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JOÃO HILÁRIO
às duas e meia da tarde. Na primeira semana eu pedi pra mudar o nome do programa pra “Força Total”. Lá fiquei dois anos. Saí da rádio quando eu fui fazer faculdade. Aí eu fui me dedicar um pouco mais aos estudos. Como era esse programa antes de você assumir?
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Era só de música, atendendo carta. Quando eu cheguei, coloquei traduções, mais cartas, rápidas mensagens, informações das músicas. Comecei a dizer o nome dos compositores quando a música era brasileira. Tocava música internacional também, né. Diversifiquei bastante. E deu muito resultado ao ponto de eu ter sido escolhido para apresentar o primeiro show do Roberto Carlos no Romeirão com apenas quatro meses no rádio. Comecei no dia 31 de março e o show do Roberto Carlos foi 06 de julho de 1970.
Você chegou a conversar com o Roberto?
Sim. Ele deu entrevista pra nós da rádio e para o Wilton Bezerra, que é hoje comentarista esportivo da Rádio Verdes Mares, né, e da TV Diário. Eu levei o Antônio Libério comigo, chefe da banda “Os Águias” de
Minha vida é um pouco atribulada, mas eu consigo conciliar porque eu estou fazendo o que eu gosto. A gente fazendo o que gosta já é um meio caminho pra você ter satisfação, você não se enfadar
Barbalha. “Os Águias” vão pra cinquenta e dois anos de história. Eu tinha dezessete anos, cheio de espinhas, as orelhas ainda maiores... Cabelos! (Risos). A entrevista foi no Aristocrata Hotel, no refeitório, em Juazeiro do Norte, onde o Roberto Carlos estava hospedado. Acho que não existe mais. Era na rua São Francisco, pertinho de onde era a Rádio Progresso antiga. Era estreitinho, mas tinha dois andares. Era o melhor hotel na época. O Libério é meu amigo, eu gostava muito da banda, copiava música pra eles. E eu o levei pra pedir ao Roberto que “Os Águias” se apresentassem naquela noite, abrindo o show no Romeirão. Ele aceitou. Ele só entraria com os oitenta mil cruzeiros no bolso, quando os promotores pagassem pelo show. Ia demorar um pouquinho. Então, ele permitiu que “Os Águias” se apresentassem, só não permitiu usar os instrumentos dele. Montar show naquele tempo era rápido. Eram quatro caixas de som, quatro amplificadores em cima. Pronto! Montava bem ligeirinho no chão mesmo... Foi muito bom esse show. O Romeirão tinha muita gente. Agora, em 2015, quando o Roberto Carlos veio outra vez, eu recebi uma ligação do promotor do show, me convidando pra apresentar de novo. Ele me disse que estava conversando com o Roberto sobre aquele primeiro show aqui e falou sobre mim. Aí o Roberto disse: “Pois diga a ele que venha seis e meia pro camarim que a gente troca um papo aqui sobre como é que eu quero que ele apresente”. Mas eu não pude ir porque ia sair daqui direto pro Romeirão onde eu ia comentar o jogo do Icasa pelo campeonato brasileiro. Já estava anunciado. Eu mesmo já tinha anunciado aqui. Eu comento futebol pela Rádio Vale. Eles também passaram a semana anunciando que o comentário seria meu. Eu achei deselegante não ir, embora fosse uma honra novamente apresentar o Roberto depois de quarenta e cinco anos.
Vocês não chegaram a se encontrar?
Não, não. Nesse dia eu comi um lanchezinho lá no Romeirão, antes do intervalo do jogo. Cheguei em casa e fui almoçar efetivamente. Era sete, oito horas da noite e não fui a esse show do Roberto.
Depois de dois anos, você saiu da Rádio Progresso pra poder se dedicar a faculdade.
Sim, isso mesmo. Era o curso de Letras, na antiga Faculdade de Filosofia, hoje Universidade Regional do Cariri. Quando terminei a faculdade já era muito ocupado, já ensinando. Eu dava doze aulas por dia... Treze! Treze aulas por dia. Ensinava às 5:30 da manhã educação física, em Barbalha, no antigo Ginásio Básico de Comércio, de 5:30 às 6:30. Às 7:00 horas, dava aula no SENAI, em Juazeiro, até às 11:00 horas. Voltava pra Barbalha. Aí, a uma hora, eu dava aula no SENAI até às cinco. E, às seis e meia, ia pra faculdade no Crato. Eram treze aulas e seis viagens por dia. Barbalha-Juazeiro, Barbalha-Crato. Nesse pequeno período eu não fiz rádio.
Como o jornalismo em rádio surgiu na sua vida profissional?
A história remonta vinte anos atrás. Eu fiz um projeto de um jornal para o rádio: “Jornal do meio dia”. Apresentei a um corretor pra ver a viabilidade de publicidade praumarádioaquiemJuazeiro.OpessoaldaRádioVale me chamou. Eu fazia “Beatles” na Tempo, mas a Tempo não tinha interesse em jornal de meio dia lá. Em 15 de dezembro de 1997, eu apresentei a primeira edição do “Jornal do meio dia” na Vale. Fiquei até 2003. Em 2003, saiu quase todo mundo da Rádio Tempo pra Rádio Vale. Foi um baque grande na emissora na época. Recebi um convite pra voltar pra Rádio Tempo. Aceitei o desafio de levantar a rádio. Construí lá o “Jornal Super Tempo”. Era cinco de maio de 2003 quando estreei. Fiquei até 09 de outubro de 2010. Saí da Rádio Tempo e vim pra cá, pra FM Pe. Cícero. Mais um desafio. Uma emissora educativa, uma emissora com traços de audiência, mas uma emissora muito boa de se trabalhar. No dia oito de novembro de 2010, eu estreei o “Jornal da Tarde”, até hoje. Quando nós chegamos aqui, o jornal tinha duas horas de duração. Depois, a direção nos ofereceu mais meia hora. Ficou duas e meia. E depois, nos ofereceram mais meia hora: ficaram três horas. E sempre tem muita coisa além das notícias. Tem as participações, as entrevistas, as mensagens dos nossos ouvintes. Muitos ouvintes escrevem crônicas, artigos, mandam pra gente. Eles querem participar. Nós temos várias sequências dentro do jornal: a sequência “UniLeão”, a sequência “Boa tarde para você”, do Renato Casimiro, a sequência “Consulta de negócios”, com a Marília Falcioni, a sequência “Momento High Tech”, do Raul Sampaio Correia. Tem o “Quero saber”, de perguntas dos nossos ouvintes. Ano passado foram mais de 1.300 entrevistas. Como você lida com tantas participações?
Tem dia que eu fico preocupado. Tem notícias que eu chamei na manchete e tem várias participações dos ouvintes e faltam dez minutos pra terminar o jornal. É uma situação meio danada rádio ao vivo, com muita participação. Uma vez fui participar do programa da Adísia Sá, na Rádio O Povo, de Fortaleza. Era um programa ao vivo. Era tanta gente no estúdio. E ela corria pra cima e pra baixo. Eu ia dar uma entrevista sobre o pau da bandeira de Barbalha. Eu era prefeito na época. E lá era loucura! Ficava imaginando: “Como é que ela pauta esse negócio?”. E ela dizia: “Aqui, prefeito, não tem pauta, não tem nada! Aqui é tudo na tora!”. Um tempo depois, já na Rádio Padre Cícero, a direção me pediu um jornal à noite. Eu aceitei. Saía da rádio pra ir almoçar em casa. Voltava cinco e pouco da tarde pra apresentar o jornal às seis. Sobravam dez minutos entre o fim do jornal da rádio e o início do jornal da televisão, a TV Verde Vale, onde eu trabalhei por dez anos. É perto da rádio a televisão. Mas aquilo começou a dar problema na minha voz. Tenho 64 anos e talvez seja a pessoa que mais falou no mundo! Professor que deu até treze aulas por dia, político – quantos discursos eu não fiz! –, radialista – imagina, fala mais que camelô! Não era nem cansaço que eu sentia. A voz é que não estava com a mesma potência. Aí, eu resolvi deixar um pouco a noite... Mas, ainda tem muita palestra e cerimonial. horas de entrevista. Ele respondia bem às perguntas. Eu ainda estava na Rádio Tempo. Ele era muito espontâneo mesmo. Aliás, o dia dessa entrevista foi no dia do município de Barbalha, 17 de agosto de 2010, uma terça feira. Depois eu falei com ele em Barbalha, num comício na campanha de 2016. Mas era tanta gente, tanta coisa, que foi só um cumprimento mesmo. Como você relaciona o político e o professor com a sua vocação para o rádio?
Para todas elas o rádio contribuiu. Por exemplo, o rádio ajudou o professor, o rádio ajudou o político. A locução ajudou o professor, a profissão de professor ajudou a atividade política. Em tudo ajudou. São três atividades bastante sociáveis. Elas se intercomplementaram. A minha entrada na política foi em função do conhecimento que o rádio fez com que as pessoas tivessem de mim. Eu era uma pessoa popular que apresentava a Festa de Santo Antônio e já coordenava outras festas. E como a política entra na sua história? Você já minha intenção de não ser candidato e que ajudaria quem fosse escolhido. Mas não se chegava num consenso. Decidiram, então, fazer uma votação. Quando terminou a votação que foram apurar, eu tive quarenta e um votos. Eu votei no vice prefeito da época, Dindin, meu amigo, meu compadre, padrinho da minha filha Heloísa. Eu votei nele e ele votou em mim e todos os outros votaram em mim. Aí foi aquela algazarra, aquele entusiasmo. Pronto! Eu não tive como escapar! Na segunda eleição, eu também não queria. Nosso lado teve três candidatos a prefeito. Tinha pessoa que dormia três dias candidato, depois desistia, dois dias candidato, depois desistia. Meu pai também não queria que eu fosse. Papai dizia que eu não dava pra política porque eu não sabia negar nada. No último dia, depois dos outros colegas terem desistido, eu tive que ir de novo, para o segundo mandato. Não tinha reeleição na época. Eu considero que já tinha feito um trabalho bom no meu primeiro mandato, foi muito tranquilo, foi muito produtivo, graças a Deus. A minha segunda candidatura foi devido aos resquícios desse primeiro trabalho. Foi uma campanha apaixonante.Chegavaemcasacomdois,trêsquilosde força, trinta, quarenta cartas. Tanto no primeiro quanto no segundo mandato, a gente veio para Juazeiro em passeata para o horto. Foram seis mil pessoas na primeira caminhada e dez mil na segunda. A estrada já estava duplicada, o que facilitou. Tive o dobro de votos do primeiro mandato. As pessoas sempre pedem pra eu ser candidato. Do Juazeiro vieram cinco vereadores, em 2011, num evento de empresários. Falaram que já estavam começando uma vaquinha pra eu ser candidato a prefeito de Juazeiro. Eu disse que não. Não quero mais deixar
Mas você já recebeu convites para assumir outros cargos
O Cid Gomes, quando foi eleito governador, em 2006, me convidou pra ser secretário da ouvidoria e controladoria geral do estado. Mas eu não quis. Falei para ele: “Me deixe lá no meu Caririzinho com o microfone”. E ele respondeu: “Rapaz, tu faz o jornal daqui, macho! Até deputado federal quer ser secretário e você não quer!” Prometi a ele que ia cobrar as melhorias necessárias pra região e, também, ressaltar as obras que ele fizesse, dia 1º de julho. Quando foi no dia sete, a rádio recebeu uma ação da justiça impetrada pelo Eunício Oliveira. Essa ação dizia que eu estava desabonando a imagem de Eunício, perpetrando inclusive palavrões, palavras de baixo calão contra a pessoa dele. Quando eu vi o conteúdo da ação, me surpreendi porque aquilo nunca existiu. Eu não vou usar palavrão contra ninguém nem fazer birra contra ninguém. Mas aí, o oficial de justiça já trazia era a decisão da justiça. A justiça estava só comunicando que não aceitou a ação perpetrada pelo candidato. Ele recorreu ao Tribunal Regional Eleitoral em Fortaleza. Botou mais forte ainda a argumentação. Disse que eu estava difamando pessoas da família dele. De novo o tribunal recusou a ação. Não tinha provas, não existia isso! Nunca existiu. E isso repercutiu contra ele bastante aqui no Cariri.
Como é lidar com essa realidade tão instável vivida na política?
Em Barbalha, digamos que sou político, tenho um lado ainda. Eu não votei no atual prefeito, o Argemiro Sampaio, mas ele já veio no meu jornal duas vezes. Já dei notícias dele. Em Juazeiro, eu procuro manter uma distância política no rádio. No rádio, eu não tenho política, em hipótese alguma. Claro que um ou outro ouvinte mais apaixonado de um outro partido pode até se exaltar. Mas nem isso tem acontecido aqui. Não tenho tido protestos de ouvintes, graças a Deus. O pessoal sabe que tem hora que a gente elogia, tem hora que a gente critica. Eu não gosto de criticar pessoas, mas ações sim, quando é preciso. E sempre no sentido proativo. Eu nunca recebi nenhuma ameaça no rádio, a não ser esses aí, esses processos que foram rejeitados no nascedouro. Do ponto de vista político é preciso ter um certo jogo de cintura pra conciliar com um jornalismo com lisura, com imparcialidade. Até hoje não aceitei propaganda de prefeitura, de câmara. Nunca aceitei dinheiro de prefeitura pra divulgar. Divulgo tudo sem contrato, sem necessidade de elogio. Se quiser elogiar, elogie. Se quiser criticar, critique. Não tenho nenhum problema. Tem que ter um jogo de cintura pelo meio. Como você vê a influência da força política no rádio?
É ruim. A maioria das rádios brasileiras pertencem a políticos. Isso é muito ruim e me faz trabalhar com muito gosto nessa rádio porque aqui não tem isso. Aliás, tanto lá na Vale quanto na Tempo, enquanto eu estive nas duas, o editorial era sempre nosso. Nunca houve uma influência no editorial do jornal, das posições do jornal. Durante o tempo que eu fiquei nesses jornais, eles nunca me pautaram. Quando acontecia algo que poderia ser considerado errado, tanto da parte deles, Eunício Oliveira e Raimundão Macedo, ou de aliados deles, eu divulgava, dando sempre o direito de resposta. Procurava sempre ouvir o outro lado. Muitas vezes, eram notícias de interesse público e para que aquela notícia tivesse uma resposta, era preciso divulgar o que tinha gerado a situação, o motivo pelo qual se estava divulgando aquela resposta. Nunca nenhuma notícia minha foi barrada nem na Vale nem na Tempo, sempre com esse mesmo critério. Agora mesmo, minha esposa foi vice prefeita em Barbalha e eu fiz algumas críticas à administração e o prefeito, por algum momento, se chateou. Mas, na verdade, eram coisas tão óbvias, reivindicações da população que não tinha como não falar. Mas eu procuro evitar o lado pessoal. A sua esposa não ficou com raiva não? sapp, de outra operadora, para as pessoas fazerem perguntas a ele, por áudio ou digitada. Aí começou. Vieram 74 perguntas para o governador. Eu não coloquei no modo aviãoeaítinhamuitagenteligando.Então,nãotevecomo atender as perguntas dos ouvintes. Talvez eu tenha subestimado a participação dos ouvintes pelas redes sociais. Eu sou “atrasadão” nesse ponto. Priorizei mais só o rádio mesmo. Eu fui o segundo internauta do Cariri. O primeiro provedor do Cariri tinha sido contador da prefeitura de Barbalha no meu segundo mandato. Ele me chamava “doutor João”, embora eu não seja doutor. “Doutor João, você vai ser o segundo internauta do Cariri. O primeiro sou eu porque sou dono do provedor. O senhor vai ser o segundo”. Aí me colocou a internet de 14400 bites, lá em casa, no sítio, ainda com modem. Lenta... Eu não conseguia abrir imagem lá em casa. Só abria texto. Eu também fui o primeiro jornal do rádio a usar notícias da internet, lá na Vale, em 1997. escolhido
Não. Ela me conhece, né. Sabe que partido político nenhum me pauta aqui. Na campanha de 2014, convidei todos os candidatos a governador e todos vieram aqui. O Eunício não veio no primeiro turno. No segundo turno, a assessoria dele pediu um espaço. Era só ele e Camilo Santana. Eunício tinha ido mal aqui nas urnas no primeiro turno. Só que a votação dele não foi a contento. Tem certas coisas que eu não consigo associar, o lado político com o lado jornalístico. Mas, às vezes, tem gente que diz: “O João Hilário virou!”. Por exemplo, esses dias fiz uns dois elogios ao atual prefeito de Barbalha, Argemiro Sampaio. “Epa! Só porque é primo?!” Por que ele é meu primo e eu não fiz campanha pra ele. É filho de um primo legítimo meu. A avó dele é irmã de minha mãe. “Então, é assim! Tá elogiando o prefeito de Barbalha!” Sempre tem um ou outro lá. Mas, no fundo, sabem que esse é o nosso critério. Aqui é a minha vida. Enquanto eu tiver voz, se eu não tiver mais nenhum emprego no rádio, eu vou pra internet! Como foi essa transição, todas essas mudanças que o rádio passou com a internet, essas inovações, notícias no whatsapp? Como foi se adaptar a essas transformações?
Mas as novas tecnologias não facilitaram seu trabalho...
Eu sou atrasadíssimo em redes sociais. Eu tenho um twitter criadopormeufilhoenuncaposteiumamensagem. Eu não tenho facebook. O antigo orkut eu não tinha. Eu não tenho instagram. Só tenho um e-mail mesmo. O meu filho, queédessaáreadetecnologia,quemeempurroupramuitas coisas. Nós já fizemos experiência aqui de transmissão pelo facebook do jornal. O whatsapp eu tenho, mas esse não consigo mais acompanhar, nem as mensagens privadas, nem os grupos. Eu sou tão atrasado que um dia o Camilo Santana veio aqui pra uma entrevista e eu criei um what-
Eu me admiro muito hoje com essas inovações. Vejo as pessoas no instagram, no facebook. A internet é uma das maiores invenções do ser humano. Ela contempla tudo: conhecimento, experiência, a comunicação interpessoal, comunicação global. Trouxe o rádio pra dentro, trouxe a televisão pra dentro, os jornais pra dentro. Aí depois veio o celular, o smartphone... Eu vi tudo isso. Quando eu comecei no rádio era só microfone e disco. Nem gravador cassete tinha. Na difusora lá do cinema, eu já dava notícias. E eu sempre gostei de copiar as notícias. Eu ouvia, memorizava ali e copiava o bojo, o centro da informação. Isso me fez ter uma certa prática... Por que é que eu não tenho facebook? Por que eu não uso o twitter? É um atraso de minha parte, mas é por uma razão simples: eu não sei deixar de responder. Estou “doentim” porque não estou conseguindo acompanhar as respostas, as perguntas, os comprimentos das pessoas que me procuram no whatsapp. Eu acho uma desfeita. O medo que faz é o pessoal achar ruim, o pessoal começar a achar que eu sou grosseiro. Essa é a coisa que eu menos quero. Por isso eu não tenho essas redes sociais. Pode ser uma falha terrível, um atraso de minha parte, mas cada um vai vivendo como consegue. Eu gosto muito de tecnologia. Mas, meu pai, por exemplo, quando chegou o rádio FM, ele, acostumado de tantos anos ouvindo rádio AM, estranhou. Por que o FM tem mais fidelidade, tem o agudo. Depois ele se adaptou. Eu admiro todas essas mídias. Acho que a internet possibilita todas as formas possíveis de comunicação, falada, ouvida, lida, vista. A comunicação é ontem, hoje e sempre a ferramenta mais importante que o ser humano tem. Dela tudo nasce, tudo prospera, tudo vai, tudo persevera. Tudo se cria através da comunicação.
E o que o Cariri representa na sua história?
A minha vida inteira foi Crato, Juazeiro, Barbalha. Passei uns quarenta anos todo dia rodando as três cidades. Sou um cosmopolita da região! Nunca deixei de morar em Barbalha. Trabalhei em Juazeiro e Crato. Eu sou louco por essa região! Quando foi criado o “Jornal do Cariri”, em 1997, como era bem pertinho da faculdade, eu corria pra lá. A primeira editora era Maria do Socorro Ribeiro e ela me pedia opinião sobre as manchetes. Eu escrevia artigos para o “Jornal do Cariri”. No dia 03 de novembro de 1997, foi publicado um artigo meu: “O Cariri do futuro”. Eu dizia o que é que ia acontecer no Cariri nos próximos vinte anos. Eu só errei uma coisa, quando eu disse que o Cariri ia exportar rapadura pra China. Quando eu era prefeito, eu doei um terreno para uma empresa de Goiás, pra instalar uma fábrica de remanufaturamento da rapadura, pra fazer tabletes de 20 gramas e exportar pra China. Os empresários foram numa comitiva do presidente Fernando Henrique Cardoso, na época, pra China. Construíram a fábrica em Barbalha, mas ela não funcionou. Eles tiveram algum problema. Tiveram que voltar pra Goiás e deixaram a fábrica sem funcionar. Foi uma frustração grande pra mim. Até hoje está lá o prédio. Eu torcia muito naquela época pra que fosse rapadura de Barbalha pra China, rapadura do Cariri pra China. A China era um mercado alimentar bom. É curioso. Sei lá! Quando eu vejo alguém de fora que nega as origens, fico doente. E não quero sair nunca daqui. Eu sinto que essa região tem algo diferente, magnético. Até brinco no jornal quando as pessoas vem de fora: “Ah, você já bebeu a água daqui? Cuidado que você vai voltar e quem sabe até ficar!”. E de fato é, pois nessa região eu ainda vejo um potencial maior do que o que está. Um turismo diferente, um turismo diverso, um turismo ambiental, um turismo científico, um turismo comercial, artístico. Aqui é uma riqueza! Não existe ainda turismo no
Cariri. Os operadores do turismo não trabalham isso, os governos ainda não fizeram disso um propósito. É preciso uma cadeia turística grande pra contemplar a região.
Durante esse tempo que você se manteve afastado do rádio, por conta de estudos, da política, como foi que o rádio esteve presente na sua vida?
Eu sou atrasadíssimo em redes sociais. Eu tenho um twitter criado por meu filho e nunca postei uma mensagem. Eu não tenho facebook. O antigo orkut eu não tinha. Eu não tenho instagram. Só tenho um email mesmo
Nos sonhos. Eu sonhava com o rádio. No contato com as pessoas no dia a dia, sempre me perguntavam quando eu ia voltar pro rádio. “Eu voltarei, com certeza!” Foi minha primeira profissão. Sou professor desde os dezesseis anos, mas sou locutor desde os doze. Era amador, mas já fazendo experiência da vida profissional. Era uma tentação sempre, a todo momento. Eu sentia muitas saudades. Ouvia muito rádio, rádio daqui, rádio de fora. A Rádio BBC de Londres eu escutava muito. Escuto hoje de vez em quando. E era uma eterna saudade, uma coisa que fazia parte dos meus sonhos. Até que eu voltei. Quando eu voltei... “Agora é definitivo!”