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“Vamos Começar a Produzir Energia em 2022” Quem tem gás e recursos hídricos tem as melhores condições de eliminar o défice energético e fazer uma transição energética sustentável. Não há aqui qualquer novidade, mas a relevância desta teoria está no facto de já estar a transitar para a realidade, de acordo com o Country Director da Globeleq Moçambique, Samir Salé, que antevê grandes investimentos a este nível, além das centrais eléctricas de Temane e de Cuamba TEXTO Pedro Cativelos • FOTOGRAFIA D.R.
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Globeleq Moçambique começou a operar no ano passado em Moçambique e pertence à Globeleq Africa Ltd., uma empresa com base em Londres, Reino Unido, e que pertence a dois fundos de investimento de dois governos, algo incomum, diga-se, nomeadamente o fundo de investimento britânico, que detém 70% da empresa, e o Norfund (Noruega), o maior fundo de investimento do mundo, que tem os restantes 30%. O seu grande foco é, essencialmente, desenvolver, construir e operar centrais eléctricas com foco exclusivo em África, estando presente também em países como a Costa do Marfim, Camarões, Quénia, África do Sul, Tanzânia e, desde o ano passado, no Egipto e em Moçambique. No País, a oportunidade está no facto de ter bastante população sem acesso a electricidade (a taxa de electrificação é de cerca de 35%). Mas há também uma série de desafios. Oportunidades à parte, Samir Salé também faz menção a uma série de desafios que o mercado impõe, que são a dispersão populacional e o custo das infra-estruturas necessárias para a transmissão e distribuição de electricidade. Ou seja, é preciso admitir que para fazer chegar a electricidade a todo o País é necessário algum esforço, também na engenharia comercial. Mas, onde está o potencial do País, quais são e para onde nos vão levar os projectos de produção de electricidade através das renováveis?
São parceiros da Electricidade de Moçambique (EDM) nos projectos que desenvolvem e parece que estão preocupados também com os aspectos da sustentabilidade desta empresa. Vocês têm também de pensar nisso ou
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só se focam em produzir?
Nós temos de pensar nisso porque é um aspecto que cria risco comercial. Porquê? Se, por exemplo, eu vendo electricidade à EDM e esta não consegue cobrar porque os consumidores não conseguem pagar, em última instância tenho prejuízo. Então, temos de pensar nisso. Mas a grande vantagem que temos é que, como os nossos stakeholders têm foco no desenvolvimento, assumimos mais um pouco do risco comercial comparado com outros developers de elec-
O projecto âncora é o da central térmica de Temane, com 450 MW, através do gás produzido nos campos de Inhassoro e Temane, e que será consumido primeiramente em Moçambique tricidade que, provavelmente, não assumiriam o risco, como os privados que têm interesse apenas comercial.
Em Moçambique há vários projectos em análise, mas há um maior que é a central térmica. Queria que me falasse um pouco mais desse mapa e sobre as oportunidades que traz… O foco da Globeleq Moçambique é, essencialmnente, renováveis e gás a curto e médio prazo. Moçambique tem potencial para ambos: tem muito gás na bacia
do Rovuma, que fará sentido considerar para monetizar através da produção de electricidade, e depois há uma série de oportunidades na área das renováveis. A nossa entrada dá-se com dois projectos: o projecto âncora é o da central térmica de Temane na província de Inhambane, com 450 MW, através do gás produzido nos campos de Inhassoro e Temane, e que será consumido primeiramente em Moçambique. E esse projecto é transformador para o País por algumas razões. Primeiro, é o maior projecto de geração de electricidade desde a independência, depois de Cahora Bassa. Segundo, com base nele, Moçambique conseguiu atrair fundos concessionais do Banco Mundial e de outros fundos de desenvolvimento para a construção de uma linha de transmissão de Maputo a Temane, para poder evacuar e distribuir electricidade pelo sul do País. Terceiro, Moçambique cria também o maior projecto consumidor de gás local com este projecto. A maior parte do gás que o País produz é exportado, e este é o maior projecto que vai conseguir consumir gás e vai começar a criar um mercado para o gás adicional. Se posteriormente fizer sentido expandir a central térmica de Temane, já temos uma base industrial criada para fazer a atracção de mais gás para aquela zona.
E quem são os parceiros destes empreendimentos ao nível interno?
Os nossos parceiros são a EDM e a Sasol. Nós temos cerca de 65% do capital do projecto, a EDM tem 20% e a Sasol 15%. E são estes três parceiros que estão envolvidos nos três projectos desta cadeia de valor da central térmica de Temane. Temos o projecto de desenvolvimento dos campos de gás que é feito pela Sasol, temos o da central que está a ser gerido por nós e temos também o projecto de transmissão que está a ser gerido pewww.economiaemercado.co.mz | Fevereiro 2022