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Rodrigues Célia Célia Rodrigues bela,
Corajosa E Do Ar
Célia Rodrigues é radialista, feminista e comunicadora de gênero. Nasceu em Juazeiro do Norte em 12 de fevereiro de 1951. Começou a se aventurar nas ondas do rádio ainda adolescente. Atualmente apresenta os programas Papo Cabeça e Sexo Verbal na Rádio Vale FM e é integrante da Rede Mulher e Mídia. Célia Rodrigues conta nesta entrevista da sua trajetória de vida, da carreira e ,principalmete, da luta do femisnimo no Cariri.
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Depois de quase cinquenta anos atuando como radialista, você saberia dizer quando e de que forma começou sua relação com o rádio?
Começou como ouvinte. Eu era adolescente e tinha uma fascinação enorme por ouvir rádio. Na minha geração, as músicas eram aquelas que hoje são chamadas de velha guarda: Roberto Carlos, Jerry Adriani, Vanderlei Cardoso, Wanderléa. Eu era fã da Wanderléa, assim como hoje a juventude é fã da Beyonce... E sempre fui vidrada pela música popular brasileira. O que você mais ouvia da música brasileira?
Eu era apaixonada pela Bossa Nova. A Bossa Nova é um ingrediente muito importante para se contar a história do Brasil envolvendo a política, a ditadura e todos os horrores sofridos neste período. A censura era muito forte, então os artistas utilizavam as músicas para denunciar e colocar para fora seus sentimentos de revolta. Ainda assim, muitos deles foram deportados, presos e torturados. As mulheres, principalmente. A própria [ex-presidenta] Dilma foi uma dessas vítimas. São tantas histórias de mulheres, artistas, cantoras, atrizes de teatro que foram extremamente torturadas. Eles entravam nos teatros, pegavam os atores e atrizes em cena e retiravam para a prisão.
Essas lembranças são tão horrorosas que estão gravadas, até mesmo, na mente de quem não as viveu. E, o pior, é que hoje convivemos com um grupo que pede o retorno da ditadura... Quem deseja a volta da ditadura no Brasil são pessoas totalmente sem noção, que não fazem ideia do quanto custou para brasileiros e brasileiras esse absurdo, essa barbárie.
E quando foi seu início no rádio?
Na minha época de adolescente, na década de 60, tinha um programa de calouros chamado “A Cidade se Diverte”. Ele era produzido, apresentado e transmitido pela Rádio Iracema. E a turma ia lá cantar para ganhar aqueles brindes bobos, mas o importante mesmo era pegar o microfone e ensaiar com João Martins, que era um dos titulares da orquestra do Treze Atlético Juazeirense, no tempo em que o Treze era um dos melhores clubes sociais de Juazeiro.
E você foi participar?
Sim! Eu e minha irmã nos inscrevemos para cantar e acabaram gostando da nossa voz. Lembro que cantei uma música da Wanderléa. O meu pai era músico, tinha violão e ensaiava com a gente, ajudava muito. Um dia, voltando da escola, o diretor da Rádio Iracema, seu Coelho, estava na porta do prédio da rádio e me reconheceu: “Ei menina, vem aqui! Você não quer vir fazer um teste com a gente, não? Você tem uma voz muito boa, pelo menos para cantar.” Eu fiquei eufórica,
Foto: Arquivo pessoal saltitante, sai correndo, fui pra casa e minha mãe disse: “Não vai de jeito nenhum!”
E aí?
Eu convenci! Na nossa época, o pai era mais ausente e a mãe era mais presente, acho que até hoje ainda é assim. E, muitas vezes, a mãe é mais carrasca que o pai. No meu caso, era. Então acabei ganhando mais com o meu pai. Fui pedir e ele disse: “Deixa a menina! Eu vou acompanhar!”. Aí ela cedeu: “Ah, se você for, está tudo bem”. E eu fui fazer o teste.
E como foi o teste?
Quando cheguei na rádio, Maciel Silva – que foi meu diretor de programação durante anos e um dos melhores radialistas que eu já conheci – me colocou dentro da sala de gravação com um gravador daqueles de rolos enormes e me entregou um monte de textos, tinha até convite de enterro. Primeiro, ele me deu uma rápida explicação de como eu deveria proceder e depois me deixou à vontade. E eu mandei ver. Quando terminou tudo, ele ouviu e começou a pontuar o que eu poderia melhorar. Aí eu falei assim: “Mas isso aqui é uma brincadeira, né?” e ele respondeu: “Não senhora, é um teste! Se você passar, você vai falar no microfone, você vai ser locutora”. Nem passava pela minha cabeça que eu poderia ser locutora. Mas o interessante é que aquilo começa a fluir na cabeça de jovem e a gente toma como tarefa. Daí nasceu a Célia Rodrigues radialista. E seus pais? De que forma eles lidaram com essa nova paixão da filha?
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De início não gostaram nada, mas foram amolecendo. Lembro que o locutor Wellington Balbino foi à minha casa com um gravador e perguntou para os meus pais se eu poderia gravar uma chamada para carro de som. Nesse tempo, a publicidade em automotores era muito maior do que é hoje, até porque só existia uma emissora de rádio na cidade. E minha mãe não queria deixar. Ele insistiu: “Vamos remunerá-la”. E minha mãe retrucou: “Não estou preocupada com isso. Eu quero é que ela estude. Esse negócio de mulher que faz rádio fica mal falada”. Tinha muito isso, de ficar falada... Meus pais sequer queriam que eu trabalhasse. Antes disso, trabalhei no comércio e foi uma peleja grande para os meus pais deixarem. Mulher que trabalhava fora era mal falada, mulher que se metia com negócio de artista, de cantar, dançar, teatro, era mal falada. E isso começou a crescer em mim uma vontade imensa de compreender o porquê. Por que é mal falada?
É nesse momento que surge o interesse pelas questões de gênero?
Talvez... Talvez já fosse o desejo de trabalhar com comunicação de gênero e eu ainda não sabia. Inquietavam-me as questões comportamentais entre homens
Célia Rodrigues em três momentos da sua carreira e mulheres. Eu queria saber por que a mulher era mal falada e o homem não era. Por que o homem podia chegar em casa de madrugada e a moça não? Quando íamos para uma festa, minha mãe ordenava: “Dez horas em casa!” E eu dizia: “Mãe, dez horas começa o baile, como eu vou chegar às dez?” E aí chorávamos, fazíamos um carnaval danado para conseguir ficar até meia noite. Não era muito fácil a nossa juventude não... Mas e a propaganda? Eles te deixaram gravar?
Sim! Gravei e foi ao ar. Mas você acredita que eu nunca ouvi? Eu nasci e me criei na rua Santa Luzia, ali pertinho das ruas da Conceição e da Glória, e torcia para que esse bendito carro com a minha voz passasse na minha rua. Mas ele nunca passou quando eu estava em casa. Uma hora eu estava na escola, outra hora na rádio ou em outro lugar... Mas foi assim que eu comecei. Ingressei em 1971 e em 1972 a rádio assinou minha carteira, aí eu já era funcionária, já fazia reportagem, fazia externa...
Você lembra da sua primeira atuação como profissional?
Lembro! Foi quando seu Coelho Alves me convidou para fazer a cobertura da diretoria de posse do primeiro Centro Estudantil Juazeirense – que, inclusive, escreveram “estudantal”, depois descobriram que essa palavra não existia e precisaram mudar o estatuto para colocar “estudantil”. E eu morria de medo de trabalhar com ele, porque o cara era jornalista mesmo, formado no Rio, sabia tudo de rádio. Quando fomos fazer a cobertura, eu dizia: “Seu Coelho, eu não vou saber”. E ele respondia: “Vai saber sim, você é boa”.
E era ao vivo?
Não [risos]. Nessa época, para fazer ao vivo era muito difícil. Você tinha que pedir uma linha de transmissão à Companhia Telefônica de Juazeiro, a TELEGE. Eles levavam mais ou menos três dias para instalar essa linha. Então, a gente geralmente gravava e jogava na programação do dia seguinte. Aí ele me deu o gravador e o microfone enorme para entrevistar o presidente e dar uma geral do evento.
E você foi?
Fui! Morrendo de medo, mas fui. Essas experiências, a primeira atuação quando a gente se sente profissional dentro da área, não é fácil. Mas eu me sai bem, fiz tudo o que ele me ensinou. Nunca tive dificuldade de conversar ou formular perguntas. Na escola eu já fazia isso, mas é a situação em si que nos coloca no momento de nervosismo.
E, falando em nervosismo, qual foi o momento que você se sentiu mais nervosa na profissão?
Teve alguma matéria ou entrevista que te fez tremer?
Uma vez eu fui para o Romeirão e tinha faltado um repórter de campo. Então, o José Boaventura, chefe da equipe de esporte da Rádio Iracema, me disse: “Célia, você vai ajudar hoje!” Respondi logo: “Eu não! Não entendo nada disso”. Mas ele insistiu: “A única coisa que você precisa fazer é perguntar pro Dote, se ele fizer gol, qual foi a sensação”. O Dote era o melhor jogador do Icasa, na época. O estádio estava lotado. Era um torneio intermunicipal e o Icasa estava na frente. Dentro do Romeirão eu tremi.
E aí, o Dote fez o gol?
Aí terminou o primeiro tempo e o Dote foi para o vestiário. E o Boaventura dando sinal para eu ir atrás. E eu: “Tu acha que eu vou correr? Deixa ele voltar que eu pergunto” [risos]. Mas ele ainda não tinha feito o gol. E o que você iria perguntar caso ele não fizesse o gol?
Não sei [risos]. Fiquei torcendo para ele fazer. E ele fez. O Icasa ganhou de dois a zero e eu perguntei: “Dote, qual a sensação de você ter feito o segundo gol, que fortaleceu a vitória do Icasa?” Aí já mandei o microfone para ele, porque eu não tinha mais o que perguntar. [risos]. Depois eu disse para o Boaventura: “Nunca mais faça isso comigo, eu sou locutora, apresento programa de disc jockey, não sou repórter esportiva”. E ele falou: “Meu amor, nessa profissão a gente faz tudo, sabia?” Nunca me esqueço disso.
O que são programas de disc jockey?
São programas feitos com a participação do ouvinte. E o ouvinte, nesse caso, é o disc jockey, ou seja, aquele que seleciona as músicas. Valorizávamos bastante o ouvinte. Perguntávamos a música que eles queriam escutar, a idade, o lugar de onde estavam falando... Os ouvintes participavam bastante? De que forma isso acontecia?
Muito! Principalmente as mulheres. A participação por telefone era escassa pela ausência de telefones. Eram aqueles pretos, enormes, que quase ninguém tinha. E também não existiam orelhões, eles vieram depois... Então, o programa recebia uma tonelada de cartas.
Cartas? Como elas chegavam até vocês?
Isso! Tínhamos uma urna na rádio e o público ia lá deixar. Todos os dias nós abríamos essa urna e ela estava sempre lotada até a borda de cartas. E dava trabalho imenso para separar, porque era carta para um monte de programa diferente. De vez em quando me dá uma saudade danada, às vezes me reporto lá para o passado porque é uma forma de fazer um comparativo com o que a gente vivencia hoje.
Quais programas você estava apresentando na época? Eles recebiam muitas cartas?
Eram dois. O Cantinho Sentimental e a Grande Parada. Na Grande Parada, às vezes, eu recebia de trinta, quarenta cartas por dia. No Cantinho Sentimental, eu recebia muito mais. Eram histórias sentimentais...
Qual era o conteúdo dessas cartas? Já teve alguém apaixonado por você?
Já! [risos] Ele era frequentador da Rádio Iracema. Ia todo santo dia na hora do meu programa. A sala de controle tinha um balcão que as pessoas ficavam e, através do vídeo, dava para ver o locutor no estúdio. E aquele menino ficava o programa inteirinho ali olhando para mim. Mas eu não tinha ideia, achava que era um ouvinte, porque os ouvintes sempre iam. A rádio, naquela época, enchia de gente, era quase um programa de auditório. Ninguém tinha nada para fazer, nem televisão... Quando começou a aparecer televisão era outro objeto de luxo, assim como o telefone...
E era você quem produzia os dois? Quais eram os formatos deles?
Era sim! Na Grande Parada tocava muito internacional. Era o único programa da Rádio Iracema que tocava internacional, então ele era muito ouvido pela galera jovem, tinha uma audiência danada. À tarde, não dava outra, era A Grande Parada. Quando o programa acabava, às quatro, eu me trancava na discoteca para escolher uns discos, lp’s e músicas românticas para o Cantinho Sentimental. Sempre tocava uma que eu gostava muito, do Moarcyr Franco: “Eu nunca mais vou te esquecer”. Era auge! Ou então Wanderléa: “Quisera ter / a coragem de dizer / que é bem grande o meu amor” Sucesso também! Roberto Carlos então, nem se fala! “Sem você / minhas noites são tão tristes / vou morrer”. Eram essas que a gente tocava... É a cara do nome do programa mesmo, né? Cantinho Sentimental...
Era [risos]. Tocavam só essas músicas que doíam até nos que não estavam apaixonados.
A Audiência da Rádio Iracema era boa?
Sim, demais! A Rádio Iracema, mesmo depois do surgimento da Rádio Progresso, sempre foi a pioneira em audiência. Ela era ouvida nas cidades de Juazeiro, Crato e Barbalha. Nossa antena ficava na Serra do Horto e, por estar num lugar de muita altitude, tinha possibilidade de alcance. O sinal da Rádio Iracema pegava bem à noite e de manhã cedo. De tarde, em alguns lugares, diminuía um pouquinho. Então, os ouvintes mandavam carta: “Estava ouvindo o programa da Célia e fugiu [o sinal]”. Era assim mesmo, fugia e depois voltava, às vezes fraca, às vezes melhor. Mas ela era ouvida em quase toda região do Cariri.
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E como era a relação com os ouvintes?
Era engraçado. No rádio, você está em público, mas ninguém sabe quem você é. Mas quando vinham bandas, nesses eventos municipais, geralmente era o pessoal de rádio que ia apresentar. Quando as pessoas me viam, elas falavam: “Ahhh, você que é a Célia Rodrigues?”. E perguntavam sobre o Cantinho Sentimental, a Grande Parada. Eu me sentia importante! [risos] Quando foi que o casamento interpelou seus planos?
Já estava no auge do rádio quando conheci meu ex-marido. Ele era lindo, cabelo grande... Começamos a namorar e eu saia escondido da escola para encontrar com ele. Meus pais nunca souberam. Ele morava em São Paulo e vinha de férias para cá. Na terceira vez que ele veio, me pediu em casamento. Eu enlouqueci. Estava apaixonada, mas fiquei dividida. Tinha minha carreira.
Eu queria crescer, queria fazer jornalismo, mas não tinha perspectiva de vir um curso de jornalismo ou outros cursos para cá. Aí o casamento acabou entrando nos meus projetos de vida. Sabe aquela briga do carrinho de corrida? Minha vida profissional e familiar entrou naquele rodeio. E, em 1974, eu casei e fui embora para São Paulo. Lembro que na véspera do meu casamento, meu pai falou bem assim: “Minha filha, é isso mesmo que você quer? Você me disse que queria estudar, estar no rádio...”
E você deixou o rádio neste período?
Deixei... Na minha cabeça eu ia fazer faculdade, voltar a estudar. Mas meu ex-marido era extremamente machista, ele abominava o fato de eu ser profissional do rádio. Então, para ele, eu jamais voltaria para o rádio. Mas você voltou?
Voltei!
De que forma o casamento interferiu na sua carreira?
Acho que foi a pior batalha da minha vida, mas eu consegui. Não me senti vitoriosa porque nessa batalha travada dentro do relacionamento não existe ganhador. É para existir consenso. No meu caso, não houve consenso, houve a minha perseverança. Eu provei para ele que a minha carreira não atrapalharia no meu casamento e nem com os filhos.
Como você fez isso?
Com sete meses de casada eu engravidei, o que dificultou para caramba minhas chances de voltar a trabalhar. Mas esperei meu filho nascer e completar um aninho. Então, o deixei com uma vizinha, escondido do meu ex-marido, e fui fazer um teste na Rádio Tribuna FM, de Santos. Nesse dia caiu um temporal tão grande que eu fiquei ilhada, não consegui sair do terminal de ônibus de jeito nenhum, tive que voltar para casa. Aí essa vizinha, que era minha aliada, falou: “Não tem problema, Célia. Marca de novo que eu fico com seu filho e não precisa teu marido saber. Depois que você fizer o teste e passar, você enfrenta outra etapa para convencê-lo”. Imagina você ter que ser autorizada pelo marido para trabalhar?! Isso é o fim da picada! E no meu tempo tinha isso. São coisas que a gente conseguiu quebrar, mas não foi fácil.
O que te custou?
Para mim, custou o casamento. Não vou dizer que meu divórcio decorre única e exclusivamente dessas nossas diferenças, Mas o fato de eu ter sido teimosa e ter ido trabalhar, mesmo contra a vontade dele, contribuíram muito. Todo dia era uma briga.
Ele trabalhava com o que lá?
Ele era portuário. O porto de Santos é o maior da América Latina. Existem setores lá em que é preciso usar aquelas roupas esquisitas, com muita proteção. Ele trabalhava dentro desse setor e ganhava muito bem. Só que o governo de São Paulo, na época do Maluf, resolveu privatizar o porto e os trabalhadores entraram em greve. Nessa época, Lula era presidente do sindicato dos metalúrgicos e vinha do ABC Paulista para dar suporte à greve do pessoal do porto. Foi lá que eu o conheci e comecei a ser simpatizante do PT. Lembro que nós, as mulheres dos portuários, batíamos panelas. Mas era bater panela mesmo. Não era essa elite paulista que bate panela de safadeza. Era uma forma de protesto para dizer que a privatização ia acabar com todos os direitos e diminuir por demais o orçamento familiar de cada trabalhador. Mas não adiantou. Eles privatizaram mesmo. E o que vocês fizeram?
Foi uma fase muito difícil. Ele me falou assim: “É da vez, Célia, que a gente vai voltar para o Ceará. A gente pega o dinheiro da indenização, vai para Juazeiro e abre um restaurante”. A gente teve que vir pra cá de mala e cuia. Ele trouxe uma boa reserva de dinheiro e montou um bar na rua São Paulo. Só que meu ex-marido nunca teve o mínimo timbre para negócio e faliu o bar. Montou uma lanchonete lá no Socorro, no cruzamento da Santa Rosa com Santa Luzia, chamada
Rola Papo, mas ele faliu de novo. Não dava. Ele não tinha traquejo para o negócio. Quando vocês se divorciaram?
Já tínhamos voltado para cá, na década de 90. A vida privada da gente acaba interferindo na vida profissional. Quando você precisa juntar sua carreira com a sua vida relacional e familiar, é muito difícil chegar num denominador comum. Por mais madura que a pessoa seja, por mais convicta que a pessoa esteja naquela sua escolha, ainda assim não é fácil. Principalmente quando vêm os filhos.
Você acha que, por isso, cada vez mais mulheres não querem filhos ou postergam a maternidade?
Com certeza! Muitas mulheres seguram e não são mães enquanto não estão satisfeitas profissionalmente. Hoje a mulher pode escolher quando quer ter filho, ainda que o marido não concorde. Ela pode. É o corpo dela que vai sofrer as alterações e é ela que vai ter que se afastar do trabalho. Precisa ser uma decisão dela. Eu passei por tudo isso com um marido repressivo e machista, numa geração em que não tínhamos tanta abertura, porque quanto mais a mulher fosse rebelde, mais censurada ela era pela sociedade. Depois do meu divórcio fui taxada de lésbica porque eu não queria um homem. Era uma escolha. Eu queria focar na minha carreira. Foi difícil porque meus filhos eram pequenos, mas valeu a pena. Todas as angústias me fizeram valorizar tudo que eu consegui. A minha vida no rádio sofreu mudanças a partir do momento que eu voltei de São Paulo para cá. O Papo Cabeça, que você apresenta hoje na Rádio Vale é um programa de aconselhamento sobre relacionamentos. Você utiliza as suas experiências no casamento no seu programa?
Também! A minha experiência no casamento foi com um homem machista que tentou me podar de todas as formas, que não queria que eu crescesse. Para ele, a mulher tinha que ser mãe, dona de casa e na cama. Mas eu não permiti. Nunca permiti violência física, porque se eu tivesse permitido, ele tinha me batido. Ele ameaçou. Nós não tínhamos a lei Maria da Penha, mas eu sabia que podia denunciar por agressão. A partir disso, consegui pontuar todas as experiências negativas e trabalhá-las na minha vida hoje, como profissional do rádio e como militante. No Papo Cabeça eu falo muito. Quando você está com o outro precisa compartilhar, tem que entrar em sintonia. Eu via meus pais brigando e minha mãe se calar, achando que ele tinha razão, que mulher tinha que ficar dentro de casa mesmo. Aquilo me machucava. Eu não conseguia sintonizar isso como sendo a coisa certa. Talvez eu já tenha nascido com um DNA feminista. E hoje, o que me fortalece bastante, me faz crescer como mulher, é saber que eu continuo com meu trabalho no rádio e nas redes de articulação em prol da mulher.
Como foi seu retorno para rádio? Seus ex-colegas sabiam que você tinha voltado?
Quando voltamos para Juazeiro, fiquei dois anos tentando trabalhar com meu ex-marido, mas não deu certo, nós brigávamos muito. Então percebi que essa não era minha praia e comecei a dar uns telefonemas. Ninguém sabia que eu tinha voltado. E começaram a me convidar para ir aos programas, jornais. Revi os colegas e fui convidada pela Rádio Progresso. Expliquei para o diretor, seu Zezinho Barbosa, minha ideia de um programa voltado para o público feminino, de mulher para mulher. Mas ele disse: “Ah, mas isso é um programa temático. Não vai pegar. Programa só de conversa não pega”. E eu falei: “Depende do conteúdo da conversa”. Fiz o projeto e levei para ele. Ele disse que me chamaria em uma semana, mas eu nem dei mais esperança... Estava pretendendo, inclusive, voltar a estudar. Mas de repente, toca o telefone e era ele me chamando para negociar o programa. E ele me explicou: “A gente não sabe se vai ter público alvo para esse programa. Você tem noventa dias, se o programa emplacar, fica. Se não emplacar, a gente vê o que faz para você continuar na rádio”. Mas eu tinha certeza que ia dar certo, estava muito convicta. Comecei a agilizar e preparar o programa.
Era o Mulher Ideal, né?
Exatamente! Em 02 de janeiro de 1994 estreamos o programa Mulher Ideal, na Rádio Progresso. Era para ir ao ar no dia primeiro de janeiro, mas como era feriado, precisamos adiar mais um dia.
Como foi estrear um programa com uma proposta tão diferente do que se fazia na época? O que vocês fizeram para atrair o público?
Pedimos uma semana de chamada na programação habitual da rádio. Coloquei “Cor de Rosa Choque” (da Rita Lee) como a trilha do programa e, quando estreamos o programa, já começamos a receber telefonemas no ar, com pessoas dizendo: “Nossa, que legal! Temos agora um espaço para a mulher. Parabéns, Célia!” Outros se perguntavam que era a Célia Rodrigues. Alguém reconheceu?
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Sim. Algumas pessoas, ainda do meu tempo, foram na rádio. Era uma surpresa tão grande ver minhas ouvintes, todas maduras, como eu, chegarem no estúdio e me abraçarem. Todas essas mulheres compareceram em nossa primeira passeata do Dia Internacional da Mulher, em 8 de março de 1994. E, a partir de então, foi só fortalecimento para continuar o trabalho.
E o diretor cedeu?
Sim! Ele começou a ver. Só que eu não era funcionária ainda. Fui contratada pela rádio depois de quatro anos.
Teve algum momento que você considera que tenha levado o programa a um alcance ou con-
Na época em que o programa estava no ar, em 1995, ia acontecer a V Conferência Internacional da Mulher, em Pequim, na China. E folheando a Revista Nova, da qual eu era assinante, vi que o CEMINA –Centro de Projetos da Mulher, no Rio de Janeiro, ia enviar uma representante, a Denise Viola, para a Conferência. Foi representação feminista de tudo quanto é instituição desse Brasil. Foram mulheres negras, grupos de mulheres lésbicas, trabalhadoras rurais... Uma coisa maravilhosa. E o Brasil foi signatário dessa conferência desde o início. Eu vi essa referência sendo publicada na Revista Nova, peguei o número de lá e enviei um fax com um release do Mulher Ideal, porque eu queria receber fita cassete para divulgar dentro do meu programa. Eu queria dar ao programa uma consistência de
Deu sim! Minha maior alegria! Uma semana depois o telefone toca: “É Célia Rodrigues de Juazeiro do Norte, do programa Mulher Ideal na Rádio Progresso?”
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“Sim, é ela!” “Célia, aqui é Madalena Guilhon do CEMINA. Gostamos muito do seu fax e queremos o endereço daí que vamos começar a enviar as fitas cassetes. Você disse que tem interesse, nós temos mais interesse ainda de descentralizar a divulgação da Conferência, você topa?”. E eu: “Claro que topo, Madalena! Só topo! Quer que eu te mande o endereço agora?”. Passei o endereço e, uma semana depois, recebi um pacote de fita cassete. Não era só divulgação da pré-conferência, eram produções do CEMINA sobre saúde da mulher, gravidez, aleitamento materno, feminismo, educação de gênero. Aí eu falei: “Pronto! Estou feita!”. Comecei a me fortalecer bastante. No final de 1995 eu recebo um faz delas me convidando para ir ao Rio de Janeiro fazer uma capacitação para ingressar na rede de Mulheres em Comunicação. A rede estava sendo formada naquele ano, elas já tinham tido uma reunião em Ubatuba, na região litorânea de São Paulo, e decidiram que o CEMINA ia dar suporte a criação dessa rede. Antes era rede de Mulheres no Rádio. “Queremos representação do Ceará e, por enquanto, só tem você. Você topa vir?” “Mas é claro que eu topo!”. Falei para o diretor e começaram a dar mais credibilidade ao meu trabalho lá dentro.
Em 1998 vocês organizam o primeiro even- to pelo Dia Internacional da Mulher de Juazeiro. Como foi isso?
Foi maravilhoso! Uma das maiores alegrias da minha vida, quando cheguei para apresentar e o Memorial Padre Cícero estava lotado. Este evento, que foi o primeiro, intitulamos de “Mulher de Corpo e Alma” que era o nome de um dos quadros do programa. A partir daí, realizamos o evento todos os anos até o programa sair do ar e a gente perder o estímulo.
Qual foi a duração do programa? E por que ele saiu do ar?
Durou de 1994 até 2006, tinha uma audiência imensa, a gente fazia festa com bolo e tudo para comemorar os aniversários do programa até que o diretor da Rádio Progresso, seu Zezinho Barboza, tirou do ar sem dar nenhuma explicação.
Mas o Mulher Ideal era uma criação sua, você não pensou em levá-lo para Rádio Vale?
Sim, pensei. Eu queria levar o programa para a Vale, porque ele é meu, com criação e produção minha. Mas como Rádio FM tem um modelo diferente, o diretor sugeriu que colocássemos semanalmente, no domingo. Mas não fazia sentido. Meu sonho hoje é criar a Rádio Comunitária Mulher Ideal. Se eu tivesse cinquenta mil reais...
Você já está há mais de 45 anos atuando no rádio. Começou numa época em que quase não existiam mulheres locutoras. Como era sua relação com seus colegas?
O que mais admiro quando as pessoas me perguntam sobre mulheres no rádio, eu digo que nunca sofri rejeição lá dentro. Fui muito bem tratada e respeitada dentro da minha posição de única locutora da Rádio Iracema. O curioso era que nós mulheres, locutoras, não assumíamos a bancada de radiojornalismo porque a voz do homem é que prevalecia. A Rádio Iracema foi a primeira que quebrou esse tabu. No meu tempo, a voz da mulher não era cabível, na cabeça deles. Até hoje tem isso, são pouquíssimas as meninas que fazem radiojornalismo. Não conheço aqui no Cariri nenhuma locutora que apresente sozinha, ou como titular, um jornal. Quando eu voltei de São Paulo pra cá, eu voltei pro rádio, convidada pela Rádio progresso, fiz o jornal de meio dia com Wellington Oliveira, mas nunca aconteceu de sermos nós, sozinhas, apresentando jornal. Enfrentamos preconceito por sermos mulheres, enfrentamos a violência da discriminação, que já é uma violência. Violência simbólica a gente tem que combater. Por isso que a lei do feminicídio foi aprovada, porque hoje a mulher é vítima só pelo fato de ser mulher. A luta é muito grande. A guerra não foi ganha ainda, apenas algumas batalhas. Mas eu acho que a gente consegue chegar lá. Nunca me senti inferior a nenhum colega, mas era óbvio que havia muito menos mulheres trabalhando.
Você já foi vítima de assédio ou presenciou alguma situação nos lugares em que trabalhou?
Uma colega radialista foi assediada por outro colega. Ele a imprensou na parede querendo beijá-la. E ela se recusou. Depois, ela me disse que se sentiu tão coagida, que precisou dizer: “Eu tenho namorado”. E ele parou. Só que ela nem tinha esse namorado. Mas aí ele respeitou esse suposto namorado, não a vontade dela. Isso é um absurdo! E a gente sabe que isso ocorre na faculdade, nos ambientes de trabalho, em todo canto.
Já aconteceu contigo?
Nunca fui assediada em nenhuma das emissoras que trabalhei. Mas fui assediada por um chefe que tive antes do rádio. Teve um período que a rádio teve um problema técnico e ficou fora do ar por uns meses. E durante esse tempo eu endoidei.
Como assim?
Via minhas amigas trabalhando fora e queria também, sonhava em trabalhar fora, ser comerciária. Eu via as meninas passando naquele quarteirão da Rua São Paulo, onde só haviam casas de tecido, como as Casas Alencar, Casas Pernambucanas... Eu adorava que elas usavam uma farda bonitinha, uma saia e um sapato e eu queria ser comerciária também. Jovem mudava num piscar de olhos os seus sonhos. Quando eu me conscientizei que a rádio era minha praia, eu tinha 22. Esse processo de inconstância foi dos 17 aos 20.
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E então você foi se arriscar no comércio?
Na verdade, eu fui trabalhar num laboratório de análises clínicas. E foi esse meu chefe, um médico conhecido na cidade, que me assediou. Eu esterilizava as lâminas para colocar o material e levar para análise. Certo dia, no momento que eu estava preparando as lâminas para esterelizar, ele veio para trás de mim e se masturbou. Eu não sabia o que ele estava fazendo, mas desconfiava. Fiquei assustada, apavorada. Aconteceu uma segunda vez e aí eu joguei a bandeja de lâmina em cima dele e sai correndo.
Você contou para alguém?
Minha mãe estava querendo saber porque eu havia desistido do emprego. E eu menti, inventei uma desculpa e meus pais nunca souberam. Porque, naquela época, não existia absolutamente nenhum órgão policial em que uma adolescente chegasse dizendo que um homem daqueles tinha lhe assediado e que ele ia ser punido. A maluca ia ser eu. E nem eu fazia ideia de que isso era caso de polícia. As mulheres da nossa geração sofreram muito. Para você ver a ironia das coisas, meus pais não queriam que eu fizesse rádio para não ficar mal falada e olha o que acontece comigo no laboratório do médico. Tenho até vergonha de contar isso. Como que uma jovem, de dezessetes anos, ia falar isso na minha geração? Como que eu ia provar? Eu não fiz nada. Isso deixa a gente tão impotente. Se eu falasse para os meus pais eles não iam mais me deixar trabalhar em canto nenhum, iam me prender dentro de casa. E como é sua relação com os seus filhos?
Eu já não tive esse problema. Aliás, os meus filhos não tiveram. Há uns vinte anos atrás, eu falava para a minha filha adolescente: “Quando perder a virgindade, quero ser a primeira a saber” E ela: “Ai, mãe!”. Mas as meninas, amigas dela, diziam: “Eu queria ter uma mãe assim”. Nessa época ainda existia uma amarração familiar. Eu sou comunicadora de gênero, faço questão de dizer isso. No meu quadro Sexo Verbal eu recebo tanta pergunta de adolescente, as meninas completamente perdidas quanto essa questão. E isso é porque com as mães ou com outras pessoas adultas próximas, elas não tem coragem de falar sobre isso, porque sabem que serão repreendidas, com um: “Pare de falar isso! Isso é muito feio e imoral para você!” Na minha época, as meninas não sabiam o que era menstruação. Eu soube porque eu era muito xereta e acabei descobrindo, mas minha irmã menstruou sem saber o que era e começou a chorar achando que estava doente. Isso para você ter uma ideia de como era tudo cheio de tabu. E também as questões religiosas que até hoje interferem muito...
Você recebe muitas perguntas machistas no Sexo Verbal?
Muita! E eu dou uns puxões de orelha. Eu uso muito a linguagem de gênero, defendo a igualdade entre homens e mulheres. Um cara me mandou assim: “Minha namorada não gosta de sexo anal, o que eu faço?” Não faça, meu querido! É tão óbvio.
O programa já recebeu críticas e reações negativas?
Já estamos há quase dez anos no ar e só recebemos duas reações negativas. Um cara que telefonou na hora que eu estava no ar e falou com o locutor: “Tenho uma lanchonete que está cheia de frequentadores, e essa mulher começou com essa linguajar, isso não é cabível, não é adequado. Não sou obrigado a ouvir isso com meu público”. Aí ele respondeu: “Faz o seguinte, senhor, tire de sintonia. Existem muitas outras rádios para você sintonizar.” Aí quando eu terminei o quadro ele me falou.
E, uma outra vez, foi um torpedo que recebi de uma pessoa evangélica dizendo que eu precisava me redimir porque eu estava incitando o sexo, que Deus mudasse meu coração, me deu uma verdadeira lição de moral religiosa. E eu pensei “Ah, meu Deus, quer dizer que ela não transa?” Essa eu respondi com um torpedo tam-
“O que mais admiro quando as pessoas me perguntam sobre mulheres no rádio, eu digo que nunca sofri rejeição lá dentro. Fui muito bem tratada e respeitada dentro da minha posição de única locutora da Rádio Iracema”
Eu e minha irmã nos inscrevemos para cantar e acabaram gostando da nossa voz. Lembro que cantei uma música da Wanderléa bém, dizendo que eu não incito prática sexual, que as pessoas que mandam já têm vida sexual ativa.
Como o programa é visto?
A linguagem do Sexo Verbal é aberta, mas, assim, não damos brecha para piadinhas. As piadinhas que recebo são em relação a mim, gente dizendo “você deve ser muito boa de cama porque quando eu lhe ouço fico excitado”. A gente não permite que vulgarize. O programa é de educação sexual comportamental. Eu não sou sexóloga, sempre deixo claro que não sou médica e recomendo procurar uma ginecologista.
De que forma as novas tecnologias e redes sociais, especialmente o whatsapp, têm contribuído para o programa?
Quando começamos a abrir o whatsapp da Vale para as perguntas foi muito bacana. Eu fico muito preocupada. Temos a preocupação de editar algumas palavras para não ser adequada para ir ao ar, e deixar a pergunta para transcrever depois. Mas a turma que manda perguntas já tem se acostumado ao formato do programa. A gente substitui da expressão vulgar, pela propriamente dita. Mas é muito difícil. E raramente me constrange. A turma da faculdade que mora em cidades vizinhas e bairros mais distantes, que andam nesses micro-ônibus, costumam acompanhar o programa.
Olhando para trás, para tudo que você já viveu, suas experiências no rádio, no casamento, nos movimentos feministas, como você se sente?
Eu me completo. O rádio nunca me deu fortuna. Eu não tenho nada na minha vida, mas eu sou uma pessoa super feliz. A partir do momento que eu ingressei nos movimentos feministas e movimentos sociais, essas redes que me possibilitam viajar o Brasil inteiro, é muito aprendizado. Se eu morrer nos próximos meses, já está registrado aqui: a Célia Rodrigues morreu com a tarefa cumprida. Acho que cheguei no meu estágio de realização. Eu não tenho muito para conquistar. Eu fiz um pacto com o universo que quero morrer aos oitenta. Minha irmã é que diz: “Só morre quando Deus quiser”. E eu respondo: “Deus é o universo, meu amor”.
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