TOP Magazine Edição 264

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Whindersson

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pessoas / L7nnon, MC Daniel Falcão, MC Guime, MC Rodolfinho, Negra Li, Papatinho, PK, Projota, Romaní e Whindersson Nunes / os astros eternizados por Annie Leibovitz / cultura / o universo dos games ultrapassa as barreiras do entretenimento / Barbara Kruger: as colagens e fotografias de uma das artistas mais influentes de sua geração / lifestyle / Nike e Jordan: a parceria de milhões / studio mundo top / Maellen / mundo top / as novidades em entretenimento, games, arte e literatura
Nunes | Especial Studio Mundo TOP | VW
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Sumário

Especial Studio Mundo TOP | VW

L7nnon, MC Daniel Falcão, MC Guime, MC Rodolfinho, Negra Li, Papatinho, PK, Projota, Romaní e Whindersson Nunes.

Annie Leibovitz

Um dos maiores nomes da fotografia mundial, a artista tem como grande diferencial criar imagens que são verdadeiras narrativas de intimidade.

Mundo TOP

O novo livro da Taschen que mostra a ligação das joias com a cultura hip hop; uísques feitos 100% no Brasil; a marca de skincare fundada por Brad Pitt; games para relaxar.

Air Jordan

O icônico tênis da Nike tornouse o mais famoso do mundo nos pés do inigualável Michael Jordan.

Games

Como os jogos digitais estão conquistando outros mercados internacionais além do entretenimento.

Barbara Kruger

Através de frases curtas sobre imagens em preto e branco, a artista norte-americana critica o consumismo, o machismo e a política.

Maellen

Com uma carreira de destaque como jogadora profissional de Free Fire, agora a artista está conquistando também o universo musical.

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42 156 PESSOAS
LIFESTYLE CULTURA STUDIO MUNDO TOP
NOTAS
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Quem Fez

Kike Martins da Costa

Trabalha há mais de 30 anos como jornalista e, por dez anos, colaborou mensalmente para a TOP Magazine. Na adolescência, tomou dois tombos com a motocicleta de seu irmão, mas ainda assim continua fascinado com a potência e o design desses brinquedões de duas rodas.

Com certificações na área da beleza e visagismo, junto a escolas renomadas como a Madre Conhecimento Criativo, a beauty artist possui experiência nos setores de publicidade, moda, maquiagem artística e social, tendo, inclusive, atuado nos principais desfiles de moda, como o SPFW. Para a mãe paulistana de 32 anos, a naturalidade e a autenticidade são o segredo para se alcançar o melhor look e, por isso, valoriza o atendimento personalizado para revelar a melhor versão de cada cliente.

Editor-chefe do Voxel, editoria de games do TecMundo. Entusiasta da área desde pequeno e amante da cultura pop, formado em Desenvolvimento de Jogos em 2012, mas atua na área de jornalismo de jogos há nove anos.

Diego Ortiz é jornalista há 20 anos, com passagem pelos jornais Estadão, Folha de São Paulo, O Globo, Jornal do Brasil e O Dia. Atualmente é autor da coluna Sneakerverso no Estadão, única em um grande veículo de comunicação a falar exclusivamente sobre tênis.

Rafaella Sabatowitch

Rafaella Sabatowitch é formada em Letras e Jornalismo e tem pós em Cinema Independente. Há mais de 20 anos escreve para revistas dos mais diferentes segmentos, além de fazer conteúdo para internet. Apaixonada por livros, mantém também o perfil @pagsviradas com as impressões de suas leituras.

Ju Shinoda Diego Ortiz
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Vinícius Munhoz

Um dos maiores nomes da fotografia nacional, Miro retratou com seu olhar único alguns dos maiores jovens de sucesso do Brasil nesta edição especial de TOP Magazine.

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Miro

Publisher Claudio Mello

TOP Magazine | Studio Mundo TOP Editora convidada: Fernanda Ávila Redação: Renata Zanoni e Vivian Monicci Diretora de Arte: Rosana Pereira Assistente de Arte: Luana Jimenez Revisão: Evandrus Camerieri de Alvarenga Assistente de Produção e de Mídias Digitais: Diego Almeida Estagiária: Gabriela Haluli

Projeto Gráfico Marcus Sulzbacher Lilia Quinaud Paulo Altieri Fabiana Falcão

Colaboradores

Texto Cristiane Batista, Diego Ortiz, Fernanda Ávila, Kike Martins da Costa, Rafaella Sabatowitch, Vinícius Munhoz Foto Miro

Produção

Leandro Milan e Paula Giannaccari (Catering), Alexandre Júnior, André Puertas, Bruna Pezzino, Camila Anac, Dell Magela, Georgia Martinek, Ju Shinoda, Lucas Brotto, Jhonatan Gonçalves da Silva, Mel Freese, Rapha Mendonça, Renato Montesino, Simone Fleitlich, Wollason Renan Franco

Tratamento de Imagens Fujoka, JC Silva

Editora Todas as Culturas Criativo: Bruno Souto Gerência de Relacionamento: Carolina Alves Produção Executiva: Camila Battistetti RP & Interface de Atendimento: Dianine Nunes Financeiro: Marcela Valente Circulação: Regiane Sampaio Assessoria Jurídica: Bitelli Advogados Impressão: Ipsis Gráfica e Editora Distribuição: Brancaleone

TOP Magazine é uma publicação da Editora Todas as Culturas Ltda. Rua Pedroso Alvarenga, 691 - 14º Andar - Itaim Bibi - CEP 04531-011 - São Paulo/SP Tel.: (11) 3074-7979

As matérias assinadas não expressam necessariamente a opinião da revista. A revista não se responsabiliza pelos preços informados, que podem sofrer alteração, nem pela disponibilidade dos produtos anunciados. /topmagazineonline @topmagazine /topmagazine

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TOP MAGAZINE EDIÇÃO 264 Expediente

Mundo Top

bling-bling

O coruscante universo hip-hop

Livro maravilhosamente ilustrado examina a ligação das joias com a cultura rapper desde os anos 80 até os dias de hoje. Adornos com muito ouro e cravejados de pedras preciosas são símbolos de orgulho, ancestralidade e poder

Um dos mais recentes lançamentos da editora alemã Taschen, o livro Ice Cold: A Hip-Hop Jewelry History, mostra como as pesadonas correntes de ouro, os nada discretos anéis cravejados de diamantes, os relógios oversized de marcas como Rolex e Patek Philippe em estilo bling-bling e os adornos dentários de platina usados por rappers, MCs, dançarinos e DJs funcionam há mais de 40 anos como uma linguagem visual própria e um símbolo de orgulho, ancestralidade e poder. “Minhas joias são o meu traje de super-herói”, afirma no livro o produtor musical Ricky Walters, também conhecido como Slick Rick. Assinado pela jornalista e curadora Vikki Tobak, a obra reúne imagens feitas nessas últimas quatro décadas por grandes fotógrafos como Wolfgang Tillmans, Janette Beckman, Timothy White e David LaChapelle, entre outros tantos. A saga começa com os pioneiros coletivos de

rap e break dance no Bronx e passa por músicos e MCs que começaram nos guetos do Harlem e do Queens, mas depois se tornaram celebridades conhecidas no mundo todo, como LL Cool J, a dupla Run-DMC, Mos Def, Notorious B.I.G., Tupac Shakur, 50 Cent e outros mais recentes, como Rihanna, Pharrell Williams e Cardi B. Nos corpos negros desses artistas, essas joias remetiam aos imperadores e deuses da África, com seus grandes adornos de madeira, ouro e pedras reluzentes. Em uma daquelas várias crises econômicas que o mundo enfrentou no final do século passado e no início deste, essas estrelas do hip-hop foram a salvação da Rua 47, o endereço que concentra o comércio de ouro e joias em Nova York. Vários ourives e designers só conseguiram sobreviver devido às peças surreais encomendadas por esses artistas. E, se no início a comunidade judaica, que domina esse segmento, torcia o nariz para essa estética extravagante e exibicionista, depois de um certo tempo passou a criar colares e braceletes nessa linha exagerada e narcisista. A virada definitiva de jogo aconteceu quando a Tiffany & Co. nomeou o rapper A$AP Ferg como embaixador da marca. A partir dali, “tava tudo dominado!” O livro traz retratos impressionantes, como o do jovem Jay Z em 1988 já ostentando imensos cordões, braceletes e anéis dourados. Em outro clique, a cantora Megan Thee Stallion aparece com um colar feito com mais de 1 kg de ouro puro e mais 155 quilates de cintilantes brilhantes! taschen.com

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made in Brazil

Uísque nacional, quem diria!

Destilarias do Rio Grande do Sul e de Minas Gerais vêm produzindo bebidas de qualidade que já faturaram prêmios nos EUA e até na Inglaterra!

Para a maioria dos brasileiros, uísque nacional é sinônimo de bebida de má qualidade. Não se trata de preconceito, o fato é que, tradicionalmente, os destilados dessa categoria fabricados por aqui, de fato, nunca foram grande coisa. Mas essa situação vem mudando nos últimos anos. A destilaria Union, de Bento Gonçalves (RS), vem produzindo ótimos single malts, à moda dos escoceses. O Pure Malt Turfado, por exemplo, tem em sua fórmula cevada importada do Reino Unido e, por conta disso, possui um elegante aroma defumado. Já o Union Vintage 2005 tem 16 anos de maturação e é um uísque intenso, com equilibradas notas herbais e apimentadas. Na cidade mineira de Matozinhos, a destilaria Lamas tem uma tradição de décadas na produção de cachaças especiais, mas desde 2000 vem se dedicando também à elaboração de uísques. Ela é uma típica “craft distillery”, como são chamadas no exterior as pequenas produtoras artesanais. Enquanto a Union coloca no mercado a cada ano cerca de 3 milhões de litros, a Lamas

faz apenas algo em torno de 40 mil litros. O carro-chefe de sua linha de single malts é o Nimbus, envelhecido em tonéis de carvalho norte-americano e com malte defumado em madeira de eucalipto de reflorestamento. Por conta de seu “sabor de fumaça”, recebeu de seus apreciadores o apelido de “bacon líquido”. Já ganhou medalha de prata em um concurso nos Estados Unidos e uma medalha de bronze em outra competição, na Inglaterra! Além disso, foi definido como “uma bebida genial” pelo jornalista britânico Jim Murray, que já provou mais de 20 mil destilados e edita a Bíblia do Whisky. Além desses rótulos, as duas destilarias ainda produzem vários outros, inclusive um envelhecido em barris de vinho chileno e um envelhecido inicialmente em tonéis de carvalho estadunidense e finalizado em barricas de carvalho francês. São bebidas com uma grande complexidade de aromas e sabores e uma invejável sofisticação. À venda nos sites das próprias destilarias (www.uniondistillery.com.br e www.lamasdestilaria.com.br), eles têm preços que se assemelham aos de blended whiskies importados. A garrafa com 750 ml do Single Malt Turfado, por exemplo, custa R$ 180, e a de 1.000 ml do Nimbus é vendida por R$ 223. Em São Paulo, todas essas bebidas podem ser provadas no Caledonia Whisky & Co (Rua Vupabussu, 309 - Pinheiros), um bar especializado em uísques que tem uma incrível carta de bebidas com mais de 100 rótulos. uniondistillery.com.br | lamasdestilaria.com.br

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beleza

Brad Pitt para você se lambuzar

Galã de Hollywood acaba de lançar marca de skincare com produtos à base de antioxidantes contidos nas uvas cultivadas em seu majestoso château na Provence

Depois de se aventurar como produtor de vinhos, como artista plástico e como sócio da grife de blusas de lã God’s True Cashmere, o ator e produtor Brad Pitt agora surge como empresário do segmento de beleza. Afinal, disso, ele entende! Agora, o galã de filmes como Clube da Luta e Era Uma Vez em Hollywood sai das páginas de cultura e migra para o caderno de negócios dos jornais, brilhando como fundador da Le Domaine, marca de cuidados com a pele que só tem produtos veganos, sustentáveis e sem gênero – podem ser usados por homens e mulheres. Eles são elaborados com substâncias presentes nas uvas do Château Miraval, propriedade no Sul da França que o galã comprou em 2012 com sua ex-esposa Angelina Jolie. O sérum, o creme hidratante, a loção e a emulsão de limpeza da Le Domaine têm preços entre € 70 e € 350 e possuem uma poderosa ação revigorante graças a compostos antioxidantes encontrados nas sementes de uvas da casta Grenache e nas cascas de uvas das variedades Syrah e Mourvèdre. A marca acredita que fórmulas mágicas de rejuvenescimento são coisas que só existem nos contos de fadas, mas tem certeza de que há muita coisa que pode ser feita para a pele manter-se saudável, elástica e radiante mesmo com o passar do tempo. Aos 58 anos, Pitt testou e aprovou os resultados “anti-Benjamin Button” dos cosméticos da Le Domaine. “Sei que são quase todos os dias são lançados novos produtos de skincare, mas se eu não tivesse visto uma diferença real na minha pele, não teríamos ido adiante nesse projeto de criar a Le Domaine”, explica. “A única exigência que eu fiz foi para que mantivéssemos o perfume bem sutil, quase neutro, e com muito frescor. Eu sou o tipo de pessoa que muda de quarto de hotel se sentir o cheiro da colônia da última pessoa que ficou lá”, revelou o astro no lançamento da marca, em setembro. À venda exclusivamente pelo site www. le-domaine.com, a marca tem seus produtos envasados em frascos de vidro reciclado de velhas garrafas, com tampas feitas com o carvalho de velhos tonéis de vinho do Château Miraval. le-domaine.com

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entretenimento

Relaxe com games fofos

Jogos de computador sem pancadaria e tensão se tornam mais populares e até ajudam a combater a ansiedade. Conheça três boas opções para quem só quer saber de relaxar e passar o tempo sem stress

Para quem não aguenta mais jogos frenéticos e tensos, com perseguição, tiro, porrada e bomba, o mercado agora tem lançado cada vez mais games fofos e relaxantes, que entretêm sem causar ansiedade e stress. Tem hora que a gente quer mesmo é apenas se largar no sofá e se distrair, certo? É nesse espírito que surgiu Unpacking, um jogo sobre desempacotar itens e se mudar para uma nova casa. Embalado por uma trilha sonora superzen e com gráficos em pixel art, o game mistura quebra-cabeças com decoração de interiores. Você também pode descobrir a história de uma personagem através dos itens que ela leva para o novo lar (e também pelos que são deixados para trás). Unpacking está disponível para PC, PlayStation, XBox e Nintendo Switch. Outro favorito da galera que só quer paz e diversão sem angústia ou tensão é A Little to the Left. Assim como Unpacking, o jogo faz a alegria de quem tem obsessão por ordenar e arrumar as coisas. O game –que tem versões para Nintendo Switch e PC – apresenta mais de 75 quebra-cabeças como organizar colheres, lápis ou post-its. Embora as tarefas possam parecer simples, as soluções exigem uma lógica mais complexa à medida que as etapas avançam. Para piorar, o jogador muitas vezes é interrompido por um gato irritante, que chega para

bagunçar tudo. A Little to the Left. Por falar em gato, os bichanos são as estrelas de Stray, game de PlayStation e PC protagonizado por um gatinho que se perde de seus amigos felinos logo nos primeiros minutos. Ele vai parar em uma cidade suja e escura, mas cheias de neons coloridos e simpáticos robôs, que ajudam a criar um clima de distopia futurista. O gato tem de realizar uma série de atividades para as máquinas, que aí o ajudam a encontrar seu caminho de volta. A fofura aqui se manifesta no comportamento bem realista do gatinho – que adora

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fazer “gatices” como arranhar tapetes e brincar com uma bolinha – e nas carinhas meigas que os robôs fazem ao interagir com o bichano. Dos miadinhos ao ronronar, Stray é cheio de detalhes que aquecem o coração de quem é apaixonado por felinos. Se é só um inocente passatempo o que você está buscando, deixe-se encantar por um desses joguinhos fofos e divirtase, sem medo e sem culpa! unpackinggame.com | stray.game | maxinferno.com

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Veja a vida por um outro ângulo

Imagens meramente ilustrativas. Habilitado para a tecnologia 5G. A velocidade real pode variar, dependendo do país, da operadora e/ou do ambiente do usuário. Verifique com a sua operadora a disponibilidade para mais detalhes. É possível notar um vinco no centro da tela principal, que é uma característica natural do smartphone. A dobradiça suporta o modo Flex em ângulos entre 75° e 115°. Para a sua conveniência, esse modo também pode ser ativado antes ou depois dessa faixa de ângulos. Recomendamos manter o celular imóvel durante o modo Flex. Alguns aplicativos podem não suportar o modo Flex. O Snapdragon é um produto da marca Qualcomm Technologies, Inc. e/ou suas subsidiárias.

Brincadeira de gente grande

DIGITAIS AINDA SÃO APENAS ENTRETENIMENTO OU A BARREIRA DO LÚDICO JÁ SE ROMPEU PARA DIFERENTES MERCADOS? Por Vinícius Munhoz Fotos Divulgação 5 min 30 TOP MAGAZINE EDIÇÃO 264 Cultura
JOGOS
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O consumo de jogos pelo público já cresceu muito acima do cinema e da música. No YouTube, a modalidade já ultrapassou até o futebol em alguns casos e continua a se expandir

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264 Cultura
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A indústria dos jogos eletrônicos é bem jovem. Se pensarmos que até a virada do milênio a mídia ainda era considerada um mero brinquedo infantil, é estranho em muitos aspectos ver que os games hoje são maiores que o mercado da música e do cinema combinados, segundo dados da MPA (Motion Picture Association, em 2021), mas isso já não é novidade. Na verdade, o segmento já detém esse patamar desde o começo da década de 2010. No ano seguinte, Call of Duty: Modern Warfare 3 (uma sequência muito aguardada na época) se tornou a peça de entretenimento com a maior arrecadação de 2011, superando Avatar de James Cameron quando comparados no período de seus respectivos lançamentos. “Jogos” já não são meras cópias eletrônicas. Ao longo de seu rápido crescimento, games se tornaram os próprios filmes e esportes que o público consome. Vimos o surgimento de títulos que flertaram com o gênero do cinema, verdadeiras produções multibilionárias que usam atores famosos e marketing caríssimo, entregando experiências com dezenas de horas de duração e cenas que fariam inveja a qualquer cineasta –tudo isso sem deixar a progressão que depende da ação do jogador, imergindo o público em uma narrativa mais palpável. No outro lado desse leque, existe o crescimento exponencial do que seria chamado de eSports, o esporte eletrônico de jogos. Com o advento da internet, embates entre equipes e jogadores se tornaram mais fáceis de organizar e assistir, algo que popularizou bastante o gênero e atraiu muito público desde a última década. Como exemplo, temos um caso já não tão recente: em 2019, a final de Free Fire (um jogo para celular) tomou para si o recorde de maior audiência do YouTube no Brasil, com mais de 1 milhão de expectadores simultâneos – o recorde anterior era de um jogo de futebol entre Corinthians e Racing, pela Copa Sul-Americana. Essa foi apenas uma partida nacional, de um único jogo, mas há pelo menos uma dezena deles por aí que, somente em 2021, arrecadaram mais de US$ 1 bilhão, segundo dados da pesquisa SkyQuest.

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Essa onda de esportes eletrônicos a coloca lado a lado com a NFL, a NBA e o próprio futebol. O avanço da categoria impulsiona os jovens a se aventurar na empreitada, seja ao perseguir o sonho de se tornar profissionais do ramo ou consumir os produtos de alto desempenho utilizados pelos times que admiram. Na última BGS (Brasil Game Show), maior evento de jogos do Brasil, tivemos uma presença forte de marcas de periféricos, como empresas de teclados e mouses, criando filas gigantescas de consumidores em busca de itens para aprimorar suas estações de jogos. A feira teve um acréscimo em sua duração e de público no período de 2022, atraindo fãs que querem sentir as novidades com as próprias mãos.

Jogos e cultura pop ainda são coisas diferentes?

Apesar de parecer que os jogos estão dominando o mercado, esse não parece ser o caso, já que, cada vez mais, as diferentes formas de entretenimento se entrelaçam. A cultura pop é, no geral, uma amálgama de conteúdo na atualidade, pois as barreiras entre as mídias já estão “borradas” há alguns anos. Filmes de games, adaptações para animes (animação japonesa), quadrinhos, mangás (quadrinhos japoneses) ou até séries de TV são comuns, algo que fortalece a marca do game e arrecada em outra frente.

Em 2022, o anime Cyberpunk Edgerunners conquistou um feito impressionante: alavancou o número de jogadores de Cyberpunk 2077, lançado em 2020, para um recorde de 1 milhão de pessoas jogando simultaneamente nos computadores, uma soma maior do que em seu lançamento – sem contabilizar usuários de videogames, como Xbox e PlayStation. No supracitado Free Fire vimos shows dos cantores Emicida, DJ Alok e diversos outros, expandindo a área de atuação dos artistas para outras mídias. Já em Fortnite, há anos talentos como o DJ Marshmello, Travis Scott, Ariana Grande e até o brasileiro Emicida (repetindo seu sucesso, mas agora em nível internacional) participaram de shows ao vivo dentro do jogo, reunindo audiências de milhões de pessoas.

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Há mais de três anos, é muito comum ver artistas, filmes e séries realizando cross-media com games. Todo título de sucesso tem colaborações com outras mídias ou realiza ações especiais para levar a marca do jogo para dentro da Netflix, Spotify e outros grandes serviços

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Todas as big techs estão de olho no mercado e não é para menos: a estimativa de crescimento da indústria para os próximos cinco anos é de até 35%

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“A música transcende qualquer linguagem, e é uma parte querida da jornada do Fortnite desde o primeiro show realizado dentro do jogo, em 2019”, diz Nate Nanzer, vice-presidente de parcerias globais da Epic Games, detentora de Fortnite. Antes mesmo da discussão de metaverso, esses títulos eletrônicos já estavam na vanguarda de reunir pessoas para e dividir espaços virtuais em atividade de entretenimento – e que não é para jogar.

League of Legends, um dos jogos mais populares do mundo, conquistou dois feitos inesperados: um Emmy por melhor série animada e emplacar uma música no Top 1 da Billboard. Desde 2014, a desenvolvedora aposta em bandas virtuais fictícias, como a Pentakill de heavy metal e o grupo de k-pop K/DA, que emplacou o hit POP/STARTS em 2018. Já a série Arcane foi um dos maiores lançamentos da Netflix em 2021 e trouxe alguns prêmios para casa. Contudo, a empresa não para de investir na cultura pop, já que recentemente o rapper Lil Nas X foi a estrela da música criada para a competição mundial do game em 2022.

Futuro promissor

O mercado dedicado a games jamais esteve tão aquecido. Colossos como Amazon e Google já deram seus primeiros passos para entrar no segmento, além de a Apple já ensaiar há anos uma aproximação com a indústria. Até a gigante Netflix abocanhou uma fatia do mercado. Desde 2021, a empresa vem adquirindo estúdios de produção de jogos e, neste ano, lançou games mobile para assinantes do serviço: basta ter uma conta para assistir as suas séries e filmes, além de jogar pelo celular. Recentemente, o Xbox, divisão de games da Microsoft, anunciou a maior aquisição da história do mercado de tecnologia: a compra da Activision-Blizzard, um conglomerado que administra diversos jogos importantes da área, incluindo Call of Duty, citado no começo do texto, por US$ 69 bilhões – a transação ainda passa por trâmites legais no mundo inteiro sob a ótica de ser um possível monopólio.

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É interessante que uma das maiores empresas de tecnologia do mundo optou pela aquisição histórica no ramo de games com o objetivo de impulsionar um serviço criado pelo Xbox, o Game Pass, que oferece centenas de títulos ao consumidor por uma assinatura mensal, que também tem inclusa uma opção para jogar em nuvem, sem precisar de um aparelho de videogame. O setor de jogos da Microsoft já trabalha no Projeto Keystone, um dispositivo que executa os títulos apenas com a internet.

O cenário atual progride rapidamente: diversos jogos blockbusters estão à beira do lançamento até 2023, a nova geração de videogames está a todo vapor mesmo com a crise dos microchips, a realidade virtual caminha a passos largos com os investimentos do Meta (antigo Facebook) e o segmento de celulares está cada vez mais aquecido. As previsões do futuro são promissoras, mas ainda incertas para onde vão caminhar. Neste momento, sequer sabemos se os PCs e consoles tradicionais, que estão por aí desde a década de 80, continuarão existindo nos próximos dez anos, com muitos analistas apostando que serviços de assinatura e jogatina em nuvem vão substituir as máquinas caras que precisamos adquirir. E quem sabe? Talvez tudo continue a coexistir, da mesma forma que as outras mídias e os games encontraram um meio de se alavancar juntos.

Neste momento, o futuro dos jogos é tão incerto quanto a tecnologia no boom da internet. Há dezenas de possibilidades, incluindo o avanço do metaverso e a popularização dos serviços de nuvem

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L7NNON É O RAPPER COM NOME DE BEATLE, PROFESSOR DE RIMA, COMPOSITOR DE HITS QUE VIRALIZARAM NO TIKTOK E UM DOS ARTISTAS DA CENA MUSICAL QUE MAIS VEM SE DESTACANDO NO BRASIL EM 2022
5 min L 42 TOP MAGAZINE EDIÇÃO 264 L7nnon
Por Fernanda Ávila e Vivian Monicci Fotos Miro Beleza Bruna Pezzino
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Lennon dos Santos Barbosa Frassetti, também conhecido como L7NNON, alcançou a fama com Freio da Blazer, lançada no começo de 2021. Mas, quem pensou que o sucesso do rapper seria passageiro, como acontece com muitos artistas que viralizam no TikTok, se enganou. Este ano tem sido ainda mais especial para L7. Ele já bombou com dois grandes hits – Desenrola, Bate, Joga de Ladin e Ai Preto , emplacou sete músicas simultaneamente no top 200 do Spotify, subiu em um dos palcos do Rock in Rio e ainda tem planos de lançar seu primeiro álbum.

Nascido em Realengo, zona Oeste do Rio de Janeiro, L7NNON não imaginava que chegaria tão longe na carreira artística, até porque sua trajetória vinha sendo construída no skateboarding . Mas o talento para as rimas não passou despercebido. Incentivado pelos amigos, acabou lançando sua primeira música em 2017. Nomes importantes na cena do rap nacional, como BK e Matuê, foram essenciais nesse caminho, convidando o novato para suas apresentações e deixando com que o artista mostrasse suas próprias composições. Outra grande incentivadora – e aluna de rima – é Anitta, conhecida por abrir espaço e apoiar artistas com potencial. Nesta entrevista, ele conta um pouquinho da sua história, fala sobre a cena do rap no Brasil, projetos e sonhos.

Você tem uma história curiosa, começou a carreira antes no skate e depois começou a produzir música. Pode nos contar como foi? Rap e skate são coisas que andam muito

juntas. Eu já gostava de rap, já gostava de rimar. Os moleques começaram a colocar pilha para eu fazer música e foi assim que eu lancei a minha primeira. Minha ideia não era viver da música, era viver de skate e lançar música quando eu achasse legal.

Quando você percebeu que estava dando certo na música?

Eu soltei a minha primeira música no dia 16 de agosto de 2017. Em 2018, minha vida já estava mais voltada para a música, tudo estava fluindo e eu comecei a bombar mais.

Como foi a sensação de ter chegado ao topo do Spotify?

Eu acho que no topo a gente nunca chega, porque depois do topo só tem descida e eu acredito em uma constante subida. Eu nunca imaginei que alguém fosse cantar minha música. E hoje em dia, estar em primeiro lugar no meu país e fazer uma turnê na Europa com shows lotados, são coisas que nem nos meus melhores sonhos eu imaginava.

Quais são as suas referências na música? Pessoas que eu acompanho, pessoas que eu admiro desde o início, pessoas que vieram antes de mim. No rap, Racionais.

Como você vê a cena do rap no Brasil atualmente?

Hoje em dia, no Rio de Janeiro, todo mundo é muito unido, todos os rappers se juntam, se dão bem, trocam ideias, curtem o trabalho uns dos outros. Sem dúvida, o rap, e a música em geral, une as pessoas. A minha música não é para

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“Minha ideia não era viver da música, era viver de skate e lançar música quando eu achasse legal”

facção, é para pessoas, é para unir mentes. O rap é uma ferramenta de protesto das periferias, sempre teve o poder de dominar a massa não privilegiada. Mas pessoas de classe alta também consomem. Eu posso cantar na favela e também na balada mais cara de São Paulo.

Quanto tempo demora para se tornar um artista de sucesso?

Para mim, fazer música é fácil, porque eu gosto de escrever. Tem pessoas que já faziam música muito antes de eu começar e até hoje não fazem sucesso. Isso não quer dizer que a pessoa não é boa. Às vezes, é só uma questão de tempo mesmo. Mas eu acredito que se a pessoa é verdadeira, honesta, sincera e faz aquilo com amor e com o coração, em algum momento vai “dar bom”.

Tudo o que você escreve vira rima?

As minhas vivências, o que eu faço, o que eu vejo, transformo em frases terminadas em palavras que rimam. Mas o que eu vivo não é rimado, a minha vida não é rimada. Tem músicas que são mais simples, tem músicas que são mais demoradas. Tem músicas que quero passar mais algo do meu interior, quero que as pessoas entendam de uma forma muito genuína. Então, não quero fazer qualquer tipo de rima. Eu quero fazer um jogo de palavras legal, que as pessoas escutem e digam “caramba, olha

as palavras que ele rima” e, ao mesmo tempo, quero que as pessoas entendam o que eu quero falar. Não basta fazer um bando de rima com palavras difíceis, mas ninguém entender o que eu realmente quero passar com a letra.

O Rock in Rio foi o seu primeiro grande festival ou você já teve experiência em outros?

Eu fui convidado pelo Jack Hello para tocar uma música durante o show dele no Lollapalooza. Foi legal para caramba.

Quais outros projetos você já tem encaminhado?

Eu quero lançar o meu disco, não sei se esse ano ou ano que vem, mas estou trabalhando bastante nisso. Tenho também muitas músicas fora do disco que quero lançar.

Quando você vai gravar uma música, precisa de mais quantas pessoas? Nenhuma, tudo o que eu canto é feito só por mim. As pessoas fazem o beat . Por exemplo, o Papatinho que fez meus dois discos, faz as batidas. Tem músicas que são produzidas por outras pessoas também. Normalmente, escrevo música em casa, vou para o estúdio e gravo a voz. Em seguida, tem a mixagem, que demora um ou dois dias. Depois, é só subir nas plataformas, como Spotify. Para liberar, demora uns 20 dias.

“As minhas vivências, o que eu faço, o que eu vejo, transformo em frases terminadas em palavras que rimam”

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Como você faz os clipes?

Eu não faço clipes sempre com as mesmas pessoas, mas eu tenho pessoas da minha confiança, que confio na direção. Eu sempre dou um toque e passo o que eu quero e imagino para o clipe.

Existe uma linha ou uma palavra que une todos os seus clipes e músicas? Que representa você?

Gratidão. Para mim, é isso. Desde a pessoa que trabalha comigo diretamente até as pessoas que trabalham indiretamente. É um sentimento que eu mantenho vivo dentro de mim todos os dias. Estamos aqui conversando, trocando uma ideia e eu agradeço por isso. Acho muito importante manter o coração grato e íntegro.

Qual foi a música mais difícil que você já fez?

Acho que não tem tanta dificuldade. Mas talvez tenha sido a música sobre quando fui sequestrado, porque tive que ficar lembrando da situação ruim para escrever. Inclusive, nem lancei essa música ainda. Tudo o que eu escrevo fica no meu bloco de notas no celular, mas a maioria das músicas eu tenho na minha mente.

Qual é o seu grande sonho?

Meu grande sonho é acordar e estar vivendo esse sonho que eu sonhei. E todos os dias ter a certeza de que é isso que eu quero para a minha vida. Acho que o mais importante é poder me olhar no espelho e pensar: “eu consegui”. A minha vida é um sonho.

Em algum momento, você chegou a se incomodar com o seu nome? Não. Na época, meu pai via a novela Top Model e gostava do personagem Lennon, que era em homenagem ao John Lennon, mas era um menino que surfava e tal. Aí ele disse que quando tivesse um filho, chamaria Lennon. Mas foi só nessa época, porque meu pai odeia novela.

De onde veio a escrita do seu nome com o 7? Meu sobrenome é Frassetti. E eu queria simplificar meu nome no Instagram, não queria que ficasse poluído.

Como surgiu a música Desenrola ? Na verdade, quem fez o refrão dessa música foi o Tonzão e o Yuri. E eu fiz o verso. No dia do clipe, a gente fez a dança e eu postei no Instagram.

“Acho que o mais importante é poder me olhar no espelho e pensar: ‘eu consegui’”

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Assessoria de imprensa Estar Comunicação
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EDIÇÃO 264
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MC Daniel Falcão

REVELAÇÃO DO FUNK NACIONAL, MC DANIEL FALCÃO CONQUISTOU O PÚBLICO COM HUMOR, MÚSICAS QUE FALAM DE SUPERAÇÃO E VÍDEOS DIVERTIDOS AO LADO DA FAMÍLIA E AMIGOS

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Por Fernanda Ávila e Vivian Monicci Fotos Miro Beleza Ju Shinoda 5 min
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Daniel Falcão nasceu em uma família simples, passou por muitas dificuldades na infância, perdeu uma pessoa muito próxima e atravessou uma depressão profunda. Uma história de vida dessas poderia enveredar por vários caminhos, a maioria bem trágicos. Mas superação é a palavra de ordem desse MC nascido em Taboão da Serra, em São Paulo, que vem conquistando fãs em um ritmo impressionante. O segredo? Ser ele mesmo, nunca perder a piada e tratar o público com muito carinho. Aliás, essa é uma marca registrada do artista: cuidar de todos à sua volta. Daniel é aquele cara que tira o tênis do pé para dar para um moleque na rua, emprega os amigos, distribui dinheiro e sempre tem uma palavra de incentivo para os seguidores. Faz de tudo para realizar os sonhos das pessoas que ama. Daniel Falcão não é só uma promessa do funk, é também referência para todos que querem mudar de vida através da arte.

O que você fez para ganhar 1,7 milhão de seguidores em 30 dias? Basicamente foi com muito trabalho, muito esforço meu e do meu empresário. Fui eu sendo eu, do meu jeito. Foi estourando vídeos virais meus brincando com a minha mãe, com o meu cachorro. Quando fui para o Paraguai, fiz um vídeo antes falando que iria aprontar, fingir que falo espanhol e ver se alguém iria me reconhecer. Cheguei lá zoando todo mundo, brincando. As pessoas começaram a me reconhecer e pedir para tirar

foto. Postei no stories e foi parar em todas as páginas, começou a viralizar. Bati 200 mil seguidores, fui com uns 90 mil e bati 200 mil. Gostaram de mim, do meu jeito de brincar.

Antes disso você já tinha viralizado com outro vídeo, não? Sim, antes da viagem para o Paraguai fui na loja Burberry com um amigo meu, o Ian. Chegando lá, a mulher falou: “vocês querem café ou champanhe enquanto escolhem a roupa?” Falei: “o quê? Me vê o champanhe!” Achei que ela não iria trazer, estou acostumado com a Renner, a Riachuelo. Quando ela trouxe, eu estava provando as roupas e meu amigo gravou. Falei brincando: “estou bebendo ‘chamcham’, irmão”. Quando fiz isso, ele postou. A mulher falou: “você quer mais alguma coisa?” e respondi: “agora traz o ‘fefé’” (café). Ela trouxe, coloquei outra roupa engraçada e meu amigo gravou de novo. Já era. Esse vídeo teve mais de 30 milhões de visualizações. Saiu em muitas páginas do Instagram, YouTube, Facebook.

O que vocês pensavam enquanto viam esse crescimento?

Eram 50 mil seguidores por dia! A gente tinha que lançar uma música para aproveitar o que estava acontecendo. A gente falava que se batesse 100 mil, já seria uma vitória absurda. Em um dia bateu um milhão de visualizações no YouTube, em um canal de 60 mil inscritos. A gente falava que não era possível que isso

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“Não falo Burberry, falo ‘Bubu’. Louis Vuitton é ‘Lulu’. Tem que brincar, ‘tirar barato’”

estivesse acontecendo, isso é número de Gusttavo Lima. Ficávamos olhando um para a cara do outro e se perguntando o que estava acontecendo. No ano passado inteiro fiz 8 shows e, só nesse mês, vou fazer 47.

Como faz para controlar toda aquela multidão?

Não tem como controlar. As “minas” são loucas e os caras são loucos. Ontem o cara tatuou a minha cara na perna dele. O fato de eu ser engraçado gera outra relação. Esses dias fomos na Burberry gravar um clipe. Quando a gente entrou, o gerente falou: “vai ter a nova coleção e a gente quer convidar você e seu amigo para verem os desfiles na matriz”. É uma vitória muito grande. Somos do funk, da periferia, fomos pobres a vida inteira. É um salto muito grande ir em um evento desses. É uma quebra de tabu. Não falo Burberry, falo “Bubu”. Louis Vuitton é “Lulu”. Tem que brincar, “tirar barato”.

Por que você decidiu ser artista?

Jogava bola, só que tive uma tendinite. Não tinha como treinar dois períodos por dia. Gosto de sair, de beber. Comecei a ir para a balada e, com 17, 18 anos, comecei a pensar no que iria ser. Na minha cabeça, ia ser jogador de futebol, não tinha plano B. Tentei estudar e fazer Educação Física. Não consegui porque sou hiperativo, não consigo ficar quieto. Sou igual à minha avó, ela faz amizade com todo mundo. Na fila do mercado

ela faz amizade e já leva o pessoal para casa, faz strogonoff, feijoada.

E como foi o início? Quando jogava futebol, tinha três amigos. Um deles é meu DJ e os outros dois são meus produtores. A mãe do DJ faleceu e o pai já tinha morrido. Ele não tinha mais ninguém para se apoiar. Um dia, estávamos nós quatro, e fomos jantar. Abri a porta da geladeira e só tinha um pote de manteiga. Achei aquilo um absurdo. “Não é possível, Deus, que a gente vá viver essa vida miserável.” Tinha que fazer alguma coisa para ajudar esses moleques. Antes da mãe do meu amigo falecer, ela falou: “filho, fica próximo do Daniel. A amizade de vocês é verdadeira e isso vai render bons frutos para vocês”. Isso ficou na minha cabeça. A gente foi jantar, compramos pão e comemos pão com molho de tomate. Estava sentado, fiquei olhando e falei que ia cantar, que ia virar artista. “Vou aprender a cantar, vocês dois vão ser meus produtores e você vai ser meu DJ. Se vocês acreditarem em mim, vai dar certo. Todo mundo vai zoar, humilhar a gente, falar que a gente não vai conseguir. Vai ser nós contra o mundo até a gente provar que consegue. Vou estudar e correr atrás, vocês vão estudar e correr atrás de serem bons também.” Tem dias que a gente chora todo mundo, coloca louvor, música gospel. Faz quatro shows lotados, cheios de gente, ganha dinheiro e quando vai ver, na van, está todo mun -

“Para mim, é importante o processo, a luta, levantar do sofá e correr atrás, pedir oportunidade, tentar”

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do chorando. Para mim, é importante o processo, a luta, levantar do sofá e correr atrás, pedir oportunidade, tentar. Uma frase que eu tenho para mim: “vontade supera talento”. Pelo talento você pode ser melhor que eu, mas se não tiver vontade, um dia vou te passar.

Você recebe muitas mensagens?

As pessoas me mandam mensagens todos os dias: “deixei de me suicidar porque vi um vídeo seu”; “sai da depressão, da ansiedade, por causa de você”. Ontem mesmo, veio na van uma menina com o pulso cheio de cicatrizes. Ela começou a chorar. Sempre dou um abraço e falo: “calma, o que está acontecendo?”

Já começo a brincar e a pessoa vai se acalmando. Ela contou que deixou de se matar por minha causa. Nem conheço a pessoa e ela deixou de se matar, saiu da depressão, porque viu um vídeo engraçado meu. Isso é muito louco. Tem dia que eu acordo e não estou bem para fazer vídeo, mas já vejo as mensagens perguntando onde eu estou. Em um story, às vezes, tem 1500 respostas, posto 50 por dia.

Quais são seus sonhos hoje? Gosto de ajudar as pessoas. Não quero ter dez carros, dez casas. Se tiver uma e os caras que trabalham comigo, minha vó, meu irmão tiverem uma também, já

tá bom. Não quero ter porque quando eu morrer, não vou levar nada. Agora imagina se eu der 100 carros para 100 pessoas? Quando eu morrer, vão falar: “esse cara era gente boa”. Os caras brigam comigo todo dia porque saio dando as coisas para todo mundo. Tênis, roupa. Os caras falam: ‘“você tá achando que é o Silvio Santos? Você ainda não tá rico”. Eles ficam doidos, mas eu falo: “Deus está vendo que estou fazendo de coração, ajudando os outros, e vai me dar mais dinheiro para eu ajudar mais ainda”. Quero ajudar as pessoas, isso preenche meu ego. Ontem ganhei uma pulseirinha de ouro no show. Estava no camarim, entrou a mãe de um menino e falou: “meu filho é autista, ele vai entrar aqui e tirar uma foto com você, ele é muito seu fã”. O moleque tirou a foto, olhei para ele e dei a pulseira de ouro. Sei que não tenho que ficar dando dinheiro para todo mundo, tenho que ser pé no chão, mas o tanto de gente que estou ajudando desde que estourei, ninguém pode falar um “A” de mim. Esses dias meu pai me “pegou no pulo” pagando conta de água e de luz dos outros. Se eu for merecedor e estiver fazendo certo, Deus vai me ajudar mais ainda. Pra mim o poder da fé é isso, ajudar as pessoas. Confio nisso. Modestamente, sei que um dia vou ser muito grande, porque estudo muito.

“Pra mim o poder da fé é isso, ajudar as pessoas. Confio nisso. Modestamente, sei que um dia vou ser muito grande, porque estudo muito”

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“antioxidante pra cabelo?”

COMPRE PELO WHATSAPP
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ÍDOLO DE UMA GERAÇÃO, MC GUIME JÁ CONQUISTOU MILHARES DE FÃS, FEZ GRANDES PARCERIAS, LEVANTOU MULTIDÕES E SEGUE SENDO UMA REFERÊNCIA NO “FUNK OSTENTAÇÃO”
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Por Fernanda Ávila e Vivian Monicci Fotos Miro Styling Lucas Brotto Beleza Ju Shinoda 5 min
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Guime é Guilherme Aparecido Dantas. Um dos maiores nomes do “funk ostentação”. Seu hit de maior sucesso, País do Futebol , foi hino da Copa do Mundo de 2014, tema de novela da Globo, teve participação do rapper Emicida e, de quebra, Neymar no videoclipe. Um sonho para o menino que nasceu prematuro, com poucas chances de falar e andar, teve uma infância difícil na cidade de Osasco e superou muitas dificuldades antes de se tornar o fenômeno que é hoje. Casado com a também funkeira Lexa, MC Guime adora falar de amor, é muito ligado à família e tem uma fé inabalável. Com 13 anos de carreira, inspirou uma geração de artistas e hoje se diz inspirado pela nova geração de músicos que segue seu legado e contribui para a renovação da música brasileira.

Como você começou?

Comecei, na infância, a escutar Racionais, Trilha Sonora do Gueto e vários outros grupos do rap nacional. Todos aqueles raps me traziam histórias, eu praticamente criava filmes na minha mente. Sempre tive uma mente “viajante”. Estava ali em Osasco, na “quebrada”, mas com a “cabeça na lua”. Quando eu tinha 12 anos, teve um um show de talentos na escola. Eu e mais dois brothers escrevemos uma letrinha de rap. Um dos brothers cantou e eu ficava só do lado fazendo um break meio fajuto. Comecei a curtir e a galera gostou. Conforme a idade foi passando, comecei a criar a responsabilidade de mudar a vida dos meus pais, pelas condições financeiras,

que não eram favoráveis. Acreditei que eu poderia me tornar músico através do funk. A escola também foi um ponto de encontro. Nos intervalos a gente sempre fazia uma brincadeira e comecei a rimar ao vivo. Meus amigos começaram a falar: “meu, você manda bem”. Aí fiquei com aquilo na mente, comecei a imaginar que poderia ser uma pessoa de sucesso. Quando falei pro meu pai que queria ser MC, ele disse: “‘cê’ é louco, isso não vai dar certo, vai arranjar um trabalho”.

Compor era natural pra você?

Sim, graças a Deus. Às vezes eu ia na casa de alguns amigos e voltava a pé rimando as coisas que eu via, tipo as divulgações nos banners, o nome do boteco, da oficina. Descobri que sabia construir letra, melodia e comecei a colocar mais emoção, mais sentimento. Tem uma música minha, Eu já quis , que fala disso, de sonhar, de acreditar. Mesmo desacreditado eu tirava forças de algo superior e continuava correndo atrás. Aquilo começou a inspirar outras pessoas.

Em que momento você falou: “agora tá dando certo”?

Quando fiz a música Eu já quis , comecei a receber mais mensagens de fãs. Aí aconteceu uma história muito bacana, porque essa música tem uma frase que é do Emicida e ele já era um cara que eu admirava, mas nós não nos conhecíamos pessoalmente. Ele entrou em contato comigo: “pô, gostei dessa música aí e tal”. Comecei a trocar uma ideia com ele e refiz a música falando assim:

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“Sempre tive uma mente ‘viajante’. Estava ali em Osasco, na ‘quebrada’, mas com a ‘cabeça na lua’”

“gratidão, Emicida, pela colaboração”. Aí criei um vínculo com o Emicida. Essa música começou a me trazer coisas desse tipo. Depois lancei a música Tá Patrão e fiz o primeiro videoclipe. Essa música abriu vários caminhos pro “funk ostentação”. Foi absurdo, naquela época era difícil bater homepage do YouTube. Lembro que eu tinha um vizinho que trabalhava com internet e não acreditava muito no meu trabalho. Aí ele viu a minha música no YouTube e foi lá falar pro meu pai: “seu filho tá aqui na capa do YouTube”. Aquilo ali me deu força pra eu provar pro meu pai, não por raiva, mas por amor, que eu estava fazendo algo bom. Essa energia ajudou a regar essa plantação.

E como você está enxergando hoje o funk? Nos meus 13 anos de carreira, vi o funk dar um pulo gigante. E eu fico muito feliz, porque é a arte que me deu vida, é a arte que eu represento. E eu sou representado por ela. E sou grato aos novos artistas que fazem esse trabalho acontecer. Porque, assim como eu tive artistas que me inspiraram, agora eu também inspiro.

Teve algum momento muito marcante na sua carreira?

Eu estava lembrando esses dias, chega até a me arrepiar, que tive a honra de ser entrevistado pelo Jô Soares. Ele me tratou superbem, gente finíssima. Eu fiquei nervoso, quase me deu “piriri”, fiquei em choque. Levei meu pai nesse dia. A gente foi sempre muito cristão em casa,

sempre teve muita fé em Cristo, e aí eu falei para ele: “é isso, tô aqui para viver esse sonho”. E dali surgiram coisas maravilhosas na minha vida.

O que a música País do Futebol representou na sua carreira?

Foi o momento que eu conheci o Neymar. A gente passou a ter contato e aí foi daí que eu tive a ideia de fazer a música. Teve outros momentos inesquecíveis, como gravar o clipe com ele e com o Emicida. O que foi muito bacana, que também é inesquecível até para os fãs, foi a gravação de Suíte 14 , do Henrique e Diego, que bombou. O show teve mais de 50 mil pessoas, foi animal. E tem mais um momento especial – prometo que vou parar – quando cheguei no hotel pra fazer a festa de abertura da novela Geração Brasil . Eu lá no hotel de luxo, no Rio de Janeiro, pensei: “caramba, eu venci na vida mesmo, eu aqui tocando na trilha sonora da Globo”. São momentos que marcaram uma carreira muito abençoada. Sou muito feliz de ter feito tudo isso que fiz até hoje e muito animado para continuar fazendo pelo tempo que Deus me permitir.

Falando em continuar fazendo, quais são seus próximos projetos?

Esse foi um ano de bastante renovação espiritual e física. Depois de sete ou oito anos vivendo uma correria intensa, comecei a cuidar mais de mim. Eu vivi muita pressão nesse tempo e teve um momento que isso não estava me fazendo bem. Mas, graças a Deus, eu tô animado

“Esse foi um ano de bastante renovação espiritual e física. Depois de sete ou oito anos vivendo uma correria intensa, comecei a cuidar mais de mim”

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agora. Inclusive, do meio do ano para cá, comecei a me sentir inspirado de novo e a gravar muitas músicas em estúdio. Tô com muita música nova pra lançar.

Como é a sua relação com as redes sociais?

Teve momentos que fiquei duas semanas sem postar porque não estava me fazendo bem. Mas as redes sociais são essenciais, a gente não vive sem. Acho importante o artista se atualizar. Tem que ter uma estratégia, fazer toda a programação de lançamento e divulgação. A rede social é o mecanismo que a gente tem para chegar nas pessoas do jeito mais rápido. E a gente faz isso acontecer com a tecnologia. Mas a galerinha tem que tomar cuidado, porque é comprovado cientificamente que a rede social também influencia muito nessa questão de ansiedade, depressão.

Curiosidade, você sabe quantas tatuagens já fez?

Costumo dizer que quando a gente vai juntando as tatuagens, elas vão se tornando uma só. Acredito que eu tenho 65%, no máximo 70%, do corpo tatuado.

Você tem uma preferida? Eu fiz o rosto da “patroa”.

Como vocês se conheceram?

Eu acredito que tudo tem um porquê, mesmo que pareça coincidência. E esse dia foi o seguinte: o MC Sapão, que não está mais entre nós, teve um problema de agenda e não conseguiu ir a um show que ia fazer comigo em São Paulo. Nesse dia a Lexa veio cobrir o show, porque eles eram do mesmo escritório. Eu já conhecia o trabalho dela e ela conhecia o meu. Ela fala que eu fui muito educado, um gentleman. Depois de dois dias eu chamei ela no WhatsApp, fui atrás, e a gente se encontrou para jantar. Estamos há quatro anos casados, sete anos juntos.

O que te inspira?

A minha fé. E também ver pessoas vencendo. Sempre fui uma pessoa apaixonada por histórias de superação. Costumo dizer que eu sou um milagre. Quem conhece a minha história sabe que eu nasci prematuro. O médico deu o laudo de que eu não iria falar, que eu teria quatro anos de atraso mental, que eu iria usar cadeira de rodas. Mas, graças a Deus, aquilo foi só um susto. Meu pai sempre acreditou em mim, é uma pessoa que me inspira. Minha vontade é retribuir não só para ele, para minha família, mas para o mundo todo. Sempre fui a favor do amor, do respeito, do carinho, das coisas boas da vida.

“Sempre fui uma pessoa apaixonada por histórias de superação. Costumo dizer que eu sou um milagre”

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RODOLFO MARTINS COSTA É O MC RODOLFINHO, ARTISTA COM 26 ANOS DE VIDA E DEZ DE CARREIRA. FUNKEIRO CRIADO COM AMOR, O ARTISTA FALA DE SONHO, MOTIVAÇÃO E REALIZAÇÃO

Por Cristiane Batista Fotos Miro Beleza Ju Shinoda Cabelo Jhonatan Gonçalves da Silva 5 min

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“Funk Ostentação?” Para ele é “Funk Superação”. Mc Rodolfinho (re)escreve sua história, que começou na periferia até explodir nas redes e festas “de geral” nos anos 2000 com hits como Os mlk é liso , Como é Bom Ser Vida Loka e Chora Boy , cujo clipe tem mais de 100 milhões de visualizações no YouTube. Como no nome de seu primeiro disco, de 2020, ele segue Contrariando as Estatísticas . Com frases como: “Foguete não tem ré, ´nois´ só anda pra frente”, “Aqui não tem coitadinho, foi Deus que lapidou”, “Aceita que a favela tá no auge, ou então desacredita pra ver se ‘nóis’ é de verdade“, Rodolfo Martins Costa, mais conhecido como MC Rodolfinho, colhe os louros de uma carreira que começou aos 16 anos. Influenciado pela rima dos Racionais MC’s e por funkeiros cariocas e da Baixada Santista, começou a cantar e compor na periferia de sua cidade, Osasco. Hoje, aos 28 anos, ostenta o êxito na carreira de MC posando com roupas de marca, motos e carros importados por todo o país, tornando-se uma referência ao lado de outros MCs, como: Lon, Guimê, Dedê, Boy do Charmes e Nego Blue. E ele quer mais, muito mais.

Como foi o seu começo e a que atribui todo esse sucesso?

Acho que ao amor. Fui um menino que não tinha muitas condições financeiras, mas tive muita sorte por ter nascido em uma família de muito amor. Fui o primogênito da família, das “primaiada tudo”. Fui o primeiro e só tenho um irmão, então acho que todo esse carinho contribuiu para que eu não desistisse dos meus sonhos. Meu pai, Washington,

também é uma grande referência. Ele tinha uma dupla de música sertaneja, sempre tentou fazer sucesso na música. Não explodiu, mas gravou CD e fazia shows em barzinhos, sempre me incentivando a seguir. Me deu um CD da dupla de repentistas Caju e Castanha que quase furou de tanto tocar lá em casa. Eu morava em uma rua que era bem no limiar com a favela e ali eu fui conhecendo como é que era o linguajar, como que era o meu mundo. Um amigo me apresentou o som dos Racionais MC´s, que falava das relações sociais, da política e do acesso a tudo a que temos direito. As coisas como carros, por exemplo, que sou apaixonado, aí de cara me identifiquei. Não sabia se seria mesmo um cantor, aí vi um Mc chamado Zói de Gato, que faleceu supercedo, aos 16 anos, e foi um dos pioneiros do funk e resolvi ir atrás disso também. Uma das primeiras músicas que estourou foi Osasco é o Afeganistão . Ela fala de bairros de lá, como Metalúrgica, Jaguariba, Bela Vista, Santo Antônio, Vila Iolanda, Jardim Roberto… Na letra, diz: “Pra quem desacreditou/ é eu mesmo que tô na fita, Rodolfinho boladão/ se casca, os bailes estão na pista/ se respeita, é respeitado/ se ramela, é cobrado/ O nosso pavio é curto/ te apresento: esse é Osasco”.

Você está falando de representatividade, de as pessoas ouvirem a música e se identificarem…. Sim, também fui colocando os nomes dos meus amigos nas músicas, pegava uma batida do YouTube, e contava a história das pessoas. Logo começou a rolar uma repercussão, porque falava

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“Fui um menino que não tinha muitas condições financeiras, mas tive muita sorte por ter nascido em uma família de muito amor”
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dos “rolês” do dia a dia, as pessoas se sentiam representadas ali. Meu estilo foi mudando. Tem o chamado “funk proibidão”, que fala da realidade de gente que foi assassinada, de fatalidades, de um amigo que está preso. Estimulado pela minha família, preferi falar de sonho, de coisas que podemos ter, de realizar, de motivar as pessoas, ir pra cima, construir. A mídia chama isso de “funk ostentação”, mas eu prefiro dizer que é “funk superação”. Então, quando a gente muda o linguajar e as linguagens, começa a atingir outros públicos também. Aí veio o lance do videoclipe, a gente poder pensar em locações, nos carros, no que ia usar pra compor...

Como era a produção e divulgação do trabalho antes desse apoio audiovisual, dos videoclipes?

A gente mesmo produzia nossas músicas. Eu trabalhava em uma loja de celular e todo o dinheirinho que eu conseguia juntar, pagava na produção de uma música. Foi aquele negócio de acreditar mesmo, não tem aquele clichê de que o universo conspira? Eu sou desses e sempre falei pra minha família: “vou investir nisso daqui porque tenho certeza de que a nossa vida vai mudar”. Eu, o Mc Guimê, que também é de Osasco, e muitos outros. A gente fazia o som em casa e passava pros outros por celular, que nem tinha muita tecnologia na época. Demorava muito para transferir um arquivo, e aí depois a gente tocava nas festas e ia passando um pro outro. Com o videoclipe, tudo ficou mais atrativo,

então entrei nessa onda também. Lembro que no começo, era tudo na base da parceria: roupas, carros, modelos, joias. Com os clipes, aumentamos o alcance das músicas, indo muito além dos nossos bairros e cidades e fui um dos primeiros a fazer matérias e participar de programas de TV, foi muito legal. E melhor: foi tudo muito orgânico. A música Os mlk é liso , por exemplo, foi parar no jogo de videogame Dream League Soccer , e tem como fãs gente como Neymar e o Gabriel Jesus, que sempre curtem as minhas postagens.

Quais são os próximos lances do Mc Rodolfinho e o que diria para quem ainda tem preconceito com o funk? Além de continuar na música, estou empreendendo em um novo ramo e abrindo um gastropub . Quero ganhar mais, ter mais coisas, ajudar mais gente. Hoje faço três shows em uma noite e estou mais maduro, acho legal dar um bom exemplo para a minha equipe, mostrar que existe muito mais do que curtição nesse mundo. Sobre o funk, acho que quem tem preconceito, precisa prestar mais atenção ao que estão ouvindo, porque às vezes a música fala a mesma coisa, só que com outra linguagem. O funk não é o vilão. Qual é o preconceito? Com a fala, a roupa? O funk está dando emprego, ajudando famílias, sendo oportunidade para muitos jovens de periferia que, como eu, escaparam do crime e que também acreditam que a vida pode ser melhor pra todo mundo. O universo conspira!

“Estimulado pela minha família, preferi falar de sonho, de coisas que podemos ter, de realizar, de motivar as pessoas, ir pra cima, construir”

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“O funk está dando emprego, ajudando famílias, sendo oportunidade para muitos jovens de periferia que, como eu, escaparam do crime e que também acreditam que a vida pode ser melhor pra todo mundo”

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NEGRA LI É UMA DAS MAIORES VOZES DO RAP NACIONAL. COM QUASE TRÊS DÉCADAS DE CARREIRA, TORNOU-SE REFERÊNCIA NA CENA MUSICAL BRASILEIRA, ALÉM DE TER INTERPRETADO PAPÉIS DE DESTAQUE NO TEATRO, CINEMA E TELEVISÃO
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Por Fernanda Ávila e Vivian Monicci Fotos Miro Styling André Puertas Beleza Camila Anac 5 min

Negra Li é Liliane de Carvalho, cantora, compositora, atriz. Mãe de Sofia, 13 anos, e Noah, 5, nasceu na Vila Brasilândia, periferia de São Paulo e sempre teve o sonho de ser artista. Despontou na música em 1996, quando entrou para o RZO (sigla para Rapaziada da Zona Oeste). Em 2005, Negra se lançou em carreira solo. Entrou para o time da Universal Music, tornando-se a primeira rapper brasileira a assinar com uma gravadora multinacional. De lá pra cá, conquistou um público fiel, fez várias parcerias e arrebatou muitos prêmios, além de atuar no teatro, no cinema e na televisão. Em 2006 interpretou Preta no longa-metragem Antônia. O filme fez tanto sucesso que se tornou uma série com duas temporadas, produzida pela O2 Filmes em parceria com a Rede Globo e chegou a ser indicada ao Emmy Internacional na categoria Melhor Telefilme/Minissérie. Na sequência, participou do filme 400 contra 1, que retrata a história do Comando Vermelho. No teatro, fez a Maria Madalena no musical Jesus Cristo Superstar, com direção de Jorge Takla e Vânia Pajares. Negra Li também interpretou a personagem Fátima na série Z4, produzida pelo Disney Channel em parceria com o SBT, participou da série O dono do lar, no Multishow e integrou o elenco de O Segundo Homem, de Thiago Luciano, que conta a história de um Brasil com porte de armas liberado. Atualmente, Negra Li vem lançando singles que fazem parte do seu quinto álbum, ainda sem previsão de estreia. Com músicas empoderadas e autobiográficas que falam sobre superação e autoconhecimento, ela mostra toda a sua maturidade profissional e pessoal.

Como o rap entrou na sua vida?

Eu gostava muito de cantar na sala de aula. O pessoal pedia para eu cantar. Um amigo tinha um grupo e a backing vocal estava saindo, ele me chamou e eu topei. Eu tinha uns 15 anos. Cheguei a fazer alguns shows com esse grupo até perceber que não dava mais, porque andávamos muito a pé na madrugada e não ganhávamos nada. Aí fui fazer o último show com esse grupo. E nesse último show, o RZO estava lá. Ele me viu cantar e fez o convite para gravar a música Paz Interior, a primeira que eu gravei. Eu fiquei com o contato deles no bolso por um tempo até que uma amiga minha me encorajou, dizendo que eram o segundo maior grupo de rap. Eu não sabia, eu não entendia nada sobre rap. Eu sou de uma família evangélica, só fui ver televisão com 12 anos. Música, eu só ouvia pela rádio ou no walkman dos meus irmãos. Minha mãe sempre foi muito querida, uma mulher maravilhosa, sempre ouviu muito o que tínhamos para falar, ela sempre me apoiou, ouvia a música e dizia: “nossa, gostei do que fala”. Meu pai já falava que era porcaria (risos). Na escola, eu sempre questionava tudo. A aula terminava, a sala esvaziava e eu continuava lá perguntando coisas para a professora. Eu também era muito boa em redação. Então, o rap tinha a ver comigo mesmo sem eu saber. Com o rap, eu consegui colocar para fora tudo o que eu sofria direta ou indiretamente.

Como você enxerga a mulher inserida no rap e o que mudou desde quando você começou? Acho que as mulheres decidiram ocupar o espaço delas do jeito delas, com a in-

“Na escola, eu sempre questionava tudo. A aula terminava, a sala esvaziava e eu continuava lá perguntando coisas para a professora”

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dependência delas. Elas tiveram que se autoproduzir, autodirigir, compor e fazer de tudo para serem ouvidas. As pessoas sempre perguntam se tinha mulheres na época em que comecei no rap e eu respondo que tinha sim, muitas, mas elas não tinham a visibilidade que mereciam. Hoje, o que está acontecendo é que, com a democratização da internet, ficou mais fácil dar voz para quem antes não tinha. Antes, dependíamos de contrato de gravadora e de acesso à televisão. Então, a internet ajudou bastante as mulheres a mostrarem o seu trabalho sem precisar passar por um teste ou uma aprovação. Era bem difícil uma mulher ser ouvida, muito mais ser aprovada. O CD era arquivado, ninguém ouvia ou prestava atenção. Quando eu cheguei, já tinha algumas mulheres, mas eu tive maior visibilidade porque tive a oportunidade de entrar no grupo RZO.

Quais artistas do rap você tem escutado atualmente?

Adoro Megan Thee Stallion e Cardi B. Ouço bastante R&B, jazz, blues, Aretha Franklin, Nina Simone. Eu gosto de beber da fonte.

Como foi o convite e a experiência de participar do Masked Singer ?

Foi engraçado. Estava em uma época meio conturbada, gravando filme e aí me convidaram para fazer o programa. Foi um convite irrecusável, eu adoro

desafio, aprendo muito com experiências diferentes. Eu me via no Masked Singer , tentando cantar diferente, mas fiz isso muito mal, porque de primeira acertaram (risos). Eu cantei uma música da Ludmilla. Foi divertido e trabalhoso ao mesmo tempo.

Como a atuação entrou na sua vida e como você vê a sua faceta de atriz?

Eu já queria atuar, tinha feito curso de cinema, teatro e televisão. E em 2004, veio a oportunidade de participar de Antônia . Daí em diante, não parei mais, fui fazendo alguns trabalhos, principalmente no cinema. Tento conciliar música e atuação.

Cantar e atuar tem o mesmo grau de dificuldade para você?

Os dois têm o mesmo grau de dificuldade, mas cantar foi uma coisa que veio comigo naturalmente, eu já conseguia imitar as cantoras que eu ouvia, eu chamava atenção das pessoas com isso. Mesmo assim, não é fácil.

Conte um pouco sobre o seu novo álbum. Estou produzindo um disco novo. Comecei ano passado, soltei duas faixas e fui entendendo como o mercado pretendia me receber, como as pessoas estavam me ouvindo. Lancei mais duas faixas no começo desse ano. E, recentemente, lancei Malagueta . Adoro essa liberdade de poder lançar singles sem ter um disco todo pronto, porque você

“Era bem difícil uma mulher ser ouvida, muito mais ser aprovada. O CD era arquivado, ninguém ouvia ou prestava atenção”

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consegue entender melhor o público.

Foi ótimo ter feito essa espera. Hoje, meu disco está praticamente fechado, gostoso e interessante. Não sei ainda quando vou lançar. Tem coisas que fazem a gente mudar o trajeto.

Você gosta de participar da parte visual e da produção artística dos clipes, capa de disco etc?

Sim, eu gosto de participar de todas as reuniões, dar pitaco e entender tudo. Acho que o artista tem que estar entregue em todos os aspectos do seu trabalho para atingir mais profundidade. Estou entendendo o quão importante é o visual e a arte. Acho importante quando olhamos uma imagem e conseguimos identificar o que está por trás dela, facilita a comunicação. Para o rap, tem uma postura e um semblante diferente, mais forte, porque o que eu quero dizer é sobre a minha história, algo que emociona. Já o pop é mais ousado e passa uma mensagem diferente. No pop, a mensagem que se quer passar não necessariamente está na letra da música, muitas vezes está por trás.

Eu só fui entender o pop estando nele e vendo como ele trazia mensagens importantes de empoderamento, foi só analisando trabalhos de artistas como Beyoncé, Madonna, Lady Gaga. Eu entendi quando fui além do ouvir e parei para analisar. O visual delas quer dizer alguma coisa, a postura, a frase, tudo. Eu também amo o público do pop, eles pesquisam tudo, entendem cada parte da música, vão atrás.

Como é a comunicação entre você e o seu stylist ?

Eu passei por alguns stylists até me encontrar com o André. Eu tinha outro stylist que marcou bobeira, se ocupou no dia em que eu ia fazer uma revista e mandou o André no lugar. Foi amor à primeira vista (risos). Nós dois olhamos muito para outras mulheres pretas para ter referências. O André respeita muito as minhas fases e facetas. Ele entendeu que sou virginiana com ascendente em escorpião (risos). Entendeu que sou várias mulheres, tenho épocas, tenho momento para tudo. Eu gosto de mudar e de contar histórias.

“…sou várias mulheres, tenho épocas, tenho momento para tudo. Eu gosto de mudar e de contar histórias”

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Look Dolce & Gabbana
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PAPATINHO É UM VANGUARDISTA NO USO DE SAMPLES. MISTURA VOZES E ESTILOS, É UM DOS MAIORES EXPOENTES DO TRAP NACIONAL E RECONHECIDO MUNDIALMENTE PELA QUALIDADE DO SEU TRABALHO Por Fernanda Ávila e Vivian Monicci Fotos Miro Beleza Mel Freese 5 min

Papatinho é Tiago da Cal Alves. O apelido foi dado pelos amigos de infância Ari, Batoré, Cert, Maomé e Rany Money, integrantes da ConeCrewDiretoria, grupo de rap carioca que surgiu em 2006. Enquanto os cinco amigos rimavam, ele percebeu que poderia se expressar melhor por meio das batidas e iniciou uma carreira de beatmaker e produtor que logo conquistou o respeito da indústria musical no Brasil e no mundo. Desde então, já assinou parcerias com artistas como Anitta, Seu Jorge, Marcelo D2, Gabriel O Pensador, Black Alien, Sabotage, L7NNON, Marcelo Yuka, Mr. Catra, Ferrugem, Ludmilla, Will.I.Am, Black Eyed Peas e Snoop Dogg. Entre seus hits mais recentes estão Final de Semana, com Seu Jorge e Black Alien, que é sucesso nas rádios de todo país; o drill Deu Aulas, com BK e L7NNON e Que Rabão, em que reuniu Kevin O Chris, YG e Mr. Catra para o álbum da Anitta. Papatinho também é anfitrião do Baile do Papato, festa que, antes da pandemia, chegava a reunir mais de três mil pessoas. Em 2021, o evento voltou e reuniu MD Chefe e Dom Laike, Teto e Gabigol, ou melhor, Lil Gabi, nome artístico do atacante do Flamengo que se lançou na música graças ao Papatinho.

De onde surgiu o apelido “Papatinho”? Meu apelido veio de sapatinho, uma variação. Por isso que eu uso esse cadarço de sapato na cabeça. No início, achava um pouco estranho, mas depois me acostumei e agora acho maneiro.

E como foi seu início na música?

Eu sou autodidata. Comecei por acaso, não era o meu plano trilhar uma carreira de pro-

dutor musical. Nem sabia que existia isso, na verdade. Mas meus amigos começaram a escrever umas letras, umas rimas e eu queria fazer aquilo acontecer de alguma forma. Comecei a fazer os beats, usando samples. Fui na raça testando e errando. Me apaixonei pela parada e passei a não dormir mais, trabalhar toda madrugada nisso. Até que consegui evoluir. O grupo ConeCrew, onde eu comecei, foi um fenômeno na internet.

Em que momento aconteceu a virada de chave na sua carreira?

A partir do ConeCrew, a gente ganhou visibilidade nacional, fez todos os maiores festivais do país, tinha fãs em tudo quanto é canto. Marcou uma geração inteira. Logo no início eu já estava assinando as produções, os beats, indo nos shows e tocando ao vivo. Os outros artistas do gênero, do rap, começaram a me procurar: Marcelo D2, Gabriel O Pensador, Black Alien. Comecei a produzir músicas para eles também. Mergulhei de cabeça nesse mundo e não sai nunca mais. Alguns anos depois, veio o pop, Anitta, Ludmilla. Hoje faço música para o pessoal todo.

Você tem parcerias nacionais e internacionais. Teve alguma que te deixou com muito frio na barriga?

Eu gostei muito de ter feito a música Final de Semana com o Seu Jorge e o Black Alien. Não só fazer uma música, mas fazer um hit que ficou no TOP 1 das rádios por bastante tempo. A música com a Anitta, Ludmilla e Snoop Dogg foi uma virada de chave, me abriu portas no pop. Hoje eu consigo trabalhar com a galera do rap que está começando e com artistas muito conhecidos em paralelo.

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“Comecei eu mesmo a fazer os beats, usando samples. Fui na raça testando e errando”
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Em um dia estou com um artista que nunca gravou em um estúdio e no dia seguinte estou com a Luísa Sonza. Pretendo continuar sempre assim, porque o meu desafio como produtor é descobrir novos talentos.

Como surgiu o seu selo, o Papatunes?

Eu não estava totalmente satisfeito com o que já havia alcançado, por mais que já estivesse feliz com tudo que consegui. Comecei a viajar muito para fora, busquei novas parcerias, trabalhei com artistas como o Black Eyed Peas… Tudo isso foi me dando bagagem para que eu me sentisse preparado para lançar um selo. Na Papatunes, temos o desafio de descobrir e lançar novos artistas. Temos toda a estrutura, desde a parte de estúdio até a distribuição digital, marketing, vendas de shows. A gente tem um caso muito legal que é o L7NNON. Ele apareceu com o sonho de fazer rap, já fazia umas letras, já tinha gravado alguns sons, mas até então era uma skatista. Hoje ele é um dos maiores artistas que a gente tem na cena. Temos muito orgulho de ter feito parte da caminhada dele.

Qual é a música da moçada no futuro?

Acho que o trap. No Rio de Janeiro ele já dominou a cena de uma forma absurda.

Tem algum outro gênero em que você gostaria de se aventurar?

Por acaso, acabei de fazer uma música com o Matheus Fernandes. Ele me mandou e eu produzi na minha onda, ele foi e mexeu na onda dele, mais voltada para o piseiro. Eu mexi mais e acabei chamando o Xamã para

entrar na música também. Esse tipo de coisa eu gosto de fazer, essa mistura de artistas e gêneros. Faço misturas inusitadas, tipo pegar o Ferrugem com o Kevin O Chris e o L7NNON, como eu fiz com a música Dois Copos. Pegar o Péricles, juntar samba com MC Hariel e Dfideliz. Esse tipo de mistura é meu trunfo.

Você está para lançar seu primeiro álbum. Como foi essa experiência? O que a gente pode esperar?

O meu primeiro álbum nem sei quando vai sair, porque todo dia eu mudo. Decidi trabalhar uma música de cada vez.

Tua música é a cara do Rio de Janeiro?

O Rio de Janeiro tem uma cultura de rua maneira, rola uma mistura de classes sociais. O pessoal que mora em uma favela e o pessoal que mora em condomínio de luxo vão na mesma padaria, na mesma praia. A música tem muito a ver com isso. Moleque começa a crescer ali, independente de ser da comunidade ou do condomínio, tem a mesma vivência, ouve as mesmas músicas. A gente tem esse lance, todo mundo é amigo, convive junto. Gosto muito desse lifestyle do Rio de Janeiro, que é onde cresci, onde comecei a fazer música. E agora o Brasil está muito forte no meu gênero, tudo quanto é canto tem gente fazendo trap. O Nordeste é uma das áreas mais fortes hoje no trap, então esse é o resultado de anos fazendo o que a gente faz.

Como surgiu a ideia, a inspiração de fazer um feat com a Juliette?

“A música com a Anitta, Ludmilla e Snoop Dogg foi uma virada de chave, me abriu portas no pop”

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A Juliette é uma artista que ganhou o Brasil, todo mundo se identificou com o carisma dela. É muito legal ver ela cantando, uma carreira sendo empresariada pela Anitta. Como produtor, sempre vou ficar ligado nessas paradas. Ela cabia muito bem dentro do Papasessions, um projeto colaborativo com artistas de outros gêneros. Assim que rolou essa junção, o L7NNON estava também, o Welisson, que é um trapper, mas por acaso fez um som cantando romântico, melodia bonita. Eu pensei que tinha tudo a ver com o projeto Papasessions. Acabou que o Xamã foi pro estúdio o outro dia e acabou entrando na música e assim as parcerias se formam.

E Baile do Papato. Como surgiu?

Eu nunca assumi essa identidade de DJ. Só que, de certa forma, eu estava sendo um DJ

dentro do ConeCrew e comecei a ser chamado para tocar em eventos e festas. Eu negava muito, se fosse para tocar, queria ter uma parada minha. Como sou produtor, o meu show conta com participações especiais o tempo inteiro. Tocou uma música, entra alguém, o artista que está por acaso na cidade manda mensagem e entra no show também para cantar uma música que fiz com ele. É uma mistura muito doida que foi evoluindo até que surgiu a ideia de fazer o Baile do Papato, que é exatamente isso, só que mais organizado, com diversas atrações. A gente já fez algumas edições, faz um show maneiro, tem o palco, sofá, mesa de sinuca. Fica o artista lá sentado no sofá, toca uma música, depois entra o Ferrugem, canta um refrão e vai jogar um fliperama. Essa é a vibe do Baile do Papato.

“Em um dia estou com um artista que nunca gravou em um estúdio e no dia seguinte estou com a Luísa Sonza. Pretendo continuar sempre assim, porque o meu desafio como produtor é descobrir novos talentos”

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Assessoria de imprensa Estar Comunicação
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PK DESPONTOU NAS BATALHAS DE RIMA, TEM O RAP E O FUNK NA ESSÊNCIA, MAS VEM SE DESTACANDO AO MISTURAR SUAS RAÍZES COM OUTROS GÊNEROS, COMO O SAMBA E O POP Por Fernanda Ávila e Vivian Monicci Fotos Miro Styling e Cabelo Renato Montesino Beleza Mel Freese 5 min P 96 TOP MAGAZINE EDIÇÃO 264 PK
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Pedro Henrique Pereira, o PK, nasceu na Ilha do Governador e iniciou sua jornada artística nas batalhas de MC do Rio de Janeiro. Foi em São Gonçalo, região metropolitana do Rio, na batalha do Tanque, que suas letras começaram a bombar na internet. Em 2016, integrou o grupo Class A e, junto aos rappers Igor Adamovich e Oik, misturou letras de rap com o funk carioca. Dois anos depois, a parceria chegou ao fim e PK se aventurou na carreira solo. A aventura deu certo: a música que inaugurou o novo momento foi o hit Quando a vontade bater , em colaboração com o DJ PK Delas, que atingiu ótimas colocações em plataformas de reprodução no Brasil, Portugal e Angola. O sucesso rendeu ainda um convite para participar do palco eletrônico do Rock in Rio 2019. Foi a primeira participação do artista em um dos maiores festivais do mundo. Neste ano, o convite veio mais uma vez e ele subiu ao palco no Espaço Favela, ao lado do MC Don Juan, no dia 3 de setembro. O artista, que já acumula 2,8 milhões de ouvintes mensais no Spotify e 142 milhões de views no YouTube, tem colaborações com Ludmilla, Luísa Sonza e outros grandes artistas. Apesar de ter como referência o rap e o funk, seu estilo se mistura com outros gêneros, como o samba e o pop. É exatamente essa característica versátil que vem conquistando um público cada vez maior.

Você acabou de voltar de uma turnê internacional. Sentiu diferença entre se apresentar no Brasil e lá fora? Na questão de apresentação, não tem

diferença nenhuma. O público lá é basicamente brasileiro. É o mesmo calor, a mesma energia que sentimos aqui. Às vezes, ao se apresentar lá fora, a gente ajuda as pessoas a matarem a saudade do Brasil. A diferença maior é na comunicação, porque eu não falo inglês e minha equipe também não fala muito, tivemos que nos virar. Mas foi um sonho, foram sete shows, todos muito intensos e calorosos. Em Orlando e Boston, muita gente ficou de fora, porque esgotou, aí fizemos dois shows nesses lugares.

Você lançou o selo musical Dreamhou$e . Conta um pouco sobre isso? É uma parceria minha com o Portugal (produtor Portugal No Beat) e com o Alexandre, que ajuda a cuidar da minha carreira. A gente quer ajudar pessoas que não têm tantas oportunidades.

Como foi fazer parceria com a Marvvila e com o Dilsinho?

Eu gosto de colaborar com todos os gêneros, todos os estilos musicais. A Marvvila me convidou para cantar Pagodeiro , uma música no DVD dela. E eu chamei o Dilsinho para cantar Coração de Gelo comigo, misturamos meu rap com o pagode dele. Acho que funciona muito bem, não só na questão de mercado, de trazer público, mas também na parte musical, de atingir novas sonoridades. É uma “parada” muito maneira que eu pretendo fazer sempre.

Quais são suas referências musicais?

Chorão, ele faz parte da história. E Travis Scott, que faz umas “paradas” muito doidas, muito à frente. Mas eu gosto de tudo!

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“Às vezes, ao se apresentar lá fora, a gente ajuda as pessoas a matarem a saudade do Brasil”

Como é o seu processo de composição?

Eu componho sobre tudo o que eu vejo, sobre tudo o que eu vivo. Vou anotando no celular, onde der. Tem que anotar para não esquecer. Às vezes, tenho que sair do banho correndo para anotar (risos).

As plataformas que existem hoje ajudam no rap?

As plataformas ajudaram muito, porque a maioria dos artistas de rap são independentes. Sem as plataformas digitais e a internet, fica muito mais difícil expandir e mostrar o som para o número de pessoas que o rap atinge hoje.

As grandes mídias dão atenção pra você? Está melhorando, elas estão meio que

sendo forçadas. Quem não levar fica para trás, o número de pessoas que o rap está movimentando é muito grande. O rap não abriu as portas, ele arrombou.

Quais foram as primeiras coisas que você quis adquirir quando começou a ganhar dinheiro?

Eu tinha muito medo de quanto iria durar, eu guardava muito, até que consegui comprar um apartamento, era um sonho.

Quais os seus sonhos agora?

Sou muito grato. Graças a Deus, já realizei vários sonhos. Gostaria que alguma música minha virasse um canto da torcida do Flamengo um dia. Se isso acontecer, não preciso de mais nada (risos).

“Eu componho sobre tudo o que eu vejo, sobre tudo o que eu vivo”

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“Gostaria que alguma música minha virasse um canto da torcida do Flamengo um dia”
Assistente de styling Alexandre Júnior
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Assessoria de imprensa Estar Comunicação

PROJOTA, UM DOS MAIORES NOMES DO RAP NACIONAL, REVÊ SEU INÍCIO E PROJETA O FUTURO ESCREVENDO O DIA A DIA COM O MESMO OLHAR DE “MULEQUE DE VILA”

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Por Cristiane Batista Fotos Miro Styling Rapha Mendonça Beleza Ju Shinoda 5 min
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O menino sonhador “da quebrada” de Lauzane Paulista, zona sul de São Paulo, celebra os 20 anos de carreira como um dos maiores de seu segmento, com mais de 1 bilhão e meio de streamings no Spotify, três singles de Diamante, 14 de Ouro, dez de Platina, seis de Platina Duplo e mais de 20 milhões de fãs em suas redes sociais. Neto da Dona Lourdes, filho da Dirce, irmão do Cristiano, marido da Tamy, pai da Marieva. José Tiago Sabino Pereira, mais conhecido como Projota, é um cara família. Tímido na infância e na adolescência, não saía muito de casa: as quermesses da igreja do bairro eram a “balada”, o “rolê”, até encontrar parceiros de rima e vida e ver seu destino mudar. Hoje um dos maiores nomes do rap nacional, ajudou a popularizar o ritmo, aproximando-o de outros estilos musicais e quebrando preconceitos. Com 20 anos de carreira, 12 discos, um BBB na bagagem e muita história pra contar, ele prova que valeu à pena acreditar no seu sonho e que tudo era só uma questão de tempo. E era!

Como foi o início? Quem te vê assim, reconhecido popularmente, “na beca” e de carro importado, não imagina o começo. Como e quando descobriu que a música poderia ser o seu caminho e poderia viver dela? Eu era superacanhado, mas se me dessem uma chance de me apresentar, eu

ia. E fui. Hoje eu consigo analisar e ver bem: era exatamente nos momentos que eu tinha com a arte, que eu perdia a timidez. Lembro da primeira vez que cantei qualquer coisa na frente de alguém: foi uma música na aula de matemática que eu inventei sobre o cubo da soma de dois termos. Mais tarde, no ensino médio, eu já gostava de rap e fiz um sobre o assassinato de judeus no Holocausto. Ensaiei, montei uma banda, cantei e sabia que estava bom. E a professora chorou. Tipo, ela não dava nada pra mim, porque eu não participava muito da aula dela, eu não estava mostrando o que eu tinha. Ela me abraçou e falou: “menino, como você fez isso? Essa é uma oportunidade muito única e muito rara de tocar o coração de uma pessoa”. Aí todo mundo me abraçou e eu pensei: “gosto desse negócio de todo mundo me abraçando”. Ninguém me abraçava. Eu era um menino quietinho, mais na minha, não era exatamente popular. Aí eu falei: “pô, de repente esse é um caminho pra eu conseguir isso daí”. Isso me deu mais força pra fazer música. Esse é meu “rolê”. Daí pra diante, pro pessoal da minha sala, eu virei celebridade.

Como foi a expansão do seu talento para outros públicos? Sempre falo sobre oportunidades. Na minha época, não tinha muitas condições e nem acesso a elas, a gente fazia

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“Eu e meus amigos não conhecíamos outros grupos, outros rappers, pessoas que pudessem ensinar alguma coisa pra gente”

tudo só na “quebrada”. Era um “rolê” independente de rap, porque eu não ia pra balada, eu ia pras quermesses de maio a julho e essa era a nossa alegria. Eu e meus amigos não conhecíamos outros grupos, outros rappers, pessoas que pudessem ensinar alguma coisa pra gente. Era só eu e mais meia dúzia de amigos que queriam fazer rima, um aprendendo com o outro, e não tinha como expandir esse horizonte. A gente usava caixa de sapato pra fazer percussão. Ganhei um violão do meu irmão Cristiano e gravava a base em cima das fitinhas cassetes da minha avó Dirce. Inclusive, tenho que pedir desculpas pra Leandro e Leonardo e Zezé di Camargo e Luciano, porque eu gravava tudo em cima das fitas da minha vó, mano. Meu irmão viu que eu acreditava mesmo que ia dar tudo certo e resolveu apostar e investir em mim. Ele é mais velho, sempre foi muito estudioso e aplicado, colocava dinheiro em casa, ajudava a família toda. Nunca chegou pra mim pra dizer: “Vai arrumar um emprego!” Era sempre: “E aí, como é que tá?” Nesse período, entreguei folheto, fui estagiário de informática, entrei na faculdade de Educação Física, conheci outros rappers e participava das batalhas de rima, em duelos em que era eu contra cinco, cada um dava um real, quem ganhasse levava os cinco reais. Às vezes o prêmio era um boné, uma camiseta, um tênis, por exemplo. Foi tudo muito aos poucos, mas a gente era muito obstinado e sabia que ia estourar: eu, o Rashid e o Emicida, “os três temores”, como a gente falava. Aos poucos, larguei tudo pra viver da música. Parece que deu certo.

Você também se destacou com um outro trunfo, colocando romance no rap, não? Ah! É uma mistura, né? Meu irmão é do rock, minha avó e minha mãe são superromânticas, meu pai ouvia a poesia da música caipira de raiz e eu tudo isso e muito rap. Eu sempre compus música romântica e, quando o rap chegou, comecei com aquele estilo mais social e político, mas não demorei muito pra entender a minha própria identidade e inserir esse lado. Percebi que as músicas românticas sempre chegavam mais fácil e iam mais longe. Tem pessoas que estão abertas pra ouvir uma música política social e existe um número muito maior de pessoas que estão abertas a ouvir música romântica. Então, a música, o rap mais tradicional, chegava até um limite e a romântica passava esse limite. Então, muita gente começou a ouvir rap através do Projota, porque fui um dos primeiros artistas a se entregar e se dedicar mais a fundo e fazer rap romântico. Tem muito casal que vai pro show pedindo que eu toque a música deles, que marcou uma história, que até pede a outra pessoa em casamento no palco.

Falando em aumentar o público, fazer coisas novas, como é atuar além da música? Você também se envolveu com o cinema, certo? Você vê… apesar da minha mãe ter sido atriz, escreveu peça de teatro e tudo, ela não teve tempo de transmitir essa “parada” pra mim, porque morreu antes. Eu fui ao teatro pela primeira vez aos 30 anos e isso me trouxe e traz um crescimento muito grande, porque eu vi tudo

“Eu sempre fui muito livre. Não queria ter patrão, queria ser o meu patrão, e sempre fui muito curioso”

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acontecendo ali com uma verdade nua e crua, ao vivo. Me acostumei e vou sempre com minha esposa, e qual não foi minha surpresa quando me chamaram para fazer um teste para uma participação no filme Carcereiros [inspirado no livro de mesmo nome de Drauzio Varella e dirigido por José Eduardo Belmonte, em 2019]. As pessoas falavam de preparação de elenco, de você entrar no personagem, e eu não entendia muito bem o que era isso até chegar lá e dizer: “Agora eu quero esse papel, agora eu quero fazer”. Consegui, inclusive, um papel ainda mais legal e me entreguei totalmente na preparação. Vi que o “bagulho” era de verdade e eu chorei buscando sentimentos dentro de mim. Entrei em um transe mesmo, tipo sair do corpo.

Em 2021, você chegou a um nível de exposição ainda maior, com a participação no reality show Big Brother Brasil, em plena pandemia. Como foi essa experiência? Eu sempre fui muito livre. Não queria ter patrão, queria ser o meu patrão, e sempre fui muito curioso. Hoje vejo que A saída está dentro [nome de seu mais recente disco, lançado este ano pela Universal]. Foi uma experiência interessante e, ao mesmo tempo, muito sinistra, porque você fala alguma coisa que de repente não deveria falar, está sempre de microfone e com todo mundo te olhando. De repente, perde acesso à comida, por exemplo. Foram 51 dias com comida contada e eu nunca reclamei de ter que comer nada, só queria que tivesse refeição suficiente. São coisas que vão te minando: você não ter, você não poder, o outro ter e poder. Aí um cara te faz uma

coisa e na segunda-feira você é obrigado a botar uma placa de “mau-caráter” na testa do outro. Aí alguém bota na sua “mau-caráter”. Você fala: “eu não sou mau-caráter, ‘véi’’’. Só que lá só tem como opções as placas “mau-caráter”, “bunda-mole” e “não toma banho”. Ah, mas ele toma banho e a bunda dele é dura, então ele é “mau-caráter”. Não faz sentido! E depois tinham as festas: te dão uma brincadeira, uma dose de uma euforia muito grande, e eu brincava como eu não brinco em festa nenhuma na minha vida toda. E chega alguém com papo de jogo querendo roubar sua “brisa”. Não dá.

E agora, o que dá? Quais são os planos? Mudar para a minha casa nova, que enfim está ficando pronta, ter outro filho ou filha (adoro ser pai de menina!), continuar compondo e, de repente, instigar outras outras pessoas pretas a ocuparem seu protagonismo. Teve um tempo que fiquei sem inspiração e a casa já cheia de caixas de mudança, sem estúdio, e pensei: “ah, para de arranjar desculpa”. Um pintor faz o que se não tiver um pincel? Pinta com o dedo, com a sola do pé, com o que for, porque tudo está dentro. Fiz uma parede só de caixas, arrumei a acústica com colchão e cobertor, isolei tudo, escrevi e toquei meia dúzia de músicas de uma vez. Tem dois tipos de artista: o que quer fazer arte pra ficar rico, o quer fazer arte porque é a única forma que ele consegue viver. Tem que ter planejamento pra tudo, não quero voltar pra onde comecei, mas acho que sou desse segundo time.

“Eu fui ao teatro pela primeira vez aos 30 anos e isso me trouxe e traz um crescimento muito grande, porque eu vi tudo acontecendo ali com uma verdade nua e crua, ao vivo”

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ROMANÍ É ENZO ROMANI, ATOR, COMPOSITOR, CANTOR E MULTI-INSTRUMENTISTA. EMBORA TENHA SE TORNADO FAMOSO PELA INTERPRETAÇÃO EM NOVELAS, SÉRIES E FILMES, A MÚSICA SEMPRE FOI SUA GRANDE PAIXÃO Por Fernanda Ávila e Vivian Monicci Fotos Miro Styling Wollason Renan Franco Beleza Ju Shinoda 5 min R 113

Ao decidir focar na música, Enzo assumiu o sobrenome Romani como forma de se apresentar ao mundo. O motivo? Homenagear suas raízes ciganas e marcar a passagem para uma nova fase na carreira. Filho de mãe cigana e pai árabe, com descendência portuguesa e japonesa, ele traz no sangue e na música uma mistura incrível de referências. Uma herança multicultural que se reflete na sua arte. Nascido em 1994, em Piracicaba (SP), começou a trajetória como ator em Malhação. Depois, integrou o elenco da novela global Rock Story, onde interpretou Jaílson, um jovem que teve sua vida transformada pelo poder da música. Na sequência, participou das produções Se eu fechar os olhos agora – indicada ao Emmy Internacional em 2019 –, do Show dos Famosos e, recentemente, da minissérie Maldivas, da Netflix, onde fez par romântico com Bruna Marquezine. Mas a música veio antes de tudo isso, quando ele ainda era criança e rodava o Brasil de caminhão com os pais. Hoje, mais maduro musicalmente, é uma promessa do trap nacional.

Você tem mãe cigana, pai árabe. Conta um pouco sobre essa mistura. É uma família bem improvável. Dentro da família tradicional, cigana ou árabe, se espera que se case com pessoas da mesma etnia, para não se perder ao longo da jornada. Se parar para pensar, árabes não são do Brasil, ciganos a gente mal consegue entender direito de onde vieram, alguns acreditam que Índia, outros da Romênia, Egito. Então, a melhor forma de manter uma

tradição é casando com pessoas da mesma etnia. Na minha família, foi um caso muito aleatório, meu pai e minha mãe casaram com uma grande diferença de idade. Minha mãe tinha 16 anos e meu pai, 32, era bem polêmico para a época. Foi uma briga do meu pai com o pai da minha mãe para conseguir casar.

Mas eles são de onde? Do Brasil. Nasci em Piracicaba, mas com seis meses fui para um caminhão com os meus pais e saímos viajando. Moramos em Maceió, Ilhabela, Florianópolis, Bahia e Minas Gerais. Sempre com o intuito de vendas, no gal, como a gente diz, o ato de comprar em um lugar e vender no outro. Era tacho de cobre, faca de prata, móvel, minha mãe fazia até lanchinhos. De dia, a carroceria era para guardar mercadoria e, de noite, era cama. Foi dureza, mas teve momentos de muita alegria.

Como você começou na música?

Minha mãe fala que, quando estava grávida, botava os Gipsy Kings para tocar e eu chutava a barriga dela. Com uns sete anos, paramos de morar em caminhão e ficamos no litoral de São Paulo, Caraguatatuba. Nessa época meus pais fizeram um negócio e o cara deu um violão como parte do pagamento. Comecei a tocar total autodidata. Juntava um dinheiro e conseguia pagar uma aula, isso já mais velho, com uns 12 ou 13 anos. Com 13 anos fiquei um pouco em Santos, terra do Charlie Brown Jr. Depois meu pai conseguiu um esquema para abrir um negócio dentro de

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“Minha mãe fala que, quando estava grávida, botava os Gipsy Kings para tocar e eu chutava a barriga dela”
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uma floricultura, em São Paulo. A gente dormiu um tempo dentro da floricultura, numa casa que não tinha porta, não tinha janela, tinha umas galinhas. Às vezes, os clientes chegavam e ouviam um som, era eu tocando lá no quarto. Apesar de não ser um comércio ambulante, era um negócio perto do parque do Ibirapuera. Então, a gente vivia uma vida bem simples, mas em um bairro muito caro. Para ajudar meu pai, comecei a tocar em barzinho. Terminei a escola e, com 17, “piquei minha mula” para Caraíva. Fiquei lá uns meses tocando, conheci uma mulher, me apaixonei e larguei tudo.

Você escolheu Caraíva por algum motivo?

Um amigo falou: “tô ‘tocando’ pra Caraíva, vamos para Bahia!”. Íamos ficar dois dias. Só que no primeiro já conheci uma mulher e fui ficando. Fiquei uns quatro meses. Foi incrível, conheci a parada do ioga, da meditação. Depois fui para o Rio de Janeiro. Tinha vários amigos morando lá. Lá tem praia, tem surfe, todo mundo é artista e eu já fazia meus raps escondido. Ficar tocando acústico em barzinho não era a minha parada, queria misturar cigano com trap.

Foi assim que começou a sua história com o trap?

Já me ligava no trap desde os 12 anos. Quando fiz 18, consegui um trabalho em São Paulo, com um cara que trabalhou com a Rita Lee, com AC/DC, Lenny Kravitz, o Apollo 9, um dos fundadores do Planet Hemp. O Apollo me abraçou. Ele falou: “gostei de você, você vai produzir

100 músicas em um mês no Canal Bis. O baterista do Charlie Brown Jr, o Pinguim, vai estar com você”. Eu não sabia nem mexer no computador para produzir as “paradas”. Ele disse: “um cara vai te ensinar”. Na época me deu 30 “pau”. Ganhei o dinheiro, viajei para o Rio, comprei uma prancha nova e um violão.

Como foi no Rio?

Quando cheguei no Rio, sem querer parei em um apartamento da galera da Malhação Sonhos. Todo lugar que eu ia com o violão, virava meio um sarau. Puxava todo mundo para cantar, fazia roda. Deu um mês e recebi a ligação de um amigo, com quem fazia trabalho de modelo. Ele falou que tinha um teste em Malhação e perguntou se eu queria fazer.

Como foi sua primeira experiência como ator em Malhação?

Foi aterrorizante, eu não sabia o que estava fazendo. Malhação joga você na fogueira para ver se você se vira. Meu personagem era músico. Eram mais fáceis as cenas com o violão, mas o diretor começou a falar: “você está claramente com dificuldade nas cenas que não tem violão”. Ele deu uma afastada no meu personagem.

Falaram o que para você?

Falaram: “você não está ‘mandando bem’. Fica em casa e vai estudar”. Comecei a estudar que nem maluco, não queria perder essa oportunidade. O Jacobina (roteirista e criador de Malhação) acreditou em mim desde o começo. Quando eu voltei, ele falou que queria me deixar com medo.

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“Hoje quando olho pra trás, vejo um menino assustado. Malhação joga você na fogueira para ver se você se vira”

O incômodo faz com que o ser humano busque novas fronteiras. Fiz (a novela) Rock Story depois. Foi nesse sufoco que me descobri ator.

Você participou também do Show dos Famosos. Como foi?

Foi me jogar na fogueira também. Estava muito imaturo emocionalmente e artisticamente para conseguir fazer essas coisas direito. Quem quiser rir, vai lá ver eu dançando Kaoma, horrível. O Faustão me deu a maior força, dizia: “para quem acha que o Romaní é um ator que canta, ele é um cantor que atua”.

Em que momento você sentiu que estava pronto?

Foi em 2020, em um momento de desespero. Quem passou sufoco, sabe. Já estava há um ano e pouco sem trabalhar, tentando achar meu som. Fiz uma república, aluguei um apartamento e sublocava quartos. Tinha muitos músicos, ficava escrevendo, botava a galera para escrever junto. A gente estava lá criando várias coisas e, quando entrou a pandemia, falei que ia me abster de todo o resto para me dedicar a encontrar minha identidade. Queria fazer a minha “parada”. Encontrei o viés de misturar a música cigana com o trap e com o hip hop. Quando acabou a pandemia, estava com dois álbuns prontos. Vou lançando “homeopático”.

E Maldivas, da Netflix. Como foi?

Me “amarrei” em fazer Maldivas, foi um

desafio. Geralmente fazia mais bandido, foi a primeira vez que fiz um policial. Foi desafiador, pesquisei muita referência.

Na música, qual é a sua parceria dos sonhos? Uma pessoa que acho que está representando muito bem o Brasil em muitos lugares e me inspiro muito na carreira é a Anitta. Na “gringa”, fazer com Gipsy Kings seria incrível.

Você trouxe essa filosofia de espiritualidade, meditação, para a sua música?

Teve uma época, 2020, quando conheci o Orochi, comentei que estava fazendo uma série de zumbi, Reality Z, na Netflix. Ele falou que queria ser ator e eu disse que dava umas aulas para ele. Comecei a ensinar uns amigos meus misturando ioga –sou instrutor formado – com teatro. Criei um método de respiração, de foco. Todos os grandes bilionários meditam. Fazer esse contato e trazer isso para a favela, para toda a molecada que admira o lifestyle do trap, é sempre bom. Um pouco de junk food e um pouco de salada, é bom trazer um pouco dos dois. Tem o Matuê que trazia várias referências de droga, hoje não usa nada e está focado na vida dele, tem um filho, foi buscar outras formas de autoconhecimento. A meditação tem muito disso. Já meditei todos os dias e fui vegano, hoje como carne e medito quando dá, mas é importante também. Se meditar todo dia e não comer carne, não vou conseguir fazer trap, vou fazer MPB.

“Queria fazer a minha ‘parada’. Encontrei o viés de misturar a música cigana com o trap e com o hip hop”

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Assessoria de imprensa Melina Tavares Comunicação Camisa AMIRI
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HUMORISTA,
LUTADOR DE BOXE, ATOR, CANTOR E COMPOSITOR, WHINDERSSON NUNES É UM GIGANTE NO MERCADO DE INFLUÊNCIA DO BRASIL
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Por Fernanda Ávila e Vivian Monicci Fotos Miro Styling Simone Fleitlich Beleza Dell Magela 5 min
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Com quase 60 milhões de seguidores no Instagram, mais de 44 milhões de inscritos no YouTube e uma carreira cheia de grandes conquistas, Whindersson Nunes Batista, nascido na cidade de Palmeira, no Piauí, em 1995, é um fenômeno. Em 2016, foi apontado pela Snack Intelligence o segundo youtuber mais influente do mundo, atrás apenas do sueco PewDiePie. Embora tenha viralizado no mundo digital, o piauiense partiu para os palcos e roda o Brasil com seus espetáculos de stand up comedy que atraem multidões. Sua vida pessoal também não passa despercebida, vários capítulos da sua história comoveram seus fãs e seguidores, como a perda do filho João Miguel, com apenas um dia de vida; o casamento (e a separação) com a cantora Luísa Sonza e a luta contra a depressão. Muitos desses relatos estão no livro Vivendo como um guerreiro, sua autobiografia. Da infância pobre no sertão à fortuna conquistada com muita dedicação e talento, Whindersson é mais do que um grande artista, é uma inspiração para as milhares de pessoas que acompanham a sua história. Nesta entrevista ele compartilha um pouquinho da sua trajetória no humor e no trap, estilo musical que assina com o nome artístico de Lil Whind.

O que o humor significa para sua vida? Humor é que nem música para mim. É essencial. Acho que é por conversar com todo mundo. Quando você vai a um show de música, tem todo tipo de pessoa. Riso é a mesma coisa, une todo mundo.

Quando você decidiu começar a investir na carreira musical?

Não invisto. Acho que nunca botei um centavo em música. Canto desde os seis anos, na igreja. A música sempre fez parte. Essas

músicas de Lil Whind, que estão saindo agora, já têm mais de cinco anos. Faço para mim e para os meus amigos. A galera começa a falar que é legal, que deveria fazer um clipe e dá vontade de fazer.

Como está sendo a recepção?

Se você pesquisar Rockstar no YouTube, que é o nome de uma das músicas, vão aparecer duas: uma que tem um bilhão de visualizações, do Post Malone, e uma de 200 mil visualizações, que é minha. Acho que a gente está caminhando para passar de 1 bilhão e aparecer em primeiro. Geralmente um cantor trabalha a música, canta muito ela, posta, bota pessoas para dançarem, lança desafio. Por isso a música bate 20 milhões. Gosto de fazer orgânico, não gosto de forçar, não é todo mundo que gosta de trap, gosto de deixar para quem curte procurar e achar. Prefiro assim.

Você falou de trap, muitas pessoas que vieram aqui falaram que é um ritmo que está crescendo. Como você enxerga o cenário do trap?

É bom que tenha outra vertente. A pessoa que quer cantar e fazer sucesso no Brasil tem que cantar sertanejo universitário, forró, mas fica difícil competir com Gusttavo Lima, com Wesley Safadão, com a galera toda. Acho que o trap é uma “parada” nova para as pessoas que querem começar e se destacar, é uma área boa.

É muito diferente compor uma música ou escrever uma piada para um show?

Não escrevo piada. Conto algumas “paradas” para um amigos, se vejo que é engraçada, que é legal, se eu lembrar disso no palco vai do jeito que contei para as pessoas. Agora música eu escrevo, não consigo ficar com ela na cabeça.

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“A música sempre fez parte. Essas músicas de Lil Whind, que estão saindo agora, já têm mais de cinco anos. Faço para mim e para os meus amigos”

Como você definiria a sua persona artística musical? Quem é o Whindersson cantor?

No trap, gosto de cantar uma putaria. Todo mundo tem seus momentos de putaria. No meu show não tem piada sexual, já na música me sinto à vontade para falar.

Que estilos musicais você gosta de consumir?

O que está na sua playlist?

Minha playlist é bem variada. Vou gostando da música e vou salvando. Fico mudando, uma hora axé, uma hora gospel, uma hora instrumental, uma hora só um beat.

Quais são suas referências no humor? Em quem você se inspira?

No humor, hoje gosto de gente que deixa uma coisa a mais depois. Não é só fazer rir, tem que ter um negócio social, uma crítica. Dave Chappelle faz muito isso. Aqui no Brasil, gosto do Tirullipa, pela forma. Ele tem uma técnica para ganhar as pessoas que acho massa. Com ele, fui aprendendo a me virar nos 30. Ele é um cara que veio do circo e no circo você tem que se virar nos 30, aprende a lidar com gente.

Como era o Whindersson criança? Você sempre teve essa relação com o humor?

Eu não era engraçado. Tem gente que gosta de ser engraçado para a família, vestir umas “paradas”, fazer mágica. Nunca fui assim. Eu costumava assistir vídeos de vlog e falava: “consigo fazer isso e fazer muito melhor”. Sempre fui curioso para aprender o mecanismo.

O que você sente antes de entrar no palco? Dá um frio na barriga?

Por mim, não trocava nem de roupa. Troco porque eles pedem. Acho que tenho nervosismo quando vou começar um show novo, quando ainda não estou acostumado. Esse que estou fazendo agora, consigo declamar,

fazer de dez formas, triste, feliz, fazendo poema. É muito tempo e tenho uma memória boa pra show.

Tem um termômetro quando você começa um show novo? Como funciona esse processo?

Já sei que no primeiro show as pessoas não vão ter o show que elas pagaram para ver. Já falo logo. Acabou o show e já chamo para tirar foto e fazer valer a pena o dinheiro do ingresso. O primeiro nunca é muito bom, mas depois de cinco ou seis shows já está bacana.

O que você tem de projetos para este ano? Não vou trabalhar mais. Paro agora em outubro. Ano que vem gravo dois filmes, em fevereiro, março e outubro.

Pretende fazer algo para você? Pessoal, viajar, algo nesse sentido? Não, vou ficar em casa mesmo. Nunca fico em casa, viajar é o que eu faço todo dia.

Como foi o período da pandemia para você, em casa? Foi um terror. É que era outro momento, não podia fazer nada.

Você sentiu muita falta de fazer shows? Do palco, senti muita falta. Show é o que eu mais gosto de fazer. O bom é que você pensa em novas “paradas” e coisas novas para fazer.

Qual foi o momento mais desafiador da sua carreira? Você já lutou boxe, agora está na música. Dublar é muito do zero. Até para mim, que sei fazer voz, é difícil. Quando você vai gravar, precisa de uma direção, não é só fazer. Me botaram para dublar o Ja- ckie Chan, tem um filme dele que é com a minha voz, mas não assista. Falei para os caras que não

“Acho que o trap é uma ‘parada’ nova para as pessoas que querem começar e se destacar, é uma área boa”

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parece o Jackie Chan. Mas eles falaram que queriam reformular, trazer o público mais jovem, que o público reconheceria a minha voz. Pior dublagem de todos os tempos. Essa é a minha visão. A primeira dublagem que fiz foi A Era do Gelo. Fiz o bonzinho da família ruim, um abutrezinho que é bonzinho, mas tem uma família pilantra. Uma negação, boto em inglês quando eu vejo.

Se pudesse realizar um feat brasileiro, com quem seria?

Com o Matuê. Tem a ver com o estilo de música que estou fazendo. Já fiz um com a Ivete Sangalo e outro com Alok, porque são meus amigos. Tenho vontade de fazer uma coisa que a galera nos Estados Unidos faz, clipes de humor com pessoas como Rihanna, Lady Gaga, só que o conteúdo é de humor e as pessoas que participam entram na brincadeira. Tenho vontade de fazer com Gusttavo Lima, Ludmilla, Xamã.

Atualmente, o que é o YouTube para você? Você sente falta?

Gosto de fazer vídeos para o YouTube. O problema é o tempo. Meu dia continua tendo 24 horas e tenho que arranjar muito tempo para fazer muita coisa. Acaba que o vídeo fica muito parecido com o show, porque é piada. Quando tenho uma ideia para vídeo, prefiro falar no palco. Quando faço palco, fico muito preocupado com o show e não consigo fazer vídeo. A piada tem que ser uma surpresa, não posso jogar ela na internet. Agora que vou parar de fazer o show, talvez fique mais fácil de fazer vídeos.

Em algumas entrevistas, você falou de uma forma muito aberta sobre a sua depressão. Como você conseguiu superar?

Ontem fui em uma consulta com o psiquiatra e ele falou que a galera tem medo, acha que

quem vai ao psiquiatra é porque está doido, porque tem problema ou vai ficar com problema se começar a se tratar. Confiar na medicina para isso é sensacional. Já fiz consulta, já tomei remédio, mas é aquela coisa, você toma, fica bom e para de ir no psiquiatra. Mas é um tratamento, tem que continuar. Tem que ir testando, porque muita gente tem uma experiência ruim com o profissional e desiste. O que eu indico é trocar de psiquiatra se não estiver funcionando. Você vai achar uma pessoa confortável, com a qual consiga dividir as coisas da sua vida, e a pessoa vai te dar a medicina certa. Estou há dois meses tomando um remédio que o psiquiatra me passou e, dentro desses dois meses, nunca mais chorei, minha cabeça não me levou mais para um lugar triste. Depois de três ou quatro tentativas, achei um psiquiatra e o cara me prescreveu uma “parada” legal. Volto nas consultas e falo o que aconteceu. Mas meu sono mudou, dormia muito bem e agora estou acordando mais cedo.

Vi que você consagrou a medicina da floresta e queria saber como foi a sua experiência e se você se permitiu fazer isso outra vez? Me permiti várias vezes. A minha primeira experiência foi por causa do meu filho, antes de ele nascer. Foi assim que tive a notícia. Desejava muito ter um filho, mas depois comecei a pensar na responsabilidade de ter um filho. Você é pai do seu filho para sempre e ele não é só uma criança. Vai ser um rapaz um dia e vai bater em gente, desrespeitar pessoas se eu não estiver por perto. Comecei a pensar que trabalho demais e não iria estar perto. Comecei a ficar atribulado. Uma coisa que era para me deixar feliz, me deixou preocupado. Então fui e voltei totalmente diferente, voltei com um amor pela barriga sensacional. Entendi que a “parada” não era ficar me preocupando, mas dar amor para sempre.

“Tem gente que gosta de ser engraçado para a família, vestir umas ‘paradas’, fazer mágica. Nunca fui assim”

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Air Jordan 1

O AIR JORDAN 1, CRIADO EM 1985, TORNOU-SE O TÊNIS MAIS FAMOSO DO MUNDO E FEZ A MARCA TÃO GRANDE QUANTO O REINADO DE MICHAEL NO BASQUETE

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A Nike nasceu em 25 de janeiro de 1964 como Blue Ribbon Sports e tinha como atividade-base importar tênis de corrida japoneses para os EUA, em especial os Tiger. Com a evolução do negócio de importação para a fabricação com o lançamento do Cortez em 1972,uma criação do cofundador da marca, Bill Bowerman, a Nike precisava entrar em outros esportes para ganhar mercado. E a escolha óbvia era o basquete, o paraíso dos sneakers, dominado até então pela Converse e Adidas. A primeira aposta da Nike foi em uma grande estrela em ascensão, Earvin “Magic” Johnson, que acabara de assinar um contrato com o Los Angeles Lakers em 1979. Havia duas apostas na mesa: da Converse, com muito dinheiro, e da ainda novata Nike, que previa uma linha exclusiva do jogador, ações da empresa e um contrato de logo prazo. Magic escolheu as cifras da Converse. O mundo perdeu o Air Magic, um bom nome, sem dúvida, e o jogador deixou de ganhar bilhões de dólares em ações.

A Nike seguiu então monitorando o mercado e identificando talentos que fariam o nome da empresa decolar. Até que, em 1984, um novato parecia ter a estrela que ela procurava. Seu nome: Michael Jordan. Ele tinha acabado de sair da Universidade da Carolina do Norte para assinar com o Chicago Bulls. A Nike não poderia errar desta vez e mudou de tática. Abriu os cofres e ofereceu o maior dinheiro da disputa por Jordan. Mas, mais uma vez, tudo parecia perdido. A paixão só foi à primeira vista de um lado, já que Jordan morria de amores pela Adidas e queria assinar com a marca alemã mesmo por um valor inferior. Os pais do

AJ1 Bred ficou conhecido como “Banned” por ter sido proibido de ser usado por Jordan em quadra. Regra da NBA previa 51% do tênis na cor branca
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Por Diego Ortiz Fotos Divulgação 5 min
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jogador que o convenceram a deixar os sentimentos de lado e pegar os 2,5 milhões de dólares oferecidos. Dizem as más-línguas que isso aconteceu depois de uma dura conversa entre a empresa e o pai de Jordan, que sempre estava envolvido em uma ou outra confusão.

Com o contrato assinado, coube a Peter Moore, diretor de criação da Nike, criar o desenho do Air Jordan 1 e o logo da Jordan Brand, um precursor da clássica bola de basquete com asas – Peter faleceu em maio deste ano. Pela pressa, com menos de um ano de desenvolvimento, Moore optou pelo básico com uma certa elegância, sem saber que estava moldando ali a cultura street para sempre.

O Air Jordan 1 não tinha nenhuma tecnologia sofisticada, como amortecimento na entressola ou materiais novos. Era apenas feito para ser durável e segurar os tornozelos de Jordan quando ele aterrissasse de seus voos. Tanto que, no início, o jogador não gostou nada do modelo e vivia repetindo que eles pareciam “tênis de palhaço”. Mas o craque foi para as quadras com eles assim mesmo e o modelo começou a chamar a atenção junto às habilidades sem igual de Michael Jordan de jogar basquete. Mas a fama do sneaker explodiu mesmo quando a Nike, sempre muito ágil em suas sacadas de marketing, arriscou uma polêmica. Por regra, os tênis dos jogadores da NBA tinham que ter 51% da cor branca. O choque, portanto, foi grande quando Jordan entrou em quadra com o AJ1 Bred, que era preto e vermelho, apenas com a sola branca. O tênis foi banido das quadras, com ameaça de multa para Nike de 5 mil dólares por jogo se repetisse a ousadia.

A cor do modelo logo ganhou o apelido de “Banned”. E a Nike fez um comercial destacando a rebeldia da ação, que tinha como slogan, em tra-

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As cores dos Bulls sempre dominaram a silhueta do AJ1. Nova versão do Chicago será lançada no fim de novembro, para desespero dos fãs
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Air Jordan 1 Low foi lançado no mesmo ano do de cano alto e mais tradicional. Esta versão também foi pensada para as quadras

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dução livre: “em 15 de setembro, a Nike criou um novo tênis de basquete revolucionário. Em 18 de outubro, a NBA os baniu do jogo. Felizmente, a NBA não pode impedi-lo de usá-los. Air Jordans. Da Nike.” O ditado que diz que “tudo que é proibido é mais gostoso” caiu perfeitamente para o Air Jordan 1, que se tornou objeto de desejo de dez entre dez fãs de basquete. Há uma lenda de que na verdade, o modelo preto e vermelho que Jordan entrou em quadra era um Air Ship camuflado, porque o AJ1 ainda não estava pronto. Mas tudo isso só serviu de alimento para o sucesso do tênis, que foi lançado por 65 dólares com a expectativa de 3 milhões de dólares em vendas nos primeiros quatro anos. Mas que “no fim do primeiro ano” já respondia por 126 milhões de dólares comercializados. Naquela época, 13 cores do Jordan 1 foram lançadas, incluindo a Banned, Chicago, Retro Royal e Carolina Blue, entre outras. Hoje há mais de duas centenas de cores, mas essas originais ainda são as mais procuradas. Embora hipervalorizado e desejado, o Air Jordan mudou pouco ao longo desses 37 anos. E também colecionou alguns fracassos. Tanto que

AJ1 High Obsidian UNC é um dos Jordan de linha mais valorizados por ter as cores da Universidade da Carolina do Norte, formadora do jogador
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Air Jordan 1 Light Fusion Red chegou como uma cor OG sem muita explicação, mas muito se fala que é uma homenagem ao logo do jogo Street Fighter

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deixou de ser produzido entre 1985 e 1994, quando retornou nas cores Bred e Chicago. A volta nem de longe teve a repercussão que a Nike esperava, muito em relação também ao fato de Jordan ter se aposentado do basquete para realizar seu sonho maluco de ser jogador de baseball.

E lá foi o Jordan 1 sumir de novo até voltar em 2001 nas cores originais Royal e Bred e mais algumas novas como as Japan Navy, White Chrome e Black/Metallic Gold. As vendas das cores inéditas pegaram embalo e sustentaram as vendas do tênis até 2003, quando Michael se aposentou definitivamente das quadras e levou o AJ1 junto.

Mas, em abril de 2007, a Nike toma uma decisão nunca vista antes na indústria dos sneakers. Anunciou que o Jordan 1 voltaria para nunca mais sair de linha. O pacote Old Love, New Love de estreia incluía um OG Black Toe e o novo preto e amarelo chamado New Love. Após os dois, só no primeiro ano, a marca já tinha lançado dez novas cores do modelo, que seguiu até hoje, mais de uma década depois, mantendo muitos lançamentos seriados anuais de cores do lendário Air Jordan 1.

Os Jordan seguiram em lançamentos seriados até o último, o 37, que está prestes a chegar ao Brasil, bem distante em visual e tecnologia do primeiro modelo da marca. No entanto, o Air Jordan 1 nunca foi abandonado e seu hype só foi aumentando ao longo dos anos, a ponto de uma reedição da cor original Chicago ter sido anunciada para venda em 19 de novembro deste ano e os sneakerheads só falarem disso desde janeiro. E toda vez que alguma grife forte ou marca em ascensão faz uma collab com a Nike, o AJ1 sempre está presente. Quando Virgil Abloh, fundador da Off-White, fez seu plano The Ten de sneakers com a Nike, lá estava o Air Jordan 1. Na primeira parceria entre uma marca de luxo com uma marca street, da Dior com a Nike, lá estava o AJ1 Dior sendo vendido por mais de dois mil dólares.

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A famosa cor Starfish, do pacote Shattered Backboard, também foi parar no AJ1 High, desta vez com um novo tipo de tecido mais brilhante na parte de cima do tênis

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Em seu primeiro tênis assinado, o estourado cantor J Balvin também escolheu o AJ1. E a crescente A Ma Maniére, depois de assinar com a Nike e conquistar o título simbólico de tênis do ano de 2021 com um AJ3, tratou logo de criar seu próprio Jordan 1. Isso sem falar no rapper Travis Scott, que tem em seu AJ1 em collab com a Fragment um dos tênis com maior valorização da história.

Variações do Air Jordan 1 Após o sucesso instantâneo do AJ1, a Nike resolveu que deveria lançar uma versão Low, de cano baixo, visando também o jogo de Jordan na quadra. Foi assim que nasceu Air Jordan 1 Low ainda em 1985. Desenhado também por Peter Moore, ele tinha o desenho inspirado no Nike Dunk e cores que espelhavam o High.

Como o preço dos AJ1 era alto para a época, como é ainda hoje, a Nike resolveu lançar uma versão de baixo custo batizada de KO, que trazia cabedal de lona no lugar do couro e uma sola em formato diferente, muito igual a do Nike Vandal. O KO é cercado de muito mistério até hoje, tanto que ninguém consegue cravar o que significa a sigla KO do nome e tampouco achar boas referências dele nos arquivos na Nike.

Reza a lenda que Jordan tinha achado os AJ1 e AJ2 muito altos e, por isso, pediu que o AJ3 fosse um cano médio. Mesmo com essa informação, o AJ1 Mid continua a não ser aceito pelos sneakerheads mais puristas pelo fato de ser uma criação da marca japonesa Co.JP que foi lançada apenas em 2001. E adotada pela Nike sem a mítica de ter ido aos pés de Michael Jordan em quadra. Mas o que é pior: raiva ou desprezo? Para ser o fiel da balança, a Nike lançou o Air Jordan 1 Zoom CMFT, em 2020, como uma visão moderna do clássico, trazendo uma construção em camadas, com espuma no topo do tênis e amortecimento Zoom. Apesar de ser o AJ1 mais confortável de todos, ele é um modelo totalmente ignorado pela base de fãs de sneakers ao redor do mundo.

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Surra

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© BARBARA KRUGER
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COM SUAS OBRAS QUE POSICIONAM FRASES CURTAS SOBRE IMAGENS EM PRETO E BRANCO, BARBARA KRUGER FAZ DURAS CRÍTICAS AO CONSUMISMO, AO MACHISMO E À POLÍTICA. SEUS TRABALHOS, COM MENSAGENS SINTÉTICAS E DIRETAS, SÃO CONSIDERADOS PRECURSORES DOS MEMES E TWEETS QUE HOJE DOMINAM A COMUNICAÇÃO NA WEB

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Os salões do MoMA (Museum of Modern Art) exibem obras de grandes mestres como Pablo Picasso, Henri Matisse, Frida Kahlo, Wassily Kandinsky, Georgia O'Keeffe, Andy Warhol, Yayoi Kusama e até Tarsila do Amaral, entre tantos outros. Mas, neste momento, a área mais movimentada do museu nova-iorquino é a que abriga a nova exposição de Barbara Kruger.

A artista norte-americana, de 77 anos, envelopou com suas obras em diferentes escalas as paredes, o piso, o teto e as escadas de um dos átrios da instituição localizada na Rua 53. A mostra imersiva Thinking of You. I Mean Me. I Mean You. fica em cartaz até o início de janeiro. Para quem ainda não ligou o nome à pessoa, Barbara é a autora daqueles mundialmente famosos trabalhos que misturam fotografias publicitárias ou da mídia em preto e branco sobrepostas por tarjas vermelhas com legendas curtas e impactantes grafadas em fontes "basiconas" como Futura Bold Oblique e Helvetica Ultra Condensed.

As imagens banais ganham força e outros sentidos quando surgem com as frases de efeito, os questionamentos e os instigantes aforismos selecionados por Barbara. Os principais “alvos” de suas criações são o consumismo, a política e a opressão ainda imposta às mulheres. “Sou

© Barbara Kruger Por Kike Martins da Costa Fotos Divulgação 5 min
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uma pessoa interessada em discutir os conceitos de poder, controle, dinheiro, amor, dor, prazer e morte. Faço um trabalho que mistura humor e crítica. Me considero uma provocadora”, sintetiza a artista. De sua “metralhadora”, saem palavras cheias de ironia e sarcasmo que nos fazem repensar preceitos, subverter crenças e questionar as estruturas de poder. Um de seus primeiros trabalhos foi um pequeno painel com uma mão segurando uma espécie de bilhete com os dizeres “I Shop Therefore I Am”, que, de uma forma ultrassimples, transformou o pensamento clássico do filósofo francês René Descartes (“Penso, logo existo”) em um bordão satiricamente anticonsumista. Em outra de suas icônicas criações dos anos 1980, ela misturou a imagem de uma mulher refletida em um espelho estilhaçado com a sentença “You Are Not Yourself”. A observação, que em tese não faz muito sentido, tem um efeito questionador, perturbador e desconcertante sobre quem a lê. Converte um comentário numa espécie de desafio psicológico e existencial.

I Shop Therefore I Am transforma a icônica frase do filósofo francês René Descartes (“Penso, logo existo”) em um bordão satiricamente anticonsumista
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Para a Marcha das Mulheres de Washington, em 1989, Barbara criou um pôster com reproduções em positivo e negativo do rosto de uma mulher, sobrepostas pela frase “Your Body Is A Battleground” (Seu Corpo É Um Campo de Batalha) – uma obra que atacava os congressistas (em sua esmagadora maioria homens) que se reuniam para estabelecer leis anti-aborto sem que as mulheres fossem incluídas na discussão. “Eu trabalho com fotos e palavras porque elas têm a habilidade de descrever quem somos, o que queremos e no que nós nos transformamos”, explica Barbara, que, nos anos 1970, estudou arte na prestigiosa Parsons School of Art & Design de Nova York, tendo como mestra a respeitada fotógrafa Diane Arbus, e depois viveu durante anos em Berkeley, no campus da Universidade da Califórnia, onde aprofundou seu conhecimento das teorias de Roland Barthes e Walter Benjamin sobre comunicação e semiótica. Filha de uma secretária e um técnico em química que trabalhava na Shell em Nova Jersey, Barbara começou sua vida profissional como diagramadora da revista Mademoiselle , onde usava as fontes tipográficas de forma sedutora para valorizar as bonitas fotos de moda e beleza. A atmosfera de glamurosa fábrica de sonhos da editora Condé Nast (que também publica outras revistas, tais como Vogue , Vanity Fair e Allure ) serviu de aprendizado para sua carreira como artista plástica. E, mais do que apenas uma escola ou uma inspiração, serviu também para definir os alvos de suas obras com alto teor de crítica, subversão e polêmica.

Ainda nos anos 1980, ela foi representada pela vanguardista galeria Gagosian, mas logo depois juntou-se ao cast da poderosa art dealer Mary Boone. Hoje ela possui representantes em Nova York (galeria David Zwirner), Chicago (Rhona Hoffman), Los Angeles (L&M Arts) e Berlim (Sprüth Magers).

Barbara Kruger já teve suas criações expostas nos principais salões de arte do planeta, como a Bienal de Veneza, a Documenta de Kassel (na Alemanha), a Serpentine Gallery de Londres, o Whitney Museum de Nova York e o Moderna Museet de Estocolmo. Já desenvolveu obras

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Além de Andy Warhol e Marilyn Monroe, a série Not Enough tem ainda Simone de Beauvoir com a irônica sentença “Not ugly enough” e Malcolm X com a tarja “Not angry enough”

© Barbara Kruger
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site-specific para muros em espaços públicos, carrocerias de ônibus urbanos e estações de trem. Num leilão da Christie’s, em 2011, uma de suas criações foi arrematada por US$ 902 mil (cerca de R$ 4,7 milhões). Como ícone pop, tem vários de seus questionadores trabalhos estampados em camisetas, pôsteres, canecas, cartões de metrô e capas de cadernos. Atualmente, Barbara divide seu tempo entre sua casa em Los Angeles e seu apartamento em Nova York. Em 2021, foi incluída na lista elaborada pela revista Time com as 100 pessoas mais influentes do planeta. Em 2008, fez um breve retorno ao universo editorial e criou uma capa para a revista New York, com uma de suas peculiares tarjas trazendo a palavra “brain” (cérebro) e uma seta apontando para a região genital de Eliot Spitzer, governador que renunciou após a revelação de um escândalo que o envolvia com prostitutas de luxo. Em 2016, ela repetiu a dose, criando outra capa para a mesma revista. Dessa vez, com uma foto grotesca de Donald Trump em preto e branco com uma faixa vermelha com a palavra “LOSER” (perdedor) em letras maiúsculas, para que não restem dúvidas.

Por conta dessa sua capacidade de sintetizar veementes mensagens com poucas palavras associadas a uma prosaica imagem desde antes do aparecimento da internet, Barbara Kruger é considerada a precursora dos memes. Numa sociedade como a nossa, que se comunica cada vez mais por meio de emojis e frases curtas com no máximo 140 toques, a linguagem dessa brilhante artista torna-se ainda mais atual. E não é só na forma – os alvos de sua acidez e seu deboche também continuam por aí. O mundo mudou, porém nada mudou. A prova disso é que ela recriou seu mais icônico trabalho em várias novas versões, mas com críticas aos mesmos temas. Aquela colagem dos anos 1980 que trazia os dizeres “I Shop Therefore I Am” ressurgiu recentemente na galeria David Zwirner como “I Need Therefore I Shop” (Eu preciso, então eu compro), “I Die Therefore I Was” (Eu morro, portanto eu era) e até “I Post Therefore I Am” (Eu posto, logo existo) – um lema bem apropriado para estes tempos de vida social mais agitada no meio virtual do que no mundo real. Hoje, quando ela fala de feminismo, afirma não querer simplesmente opor homens e mulheres. “Não acredito em guerra dos sexos. Isso é uma maneira muito binária e ultrapassada de abordar a questão. Quem é o bom e quem é o mau nesse embate?”, questiona. Por essas e por outras é que a estética e a voz de Barbara Kruger seguem consistentes, relevantes, contemporâneas e facilmente compreensíveis.

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Com suas ideias anticonsumistas e feministas, em 2021 Barbara Kruger figurou na lista da Time com as 100 pessoas mais influentes do mundo

Com sua sabedoria, nos estimula a pensar. Ao longo das últimas quatro décadas, ela construiu seu próprio vocabulário visual, inundando o público com imagens e palavras avassaladoras ou mesmo agressivas para despertar nas pessoas o espírito analítico, a reflexão e a autocrítica. Esse é o mote da instalação Thinking of You. I Mean Me. I Mean You., que sintetiza todo o conceito anticapitalista e humanista de Barbara. Para finalizar esta matéria, vale a pena reproduzir algumas das profecias contidas em Forever, uma das obras que compõem a magnífica exposição em cartaz no MoMA:

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In the end nothing matters

In the end hope is lost

In the end you disappear

In the end all is forgiven

In the end all is forgotten

In the end lies prevail

In the end history happens

In the end something else begins.

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Além de seu vocabulário visual bem próprio, Barbara Kruger é conhecida por suas fortes palavras de ordem que geram reflexões e estimulam a autocrítica
de histórias curtas TODA CELEBRIDADE MUNDIALMENTE RELEVANTE DOS SÉCULOS 20 E 21 JÁ FOI OU SERÁ ALVO DAS LENTES DE ANNIE LEIBOVITZ. COMPONDO IMAGENS PENSADAS EM CADA DETALHE, ELA CRIA NARRATIVAS DE PURA INTIMIDADE
ALAMY Por Rafaella Sabatowitch Fotos Divulgação 5 min 156 TOP MAGAZINE EDIÇÃO 264 Pessoas
Narradora
FOTO
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John Lennon e Yoko Ono, New York. Capa para revista Rolling Stone. A proposta da foto era fotografar Jonn e Yoko nus, mas ela não topou. Ele, por outro lado, ficou à vontade. Cerca de cinco horas depois, em 8 de dezembro de 1980, foi assassinado. Na página ao lado, Bruce Springsteen e Prince

“Aprendi bem cedo que algo que parece não ser nada pode ser alguma coisa.” Quem disse isso foi Annie Leibovitz, um dos maiores nomes da fotografia mundial. Hoje, é difícil imaginar alguém que não conheça seu trabalho. Seja por meio da foto de John Lennon nu agarrado à Yoko na cama, de Mick Jagger e Keith Richards no palco nos anos 1970, de um Schwarzenegger fisiculturista ou do tapete vermelho sendo guardado após a renúncia de Richard Nixon. Pode ser ainda por uma imagem mais recente, como a de Olena Zelenska e Volodymyr Zelensky, primeira-dama e presidente da Ucrânia, em meio aos escombros da cidade bombardeada. Nascida em 2 de outubro de 1949 nos Estados Unidos, é a terceira filha de seis irmãos. A mãe era professora e o pai, militar da Força Aérea americana. Por conta da profissão dele, a família vivia entre uma base aérea e outra. “Quando se é criado em um carro, é fácil tornar-se artista. Víamos o mundo através do frame de um filme, que era a janela do carro”, diz Susan, a mais velha das irmãs, no documentário Annie Leibovitz - A Vida Através das Lentes, escrito, produzido e dirigido por Barbara Leibovitz, a caçula.

Elas contam que a câmera sempre foi como um membro da família, já que a mãe era obsessiva em registrar tudo. Mas, até aí, a fotografia não significava nada para Annie. Foi quando se mudaram para as Filipinas que começou a fotografar como hobby. Mas, a perspectiva só mudou quando foi estudar pintura no Instituto de Artes de São Francisco para se tornar professora e fez um seminário de fotografia na instituição. “Lembro de ficar olhando o livro [O Mundo de Cartier-Bresson] e ver que era possível viajar. A câmera lhe dava licença de sair e estar só no mundo, mas com um propósito”, diz.

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It’s not only rock and roll

A revista Rolling Stone foi lançada em 1967 em São Francisco. Tom Wolfe e Hunter Thompson eram autores assíduos e, em 1970, aos 20 anos, Annie apareceu para pedir emprego. Da parceria que durou 13 anos, saíram as capas mais icônicas da revista. A primeira assinada por ela foi um retrato de John Lennon, quem voltaria a ser fotografado, tempos depois, junto com a Yoko, poucas horas antes de seu assassinato. Em 1975, foi convidada por Mick Jagger para ser a fotógrafa oficial da turnê dos Rolling Stones. “Mick e Keith tinham um poder tremendo tanto no palco quanto fora dele. Eles entrariam em uma sala como jovens deuses. Descobri que minha proximidade com eles também me dava poder. Um novo tipo de status. Não tinha nada a ver com o meu trabalho. Era o poder por associação”, contou no livro Annie Leibovitz at Work. Perto dos anos 80, a Rolling Stone já era uma revista consagrada e mudou seu escritório para Nova York em busca de mercado. Lá, Annie fotografou Bette Midler, que tinha estrelado o filme A Rosa, em uma cama de flores, dando um passo importante. “Foi quando comecei a pensar em como montar uma fotografia”, afirma.

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Annie fotografou a intimidade dos Rolling Stones quando os acompanhou na turnê. A foto ao lado é de 1980

Se por um lado encontrava-se diante de novas possibilidades, por outro, estava no auge do seu consumo de cocaína. No entanto, depois de um período na reabilitação, em 1983, a diretora de arte brasileira, Bea Feitler, a convidou para ir para a Vanity Fair. “Precisava deixar a Rolling Stone para entender o que poderia fazer e quem eu era.” Sua fama levou muitos artistas para as páginas da revista. Trabalhos de destaque foram as capas de Demi Moore grávida, de Serena Williams e da família real britânica, entre tantos outros. Em 1988, começou seu trabalho regular de moda para a Vogue, além de fazer publicidade.

Joan Didion, jornalista, ensaísta e escritora que foi fotografada por Annie em diferentes momentos, falava que passar despercebida era fundamental para a sua escrita. Ao que tudo indica, essas duas mulheres tão importantes tinham mais em comum do que a Califórnia e o rock. É a essa capacidade de se tornar invisível que muitos dos retratados por Annie creditam o seu sucesso. Vicki Goldberg, historiadora e crítica de fotografia, afirma que ela consegue fazer “fotos que contam histórias, histórias de uma frase só”.

A fotógrafa tirou manualmente os espinhos das rosas para que Bette Midler pudesse se deitar e assim, construir a foto que queria

“Precisava deixar a Rolling Stone para entender o que poderia fazer e quem eu era”
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Fotografar a dança foi uma obsessão. Para a Louis Vuitton, a concretizou com o amigo Mikhail Baryshnikov

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Ela transformou Scarlett Johansson em Cinderella para campanha da Disney

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FOTOS ALAMY

Todos os anos, antes do Oscar, a Vanity Fair lança o seu “Hollywood Portfolio”, com as apostas da temporada. Em 2009, Penelope Cruz e Woody Allen estavam juntos por Vicky Cristina Barcelona

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“Lembro de ficar olhando o livro [ O Mundo de Cartier-Bresson] e ver que era possível viajar. A câmera lhe dava licença de sair e estar só no mundo, mas com um propósito”

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Intimidade

Em 1988, Annie Leibovitz, na época com 39 anos, e a intelectual Susan Sontag, com 55, se conheceram durante a sessão de fotos de divulgação de um livro. “Ela era exatamente a pessoa que eu queria conhecer, na hora certa”, disse a fotógrafa em uma entrevista ao Guardian. Ali, começou uma relação que durou 15 anos, com muitos altos e baixos.

Elas nunca se assumiram em público, mas moravam em apartamentos de frente um para o outro em Nova York. Depois da morte de Susan, por leucemia, Annie publicou o livro A Photographer’s Life, misturando fotos profissionais a outras pessoais, como de sua família em momentos de lazer, as duas nas inúmeras viagens que fizeram juntas, os nascimentos de suas filhas, Sarah e as gêmeas Susan e Samuelle, além das de Susan e seu pai no leito de morte.

O curioso é que o livro, criticado por muitos, levantou o tema de um dos livros de Susan, Sobre Fotografia: “um dos êxitos perenes da fotografia tem sido sua estratégia de transformar seres vivos em coisas, coisas em seres vivos”. Como aponta Benjamin Moser na biografia Sontag, “os debates que as fotos inflamaram – sobre a ética da fotografia, sobre como olhar a dor dos outros – foram uma homenagem ao pensamento de Sontag

Aos 73 anos, Annie continua sendo uma das fotógrafas mais requisitadas, o que não a tira de polêmicas. As mais recentes envolveram a ginasta norte-americana Simone Biles, fotografada para a Vogue em 2000, quando foi acusada de errar na luz e ter desfavorecido a atleta; e o casal Olena e Volodymyr, também para a Vogue , com a guerra na Ucrânia acontecendo.

A questão é que Annie não foge do zeitgeist. Uma cronista da América transforma imagens em histórias, seja de celebridades, políticos ou anônimos em situação de denúncia. Afinal, ela sabe há muito tempo que o que parece nada, pode ser muita coisa. No final das contas, como alguém diz no documentário, “ótimos fotógrafos não conseguem parar de fotografar, fazem isso como outros comem e respiram”.

Reprodução/Vogue/Annie Leibovitz
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Olena Zelenska e Volodomyr Zelensky, primeiradama e presidente da Ucrânia, para uma recente ensaio da Vogue
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Art Edition. Imagens do livro de Annie Leibovitz - Taschen. Os grandes ícones políticos também posaram para Annie. Entre elas, a rainha

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Os atores Patrick Stewart and Ian McKellen – os X-Men – para o Hollywood Portfolio de 2013t da revista Vanity Fair.

Foto: Annie Laibovit

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studio mundo top #

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DESTA VEZ, QUEM APARECEU NO STUDIO MUNDO TOP FOI MAELLEN, QUE VEM BRILHANDO CADA VEZ MAIS NO MEIO MUSICAL APÓS SE CONSOLIDAR COM UMA CARREIRA ESTELAR COMO JOGADORA DE FREE FIRE. SAIBA MAIS SOBRE AS CONQUISTAS, DESAFIOS E PLANOS DESSA PERSONALIDADE MULTITALENTOS NAS PRÓXIMAS PÁGINAS.

Fotos Miro 7 min

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O estilo livre de Maellen

DESTAQUE NO UNIVERSO GAMER, MAELLEN VEM CONQUISTANDO A CENA MUSICAL COM UMA MISTURA DE TRAP, FUNK E POP

Lohana Maellen nasceu em São João de Meriti, Rio de Janeiro, onde viveu até os dois anos de idade. Mas foi em Duque de Caxias onde cresceu e iniciou sua trajetória. Aos 18 anos, expulsa de casa ao se assumir lésbica, foi morar com Karen Moraes, hoje sua noiva e com quem teve a filha Antonella. Foi nessa época, no estúdio de um amigo produtor de funk, que descobriu a vontade de ser cantora. Ela chegou a lançar alguns trabalhos independentes, mas foi no universo gamer e nas lives que a artista se destacou primeiro. Um dos pontos de virada na sua trajetória aconteceu no Poesia Acústica do Free Fire, ao conseguir unir o amor pela música com os jogos. A partir daí também passou a ficar conhecida pelo seu bordão “tá maruco”, que usa muito durante as lives. Mas a oportunidade de se mostrar para o grande público aconteceu na casa gamer Los Grandes, em 2020, para onde foi contratada como produtora de conteúdo. Ela entrou para a residência com cerca de 700 mil seguidores e saiu de lá com mais de 1,5 milhão, e diversas propostas de trabalho. Sorte do público que ela nunca desistiu da música. Hoje Maellen tem contrato assinado com a gravadora Universal, já lançou o álbum Meu Estilo é Livre e vem ganhando a cena musical com uma mistura de trap, funk e pop.

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Por Fernanda Ávila e Vivian Monicci Beleza Mel Freese 5 min
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Você começou como gamer. Como a música entrou no seu caminho?

Em 2016 eu comecei na música. Fazia o Baile da Gaiola, no Rio de Janeiro. Depois, conheci e comecei a jogar o Free Fire, foi quando estourei. Em 2020, retornei para a música, queria voltar para o meu grande sonho. Hoje, eu concilio as duas coisas, mas quero viver de música. Estou embarcando nessa aventura. Espero que dê certo.

Como é a dinâmica entre a música e os games?

A ligação entre game e música está cada vez mais forte. Tem muito artista fazendo collab com jogo, como a Anitta fez com o Free Fire

Como é a rotina de um gamer profissional?

Eu tenho um contrato de live com a plataforma da Twitch. São 130 horas mensais que eu tenho que cumprir para ganhar meu “salário” mensal fixo.

Como você começou no mundo dos games?

Começou como hobby. Eu trabalhava em banco e fazia faculdade de Gestão Financeira. Nas horas vagas, eu jogava muito. Participei de campeonato em time e ficamos em quinto lugar no Brasil. Deixei a faculdade, faltavam só seis meses para terminar, e decidi começar a fazer live, mas sem contrato. Eu não tinha dinheiro para comprar equipamento. Parcelei em dez vezes e comprei um notebook e uma webcam. Pagavam 0,03 centavos de dólar por hora assistida. Eu tinha tempo, fazia umas 17 horas de live por dia. Ficava parecendo um zumbi. Fiquei dois meses nessa plataforma e, no terceiro mês, o Facebook Gamer me contratou. Minha família falava que não ia dar em nada (risos).

Quais foram as primeiras coisas que você quis adquirir quando começou a ganhar dinheiro?

Eu troquei de carro, comprei um Evoque, era meu sonho. Gosto de carro alto e grande, porque sou pequena, tenho 1,54m.

Como é ser mulher nesse ambiente? Ainda tem muito preconceito? Não posso dizer que não tem preconceito. Além de ser mulher, sou lésbica, faço parte do movimento LGBTQIA+, então é difícil, sempre tem alguém tentando me diminuir. Mas se é o seu sonho, você tem que batalhar independente do que as pessoas falam. Quero inspirar mais mulheres a conquistarem seus espaços.

Quais são as suas referências? Anitta, como mulher e profissional. Ela é uma referência.

Como aconteceu a parceria entre você e PK na música Meu Estilo é Livre? Eu acompanho o trabalho do PK desde o Class A e sempre tive vontade de fazer um feat com ele. Fechei com a Universal no ano passado e falei que queria fazer um feat com o PK. Fiz o convite e ele aceitou sem “migué”. Fizemos e deu tudo certo. A galera gostou muito.

Como é o seu processo de composição? Já sonhei com uma música, acordei e só lembrava a melodia.

Qual é o seu sonho? A longo prazo, quero construir uma carreira internacional. A curto prazo, lançar um novo álbum e gravar um DVD. Também tenho vontade de abrir uma produtora.

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“Além de ser mulher, sou lésbica, faço parte do movimento LGBTQIA+, então é difícil, sempre tem alguém tentando me diminuir”

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