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Bar Xá de Flor
Com Garrafa E Sem R Tulos
Meados dos anos 80, fim da Ditadura Militar. O Brasil vivia dolorosos resquícios de um de seus mais horrendos momentos políticos. Vitória após duros 20 anos de combates contra um sistema, mas pouco se comemorou especialmente as classes mais lesadas por tal forma de governo, os que não se cansaram de reivindicar a volta de uma doutrina popular. Isto porque muitos de seus companheiros de luta haviam sido mortos, e de outros não se tinham pistas de seus paradeiros. Mas nem mesmo a tortura, a violência, nem o medo acuou os que lutaram contra. O sentimento que assolava o Pós-Ditadura era paradoxal: receio e vontade, destruição e arte. Na contramão do silenciamento, a arte foi e é estabelecida como uma válvula de escape para o cerceamento das liberdades individuais. Ainda que de forma amena, comparada as grandes capitais do país, os interiores também sentiram a atroz mão condutora de tal regime e em consequência, as peculiaridades artísticas que se desenvolveram da necessidade de se falar de outa maneira, da que burlasse a censura. No Cariri não foi diferente. Acontecimentos como os Festivais da Canção e o Salão de Outubro, deram cara a contracultura que inspirou gerações futuras, Xá de Flor é um exemplo disso. O movimento que nasce de uma pesquisa elaborada por Blandino Lobo com ervas para desenvolver uma espécie de aguardente temperada, chamada de Xá de Flor, deu origem a todo um movimento cultural que enriqueceu cidades como Crato, Juazeiro, Barbalha e até a capital Fortaleza. Além da cachaça o movimento deu origem a uma banda e a um bar de mesmo nome. Ao contrário do bar que só fechou as portas nos anos 90, a banda não teve vida longa, esteve em atividade por aproximadamente três anos, mas foi tempo suficiente para conquistar o público e os mais experientes do meio. O grupo teve a oportunidade de dividir palco com a lenda da música nordestina Luiz Gonzaga e abrir o show de lançamento, em Fortaleza, do lendário álbum “Massafeira” tendo como intérpretes nomes como Belchior e Ednardo. Confira os detalhes desse marco para a cultura caririense pelos olhos dos seus protagonistas: Blandino Lobo e João do Crato, e do cantor e compositor Abidoral Jamacaru, narrador-personagem das duas épocas.
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O que é Xá de Flor?
Bladino Lobo - O xá finda que foi um movimento cultural além da cachaça, acontecido em uma época muito fechada. Era um espaço de cultura onde as pessoas se encontravam, os artistas se encontravam para fazer arte.
Quando surgiu e quanto tempo durou todo o movimento?
Bladino Lobo - Em datas sou terrível. (risos) Mas só de Exposição foram 16 anos de barraca. Eu fiz 12 anos de barraca na Barbalha, na festa de Santo Antônio, é questão de final de anos 70, anos 80.
Uma ressaca da ditadura...
Bladino Lobo - É, embora ela tem sido bem antes ficou a sua ressaca que foi justamente a repressão. Naquela época você ser cabeludo era terrível, ser abordado sem documento numa capital como Fortaleza, era certeza de “castigo”.
Como se manifestava essa ressaca no Cariri? O senhor sofreu algum tipo de opressão em Crato?
Bladino Lobo - Uma vez eu fui preso. Subimos a serra e quando voltamos nos prenderam em um posto fiscal, do nada. Porque era repressão, eram tempos de repressão. Era aquela questão de prender para no outro dia soltar, só para gerar um constrangimento, por ser cabeludo, por achar isso ou aquilo. O delegado quando conversou comigo no dia seguinte perguntou o que eu fazia e eu disse que fazia um trabalho com ervas medicinais e que temperava uma cachaça e vendia. Ai ele olhou pra mim e disse: “Você sabe que curandeirismo da cadeia?” Eu respondi: “Bom, eu não sei se curandeirismo da cadeia eu só sei dizer que não tenho parte com curandeirismo, eu não estou curando as pessoas, estou levando alegria. Ai foi paga umas fianças lá e saímos. Como nasce toda essa história?