10 ANOS MODATEX · PESSOAS
MÁRIO JORGE MACHADO · ATP
O MODATEX está a celebrar 10 anos. Qual o balanço desta década? Um balanço muito positivo. O MODATEX nasceu da fusão dos diversos centros protocolares da têxtil e do vestuário com o objetivo de ganho de eficiência e ambição renovada, de modo a corresponder melhor aos desafios que o sector colocava, mormente na capacitação dos recursos humanos da fileira. A última década foi um período de profunda mudança para o sector, em que ascendeu na cadeia de valor e se posicionou superiormente face à concorrência global, o que não teria sido possível sem quadros qualificados que interpretassem a exigência da transformação em curso, o que para tal muito contribuiu o MODATEX. Não há empresas sem pessoas e não há boas empresas sem quadros qualificados e motivados. A produtividade depende assim diretamente da formação, pois não há resultados sem investimento direto no capital humano, que é, aliás, o maior ativo de qualquer organização. Como atrás disse, o sector não se teria desenvolvido da mesma forma se não existisse o MODATEX, do mesmo modo que o futuro do sector depende muito daquilo que o MODATEX possa continuar a ser e a ambicionar. Esperemos que esta mensagem seja igualmente compreendida pelos responsáveis públicos, contraparte do centro protocolar com as associações sectoriais, para que o MODATEX possa continuar a dispor dos recursos suficientes para cumprir os objetivos que se colocam e que serão cada vez mais desafiantes. Quais considera serem as principais oportunidades e as principais dificuldades que se colocam atualmente ao setor? Que papel está reservado ao MODATEX? A grande oportunidade está na reindustrialização da Europa e na reconstrução das cadeias de fornecimento em proximidade, satisfazendo assim duplamente o imperativo da não dependência externa em produtos e serviços críticos, como a pandemia amplamente provou, do mesmo modo que vai de encontro a uma produção mais sustentável, nos produtos e nos processos, desde logo reduzindo a pegada carbónica no transporte. Portugal está aqui bem posicionado, até porque domina tecnologias limpas e goza de boa reputação quer na inovação, quer na proteção ambiental e social: agora há que tornar tudo isto em negócio. Como dificuldades temos a escassez de mão-de-obra, o incremento da concorrência e os custos de contexto a pesarem, sendo que, no primeiro dos constrangimentos, o MODATEX será essencial para nos fazer ganhar em produtividade o que iremos perder na oferta de recursos humanos, que será mais escassa e a necessitar de qualificações cada vez maiores. Quais considera serem as prioridades do ponto de vista da formação para os próximos anos? Formação nos domínios digitais e na “servitização” da atividade, em paralelo com a conVESTIR 82 · MODATEX · 2021
servação das competências nos domínios de maior tradição produtiva, que não podem ser automatizados e que qualquer descontinuidade ameaça a integridade da fileira e a vantagem comparativa desta enquanto “cluster”. Igualmente a formação específica no domínio dos têxteis de alta tecnicidade e da economia circular será determinante para o sector se posicionar como “trendsetter” mundial e não regressar ao pelotão dos “followers”. A indústria 4.0 identificou necessidades adicionais de formação? De que forma o MODATEX ajudou a colmatar estas necessidades? Já na pergunta anterior tocamos este tema. A indústria 4.0 necessita de formação especializada, cruzada com a digitalização e a automação, domínios em que o MODATEX não tem tradição nem competências especiais, pelo que deve encontrar as parcerias e alianças estratégicas para satisfazer este domínio, que considero crítico. Há ou não falta de mão-de-obra no setor? Há falta de mão-de-obra no sector. E aquela que porventura existe com mais abundância não está qualificada para os desafios que aqui apontamos. É aqui que o MODATEX vai ter que atuar com mais intensidade: formando recursos escassos e com competências inadequadas ou insuficientes para as necessidades das empresas, atuais e futuras. Se falharmos isto, falhamos o futuro do sector como um todo e irreversivelmente. O que pode ser feito para captar recursos humanos qualificados para esta indústria? É um problema de captação ou de fixação de recursos? Não há uma solução única e muito menos milagrosa. Temos de melhorar a comunicação do sector e da sua valia, recuperar o respeito do poder e dos media (hoje já muito melhor que antes, mas ainda assim aquém do que deveria ser), apresentar a ITV como uma atividade atrativa para os jovens, pois é fortemente tecnológica, tem moda, design e “glamour”, e pode oferecer carreiras profissionais sólidas e com futuro (mais do que a maioria dos restantes sectores). É simultaneamente um problema de captação e de fixação de recursos. Teremos de competir com outros sectores industriais e com os serviços, sem medo de dizer que podemos – e somos – mais interessantes e atrativos, até porque, como uma indústria com tradição, temos passado e com base nele o nosso futuro está mais garantido. O recrutamento de trabalhadores estrangeiros pode ser uma alternativa? Também pode. Termos um sector cosmopolita e diverso é uma riqueza e não um “handicap”, mas estou convencido que o cerne da solução será encontrado no capital humano que temos, nas suas competências e virtualidades, com o ADN nacional. Qual o impacto da pandemia no setor ITV? A pandemia teve um fortíssimo impacto no sector. Especialmente o segundo trimestre do ano passado, com o confinamento geral e obrigatório, condicionou dramaticamente
a atividade, registando-se verdadeiras quebras históricas na produção e nas exportações. O resto do ano foi marcado pela incerteza e instabilidade, algo que começa a estar algo mitigado este ano, mas ainda sem um sinal de firme recuperação. Além disso, dependendo dos sectores, convivem diferentes realidades: o têxtil-lar e as malhas melhor, a confeção de tecido a sofrer mais duramente os efeitos da pandemia. Há que dizer que, apesar da pandemia, o sector evidenciou uma extraordinária resiliência, como já tem sido apanágio em outros momentos históricos de dificuldade, conservando, apesar de tudo, grande parte dos postos de trabalho e tendo-se reconvertido, mesmo que temporariamente, para produzir equipamentos de proteção individual, como máscaras e batas, em alguns casos com elevadíssimo nível de inovação tecnológica e tudo num tempo recorde. Seja como for, passado ano e meio de pandemia, com altos e baixos no comportamento dos mercados, e sujeitos agora à falta de matérias-primas e ao aumento escandaloso dos preços destas e dos transportes, há muitas empresas profundamente debilitadas económica e financeiramente, algumas no limiar da sobrevivência. Simultaneamente estamos perante uma profunda alteração do mercado, que a pandemia acelerou, em que os “drives” emergentes são a sustentabilidade e a tecnologia (digitalização e indústria 4.0), para os quais uma parte substancial do nosso sector não está preparada para enfrentar e que não tem apoio necessário e suficiente nas políticas públicas para fazer a transformação. A pandemia continua a preocupar pelos impactos imediatos, mas esta mudança estrutural, que já estava em curso, poderá ter ainda mais efeitos no sector a medio prazo que a própria pandemia. Expetativas de recuperação do setor? As expetativas são positivas, pois esperamos que o setor consiga recuperar para os níveis de 2019 ainda durante o corrente ano, caso não sobrevenham mais surpresas, o que não é de descartar no quadro de imprevisibilidade, incerteza e volatilidade que vivemos. Contudo, há que o dizer, o nosso objetivo deverá ser ultrapassar o momento pré-Covid, que já nos sinalizava fragilidades na sustentabilidade do modelo de negócio que a ITV portuguesa desenvolvia, pelo que uma nova ambição terá de ser construída com o objetivo de termos um setor mais forte, mais produtivo, mais rentável e mais internacional, no final desta década, tal como está proposto no Plano Estratégico que apresentamos recentemente e que estamos determinados em cumprir. Uma curta mensagem para celebrar o aniversário MODATEX Uma mensagem breve, mas sentida, de agradecimento reconhecido por tudo que o MODATEX tem feito pelo setor, incluindo a sua competente equipa dirigente e todos os seus quadros e formadores, e de encorajamento face aos desafios que se lhe colocam e que são comuns a toda a indústria, pois o sucesso futuro do MODATEX, como acreditamos que aconteça, será o sucesso de todos que dele beneficiam, esperando que, daqui a 10 anos, estejamos a confirmar este voto e renovar a nossa expectativa, desejando sempre mais. 15 / 80