MOÇAMBIQUE EDIÇÃO NOVEMBRO - DEZEMBRO 25/11 a 25/12 • Ano 05 • Nº 55 2022 • Preço 250MZN GALP ENERGIA AOS 65 ANOS NO MERCADO NACIONAL, NÃO DESCARTA INVESTIMENTO NAS RENOVÁVEIS SELAGEM DAS CERVEJAS AT GARANTE QUE A MEDIDA NÃO REDUZ EFICIÊNCIA NA PRODUÇÃO E COMERCALIZAÇÃO INOVAÇÕES DAQUI UNIVERSIDADE PEDAGÓGICA PREPARA CURSOS DE ROBÓTICA E INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL CEO TALKS “ESTAMOS ATENTOS A NOVAS ÁREAS DE NEGÓCIO”, PEDRO ANDRÉ DE SOUSA, VISABEIRA A E&M analisa a essência do desenvolvimento sustentável em Moçambique, do COP27 ao ESG, o tempo é de mudança e o mundo coloca a questão no topo da agenda COMO SUSTENTAR A SUSTENTABILIDADE?
OBSERVAÇÃO
Somália
A imagem de um país assolado pela seca, que já leva quatro anos, e pela fome que afecta metade da população 12 OPINIÃO
“O Que é o ESG e Porque é que as Empresas se Devem Preocupar”, Joana Cuambe, consultora na Insite Moç.
MACRO
A completar 65 anos no mercado moçambicano, a Galp Energia renova as perspectivas de se manter e investir em novos projectos energéticos no País
OPINIÃO
MDR “África deverá atingir recorde de investimento através de private equity em 2022. E Moçambique?”, Diana Ribeiro Duarte e Mara Rupia Lopes, MDR Advogados
20 CONTEÚDO LOCAL
Sector privado volta a manifestar preocupação com a falta de regras que protejam empresas nacionais e o Governo acusa o empresariado de fazer pouco para se empoderar
OPINIÃO
“O papel do Fundo Soberano no desenvolvimento industrial do País”, Cláudio Pondja, head of wealth management do Banco Big Moçambique
69ÓCIO
70 Escape Uma viagem pela arquitectura de Maputo 72 Gourmet Ao sabor da ementa do “Galeria”, no Porto de Maputo 73 Adega Vinho e queijo, a nova sugestão da Alumni Wine 74 Empreendedor Dos desenhos de infância às marcas de alta costura para mundo, da estilista Shaazia Adam 77 Arte O rancor e a esperança reencontram-se “Num Dia Igual aos Outros” 78 Ao volante do Buggati Mistral, o descapotável que marca o fim dos motores a combustão
OPINIÃO
“Uma Gestão de Tesouraria Comercial Eficiente Requer Uma Abordagem Diversificada”, Agnallo Nampunda, director de Tesouraria do FNB Moçambique 46
MERCADO E FINANÇAS
A Autoridade Tributária considera que não há margem para protestos contra a obrigatoriedade de selagem das cervejas por parte dos industriais e importadores
24
NAÇÃO
SUSTENTABILIDADE
24 Estágio Actual Especialistas mostram onde estamos e como podemos alcançar o desenvolvimento sustentável nas esferas ambiental, económica e social 36 Opinião “O Marketing na Era da Sustentabilidade”, Tânia Oliveira, directora de Marketing e Relações Corporativas do Absa Bank Moçambique 38 Entrevista Vicente Bento, partner & operations manager da Insite, revela a imagem da sustentabilidade na óptica das empresas e o impacto nos seus resultados
OPINIÃO
“Sustentabilidade – Um Passo a Caminho das Culturas Regenerativas”, Susana Cravo, consultora & fundadora da Kutsaca e da Plataforma Reflorestar.org
50
OPINIÃO
“Desemprego Jovem em África: Bomba-relógio, ou Necessidade Urgente em Buscar Soluções Fora da Caixa e Made in Africa?, João Gomes, JASON Moçambique
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E SPECIAL INOVAÇÕES DAQUI
54 Robótica Educacional Universidade Pedagógica apoia projectos de estudantes de nível secundário e projecta introduzir o grau de licenciatura em robótica e inteligência artificial 58 Netkanema Uma plataforma que contribui para a valorização do cinema moçambicano
64
CEO TALKS
Pedro André de Sousa, CEO da Visabeira, assegura que a empresa vai continuar a investir nos diversos sectores da economia e a investir em Moçambique
14
6
18 44
42
22
Celso Chambisso Editor da Economia & Mercado
O Risco de ‘Matar’ as Próximas Gerações
Q“uando as gerações futuras julgarem as que vieram antes em relação aos temas ambientais, talvez cheguem à conclusão de que não sabiam. Evitemos passar para a história como as gerações que sabiam, mas que não se importaram”.
A célebre frase do antigo estadista e político russo, Mikhail Gorbachev, proferida em 2002, era uma espécie de antevisão do que viria a acontecer 20 anos mais tarde.
De facto, a 27ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP27), realizada de 6 a 18 de Novembro no Egipto, terminou como todas as anteriores: sem avanços substanciais sobre as metas e compromissos de redução das emissões de CO2, e apenas “um pequeno passo” no que diz respeito às compensações aos países pobres para enfrentarem os efeitos do aquecimento global.
Se numa reunião de alto nível como esta os consensos têm de ser arrancados ‘a ferro e fogo’, imagine-se o que há-de ser das estratégias internas para buscar a sustentabilidade, sobretudo nos países em desenvolvimento!
Em Moçambique, como em qualquer país de baixo rendimento, o cumprimento das metas dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) até 2030 está comprometido, não obstante o grande esforço empreendido pelo Governo, parceiros de cooperação, sector privado e todos os actores vivos da sociedade, e em todas as esferas da
sustentabilidade, nomeadamente a ambiental, a social e a económica. Com todas as carências que prevalecem de ponto de vista de capital humano, tecnológico e financeiro, a iniciativa privada já demonstra força suficiente para mudar a história do País.
No domínio ambiental, por exemplo, as empresas começam a interessar-se pelas boas práticas, às quais se condiciona um tipo específico de certificação, que confere um posicionamento destacado perante a concorrência. Estão também a aumentar os investimentos na reciclagem de resíduos, uma indústria que cresce a olhos vistos.
Mas com muito caminho pela frente, tanto em Moçambique como no mundo, mesmo admitindo não se tratar de falta de vontade em atender aos imperativos da sustentabilidade, parece inegável que as gerações futuras, ao olhar para trás, possam ver e dizer o que há 20 anos Gorbachev sugeriu que se evitasse.
Nesta edição, a E&M procura também explorar o fenómeno do início da obrigatoriedade, em Novembro, de selagem da cerveja e outras bebidas prontas a consumir (as chamadas sidra).
Este é um assunto que opõe os industriais e importadores –, que alegam que a medida é lesiva em termos financeiros e que vai obrigar ao aumento dos preços destes produtos no mercado – , à Autoridade Tributária –, que entende ter concedido espaço suficiente para uma negociação sem ter prejudicado nenhuma das partes, não existindo, por isso, espaço para desacreditar a sua decisão.
25 NOVEMBRO | 25 DEZEMBRO 2022 • Nº 55
DIRECTOR EXECUTIVO Pedro Cativelos
EDITOR EXECUTIVO Celso Chambisso
JORNALISTAS Ana Mangana, Filomena Bande, Hermenegildo Langa, Nário Sixpene, Yana de Almeida
PAGINAÇÃO José Mundundo
FOTOGRAFIA Mariano Silva
REVISÃO Manuela Rodrigues dos Santos
ÁREA COMERCIAL Marcia Mbuvane marcia.mbuvane@media4development.com
CONSELHO CONSULTIVO
Alda Salomão, Andreia Narigão, António Souto; Bernardo Aparício, Denise Branco, Fabrícia de Almeida Henriques, Frederico Silva, Hermano Juvane, Iacumba Ali Aiuba, João Gomes, Narciso Matos, Rogério Samo Gudo, Salim Cripton Valá, Sérgio Nicolini
ADMINISTRAÇÃO, REDACÇÃO
E PUBLICIDADE Media4Development
Rua Ângelo Azarias Chichava nº 311 A — Sommerschield, Maputo – Moçambique; marketing@media4development.com
IMPRESSÃO E ACABAMENTO
Minerva Print - Maputo - Moçambique
TIRAGEM 4 500 exemplares
EXPLORAÇÃO EDITORIAL E COMERCIAL
EM MOÇAMBIQUE Media4Development NÚMERO DE REGISTO 01/GABINFO-DEPC/2018
www.economiaemercado.co.mz | Novembro 2022 4
E DITORIAL
Somália, 2022
A Pior Seca dos Últimos 40 Anos
A seca que dura há quatro anos e a estiagem há dois fazem da Somália o ponto do mundo que mais precisa de ajuda humanitária na actualidade. De acordo com o Programa Mundial de Alimentação (PMA), que alerta para a possibilidade de um cenário ainda pior em 2023, a fome aguda atinge, agora, 60% da população, cerca de 7,6 milhões de pessoas.
As crianças estão entre as principais vítimas desta catástrofe, por isso, o PMA pediu que a 27ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP27), que teve lugar recentemente no Egipto, adoptasse mecanismos de ajuda imediata e assegurasse a chegada de investimento aos mais afectados, receando que a chuva escassa, a seca persistente e a crise alimentar se alastrem aos países vizinhos.
O mundo já mobiliza apoio à Somália, mas não é suficiente uma vez que a situação é verdadeiramente desesperante.
Os quatro anos consecutivos de seca afectam também milhões de habitantes no Quénia e na Etiópia.
No território somali, está a decorrer uma avaliação da insegurança alimentar que deverá culminar, até ao final deste ano ou início do próximo, com uma declaração de crise de fome.
Aliás, o Governo somali tem sido criticado por ainda não ter declarado este estado apesar da grave situação que o país atravessa. Esta atitude é vista como uma repetição do erro cometido em 2011, quando mais de 130 mil pessoas morreram antes de a fome generalizada ter sido declarada, o que teria permitido maior celeridade na mobilização de apoio humanitário.
FOTOGRAFIA D.R.
OBSERVAÇÃO 6
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7 www.economiaemercado.co.mz | Novembro 2022
O Banco de Moçambique (BdM) alertou que o País poderá continuar a registar pressão inflacionária devido aos efeitos do reajustamento dos preços dos combustíveis no custo de bens e serviços.
A instituição prevê o retorno da inflação anual para um dígito como resultado dos recentes aumentos das taxas de juro e a manutenção da estabilidade da taxa de câmbio.
Recorde-se que em Outubro o INE reportou um nível de inflação homóloga na ordem dos 11,83%, impulsionado pela subida de preços nos sectores dos transportes e alimentação, e bebidas
Literacia Bolsa de Valores de Moçambique já tem uma biblioteca
Foi inaugurada, a 28 de Outubro, a Biblioteca da Bolsa de Valores de Moçambique – a Biblioteca-BVM – cujo objectivo é prover informação e documentos sobre mercados de capitais e bolsas de valores, bem como divulgar actividades, produtos e serviços da BVM.
Visa ainda elevar o nível de educação e literacia financeira do público sobre economia, sistema financeiro, desenvolvimento, contabilidade, auditoria e gestão, entre outros domínios. A biblioteca situa-se no prédio 33 andares, rés-do-chão, n.° 7.
A instituição conta ainda com publicações e trabalhos de fim de curso, nomeadamente monografias, dissertações de mestrado, teses de doutoramento, entre outros documentos, tendo como público-alvo estudantes, professores, empresários, investidores, investigadores, operadores financeiros e público em geral.
não alcoólicas em 20,12% e 19,55%, respectivamente. Apesar disso, o governador do BdM, Rogério Zandamela, afirmou que a economia deverá estar em contínua recuperação graças à execução dos projectos energéticos em Inhambane e na bacia do Rovuma, e graças também à retoma do apoio directo ao Orçamento do Estado pelos parceiros de cooperação.
Zandamela disse que o BdM tem vindo a tomar várias medidas para manter a estabilidade e integridade do sistema financeiro nacional e a expandir os serviços financeiros .
Cooperação Emirados Árabes Unidos manifestam interesse em investir em Moçambique
A Bélgica vai desembolsar 25 milhões de euros (equivalente a 1,5 mil milhões de meticais), nos próximos cinco anos, para o desenvolvimento das energias renováveis e gestão de resíduos no País, através de um novo programa de cooperação.
A informação foi avançada pelo ministro de Desenvolvimento da Bélgica, Frank Vandenbroucke, por ocasião da COP 27, que teve lugar no Egipto.
“O nosso país (Bélgica) vai ajudar Moçambique para que possa investir em energia verde em vez de combustíveis
fósseis”, informou o governante belga. O apoio, para o período 2023–2028, será atribuído tendo em conta que Moçambique é indicado como um dos países mais vulneráveis às mudanças climáticas e é, ao mesmo tempo, um dos menos desenvolvidos do mundo.
Apesar das riquezas do subsolo, a iniciativa prevê estudos para a produção de hidrogénio verde em Moçambique, e a Agência Belga de Desenvolvimento vai alimentar áreas remotas sem ligação à rede eléctrica com painéis solares.
Segundo o ministro dos Transportes e Comunicações, Mateus Magala, os investidores dos Emirados Árabes Unidos estão interessados pelas políticas macroeconómicas que estão a ser implementadas pelas autoridades moçambicanas e pelo (bom) ambiente de negócios prevalecente.
“Os empresários dos Emirados Árabes Unidos têm um enorme interesse em investir em vários domínios em Moçambique, porque têm um grande excedente em termos de liquidez”, afirmou Magala, por ocasião da recente visita de quatro dias que o Presidente da República, Filipe Nyusi, realizou àquele país asiático.
“As infra-estruturas como portos e aeroportos são áreas com potencial para a captação de investimento dos empresários dos EAU”, referiu o governante.
www.economiaemercado.co.mz | Novembro 2022 8 RADAR
Transição Energética Bélgica apoia Moçambique com 25 milhões
de euros
Panorama Banco de Moçambique alerta sobre continuação da pressão inflacionária
O Governo procedeu ao lançamento de três novas sociedades de gestão e abastecimento de água para melhorar a qualidade e eficiência dos serviços, e proporcionar uma oportunidade ao sector privado para se envolver nesta rede.
Tratam-se das sociedades comerciais Águas da Região do Norte, Águas da Região do Centro e Águas da Região do Sul e, para assinalar a sua operacionalização, o director
geral do Fundo de Investimento e Património do Abastecimento (FIPAG), Victor Tauacale, rubricou os contratos de gestão delegada com os PCA das sociedades comerciais.
Na ocasião, o ministro das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos, Carlos Mesquita, que presidiu à iniciativa, explicou que, com a criação destas sociedades, haverá mudanças profundas do lado do FIPAG, que “deverá fazer uma reforma interna, de modo a adequar-se às novas funções, uma vez que deixará de fazer a gestão directa dos sistemas de abastecimento de água”.
O governante lembrou que na história do País o abastecimento de água à zona urbana era feito através dos serviços municipalizados de água e electricidade e, depois da independência nacional, devido à degradação dos serviços prestados, o Estado intervencionou e criou empresas estatais.
Ajuda externa PNUD disponibiliza 66 milhões de dólares para a reconstrução de Cabo Delgado
O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) vai dar mais de 60 milhões de dólares para a reconstrução de Cabo Delgado.
O apoio faz parte de um pacote de cinco anos, destinado a várias iniciativas, com destaque para a recuperação da cidade da Beira.
Esta intenção foi revelada pela directora-adjunta do Escritório Re-
gional do PNUD para África, Noura Hamladji, que manteve, recentemente, um encontro de cortesia com o primeiro-ministro, Adriano Maleiane.
A dirigente disse que o apoio a Moçambique tem sido uma das prioridades da organização, principalmente no que diz respeito à reconstrução e promoção de acções amigas do ambiente.
www.economiaemercado.co.mz | Novembro 2022
Água e saneamento Governo lança três novas sociedades de gestão e abastecimento de água
Os
O plástico é um dos materiais mais úteis, mas a sua proliferação descontrolada criou uma montanha de resíduos que ascende a mais de 350 milhões de toneladas geradas por ano, sendo que apenas uma fracção é reciclada.
Cerca de um quinto acaba na categoria mal gerida, o que significa que não é reciclada e, por isso, é despejada ou enterrada sem práticas adequadas de gestão de resíduos.
Os resíduos plásticos mal geridos ameaçam o ambiente terrestre e marinho, e a maior parte deles não se decompõe, poluindo o ambiente durante centenas ou mesmo milhares de anos. Num momento em que ainda se fazem os balanços da COP27, a info-
por País
grafia ajuda-nos a perceber quem são os maiores contribuidores desta estatística pouco amiga do meio ambiente ao nível dos resíduos plásticos mal geridos, com base em dados de um estudo de Meijer et al. publicado na revista Science Advances.
Os países asiáticos são responsáveis pela maioria dos resíduos plásticos mal geridos a nível mundial (MPW), e muitos dos principais rios emissores de plástico estão concentrados precisamente nessa região.
A Índia e a China são os únicos países que representam mais de dez milhões de toneladas de MPW, embora isso possa ser parcialmente impulsionado pelos seus números de população.
Nações mais desenvolvidas como o Japão, a Alemanha ou os EUA estão entre os maiores exportadores de resíduos de plástico para as nações em desenvolvimento.
NÚMEROS EM CONTA
Resíduos
Valores per capita, anuais, em libras As Filipinas são responsáveis por quatro milhões de toneladas ou 37% do plástico não reciclado e enviado para os oceanos anualmente. América do Norte África América Latina Ásia Europa
Outra Ásia 2,8M Outra Ásia 4,0M África do Sul 708k Malásia 814k Filipinas 4,0M Tailândia 1,4M Turquia 1,7M Vietname 1,1M Paquistão 1,3M Bangladesh 1,0M Indonésia 824k Ven. 671k República Democrática do Congo 1.4M Cam. 579k Brasil 3,3M 1,0M Outra América Latina Tanzânia 1,7M Sudão 782k Egipto 1,4M Nigéria 1,9M Argélia 765k Índia 13,0M China 12,2M Oceânia 0,1M América do Norte 2,0M O arquipélago das Comoros é responsável por 4535 garrafas de meio litro por habitante anualmente deitadas ao mar anualmente. Trinidad e Tobago Suriname Filipinas Zimbabué Comores
em
sem
de reciclagem de
A China é também o
produtor de materiais plásticos, representando 32% da produção global em 2022 10 www.economiaemercado.co.mz | Novembro 2022 O TOP 5 DOS MAIORES POLUIDORES
Plásticos (Mal) Geridos
Oceânia
Os maiores poluidores per capita são pequenas nações
desenvolvimento
capacidade
plástico.
maior
FONTE Visual Capitalist
As organizações que implementam boas práticas de ESG tendem a ser mais eficientes e menos voláteis, ganhando assim vantagem competitiva nos mercados onde actuam
O Que é o ESG e Porque as Empresas se Devem Preocupar
Se é empresário, colaborador de uma Organização ou até mesmo um investidor, certamente já ouviu falar de ESG. Se ainda não ouviu esta terminologia, este é o momento certo para começar a debruçar-se sobre este assunto, pois vai acompanhá-lo durante os próximos tempos.
Critérios ESG
Embora este tema tenha começado a ser falado mais recentemente, a prática ESG não é nova. Na década de 60, existia no mercado um conjunto de “investidores responsáveis”, que, já naquela altura, excluíam investimentos em negócios como o tabaco, armas ou produtos provenientes de países em conflito (Socialy Responsible Investing).
Ao longo do tempo, os critérios que integram os três pilares ESG (Environmental, Social e Governance), têm-se demonstrado vitais para o bom desempenho das Organizações. Actualmente, para além das questões levantadas dos anos 60, existem outras áreas para as quais empresas e investidores dirigem as suas preocupações.
Do ponto de vista ambiental, e no seguimento da COP27, a Cimeira do Clima realizada em Novembro deste ano, no Egipto, tornou-se claro que a principal preocupação da maioria dos países está relacionada com as alterações climáticas e os seus efeitos nefastos para o planeta.
A comprovar isso está o facto de, pela primeira vez numa COP, ter sido introduzido o tema da compensação financeira aos países que estão mais vulneráveis climaticamente, tendo sido dado um passo histórico ao ser aprovado um acordo para a criação de um fundo para financiar perdas e danos causados pelas alterações climáticas.
Para além do clima, outras preocupações fazem parte da letra “E” da sigla, tais como a transição energética, os mercados de carbono, a gestão de resíduos,
a eficiência hídrica ou a conservação da biodiversidade. Na área social (“S”), o foco não está apenas nas questões laborais e de saúde e segurança dos trabalhadores, mas também no respeito pelos Direitos Humanos, na Igualdade de Género e na boa relação que as Organizações devem estabelecer com a comunidade local.
Quanto à governança (“G”), medidas como o estabelecimento de políticas e práticas antifraude e anticorrupção, gestão de riscos, segurança de informação e continuidade de negócios contribuem para que as empresas e instituições evidenciem que estão em conformidade não só com a legislação, como também com as normas internacionais que regulam esta matéria. Tais critérios são usados por investidores para avaliar as empresas nas quais pretendem investir.
Investimentos sustentáveis
Actualmente, investir em empresas vai mais para além da obtenção de lucros fáceis e dividendos. Como abordado nos parágrafos anteriores, hoje existem mais factores a ter em conta e os investidores tendem a valorizar investimentos mais sustentáveis.
A norte-americana BlackRock, por exemplo, representa sete dos dez maiores Fundos de Investimento ESG a nível mundial, entre os quais a iShares que apoia investidores de todo o mundo na escolha de empresas ambiental e socialmente responsáveis, e cujas atividades não contribuem para o aumento das emissões de gases com efeito estufa na atmosfera.
Só para se ter uma ideia dos valores que estão envolvidos e da oportunidade para as empresas, de acordo com o último relatório emitido em 2020 pela Global Sustainable Investment Alliance (GSIA), foi investido um valor de 35,3 triliões de dólares americanos em empresas sustentáveis localizadas em apenas cinco mercados, um aumento de 15% face ao período entre 2018 e 2020. Só os
www.economiaemercado.co.mz | Novembro 2022 12 OPINIÃO
Joana Cuambe • Consultora na Insite Moçambique
mercados dos Estados Unidos da América e da Europa representam 80% dos activos sustentáveis.
No que diz respeito ao continente africano, já existem sinais interessantes que indicam que o mercado ESG está a desenvolver-se, especialmente em países como a África do Sul, no qual foi publicado o Código de Investimento Responsável (CRISA – Code for Responsible Investing in South Africa), ou como a Nigéria, que lançou em 2018 o seu Código de Governança Corporativa, dedicando uma secção à sustentabilidade e às questões de ESG.
Vantagens para as empresas
As organizações que implementam boas práticas de ESG tendem a ser mais eficientes e menos voláteis, ganhando assim vantagem competitiva nos mercados onde actuam.
As métricas de ESG são importantes não só para os investidores decidirem em que empresas investir, como também para os consumidores escolherem que produtos comprar e para os trabalhadores decidirem onde querem trabalhar.
Uma organização que se esforça em melhorar as condições de trabalho dos
seus colaboradores, que promove a diversidade e que retribui à comunidade tem uma maior hipótese de reforçar a sua marca junto dos seus consumidores. Outra das vantagens de um Programa ESG é a sua capacidade de melhorar a performance financeira das Organizações. Medidas para o uso mais eficiente da energia ou para a redução de consumos de água ou matéria-prima, ajudam as empresas a minimizar os seus custos operacionais.
Por outro lado, empresas que estejam em compliance estão também menos expostas a riscos e a certas penalidades como coimas e multas por incumprimento legal. Portanto, a adopção de práticas ESG torna as empresas mais atractivas para potenciais investidores, bem como para a banca no que diz respeito a ofertas de crédito e abertura de novas linhas de financiamento.
Como implementar os critérios ESG?
Nem todos os aspectos relacionados com ESG são prioritários para as Organizações e nem todos estão relacionados com as alterações climáticas, por isso é importante definir uma estratégia para a sua implementação. À semelhança do
que acontece na implementação de normas internacionais como, por exemplo, as normas ISO, a adopção de um programa ESG requer várias etapas.
É necessário considerar todas as partes interessadas em jogo, avaliar pontos fortes e fraquezas, riscos e oportunidades, definir quais as acções prioritárias a implementar no terreno e monitorizar continuamente os indicadores de modo a verificar se os objectivos estão a ser alcançados.
Importa também realçar que, para os diferentes sectores de actividade (ex.: financeiro, indústria, serviços,…), existem standards internacionais específicos, que devem ser seguidos.
Como reportar
Após a implementação dos critérios ESG, e respectiva monitorização dos indicadores, é crucial comunicar os resultados a todos os stakeholders: clientes, colaboradores, fornecedores, reguladores, comunidade e investidores.
As Organizações, ao disponibilizarem de uma forma transparente este tipo de informação, dão confiança e credibilidade ao mercado e uma maior segurança a quem investe e financia os seus projectos.
As Normas GRI (Global Reporting Initiative) são das mais reconhecidas no mercado e são uma excelente referência para as Organizações que pretendem elaborar os seus relatórios de sustentabilidade anuais.
Divididas em três séries (Universais, Normas Sectoriais e Normas Temáticas), podemos encontrar normas para o sector do Oil & Gás, por exemplo, assim como normas mais transversais como as da energia, emissões, saúde e segurança no trabalho ou diversidade e igualdade de oportunidades.
Para além da GRI, existem outras normas desenvolvidas por outras organizações, tais como as da Sustainability Accounting Standards Board (SASB) ou as da Task Force on Climate (TCFD) que focam sobretudo os impactos financeiros dos riscos ESG.
Em síntese, a implementação de critérios ESG nas Organizações torna-as mais resilientes, eficientes, competitivas e “apetecíveis” para os investidores que procuram, neste momento, investimentos sustentáveis, ou seja, organizações e projectos que respeitem o meio ambiente, as pessoas e a boa governança.
Mais do que uma moda, o ESG veio para ficar e as empresas devem acompanhar os sinais dos tempos. Caso contrário, vão perder o comboio da sustentabilidade.
www.economiaemercado.co.mz | Novembro 2022 13
As três componentes da sustentabilidade são complementares e interdependentes
Aos 65 anos, uma Aposta Renovada... nas Energias Renováveis
A Galp entrou no mercado nacional em 1957, e tendo atravessado vários contextos socioeconómicos e políticos da vida do País, assume com propriedade a próxima etapa da sua presença no mercado: se a estratégia global ditou o fim do investimento na exploração de combustíveis fósseis e mais de metade das suas aplicações – até 600 milhões de euros anuais – irá para novos projectos na área das renováveis, em Moçambique, o CEO da empresa, Paulo Varela, abre também a porta a este tipo de projecto.
Fora da Península Ibérica, Moçambique é o país onde a empresa energética portuguesa mais investiu nos últimos cinco anos, essencialmente na área da logística, tendo aumentado a rede de enchimento e armazenamento (Matola e Beira) e abastecimento. E a perspectiva é que assim continue a ser nos próximos anos, adianta o CEO da empresa Paulo Varela.
A completar 65 anos de presença ininterrupta no mercado nacional, a Galp que tem uma presença marcada nos três segmentos do ramo dos combustíveis (downstream, midstream e upstream) olha com interesse para o potencial de Moçambique ao nível das renováveis, sem esquecer a presença nos grandes projectos de gás do Rovuma (dos quais é um dos accionistas) e garante que vai continuar a apostar no GPL para forcecer o mercado interno.
São 65 anos da Galp em Moçambique. Pedia-lhe uma retrospectiva e que nos conte o que esperar daqui para frente?
A GALP começou as actividades em 1957 através de uma empresa designada Moçacor, dedicada à distribuição e comercialização de gás GPL, e que resultou de uma sociedade entre a Moçacor e a Sonap Moçambique.
A Moçacor sempre esteve ligada ao sector de GPL, mas, posteriormente, em 1997, constituiu-se a Petrogal Moçambique e, no ano seguinte (1998), foi construído o primeiro posto de abastecimento de combustíveis com a marca Galp.
Em 2001, a Petrogal Moçambique acabou por adquirir uma participação que a Petromoc ainda tinha na Moçacor. A Petromoc resultou da nacionaliza-
ção de um conjunto de activos relativos à distribuição, armazenagem e refinação de combustíveis. Mais tarde, a Petrogal Moçambique fundiu-se com a Moçacor e transformaram-se numa só empresa em 2006. Antes disso, em 2004, já tinha sido feita a reabilitação da linha de enchimento da cidade da Matola, modernizada no ano passado.
Em 2008, a Petrogal Moçambique acabou por adquirir os activos que a SHELL detinha em Moçambique e noutros países onde operava, nomeadamente Essuatíni e Gâmbia e, a partir daí, a Galp, através da Petrogal, que é a empresa com a qual fazemos a distribuição, tem feito o seu percurso e continua a investir, quer no negócio do GPL, quer num conjunto de activos, em terminais logísticos, sendo que continuamos a expandir a nossa rede de postos, o que nos faz estar hoje em todo o País.
A exportação do gás natural é uma das grandes notícias dos últimos anos e o primeiro projecto, de que a Galp faz parte, até agora foi bem-sucedido…
Sem dúvidas, e é um projecto do qual Moçambique se deve orgulhar porque representa um investimento muito significativo: são mais de 7 mil milhões de dólares e foi desenvolvido de forma exemplar, dentro do prazo em que estava estipulado.
A Decisão Final de Investimento foi tomada em 2017 e, desde o primeiro momento, a previsão apontava para o início da exploração no último trimestre de 2022. Apesar de ser um projecto de grande complexidade, numa plataforma flutuante, com um desafio tecnológico muito acentuado e atravessado pelo covid-19, estamos dentro do prazo.
Obviamente, todos os membros do consórcio deram o seu contributo para este projecto ser o sucesso que é efectivamente, e acho que vai ter um carácter transformacional, vai colocar o País como um produtor de gás natural de relevância global. Esta é a primeira fase. Esperamos por outros projectos subsequentes, mas acredito que este terá um impacto significativo no crescimento e na reconfiguração da economia de Moçambique.
Em que ponto estamos ao nível dos preços de combustível, algo de que as pessoas se têm queixado muito?
Vive-se em todo mundo um ambiente particularmente difícil. Estamos a atravessar uma crise energética muito significativa. Apesar de se referir à guerra na Ucrânia como a causa próxima (e a crise foi agravada por esse evento), o facto é que ela já existia antes e decorre do sub-investimento que ocorreu de 2014 para cá. Houve, portanto, um decréscimo na produção, quer de gás, quer de produtos petrolíferos, que levou à situação em que nos encontramos hoje.
O mercado está sub-abastecido. É evidente que em Moçambique isso também teve repercussões sérias. Apesar de
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Texto Pedro Cativelos • Fotografia Mariano Silva
MACRO GALP
os preços não terem subido tanto como subiram nos mercados internacionais, o preço de venda ainda não reflectiu integralmente o incremento de custos internacionais, mas, ainda assim, reconhecemos que já subiu de forma significativa e está a causar um peso grande no aumento do preço de muitos produtos.
O País tem procurado encontrar formas para mitigar esse impacto nos consumidores e o Governo tem optado por não transferir para o preço de venda ao público, na íntegra, o custo dos produtos. Esse esforço tem vindo a ser suportado pela indústria, pela Galp e por todas as empresas que estão nesse mercado.
Existe alguma solução à vista nas negociações com o Governo?
É um tema que temos vindo a, de forma construtiva e aberta e junto do Go-
verno, procurado encontrar uma solução, uma vez que não é sustentável nem as empresas poderão, de forma indefinida, continuar a acumular défices como está a ocorrer. Mas é um tema que está a ser discutido entre a AMEPETROL (Associação Moçambicana das Empresas Petrolíferas) e acreditamos que vai resolver-se. Mas não deixa de ser uma preocupação, neste momento, para toda a indústria, o facto de ter acumulado, todos os meses, um défice que já atingiu números significativos.
Ainda assim esperamos que se possa encontrar uma solução que consiga conciliar todos os interesses em jogo porque nós também compreendemos o impacto que o preço dos combustíveis tem na economia e nos consumidores.
Mas a falta de combustíveis ou a sua dificuldade de acesso tem também ou-
tro tipo de repercussões e temos de encontrar aqui um equilíbrio para que isso não ocorra.
Quem é que sabe quando os combustíveis vão baixar?
Penso que ninguém saberá porque os factores que neste momento condicionam os preços dos combustíveis são diversos. O receio que temos é que continuarão altos por mais tempo porque as razões da disrupção que ocorreu não se vão alterar de forma significativa nos próximos meses. Mas a possibilidade de continuarem elevados é grande em termos globais, uma vez que os preços de venda dos combustíveis não se reflectirem nos custos, alguém terá depois de suportar esses custos. Não há nenhum milagre económico que se possa fazer. Este tema preocupa-nos a todos. Ao contrário do que se pensa, vivemos num ambiente melhor quando os preços dos combustíveis são baixos porque o consumo é maior e a margem é fixa.
Há alguns meses, a imprensa falou muito de uma acusação feita pela Autoridade Tributária, dando conta de os postos de combustível da empresa cometem irregularidades na facturação e compras. Gostava que falasse um pouco sobre esta questão.
Obviamente que a Galp foi alvo de um conjunto de insinuações e afirmações não fundamentadas, com objectivos que não conseguimos determinar com exactidão. O que posso dizer sobre isso é que a Galp cumpre todas as suas obrigações fiscais aqui e em todo o mundo onde opera, somos uma empresa responsável que faz parte dos maiores contribuintes fiscais em Moçambique, e a própria Autoridade Tributária tem reconhecido isso.
Recentemente, em Março, recebemos a informação de sermos a empresa classificada em primeiro lugar na categoria de direitos aduaneiros, o que significa que cumprimos integralmente todas as nossas obrigações fiscais. Sempre o fizemos e continuaremos a fazê-lo. Por isso, desconhecemos em absoluto o que estaria por detrás dessas insinuações. Mas isso não interferiu em nada na nossa prioridade. Temos um diálogo normal e permanente com a Autoridade Tributária.
Não temos nenhuma notificação de nenhum incumprimento de que tenhamos sido acusados e, se houvesse, seria endereçado de forma própria e não em praça pública. O facto é que a nossa interacção com a Autoridade Tributária tem acontecido nos canais próprios, dentro de um espírito de colaboração e abertura. Por isso sabemos que
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“Em Março, recebemos a informação de estarmos em primeiro lugar na categoria de direitos aduaneiros, o que significa que cumprimos todas as nossas obrigações fiscais”
as notícias que correram não têm nada que ver com a Autoridade Tributária.
Quais são as perspectivas em relação ao GPL?
Os dois terminais logísticos que a Galp construiu em parceria com outros operadores, um na Matola e outro na Beira, são instalações mais modernas em termos tecnológicos, de sistemas de protecção e segurança, incluindo o ambiental. São dois projectos de grande dimensão e qualidade que muito nos orgulham. No seu conjunto representaram mais de 150 milhões de dólares de investimento, sendo que o terminal da Matola, além da questão dos combustíveis (60 milhões de litros de armazenagem), tem capacidade de 6 milhões de litros de GPL, o que veio mais do que duplicar a capacidade de armazenagem do Sul do País e reforçar a capacidade de abastecer o mercado e continuar a fazer face a uma procura crescente.
Estamos bastante satisfeitos com a forma como as coisas estão a correr, já foram transitados cerca de 1 250 000
metros cúbicos de combustíveis líquidos nos dois terminais e já movimentámos mais de 30 mil toneladas de GPL. Portanto, são claramente investimentos virados para o futuro, cujo retorno vai sentir-se a médio e longo prazo.
Complementámos esse investimento de armazenagem com o que fizemos no ano passado, de superar 12 milhões de dólares na reconversão e modernização da nossa unidade de enchimento de garrafas GPL. Essa nova linha de enchimento foi inaugurada em Novembro do ano passado e veio não só duplicar a nossa capacidade de enchimento para bastecer o mercado como dar maior rigor no controlo de qualidade e na digitalização de todo o processo de embalagem e pesagem do próprio produto, o que nos traz garantias adicionais na qualidade que transmite à confiabilidade do produto que estamos a entregar aos clientes. À medida que se promove a substituição da lenha e do carvão como meio de confecção de alimentos pelo GPL, acreditamos que esse seja outro papel importante que desempenhamos.
De que forma olham para o mercado das renováveis que está em expansão?
Em termos de grupo Galp, já assumimos o compromisso de neutralidade carbónica até 2050 e temos uma estratégia perfeitamente clara de aposta significativa nas energias renováveis. Temos consciência e a nossa visão para este processo é que se trata de uma transição. Os combustíveis fósseis não podem acabar do dia para a noite, temos de ter isso em mente. Iremos continuar a investir e a desenvolver as reservas, as unidades de produção onde já estamos, mas não faremos novas explorações de combustíveis fósseis.
Ao mesmo tempo vamos investir significativamente em fontes alternativas e renováveis de baixo carbono. Tipicamente, a Galp prevê investir entre 1000 milhões e 1200 milhões de euros por ano, e 50% desse montante (entre 500 e 600 milhões de euros) será dedicado às energias renováveis. Estamos a falar da energia solar fotovoltaica. Neste momento, a Galp é um dos maiores produtores da Península Ibérica e também já fez um investimento muito significativo no Brasil.
Estamos a pensar num projecto de energia com base em hidrogénio na refinaria de Sines, queremos transformá-lo num parque de energias verdes. Existem também outros investimentos na cadeia de valor das baterias através da produção do lítio. Estamos a posicionar-nos em relação ao futuro de forma muito significativa porque acreditamos que a transição energética é um imperativo.
No plano de investimento em Moçambique, há algum projecto que se destaque para os próximos anos?
Acabámos um ciclo de cinco anos no qual fizemos investimentos muito significativos, quer na logística, quer na parte de GPL. Nos próximos anos, o nosso objectivo passa por consolidar esse investimento, rentabilizar e optimizar as suas condições de operacionalidade, sempre protegendo a segurança na operacionalização, que é um valor muito significativo para nós.
Queremos também expandir a rede de postos, e prevemos acabar o ano 2022 com mais de 70, sendo que todos os anos prevemos continuar a acrescentar cinco a sete postos de abastecimento.
O nosso projecto passa, portanto, por continuar a aumentar a polaridade da nossa presença e continuar a investir no GPL. A médio prazo vamos olhar para a armazenagem e logística de GPL no Norte do País para complementar a actividade que já temos, já que neste momento só existe armazenagem de GPL em Maputo e na Beira.
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“Queremos expandir a rede de postos de abastecimento e prevemos acabar 2022 com mais de 70. Todos os anos acrescentamos cinco a sete postos”
“Apesar da importância reconhecida ao sector, nomeadamente quanto à sua potencialidade para contribuir para o desenvolvimento económico, diversos factores têm desencorajado a entrada de veículos de investimento de private equity no mercado...”
África Deverá Atingir Recorde de Investimento Através de Private Equity em 2022. E Moçambique? Á
frica deverá ter o seu melhor ano de sempre no que diz respeito ao investimento através de veículos de private equity: segundo dados apresentados pela African Private Equity and Venture Capital Association1 (AVCA), o continente fechou o primeiro semestre de 2022 com um total de US$ 3,5 mil milhões investidos, e as projecções indicam que pode alcançar um recorde de 7 mil milhões de dólares investidos no final do ano.
A AVCA destacou que a África Ocidental obteve a maior fatia de financiamento, com cerca de 33%, tendo a Nigéria como líder no continente (sendo seguida pelo Quénia).
E onde fica Moçambique nesta imagem?
Apesar da importância reconhecida ao sector, nomeadamente quanto à sua potencialidade para contribuir activamente para o desenvolvimento económico, a verdade é que diversos factores têm desencorajado a entrada de veículos de investimento de private equity no mercado moçambicano.
1. Os veículos mais apropriados, ao abrigo do regime moçambicano, para realizar investimentos em private equity e venture capital, são as sociedades de capital de risco e os fundos de capital de risco (que deverão ser geridos pelas primeiras). Sucede que, mesmo com a aprovação de uma “nova” Lei das Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras (Lei n.º 20/2020, de 31 de Dezembro), as sociedades de capital de risco continuam a ser altamente regulamentadas, em paridade com outras sociedades financeiras que apresentam muito maior risco sistémico (e que por isso poderão ter repercussões muito significativas se forem liquidadas ou se se tornarem insolventes).
2. Outro obstáculo prende-se com a contabilidade dos fundos e sociedades de capital de risco. Nos termos da lei, a contabilidade dos fundos é organizada de acordo com as normas emitidas pelo Banco de Moçambique.
No entanto, tanto quanto é do nosso conhecimento, até à data não foi emitida qualquer regulamentação sobre esta matéria. Ora, esta omissão pode acarretar bastante incerteza junto dos stakeholders, nomeadamente quanto à valorização dos investimentos no balanço do fundo, e prejudicar gravemente a criação de novos fundos de capital de risco.
3. Por outro lado, também não existem ainda obrigações concretas de disponibilização de informação em relação à subscrição de unidades de participação em fundos de capital de risco: não existe qualquer obrigação por parte da entidade gestora de disponibilizar informação sobre o fundo aos potenciais participantes, salvo os casos em que estes sejam constituídos através de oferta pública.
4. Do ponto de vista do investimento estrangeiro, ainda há poucos incentivos para as gestoras de fundos estrangeiros empreenderem actividades de gestão de fundos de capital de risco em Moçambique:
• A Lei das Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras obriga as sucursais de instituições estrangeiras a submeterem-se a procedimentos de autorização materialmente equivalentes aos das instituições nacionais, não estando previsto um regime de passaporte para as gestoras de fundos estrangeiros gerirem fundos ao abrigo da lei moçambicana.
www.economiaemercado.co.mz | Novembro 2022 18 OPINIÃO
Diana Ribeiro Duarte • Sócia da Morais Leitã & Mara Rupia Lopes • Associada da MDR Advogados
• Não existe, ao contrário de outras jurisdições, um regime fiscal favorável para os investidores estrangeiros, e as pessoas singulares não residentes acabam por ser penalizadas em relação aos residentes, na tributação dos rendimentos de ganhos de capital.
5. O estado da regulamentação do sector tem também impactos negativos no interesse pelo mercado moçambicano e pela constituição de fundos de capital de risco, considerando, quer a falta de regulamentação, quer a dificuldade de interpretação e aplicação da regulamentação existente devido ou a regras contraditórias ou de aplicação incerta a este respeito. Este aspecto é especialmente evidente em determinadas áreas, tais como (i) método de cálculo do valor das unidades de participação e regras de valorização dos fundos; (ii) (o reduzido âmbito de) matérias reservadas à assembleia geral dos participantes; (iii) regras sobre a composição da carteira do fundo; (iv) requisitos de comercialização das unidades de participação; e (v) deveres de reporte. A ausência destas regras, mais do que um sinal de flexibilidade na estruturação dos fundos, será neste caso uma fonte de incerteza para potenciais promo-
tores e investidores sobre o regime jurídico aplicável.
Depois desta incursão pelo regime em vigor, salta à vista que Moçambique tem ainda um caminho a percorrer no desenvolvimento da indústria do private equity e venture capital. Não ignoramos ser impossível destrinçar o desenvolvimento da indústria do contexto macroeconómico e institucional do País, mas, ainda assim, poderia ser benéfico implementar algumas das seguintes medidas:
1. alterações à Lei das Instituições de Crédito e Sociedades Financeiras, de modo a implementar, entre outros aspectos, um regime regulatório menos exigente para as sociedades de capital de risco, especialmente as que sejam de reduzida dimensão, e um sistema de passaporte para facilitar a gestão e comercialização de fundos de capital de risco por entidades estrangeiras;
2. alterações ao Decreto n.º 56/99 de 8 de Setembro, que estabelece o regime legal dos fundos de capital de risco e regula o âmbito, a gestão, a constituição e o funcionamento dos fundos de capital de risco. Estas alterações deverão incluir regras sobre, entre outros, método de cálculo do valor das unidades de participação, matérias reservadas à deliberação dos participantes, regras sobre a composição da
carteira dos fundos e requisitos de comercialização dos fundos;
3. aprovação de um regulamento sobre fundos de capital de risco, de modo a colmatar as actuais lacunas no quadro legislativo quanto a aspectos relativos às regras de avaliação, estrutura das contas, deveres de reporte e detalhe sobre a informação a prestar aos investidores, entre outros;
4. alterações ao regime fiscal aplicável para tornar o investimento em unidades de participação de fundos de capital de risco mais atractivo, nomeadamente para investidores estrangeiros.
As recomendações aqui apresentadas foram pensadas tendo por objectivo a promoção dos fundos de capital de risco como uma fonte robusta e fiável de investimento alternativo em Moçambique, mas não esgotam toda a análise necessária nem as soluções possíveis – nem assim o pretendem –, servindo apenas para jump start de uma discussão rumo ao desenvolvimento deste sector no País.
1 O relatório, publicado em Setembro de 2022 encontra-se disponível para consulta em https:// www.avca-africa.org/media/3064/02080-avca-vc-mid-year-report-sept22-online_2.pdf.
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O mercado moçambicano enfrenta muitas barreiras à entrada de investimentos através de private equity
A (Possível) Desarticulação Entre o Governo e o Empresariado
Novo paradigma, mas os problemas de sempre, mesmo com o gás já a ser extraído da bacia do Rovuma, nada do que foi pensado para suportar a retenção dos petrodólares no País é efectivo. A percepção do Governo e a do sector privado divergem e não há qualquer sinal de que a situação possa mudar nos próximos tempos
Desde que foram descobertas reservas de recursos naturais de dimensão mundial – carvão, gás, ouro, areias pesadas, pedras preciosas, recursos florestais, etc. –, assistiu-se a um investimento sem precedentes na busca pelas melhores práticas que pudessem permitir a transformação desse potencial em riqueza efectiva.
Com este propósito, de há dez anos a esta parte, intensificaram-se, à escala nacional, inúmeros eventos, desde seminários, conferências, simpósios, e uma movimentação de empresários que tentava criar bases para posicionar-se melhor.
O maior interesse era construir um modelo de exploração de recursos que evitasse os erros dos países mal-sucedidos e replicasse as boas políticas de Conteúdo Local. Mas, aos poucos, o temor de que os recursos naturais tragam frustração vai dando lugar a um preocupante vazio, e a uma cada vez menor coordenação sobre o rumo a tomar.
“Do que tem sido perceptível nos últimos desenvolvimentos, a Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA, a mais importante organização empresarial do País) tenta buscar junto do Governo uma solução, mesmo antes que a lei de Conteúdo Local seja aprovada, para que as empresas nacionais assumam uma posição vantajosa enquanto fornecedoras de bens e serviços aos projectos de gás. Já houve várias tentativas junto dos operadores, como a Sasol, para procurar uma saída”, revela o presidente do Pelouro de Desenvolvimento e Capacidades Locais, Bercêncio Vilanculos. Contudo, “a CTA enfrenta grandes impasses, sendo que o principal
é o facto de os concursos para a contratação de serviços por parte das grandes empresas serem anunciados, e até adjudicados, fora do País, resultando, por isso, na contratação de empresas estrangeiras oo, mesmo operando em Moçambique, estão registadas fora. Nestes casos, o interesse nacional em termos de emprego e de crescimento económico não é representado”, lamenta o empresário.
Bercêncio Vilanculos analisa igualmente o resultado da demora na aprovação da lei de Conteúdo Local como sendo um factor que pode ocasionar “oportunismo” dos megaprojectos, por operarem num contexto de ausência de regras claras. Entende, entretanto, que “a lei poderia até levar muito tempo a sair, mas se se fizessem arranjos ao nível sectorial para proteger as empresas nacionais haveria avanços, o que não está a verificar-se”.
A certificação
O responsável lembra que, para preparar as empresas, a CTA está a desenvolver um programa de formação e certificação, tendo já seleccionado 25 unidades na primeira fase, com a previsão de que até ao fim do ano consiga certificar mais 15. Num processo gradual, a organização projecta certificar mais 50 empresas no próximo ano e 100 em 2024.
Os sectores em que as empresas moçambicanas se apresentam preparadas para atacar os grandes projectos incluem a logística; obras e empreitada; fornecimento de produtos de primeira necessidade; alimentação; e produtos acabados de madeira. “Já perdemos muito tempo à procura de nos posicionarmos para estarmos à frente nos projectos de gás, mas se acontecer qualquer mudança positi-
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Texto Celso Chambisso • Fotografia D.R:
va a partir de hoje, seja a aprovação da lei ou outra estratégia que salvaguarde o interesse nacional, iremos a tempo de ganhar alguma coisa”, concluiu o responsável da CTA.
Governo quer empresas mais actuantes
Enquanto o sector privado se queixa dos procedimentos que competem ao sector público tomar, o Governo entende que o esforço feito pelas empresas está muito aquém do necessário. Por exemplo, há poucas parcerias entre empresas nacionais e a TotalEnergies por causa da falta de certificação das pequenas e médias empresas. Apenas 30% dos contratos são celebrados entre empresas moçambicanas e a multinacional. No campo de operações da francesa TotalEnergies, os contratos devem atingir 1,1 mil milhões de dólares, mas foram celebrados até ao momento cerca de 300 mil dólares. “Is-
so preocupa-nos muito, queremos que os moçambicanos possam efectivamente ganhar contratos e, neste momento, restaram 800 milhões de dólares. É muito! São muitas as dificuldades devido à ausência de certificação das empresas moçambicanas a vários níveis, como os sistemas de qualidade, gestão do ambiente e higiene e segurança”, referiu o coordenador do Conteúdo Local do Ministério dos Recursos Minerais e Energia (MIREME), Henrique Cossa.
“Estamos empenhados na certificação de empresas moçambicanas e na promoção de parcerias empresariais a par de iniciativas de treinamento sobre o Conteúdo Local, pois cremos que contribuirão para o estabelecimento de uma visão comum”, explicou Teodoro Vales, secretário permanente do MIREME.
Prevê-se que, com a ajuda do Estado, 50 empresas nacionais sejam certificadas ainda este ano. “Iremos aumentar a probabilidade de as empresas vencerem os concursos, por um lado. Por outro, estamos a promover parcerias com as empresas internacionais”, concluiu Henrique Cossa.
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“Estamos empenhados na certificação de empresas e na promoção de parcerias a par de iniciativas de treinamento sobre o Conteúdo Local”
50
Empresas
Previsão das unidades a serem certificadas com o apoio do Governo ainda este ano
Moçambique
De acordo com os dados divulgados pelo Ministério da Economia e Finanças, perspectiva-se que a taxa de crescimento real do PIB atinja 5% em 2023 com uma forte contribuição da indústria extractiva, onde o projecto Coral Sul da Área 4 da bacia do Rovuma começa a ganhar alguma preponderância depois do início das exportações no passado dia 13 de Novembro.
Mas não é apenas a indústria extractiva que o MEF espera que contribua para o crescimento do PIB. Os desenvolvimentos de outras indústrias serão também fundamentais para diversificar as fontes de crescimento económico de Moçambique.
Para ajudar a criar novos motores de crescimento, o Governo pretende que o Fundo Soberano tenha um papel importante ao assumir grande parte dos investimentos estruturais que o País necessita.
A criação do Fundo Soberano permitirá que algumas despesas do Estado sejam cobertas pelos fundos arrecadados do negócio do gás, pois em cada ano fiscal irá ocorrer uma transferência de fundos do Fundo Soberano de Moçambique (FSM) para a Conta Única do Fundo (CUF), depois da publicação da Lei Orçamental, onde estará descrito o montante da dotação aprovada nesse ano.
Na proposta de criação do Fundo Soberano é sugerido ainda que, nos primeiros 15 anos de operacionalização do mesmo, as receitas projectadas sejam repartidas entre 40% para a conta única do fundo e 60% para o Orçamento do Estado, garantindo que uma parte substancial daquelas sejam investidas no desenvolvimento do tecido industrial nacional e nas infra-estruturas necessárias ao seu crescimento.
Esta garantia de investimento é animadora, pois os fundos obtidos na indústria de hidrocarbonetos serão alocados aos sectores produtivos prioritários e estratégicos, que serão fortes motores
O Papel do Fundo Soberano no Desenvolvimento Industrial do País
de crescimento e dinamização da economia moçambicana no futuro. O Fundo Soberano terá então um papel fundamental para inverter a situação actual, em que os indicadores apontam para uma redução da rubrica de investimento em 2023, como se pode ver no gráfico abaixo
consequentemente, as suas exportações. Mais abaixo a evolução da conta corrente na qual se observam melhorias muito marginais nos difíceis anos 2020 a 2021:
Por estes motivos, é prioritário que haja um esforço de canalização de fundos de investimento para a chamada indústria tradicional e novas indústrias
Se esta redução do investimento não for invertida, podemos correr o risco de verificar um forte crescimento da exportação de recursos naturais, como carvão mineral, energia eléctrica, alumínio, areias pesadas e gás natural, e um contínuo declínio das exportações do tabaco, do açúcar, da amêndoa e da castanha de caju, como se tem assistido nos últimos anos por falta de investimento necessário na cadeia de valor.
A produção de produtos tradicionais, como os rubis, o algodão, os legumes e as hortícolas, tem seguido uma tendência diferente aumentando as suas receitas e,
prioritárias, para que o desenvolvimento económico e social de Moçambique seja inclusivo e diversificado, permitindo uma partilha da riqueza mais equitativa.
Com este crescimento mais diversificado, poderemos dotar a economia moçambicana de uma maior solidez, que ajudará a evitar efeitos nefastos como a conhecida “doença holandesa” (deutch desease), com a qual o aumento das exportações dos hidrocarbonetos pode gerar uma valorização pronunciada do metical e com isto prejudicar as exportações dos restantes produtos provenientes das indústrias tradicionais.
www.economiaemercado.co.mz | Novembro 2022 22 OPINIÃO
Cláudio Pondja • Head Of Wealth Management do Banco Big
NAÇÃO | SUSTENTABILIDADE
Como Sustentar a Sustentabilidade?
O mês de Novembro foi marcado pela 27ª Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas, a COP27, em busca de uma reacção internacional urgente contra as mudanças climáticas. Com o tema da sustentabilidade na mesa, de há anos a esta parte, a reunião, que juntou representantes de cerca de 200 países em Sharm El-Sheik, no Egipto, despertou-nos para a ideia de olharmos para Moçambique neste capítulo. Estaremos a desenhar um percurso sustentável nas várias dimensões do País, do sector público ao privado, naquilo que é hoje a ESG?
Texto Celso Chambisso • Fotografia Istock & D.R.
Asustentabilidade é a busca pelo equilíbrio entre o suprimento das necessidades humanas e preservação dos recursos naturais, naturalmente finitos, por forma a não comprometer o futuro das próximas gerações. A sustentabilidade representa, por isso, o equilíbrio entre a (ainda muito) necessária exploração de recursos naturais e inexorável preservação do meio ambiente. Vicente Bento, partner & operations manager da Insite Moçambique, que presta serviços de consultoria nesta área, começa por abordar o conceito de sustentabilidade sob uma perspectiva mais holística: o ESG, que comporta a governança ambiental, social e corporativa, cuja sigla proveniente do inglês abarca os conceitos de Environmental, Social, and Governance.
Estes três pilares, devem ser absorvidos de forma integrada pelas instituições e sugerem uma actuação harmonizada entre empresas, sociedade e Governo na busca do tal desenvolvimento sustentável, quer através de uma intervenção ao nível macro (do País no seu todo), quer ao nível micro (individual, da vida das empresas e da sociedade). Mas a complexidade e dimensão do que é, de facto, sustentabilidade, desdobra-se ainda mais.
Cada um dos seus elementos abarca uma lista considerável de aspectos que vão das boas práticas ambientais à adopção das energias renováveis, passando pelo respeito pelas comunidades e até a questões que parecem "estranhas" a esta causa, como a adopção de políticas anti-suborno, anti-corrupção, aqui na área do Governance.
“Por exemplo, uma empresa que se diz sustentável, para o fazer com propriedade, tem de cumprir não só com a parte ambiental, mas contemplar todos os outros pilares da sustentabilidade. Mesmo do ponto de vista dos investidores, nota-se cada vez mais uma tendência de que os que querem apostar nas empresas seleccionam as que cumprem os padrões de sustentabilidade. Portanto, nos dias que correm, a sustentabilidade tornou-se num imperativo para a capacidade de captação de investimentos e para o bom desempenho empresarial”, esclarece.
Com tantos problemas, aparentemente mais urgentes, temos, enquanto País, condições de... sustentar a sustentabilidade? A resposta só pode ser sim, até porque, pode estar no conceito de sustentabilidade, guardada a resposta do tão almejado, e aguardado desenvolvimento de Moçambique.
COP27 olhou para os países em desenvolvimento, e para Moçambique
À semelhança do que sucedeu nas anteriores grandes reuniões do clima que se realizam desde 1992, na COP27 o mundo esteve focado na busca do tão difícil consenso sobre a redução das emissões de poluentes que causam o aquecimento global. O assunto parece meramente de cariz ambiental, mas acaba por ter ligação com todos os outros pilares (económico e social), mesmo porque, naquele encontro, foi igualmente centro das atenções a busca pelo cumprimento das compensações financeiras que os países ricos devem disponibilizar a favor dos países em desenvolvimento para ajudá-los a mitigar os efeitos das mudanças climáticas.
É que os países desenvolvidos não cumpriram a promessa de mobilizar 100 mil milhões de dólares por ano até 2020, o que abriu uma brecha de desconfiança em relação às novas promessas. E uma das constatações feitas pelos cientistas na COP27 incidiu na circunstância de quanto mais crescerem as necessidades das nações mais pobres, mais alta terá de ser a meta a definir a partir de 2025.
Moçambique está entre os países que mais precisam do apoio das nações ricas, visto que é dos mais afectados pelas mudanças climáticas nos últimos anos, apesar de ser um dos que menos emitem poluentes para o meio ambiente.
E foi exactamente este o ponto apresentado pelo Presidente da República, Filipe Nyusi, nesta reunião: “estamos
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O mundo reconhece a necessidade de reduzir as emissões de CO2, mas falta atitude
Social
Engloba as pessoas e as suas condições de vida, como educação, saúde, violência, lazer, entre outros aspectos.
A sustentabilidade social sugere a igualdade dos indivíduos baseada no bem-estar da população. Para isso, é necessária a participação da população no fortalecimento das propostas de desenvolvimento social.
Económica
Está relacionado com a produção, distribuição e consumo de bens e serviços.
A sustentabilidade económica é fundamentada num modelo de gestão sustentável. Isso implica uma gestão adequada dos recursos naturais, que objectivam o crescimento económico, o desenvolvimento social e a melhoria da distribuição de renda.
prontos para dar o nosso contributo, mas… financiamento é preciso. Pode ser por investimentos ou através de doações no âmbito da redução da poluição ao nível mundial, mas é preciso financiar.”
Entretanto, cá por dentro, longe da esfera global, o tema da sustentabilidade vem sendo levantado há vários anos, quer do ponto de vista das metas preconizadas nos 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (OSD) das Nações Unidas para 2030, quer do ponto de vista de uma cada vez maior exigência de as empresas e corporações privadas estarem alinhadas com as boas práticas que melhor respondem aos desafios do desenvolvimento sustentável (o que procura suprir as necessidades da geração actual sem comprometer a capacidade de
Ambiental
Refere-se aos recursos naturais do planeta e à forma como são utilizados pela sociedade ou empresas. O objectivo é que os interesses das gerações futuras não sejam comprometidos pela satisfação das necessidades da geração actual. Todos devem estar em harmonia com o ambiente por uma melhor qualidade de vida.
atender as necessidades das futuras gerações, isto é, um desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro).
Cumprir ODS até 2030?
O que desde cedo pareceu, para muitos, uma utopia, agora, a sete anos da meta, está mais evidente. A possibilidade de remover os 17 obstáculos ao desenvolvimento sustentável (assumidos em 2015) até 2030 é remota, embora o Governo continue firme, prevendo gastar mais de 400 mil milhões de meticais em 2023, que correspondem a 6% da despesa total prevista para o apoio a esta causa.
Mas o que alimentou o optimismo quanto ao alcance de tal ambição?
Jaime Comiche, quadro moçambicano que trabalha como secretário da
UNIDO – órgão das Nações Unidas focado no desenvolvimento sustentável para a actividade industrial –, explica que desde a Revolução Industrial o mundo assistiu a um excessivo consumo de matérias-primas e de energia.
Recentemente, perante a ameaça global ocasionada pelas mudanças climáticas, começou-se a buscar soluções para racionalizar o consumo e aumentar a eficiência energética. Cientistas e decisores vão chamando a atenção sobre os riscos que não são levados em conta pela sociedade. Não se está a verificar uma efectiva mudança de atitude em relação aos hábitos ambientalmente nocivos. Foi este o princípio que norteou a agenda ONU em 2015 para o estabelecimento das metas dos ODM para 2030.
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O conceito de sustentabilidade encontra suporte em três princípios fundamentais: o social, o ambiental e o económico, também conhecidos pela sigla ESG (Environmental, Social and Corporate Governance)
O TRIPÉ DA SUSTENTABILIDADE
“No início, esperava-se que em 15 anos a situação mudaria porque a sociedade já tinha a consciência do que estava a acontecer, mas agora fica cada vez mais claro e evidente que não será possível atingir as metas do desenvolvimento sustentável nos restantes sete anos por causa da grandiosidade dos desafios”, admite Jaime Comiche.
Oportunidades
perdidas
Em Março deste ano, a consultora internacional de recursos humanos Michael Page apresentou um relatório sobre talento e sustentabilidade que demonstra esta última como uma das prio-
ridades das organizações com importância estratégica para o desenvolvimento dos seus negócios. Ou seja, há uma tendência significativa de aumento da procura de profissionais, principalmente de perfis especializados, para funções de direcção, apesar de ser uma área recente. No âmbito da gestão da sustentabilidade corporativa, destacam-se os perfis de head of ESG, sustainable development manager ou head of diversity & inclusion, nas quais as remunerações oscilam entre 70 mil euros e 100 mil euros em empresas com facturação entre 20 milhões de euros e 250 milhões de euros.
Em Moçambique não há formação es-
pecífica nesta área. Tudo funciona com base, digamos, no improviso. Os profissionais que têm formação básica em algumas áreas como economia, direito e engenharias procuram por algumas noções sobre sustentabilidade e passam a desempenhar a função de gestor de sustentabilidade nas empresas.
Para o representante da UNIDO, Jaime Comiche, a carência de liderança e de quadros qualificados nesta questão é que faz com que, muitas vezes, soluções simples não sejam materializadas por falta de capacidade institucional caracterizada por inúmeras barreiras, incluindo as fiscais. Assim, na óptica do respon-
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No business breakfastz do Absa Bank, Jaime Comiche, da UNIDO, admitiu que o País não vai a tempo de cumprir os ODS até 2030
OS 17 ODS E O ESFORÇO DO GOVERNO PARA OS CUMPRIR
Quase ninguém acredita que é possível cumprir as metas dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável nos próximos sete anos. Mas o Governo vai continuar a fazer a sua parte. Em 2023 prevê-se gastar mais de 400 mil milhões de meticais nesta causa.
Alocação orçamental 2023 (mil milhões Mt)
ERRADICAÇÃO DA POBREZA
FOME ZERO E AGRICULTURA SUSTENTÁVEL
% da despesa total
dade social, sendo que a maior parte foi preenchida no ramo do oil & gas e algumas ONG”, explicou.
Entretanto, a pandemia do covid-19 veio quebrar o ritmo de procura por profissionais da área da sustentabilidade, pelo que, este ano, as vagas para esta área representam apenas entre 8% e 10% das vagas de emprego disponibilizadas.
IGUALDADE DE GÉNERO
ÁGUA POTÁVEL E SANEAMENTO
ENERGIA LIMPA E ACESSÍVEL
TRABALHO DECENTE E CRESCIMENTO ECONÓMICO
INDÚSTRIA, INOVAÇÃO E INFRA-ESTRUTURAS
SAÚDE E BEM-ESTAR CIDADES E COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS
EDUCAÇÃO DE QUALIDADE CONSUMO E PRODUÇÃO RESPONSÁVEIS
“A tendência para vagas em sustentabilidade tem crescido muito, ligadas às áreas da indústria e das energias renováveis, sustentabilidade corporativa, etc. Os candidatos procuram emprego em empresas que são socialmente sustentáveis”, explicou Sónia Silva. O contributo da Contact na sustentabilidade (neste caso, no pilar social) começa com a preocupação em apoiar jovens a desenvolverem uma postura que os coloque em vantagem na procura de vagas de emprego, como a elaboração de currículos profissionais.
REDUÇÃO DAS DESIGUALDADES
ACÇÃO CONTRA A MUDANÇA GLOBAL DO CLIMA
VIDA NA ÁGUA
VIDA TERRESTRE
sável, é preciso mostrar ao Governo todas as barreiras que se colocam ao nível da ESG em Moçambique e estimular as entidades que têm a possibilidade de assegurar a sustentabilidade, como as startup. Em relação às PME, o facto de parte significativa delas serem informais coloca-as numa situação “precária” na busca da sustentabilidade, pelo que “os bancos têm de ajudá-las a desenvolver a massa crítica no que diz respeito a esta questão”, sugeriu.
Mercado do trabalho: necessidade é mais forte do que a disponibilidade Mesmo com carências ao nível da for-
mação, na linha do que acontece à escala global, o mercado de trabalho em Moçambique já começou a orientar as regras de contratação de profissionais baseadas nas competências em sustentabilidade. Sónia Silva, administradora da Contact, uma das mais importantes empresas de recrutamento do mercado, revela que “em 2014, seleccionámos muitos técnicos de sustentabilidade para as áreas ambiental e ecológica em várias províncias, por causa de um grande projecto da área florestal. Em 2019 foi o nosso pico: 20% das nossas vagas de emprego foram para essas áreas e eram muito ligadas ao ambiente e à responsabili-
Outro projecto da Contact é o designado “vaga não se compra”, que visa educar e orientar as pessoas evitando a ocorrência de fraudes. “Na minha opinião, os profissionais com conhecimentos de sustentabilidade têm tantas possibilidades de singrar no mercado de trabalho quanto os da saúde e das tecnologias”, defende a responsável.
Gás ao serviço da sustentabilidade
A E&M também ouviu Manuel Mota, Consultor em energias renováveis e mudanças climáticas ao nível da Ernst & Young, que defende que a transformação rumo à sustentabilidade dependerá muito da capacidade de produzir gás, energia hidroelétrica ou de outras fontes com menor intensidade de carbono do que nos outros países.
Considera ser esta a fórmula para atrair mais investimentos, porque as entidades que financiam o desenvolvimento estão cada vez mais interessadas em saber se estarão ou não a apoiar projectos amigos de ambiente. Assim, Manuel Mota defende que o País embarque na definição de prioridades de investimentos dentro do prisma da transição energética, para concorrer em vantagem ao investimento internacional, na concorrência com outros países de África e do mundo.
Como lá chegar? “Só com o envolvimento de todos”, explica o consultor, referindo-se às organizações da sociedade civil, comunidades e o Governo. Manuel Mota sugere, nesta estratégia, a criação de um sistema de incentivos ou benefícios que atraia potenciais investidores na área das energias renováveis. Mas sublinha que uma parte deve
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110 4,4 47,8 53,9 15,1 16,5 6,5 44,1 4 23,6 1,1 4,9 35,8 24,4 6,1 2,2 0,8 27,4 1,1 11,9 13,4 3,8 4,1 1,6 11 1 5,9 0,3 1,2 8,9 6,1 1,5 0,6 0 FONTE PESOE 2023
PAZ, JUSTIÇA E INSTITUIÇÕES EFICAZES PARCERIAS E MEIOS DE IMPLEMENTAÇÃO
ser financiada com a operação de gás e, eventualmente, com o financiamento estrangeiro.
Além disso, o responsável entende que é necessário muito investimento na formação. “Temos de formar pessoas, técnicos capazes de executar os objectivos traçados e tudo isso é uma simbiose de pequenos programas, projectos, iniciativas que têm de acontecer de uma forma paralela, para que efectivamente haja o envolvimento da comunidade local e não é importar tudo o que é o País precisa”, explicou.
A boa notícia é que os pontos fracos do País são objecto de atracção de organizações com conhecimento e que que-
rem ajudar o país no processo de transformação. Um dos exemplos mais recentes é a entrada, no mercado nacional, da empresa portuguesa de consultoria em sustentabilidade, a Stravillia, que abriu, aqui, a sua primeira filial fora do seu país de origem. De acordo com o sócio fundador da Stravillia, Francisco Neves, a intenção é apoiar empresas moçambicanas na percepção das temáticas ESG mais importantes para as suas operações, de modo a que possam incluí-las nas suas estratégias de crescimento.
A expansão da empresa para Moçambique é, igualmente, uma oportunidade que advém do facto de já ter clientes nacionais a quem vinha prestando ser-
viços. Mais um sinal de que este tema vem merecendo cada vez maior atenção das empresas. “sentimos que existe vontade e necessidade de trabalhar o tema da sustentabilidade”, sublinhou Frncisco Neves. Em Moçambique a Stravillia vai prestar os mesmos serviços que em Portugal, assente em áreas como Agenda de Sustentabilidade, Roteiro de Sustentabilidade, Serviços de Carbono, Relatórios de Sustentabilidade e Índices e Rankings de Sustentabilidade.
A empresa também projecta apoiar empresas de sectores que incluem Oil & Gas, Carvão, Agricultura, Aquacultura, Pescas e instituições financeiras.
Finanças verdes. Qual é a postura do sector financeiro?
O mundo também está a atacar a questão da sustentabilidade através das finanças, no sentido de começar a priorizar pedidos de financiamento que terão reflexos positivos em qualquer dos seus três pilares (social, económico e ambiental) – as chamadas finanças verdes.
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NAÇÃO | SUSTENTABILIDADE
formar técnicos capazes
executar
objectivos traçados", assinala
especialista
sustentabilidade
“Temos
de
de
os
Manuel Mota,
em
da EY
Manuel Mota, consultor da EY, defende "maior foco" na captação de investimentos para a área das renováveis
No dia 15 de Novembro, durante o ESG Business Breakfast realizado em Maputo pelo banco Absa sob o lema “Uma conversa em torno da sustentabilidade do contexto pan africano”, Martha Humbane, directora de negócios para a Banca Corporativa e de Investimentos do banco, revelou que esta instituição é signatária do Pacto Global das Nações Unidas desde 2021 e está comprometida no apoio ao desenvolvimento de uma economia com índices sólidos de sustentabilidade.
De acordo com a responsável, neste quadro, o banco actua de diversas formas, sendo de destacar a avaliação do crédito em que privilegia a concessão a favor de projectos ambiental, económica e socialmente viáveis como, por exemplo, entidades (individuais ou colectivas) que procuram financiamento para desenvolverem qualquer iniciativa que implique a redução do consumo de energia ou de água, a construção de casas ecológicas, etc. O mundo também está a atacar a questão da
sustentabilidade através das finanças, no sentido de priorizar pedidos de financiamento que tenham reflexos positivos neste contexto. Heidi Barends, sul-africana responsável pela sustentabilidade financeira da Banca Corporativa e de Investimentos do Grupo Absa, revelou que África está a registar uma explosão de financiamento sustentável, que tende a considerar os projectos que tragam vantagens para o planeta.
O financiamento sustentável, de acordo com esta especialista, tem crescido muito em países como a África do Sul, Namíbia, Egipto, Quénia, Gana e Nigéria. Em Moçambique, a questão das finanças verdes não está muito de-
senvolvida. As regras desta componente não existem sequer, e o Banco Central está ciente disso.
Numa reunião realizada em Dezembro de 2020 entre o Banco de Moçambique (BdM) e a Aliança para a Inclusão Financeira para falar sobre as finanças verdes, o governador Rogério Zandamela assumiu que o País precisa de apressar a incorporação da sustentabilidade e resiliência no quadro de políticas internas o mais urgentemente possível. Isto porque “estamos na fase inicial em matéria de finanças verdes inclusivas”, as experiências recentes mostram que Moçambique tem várias vulnerabilidades a desastres naturais.
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NAÇÃO | SUSTENTABILIDADE
Assegurar qualidade na Educação é uma das premissas da sustentabilidade
O mundo também está a atacar a questão da sustentabilidade através das finanças, no sentido de priorizar pedidos de financiamento que tenham reflexos positivos neste contexto
Banco Mundial defende um novo modelo de desenvolvimento sustentável
Fora do âmbito macro, o que até num passado recente era uma luta isolada dos ambientalistas está a generalizar-se e a fazer parte da estratégia de actuação de um número cada vez maior de empresas
ECONOMIA CIRCULAR: O QUE DE BOM SE FAZ NO MERCADO? TOPACK
Promove a recolha de cerca de 8000 garrafas pet por ano desde 2018, beneficiando directamente 6600 mulheres e jovens, com impacto na renda de cerca de 40 mil famílias. Com o preço de reciclagem de cada garrafa a ter variado de sete meticais para os actuais 17 meticais, o rendimento dos praticantes desta actividade conheceu um crescimento assinalável. O compromisso que a empresa agora assume é que, até 2025, 100% das garrafas pet serão recicladas.
COCA-COLA TOTALENERGIES
Uma indústria que transforma materiais de plástico em diversos utensílios de uso doméstico e industrial, certificada a todos os níveis, a Topack possui uma equipa de pessoal especializado na área de transformação de plásticos bem como na sua oficina de moldes. De acordo com o respectivo director-geral, Jaime Lima, a empresa aposta na mão-de-obra local como forma de valorizar e desenvolver técnicos moçambicanos.
Uma das instituições multilaterais que mais apoiam o desenvolvimento sustentável e inclusivo de Moçambique, o Banco Mundial, publicou, em Junho deste ano, um estudo que revela o caminho que deve ser seguido para o alcance da sustentabilidade, mas com foco nos objectivos macroeconómicos.
A partir de uma análise do trajecto da economia moçambicana ao longo do tempo (desde a prosperidade iniciada em 1993, alimentada pela indústria extractiva, até à instabilidade iniciada em 2016 com a descoberta das dívidas não declaradas, a que se seguiu uma série de fenómenos como ciclones e a pandemia do covid-19), conclui que a estratégia em vigor para o crescimento sustentável tem tido uma capacidade limitada de gerar empregos produtivos e apoiar uma redução acelerada da pobreza.
HCB
A sustentabilidade está presente a partir de experiências negativas como quando ocorre a escassez de água no caudal do rio Zambeze. Em 2017, por exemplo, este problema chegou a reduzir em 20% a capacidade de geração de energia. Segundo o seu representante, Hortêncio Maholela, a empresa começou a tomar todo o tipo de medidas que hoje confere cerificações a diversos níveis: ambiental, de saúde e segurança no trabalho, de qualidade, etc.
Apesar da interrupção das actividades devido à insegurança, está a desenvolver uma iniciativa de restauração do mangal nos distritos de Palma e Mocímboa da Praia, onde foram já plantados 330 hectares, criando vários postos de trabalho. Laila Chilemba, vice-presidente do Desenvolvimento Social e Económico, refere que empresa criou igualmente a plataforma “Juntos Somos Capazes”, que aglutina as entidades interessadas no desenvolvimento sustentável.
Refere ainda que, a recente descoberta de algumas das maiores reservas de gás natural (GNL) do mundo podia representar uma oportunidade única de um crescimento sustentado e inclusivo para Moçambique. No entanto, para se tirar maior proveito dos recursos esperados do GNL e fazer chegar aos mais pobres, será necessário um novo e ambicio-
É um inquestionável activista da sustentabilidade. Defensor da protecção da biodiversidade, Carlos Serra promove campanhas de recolha de resíduos nas praias, educa as crianças nas escolas primárias sobre preservação do meio ambiente e investe na transformação de resíduos em utilidades. Um dos exemplos é a casa de vidro que construiu nas imediações do Macaneta Beach Resort, no distrito de Marracuene.
GREENLIGHT (RENOVÁVEIS)
Há muitas iniciativas a serem desenvolvidas no País para possibilitar a meta do acesso universal à energia até 2030. A Greenlight, uma empresa que opera nos sectores de energia e meio ambiente desde 2010, fez uma avaliação do potencial de expansão das renováveis e concluiu que o FUNAE lançou um portefólio de 675 sites mini-redes e realizou estudos em várias comunidades fora da rede para atrair o sector privado. No que diz respeito à expansão, prevê-se que, até 2030, 31% da população tenha acesso à energia por meio de sistemas solares domésticos.
so modelo de crescimento que vá além das indústrias extractivas.
Para isso, Moçambique terá de adoptar um quadro político e institucional adequado antes das receitas do GNL. Um quadro orçamental que funcione correctamente (incluindo regras e objectivos orçamentais claros) para uma gestão bem-sucedida destas receitas voláteis no futuro. Para o Banco Mundial, um fundo soberano bem gerido pode ajudar a alcançar a estabilização a curto prazo e poupanças de longo prazo para as gerações futuras. Uma gestão macroeconómica prudente envolveria também um
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“Além de se maximizar a receita do GNL, é essencial incentivar o crescimento em sectores não extractivos para um crescimento económico de base alargada..."
CARLOS SERRA JÚNIOR
Na COP27, UE anunciou que apoiaria a criação de um fundo de apoio aos países pobres, desde que países emergentes com altas emissões de carbono, como a China, também ajudassem...
aumento gradual do investimento, que tenha em consideração a limitada capacidade de absorção, e melhore simultaneamente a qualidade dos investimentos públicos. “Além de se maximizar a receita do GNL, é essencial incentivar o crescimento em sectores não extractivos como a agricultura e os serviços, para promover um crescimento económico de base alargada. Numa primeira fase, as políticas deverão ser orientadas para a maximização dos benefícios do crescimento movido pelos recursos”, recomenda a instituição.
Na COP27, a UE anunciou que suportaria a criação de um fundo de apoio aos países pobres, desde que países emergentes com altas emissões de carbono, como a China, também ajudassem...
Pelo mundo… o mesmo problema
Engana-se quem pensa que a sustentabilidade é problema apenas nos países africanos ou dos mais pobres. Em Portugal, por exemplo, o relatório do Observatório dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável, publicado em Outubro
pela Católica Lisbon School of Business & Economics, conclui que a maioria das empresas portuguesas desconhece como implementar os ODS, embora estejam cada vez mais alinhadas com a sustentabilidade.zOs sectores dos media, dos químicos e das tecnologias são os mais atrasados.
Segundo o relatório, 95% das grandes empresas e 77,7% das PME vêem a sustentabilidade como uma oportunidade estratégica, mas para ambos os universos a falta de conhecimento de como operacionalizar é a principal barreira para a adopção dos objectivos da Agenda 2030 das Nações Unidas. Porém, tal é mais expressivo nas PME (49,4%) do que para a grandes empresas (21,7%) que, por motivos de cumprimento de legislação e concorrência, já estão, na prática, a implementar alguns ODS.
"A principal dificuldade que as empresas têm na implementação dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável é perceber como é que podem operacionalizar esta agenda, porque é muito vas-
ta, são muitos objectivos e, por vezes, não é a linguagem que as empresas estão habituadas a usar.
Esta barreira é comum às pequenas e médias empresas e também às grandes", explicou Filipa Pires de Almeida, responsável pelo relatório e sub-directora do Center for Responsible Business and Leadership da Católica Lisbon School of Business & Economics, que realizou o estudo em parceria com a Fundação BPI "la Caixa" e a Fundação Francisco Manuel dos Santos. Muitas situações como esta acontecem um pouco por todos os países.
COP27: mais uma tentativa de compensar
países pobres
Até um dia depois do fim da COP27, havia apenas um rascunho dos resultados práticos que se pretendiam com a reunião, e a versão do rascunho da declaração final trazia a possibilidade de criação de um fundo para compensar os países em desenvolvimento mais afectados pelas mudanças climáticas, entre os quais Moçambique.
A UE anunciou, um dia antes do fim da reunião (17 de Novembro), que apoiaria a criação de um fundo apenas se os países emergentes com altas emissões de carbono, como a China, também ajudassem a custear a nova iniciativa. O resultado? Poucos avanços!
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Tânia Oliveira • Directora de Marketing e Relações Corporativas do Absa Bank Moçambique
As organizações e os consumidores estão cada vez mais atentos à pegada ecológica. A sustentabilidade ganhou maior relevância nas estratégias a longo prazo das organizações pela certeza estabelecida cientificamente em relação à finitude dos recursos naturais, pelas mudanças climáticas e disparidades económico-sociais, pelos ganhos no que toca à eficiência, redução de custos e inovação e pela gestão da relação com os clientes.
Valorizar a sustentabilidade na estratégia de marketing de uma organização permitirá aumentar o valor e a reputação da marca que, por sua vez, ajudará a atrair e a reter funcionários bem como a fortalecer as relações com as partes interessadas.
Nesta premissa, passa a ser urgente a incorporação de novos padrões e exigências de consumo além da criação de novas oportunidades de negócio alimentadas pelas tendências ligadas à sustentabilidade como criadora de real valor.
As novas exigências e padrões de consumo tendem a alterar, e hoje o consumidor não se foca apenas em produtos, serviços e preço: ele procura algo que lhe proporcione experiências com significado, procura criar ligação e identificar-se com as marcas, o que acaba por reforçar laços mesmo que, em algumas situações, de forma inconsciente.
Ou seja, podemos dizer que a tendência de consumo passou a ser mais relacional.
Olhando neste prisma, a forma como trabalhamos uma marca definirá e ditará a duração da relação dos consumidores com as organizações.
E é neste sentido que a sustentabilidade e o marketing passam a ter uma correlação e uma influência um sobre o outro. Hoje, os consumidores e a no-
O Marketing na Era da Sustentabilidade
va geração têm uma maior consciência ambiental e social e procuram uma nova abordagem para viverem e consumirem em maior harmonia, obtendo, a título de exemplo, informações sobre o impacto ecológico dos produtos, mesmo que para tal passem a pagar um preço superior.
Não resta a dúvida que o papel das organizações e a importância do papel do marketing para a criação de um novo mundo contribuirá para acelerar um futuro sustentável tão desejado e necessário.
Para criar uma marca sustentável, convincente e cativante, as organizações têm de conhecer e compreender os seus consumidores e o que estes procuram, e garantir que incorporam todas as premissas de sustentabilidade
O papel da marca
Nos dias de hoje, uma boa marca não se resume ao logótipo nem a uma campanha publicitária magnética. Uma boa marca deve procurar tocar na emoção de um público-alvo e impulsioná-lo a uma determinada acção.
Uma boa marca deve apelar e cultivar a mudança, a transformação, ser geradora de um impacto positivo na sociedade e na forma de agir das comunidades onde está inserida. Para criar uma marca sustentável, con-
vincente e cativante, as organizações têm de conhecer e compreender os seus consumidores e o que estes procuram, e garantir que incorporam todas as premissas de sustentabilidade na comunicação de uma forma eficaz e autêntica, evidenciando o valor real e os benefícios criados sempre com o propósito de gerar valor humano e sustentável.
O papel dos marketeers
Podemos elaborar grandes planos e estratégias de comunicação para as redes sociais, desenhar embalagens e etiquetas ‘verdes’, mas se de facto as operações das organizações não evidenciarem acções em concreto com real impacto nas temáticas de sustentabilidade, a longo prazo estes planos e estratégias não terão qualquer retorno.
A autenticidade é a palavra de ordem. O consumidor está cada vez mais informado e é preciso garantir que toda a construção de um modelo de negócio sustentável é feito de forma transparente.
Por outro lado, os marketeers influenciam, ou devem conseguir influenciar, os consumidores nas suas escolhas e tomadas de decisão.
Têm, portanto, um papel fundamental nesta nova era. Isso exige uma mudança de mindset e alguma criatividade para se conseguir demonstrar os benefícios sociais e ambientais de determinados modelos de negócio.
Em modo de conclusão, os negócios que pretendam responder aos novos padrões de consumo e ter sucesso neste novo capítulo devem rapidamente adoptar um conjunto de práticas sustentáveis, de uma forma holística e transversal, que elevem não apenas o seu crescimento, mas também que sejam impulsionadores do crescimento dos seus funcionários, clientes e sociedade em geral.
www.economiaemercado.co.mz | Novembro 2022 36 OPINIÃO
“Muitas Empresas Encaram a Sustentabilidade de Forma Empírica”
AInsite contribuiu para o desenvolvimento da política ambiental do MOZPARKS no Parque Industrial de Beluluane, província de Maputo, com a criação de um conjunto de directivas e requisitos de nível ambiental que as empresas do parque devem respeitar. E presta também assistência a empresas que implementam sistemas de gestão ambiental, permitindo a poupança de recursos humanos e financeiros através da aquisição da eficiência na utilização de energia, água e outros recursos.
Nas suas diversas frentes de intervenção, a Insite dá o seu contributo na persecução da meta do Governo em assegurar o acesso universal à energia até 2030, através da implementação de sistemas de gestão de energia e na formação de quadros técnicos da área das energias renováveis que possam apoiar a construção dos parques de produção energética e de técnicos da área do oil & gas, capazes de dar resposta às necessidades que vão existir no futuro.
A certificação dos seus clientes nas diferentes esferas da actividade empresarial é a principal ferramenta que mostra o quanto as organizações estão comprometidas com a causa ambiental. E,
segundo Vicente Bento, há um número cada vez maior de entidades nacionais, colectivas e individuais, que começam a perceber o grau de importância que devem atribuir às questões da sustentabilidade.
A Insite é uma das poucas organizações que trabalham na área da sustentabilidade. Dentro da sua própria história, como é que começa a ser construída a ligação com esta área?
A Insite foi formada em 2010 e durante esse tempo a sustentabilidade sempre fez parte da empresa, desde os primeiros projectos inseridos na área da nutrição, onde entra a parte da sustentabilidade no seu lado social.
Ao longo do percurso da empresa, fomos avançando para outros aspectos, como a qualidade, que se foca na organização dos processos das empresas, melhoria contínua, etc., e fomos percebendo a necessidade das empresas implementarem outro tipo de normas além da da qualidade, principalmente a parte ambiental – ISO 1400 –, e a parte da saúde e segurança no trabalho – ISO 45001.
Estas são as normas mais implementadas não só em Moçambique, mas a nível mundial. Apoiamos clientes que tenham interesse em implementar este ti-
po de sistemas de gestão e até de virem a certificar-se, sendo que temos outras normas relacionadas com a área da gestão e de energia (ISO 50001) e responsabilidade social (ISO 26001). Temos um conjunto de consultores que trabalham em cada uma destas áreas dando apoio às solicitações das empresas.
Qual é o nível de conhecimento que as organizações em Moçambique têm sobre a importância de investir na sustentabilidade?
Sustentabilidade é um conceito que já não é novo. Vem desde 1987, quando se falou, pela primeira vez, numa das conferências das Nações Unidas sobre o desenvolvimento sustentável, e que significa garantir a qualidade de vida das pessoas sem comprometer as gerações futuras.
assegura Vicente Bento
É um caminho que se trilha a nível mundial. No caso das empresas moçambicanas, é um processo que está agora
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Texto Celso Chambisso • Fotografia Mariano Silva
Vicente Bento, especialista na implantação de sistemas de gestão da qualidade, saúde, segurança e meio ambiente, e igualmente partner & operations manager da consultora Insite aponta o défice de capital humano como um dos maiores obstáculos ao desenvolvimento pleno da sustentabilidade no sector privado
“Apesar de tudo, ao longo do tempo vemos, claramente, melhorias nas empresas que implementam os programas de sustentabilidade”,
a afirmar-se como uma tendência. Isto porque uma empresa sustentável é também saudável economicamente, respeita os seus trabalhadores, o meio ambiente e a comunidade onde se insere. Diria que há cada vez mais uma maior preocupação das empresas moçambicanas em se orientarem por estes padrões sabendo da importância que a sustentabilidade tem nas suas empresas.
É possível traçar um perfil, em termos financeiros e por área de actividade, das empresas e organizações nacionais que têm uma melhor noção da importância de investir na sustentabilidade e que buscam a assistência da Insite neste domínio?
Ao nível de sectores, é transversal. Podemos falar de empresas no sector industrial, construção, banca, seguradoras. Acredito que é uma preocupação transversal a vários sectores ou em todos. Mas tudo depende da gestão de
topo das empresas e das suas políticas. Muitas políticas de sustentabilidade de empresas internacionais trazem conceitos dos seus países de origem, as boas práticas, mas não só. Temos muitos e bons exemplos de empresas moçambicanas que adoptam e implementam estes conceitos e práticas.
Obviamente que há sectores cujos impactos são maiores não só no meio ambiente como nas comunidades em que se inserem, e em que a preocupação deve ser maior. Por exemplo, há uma grande diferença do impacto e dimensão das responsabilidades numa mineradora ou empresa de oil & gas ou numa pequena e média empresa moçambicana..
Como é que a Insite actua em cada um dos três domínios da sustentabilidade, nomeadamente o económico, o social e o ambiental, e quais são os grandes projectos em que está envolvida?
A Insite vê sempre os três pilares de
uma forma integrada. Um dos serviços que oferecemos tem que ver com o ESG, cuja implementação nas empresas tem diferentes vertentes. Por exemplo, quando falamos da parte económica de governance referimo-nos a questões como a segurança de informação, continuidade do negócio, políticas anti-corrupção e anti-fraude.
O pilar “social”, além da ISO 45001, trata de questões como direitos laborais, salários justos, proibição de mão-de-obra infantil e promoção do envolvimento da comunidade local. Já a parte ambiental tem que ver com os impactos ambientais que as empresas podem provocar, sendo as alterações climáticas a maior preocupação da actualidade, segundo o que se discutiu na COP27.
Mas os eventos ambientais, depois, trazem repercussões económicas e sociais, por isso é crucial as empresas baixarem as emissões de CO2 e estarem atentas à necessidade de mudar para os
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combustíveis amigos do ambiente no quadro da transição energética. Em relação à parte “ambiental”, temos a norma ISO 14001, que ajuda as empresas a minimizarem os seus impactos ambientais, nomeadamente a poluição sonora, das águas, produção de resíduos, etc.
Além disso, existe a norma ISO 50001 através da qual uma empresa consumidora intensiva de energia pode, através de vários programas, ir monitorizando o seu consumo, adoptar um plano de racionalização e assim reduzir a emissão de CO2. Quando falamos de sustentabilidade não devemos dissociar nenhum dos pilares. Isto é, a empresa pode ter as melhores práticas ambientais e sociais, mas se não for financeiramente viável, não é sustentável.
Também pode ter muitos lucros, mas se não os distribui ou paga salários baixos, ou não cumpre com a legislação ambiental, não é sustentável. Há sempre uma integração entre os três pilares (económico, social e ambiental), embora haja normas específicas para cada um deles e a Insite opera em todas estas vertentes.
Qual é a resposta, em termos de transformação, que obtiveram as organizações que investiram na sustentabilidade através da Insite? Que exemplos pode citar?
Quando as empresas enveredam por implementar este tipo de programas, uma das ferramentas que logo à partida adquirem é a monitorização dos indicadores que tentam estabelecer, quer do lado económico, do social ou do ambiental. Medir os indicadores estratégicos das empresas parece simples, mas não é.
Quando iniciámos a consultoria, no-
tamos que muitas empresas fazem isso de uma forma muito empírica e não concreta. O nosso trabalho, no fundo, é tentar estabelecer os seus objectivos estratégicos nas três vertentes (económica, social e ambiental) para que depois consigam monitorizar e atingir os resultados que pretendem.
Ao longo do tempo vemos, claramente, melhorias nas empresas que implementam os programas de sustentabilidade. O impacto é igualmente comprovado através de artigos científicos. Por exemplo, uma empresa que trate bem os seus colaboradores, que proporcione um bom ambiente de trabalho, sem acidentes, é mais produtiva do que uma empresa sem este tipo de programas.
Enquanto especialista em sustentabilidade, que noção tem sobre o nível de formação de moçambicanos nesta área? Temos instituições de formação preocupadas com esta questão ou estamos diante de um problema por resolver?
Uma das grandes dificuldades é a falta de quadros com as competências necessárias para gerir as áreas da sustentabilidade. Em algumas empresas conseguimos identificar a figura do gestor de sustentabilidade ou gestor do sistema da qualidade, ambiente e segurança.
A estas figuras atribui-se a tarefa de ter uma visão holística da empresa, mas ainda há falta de quadros nestas áreas, e este é um desafio para as empresas, para as instituições e para o País.
É necessário formar pessoas porque este é um tipo de trabalho do futuro, numa altura em que os chamados green jobs estão a surgir. Hoje em dia, pede-se
aos profissionais que têm formação básica em engenharia, economia, direito, etc., que tenham conhecimentos de sustentabilidade.
Como e onde são treinados os gestores de sustentabilidade que existem em Moçambique?
Acaba por haver muitas vertentes que o gestor de sustentabilidade tem de abraçar para adquirir conhecimento.
A Insite dá o seu contributo na área da formação no que diz respeito aos vários referenciais normativos, em que uma pessoa que conheça os conceitos do ambiente, segurança, qualidade, entre outros, pode caminhar para, no futuro, poder ser um gestor na área da sustentabilidade. Por todo o mundo, há instituições que oferecem graus de pós-graduação nesta área.
A avaliar pelo estágio actual, como olha para o nível de desenvolvimento sustentável em Moçambique até 2030, limite para o cumprimento dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), quer ao nível macro, quer ao nível das organizações individualmente?
Os ODS foram estabelecidos em 2015 e já nesse ano, quer a nível mundial, nacional ou das organizações, todos sabíamos que seria um grande desafio cumprir com essa meta. Mesmo na comunidade científica, muitos especialistas das áreas das alterações climáticas não concordam com esse prazo porque é muito ambicioso.
Provavelmente isso não irá acontecer porque o tempo é muito curto e as pessoas não estão sensibilizadas para esta problemática. Temos o prazo de 2030 para os ODS como um guia para que todos dêem um contributo no sentido de que, mesmo que não seja em 2030, essas metas sejam alcançadas em 2040 ou 2050. O importante é ir caminhando nesse sentido.
Esta COP27 é importante porque um dos temas centrais tem que ver com a compensação ao continente africano por ser o que menos contribui para as alterações climáticas (cerca de 4% das emissões de CO2 ao nível mundial), e um dos que mais sofrem com o fenómeno.
Os ciclones Idai, Kenneth e outros são exemplo disso e são fenómenos que poderão acontecer com mais frequência. Por isso, as organizações devem adoptar estratégias para serem mais resilientes e estarem preparadas para estas mudanças climáticas. Há que encontrar mecanismos para que países, organizações e indivíduos sejam cada vez mais resilientes.
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Saúde e segurança no trabalho são parte importante no garante da sustentabilidade
Éa partir do meu “Lugar de Aprendiz” que aceitei este convite. Desconfio cada vez mais das opiniões fortes e certezas sólidas, e inspiram-me as pessoas com a capacidade de fazer as perguntas certas, que são poucas.
Partimos da pergunta de Daniel Wahl: Porque é que a sustentabilidade não chega?
É na segunda metade do século XX que a sustentabilidade ganha maior visibilidade, em particular com o conhecido relatório de Bruntland, publicado em 1987, que amplia a definição do conceito “Desenvolvimento Sustentável”, trazendo três questões essenciais: 1 - Dar resposta às necessidades do presente, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de poderem satisfazer as suas; 2 –Adoptar um modelo de desenvolvimento económico, sem a degradação e exaustão dos recursos naturais; 3 – Garantir a equidade na distribuição de recursos.
Desde então aquilo a que temos assistido, não obstante algumas boas intenções, concretizações e mérito, é ao desgaste, inadequabilidade e até à falta de ética na utilização do termo.
Não é que a sustentabilidade tenha deixado de ser importante, ela é simplesmente um passo para o caminho para aquilo que Daniel Wahl chama de “culturas regenerativas”.
Neste sentido, vale a pena distinguir os patamares fundamentais que este autor nos traz, com muita sustentação teórica, científica e prática que nos ajudam a perceber porque é que a sustentabilidade não chega e devemos caminhar para a cultura regenerativa (Design de Culturas Regenerativas, Daniel Wahl, pág. 57), aqui sintetizados com outras perspectivas e naturalmente imbuídos da minha percepção.
Business as usual – É de onde estamos a tentar sair, é o lugar em que as or-
Sustentabilidade – Um Passo a Caminho das Culturas Regenerativas
ganizações continuam a fazer os seus negócios de sempre, cumprindo apenas as obrigações legais e, como bem sabemos, principalmente em países onde grande parte da economia é informal e a regulação/fiscalização ainda é muito deficiente, muitas vezes nem isso. Achille Mbembe diz-nos, na sua última obra Brutalismo, que “mais do que nunca, a função do poder é tornar possível a extracção. Isto exige intensificar a repressão utilizando a lei para multiplicar os estados de excepção e desmantelar a resistência.”
“Parar a desordem e a extracção em que se encontram os ODS é muito importante face ao cenário que vivemos, mas é lamentavelmente o espelho da sociedade infantil actual, em que os pais/figuras de autoridade têm de castigar as crianças que se portam mal”
Os (falsos) verdes – São aqueles que muitas vezes estão a fazer praticamente o mesmo que o Business as usual, mas acrescentam algo que vai um pouco além das obrigações legais e constroem uma boa campanha de marketing com isso.
O chamado greenwashing é aquele com que somos normalmente bombardeados, e não descurando o valor desses contributos, que podem ser importantes, “enquanto continuarmos a celebrar os less bad como heróis, não vamos a lado nenhum” como nos diz Gun-
ter Pauli, o conhecido homem da economia azul.
Sustentabilidade – O ponto neutro, aquele em que tentamos não prejudicar mais os ecossistemas. E aqui incluem-se comunidades, organizações, biodiversidade, economias, culturas, planeta. Sistemas. Adoptar decisões, medidas, políticas, programas, que não causem mais dano aos ecossistemas.
Na prática, os Objectivos de Desenvolvimento sustentável (ODS) estão muito centrados neste patamar e no paradigma de “parar a desordem/extracção” e/ ou “fazer o bem”, embora algumas medidas e programas toquem o patamar restaurativo, reconciliatório e, muito pouco ainda, o regenerativo.
Restaurativo – Visa contribuir para a restauração e auto-regulação saudável dos ecossistemas. Embora seja mais um passo, ainda nos vê como separados da natureza e por isso manifesta-se muito como “seres humanos a fazer coisas pela natureza.” É naturalmente importante, mas está aquém de gerar sistemas vivos.
Reconciliatório – Reintegrar o ser humano como parte da natureza. Neste patamar, há já um passo muito importante: perceber a importância da humanidade sair do paradigma antropocêntrico (em que se coloca no topo da pirâmide com autoridade para dispor da biodiversidade e do planeta como meros recursos ao seu serviço), e de começar a participar na vida, a partir de um lugar mais equilibrado e consciente.
Regenerativo – “Cria culturas capazes de contínuas aprendizagens e transformações em resposta e antecipação à mudança inevitável. Culturas regenerativas salvaguardam e aumentam a abundância biocultural para as futuras gerações da humanidade e para a vida como um todo”. (Daniel Wahl)
Pensar e co-criar em conjunto sistemas vivos, que aumentem a vitalidade sistémica, e que contribuam para a
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Susana Cravo • Consultora & Fundadora da Kutsaca e da Plataforma Reflorestar.org
prosperidade de todos – Humanidade e Seres Vivos.
É um mito continuarmos a achar que os problemas que vivemos em todo o mundo estão separados. Pelo contrário, estão todos ligados e nenhum deles pode ser gerido de forma isolada. Relações, padrões, conexões e contexto são palavras-chave a considerar para formular as nossas melhores perguntas-guia.
Aquilo que é vulgarmente conhecido como “Green transition” é, na maior parte das vezes, o Less Bad. Pode ser um passo para sair da extracção – das pessoas, dos sistemas, do planeta –, mas não é aquilo de que nos tentam convencer, e até pode ser um Business as usual disfarçado e oportunista, acompanhado de programas bilionários. Há poucas semanas, um responsável do EBI - European Investment Bank alertava para este risco. Parar a desordem e extracção em que se encontram os ODS é muito importante face ao cenário que vivemos, mas é lamentavelmente o espelho da sociedade infantil actual, em que os pais/figuras de autoridade têm de castigar as crianças que se portam mal.
Já “fazer o bem”, em que também se encontram os ODS, pode ser importante e necessário, sobretudo em situações de crise, que infelizmente Moçambique bem conhece, mas está longe de nos preparar para a robustez e vitalidade de um sistema vivo.
Mas, então, como operam os sistemas vivos? Evoluindo a sua capacidade para a auto-expressão e evolução em direc-
ção ao seu melhor potencial. Tudo, absolutamente tudo o que existe, tem um papel no sistema de que faz parte. Ouvir as suas vozes, prestar atenção à forma como interagem e respeitar a sua essência já são grandes passos para activar essa inteligência colectiva e vitalidade sistémica.
Isto é extremamente difícil numa cultura rígida, guiada por um pensamento dual e reducionista, pelo já mencionado paradigma antropocêntrico, e pela obsessão pelo controlo e por resolver problemas, em vez de manter e desenvolver as condições e relações que garantam o equilíbrio e vida naturalmente existentes. Coisa que os ancestrais e indígenas sempre souberam fazer. Não é por acaso que 80% da biodiversidade do planeta (ainda preservada) é cuidada por povos indígenas, famílias, pequenos proprietários e comunidades locais, que entendem e respeitam os ciclos da vida. (ONU - Agricultura e Alimentação).
Moçambique está cheio de sabedoria local, natural e rural. Vejo, contudo, com frequência que as decisões (unilaterais) vêm das secretárias da cidade, e por vezes até de cidades de fora do País, que não conhecem, de todo, a realidade local.
A cultura cresce a partir da base, de forma orgânica. A regeneração acontece a partir do e com o lugar. Cada lugar tem os seus próprios Mestres e a sua sabedoria. Importar programas e best practices são modas que não se coadunam com a bio-inteligência dos lugares. Ge-
ram frustração para todos: implementadores e “recebedores passivos” que, ainda por cima, se pretendem activos, motivados e agradecidos. E isto é válido para o mundo rural e urbano. Para a machamba e para a organização. Para os corpos e para os solos. Para os buscadores de soluções definitivas, que não conseguem conviver com a incerteza e complexidade, ou seja, com o ciclo natural da vida de entropia e sintropia. Para os globalizadores que ditam as regras e para os globalizados que, no fundo, como nos diz Achille Mbembe, “querem pertencer”.
É preciso desconstruir esta narrativa de que as sociedades industrializadas, baseadas na extracção/produção/consumo, são o que traz prosperidade e felicidade. Este paradigma de acção, competição, conquista, crescimento, só funciona para muito poucos, e à custa de muitos.
Qualquer monocultura rígida, “limpinha” e em permanente produtividade, esteja ela no agro-negócio, na empresa, na cultura, no corpo, não leva à regeneração. Leva, mais tarde ou mais cedo, à esterilidade e/ou à degeneração. Porque desvirtuar o ciclo natural da vida é castrar o potencial único do lugar.
E a única forma de dar voz ao lugar/ sistema é descentralizar o poder e ouvir todas as vozes. Não são precisos programas bilionários nem importar práticas e programas. São precisos espaços seguros, com significado para quem os habita, fortemente baseados em cooperação (e não competição), onde a sabedoria que já existe possa ser profundamente escutada, expressada e potenciada.
Passa muito por nos abrirmos a novas possibilidades, buscar as perguntas certas (e não as respostas), re-imaginar e co-criar futuros juntos. E, para isso, a memória não nos serve de muito. Criatividade, disrupção e capacidade de fazer conexões, de gerar mais recursos e abundância com o que está localmente disponível, isso sim, é importante.
É a partir deste lugar de pertença, conexão e sentimento de contribuição que se activa a inteligência colectiva e se caminha em direcção a sistemas vivos. E isto acontece devagar, não dá notícia. É subtil, mas fértil, orgânico, vivo.
O assunto é sério, mas como disse Mia Couto, numa entrevista recente, “é vital darmos as notícias boas, que criam esperança e vontade de fazer coisas (...) Se actuarmos pela via do medo e teimarmos em encenar o apocalipse, a resposta só poderá vir dos que se apresentam como Messias.”
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Novembro 2022 – Poupar, regra geral, é uma prática disciplinada que visa alcançar objectivos pessoais específicos. Mas quando se trata do meio corporativo, as empresas estabelecem múltiplos objectivos de curto, médio e longo prazos sendo, invariavelmente, o mais importante deles a capacidade de gerar e manter um fluxo de caixa saudável para satisfazer as suas necessidades operacionais mais imediatas e financiar os seus planos de crescimento a longo prazo.
Segundo Agnallo Nampunda, director de Tesouraria do FNB Moçambique, esta é uma distinção crucial a manter presente pela classe empresarial, pois o modelo empresarial de gestão de tesouraria é, pela sua natureza intrínseca, muito diferente de hábitos de poupança individuais.
“As diferenças entre os vários tipos de negócios tornam impossível adoptar regras predeterminadas e, ao mesmo tempo, flexíveis relativamente à gestão eficaz de liquidez. Contudo, estes partilham um objectivo comum: o da rentabilidade do negócio”.
Explica Agnallo que, “embora as empresas não poupem esforços para serem rentáveis, elas podem elevar o seu sucesso a patamares mais elevados através de uma gestão eficiente de tesouraria/caixa, investindo as suas reservas de caixa ou excedentes em contas que rendam juros até que os fundos sejam necessários”.
Agnallo diz que alcançar este estado óptimo de gestão de tesouraria exige que os gestores se mantenham em sintonia com as necessidades de tesouraria correntes e futuras dos seus negócios. Depois, é necessário que combinem eficazmente uma gama de soluções de
Uma Gestão de Tesouraria Comercial Eficiente Requer Uma Abordagem Diversificada
poupança e de investimento, que sirvam o fim a que se destinam, para uma movimentação contínua e fluída de fundos.
Este tipo de abordagem de gestão diversificada de tesouraria com recurso a várias soluções é, aliás, uma disciplina empresarial relativamente simples de colocar em prática e os benefícios que daí resultam para a sustentabilidade do negócio são valiosos.
Embora a forma de optimizar a liquidez possa diferir de negócio para negócio, Agnallo Nampunda diz que os fun-
depósitos a prazo tendo em vista as despesas e os investimentos a longo prazo”.
“Considerando os juros significativos que os nossos clientes auferem, é fácil perceber a razão pela qual muitos deles incluem contas-poupança na sua abordagem diversificada de gestão de tesouraria, e a disciplina financeira que desenvolvem dentro do negócio é muitas vezes ainda mais valiosa” explica.
Pelo simples facto de movimentarem uma conta separada para a gestão de liquidez e outra conta para as transacções diárias, as empresas podem ver reduzido o risco de se verem confrontadas com despesas futuras insustentáveis, como o pagamento de IVA ou salários, podendo dar-se o caso de não disporem de fundos suficientes para cobri-las”.
Agnallo esclarece que o FNB disponibiliza aos seus clientes empresariais várias soluções acessíveis que permitem alcançar este nível de gestão optimizada de caixa. “Todas as contas ‘poupança-empresa’ do FNB são instrumentos de poupança sem custos de abertura, o que significa que os nossos clientes podem abrir as contas que precisarem para gerir eficazmente os seus fundos sem custos.
damentos são bastante universais como, por exemplo, separar a conta transaccional quotidiana da conta de investimentos ajuda empresas e particulares a optimizar os retornos e a gerir as necessidades de tesouraria de curto e longo prazos.
“Muitos dos nossos clientes empresários bem-sucedidos subscreveram diversas soluções de gestão de liquidez em simultâneo, desde uma conta transaccional para operações diárias até uma money market, que é uma combinação de
Além disso, os nossos clientes podem nomear as suas contas como preferirem, reservando assim claramente cada conta para o objectivo de optimização de tesouraria a longo ou curto prazo.
“Temos vindo a comprovar, de forma recorrente, os efeitos positivos que uma gestão diversificada de tesouraria bem estruturada traz aos nossos ‘clientes-empresa’”. E continua: “trabalhamos incansavelmente para incutir um entendimento do valor que as pequenas e disciplinadas medidas de gestão de tesouraria tomadas hoje podem significar para o crescimento a longo prazo e para a sustentabilidade futura do negócio.”
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“As diferenças entre os vários tipos de negócios tornam impossível adoptar regras predeterminadas e, ao mesmo tempo, flexíveis relativamente à gestão eficaz de liquidez..."
Agnallo Nampunda • Director de Tesouraria do FNB Moçambique
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“Se o Preço da Cerveja Subir, Não Será Pelos Custos de Selagem”
Produtores e importadores da cerveja e bebidas de pronto consumo (as sidras) revelam que a selagem destes produtos poderá encarecer as suas operações e reduzir a eficiência na produção. A Autoridade Tributária não concorda e diz que tem colaborado para evitar quaisquer prejuízos. De que lado está a razão?
Oprocesso de selagem de bebidas alcoólicas e tabaco, iniciado em 2017, já vai na sua terceira fase e passou a incluir, desde 1 de Novembro, as cervejas e sidras. Ainda assim, prevalece muita polémica em torno do assunto, que opõe os operadores e a Autoridade Tributária.
Neste ambiente de discórdia, vale ressaltar que a Autoridade Tributária (AT) reporta um impacto notável desta medida desde a sua entrada em vigor, em 2017, no que diz respeito à capacidade de arrecadação de receitas e de combate ao contrabando. Ao mesmo tempo, prevê que ao passar a abranger as cervejas e sidras, fará crescer o potencial de arrecadação fiscal.
Na entrevista a seguir, o coordenador-geral da Unidade de Implementação da Selagem de Bebidas Alcoólicas e Tabaco ao nível da AT, Miguel Nhane, apresenta os argumentos que justificam a postura das autoridades, contrapondo os protestos apresentados pelos operadores.
Desde o início, o processo de selagem das cervejas mostrou ser mais complexo do que as anteriores fases (da selagem das bebidas espirituosas e das prontas a consumir). Houve adiamentos decorrentes da falta de consensos entre a AT e as cervejeiras. E ao que parece, a avaliar pelo envolvimento do Tribunal Administrativo, os diferendos ainda não foram ultrapassados, apesar de já estarmos na fase de implementação da medida, desde 1 de Novembro. Pode descrever esta situação?
Há, claramente, questões que não seremos nós a responder. A AT nunca intentou uma acção contra qualquer entidade, e quando foi solicitada apenas deu
as explicações que lhe competiam dar. Mas para facilitar a compreensão destas contradições, devo recuar no tempo. O primeiro passo que foi dado na implementação desta medida foi em 2016, com a aprovação do regulamento de selagem de bebidas alcoólicas e tabaco. E porque do ponto de vista legal as condições estavam criadas para iniciarmos a selagem, desenhámos logo a seguir um calendário e decidimos dividir o processo em três fases para facilitar a gestão da sua implementação.
Assim, o calendário de 2016 estabelecia o dia 17 Março de 2017 para o início da fase 1, a da selagem do tabaco. E foi cumprido. Também foi cumprido o calendário da fase 2, que envolvia a selagem dos vinhos e bebidas espirituosas a partir de Junho do mesmo ano. A última fase, que abrange as cervejas e bebidas de consumo rápido (as sidras), era para iniciar a 17 de Novembro de 2017.
Entretanto, quando estávamos a preparar-nos para iniciar a selagem, foi-nos solicitado um encontro pela Associação dos Produtores e Importadores de Bebidas Alcoólicas (APIBA) que dizia ter preocupações relativas a este processo.
A principal questão que nos colocou foi que se devia utilizar o selo digital no lugar do selo holográfico (físico), estabelecido no regulamento. Argumentaram que o uso do selo holográfico podia levar à redução da velocidade das linhas de enchimento das fábricas de cerveja. Temia-se, portanto, que o processo pudesse interferir negativamente na eficiência operacional.
Na altura, acolhemos a proposta da APIBA por considerarmos que era razoável, e decidimos suspender o adiamento do início da selagem da cerveja em Novembro, para darmos tempo de nos prepararmos para esta solução que nos era
proposta. Este trabalho estendeu-se até ao ano passado. Com o envolvimento da própria indústria, realizámos testes nas unidades de produção para termos a certeza de que a questão que nos era colocada tinha sido ultrapassada. Quando chegámos à conclusão que sim, avançámos com os preparativos legais que culminaram com a aprovação de um novo regulamento de selagem.
Se o diferendo em torno da natureza do selo a ser utilizado foi ultrapassado, o que justifica que os protestos não tenham cessado?
Foi mesmo em ambiente de implementação do selo digital que começou a grande confusão, com os operadores a recorrerem ao Tribunal Administrativo para solicitar que este instrumento fosse suspenso. Entendemos que isso não faz sentido porque temos os documentos da própria indústria a aconselhar-nos a adopção desta solução, e fizemos testes que provaram que a mesma é válida. Por isso, desta vez não houve suspensão da medida que as cervejeiras pretendiam.
Respeitámos os procedimentos deles por se tratar de um direito que lhes assiste, mas sempre fomos firmes no cumpri-
www.economiaemercado.co.mz | Novembro 2022 46 MERCADO & FINANÇAS
Texto Pedro Cativelos • Fotografia Mariano Silva
“O ajustamento do preço da cerveja será a prova de que o nosso mecanismo de controlo é eficaz: evita a fuga ao fisco e retira a capacidade de subsidiar o seu consumo”, Miguel Nhane, AT
mento do interesse público que se consubstancia no combate aos cartéis de contrabando destes produtos. O interesse privado não deve prevalecer acima do interesse público. No nosso caso, como AT, queremos dinheiro para financiar a despesa pública.
Ultrapassada a questão do selo físico, veio o protesto relacionado com o facto de o selo proposto ser demasiadamente grande e que deveria haver uma ponderação da AT no sentido de garantir as negociações entre o mercado e os fornecedores, tudo para assegurar que esta meta se efectivasse…
Tendo sido aprovado através de um instrumento legal, a alteração do selo teria de ser feita segundo o mesmo procedimento. Mas porque reconhecemos a
legitimidade da preocupação da indústria – até porque nos foi sugerida uma solução – tomámos o risco de assumir a sua preocupação, de tal forma que, mesmo a fase-piloto que está a acontecer desde Novembro deste ano, decorre considerando o selo reduzido que a indústria sugeriu.
Então, fica claro que não é este o problema, porque não afecta o objectivo do programa. Prova disso é que há no mercado um operador que, desde Janeiro deste ano, ainda não parou de selar as suas bebidas. E o selo que utiliza é exactamente o que nos foi proposto pela indústria.
Às preocupações levantadas pelos operadores também se sobrepõe a disponibilidade dos equipamentos para a
selagem que, além de exigirem investimento adicional, requerem tempo de preparação e implementação. Que leitura faz?
Antes de passarmos para a aprovação do quadro legal, tivemos o cuidado de fazer o teste desta solução em ambiente fabril. Oferecemo-nos para fazer visitas para testes em qualquer lugar do mundo que nos fosse indicado pelos próprios operadores.
Realizámos testes em Portugal, na Holanda, África do Sul, nas empresas do Grupo AB In BEV e também na Namíbia, indicada pela Heineken. Estes testes visavam não só aferir o aspecto de não poder interferir na eficiência das linhas de enchimento, mas também avaliar os custos de implementação da solução.
Na altura, falando dos preços de 2018, o custo médio dos equipamentos para a implementação desta solução era de 210 mil randes, que equivalem a cerca de 15 mil dólares. Não acredito que seja este custo que deve ser invocado para inviabilizar um projecto desta dimensão.
Há indicação de que nas primeiras duas fases do processo tiveram de lidar com a falsificação, venda paralela de selos e desobediência dos operadores. Que garantias existem de que estes fenómenos não vão prevalecer com a inclusão das cervejas, já que estas são comercializadas e consumidas em qualquer lugar, podendo dificultar a acção das autoridades de fiscalização?
Comecemos pela venda paralela de selos. Houve a necessidade gerir a fase pré-transitória. Por exemplo, no dia 1 de Novembro começámos a interditar a introdução da cerveja não selada no mercado. Entretanto, temos a cerveja que entrou nos dias anteriores. Como gerir esta situação?
Nas primeiras duas fases, abrimos um espaço para que qualquer operador que, naquela data, tivesse stock de produto não selado pudesse fazer um requerimento direccionado a nós com a indicação das quantidades.
De seguida, enviávamos uma equipa para apurar se existia este stock, e depois fornecíamos uma quantidade de selos correspondente ao stock que havia. Mas muitos dos que recebiam os selos, inclusive nos mercados informais, não os colocavam nas bebidas.
Continuaram a vender bebidas sem selos, utilizando-os para legalizar o produto que entrava por via do contrabando. Por outro lado, o selo tem de ser colocado por quem produz ou por quem importa. Para isso é preciso estar registado na Direcção Geral das Alfânde-
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gas, e há uma série de documentos necessários para provar que se trata de um operador legal, nomeadamente a licença emitida pelo Ministério da Indústria e Comércio, certificado do Ministério da Saúde, certidão de quitação, etc.
Mas algumas pessoas desonestas reuniam esses documentos, eram registadas e adquiriam selos sem que fossem produtores nem comerciantes de bebidas. Afinal, eles vendiam os selos. Assim, tivemos de apertar no controlo e passámos a visitar os operadores, o que nos ajudou a eliminar os operadores-fantasma e a venda paralela de selos.
E quanto à falsificação?
O nosso selo é robusto em termos de elementos de segurança. Tem 23 elementos de segurança não visíveis, detectáveis através de equipamentos apropriados que temos à disposição.
É este equipamento que nos permite uma intervenção mais incisiva. Mas não só. A nossa aposta tem sido a de actualizar os elementos de segurança à medida que a tecnologia vai evoluindo.
É previsível, e até os operadores já admitiram, que o início da selagem traga a perspectiva do aumento do preço do
produto final, obviamente porque há custos adicionais. Em que medida isto afectaria a capacidade de arrecadação de receitas?
Admito que é previsível que haja ajustamento do preço da cerveja, mas não concordo que tal resulte dos custos associados à selagem. O custo médio de selagem da cerveja está abaixo de 50 cêntimos do metical. Isto é, se o ajustamento for de 50 cêntimos do metical posso concordar que a revisão seja uma resposta directa à elevação dos custos de selagem.
O que me parece é que o aumento do preço será pelo facto de que as cervejas que não pagavam impostos vão passar a pagar por causa do selo. As promoções que frequentemente acontecem em diferentes pontos de consumo estão relacionadas com a fuga ao fisco. Mas, a partir do momento que começarmos a cortar esta janela, a cerveja será vendida ao preço real.
Portanto, não me surpreende que haja ajustamentos. Aliás, será a prova de que estamos no bom caminho porque vai mostrar que o nosso mecanismo de controlo está a trazer eficácia no controlo fiscal destes produtos, evitando que haja fuga ao fisco e retirando a capaci-
dade do mercado em subsidiar o preço da cerveja.
Em que medida a selagem de bebidas permitiu o cumprimento dos objectivos para que foi instituído (melhorar a arrecadação de receitas e evitar o contrabando) desde a entrada em vigor em 2017?
Apresentámos grandes saltos na colecta de receitas sobre bebidas e tabaco. Em 2017, o imposto sobre o consumo específico que incide sobre estes produtos permitiu a arrecadação de quase 1,5 mil milhões de meticais. No ano seguinte, o valor quase duplicou para 2,2 mil milhões de meticais. Já em 2019 baixou um pouco em relação a 2018, mesmo assim muito superior ao que se registou no primeiro ano, ao se situar em 1,7 mil milhões de meticais. Em 2020, este valor voltou a aumentar para 2,2 mil milhões de meticais porque, ao vermos a queda que se havia registado no ano anterior, fizemos uma avaliação que nos levou a concluir que devíamos fortalecer o programa, principalmente através da fiscalização.
Já em 2021, a arrecadação chegou aos 2,1 mil milhões de meticais e só esteve abaixo dos níveis do ano anterior devido às medidas para prevenir a propa-
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SELAGEM AMPLIOU RECEITAS
Desde que se tornou obrigatória a selagem de álcool e tabaco, os impostos cobrados sobre estes bens deram um grande salto
O
POTENCIAL
DA CERVEJA
Antes mesmo do selo, os impostos sobre a cerveja e as cidras superam os que a AT capta sobre os outros produtos
(Em mil milhões de meticais) (Em mil milhões de meticais)
gação do covid-19, que levou à redução acentuada de consumo e, naturalmente, da contribuição fiscal destes produtos. Nos primeiros nove meses deste ano cobrámos 2,5 mil milhões de meticais, que estão bem acima dos 1,7 mil milhões em igual período do ano passado.
Estes números, só por si, dizem muito sobre o objectivo da selagem de bebidas. Mesmo assim, ainda prevalecem desafios. Existem produtos no mercado que estão longe do nosso controlo. Por isso continuamos a apostar na fiscalização, num país com extensa rede de fronteiras sem qualquer rede de vedação.
Que potencial existe em termos de capacidade de ampliar a base de receitas sobre a cerveja e as bebidas prontas a consumir?
Em 2020, a contribuição das cervejas e bebidas prontas a consumir no imposto de consumo específico foi de 3,6 mil milhões de meticais. Em 2021, foi de 3,3 mil milhões de meticais. De Janeiro a Setembro deste ano foi de 2,3 mil milhões de meticais. A nossa expectativa é que no primeiro ano de introdução desta medida haja um crescimento médio das receitas entre 20% e 25% e que este crescimento se mantenha por quatro anos.
www.economiaemercado.co.mz | Novembro 2022
FONTE
Autoridade Tributária 1,5 2,2 1,7 2,2 3,6 3,3 2,1 1,7 2,3 2,3 2017 2018 2019 2020 2020 2021 2021 2021 2022 2021 2022 Jan. a Set. Jan. a Set. Jan. a Set. Jan. a Set. 2,5
João Gomes • Partner @ JASON Moçambique
Vem este artigo a propósito de dois eventos em que participei, ambos relacionados com o tema da criação de emprego para jovens:
- A sessão de apresentação dos resultados provisórios da “Missão de auscultação aos sectores de Ensino Técnico Profissional e Emprego em Moçambique”, promovida pela União Europeia;
- O workshop “Dinâmicas de Inovação e +Emprego”, promovido pelo Instituto Camões no âmbito do projecto +Emprego para os jovens de Cabo Delgado.
Neste artigo convido o meu leitor@ a responder à seguinte questão: Que soluções inovadoras estão a ser testadas, com sucesso, para combater o desemprego jovem em África? Vejamos sucessivamente:
- A definição de jovem desempregado;
- Estatísticas (aterradoras!) sobre o desemprego jovem em África;
- As características-chave das soluções “fora-da-caixa” e “made in Africa” para criar emprego para jovens; - Conclusão.
A. Definição de jovem desempregado A definição mais comum de jovem desempregado em vigor, por exemplo, nos países da África Subsaariana, aponta para a presença das seguintes características:
- Indivíduos cuja idade varia entre os 15 e os 35 anos;
- E que não estão nem a estudar, nem em formação profissional, nem empregados (NEET)1
- - Ao que acrescentaria: e que se encontram a trabalhar em condições vulneráveis e, na terminologia da OIT, não decentes2.
B. Estatísticas (aterradoras) sobre o desemprego jovem em África Tic, tac.
A “bomba relógio” do desemprego jovem em África paira sobre as nossas cabeças, qual espada de Démocles, e com algumas terríveis deflagrações, cujo impacto não pode ser por nós esquecido.
Ainda que outros fenómenos possam justificar a deflagração desta “bomba reló-
Desemprego Jovem em África: Bomba-relógio ou Necessidade Urgente em Buscar Soluções “Fora-da-Caixa” e “Made in Africa”?
gio”, sem dúvida alguma que a causa-raiz é o desemprego jovem. SSão os casos problemáticos:
- Da Primavera Árabe.
- Do movimento insurgente no Norte de Moçambique, na província de Cabo Delgado.
- Do fenómeno da imigração ilegal e massiva a partir do Norte de África, para a Europa.
E o tamanho deste problema pode ser medido, por defeito, através das seguintes estatísticas3 4:
- Cerca de 70% da população em África tem menos de 30 anos (i.e. inclui-se na categoria de jovem).
- Citando um relatório do Banco Africano de Desenvolvimento, este observa que metade dos jovens em África está desempregada ou inactiva, enquan-
cessitam de um trabalho decente.
C. Características-chave das soluções “fora da caixa” e “made in Africa” para criar emprego para jovens
Na nossa pesquisa identificámos +40 soluções inovadoras, e “made in Africa” (i.e. Africa do Sul, Botswana, Gana, Nigéria, Quénia, Senegal, Zimbabué), para criar emprego para jovens.
Atendendo às limitações de espaço, neste artigo farei uma referência às características-chave de um número limitado de soluções.
Característica-chave #01: Mudança de foco da procura de emprego, para a oferta de emprego.
Há sinais de que a nova geração de soluções de combate ao desemprego jovem em África – fruto da constatação que soluções parciais, baseadas apenas em formação, e no emprego público simplesmente não resolvem o problema da empregabilidade - se está a afastar da abordagem pelo lado da procura, onde o foco está nos jovens desempregados, na educação, na formação, na empregabilidade.
Em alternativa, tais soluções estão a mudar o foco e:
to 35% está em empregos vulneráveis.
- A taxa de desemprego dos jovens é 3 a 5 vezes maior do que a taxa de desemprego dos adultos em África.
- 12 milhões de jovens africanos são colocados anualmente no mercado de trabalho e apenas 3 milhões conseguem emprego.
- Estima-se que serão necessários 18 milhões de novos postos de trabalho por ano até 2035 para absorver a crescente força de trabalho, só na região da África Subsaariana.
- Uma grande preocupação e paradoxo é que a taxa de desemprego dos jovens Africanos está a aumentar com o nível de educação.
É pois necessária acção urgente para ajudar os milhões de jovens africanos que ne-
- Promovem o lado da oferta: as abordagens estão a ser feitas, de forma integrada, e pelo lado da oferta, onde o enfoque é colocado i) nas necessidades das empresas (particularmente das PME´s); ii) na criação de emprego (nas dimensões de trabalho voluntário, de emprego, de auto-emprego, de empreendedorismo); iii) nas condições de trabalho decente; iv) e na transformação estrutural dos mercados de trabalho (v.g. flexibilização da legislação laboral).
- Promovem o futuro grande mercado da Zona de Comércio Livre Continental Africana (ZCLCA)5: uma vez que quanto mais cedo África implementar o Acordo, maior o potencial de crescimento económico e criação de emprego em cada país.
Caso da Nigéria: Em resposta às preocupações levantadas sobre o desfasamento entre as necessidades de emprego da indústria (centrada na oferta) e a formação nas universidades (centrada na procura), na Nigéria, a Comissão Nacional das Universi-
www.economiaemercado.co.mz | Novembro 2022 50 OPINIÃO
A “bomba relógio” do desemprego jovem em África paira sob as nossas cabeças, qual espada de Démocles, e com algumas terríveis deflagrações...
dades tem critérios de referência para as interacções entre universidades e indústria. É obrigatório que todas as universidades nigerianas criem centros empresariais.
Característica-chave #02: Mudança de Mentalidades
Há sinais de que a nova geração de soluções de combate ao desemprego jovem em África está a promover uma mudança das mentalidades.
Em alternativa, tais soluções estão a mudar o foco e:
- Promovem o papel da ética no trabalho: i) revendo os valores e a ética que sustentam o trabalho e a definição de “carreiras de sucesso”; ii) e influenciando as crianças, e os jovens para que possam apreciar como o sucesso pode ser alcançado valorizando a ética, sobre a mera acumulação de riqueza.
- Promovem o papel das parcerias público-privadas: mudando a mentalidade dos governos Africanos de pensar no sector privado como concorrente, para o encarar como parceiro.
- Promovem o Ensino Técnico-Profissional (ETP): alterando e desmistificando a narrativa que retrata o ETP como um sistema que serve apenas para os falhados, i.e. para os que não conseguem entrar no ensino universitário.
- Promovem a Africanicidade: inculcando o novo credo no qual os países Africanos devem desistir de imitar cegamente outros continentes e reconhecer que o desenvolvimento não significa ocidentalização. Neste contexto, o apelo à africanização dos produtos e serviços como forma de aumentar o valor dos mesmos, no sentido de permitir a respectiva diferenciação, quer nos mercados domésticos, quer nos mercados de exportação e, em consequência, gerar mais e melhores empregos.
Caso do Senegal: Um programa em curso no Senegal, que fornece aos jovens entre os 2 e 20 anos, formação em Ciências,
Tecnologia, Engenharia, e Matemáticas (CTEM), a par de competências empresariais. O objectivo é preparar as crianças, antes de atingirem a “juventude”, fornecendo valores e competências agrícolas nas escolas primárias e secundárias, de modo a facilitar o acesso ao mercado de trabalho na fileira do agronegócio.
Característica-chave #03: Os jovens não são o problema, estão a ganhar VOZ, e fazem parte da solução (“Eu sou o mestre do meu destino, o capitão da minha alma”6)
Há sinais de que a nova geração de soluções de combate ao desemprego jovem em África - fruto do desenvolvimento da democracia - esteja a mudar o equilíbrio de poder entre governantes e governados.
Em alternativa, tais soluções estão a mudar o foco e:
- Destacam a contribuição dos jovens desempregados como promotores de iniciativas: forçando os governos a exercitar maior escuta activa ((v.g. através de mecanismos de democracia participativa) em relação aos anseios e necessidades dos beneficiários das políticas de emprego. E, mais interessante ainda, muitas iniciativas de criação de emprego partem dos próprios jovens desempregados (i.e. abordagem bottom-up) e não, dos governos, e/ ou das ONG´s.
Um caso do Gana: A grave situação de desemprego no Gana, aliada a uma grande preocupação e paradoxo da taxa de desemprego dos jovens Africanos estar a aumentar com o nível de educação levaram à criação de uma Associação de Licenciados Desempregados, cujo aumento da adesão de novos membros tem sido impressionante.
Um caso do Quénia: A grave situação de desemprego no Quénia levou ao compromisso político de reservar 30% do orçamento de aquisições públicas num Fun-
do para a Juventude para actividades empresariais juvenis: o número de jovens empregados é um dos critérios de selecção para a adjudicação de contractos do Governo.
Em conclusão
O desemprego jovem em África, cuja enorme dimensão fica estatisticamente retratada neste artigo, constitui a causa-raiz da instabilidade social que, qual bomba relógio, ocasionalmente deflagra em conflitos com repercussões tremendas.
E as ondas de choque não se confinam apenas a África: o desemprego jovem em África é um problema global, e a exigir acção urgente.
A nossa pesquisa identificou +40 soluções inovadoras e “made in Africa” de combate ao desemprego jovem.
Neste artigo destacámos apenas 3 características-chave que conformam a maioria das soluções inovadoras de combate ao desemprego jovem em África: tais soluções promovem i) Uma mudança de foco da procura de emprego, para a oferta de emprego; ii) Uma mudança de mentalidades; iii) Uma mudança do enquadramento dos jovens: na nova narrativa estes não são o problema, estão a ganhar VOZ, e fazem parte da solução.
E não se pode pedir aos jovens Africanos que aguardem por melhores dias: os seus problemas não são do futuro, são do presente.
1 Not in employment, education, or training (NEET)..
2 Trabalho decente: Conceito desenvolvido pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 1999. É o trabalho adequadamente remunerado, exercido em liberdade, equidade e segurança, e capaz de garantir uma vida digna. O conceito apoia-se em quatro pilares: os direitos e princípios fundamentais do trabalho, a promoção do emprego de qualidade, a extensão da protecção social e o diálogo social.
3 ”Enfrentar o Desafio do Desemprego Jovem em África: Soluções Inovadoras dos Think Tanks”. The African Capacity Building Foundation.
4 Relatório “Impulsionar o emprego dos jovens na África Subsariana: criar oportunidades e criar competências”. Departamento de Desenvolvimento Internacional, British Council.
5 O acordo fundador foi intermediado pela União Africana (UA) e assinado por 44 dos seus 55 estados membros em Kigali em 21 de Março de 2018 tornando-a na maior área de livre comércio em número de estados membros desde a criação da Organização Mundial do Comércio, e a maior em população e tamanho geográfico, abrangendo mais de 1 bilhão de pessoas no segundo maior continente do mundo. Até o final de Abril de 2022, 43 dos 54 signatários (80%) depositaram seus instrumentos de ratificação do Acordo Continental Africano de Comércio Livre.
6 Célebre poema de HENLEY, William Ernest “INVICTUS - I am the master of my fate: I am the captain of my soul”.
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Em África, a taxa de desemprego dos jovens chega a ser cinco vezes superior a dos adultos
especial inovações daqui
54 ROBÓTICA EDUCACIONAL
A Universidade Pedagógica está a apostar no apoio a alunos de escolas secundárias a desenvolverem projectos na área da robótica. Mas a sua ambição vai mais longe: quer introduzir os graus de licenciatura e pós-graduação nesta especialidade e na Inteligência Artificial
Uma plataforma que quer contribuir para a valorização do cinema moçambicano
As notícias da inovação em Moçambique, África e no Mundo
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59 NETKANEMA PANORAMA
Formação em Robótica, a Nova Aposta da Universidade Pedagógica
AUniversidade Pedagógica de Moçambique (UP) anunciou, recentemente, a intenção de introduzir os graus de licenciatura e de mestrado em Robótica e Inteligência Artificial. Enquanto isso não acontece, a intervenção está a acontecer ao nível da chamada Robótica Educacional, que desperta nos mais novos a noção de recorrer à ciência para responder aos desafios do desenvolvimento.
Um dos últimos eventos de exposição desta iniciativa teve lugar recentemente em Maputo, em que competiram vários
Mas o que explica que uma Universidade dedicada à formação de professores se tenha interessado, e até esteja a investir, na criação de ligações fortes com a área da pesquisa científica, como acontece nos últimos tempos?
“Ser professor é estar à frente das coisas, é antecipar-se ao tempo. É ensinar coisas que vão ser utilizadas mais tarde. Nós temos de preparar os alunos para uma coisa que não existe. Portanto, um professor tem de preparar os alunos para o futuro.
Por isso, é natural que a Faculdade de Matemática e Ciências esteja à frente na
da Robótica
projectos de robótica desenvolvidos por alunos de algumas escolas secundárias de Maputo. Destes, seis estudantes (três rapazes e três raparigas) foram qualificados para um concurso internacional de robótica a ter lugar em Abril de 2023 em Dallas, nos Estados Unidos.
Trata-se de uma oportunidade que lhes é dada para que conheçam outras crianças com as mesmas ambições, mas de outras realidades, no sentido de poderem trocar ideias, sendo esta não é a primeira vez que estudantes moçambicanos participam em encontros deste género. A última aconteceu em Outubro passado na Suíça.
tecnologia, muito mais do que a engenharia, que usa isso para o seu proveito e para a sua formação”.
Eis o pensamento que norteia esta iniciativa da UP, nas palavras de António Batel, cientista com diversos projectos dedicados ao ensino das ciências, e que é também fundador da Osuwela, uma ONG ligada também às ciências, que fomenta o pensamento crítico, cria conteúdos para projectos na área da robótica e apoia a UP nesta iniciativa.
De acordo com o cientista, a ideia da Robótica Educacional é uma forma de exemplificar os problemas da vida real que podem ser levados aos laboratórios.
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Estudantes moçambicanos de nível secundário já têm a oportunidade de criar e expor projectos na área da robótica, graças à iniciativa da Universidade Pedagógica de Moçambique, designada por Robótica Educacional. Aproximar esta ciência dos mais novos tem um horizonte: parte dos desafios do desenvolvimento de Moçambique tem de ser solucionada por moçambicanos
TEXTO Celso Chambisso • FOTOGRAFIA D.R
A ideia
Educacional é uma forma de exemplificar os problemas da vida real que podem ser levados aos laboratórios. É essa capacidade que se prende criar nos alunos
ROBÓTICA EDUCACIONAL
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“Por exemplo, imagine que quer fazer um sistema de rega que é capaz de pôr apenas a quantidade necessária de água para cada planta.
Pegando num robot e instalando um sensor, este vai ao pé da planta e mede o nível de humidade, volta para trás e vai buscar a água que a rega consoante a necessidade que existe. Isto é, a robótica, no fundo, traduz a resolução de grandes problemas em laboratórios”, explicou António Batel.
FORMAÇÃO AO MAIS ALTO NÍVEL
Currículo
escolar
vs ciência na prática
Como é de conhecimento geral, os conteúdos científicos apreendidos teoricamente na escola deixam um grande espaço por preencher quando os alunos têm de lidar com a ciência na prática. Como é que a UP pensou em estabelecer a conexão destas pontas (soltas)?
Armindo Monjane, professor catedrático da UP e director da Faculdade de Ciências Naturais e Matemática, e com uma experiência de mais de 40 anos de ensino de Química em vários níveis, explica que “o fenómeno de o aluno, uma vez na faculdade, ter acesso apenas aos conhecimentos fragmentados em disciplinas, é uma criação humana porque, no fundo, este precisa de todos os conhecimentos conjugados, e que são necessários para desenvolver a robótica”, esclarece Armindo Monjane, avançando o exemplo da produção de biogás que está a ser desenvolvido pela UP em algumas localidades do distrito de Boane, província de Maputo.
“A produção de biogás não é possível só com o conhecimento de uma área científica. A biodegradação tem que ver com a Biologia; as reacções químicas que ocorrem, estão relacionadas com a Química; problemas de canalização, testes, etc. têm que ver com a Tecnologia”.
Monjane é secundado por António Batel, ao assumir que “estamos habituados a imaginar a ciência como aprendemos na escola através da Matemática, Física, Química, Biologia, Mecânica etc. mas a robótica une estas ciências todas.
Ou seja, para pôr a funcionar um robot temos de ter conhecimento de uma série de áreas para que ele tome decisões autónomas.
No nosso caso, as grandes áreas de interesse da robótica para a questão dos negócios e do desenvolvimento incluem a Energia, Agricultura e as ciências em geral, e que fecham um arco enorme em volta da agricultura”.
Mas robótica não é apenas isso. “Podemos olhar para o espaço e temos lá
A ambição da Universidade Pedagógica de Moçambique é tentar ir mais longe na formação de cientistas. Recentemente, o reitor desta instituição, Jorge Ferrão, anunciou a pretensão de introduzir a licenciatura e o mestrado em Robótica e Inteligência Artificial já em 2023. “Nós estamos com o nosso plano estratégico em actividade agora, e a Robótica e Inteligência Artificial são as próximas áreas que queremos oferecer aos próximos estudantes. Estamos a criar condições buscando as parcerias certas para este objectivo”, garantiu Jorge Ferrão. Recorde-se que no princípio de Maio deste ano, a UP inaugurou a chamada ‘Sala do Futuro’ no seu campus de Maputo, a primeira das quatro previstas no País. Trata-se de uma sala multidisciplinar que serve de oficina pedagógica para o ensino integrado em STEM (Ciências, Tecnologias, Engenharias e Matemática), equipada com kits de ciências, robótica e equipamento digital. Irá permitir a integração de várias áreas do saber no mesmo espaço, com novos métodos de ensino para o desenvolvimento de competências para aprendizagem baseada na resolução de problemas da realidade.
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GESTÃO DE PESSOAS
outros robots como os satélites, estações espaciais, etc., ou seja, a robótica está em muitos aspectos da nossa vida sem que nos apercebamos disso.
Por exemplo, se quisermos resolver o problema do recuo do mangal, podemos utilizar um satélite que está a olhar para a terra e com ele medir a dimensão do recuo do mangal. É isso que a robótica educacional pretende: trazer o problema para a sala de aulas e criar uma educação relevante.
Este processo vai criar facilidades enormes para a indústria, que vai depois identificar-se com estes problemas e antecipar a sua resolução”, concluiu o cientista.
A meta é expandir a iniciativa
O projecto de divulgação da iniciativa da robótica educacional nas escolas, tem apoios de várias organizações. Por exemplo, a competição de robótica Astrobot, no dia 20 de Outubro, foi o culminar de um ano de trabalho com resolução de problemas em STEM – Robotics, que representam intencionalmente problemas da vida real.
A Osuwela fornece formação aos alunos e professores dos Clubes STEM das 12 escolas secundárias envolvidas na Cidade e Província de Maputo, o que é possível graças à aliança com parceiros estratégicos como a ExxonMobil, a VexRobotics, o Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano, entre outros parceiros.
Apesar de já estar a avançar, a UP ainda não está satisfeita “porque actualmente abrange um grupo restrito de estudantes. Daí que a intenção da instituição seja expandir para o Centro e Norte do País, porque achamos que é preciso aproveitar a fase em que as crianças têm muita curiosidade, vontade de aprender e em que têm mais possibilidades de desenvolver competências do que se tiverem de aprender mais tarde”, explicou o professor catedrático Armindo Monjane.
É importante referir que a ideia de fomentar a pesquisa na área da robótica nas escolas já é prática seguida por muitas universidades pelo mundo.
São exemplos disso muitas escolas brasileiras que realizam com muita frequência competições nesta área, acabando por apresentar projectos tecnológicos verdadeiramente disruptivos. Portugal também tem vindo a formar-se em robótica, com resultados encorajadores em termos de desenvolvimento intelectual e científico.
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NETKANEMA
Netflix à Moçambicana já Tem Mais de 100 Filmes Nacionais
O cinema moçambicano começa a olhar para novos caminhos para se enraizar, crescer e massificar, e, a este nível, o digital é uma solução inultrapassável. Por isso, e olhando ao modelo de
HBO, um cineasta moçambicano lança agora a
Todos sabem que o cinema em Moçambique ainda está a dar os seus primeiros passos, pelo menos se o pensarmos à imagem de uma verdadeira indústria saudável e rentável. Se, em tempos, era de facto notável a relevância das produções cinematográficas nacionais, que atraíam multidões às salas de cinema, sobretudo aos fins-de-semana, a dada altura tudo se transformou e, hoje, as salas que outrora deram brilho às tardes e noites de muitos moçambicanos transformaram-se em ruínas. Claro que os tempos mudaram, e a tecnológia surge enquanto game changer para a revitalização de todo um sector, a vários nível. A este nível, o boom das pla-
taformas de streaming como o Netflix, a HBO ou a Apple TV, que maximizaram o acesso de produções de países periféricos às grandes audiências globais. Foi aliás o caso de “Resgate”, filme moçambicano que estreou na Netflix em 2020.
Pensando igual, mas com foco local, o cineasta e empresário moçambicano Ivandro Maocha, decidiu passar à acção criando uma plataforma de streaming nacional chamada “Netkanema”, na qual já se encontram disponíveis mais de 100 filmes produzidos em Moçambique.
A ideia, que começou a ganhar forma em 2019, é inspirada na infância do cineasta, por influência da sua mãe que sempre trabalhou nos meios audiovisuais, desper-
tando nele o gosto pela sétima arte. A Netkanema tem como principal objectivo “divulgar ou fomentar o gosto pelo cinema em Moçambique e, de alguma forma, tornar-se parceiro dos cineastas nacionais”, disse Ivando Maocha, destacando que “o objectivo inicial era apenas formar uma ‘cinemateca virtual’, ou seja, uma plataforma onde fosse possível ir buscar aquilo que ainda estava na minha memória”.
Entretanto, e olhando aos bons exemplos lá de fora, a ideia evoluiu, e ganhou força e forma e passou de um mero repositório de filmes que fazem parte do espólio do cinema moçambicano, para novas produções. “Agora é possível ver várias produções oriundas de quase to-
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negócio de gingantes como como a Netflix ou a
primeira plataforma de streaming moçambicana
TEXTO Nário Sixpence • FOTOGRAFIA Mariano Silva
das as províncias do país, de aspirantes a realizadores, pessoas que têm condições e equipamentos de topo até de outras que o fazem apenas pelo gosto de realizar. O que é um bom filme não depende directamente do equipamento usado, há obras de vulto hoje em dia, no estrangeiro, feitas com simples aparelhos celulares. O mais importante é a visão e o que se quer comunicar”, defende Ivandro Maocha.
O empresário revela ainda que “o o grande objectivo da Netkanema é esse mesmo, divulgar aspirantes a produtores cinematográficos, novos cineastas, e unir a nova à velha geração dos amantes e fazedores do cinema”. Mas até aí chegar, o percurso é cheio de dificuldades.
“É difícil pôr as pessoas a verem filmes pela internet porque esta ainda é dispendiosa. Também é difícil convencer as pessoas que é possível ganhar dinheiro através de uma plataforma individual de gestão dos seus filmes, pois a experiência da Netflix mostrou que tal funciona conforme a quantidade de informação que lá estiver”, explicou o cineasta.
Actualmente, a Netkanema oferece mais de 80% dos seus conteúdos de forma gratuita, sendo que a Maocha’s Filmes, responsável pela plataforma, suporta todos os custos operacionais que incluem a contratação de serviços gráficos e serviços burocráticos relativos ao licenciamento das obras. “Durante estes três anos, estamos a verificar tendên-
cias e procurar entender o mercado, e já conseguimos perceber que os moçambicanos conseguem despender algum dinheiro com filmes, mas, porque não é um comportamento contínuo, o cinema ainda não é uma actividade verdadeiramente sustentável”, lamenta Ivandro Maocha.
Com uma subscrição mensal de 200 meticais (pacote básico), a Netkanema prefere não revelar, por agora, o número de subscritores actuais registados na plataforma, mas não esconde que este não é, de todo, por enquanto, um negócio rentável. “Abraçámos esta causa sabendo disso mesmo mas está é uma aposta de futuro, do cinema e de todos os que o têm como vida”.
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PLATAFORMA www.netkanema.co.mz EMPRESA Maochas Filmes PROPRIETÁRIO Ivandro Maocha CRIAÇÃO 2019
B
Grupo de Estudantes e Docentes da Escola Superior de Desenvolvimento Rural (ESUDER), unidade da Universidade Eduardo Mondlane (UEM) do distrito de Vilanculos, província de Inhambane, criaram uma máquina capaz de exercer dois trabalhos sobre a terra: sachar e semear em curto espaço de tempo.
A inovação resulta das aulas práticas nos laboratórios daquela instituição de ensino superior e espera-se que esta contribua para a dinamização das actividades agrárias e para o desenvolvimento da agricultura no distrito e no País em geral.
Com o uso desta máquina, o produtor estima a medição do compasso da terra necessária para fazer a cavagem da terra e apenas empurra a semeadora que tem um cone de onde a semente é lançada para a terra com menos tempo e pouco esforço físico.
Segundo Lúcio Muchanga, chefe do Departamento de Sociologia Rural na ESUDER, o instrumento vai ajudar a reduzir o tempo de trabalho na plantação em espaços mais vastos e tornará desnecessária a enxada nas actividades.
Yuridiss Chaúque, estudante de Engenharia Rural e participante na criação do protótipo afirma que esta semeadora é de fácil fabrico, usando, para o efeito, material reciclável e que se encontra facilmente no mercado. Além desta máquina, há ainda muitos protótipos em desenvolvimento pela ESUDER.
Moçambique poderá contar, ainda este ano, com mais um radar meteorológico de longo alcance para processar informação sobre a evolução dos fenómenos climáticos com antecipação de 24 horas.
400 quilómetros, o que vai beneficiar não apenas Moçambique, mas outros países da região da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC).
A informação foi tornada pública pelo ministro dos Transportes e Comunicações, Mateus Magala, que frisou que em resposta ao desafio do secretário-geral da ONU, Moçambique está a implementar a iniciativa presidencial “Um Distrito, Uma Estação Meteorológica”. O aparelho tecnológico tem uma capacidade de alcance de
A petroquímica sul-africana Sasol, que explora gás natural na província de Inhambane, aponta o hidrogénio como fonte de energia que poderá entrar nas suas operações para atingir a meta de descarbonização, Net Zero, até 2050.
A multinacional sul-africana está a desenvolver, fora do país, um projecto protótipo para a utilização do hidrogénio a partir de energia solar, um recurso que abunda em Moçambique.
A informação foi avançada pelo director-geral da Sasol em Moçambique, Ovídio Rodolfo, em entrevista à AIM, sobre a transição energética no País. Rodolfo afirma que “o hidrogénio é um dos elemen-
O robot foi construído como uma personagem feminina humanóide de 1,80 m de altura que entende e fala oito idiomas diferentes, compreende profundamente a cultura africana e os seus vários padrões de comportamento.
Omeife também tem uma compreensão em tempo real do seu ambiente, escuta activa e capacidade de se concentrar num tópico de conversa específico enquanto esta está a decorrer.
A tecnologia é alimentada por sofisticados algoritmos de inteligência artificial, desenvolvidos internamente pela equipa de cientistas da empresa. Foi desenhada para actuar como um serviço para empresas que precisam de integrar o público nativo em África, e é um robot multiusos e de assistência.
A instalação do aparelho faz parte da resposta ao apelo do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, lançado em Março deste ano, dizendo que todos os cidadãos do mundo devem, nos próximos cinco anos, ter uma informação prévia sobre os fenómenos e eventos climáticos de forma a prevenir a perda de vidas humanas e bens. A Uniccon Group of Companies, uma das startups de tecnologia de crescimento mais rápido da Nigéria, que oferece soluções tecnológicas eclécticas e inovadoras para empresas e agências governamentais em toda a África, criou a Omeife, primeiro robot humanóide do continente.
tos que a Sasol vê a entrar nas operações para reduzir as emissões de carbono e atingir a meta Net Zero até 2050. Estamos a fazer experiências e, se tudo der certo, essas vão ter um grande impacto em todas operações de energias no mundo e em Moçambique, em particular”, disse.
O hidrogénio é um elemento que tem sido escolhido para combustível por causa da sua capacidade de armazenar energia e do seu baixo peso molecular. Quando produzido de fontes e tecnologias renováveis, torna-se num combustível renovável, é uma fonte inesgotável e não poluente, por isso considerado “o combustível do futuro”.
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Sasol Pretende
Renováveis
Usar Hidrogénio
nas Operações Energéticas
Inteligência Artificial Startup nigeriana cria primeiro robot humanóide de África
Clima Moçambique poderá contar com mais um radar meteorológico de longo alcance
PANORAMA
Agritech Estudantes e docentes da Universidade Eduardo Mondlane criam máquina semeadora
“Estamos Sempre Atentos a Novas Áreas de Negócio no País”
O Grupo Visabeira, presente em Moçambique há várias décadas, com investimentos em sectores que vão desde a construção à energia, passando pelo turismo, telecomunicações e imobiliário, assenta a sua estratégia no evoluir das necessidades do mercado. À E&M, o novo CEO da Visabeira Global, em Moçambique, Pedro André de Sousa fala sobre o presente e o futuro a breve prazo de um grupo empresarial com história no País
AVisabeira é um grupo empresarial português com negócios na área das telecomunicações, turismo, construção, energia ou logística em vários mercados e com mais de 40 anos de existência.
Com um volume de facturação a chegar, em 2021, à casa dos mil milhões de euros, conta actualmente com uma carteira de investimentos que se expande bem para lá das fronteiras portuguesas, dos EUA a Inglaterra, passando por África, estando presente de forma directa em 17 mercados.
A Moçambique, chegou em finais da década de 80 do século passado, quando começou com a Televisa, por muitos anos, o seu maior negócio (e ainda hoje está no Top 3). Quando começou a operar, fazia apenas a manutenção da infra-estrutura de rede fixa, mas as tecnologias mudaram e, neste momento, está já está a completar a instalação da rede 4G em todo o país.
Um dos grandes impulsos à sua actividade, deu-se com a ‘explosão’ da rede móvel, que permitiu à Visabeira assumir o negócio da implementação de torres de telecomunicações e redes de fibra óptica. De então para cá, abraçou novas áreas de negócio, como o das renováveis, o turismo e o imobiliário e não irá ficar por aqui. Pedro André de Sousa explica à E&M por onde pode passar o futuro.
A evolução da presença da Visabeira em Moçambique confunde-se um pouco com o desenvolvimento do próprio País, concorda com esta visão?
O Grupo está presente em Moçambique desde o final da década de 80 do século passado, naquele que é o seu principal negócio, ou seja, na área da engenharia e infra-estruturas de redes de telecomunicações, através das empresas Televisa e TvCabo.
A Televisa, que foi criada em parceria com a antiga empresa pública Telecomunicações de Moçambique (TDM), começou exactamente por ter a TDM como principal cliente, mas hoje é uma empresa que trabalha com diferentes operadores e tem vindo a reforçar a sua posição de líder na expansão da rede de fibra óptica e no projecto de cobertura 4G, que continua a ser implementado em todo o território nacional.
Nesta área, devo assinalar o papel de especial importância da TvCabo Moçambique, uma empresa pioneira no continente africano, assumindo a inovação tecnológica e a qualidade dos seus serviços. Na área da construção de infra-estruturas, a Sogitel e a Edivisa são empresas de referência que operam neste segmento bem como na execução de empreitadas de construção civil e infra-estruturas e comércio e serviços.
O destaque é também para a Mer-
cury, empresa de trading, que se dedica à importação e comercialização de um alargado leque de mercadorias, entre os quais os produtos utilizados pelo próprio Grupo Visabeira. E depois temos também uma experiência forte no sector imobiliário, sobretudo através da Imovisa. Olhamos igualmente para as energias, uma outra importante área de actividade em Moçambique, em que actuamos através da Electrotec, uma parceria com competências e capacidades para operar nas infra-estruturas de electricidade ao longo de todo o território moçambicano.
O turismo é uma das apostas do País, e como disse, a Visabeira está a investir neste segmento do seu negócio, de que é exemplo a inauguração recente do Milibangalala, na zona Sul. Este investimento em unidades turísticas para um segmento elevado é para continuar?
O turismo é uma área em que o Grupo aposta, mas apesar de ser talvez a área que nos dá maior notoriedade não
www.economiaemercado.co.mz | Novembro 2022 64 CEO TALKS | VISABEIRA
Texto Pedro Cativelos • Fotografia Mariano Silva
“Temos vindo a crescer muito no imobiliário. Com a empresa Sogitel, trabalhamos em obras de referência como construção de hospitais, escritórios e residências particulares”
BNOME Pedro André De Sousa CARGO Economista
IDADE 44 Anos
FORMAÇÃO Licenciado pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra CARREIRA CIniciou o seu percurso profissional no Instituto Nacional de Estatística em Coimbra
Depois de uma curta passagem pela banca, foi contratado pelo Grupo Visabeira para trabalhar no departamento de controlo de gestão na sua sede em Viseu.
Em 2005 iniciou funções em Moçambique como Director Administrativo e Financeiro tendo no mesmo ano assumido funções ao nível do Conselho de Administração da Visabeira Moçambique, com o pelouro de Administração e Finanças.
A partir de 2009 passou a acumular progressivamente pelouros de gestão e acompanhamento dos negócios ao nível da administração das diferentes empresas do Grupo Visabeira em Moçambique sendo, à data de hoje, o Presidente da Comissão Executiva da Visabeira Moçambique e representante da empresa nos órgãos sociais de diversas participadas.
é, ainda assim, o nosso principal negócio. É um sector que acreditamos ter muito potencial em Moçambique, mas cujo investimento será ajustado em função das exigências do mercado.
Neste momento, depois da inauguração e de uma excelente aceitação por parte da generalidade dos clientes que nos visitaram em Milibangalala, estamos a investir um pouco mais nesse resort para o dotar de um maior espaço de conferências e maior capacidade de alojamento, respondendo às necessidades apresentadas pelo mercado. Esta continuação do investimento no Milibangalala tem de ser executada sem interferir no ambiente do resort, por isso, é um investimento que se vai prolongar até ao início de 2023. É um sector (o turismo) que acreditamos ter muito potencial no País, mas cujo investimento, nomeadamente em novas unidades, será ajustado exactamente em função das exigências do mercado.
Em relação à área de energia, o foco tem maior incidência sobre a rede
eléctrica ou está a ter em conta também as renováveis?
Já tivemos projectos de renováveis, mas a esse nível temos pouca experiência. Neste momento o nosso maior trabalho está na expansão da rede eléctrica, estamos também atentos aos projectos de geração de energia enquanto empreiteiros e como em projectos nossos.
Associado ao crescimento do País temos o projecto “Energy for All” que trouxe muito trabalho para Moçambique. Temos um veículo, a Electrotec, que tem estado a crescer bastante nos últimos anos neste segmento. No período do covid-19, em que muitos negócios travaram, a electricidade continuava a crescer e os nossos negócios nesse mercado ganharam uma importância significativa, algo que aconteceu também nas telecomunicações e na TV Cabo que tiveram, nessa altura, um grande crescimento.
Quais são, actualmente, os principais projectos da Visabeira no País?
Temos vindo a crescer muito na construção e no real estate. Com a Sogitel, trabalhamos em obras de referência como construção de hospitais, escritórios, residências particulares e nos nossos próprios investimentos.
Temos como exemplos de clientes o Milibangalala, a que já me referi, no qual foi tudo feito por nós, desde a arquitectura, engenharia até à própria construção. Mas fizemos recentemente a ampliação do Instituto de Coração (ICOR) em Maputo, e estamos a trabalhar na construção de um centro de formação e um hospital na cidade da Beira.
A Imovisa, nossa empresa no ramo da construção, estabeleceu uma parceria com o Banco de Moçambique e, de uma maneira geral, a construção fica como um negócio complementar às telecomunicações.
Depois, somos importadores e representamos algumas marcas de vinho. Os projectos de turismo têm impacto, quer do ponto de vista do reconhecimento do investidor, quer para a criação de empregos e pagamento de impostos.
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E aqui somos uma referência porque penso que não há ninguém que seja proprietário de cinco hotéis – três em Maputo, um em Gorongosa e outro no Songo, e estamos a explorar um em Lichinga, no edifício do INSS que não foi construído por nós.
No agro-negócio, temos um pequeno projecto de exploração pecuária em Xinavane, província de Maputo, que usamos para fornecer aos nossos hotéis, e para suprir algum défice de qualidade que eventualmente encontramos.
Os nossos investimentos estão alinhados com a sede, em Portugal, mas aproveitamos algumas condições internas que encontramos, em cada mercado, para crescer.
Ficamos atentos a áreas de negócios novas, mas normalmente entramos com parcerias. O agro-negócio, por exemplo, é uma área a que estamos atentos por ser fundamental para o desenvolvimento de Moçambique.
Olhando mais para o cenário macro, quais são as perspectivas da empresa no curto e médio prazo?
Tenho visto diferentes projecções a curto e médio prazo, e alguns ajustamentos em função de certos episódios que vão acontecendo. Mas a nossa ideia
fundamental é que Moçambique é um país com enorme potencial de crescimento, desde logo porque há ainda muita coisa para fazer.
E nas áreas onde temos maior presença (e até maior experiência ao nível internacional), ou seja, na área das telecomunicações e energia, pensamos que o potencial de crescimento no curto prazo é grande. Aliás, temos vindo a crescer, apesar da conjuntura recente provocada pela pandemia do covid-19.
Ao nível pessoal, estando a residir já há bastante tempo em Moçambique, a minha ideia fundamental é que há sempre espaço para crescer em determinados contextos. Portanto, penso que é possível crescer sem ser necessariamente um dos grandes players do oil & gas, estando presente no mercado e tendo experiência.
A nossa experiência em telecomunicações, energia e construção – áreas que estes grandes projectos vão necessariamente absorver –, e sendo um player que está também num turismo de negócios, diria que não gostaríamos de ficar reféns do oil & gas. Mas é evidente que esses projectos são muito importantes para a economia do País e, consequentemente, são importantes para nós, assim como para todas as empresas. Acredito que há
muita coisa para fazer em Moçambique e há muito potencial. Então, é inevitável o crescimento económico.
Enquanto empresário de uma multinacional portuguesa, o que acha da relação de negócios Moçambique-Portugal, há alguma evolução? E que balanço faz da recente cimeira luso-moçambicana?
A visita do primeiro-ministro de Portugal a Moçambique e a celebração de acordos e mecanismos para a cooperação económica e cultural entre os dois Estados são, certamente, benéficos para o estímulo dos negócios entre ambos os países. Agora é preciso dar continuidade.
A sensação de que se podia fazer mais é natural e nós, como interessados, queremos que haja uma aceleração de protocolos económicos, mas também culturais e ligados à educação, uma vez que criam uma ligação entre os povos. Por isso, para mim foi muito bom que a cimeira tenha acontecido.
Naturalmente há essa sensação de poder se fazer-se mais, mas, sendo sincero, no meu ponto de vista, gozamos de um bom clima de negócios entre os dois países e temos de tirar partido disso. Cada um dos países tem a sua agenda e desafios, mas estamos numa boa fase, temos de aproveitar e dar o nosso máximo.
Tendo sido recentemente indigitado para o cargo , gostaria de destacar um objectivo pessoal a alcançar no seu mandato à frente da Visabeira em Moçambique?
Olhe, gostaria de ficar associado a um efectivo crescimento na área da energia. Pessoalmente, penso que há muitas oportunidades nesse segmento. Assinámos alguns acordos a esse nível precisamente por acreditar que as energias têm um enorme potencial de crescimento a curto e médio prazos em Moçambique.
No meu mandato, se tiver de destacar claramente algum objectivo, esse passaria por dar continuidade ao crescimento no ramo das telecomunicações e manter e melhorar a percepção que as pessoas têm do nosso posicionamento na área do turismo. Mas, acima de tudo, desenvolver bastante a área da energia.
Tenho objectivos de curto prazo como fechar alguns negócios na área do imobiliário, que precisam de muita atenção porque dependem de factores e dinâmicas próprias do mercado. Mas o grande foco é mesmo manter a solidez do trabalho de vários anos e continuar a ser um player fundamental nas telecomunicações em Moçambique.
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A Visabeira está presente nos projectos de expansão das redes de telecomunicações
ócio
(neg)ócio s.m. do latim negação do ócio
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Uma Viagem pela Arquitectura da Cidade de Maputo
Ao Sabor da Ementa do “Galeria”, no porto de Maputo
Vinho e Queijo, a Nova Sugestão da Alumni Wine
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CIDADE DE MAPUTO
UMA VIAGEM PELA ARQUITECTURA
Open House 2022
Cidade de Maputo – Um Passeio Pelos
conhecida como “A Cidade das Acácias e Jacarandás”, a capital moçambicana, Maputo, foi contemplada na edição 2022 do Open House, um evento mundial criado em 1992 no Reino Unido e que está actualmente presente em 52 capitais mundiais.
O Open House dá a conhecer gratuitamente diferentes formatos de arquitectura e cultura, através de visitas a espaços que habitualmente não são acessíveis e abertos ao público, e tem como objectivo aproximar as pessoas à arquitectura da sua cidade, bem como enaltecer o valor dos espaços bem projectados e construídos.
eA cidade de Maputo possui vários edifícios de estruturas
Monumentos Mais Icónicos da Capital
distintas, vistosas e com arquitecturas únicas: a Casa de Ferro, na ombreira do jardim Tunduru que revela o princípio da pré-fabricação, consiste na utilização do ferro como material único, existente nas estruturas, paredes e coberturas, remota ao sistema industrial, ao qual Joseph Danly, no seu conceito, quis atribuir beleza e rigidez nas construções, tendo sido atribuído o nome do seu inventor.
O edifício do Conselho Municipal de Maputo, com certeza um dos mais pujantes, foi o primeiro a ser construído no centro da cidade com carácter oficial.
Todo o quarteirão é ocupado pelo edifício que fica delimitado pela Praça da Independência. A leste fica a Igreja Nossa Senhora da Conceição, Sé Catedral de Maputo. Possui uma planta rectangular. A linguagem arquitectónica de inspiração clássica evidencia os elementos construtivos e decorativos, visíveis nas colunas e frisos. As paredes exteriores são em alvenaria de pedra, revestidas a pedra granito e os pavimentos interiores em pedra mármore e madeira.
O edifício Abreu Santos e Rocha, implantado entre a Praça dos Trabalhadores e a Avenida Guerra Popular, que apresenta telas geométricas em conjunto com um amplo baixo-relevo de motivos gráficos de modelo africano.
Mas se for para falar de todos os edifícios magníficos que a cidade de Maputo possui, de certeza que esta leitura se prolongaria por mais horas, e mesmo dias. Portanto, não é sem mérito que esta urbe seja a segunda contemplada pelo Open House em África, depois da nigeriana Lagos, em 2018.
A comissária da Open House Maputo, arquitecta Joana Vilhena, explica a escolha da cidade de Maputo: “Esta cidade detém um excelente património arquitectónico que precisa de ser divulgado ao nível nacional e internacional, não apenas para arquitectos, mas para a sociedade em geral. Para tanto, é importante que se abram portas para que se dê a conhecer quem mora e como estes edifícios estão a ser geridos.”
A arquitecta acrescenta que o Open House tem a vantagem de ser um programa fácil, que pode ser facilmente continuado pelas próprias comunidades e sociedades.
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Texto Filomena Bande
Fotografia Mariano Silva & D.R
A capital, Maputo, detém um património arquitectónico que precisa de ser divulgado ao nível nacional e internacional, não apenas para arquitectos, mas para a sociedade em geral
ONDE COMER?
Isso não será um problema porque a cada esquina da Cidade das Acácias há um restaurante ou uma pastelaria. Só não cometa o erro de sair de Maputo sem provar os seus pratos típicos. Há também muitos mariscos.
O QUE FAZER?
Um passeio pela cidade é, de certeza, uma boa ideia. A cidade é imensa e com muitos lugares para ir. Parta, por exemplo, da Praça dos Trabalhadores, que encontrará muitos lugares maravilhosos por conhecer mesmo nas redondezas.
CUIDADOS A TER
Veja a previsão do tempo antes de sair. O Verão costuma ser intenso, mas não se deixe iludir pelo sol porque, ao final do dia, pode precisar de um chapéu-de-chuva. O sol e a chuva andam muito juntas nesta estação.
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ROTEIRO
gconcebido para ser um espaço de atracção turística (40 mil turistas escalam, em média, anualmente, o porto de Maputo), a “Galeria” resulta da recuperação de uma antiga estrutura portuária, e é um espaço multiusos com características únicas na capital, pois acaba por ser, simultaneamente, um espaço de cultura (com uma programação disponível para as diferentes expressões artísticas e criativas), de restauração e aberto a todo o tipo de eventos (conferências, encontros empresariais, etc.), de dia e de noite.
Esta iniciativa, que constituiu desde a abertura, por si só, um importante contributo para a revitalização da baixa da cidade, já é um dos pólos mais dinâmicos desta zona há mui-
Galeria: Um Lugar na Margem que é Centro de Maputo
to, se se concretizarem os planos existentes para a recuperação desta área histórica, que têm vindo a ser anunciados desde há muito.
Com uma programação cultural intensa, especialmente na área da música, a “Galeria” abriu as suas portas em 2019.
Fechou durante a pandemia, por alguns meses, e reabriu com a mesma intenção inicial. Sendo um lugar na margem, mas um ponto central de toda esta nova dinâmica.
Depois, a proposta gastronómica que ali se encontra é extensa, variada e aliciante. Por se tratar de um lugar à beira-mar, os pratos de peixe e marisco destacam-se por si
A proposta gastronómica que ali se encontra é extensa, variada e aliciante. Por se tratar de um lugar à beira-mar, os pratos de peixe e marisco destacam-se por si só
só. Nas entradas destacamos a bruscheta de caranguejo. Na lista dos peixes e mariscos, vale a pena experimentar a lagosta Mornay ou as lulas com pão de alho, sendo que há sempre a sugestão do peixe do dia.
E por ali, não se esquecem algumas escolhas mais óbvias para os vegetarianos, como a salada de grão-de-bico ou o caril de beringela.
Nas carnes, as sugestões facilmente recaem no peito de pato com rúcula, no pernil de cordeiro ou no, tradicionalmente moçambicano, frango à zambeziana.
Ainda nas carnes, uma referência para a carne de tomahawk com feijão e batata assada. O tomahawk, ‘aparentado’ às famosas ribs, é um dos cortes mais fáceis de serem identificados, pois apresenta um grande osso da costela, o que
o tornou conhecido como “a carne dos Flintstones” e lembra um pequeno machado dos índios norte-americanos chamado tomahawk.
O corte é retirado da parte dianteira do lombo do boi e, quando possível, extraem-se apenas quatro peças por animal. O tomahawk é, basicamente, o mesmo corte do prime rib, porém com um osso maior (chegando a 30 cm).
Entre as sobremesas, destacamos os pudins que, ali, desfilam até à meta de uma boa refeição, com opções inesperadas como o pudim de mandioca, tâmara ou malva.
Um bom fim para um óptimo começo de noite, porque não?
Texto Pedro Cativelos Fotografia Mariano Silva
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Porto de Maputo info@ galeria. co.mz
GALERIA
Vinho e Queijo, a Nova Sugestão
de onde surgiu a ideia de combinar queijo e vinho? Bem, há registos que remetem à antiguidade clássica e as semelhanças da história e do processo de elaboração dos dois podem ser factores que fazem com que a sinergia entre eles seja tão apreciada.
Mas embora vinho e queijo caminhem juntos em termos de paladar, e sejam produtos tão próximos relativamente às etapas de produção, a sua harmonização exige carinho, por forma a extrair o melhor dos dois sabores.
Apesar de esta tradição ser antiga, a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), de Portugal, resolveu reactualizá-la com a apresenta ção, no passado dia 11 de Novembro, da “Prova dos Novos – UTAD Alum ni Wine & Cheese Collection 2022”, um evento em que estiveram presen tes altas individualidades, com destaque para a ministra portuguesa da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Elvira Fortunato. Na ocasião, foi apresentado um quarteto de vinhos e um trio de queijos — o mais recente produto da marca Alumni —, nascido das mãos de antigos alunos da instituição transmontana, e que compõe a oferta deste ano. “A UTAD era a única universidade portuguesa com vinhos de autor, produzidos pelos seus ex-alunos de enologia. Agora, passa a incluir também uma gama de queijos, que herda o co nhecimento científico e o saber-fazer dos Alumni portugue ses do agro-alimentar”, declarou o reitor da UTAD, Emídio Gomes.
O queijo é o grande destaque desta 5ª edição do even to, apresentando-se em três variedades: queijo de vaca elaborado por Zulmira Lopes, queijo curado de ove lha da responsabilidade de João Reis e queijo de ca bra produzido em Trás-os-Montes por Inácio Neto.
Estes sabores são harmonizados com os vinhos produzidos por Sandra Alves (um branco cria do no Alentejo), Marta Reis Simões (um vinho tinto nascido na região de Lisboa), Tiago Alves de Sousa (um vinho do Porto) e Sofia Caldei ra (um espumante vindo da ilha da Madei ra). Existem, contudo, técnicas e regras a seguir para combinar queijo e vinho, to mando em consideração que cada quei jo é elaborado com uma variedade es pecífica de leite (vaca, cabra, ovelha ou búfalo) e passa por um processamento distinto com um tempo de maturação também específico.
Essas etapas interferem direc tamente no sabor e carac terísticas do produto fi nal. É nestas parti cularidades que se devem apoiar os amantes des ta combina ção para esco lherem o vinho certo.
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“A UTAD era a única universidade portuguesa com vinhos produzidos pelos seus ex-alunos de enologia. Agora, passa a incluir uma gama de queijos, que herda o conhecimento e o saber-fazer dos Alumni...” da Alumni Wine
Dos Desenhos de Infância Nasceram Marcas de Alta Costura Para o Mundo
quem hoje vê, não imagina que Shaazia Adam Couture e a Mina, duas marcas de roupa da criadora moçambicana, resultam de um sonho de menina.
Shaazia Adam, uma jovem estilista criadora das duas marcas, começou a desenhar roupas como hobbie de menina, desde os seus 12 anos de idade.
Com apenas 16 anos, as suas criações já ‘desfilavam’ pelas passerelles em roupas que fizeram parte dos desfiles de um dos maiores eventos de moda do País, o Mozambique Fashion Week, a convite de Vasco Rocha, CEO da empresa DDB, que organiza o evento.
A estilista e empresária nasceu numa família de gente criativa e esse, assume, “foi o maior impulso para a sua própria criatividade”. Shaazia conta à E&M que a sua mãe foi a pessoa que “mais a inspirou e encorajou a abraçar os seus sonhos. E continua a sê-lo”, diz, com luz no olhar.
Mas porque sonhar e ser criativa não basta – uma vez que moda é também arte e negócio –, a estilista procurou aprimorar a sua identidade artística numa das mais renomadas universidades de moda em Londres, e terminou o curso “com um dos melhores portefólios de design de moda”, recorda. Graças a isso, ganhou o “privilégio”, ou melhor, o direito de estagiar no atelier de Alexander McQueen, um dos mais reconhecidos estilistas da actualidade.
De volta a Maputo com a formação concluída mas os sonhos ainda por vestir com o design que nascia da imaginação arrojada, Shaazia Adam continuou a criar roupas e a participar em desfiles de alta costura. Até que, em 2019, criou uma outra marca, a Mina, uma linha de pronto-a-vestir para a classe média-alta, com roupas feitas de fibras naturais (algodão, linho, malhas de algodão), 70% sustentável e 100% moçambicana, que utiliza materiais locais, comportando apenas alguns detalhes importados, como os botões.
Mina, o nome da marca que, em changana, (uma das línguas da zona sul de Moçambique) significa “eu”, carrega um significado forte, que talvez traduza na íntegra o objectivo que tem, espelhando a trajectória da jovem estilista: “Mina porque me
reflecte, a mim e aos erros que cometi durante o meu percurso. A marca identifica-se muito comigo, e sinto que não sou diferente das outras mulheres. Mina sou eu, e eu sou um estilo de viver e encarar a vida. Moda é isso mesmo, um conceito de estar na vida, é como acordamos e nos sentimos no dia-a-dia. Como mulher que trabalha e como mãe, sinto que outras mulheres também precisam dessa facilidade, dessa segunda pele que podem usar como sua, para ir trabalhar ou só para ficar em casa”, explica.
As peças “pronto-a-vestir” da Mina ganharam relevo, especialmente durante a época de isolamento causada pela pande-
mia de covid-19. As pessoas trabalhavam a partir de casa e precisavam de uma roupa confortável, mas que fosse, ao mesmo tempo, adequada para trabalhar.
E foi nessa perspectiva que ganharam muita aceitação não só no mercado nacional como no internacional, onde chegaram através da exposição digital da fashion designer, e alcançaram alguns países africanos como Cabo-Verde, Angola, Arica do Sul e até os EUA.
Diante da popularidade que a marca tem vindo a alcançar, a empresária planeia expandi-la e prevê criar representações em Portugal e África do Sul em breve.
Com uma nova colecção apresentada
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Shaazia Adam Couture e Mina
numa cerimónia alusiva ao centésimo aniversário do Polana Serena Hotel, em Maputo, com um desfile de apresentação da colecção Maktub, o desfile de maior dimensão da marca até então, comprovou certezas e desvaneceu eventuais receios. “É sempre stressante lançar uma nova colecção, ainda para mais de uma nova marca, mas provou ter pernas para andar”. Prestes a participar no MFW, no próximo ano, Shaazia pretende alargar as colecções para homem e criança, tendo em conta até a elevada procura que tem registado.
TEXTO Filomena Bande FOTOGRAFIA Mariano Silva
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Mina, o nome da marca que em changana (uma das línguas da zona sul de Moçambique) significa “eu”, carrega um significado forte, que talvez traduza na íntegra o objectivo que tem, espelhando a trajectória da jovem estilista: “Mina porque me reflecte, a mim e aos erros que cometi durante o meu percurso.
O Rancor e a Esperança
o som de “woy yo yo” de bob marley introduz o diálogo entre Bob e Jack, dois irmãos que se reencontram depois de muito tempo separados pelas armadilhas da vida.
A peça intitulada Num dia igual aos outros resulta do texto do dramaturgo americano John Konvenbach, adaptado e dirigido pela moçambicana Angélica Chavango.
O espectáculo apresentado no palco da Fundação Fernando Leite Couto, encenado pelos actores Eduardo Sambo interpretando Bob, e Assane Cassimo, o Jack, revela o drama psicológico de uma família disfuncional à procura de redenção.
“Este espectáculo retrata a história de duas personagens em conflito, dois irmãos, cada um com os seus problemas.
O Bob tem a esperança de reconstruir a família, reencontrando o pai que o abandonou e o seu irmão; já Jack perdeu a esperança e vive atormentado por ter abandonado o seu irmão após o desaparecimento do seu pai. Desnorteado, Jack pretende também, a exemplo
Reencontram-se “Num Dia Igual aos Outros”
do pai, abandonar a família que construiu durante o tempo que se distanciou do irmão e, no final, tirar a sua própria vida”, esclareceu o actor Assane Cassimo.
O desenrolar da peça desvenda mistérios e revela aos poucos o passado de dois irmãos que nutrem amor um pelo outro, mas que deixaram florescer as sementes do ódio e rancor na sua relação familiar.
A peça teatral, contextualizada à moda moçambicana, é rica em sons e movimentos que intensificam a fala das personagens.
“Foi um desafio enorme trabalhar nesta peça porque cada autor tem a sua forma de escrever e escreve de acordo com a sua cultura. Primeiro, procurámos entender o texto.
Algumas passagens que citámos durante a encenação não existem no texto original. Procurámos adaptar o texto ao contexto moçambicano. Foi um desafio muito complicado, mas penso que valeu a pena”, acresceu o actor Eduar-
do Sambo. Preparado durante quase um ano devido às interrupções impostas pela pandemia do covid-19, o número teatral ganhou atenção e admiração do público presente na Fundação Fernando Leite Couto.
“Esta peça teatral despertou em mim vários sentimentos.
Acabei por me identificar com muitas passagens, pois creio que eu e muitos moçambicanos temos uma história de algum tipo de conflito familiar que acaba dividindo os membros da família”, disse Virgínia Talia , que não escondeu o seu fascínio pelo trabalho apresentado pelos actores.
Com a peça, os actores esperam levar ao público, além de diversão, a reflexão em torno das relações familiares e procurar ser um elemento de coesão social por meio da arte.
Neste drama psicológico traça-se o retrato de uma família disfuncional à procura de redenção
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A peça intitulada Num dia igual aos outros resulta do texto do dramaturgo americano John Konvenbach, adaptado e dirigido pela moçambicana Angélica Chavango
TEXTO Yana De Almeida FOTOGRAFIA Mariano Silva
TEATRO
BUGGATI
MISTRAL
Marca:
Bugatti
Modelo: Mistral Potência: 1500 cv Velocidade máxima: 420 Km/h
vO Descapotável que Marca o Fim dos Motores a Combustão
A ALPINE, departamento desportivo da Renault, apresentou recentemente um automóvel conceptual com design disruptivo e futurista, e uma particularidade que merece destaque: o hiper carro poderá mover-se a hidrogénio!
Na sua apresentação não foram revelados grandes pormenores técnicos, mas o pouco que se deu a conhecer não tem como passar despercebido: tem mais de cinco metros de comprimento, mais de dois metros de largura e menos de um metro de altura. Vem equipado com um motor a combustão, que pode ser neutro em carbo-
no desde que seja alimentado por hidrogénio, isto porque a Alpine acredita que os eléctricos movidos a bateria e a célula de combustível podem coexistir com os automóveis movidos a hidrogénio equipados com um motor de combustão.
Mesmo com dois tanques cilíndricos de armazenamento de hidrogénio de 700 bar em ambos os lados do motorista, ele pesa entre 1000 kg e 1200 kg – o uso extensivo de fibra de carbono reciclada na sua construção terá sido um dos grandes res-
O Mistral tem um motor de 16 cilindros com de 8.0 litros de capacidade, 1500 cavalos (cv) de potência e 1600 Newton-metro (Nm) de binário máximo e uma transmissão de dupla embraiagem
ponsáveis pela manutenção do peso baixo e espera-se o mesmo dos carros futuros.
O Alpenglow, concebido para ser amigo do ambiente, faz uso do carbono reciclado para ajudar no impacto ambiental.
Este carro-conceito é o ponto de partida para o design, tecnologias e inovações dos futuros carros da Alpine, mantendo-se sempre fiel à história da marca, como explicou Laurent Rossi, CEO da Alpine.
“O design poderoso e luxuoso do Alpenglow indica como serão os carros da Alpine amanhã, e a nossa visão para o avanço do desporto motorizado”, afirmou Laurent Rossi, acrescentando que, “com a tecnologia de hidrogénio, estamos a fortalecer o nosso compromisso com um futuro responsável e a manter o prazer de conduzir”.
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