuar a prover um serviço de qualidade para os seus clientes”.

B Empresa CUBE Enterprise FUNDAÇÃO 2015 FUNDADOR Mauro Cuber COLABORADORES 7

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É o número de clientes que a CUBE Enterprise já angariou, entre os quais singulares, instituições privadas, bancárias e entidades do Governo.

texto Hermenegildo Langa fotografia Jay garrido

segurança www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2020

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megafone Maputo Open celebrou o melhor do golfe Torneiro organizado pela Print4You quer afirmar-se como referência da modalidade no país

Grupo Pernod Ricard reforça prateleiras com whisky indiano Chama-se Imperial Blue e é a nova marca de whisky lançada no mercado moçambicano pelo grupo Pernod Ricard. Elevada qualidade a um preço acessível para o consumidor comum são os pontos fortes desta bebida destilada cuja estratégia passa mesmo por oferecer um produto premium a um preço que qualquer apreciador de whisky consiga comprar (375 meticais por garrafa). Segundo o responsável da marca, Francisco Júnior, o Imperial Blue é uma das marcas de whisky indianos mais reconhecidas, com vendas de mais de 25 milhões de caixas por ano.

Baía Mall ofereceu presentes às crianças do Hospital central de maputo É uma campanha inserida no âmbito da responsabilidade social da empresa que gere o Baía Mall e o objectivo da acção passou por alegrar as crianças internadas no Hospital Central de Maputo (HCM) através da oferta de brinquedos e de um cabaz alimentar básico, numa acção organizada pelos colaboradores do shopping Baía Mall. De acordo com a coordenadora de marketing da grande superfície comercial da cidade de Maputo, Lisié Champier, a ideia foi “proporcionar momentos especiais para todas as crianças, sem nenhuma distinção”.

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o maputo open nasceu para se assumir como a referência do golfe em Moçambique e, pelo que se viu no início de Dezembro, o objectivo foi conseguido. Este foi, de resto, o ensejo revelado pela organização de uma prova que se realizou no Golf Course & Country Club de Maputo, a cargo da Print4You. Patrícia Teles, CEO da empresa, fala do um evento que movimentou centenas de aficcionados do golfe, patrocinadores, parceiros e media classificando-o como “um verdadeiro sucesso, a concluir pela projecção que o torneio teve na comunicação social e pelo feedback que fomos recebendo e continuamos a receber de todos os quadrantes. Conseguimos alcançar um objectivo que era tornar o Maputo Open numa referência incontornável do golfe em Moçambique”. Quanto à parte desportiva, Miguel Sottomayor, director-geral da SolarWorks! foi o grande vencedor da prova.

A Print4You é uma empresa moçambicana que actua na área das soluções de impressão, mais concretamente nas vertentes de outsourcing impressão, centros de cópias, assistência técnica a todo tipo de impressoras e venda de consumíveis informáticos.

BNI procura consultoria para empreendimentos rurais O Banco Nacional de Investimentos (BNI) está em busca de consultorias para a implementação do Projecto de Financiamento de Empreendimentos Rurais (REFP), um programa do Governo financiado pelo Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (FIDA). De acordo com uma nota publicada recentemente, o BNI refere que os serviços de consultoria incluem “a realização de trabalhos com beneficiários finais no apoio à adopção de novos produtos e canais de entrega alternativos de modo a facilitar o acesso dos grupos-alvo do REFP aos serviços financeiros.”

Millennium bim eleito “Banco do Ano” pela 12ª vez O Millennium bim foi distinguido com o Prémio “Banco do Ano de Moçambique 2019” pela conceituada revista internacional The Banker. Com este galardão, o Banco atinge a meta dos 100 prémios, atribuídos por entidades de avaliação e análise do mercado financeiro mundial. A cerimónia de entrega dos prémios The Banker decorreu em Londres, destacando, mais uma vez, o banco liderado por José Reino da Costa como instituição de referência e reconhecendo o seu desempenho, aliado à credibilidade no sector bancário.

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figura do mês

Oportunidades Programas de formação abrangem áreas técnicas e têm duração de três semanas a dois meses

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Queremos ampliar o espaço da mulher LUIZE GUIMARÃES Gestora do programa Muva o muva é um programa

filantrópico desenhado com o propósito de testar diferentes abordagens do empoderamento da mulher. É financiado pelo Reino Unido através de uma empresa denominada Oxford Policy Manangement. Começou em 2015 e já está a transformar-se numa associação moçambicana. Tem intervenções transversais em Moçambique, com resultados no acesso a oportunidades económicas por jovens, principalmente mulheres. Já prestou assistência a mais de 1 500 pessoas ao longo dos quase cinco anos no país, o que lhe tem valido algumas distinções internacionais. À E&M, Luze Guimarães explica o projecto. A vossa área de actuação é o melhor ponto de partida para uma clara percepção de toda a agenda que trazem para o país. O que é o Muva? A nossa história foi inspirada nas duas grandes agendas globais: as mudanças climáticas e a igualdade de género. Aqui, a preocupação foi sempre em torno dos Direitos Humanos, mas o lado económico sempre foi deixado de lado. Assim, o propósito do programa é criar competências viradas para a mudança social e económica. Como é que é orientada a agenda do projecto? Somos uma incubadora social

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que trabalha em áreas cujo objectivo final é o de facilitar o acesso de mulheres à actividade económica remunerada. Temos um portefólio de cerca de 20 projectos diferentes que fomos desenhando junto de jovens dos bairros periféricos de Maputo e da cidade da Beira. Nos nossos programas, trabalhamos com ferramentas como empreendedorismo digital, inserção no mercado de trabalho e em áreas nas quais quase nenhuma outra organização tem intervenção. Em que aspectos específicos é prestado esse apoio? As mulheres têm menor acesso ao trabalho remunerado, tal como os jovens, de uma for-

cv

curriculum vitae

Especializou-se em economia na França e Economia da Saúde nos EUA onde trabalhou em vários projectos. Também trabalhou no Cambodja por cinco anos e desde 2011 representa Oxford Policy Manangement, empresa responsável pelo programa da Muva.

Muva

ma geral. Para um país com uma pirâmide etária de quase 75% de população jovem, significa que o país se tenta desenvolver recorrendo a uma proporção muito pequena da sua população. A economia deveria contar com toda a população activa. Muitos projectos tentam uma intervenção focada num único aspecto (educação, educação formal ou educação técnica), mas há muitas pesquisas que mostram que este modelo não é eficaz porque as pessoas são demasiado complexas. Por isso, nas nossas intervenções focamo-nos em três áreas: habilidades técnicas, instituições (para conferir uma série de oportunidades, por exemplo, de trabalho, crédito onde funcionamos como uma ponte) e o fortalecimento da inspiração, que é o aprimoramento da confiança em si próprio. Como é feita, em concreto, a vossa intervenção? Na missão de facilitar o acesso ao trabalho por jovens (num mercado em que apenas 10% da população tem acesso ao trabalho formal e onde há falta de competências), começámos a desenvolver uma formação focada na empregabilidade para complementar as formações técnicas e trazer as oportunidades de estágio. O jovem que se inscreve em qualquer dos nossos programas pode ser seleccionado e bene-

ficiar de uma formação técnica de soft skills, cuja duração vai de três semanas a dois meses, dependendo do seu perfil. No processo, fazemos a ponte entre este e o mercado de trabalho e o resultado da formação faz toda a diferença na óptica dos empregadores. Que requisitos precisam de preencher para beneficiarem da assistência nos vossos projectos? O que fazemos é trabalhar em conjunto, dialogar. Nos diferentes projectos, temos diferentes sistemas de selecção. Por exemplo, quando falamos em jovens temos uma definição que vai dos 16 aos 35 anos. Trabalhamos em meios urbanos e peri-urbanos. E a intervenção consiste em promover o acesso à actividade económica remunerada através de estágio, trabalho ou melhorando um negócio que a pessoa já vem desenvolvendo. Foram, recentemente, premiados como melhor iniciativa de ecossistema em Moçambique e, depois, com o People´s Choice Award pelos Southern Africa Startup Awards. Qual o impacto que tiveram no vosso trabalho? Foi uma competição com vários concorrentes, de todos os países da SADC, por isso orgulha-nos a distinção. É a prova de que a mudança que preconizamos não está só no papel. Quais os grandes desafios para 2020? Além de nos expandirmos para Zimbabué e Malaui. A nossa ambição é conseguir inserir o máximo de jovens possível nas novas oportunidades de trabalho e começar a trabalhar com mais PME. Em parceria com o ABSA, começaremos a fazer a formação de gestores para questões de género no trabalho. texto Celso chambisso fotografia Jay Garrido

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sociedade

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Mezimbite Forest Center ou a riqueza de Floresta Quis a geografia da vida que Allan Schwarz assentasse na cidade do Dondo, em Sofala. Formado em arquitectura, design sustentável e marcenaria criou um lugar onde a floresta transforma vidas mais do que uma dádiva da natureza,

a floresta oferece tudo o que é preciso para viver e até os seus desperdícios podem resultar em negócio. Madeiras, frutos silvestres e centenas de plantas estão, literalmente, à mão de semear, à espera de serem transformados mas, para que tudo aconteça, é preciso acreditar, mesmo que não se veja logo o resultado final. É isso que nos conta Allan Schwarz, o mentor do Mezimbite Forest Center: “Temos de pensar que há 30 anos a sustentabilidade não passava de uma ideia de alguns poucos loucos e nem se falava em peças feitas a partir dos desperdícios florestais. Foi assim, nesse contexto, que eu comecei a desenhar algumas para provar que era possível”. Da ideia ao negócio O arquitecto foi uma das primeiras vozes mundiais a defender a sustentabilidade. Claro que, à época, foi pouco ouvido. Até por isso, teve de prosseguir a carreira e ganhar a vida a desenhar projectos de arquitectura mais convencionais no Japão, Islândia e Estados Unidos da América. “Não eram projectos sustentáveis porque naquele tempo não havia essa preocupação”, recorda. Mas, curiosamente, foi esse o destino que o trouxe a Moçambique. “Ao fazer uma obra em Madagáscar, percebi que muito perto, em Moçambique, havia praias muito bonitas. Fiz um estudo de viabilidade para um projecto direccionado para o turismo mas, percebi que nesse tempo, estávamos em 1992,

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5 000 O número de pessoas que, Ao longo dos anos, foram formadas na Mozimbite. neste momento trabalham ali cerca de 120

apesar de já haver estabilidade, o país não estava preparado para o investimento que era necessário fazer”. O projecto não avançou como estava desenhado, mas ficou o ‘bichinho’. E foi isso que o “obrigou” a encontrar uma outra solução para viver na terra de beleza natural e das gentes afáveis, mas ainda com pouca preparação para desenvolver o maior sector económico, a agricultura. O cultivo da terra acontecia (e ainda acontece) à custa de inúmeros danos da floresta. E Allan percebeu que podia introduzir os princípios básicos da agricultura sustentável ao mesmo tempo que formava as comunidades na utilização consciente dos recursos nativos da floresta para fazer habitações, peças decorativas de mobiliário, bijuteria e pequenas embarcações. A fundamentar a sua tese diz-nos, cheio de convicção, que conhece “muito bem as madeiras locais devido ao tempo de formação em marcenaria. E prossegue: “como já estava cansado de tanto trabalho pensei numa reforma antecipada, procurei um lugar onde houvesse boas madeiras para fazer as minhas peças... eu tinha todas as competências, fiz arquitectura, marcenaria e sabia de gestão florestal sustentável”. É assim que nasce a Mezimbite Forest Center que junta agricultura, reflorestação e produção de peças de madeira, num modelo de negócio que proporciona a geração de uma renda extra para a comunidade. O arquitecto acabou por

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sociedade

Futuro sustentável: Projecto da Mezimbite pretende dar uma nova vida à floresta

ter dois apoios de peso para iniciar a sua obra, como nos confessa por entre as palavras em língua portuguesa com pronúncia do inglês, sempre com um sorriso que evoca histórias inesperadas. “Acabei por ter o pedido do Presidente Joaquim Chissano para ficar em Moçambique, ele ofereceu-me algumas condições. Mas, nas minhas viagens, acabei também por conhecer o presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, e também me convidou para ficar. E tudo isto na mesma semana. Pensei que seria um sinal divino! E em termos práticos, nas matas teria protecção”. Após uma experiência no Niassa, já em 1994, Schwarz descobre um terreno no Dondo, província de Sofala. Começou a vender toros de madeira e investiu o lucro numa serração “porque podia ganhar mais vendendo a madeira tratada e serrada e reinvestir na criação de peças já com algum design”. Mas, voltando à agricultura que ainda hoje, no país, carece de desenvolvimento, Allan revela que procurou sempre incutir na comunidade local os princípios do reflorestamen-

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O Centro Florestal Mezimbite é o primeiro e maior programa de reflorestamento e viveiro de árvores indígenas em Moçambique. Em reconhecimento à sua abordagem inovadora tem sido destacado em eventos por todo o mundo, como na exposição Africa is Now, no Pavilhão Africano da Design Indaba Expo

to porque, relembra, “as pessoas tinham por hábito devastar a floresta, enriquecer os solos com queimadas, por exemplo, mas o abate de madeiras nobres também era elevado. Mas aqui plantamos árvores nativas como a umbila e a chanfuta e também outras que são leguminosas e fixam nitrogénio e outros nutrientes necessários para que a terra se mantenha fértil. Isto é o princípio da agricultura sustentável”. Negócio sustentável Com este principio, a comunidade, que já produzia mudas para o reflorestamento das matas, já não teria de ser nómada e começava a ganhar um salário, pequeno, mas suficiente para garantir algum do sustento da família. Entre a madeira vendida em bruto e a tratada há uma grande diferença, explica. “Um metro cúbico de madeira, mais ou menos três árvores em toros, é vendido a 14 dólares. Mas se fizermos mobílias e outras peças, com estas madeiras, são mais de dois mil dólares para o mesmo metro cúbico. Esta é a diferença entre vender toros www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2020


e comercializar a madeira trabalhada”. As contas feitas ajudam a perceber a importância da indústria de transformação, ainda que em pequena escala, sendo este valor também um incentivo para que não se abatam árvores indiscriminadamente e se alimente a sua reposição. Moçambique sustentável chega ao resto do mundo A floresta está cheia de frutos que escondem sementes, vagens que concentram fibras macias, raízes que servem para quase infinitos aproveitamentos, árvores que chegaram ao fim da vida e tombam, inertes, e plantas que produzem óleos para culinária e para embelezar a pele. Há também abelhas que deixam mel e cera. Com tanta matéria-prima é quase impossível avaliar a riqueza da cadeia de valor alimentada por um pequeno talhão de floresta. Por tudo isto, o Mezimbite Forest Center é o “chefe” de uma família de projectos, onde podemos encontrar mais de 20 sub-sectores, sendo aqui que nascem pulseiras e colares, autênticas jóias trabalhadas em madeira e marfim vegetal, este oriundo das vagens de uma árvore conhecida como samaúma, onde a fibra é utilizada para estofar almofadas e/ou colchões. Das suas sementes é possível gerar óleo alimentar. Mas são os acessórios que embelezam homens e mulheres os produtos que mais destaque têm alcançado além-fronteiras. Porque são oriundos de uma produção sustentável, vêm de um país emergente e têm um design que os torna únicos. Estas peças de arte viajam com frequência para a Europa e Estados Unidos e já passaram pela New York Fashion Week ou pelo Ethnic Fashion Week em Paris. São peças raras e únicas, produzidas pelas mãos de experientes artesãos formados por Allan. “Ao longo dos anos foram formadas cerca de 5 000 pessoas. E só neste momento trabalham aqui cerca de 120” revela o mestre, orgulhoso. Para além das pulseiras, há também peças decorativas para a casa e escritório, mobílias completas que podem ser encomendadas de acordo com a imaginação do mentor ou projectadas em conjunto. E há casas em madeira já com todo o recheio que podem servir para fornecer resorts ou quem queira uma casa de praia. Tudo isto pode ser expedido para qualquer parte de Moçambique, ou partir mundo fora para fazer as delícias de quem gosta de estar rodeado de www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2020

Claro que as peças que dali saem não são para todas as bolsas, mas existem alternativas. “Fizemos uma linha para o mercado local com preços acessíveis”

produtos handmade de forma sustentável. Claro que as peças que dali saem não são para todas as bolsas, mas existem alternativas. “Fizemos uma linha para o mercado local com preços acessíveis para que professores, médicos, enfermeiros e outros profissionais as possam adquirir. Moçambique tem madeiras que estão a ficar cada vez mais raras devido ao abate desenfreado. Os preços das peças também aumentam e é por isso que as produzidas com madeiras de alta qualidade não se conseguem vender em Moçambique e têm de ir para exportação”. Idai deixou marcas Apesar de todo o crescimento, Allan diz que agora precisa de abrandar, dado que após a devastação provocada pela grande tempestade do ano passado, o trabalho foi muito esgotante: “depois de termos conseguido recuperar 80% do que foi perdido após o ciclone Idai e depois desta época das chuvas vamos renovar o que ainda falta e vou começar a pensar em descansar. Já tenho colaboradores muito bons que me podem substituir e já comecei a transferir responsabilidades para os mestres que começaram como aprendizes. São eles agora os líderes dos projectos! Eu quero saber que morro, mas que o projecto continua. É este o objectivo também”, confidencia, olhando o horizonte com a certeza de trabalho realizado. Deste projecto que recupera os recursos florestais comunitários que dão trabalho e competências às gentes locais, já se formaram alguns mestres artesãos que hoje trabalham no estrangeiro (África do Sul e Itália). Perguntar a Allan o que representa, para si, a floresta, torna imperativa uma resposta pronta embalada em voz de felicidade: “A floresta é a minha casa! Eu vivo dentro da floresta há muitos anos... Recordo-me que, uma vez no Niassa, houve por lá um ciclone e eu fiquei três meses na floresta, imagine! As ruas e estradas estavam cortadas e acabei por viver ali só com o que a floresta me dava e olhe que não emagreci um único grama. A floresta dá-nos tudo o que precisamos para viver e ser felizes”. Resta acrescentar que este projecto é financeiramente sustentável, tendo, no início dos trabalhos, obtido apoios de pequenas ONG e alguns particulares. Criou raízes. E agora dá frutos. texto Cristina Freire fotografia D.R.

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lá Fora O difícil retorno dos dólares A Reserva Federal dos EUA, que suspendeu a venda de dólares a bancos sediados em Angola, em 2015, apoia a implementação de medidas para o restabelecimento dos bancos correspondentes

em angola, o tão aguardado regresso

dos dólares continua incerto e só a eficácia da implementação da legislação garantirá a “lufada de ar fresco” de que precisa o Executivo de João Lourenço depois da subida dos preços provocada pelo IVA. O regresso dos deputados à Assembleia Nacional, no dia 15 de Outubro, após as férias parlamentares, traz à tona um dos assuntos que mais incómodo causa à classe política. A Lei do Combate ao Branqueamento de Capitais, Financiamento do Terrorismo e da Proliferação de Armas de Destruição Massiva, aprovada em Agosto último, estabelece medidas que visam a conformação do actual regime jurídico à evolução das necessidades de prevenção e repressão do terrorismo e do controlo da proliferação de armas de destruição massiva, bem como às boas práticas internacionalmente aceites.

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64 milhões de kwanzas é o valor das multas aplicadas aos bancos devido à violação das normas de Combate ao Branqueamento de Capitais e ao Financiamento do Terrorismo

É que, no âmbito do Programa de Financiamento Ampliado do FMI, o Governo comprometeu-se a rever a Lei de Combate ao Branqueamento de Capitais e do Financiamento ao Terrorismo em linha com as normas internacionais, com destaque para a introdução das “Pessoas Politicamente Expostas” (PEP), um dos problemas recorrentemente apontados a Angola. Desta forma, será revista a Lei n.º 34/11, de 12 de Dezembro, a denominada Lei do Combate ao Branqueamento de Capitais e do Financiamento ao Terrorismo, que, no seu artigo 2, alínea l, reconhece como Pessoas Politicamente Expostas apenas “as pessoas singulares estrangeiras que desempenham, ou desempenharam até há um ano, cargos de natureza política ou pública, bem como os membros próximos da sua família e pessoas que reconhecidamente tenham com elas estreitas relações de natureza societária ou comercial”. A revisão desta lei, agora com um quadro mais abrangente em relação às PEP, é uma das metas estruturais previstas no Programa de Financiamento Ampliado acordado com o FMI, que precisa de ser aprovada até ao final do ano. A revisão da Lei n.º 34/11 é imposta por parceiros internacionais porque a sua vigência não impediu que o sector bancário acolhesse maioritariamente governantes e seus parentes, sem a devida transparência sobre a origem dos fundos. A Reserva Federal dos Estados Unidos, que suspendeu a venda de dólares a bancos sediados em Angola em 2015, por sistemáticas violações das regras de regulação do sector e suspeitas de que o país estivesse a financiar redes de terrorismo, é uma das instituições mais fortes que impõem mudanças. Sem as devidas alterações no actual quadro, o plano para que os bancos correspondentes “um dia” voltem a vender dólares a Angola ficará cada vez mais adiado. Autor do livro “Crime de Branqueamento de Capitais e Financiamento ao Terrorismo – A Realidade Angolana”, resultante do seu trabalho de mestrado, Benja Satula reconhece que, após a alteração, as transacções das PEP nacionais estarão sujeitas a um maior escrutínio, passando a ser obrigadas a justificar muito mais que um cidadão comum. O jurista, que é também director do Centro de Investigação do Direito, explica que, até 2014, o país tinha um cenário, do ponto de vista formal, “robusto” de combate e prevenção ao branqueamento de capitais, mas pecava na efectivação. www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2020


“O branqueamento de capitais passa pelas instituições financeiras e tínhamos um cenário, a que chamo de fusões e confusões, em que os políticos eram os maiores empresários, accionistas das instituições financeiras, os principais clientes do Estado e e das instituições financeiras”. Origem das fortunas mantém-se desconhecida Avisado, e ciente das medidas que se impunham para o regresso dos dólares, João Lourenço, apontado como o candidato do seu partido MPLA, deixou em 2017 de fazer parte da estrutura accionista do Banco Sol, colocando as suas acções numa sociedade anónima registada em nome de cinco pessoas, distantes do seu círculo familiar, segundo apurou recentemente o semanário português “Expresso”. Coutinho Nobre Miguel, presidente do conselho de administração e administrador não-executivo do Banco Sol, explicou à publicação que, apesar de não ter sido publicitada, “a saída do accionista João Lourenço foi discutida internamente”, alienando assim a sua participação de 5,42% que detinha desde 2011, não se conhecendo os meandros da sua entrada na estrutura. Confiante, João Lourenço, que discursava no Conselho de Relações Exteriores na cidade de Nova Iorque, onde participava na 74ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas, assegurou a implementação de novas medidas de combate à lavagem de dinheiro e para recuperar activos que foram transferidos ilegalmente para países estrangeiros. Além da revisão da Lei n.º 34/11, o Executivo de João Lourenço prevê reforçar a prevenção e repressão dos crimes de corrupção e a reformulação do Código Penal de Angola, com vista a incluir um novo capítulo sobre crimes económicos e financeiros com punição mais severa por corrupção activa e passiva. O economista e jornalista Carlos Rosado de Carvalho não tem dúvidas sobre a necessidade de um maior escrutínio sobre a origem dos dinheiros depositados por entidades públicas e privadas. “Sabemos que há branqueamento de capitais, mas não há resultados em concreto”, refere. O tão aguardado regresso dos dólares A Reserva Federal dos EUA incluiu o afastamento imediato das PEP do controlo dos bancos cotmerciais entre as exigências para acabar com as restrições do dólar a Angola, de acordo com a decisão do organismo, nos encontros que manteve com o Presidente da República www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2020

Insuficiências e multas Apesar de algumas medidas em curso e da pressão internacional, a divisão de Prevenção de Branqueamento de Capitais do BNA reconheceu, recentemente, que algumas instituições bancárias do país ainda apresentam “insuficiências”, nomeadamente a “inexistência da declaração de origem e destino de fundos” e a “matriz de risco não implementada”. É assim que dos 343 processos sancionatórios a instituições financeiras levados a cabo pelo Banco Central, no primeiro semestre do ano, dezenas de infracções eram relativas às normas de Combate ao Branqueamento de Capitais e ao Financiamento do Terrorismo, que resultaram em multas.

e a sua equipa, em Nova Iorque. A João Lourenço coube apenas garantir que o documento deve estar pronto e aprovado pela Assembleia Nacional. Por outro lado, de acordo com dados da Câmara de Comércio EUA-Angola (USACC), há bancos americanos com intenções de abrirem representações em Angola e há mais bancos internacionais a pesquisarem o mercado devido ao clima de confiança. Mas tudo está dependente da alteração do quadro legislativo. E isso ficou recentemente claro. É que a delegação da Reserva Federal dos EUA, que esteve em Junho no país, garantiu que a retoma da correspondência entre bancos angolanos e americanos, suspensa em 2015, está a ser analisada pelos Governos de Washington e de Luanda, sem que esteja ainda marcada qualquer data. Novas medidas em 2021 Mas nem tudo se resume ao FMI e à Reserva Federal americana. Angola tem outros compromissos. Ao Grupo de Acção Financeira sobre o Branqueamento de Capitais (GAFI), organização internacional que define os padrões normativos para as iniciativas anti-branqueamento de capitais (ABC), o país deverá apresentar um relatório sobre a implementação das recomendações feitas nos últimos anos aos 34 países membros que ratifiquem e apliquem a Convenção Internacional das

Nações Unidas para a Eliminação do Financiamento do Terrorismo, de 1999. O BNA e a Unidade de Informação Financeira estão alinhados na preparação da avaliação mútua do sistema de prevenção e combate ao branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo, programa a ser submetido a Angola em 2021 pelo Grupo Contra o Branqueamento de Capitais e Financiamento ao Terrorismo para a África Oriental e Austral. Angola começou já a preparar o exercício de Avaliação Nacional de Risco, que é a primeira das novas recomendações do GAFI. Depois, seguir-se-ão outras medidas, entre as quais a adequação legislativa e institucional. À margem de uma conferência sobre a prevenção e o combate ao branqueamento de capitais, realizada pelo BNA em Setembro, a directora da Unidade de Informação Financeira, Francisca de Brito, confirmou que Angola está a preparar-se para a avaliação mútua do seu sistema financeiro, iniciativa a ter lugar já em 2021, e espera deste processo um bom resultado, daí a adopção destas medidas. Para a responsável, a revisão e aplicação eficaz da Lei de Combate ao Branqueamento de Capitais, Financiamento ao Terrorismo e a Proliferação de Armas de Destruição Massiva, em curso no país, vai tornar o sistema financeiro nacional robusto e credível, e será fundamental para a avaliação a que a nação será submetida, o que justifica a necessidade de sensibilizar previamente todas as instituições que integram o sistema de prevenção e combate. Enquanto isso, o Executivo de João Lourenço vai dando sinais de cumprir algumas recomendações. Prevê, por exemplo, passar a divulgar, até 2020, o património dos titulares de cargos públicos, de forma a “facilitar a identificação” de PEP, de acordo com um Decreto Presidencial. A medida consta no Plano de Desenvolvimento do Sistema Financeiro (PDSF) para o período 2018-2022, apreciado pela comissão económica do Conselho de Ministros de Angola em Junho do ano passado e publicado em Março. O PSDF prevê ainda, entre outras medidas, a “manutenção da estabilidade financeira” através do fortalecimento da supervisão e regulamentação do sistema financeiro.

texto Adão Gil Fotografia istockphoto, carlos aguiar e d.r.

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NOVOS ÂNGULOS

2020, o ano da confirmação? Pedro Cativelos • Director Executivo da Economia & Mercado

dizem-nos as notícias que um grupo de empresários mo-

çambicanos criou uma Câmara de Petróleo e Gás, a CPGM, com o intuito de aproveitar as oportunidades que esta indústria vai proporcionar. “A Câmara do Petróleo e Gás será uma associação não lucrativa com o objectivo de criar uma plataforma onde as pequenas e médias empresas possam aglutinar-se e preparar-se para a indústria de petróleo no país”, disse Florival Mucave, presidente da CPGM. A CGPM conta, para já, com 27 empresas, 19 das quais moçambicanas, e surge para colmatar um dos maiores desafios para os empresários nacionais do sector: a falta de conhecimento sobre as oportunidades do oil & gas. Não é só esse o desafio, longe disso. Conversando com empresários, gestores e gente com negócios em várias áreas de actividade, percebe-se que, ao mesmo tempo que o optimismo se generaliza com o que aí vem ao nível do crescimento, alastra também uma preocupação generalizada com a falta de reconhecimento de muitos agentes económicos em relação a um terreno virgem, em Moçambique. Depois, e na verdade, as maiores oportunidades deste enorme sector que está a nascer a Norte, estão já tomadas por grandes corporações internacionais. Um exemplo serve para ilustrar esta realidade: a construção de todo o empreendimento da Área 4 (orçado em cerca de 30 mil milhões de dólares), liderada pela Eni e Exxon Mobil, no âmbito dos contratos de adjudicação assinados em Outubro, em Maputo, estará a cargo do consórcio JGC, Fluor e Technip FMC. Outro exemplo: em Junho, nos dias que se seguiram à Decisão Final de Investimento da Área 1, liderada pela Anadarko, foram anunciadas várias adjudicações de serviços à exploração de GNL a empresas estrangeiras. E nem a banca nacional tem a liquidez ou a dimensão necessárias para entrar, sequer, numa primeira linha de financiamentos a estes grandes projectos. Tudo isto é sabido já há muito tempo. E assim é porque as grandes decisões (as que movimentam os

maiores investimentos) passam pelas sedes destas multinacionais e não pelas delegações locais. E depois, porque a dimensão dos investimentos (quatro a cinco vezes superiores a todo o PIB nacional anual) requer empresas que tenham músculo e histórico numa área que em Moçambique não existe. Por isso, o grande desafio para 2020, diria, passa por começar a criar conhecimento num sector que será vital para o futuro da economia nacional e, por inerência, para o país e para todos os moçambicanos. Sabemos que as empresas nacionais terão de se posicionar numa segunda, terceira ou quarta linhas de toda esta cadeia de valor. Até pode parecer um objectivo pouco ambicioso, mas não é. Longe disso. É realista apenas. E pode render bons frutos no futuro se for visto como uma verdadeira e única oportunidade de crescimento. Há estimativas que indicam que, de todo o investimento directo já anunciado para os próximos cinco anos no sector do oil & gas, até 2025, que deverá ser de entre 50 a 60 mil milhões de dólares, apenas 10% desse valor irá ser, de facto, “consumido” por empresas nacionais. Dada a dimensão da economia nacional, até que não é mau. Podia ser diferente se ela estivesse mais adiantada no seu estágio evolutivo. Mas é o que é. E há que aproveitar. No melhor sentido, claro. Porque, ainda assim, esses tais 10% só serão, de facto, uma mola impulsionadora de um verdadeiro tecido empresarial profissional em áreas como os serviços, o agro-negócio, a indústria e até o turismo se se começar, desde já, a operar a mudança. Começando por preparar quadros de qualidade, certificando empresas em procedimentos de gestão, qualificando e implementando padrões de serviço que estejam de acordo com o que se faz de melhor num meio tão competitivo como este. Porque aumentar a receita nem sempre significa fazer crescer a exigência, 2020 não pode iniciar uma década de repetição. Mas de evolução e confirmação.

Há estimativas que indicam que, de todo o investimento previsto para os próximos cinco anos, até 2025, e que deverá ser de entre 50 a 60 mil milhões de dólares, apenas 10% desse valor irá ser, de facto, “consumido” por empresas nacionais. Parece pouco mas não é

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ócio

(neg)ócio s.m. do latim negação do ócio

60 Desta vez, a sugestão de Escape levanos até ao Sul de Angola, e ao fascinante Deserto do Namibe

g

e 62 À descoberta do Galeria, um espaço com características únicas em Maputo

63 Uma degustação requintada de escolhas da Casta Malbec


Angola

e

Namibe

Entre o deserto a terra onde o deserto encontra o mar é uma das

mais visitadas províncias de Angola graças às suas imensas potencialidades turísticas. Acessível por estrada é, no entanto, mais simples de visitar de avião, já que a viagem de automóvel é demorada. A companhia aérea angolana TAAG assegura ligações domésticas entre Luanda e o Namibe aos domingos, segundas, quintas e sextas-feiras, sendo que voa também de Maputo para Luanda três vezes por semana, às segundas, quartas e sextas-feiras. Aproveite a escala na capital angolana para conhecer melhor a renovada marginal da cidade, passear entre o bulício dos candongueiros e das zungueiras na baixa e tomar uma bebida refrescante numa esplanada da Ilha do Cabo. A viagem de Luanda até ao aeroporto Yury Gagarin dura cerca de 1h20 e os últimos minutos de voo já a justificam.

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Sobrevoar o deserto, observar os leitos dos rios já desaparecidos e os desfiladeiros milenares é um espectáculo difícil de esquecer. O percurso entre o aeroporto e a cidade de Moçâmedes permite ter uma ideia da paisagem que vai encontrar frequentemente nos próximos dias: uma planície arenosa, pontilhada aqui e ali por arbustos baixos e alguma vegetação rasteira, rasgada, de vez em quando, por seixos gigantes que “nascem” do chão. A pouco e pouco as casas vão-se multiplicando e, em breves minutos, estamos no centro de uma cidade que nos remete para épocas passadas graças a vários edifícios representativos da arquitectura colonial. Outros, mais modernos do final da época colonial, surpreendem, como o mercado, o Cine Impala ou ainda a arrojada estrutura, nunca terminada, do Cine-Estúdio, que nunca chegou a sê-lo, e que

e o mar

lembra uma welwitschia – uma espécie de planta que só existe no deserto do Namibe – de betão. Na marginal da Baía de Moçâmedes, que alberga o porto da cidade (o terceiro maior do país, depois dos de Luanda e do Lobito), podemos visitar as grutas do Morro da Torre do Tombo em cujas paredes ficou inscrita a história dos primeiros colonos que aqui chegaram e ali se abrigaram. O passeio pela marginal inclui, obrigatoriamente, uma paragem numa esplanada para nos deliciarmos com um dos famosos caranguejos do Namibe, acompanhado por uma bebida bem fresca. Nos arredores da cidade, a Norte, atravessamos o habitualmente seco, mas muito fértil, leito do rio Bero, para visitar a zona das velhas “hortas”, onde ainda hoje dão fruto espécies tão incomuns por estas www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2020


paragens como a oliveira e a vinha, e rumamos depois ao farol Giraúl, que se ergue imponente sobre o cenário único do abandonado porto mineraleiro de Saco-Mar, antes de mergulharmos em algumas das praias mais bonitas da região, como as da Baía das Pipas ou do Mucuio. o fascínio do deserto

De manhã cedo rumamos a Sul e, a meia dúzia de quilómetros do centro da cidade, paramos na Praia Amélia para visitar a antiga capela ali erigida em honra a Nossa Senhora dos Remédios. Retomamos a viagem para, pouco depois, encostarmos o carro na berma da estrada para prestar homenagem ao escritor Ruy Duarte de Carvalho, colocando uma pedra no Memorial construído à entrada do deserto que tanto amou e onde foram depositadas as suas cinzas. A partir deste marco começamos a encontrar as velhíssimas welwitschias mirabilis, plantas que escolheram estas terras inóspitas para florescerem. Alguns quilómetros à frente entramos pelo deserto em busca da Lagoa dos Arcos, um oásis que na época das chuvas se transforma numa imensa lagoa. Estamos já perto dos limites do Parque Nacional do Iona, uma das zonas mais agrestes do país e do deserto mais antigo do mundo, que dá o nome à província. Uma viagem mais demorada oferece aventuras únicas aos mais ousados, como cruzar o deserto em direcção à foz do Cunene, pernoitando sob um magnífico céu estrelado, para regressar a Moçâmedes pelo arriscado caminho costeiro, contornando dunas traiçoeiras e passando em frente à Baía dos Tigres, rota que só deve ser opção na companhia de um guia que conheça bem a região. texto Susana Gonçalves fotografia Vasco Célio

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observar os leitos de rios esquecidos e os desfiladeiros milenares é um espectáculo natural difícil de esquecer Roteiro Como ir

Há voos de ligação entre Maputo e Luanda três vezes por semana, numa viagem de cerca de quatro horas. De Luanda poderá seguir para o Namibe por via terrestre ou através de um voo doméstico. Onde dormir

A oferta hoteleira no Namibe é variada e poderá escolher entre dormir sob o céu no meio do deserto, no Omauha Lodge (www.omauha.com); ao som das ondas, na praia, no Flamingo Lodge (Facebook Flamingo Lodge); ou na Vila Doroteia (Facebook Vila Doroteia); ou com todo o conforto de um hotel clássico, no centro da cidade, no Hotel Chik Chik (Facebook Hotel Chik Chik Namibe). O que fazer

Percorrer as picadas do deserto numa viatura 4X4 em busca da famosa welwitschia, passear pelas ruas da cidade e mergulhar sempre que a vontade comandar numa das muitas praias ao longo de toda a costa.

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Porto de Maputo

info@galeria. co.mz

g concebido para ser um espaço de atracção turística

(40 mil turistas escalam, em média, por ano, o Porto de Maputo), o “Galeria” resulta da recuperação de uma antiga estrutura portuária e apresenta-se como um espaço multiusos com características únicas na cidade, pois é, simultaneamente, um espaço de cultura (com uma programação aberta às diferentes expressões artísticas e criativas), de restauração e aberto a todo o tipo de eventos (conferências, encontros empresariais, etc.). Esta iniciativa, que constitui, por si só, um importante contributo para a revitalização da baixa da cidade, poderá vir a ser, um dos pólos mais dinâmicos desta zona se se concretizarem os planos existentes para a sua recuperação. Com uma programação cultural intensa, especialmente na área da música, a “Galeria” abriu as suas portas com uma exposição de Joca Faria intitulada “Transições - Um Porto que Nunca Dorme” (patente até 15 de Janeiro).

Galeria, um espaço de A proposta gastronómica do restaurante é extensa, variada e aliciante. Nas entradas destacamos a Salada de Atum Fresco, o Carpaccio de Avestruz, o Camarão com Tártaro e as Lulas com molho de Gengibre e Abacaxi. Na lista dos peixes vale a pena experimentar o Filete de Peixe com risotto de bouillabaisse (um dos pratos clássicos da gastronomia francesa com origem na região da Provença e que se tornou um ex-libris da cidade de Marselha). Originalmente é uma sopa de pescadores, que aproveitavam as sobras de peixes e crustáceos não vendidos no mercado e as misturavam num caldo temperado com açafrão, funcho e outras ervas aromáticas, a bouillabaisse tornou-se, com o decorrer dos anos, num dos pratos mais sofisticados da culinária francesa. Nas carnes, as nossas sugestões vão pa-

A abertura da “Galeria”, no Porto de Maputo, foi um dos eventos mais marcantes do ano de 2019

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características

únicas em Maputo ra o Peito de Pato com Raspa de Laranja e Puré de Batata Parmesão, o Olho de Lombo com Batata Assada e o Rack de Cordeiro com Couscous e Espargos Frescos (este prato, normalmente designado de french rack, corresponde, no essencial, ao conhecido carré de cordeiro, um prato típico da gastronomia francesa que se tornou mundialmente famoso, mas que, na verdade, é originário do Médio Oriente e da região mediterrânica. É um prato sofisticado, pois a sua base é o lombo do cordeiro cuja textura delicada lhe confere um sabor marcante). Ainda nas carnes, uma referência para a Carne de Tomahawk com Feijão e Batata Assada. O Tomahawk, aparentado das famosas ribs, é um dos cortes mais fáceis de serem identificados, pois apresenta um grande osso da costela,

o que o tornou conhecido como “a carne dos Flintstones”, e lembra um pequeno machado da tribo de índios americanos chamados Tomahawk. O corte é retirado da parte dianteira do lombo do boi e, quando possível, extraem-se apenas quatro peças por cada animal. O Tomahawk é, basicamente, o mesmo corte do prime rib, porém com um osso maior (chegando a 30 cm). Entre as sobremesas destacamos a Abóbora Defumada servida com Sorvete e amêndoas crocantes, o Caviar de Mirtilo com Bolo de Queijo caseiro e a sempre inesquecível e deliciosa Pêra de Vinho Tinto com Canela e Flor de Anis. texto rui Trindade fotografia Jay Garrido

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obtido através do método clássico estagiou nas Caves do Mosteiro Cartuxa

Argento Single Vineyard Las Cerezas 2015 paÍs Argentina Região Mendoza Casta Malbec Cor Intensa com tons que variam entre vermelho rubi e violáceo Aroma Marcante com notas de frutas negras e delicadas nuances florais de violeta e especiarias, lembrando curry Paladar Taninos macios e aveludados. Notas frutadas sustentadas por uma fina acidez que confere vivacidade e suculência Final Longo marcado por subtis nuances minerais Teor alcoólico 14,5%

Tomero Reserva Malbec 2016 paÍs Argentina Região Mendoza Casta Malbec Cor Vermelho rubi, intenso, brilhante e profundo Aroma Marcante com notas de baunilha, geleia de cassis e canela, seguidas por nuances de frutas negras maduras, tais como ameixa e amora Paladar Textura macia com taninos maduros a proporcionar grande volume de boca e que dão suporte ao carácter frutado Final Longo com nuances de frutas negras e baunilha. Teor alcoólico 14,5%

Alta Vista Classic Reserva Malbec 2016 paÍs Argentina Região Mendoza Casta Malbec Cor Vermelho rubi Aroma Intenso, com destaque para frutas vermelhas, com toques de baunilha e subtis notas de café Paladar Jovem e impetuoso, presença de fruta e madeira através de taninos doces e redondos Final Longo e requintado Teor alcoólico 14% www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2020

Casta Malbec Argento Selección Malbec 2014 País

Argentina Região

Mendoza Casta

Malbec Cor

Vermelho rubi com reflexos violáceos Aroma

Intenso, lembrando ameixa e cerejas negras. Toques florais de violeta Paladar

Frutado com notas amadeiradas e taninos macios Final

Elegante e requintado Teor alcoólico

13,5%

Um símbolo da excelência na argentina, a região de Mendoza, locali-

zada ao pé da Cordilheira dos Andes, tem a sua história profundamente ligada ao cultivo das uvas e à produção de vinhos. Fundada em 1561, é hoje considerada a capital dos vinhos argentinos, responsável por mais de 70% da produção nacional. As primeiras mudas de videiras plantadas na cidade vieram do Chile, mas foi somente com a chegada de imigrantes alemães, espanhóis e italianos que o cultivo da uva cresceu e se desenvolveu. Existe uma infinidade de uvas produzidas na cidade de Mendoza, mas as que se adaptam melhor são as clássicas Malbec, Cabernet Sauvignon e Chardonnay. A segunda região mais importante é San Juan e as duas regiões (Mendoza e San Juan) concentram cerca de 85% da produção do vinho na Argentina. Um dos aspectos que importa destacar é a enorme variedade de castas existentes o que permite produzir, praticamente, todo o tipo de vinhos que possamos imaginar. Entre todas as castas, a Malbec é, provavelmente, aquela que está na base dos mais famosos vinhos argentinos. Originária do Sudoeste da França, a uva Malbec foi trazida para a Argentina em 1853 pelo engenheiro agrónomo Michel Pouget, a pedido do Presidente do país na época, Domingo Sarmiento. No seu país de origem, a Malbec não era muito cultivada, sendo preterida por outras castas. Entretanto, a uva adaptou-se tão bem à Argentina que, em pouco tempo, o país já era considerado um dos principais produtores de Malbec do mundo, gerando rótulos muito melhores do que os produzidos no seu país de origem, a França. A nossa principal sugestão deste mês vai para o Argento Selección Malbec 2014. De uma forma geral, a maior parte dos vinhos incluídos no rótulo Argento Selección, produzidos na região de Mendoza, apresentam as características típicas desta região: são vinhos elegantes, nos quais estão presentes os sabores de frutas frescas, evidenciam uma textura macia na boca de onde sobressaiem as características suaves do carvalho, o que lhes confere um estilo agradável e refinado. O Argento Selección Malbec 2014 não é excepção e constitui um excelente exemplar da qualidade dos vinhos argentinos da casta Malbec. A Argentina é hoje o quinto maior produtor de vinhos do mundo (França, Itália, Espanha e Estados Unidos ocupam as primeiras posições).

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música filmes livros

EXPOSIÇÕES ÁFRICA DO SUL Why Should I Hesitate: Putting Drawings to Work William Kentridge

Zeitz Museum of Contemporary Art Africa (Cape Town) Patente até 23 de Março Mais informação em https:// zeitzmocaa.museum/ Caras Nelly Guambe

Stevenson (Joanesburgo) Patente até 24 de Janeiro ANGOLA Intersections Within the Global South

Taxidermia Do Futuro Grada Kilomba, Kiluanji Kia Henda, Mónica de Miranda, Januário Jano, Alida Rodrigues, Keyezua, Teresa Firmino e Helena Uambembe Curadoria: Paula Nascimento e Bruno Leitão

Museu Nacional de História Natural (Luanda) Patente até 16 de Janeiro GANA

James Barnor: A Retrospective) Exposição de fotografia Nubuke Foundation (Accra) Patente até 10 de Maio Mais informação em https:// www.nubukefoundation.org/ index.php MALI

Alida Rodrigues (Angola / Reino Unido), Andrew Tshabangu (África do Sul), Pedro Pires (Angola / Portugal), Vivien Kohler (África do Sul), Bete Marques (Brasil), Gonçalo Mabunda (Moçambique), Stephané E. Conradie (Namíbia/África do Sul), Januário Jano (Angola), Dillon Marsh (África do Sul), Patrick Bongoy (RDC), Saïdo Dicko (Burkina Faso), Nelo Teixeira (Angola), Lizette Chimirre (Moçambique / África do Sul), Luís Damião (Angola), Teresa Firmino (Angola / África do Sul) e Rómulo Santa Rita (Angola / Moçambique).

THIS IS NOT A WHITE CUBE (Luanda) Patente até 16 de Janeiro Mais informação em: https:// tinawc.com/en/

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Rencontres de Bamako – Biennale Africaine de la Photographie Bamako Patente até 31 de Janeiro Mais informação em www. rencontres-bamako.com NIGÉRIA Diaspora at Home Nidhal Chamekh, Bady Dalloul, Em’kal Eyongakpa, Rahima Gambo, Laura Henno, Abraham Oghobase, Wuru Natasha Ogunji, Chloé Quenum, Jumana Manna e Marie Voignie

The Centre for Contemporary Art (Lagos) Patente até 31 de Janeiro Mais informação em https://kadist.org/program/lagos-nigeria-diaspora-at-home/

• em destaque Música

Livros

Live in Lesotho Hugh Masekela Ed. Matsuli Music

The New Black Vanguard: Photography between Art and Fashion Antwaun Sargent Ed. Aperture Foundation 2019

Foi a 28 de Dezembro de 1980 que Hugh Masekela e Miriam Makeba deram um concerto no Lesotho que se tornou lendário por ter constituído, na época, um verdadeiro desafio ao regime sul-africano e à sua política de apartheid. O concerto, realizado perto da fronteira da África do Sul, teve lugar num estádio e foi assistido por cerca de 75 mil pessoas. Assim que a ideia do concerto começou a tomar forma (Hugh Masekela e Miriam Makeba viviam há muito no exílio) houve, desde logo, intenção de o gravar. Mas várias dificuldades e peripécias fizeram com que apenas fosse possível uma primeira edição de 150 exemplares de “Live in Lesotho” e, posteriormente, uma segunda que não chegou sequer aos 500 exemplares. O disco – que nunca chegou a ter distribuição internacional apesar de, na época, tanto Hugh Masekela e Miriam Makeba serem figuras de primeiro plano a nível mundial – foi ganhando, ao longo dos anos, um estatuto “lendário” apesar de poucos o terem ouvido e muitos considerarem que a gravação se tinha perdido. Depois de vários anos de pesquisa, o disco acaba de ser editado por iniciativa da Matsuli Music. A edição inclui ainda um conjunto de fotografias inéditas e um texto de Atiyyah Khan.

Coordenado por Antwaun Sargent, curador, escritor, crítico e colaborador regular de publicações como New Yorker, New York Times, W, Vogue e VICE, o livro “The New Black Vanguard: Photography between Art and Fashion” reúne o trabalho de cerca de 40 fotógrafos emergentes afro-americanos e do continente africano (e da sua diáspora). Ente eles destacam-se Campbell Addy, Arielle Bobb-Willis, Micaiah Carter, Awol Erizku, Nadine Ijewere, Quil Lemons, Namsa Leuba, Renell Medrano, Tyler Mitchell, Jamal Nxedlana, Daniel Obasi, Ruth Ossai, Adrienne Raquel, Dana Scruggs e Stephen Tayo. O livro deu, entretanto, origem a uma exposição na Aperture Foundation, em Nova Iorque (EUA), que estará aberta ao público até 18 de Janeiro.

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Galeria do Camões – Centro Cultural Português em Maputo

De 13 de Janeiro a 21 de Fevereiro de 2020

Português de Moçambique no Caleidoscópio para celebrar os dez anos

de actividade da Cátedra de Português Língua Segunda e Estrangeira, sediada na Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane, está patente, no Camões – Centro Cultural Português em Maputo, a exposição “Português de Moçambique no Caleidoscópio”. A cátedra de “Português Língua Segunda e Estrangeira” surgiu no âmbito de um protocolo de cooperação, assinado entre a Universidade Eduardo Mondlane e o Camões - Instituto da Cooperação e da Língua. Esta cátedra foi concebida como um programa de investigação que visa contribuir para a difusão e promoção de estudos sobre a língua portuguesa, assim como para a produção de ferramentas e materiais para o seu ensino como língua não materna, e constitui, a primeira grande iniciativa no sentido de se criarem condições para o enquadramento e valorização de uma equi-

pa de docentes da UEM que desenvolvem pesquisa na área da língua portuguesa. O desenho das linhas de actuação e pesquisa foi norteado por uma preocupação central: enquadrar e potenciar os recursos disponíveis na área da língua portuguesa. A exposição “Português de Moçambique no Caleidoscópio” pretende divulgar informação sobre diferentes facetas do Português em Moçambique (histórica, social, linguística), assim como sobre as actividades desenvolvidas pela equipa da Cátedra ao longo deste período. Procurando sair das fronteiras da academia, a exposição está concebida de forma a transmitir esta informação num âmbito agradável e acessível a um público de diferentes estratos sociais e graus de instrução educativa.

Exposição retrata a riqueza linguística de Moçambique www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2020

O título da exposição, “Português de Moçambique no Caleidoscópio”, pretende, desta forma, sintetizar o espírito que lhe está subjacente: tal como num caleidoscópio, a informação foi distribuída em diferentes fragmentos que, em conjunto e com recurso a suportes materiais e tecnológicos diversificados – mapas, gráficos, fotografias, cartoons, gravações áudio, posters – seja capaz de cativar os visitantes e de os sensibilizar para a imensa riqueza linguística deste país. Em última instância, nesta exposição, trata-se de celebrar a criatividade linguística da comunidade moçambicana, que emerge e se manifesta, de forma espontânea, na comunicação diária dos seus cidadãos. A exposição vai estar patente na Galeria do Camões - Centro Cultural Português em Maputo entre 13 de Janeiro a 21 de Fevereiro 2020. Prevê-se que, posteriormente, a exposição se desloque para outras regiões do país e do estrangeiro.

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Single Drive RWD

Eléctrica com autonomia estimada de 400 km e uma aceleração de 0-96 km/h em menos de 6,5 segundos

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Cybertruck a pick-up do século XXI com um design que parece saído de um filme de ficção científica, a Cybertruck vai concorrer num dos segmentos de mercado mais competitivos, onde pontuam marcas como a Ford, a GM e a Chrysler. Mas diz quem já experimentou a pick-up da Tesla, esta vai ser um concorrente sério. A confirmar esta opinião está o facto de, imediamente após a sua apresentação, a empresa ter recebido 146 mil encomendas (só para os EUA). Se a estética futurista da Cybertruck – a lembrar as viaturas do filme “Blade Runner” – é o elemento disruptivo que mais depressa impressiona, a verdade é que está longe de ser o único a marcar a diferença. A carroçaria vem logo a seguir: feita de uma liga de aço inox ultra resistente, parece capaz de aguentar todo o tipo de impactos (até, segunda a Tesla, de disparos de uma pistola de calibre de 9 mm). De facto, como Elon Musk

explicou, o material usado é similar ao que a Space X (a empresa criada por Musk para levar a Humanidade à Lua e a Marte) desenvolveu para os seus foguetões. Mas vejamos algumas das suas características gerais. Com 5,88 metros de comprimento, mais de dois metros de largura e 1,9 metros de altura, a Cybertruck é uma pick-up portentosa. Tem capacidade para seis adultos, 1 600 kg de carga e poder para rebocar até 6 300 kg. Mas um dos elementos que deixou a maior parte dos observadores boquiabertos foram as suas prestações: acelerações entre os 6,5 e os 2,9 segundos dos 0-96 km/h, para um veículo deste tipo, é algo nunca visto. Durante a apre-

sentação, a Tesla revelou ainda quais serão os tipos de modelos que irão estar disponíveis no mercado (a partir do segundo semestre de 2020 e em 2021). A versão de entrada, designada Single Drive RWD, tem apenas um motor e tracção traseira. A autonomia estimada é de 400 km e uma aceleração de 096 km/h em menos de 6,5 segundos, rebocando até 3 400 kg. O Cybertruck Dual Motor tem tracção integral graças aos seus dois motores. A autonomia estimada sobe para mais de 480 km. Cumprirá em menos de 4,5 segundos os 0-96 km/h e poderá rebocar até 4 500 kg. A versão Tri Motor será a mais poderosa. Os seus três motores vão garantir uma aceleração de 0-96 km/h em cerca de 2,9 segundos. e reforçar a posição de liderança da Tesla no mercado.

Em final de Novembro passado, a Tesla apresentou finalmente a sua muito aguardada pick-up eléctrica

www.economiaemercado.co.mz | Janeiro 2020




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