Sax & Metais #3

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EDITORIAL

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Esta revista apóia

NOSSO AGRADECIMENTO

oram vários e-mails,telefonemase cartas comentandoas duas primeirasediçõesda Sax & Metaiscom elogios,críticas e sugestões.Ficamosmuito felizes com esse retorno, pois entendemoscomoum sinal de que a revistaestá conseguindo, passoa passo,chegarao destinatáriocorreto:você,músico profissional,amador,estudanteou interessadona músicainstrumental. Por essa razão, dedico uma parte deste espaço para agradecer,em nome de toda a equipeda M&M Editorial,pelo carinhoe pela participaçãode todosque têm faladocom a gente. Comonão me cansode dizer,o canalestá sempreaberto. Na outra parte deste editorial,quero destacarminha alegria com este terceironúmeroque chegaaté você.Tambémqueroressaltarminhaalegriacom esta edição,pois fomosbuscarmúsicose informaçãode primeirallinha.A começarpela capa,que destaca umaentrevistaespecialde quatropáginascom o polivalenteMané Silveira, saxofonista, flautista, compositor e arranjador. Outropersonagemcom muitashistóriasparacontar– e muita música na veia – é o gaitista MaurícioEinhorn.Aos 74 anos, uma das lendasvivasda gaitaestá semprese reinventando.Prova de que idade não é impedimento para a criatividade. Se é para falar dos gêniosda música,que tal John Coltrane? Preparamosuma matériasuperbacanapara entenderum pouco mais do estilo desse músico espetacular. Trazemosainda a coberturacompletado ótimo Festival de Rio das Ostras,no litoraldo Rio de Janeiro,e tambémdo show de lançamentodo DVD Um Soprode Brasil,que reuniuos mestres do sopro nacional. Conheçamais sobreo trabalhode EsdrasGallo,saxofonista, compositore arranjadorque está lançandoseu novo CD. Referênciano meio gospel,é um músico respeitadoem todos os setores da música instrumental. Nossos workshops,sempre tão comentados,trazem instrumentistasde peso com dicas técnicase de teoria:AndréCarlini, AndréaErnestDias,CarlosMalta,JúniorGalantee PauloOliveira. Aproveite bastante e até o mês que vem! Um abraço, Regina Valente ajuda@saxemetais.com.br 4

Editor / Diretor Daniel A. Neves S. Lima Diretora de Redação Regina Valente MTB: 36.640 Reportagem Rafaela Bueno Edição Técnica Débora de Aquino Revisão Hebe Ester Lucas Gerente Comercial Marina Markoff Administrativo / Financeiro Carla Anne Direção de Arte Dawis Roos Impressão e Acabamento Gráfica PROL Fotos Daniel Neves, Maria Stela Martins, Marcelo Rossi

Colaboradores Jeanne Duarte, Júlio Moura, Ludmila Curi, Maira Sales, Marcelo Coelho, Marcelo Soares e Yara Costa (texto); Ivan de Andrade (análise técnica); André Carlini, Andréa Ernest Dias, Carlos Malta, Júnior Galante e Paulo Oliveira (workshops) Distribuição Nacional para todo o Brasil Fernando Chinaglia Distribuidora S/A Rua Teodoro da Silva, 907 - Grajaú CEP: 20563-900 - Rio de Janeiro / RJ Tel.: (21) 2195-3200 Assessoria Edicase Soluções para Editores Sax & Metais (ISSN 1809-5410) é uma publicação da Música & Mercado Editorial. Administração, Redação e Publicidade: Rua Guaraiúva, 644 Brooklin Novo • CEP: 04569-001 São Paulo / SP / Brasil Todos os direitos reservados. Publicidade Anuncie na Sax & Metais saxemetais@musicamercado.com.br Tel./Fax: (11) 5103-0361 www.saxemetais.com.br e-mail: ajuda@saxemetais.com.br

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ÍNDICE SEÇÕES 4 Editorial 8 Cartas 10 Live! Shows, projetos e novidades do universo do sopro 13 Vida de músico Rafael Velloso 36 Análises Sax Yamaha YAS 62 e Flauta Michael WFLM35 38 Reviews Críticas de 4 CDs e 1 livro

MATÉRIAS 14 Gian de Aquino: tubista da Orquestra Sinfônica de São Paulo fala sobre a falta de tradição do instrumento no Brasil e como mudar esse cenário 16 Dossiê John Coltrane: os recursos de sonoridade do gênio do sax 20 Maurício Einhorn: mestre da gaita, quase 70 anos de música e disposição de sobra

28 Rio das Ostras 2006: nós conferimos o festival fluminense e trazemos as novidades e quem se apresentou por lá 32 Um Sopro de Brasil agora em DVD: memória preservada da música instrumental 34 Referência gospel, Esdras Gallo se revela um grande talento tocando, compondo e também produzindo shows

16 John Coltrane

WORKSHOPS 40

CARLOS MALTA (SAXOFONE) Arranjos para big bands

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22 Mané Silveira Revelamos todo o suingue e o talento deste saxofonista que tem influência do jazz, mas é um dos maiores incentivadores dos ritmos brasileiros como choro e samba 6

PAULO OLIVEIRA (SAXOFONE) Digitações alternativas

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ANDRÉA ERNEST DIAS (FLAUTA) Choro na flauta + transcrição de Naquele Tempo (Pixinguinha)

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ANDRÉ CARLINI (GAITA) Dicas de improviso na gaita - parte 2

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JÚNIOR GALANTE (TROMPETE) Exercícios para o líder do naipe

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CARTAS Já que a revista tem uma parte dedicada aos workshops, com estudos fantásticos, gostaria de sugerir alguns assuntos de técnica como articulação, som rouco e teoria musical. Thiago Guinho Vitoria ES Olá Thiago, suas sugestões estão anotadas. Aguarde as próximas edições da Sax & Metais! Estávamos precisando de um veículo como a Sax & Metais, com informação e conhecimento sobre saxofone e música! Alex Freitas Rio de Janeiro Estudo saxofone há 6 meses e recebi com muito prazer o primeiro número da revista. Gostei bastante da seção de produtos, em que as lojas e fabricantes divulgam novidades em boquilhas, palhetas, instrumentos, além dos livros e métodos. Apesar de os instrumentos de sopro normalmente terem um preço pouco acessível para o estudante, estou muito contente. Acho interessante também ver sempre as dicas dos grandes

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Fale com a Sax & Metais: envie suas dúvidas e sugestões para: ajuda@saxemetais.com.br ou escreva para: Rua Guaraiúva, 644 - Brooklin Novo - CEP: 04569-001 - São Paulo / SP - Brasil

mestres do sopro. Elas ajudam muito quem está começando, como eu. Reinaldo dos Santos Gonçalves Salvador (BA) Estava ministrando um curso em Uberlândia junto com o Moisés Alves (Paraibach do trompete) e ele me trouxe o número 2 da revista Sax & Metais, com a entrevista do Tico D’Godoy, que iniciou comigo. Eu e o Moisés achamos muito legal a iniciativa e o formato da revista. Um grande abraço a todos da equipe. Prof. Vadim Arsky Universidade de Brasília (DF) Parabéns aos responsáveis pelo projeto da Sax & Metais. O Brasil agradece! Sucesso e abraços. Cristiano Fagian Jaú (SP)

Erratas

Na edição 2 de Sax & Metais, a transcrição de Tarde em Itapuã (página 47) a quinta e sexta linhas saíram duplicadas. Para tocar corretamente, basta eliminar uma delas.

Queraparecerna revista? Veja como!

Se você quer ver sua foto e instrumento publicados na Sax & Metais, mande um e-mail para ajuda@musicaemercado.com.br, com seu nome completo, cidade e estado, marca e modelo do instrumento. Conte para nós sua história com a música, quando e porque começou a tocar. A foto deve estar em alta resolução (300dpi). As melhores respostas serão publicadas na seção Live! da revista.

Comunidade Sax & Metais no Orkut, participe! www.orkut.com/ Community.aspx? cmm=12315174

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LIVE!

Aqui você confere a agenda de shows e encontros de músicos em todo o Brasil e fica antenado com as novidades do mundo do sopro

TESTE NOVIDADE ESTÚDIO TECNOLOGIA REVIEW

SAX & METAIS: BIG EU FUI! SHOW E FESTIVAIS

Banda Mantiqueira: presença confirmada e expectativa de sucesso de público

LIVE!

Show de Charles Muitosuingueem Búzios Musselwhite - Mistura Fina nona edição do Búzios Jazz & Blues (Rio de Janeiro) (26 e 29 de julho) promete agitar

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ive a honra de assistir, no final de junho, ao show de uma das maiores lendas do blues americano. Esse músico que tem 40 anos de carreira, além de gaitista é compositor e guitarrista. Com a casa lotada de blueseiros, o gaitista Flávio Guimarães abriu o show e já mostrou que a noite seria de música de primeira qualidade. No repertório, Charlie Musselwhite, tocou o bom e velho blues do Mississipi e ainda surpreendeu o público ao tocar um forró-blues. Muito simpático com a platéia, usou e abusou dos tongueblocks (bloqueio de língua) e vibratos demonstrando muita ténica e feeling com a gaita. Os gaitistas de plantão (inclusive eu!) aplaudiram de pé! Foi uma ótima oportunidade de curtir um blues legítimo, tocado por um dos maiores gaitistas de todos os tempos. Vamos torcer para que ele retorne ao Brasil logo!” Bernardo Prata, gaitista do Rio de Janeiro

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a cidade do litoral do Rio de Janeiro e aposta na diversidade musical, com muito jazz, blues e suas variações com o samba, funk e soul. Os músicos se apresentarão nos palcos do Chez Michou, do Pátio Havana e na Praça Santos Dumont, no centro da cidade. Participam do festival grupos como Azymuth, Funk Como Le Gusta, Bossacucanova, Memphis La Blusera e Garrafieira, além de músicos como Eric Gales, Blas Rivera, Bobby Lyle, Marcos Valle e Big Joe Manfra.

Depois do boi bumbá, vem o jazz

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ncerrada a disputa entre Caprichoso e Garantido, em Parintins, as atenções se voltam para Manaus, para outro grande evento que estréia este ano, o Festival Amazonas de Jazz, que reunirá diversas manifestações do jazz contemporâneo, nas vertentes amazonense, brasileira, americana e caribenha. Cinco estrangeiros já confirmaram presença, com destaque para o trompetista Steve Mostovoy e o saxofonista Jimmy Greene, todos dos EUA. Entre os convidados nacionais

estão a Amazonas Band, Vinícius Dorin Quinteto, Banda Mantiqueira (foto acima), Vinícius Dorin Quinteto, entre outros. Estão programadas também 12 oficinas educacionais, no Teatro Gebes Medeiros e Centro Cultural Palácio da Justiça, todas com entrada gratuita.

Clube do Sax

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site www.clubedosax.com.br é um fórum bem abrangente para os músicos de sopro de todas as praias: sax, trompete, flauta, clarinete e por aí vai. Além de trocar idéias, quem se registrar no fórum pode também baixar partituras, lições e teoria musical, totamente grátis. Boa fonte de conhecimento que conta com a participação de nomes ilustres como Vadim Arsky e Esdras Gallo.

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Rapidinhas • A Banda Mantiqueira,liderada pelo clarinetista,saxofonistae compositorNailor Proveta,grava seu primeiroDVD no Institutocultural Itaú este mês. Excelente notícia,já que este DVD era aguardado com ansiedadepor músicos e fãs desta grande banda brasileira.

• A elogiadaorquestraSpok Frevo, de Recife,estaráno Rio de Janeiroem 25 de julho,na ocasiãodo PrêmioTIM. O grupo concorrenas categoriasRevelaçãoe Instrumental,com o CD Passo de Anjo. • O saxofonistacariocaMauroSeniseentra em estúdioparagravaro CD Casa Forte, inteiramentefocadona obrade Edu Lobo.As gravaçõesacontecementre7 e 18 de agosto e o álbumserálançadoe distribuídopela BiscoitoFino.(www.biscoitofino.com.br) • O clarinetistaTito Martinopassouo mês de junhoe partede julhona Europa.Junto

com sua banda,a Tito MartinoJazzBand, se apresentounos Festivaisde Jazzem Catanhede,em Portugal,e em Askersund,na Suécia.O grupovoltaparadar seqüência aos tradicionaisshows, às quintas-feiras, no The Red Horse Bar, no hotel Crowne Plaza,em São Paulo. • A orquestrade soprosUFRJazzEnsemble completadez anosde existênciae está lançandoseu terceirodisco,Paisagens do Rio, pelo selo RádioMEC.Formadapor alunos da UFRJ,se apresentaem 8 de agostona Sala BadenPowell(Av. NossaSa. de Copacapana,360) na capitalcarioca.

Dica do mestre: a palavra-chave é paciência

“S

e você está começando a aprender um instrumento de sopro e tem dificuldade, não se preocupe. É preciso muita calma, paciência e perseverança para se conseguir um estudo criativo e buscar algo novo. O desenvolvimento musical é um processo trabalhoso, que requer muito esforço. Procure também ouvir bons músicos. Recomendo David Sanborn, Groove Washington Junior, Michael Brecker, John Coltrane, Kenny Garrett, o mestre Paulo Moura e Nivaldo Ornelas, o som mais bonito de sax no Brasil.”

MarceloMonteirotocarepertóriode choroem SP

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tradicional casa paulistana de música Clube da Esquina recebe todos os domingos, a partir das 19h30, o grupo Pochete de Choro, liderada pelo saxofonista e flautista Marcelo Monteiro, que também toca com o Projeto Cru. O grupo conta

ainda com Rovilson Pascoal (violão, guitarra e cavaquinho), Estevan Sinkovitz (violão e bandolim), e na percussão, o trio formado por Gustavo Souza, Dani Zulu e Zumba. O Clube da Esquina fica rua Padre João Gonçalves, 188.

Leo Gandelman, saxofonista, compositor e arranjador SAX& METAIS JULHO / 2006

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LIVE!

JerômeHenry:saxfrancêscombatidabrazuca Bandas & Fanfarras

Resgatando a época de ouro

TESTE

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NOVIDADE ESTÚDIO TECNOLOGIA REVIEW

SAX & METAIS: NOTÍCIAS RÁPIDAS

Por Márcio Mazzi Morales*

LIVE!

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encerramento do The Blackmore Blues Festival teve a participação especial do saxofonista francês Jerôme Henry. Radicado no Brasil há oito anos, o músico atualmente toca com o quinteto Le Petit Comité. Nascido em Toulouse (França), iniciou seus estudos musicais aos seis anos de idade e aprendeu violoncelo, piano, violão, harmonia, composição e saxofone. Ainda na França, durante seus anos de es-

Concertos com flauta, sax e piano

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saxonofonista e flautista Zé Canuto está a mil por hora na turnê na divulgação de seu trabalho com o pianista Ricardo Leão no CD Idas e Vindas (Delira Música), no qual ele participa com arranjos. O músico tem diversas apresentações marcadas no Rio de Janeiro, entre elas, um show dia 9 de agosto, às 19h, no Centro Cultural da Justiça Federal (Av. Rio Branco, 241, Cinelândia). Fazem parte da banda também os músicos Bruno Migliari (baixo acústico e elétrico) e Cacá Colón (bateria).

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tudante em Ciências Políticas na Universidade de Estrasburgo, participou de várias bandas e formações estudantis, bem como de paradas de rua (big bands). Apaixonado pelo Brasil e sua cultura popular, aprendeu a língua morando em Portugal entre 1996 e 1997. Integrou a banda Belle Chase Hotel e se tornou solista do Conjunto de Jazz da Tuna Acadêmica de Coimbra, grupo com o qual se apresentou por todo o país, assim como na França e em outros países da Europa Central. No Brasil, trabalhou com artistas como Filó Machado, Cacá Malaquias, Rogério Costa e Paulo Oliveira, participando de projetos em vários estilos musicais (samba, forró, jazz). O Le Petit Comité foi criado em Boston (EUA) em 2001 pelo vibrafonista André Juarez. “O grupo tem como principal característica uma sonoridade refinada, porém popular e de fácil comunicação com o público”, conta Henry. O estilo se baseia no swing e em uma contagiante mistura de ritmos: funk, MPB, acid jazz e rock progressivo. Para saber mais, visite www.jerome. com.br ou www.blackmore.com.br.

Assembléia Legislativa da cidade de São Paulo realizou, no final de junho, uma sessão solene para homenagear as bandas e fanfarras do Estado de São Paulo, a requerimento do deputado Marcelo Bueno (PTB), que presidiu os trabalhos. Trabalhar intensamente para concretizar a volta do campeonato estadual das bandas e fanfarras e contribuir para o crescimento e desenvolvimento das corporações musicais foram os compromissos reiterados na solenidade que homenageou cerca de 400 agremiações paulistas, políticos e entidades incentivadoras do setor. O evento, realizado no plenário Juscelino Kubitschek de Oliveira, reuniu centenas de pessoas vindas de diversas cidades do interior do Estado. O parlamentar reconheceu o trabalho dos jovens músicos, regentes e organizadores em prol da cultura no Estado. “O papel social desempenhado pelas bandas e fanfarras ultrapassa a simples questão de entretenimento, uma vez que tira das ruas jovens aparentemente sem futuro. Por meio dessas agremiações, garantem-se, no banco das escolas, aprendizado e objetivos de vida. Temos de lutar pela volta do campeonato estadual e por todos os mecanismos de incentivo às atividades das corporações musicais”, disse Bueno, autor de dois projetos de lei que beneficiam as bandas e fanfarras de São Paulo. O primeiro é o de número 324/06, que institui o 4 de agosto como o Dia Estadual das Bandas e Fanfarras. Já o PL 300/06 tem o objetivo de transformar a cidade de Cubatão, palco dos maiores eventos promovidos pela Associação de Fanfarras e Bandas do Litoral Paulista (Afaban), na Capital das Bandas e Fanfarras no Estado de São Paulo. “A idéia é prestar reconhecimento à cidade que abriga os maiores eventos envolvendo essa modalidade de corporação musical, destacando o município como detentor de excelência nesse segmento e ampliando o interesse pelo resgate da cultura brasileira”, explicou o parlamentar. *Márcio Mazzi Morales, diretor do site Planeta Bandas (www.planetabandas.com.br) é trombonista formado pela ULM - Universidade Livre de Música Tom Jobim e pela ECA-USP.

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NA ESTRADA

Vida de músico

RAFAEL VELLOSO

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Sax chorão Sax chorão e genuíno genuíno

S&M - No seu CD Sax Chorando, você fez praticamente tudo, desde a produção. RV - Este foi o meu primeiro trabalho-solo. Tive a oportunidade de gravá-lo inteiramente independente, ou seja, com recursos próprios, desde a gravação, masterização e prensagem até o pagamento dos direitos autorais. A idéia do CD veio antes mesmo de iniciar minha pesquisa de mestrado sobre o sax no choro e pude ter uma boa base teórica para a escolha das músicas, em que procurei dar um panorama amplo da produção instrumental brasileira. Além disso, à medida que fui descobrindo os músicos, as músicas e as primeiras gravações, a imagem do CD começou a se formar. Tive a oportunidade de conversar sobre o projeto com dois dos autores homenageados, Severino Araújo e Juarez Araújo – ambos me apoiaram e se dispuseram a participar do CD. É claro que realizar um CD de choro é uma tarefa muito diferente do que da época pesquisada, mas tive muita influência do trabalho desses autores e da sonoridade que eles alcançaram. SAX & METAIS JULHO / 2006

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LIVE!

S&M - Conte um pouco sobre sua tese. Qual é a base dela? RV - Ela se baseia em uma revisão histórica Efeitos e equipamentos Apesarde gostardo som mais seco e natu- do gênero, desde sua criação, em 1870, até ral, o instrumentistaprocuraincorporaros a fixação do gênero nas primeiras décadas efeitosacústicosproduzidosdiretono instru- do século XX. São apresentadas para anámento,variandoconformea músicae o esti- lises as primeiras gravações do saxofone no lo, comovibrato,distorçõese efeitosdiretos gênero e outras sem. Os exemplos são enna palheta.“No caso dos equipamentos, tão comparados em busca de transformaestouutilizandoum monitorde ouvidopara ções nas performances dos músicos. Foram também realizadas algumas experiências melhoraro retorno,um PowerClick com o headphonePorta-Pró.Masestouem fasede acústicas em relação às variações de afiadaptação,o microfoneque uso é um AKG nação e timbre de um saxofone com uma 419. São equipamentospráticosque utilizo boquilha normal e um bocal de ophicleide adaptado, procurando as razões pelas quais somente no show”, complementa.

REVIEW

• Palheta:“Estouvariandomuitoatualmente, costumavausar a Rico Jazz2 ½, mas tenho experimentado outras”.

este instrumento deu lugar ao saxofone, a partir do século XX, mas bastante utilizado no choro em sua etapa pioneira.

ESTÚDIO TECNOLOGIA

orquestras eruditas e populares como em grupos de rock, pop, choro e samba. Pro• SaxofonealtoJuliusKeilwerth.“Éumamarca curei uma formação também acadêmica, alemã muito boa, feita para concertistas.” fiz bacharelado em saxofone pela Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro, • Saxofone tenor Selmer Superaction II que apresentava então um currículo misto entre o popular e o erudito. Em 2003, • Boquilhas: iniciei a minha pesquisa de mestrado em * No sax alto: VandorenJumboJava VandorenJumbo Java, de Etnomusicologia na Escola de Música da massa, com rampa. UFRJ, abordando um assunto que me instigava muito, e já fazia parte da minha ati* No sax tenor: Dukkof de metal. vidade profissional: o saxofone no choro.

SETUP DE RAFAEL VELLOSO

NOVIDADE

S&M - Como foi o começo de seus estudos de saxofone? RV - Meu primeiro professor foi um oboísta, há 13 anos, depois tive outros mais ligados à música popular, ao choro e ao jazz, como Mário Sève, José Carlos Bigorna, Juarez Araújo e Carlos Malta. Sempre procurei uma formação mista, visto que o saxofone é um instrumento muito versátil, que permite o uso tanto como solista em

TESTE

VIDADE MÚSICO• RAFAELVELLOSO:SAXCHORÃOE GENUÍNO

logiado pelo maestro Severino Araújo e ex-aluno de Carlos Malta, o jovem saxofonista carioca Rafael Velloso é uma das gratas revelações do nosso rico mercado musical. Lançou, há dois anos, um CD em homenagem ao choro brasileiro e defendeu tese sobre o tema, sua grande paixão.

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CINCO MINUTOS COM

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CINCO MINUTOS COM:

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Gian de Aquino

GIAN AQUINO

GIAN DE AQUINO

Tuba para todos

POR REGINA VALENTE FOTOS: DIVULGAÇÃO

Principal tubista da Orquestra Sinfônica de São Paulo, Gian de Aquino sempre se esmerou muito nos estudos e hoje colhe os resultados: uma carreira sólida e reconhecimento, principalmente pela dedicação às bandas e fanfarras

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ian Marco de Aquino é um músico determinado. Desde que começou a estudar tuba em 1982, na Escola de Música de Brasília, com o professor Levy Carvalho de Castro, sempre soube o que queria: viver de música. “Fui o primeiro tubista a ganhar concursos para jovens instrumentistas”, conta. Hoje é um profissional reconhecido – é o principal tubista da Orquestra Sinfônica de São Paulo. Mas, antes disso, ele estudou e se dedicou muito. “A paixão foi tão arrebatadora, que decidi sair de Brasília e ir para São Paulo, em 1984, estudar com o melhor professor de tuba que havia no Brasil, Donald Smith, em uma das melhores escolas de música de São Paulo, o Conservatório Musical Brooklin Paulista”, relembra Aquino, que voltou a esse mesmo conservatório tempos depois, como professor. E não parou mais. Estudou música de câmara, banda sinfônica e orquestra e teve aulas particulares com importantes instrumentistas de metal no Brasil e nos Estados Unidos. Além da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo, o tubista desenvolve atividades pedagógicas na Universidade Livre de Música. “Ensino crianças e jovens a tocar instrumentos de sopro e percussão, utilizando o sistema coletivo de ensino”, diz. > S&M - Pela sua trajetória, dá para notar que você tem uma formação erudita bem forte, com muitas

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participações em orquestras. Como se desenvolveu seu caminho musical? Gian Marco de Aquino - Comecei a tocar quando tinha 12 anos, na banda marcial do colégio marista de Brasília. Primeiro no trompete e depois, em virtude de necessidades da banda, mudei para a tuba. Como me adaptei bem ao instrumento, e não existiam muitos jovens praticando-o, um grande amigo, o Maestro França, da escola de música de Brasília, me incentivou a iniciar o estudo desse instrumento. Naquela época, eu praticamente desconhecia a tuba, só sabia o que tinha aprendido na banda. Comecei a tocar nos

SETUP DE GIAN MARCO DE AQUINO • Tuba WalterNirchlem Sib, de origemalemã,modelo Perantucci.“Comprei-ausada em agosto passado. É um instrumentomaravilhoso,feito à mão, único na Américae não existemnem dez dessesem todo o mundo. É uma tuba grande,mas fácil de ser tocadae com um lindo timbre”, conta o tubista. • Tubaem Fá Yamaha,modeloYFB622.“Utilizoparatocar óperase balés quandotoco no fosso do TeatroMunicipal (São Paulo) e em solos e concertos com pequenos grupos.” • Tuba Weril 3/4 em Sib • Tuba Scavonne em Dó

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TUBA PARA TODOS

GIAN DE AQUINO

FIM

grupos da escola de música e seis meses depois passei no teste para participar do festival de inverno de Campos do Jordão. Não sei bem por que, mas a paixão foi tão arrebatadora, que decidi ir para São Paulo para estudar com o melhor professor de tuba que havia no Brasil, Donald Smith, numa das melhores escolas de música de São Paulo, o Conservatório Musical Brooklin Paulista, do professor Sígrido Levental. Daí para a frente foi só seguir o caminho normal dos músicos de orquestra: iniciar em uma orquestra ou banda jovem, participar de vários cursos de férias, fazer audições, ir mudando para orquestras cada vez melhores e assim por diante. > Em sua opinião, que características definem um bom tubista? Quando alguém vem fazer a primeira aula comigo, a primeira coisa que eu digo é que pode não parecer, mas a tuba é um instrumento musical como qualquer outro. É muito importante ter um lindo som, boa afinação e, principalmente, conseguir se expressar, emocionar os outros de alguma maneira enquanto estiver tocando. É claro que um tubista que toca notas muito rápidas, muito agudo ou outras pirotecnias me impressiona, mas o que eu gosto mesmo é de um tubista musical, com um lindo fraseado, aquele que realmente conta uma história com seu instrumento. > Como você define seu estilo musical? Não tenho um estilo musical muito definido. Tento fazer a diferença todos os dias em todos os sentidos: tocar melhor, tocar coisas novas e, principalmente, fazer com que as pessoas passem a apreciar esse instrumento que eu tanto gosto. Sempre fui um empreendedor e inovador em relação ao meu instrumento. Fui o primeiro tubista a ganhar concursos para jovens instrumentistas, o primeiro tubista brasileiro a fazer recitais, o primeiro a tocar concertos solistas com orquestra e bandas, o primeiro a ter obras escritas especialmente para ele, e agora o primeiro

tubista brasileiro a ter um site na Internet (www.gianaquino.mus.br). > Quem são suas principais influências? Quando iniciei na tuba, o tubista mais famoso do mundo se chamava Roger Bobo. O primeiro disco que comprei é dele tocando, um LP. Também me influenciaram o Charles Dallembach, do Canadian Brass; o Gene Pokorne, da Orquestra de Chicago; e mais atualmente e que se tornou meu grande amigo, James Gourlay, do RNMC, que me mostrou que força sem qualidade não é nada. E, finalmente, o que mudou a maneira como todos no mundo passaram a pensar e tocar tuba, Arnold Jacobs. > Como é sua rotina de estudo e prática musical? Toco todos os dias por pelo menos uma hora e meia, incluindo sábados, domingos e feriados. Quando vou tocar algo novo e difícil na orquestra ou fazer algum solo, este tempo aumenta consideravelmente. Faço várias coisas por dia, mas o que gosto mesmo é de ficar tocando tuba no salão da casa da minha sogra, por isso não me incomoda praticar todos os dias. > Você é professor há algum tempo. Quais os desafios de ensinar música no Brasil? No caso da tuba, vão desde a dificuldade

em adquirir um bom instrumento, passam pela falta de tradição, de termos uma escola brasileira de tuba e terminam na falta de oportunidade de trabalho para o jovem tubista. Está bem melhor do que quando eu iniciei, mas ainda é bem difícil. Hoje, com a Internet, você pode comprar bons métodos, ler bons artigos – principalmente se falar inglês – e se comunicar com tubistas do mundo todo. Mas o equipamento é muito caro, estudar inglês ainda é um sonho para a maioria dos brasileiros e por aí vai. As pessoas também devem se conscientizar da importância do ensino da música nas escolas. Vários estudos já comprovaram os diversos benefícios que a música traz às pessoas e seria muito bom para o País como um todo se o ensino da música fosse mais difundido. > Você também é muito atuante no universo de bandas e fanfarras. Acredita que está acontecendo um resgate das bandas marciais no Brasil? Acho que são, na verdade, atitudes isoladas de visionários e apaixonados que vão lutando contra tudo e todos para tentar melhorar o meio. Gosto muito da qualidade musical e técnica das bandas de hoje. Mas em virtude da dificuldade financeira em que o País se encontra, temos ainda muito poucas bandas. Antigamente as disputas entre as bandas ligadas a escolas era enorme. Hoje em dia, quantas escolas têm dinheiro ou interesse em manter uma banda? Este trabalho com as bandas e fanfarras se deve em grande parte ao amor que você passa a ter por bandas e fanfarras quando tem a oportunidade de tocar em alguma delas. São milhões de histórias maravilhosas, momentos inesquecíveis e não consigo me desligar do meio de forma alguma. Já me aposentei de bandas e fanfarras umas mil vezes, mas basta ouvir uma tocando, que o sangue sobe pelo meu corpo e lá estou eu dando palpite em tudo, sugerindo várias mudanças. SAX & METAIS JULHO / 2006

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O legado de

John Coltrane A herança deixada pelo saxofonista e compositor John Willian Coltrane (23/09/1926 - 17/07/1967) estende-se para além das fronteiras do jazz e da música. Foram várias as áreas de estudos que se interessaram em pesquisar sobre o fenômeno John Coltrane: teologia, sociologia, musicologia, antropologia, entre outras. De fato, Coltrane representou um período da história em que o comportamento humano em todo o mundo sofreu grandes transformações; ele expressou através da música, de certa forma, o inconsciente coletivo que ansiava por novas experiências. Deve-se a isso à sua incessante e quase sobre-humana busca pelo auto-conhecimento, que o levaram a constante superação de si mesmo, de forma que a sua música tornou-se, para ele, sempre uma experiência espiritual-transcendental. Por Marcelo Coelho

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sua influência pode ser percebida em vários saxofonistas que representaram o período pós-Coltrane, dentre eles Wayne Shorter, Joe Henderson, Pharoah Sanders, Charles Lloyd, Steve Grossman, David Liebman, Jan Garbarek, Michael Brecker, Bob Berg, Gary Campbell, e os mais contemporâneos David Sanches, Felipe Lamoglia, Mark Tuner, Chris Potter, entre outros. Pode-se afirmar que, basicamente, todos os saxofonistas e músicos contemporâneos do jazz sofreram algum tipo de influência coltraniana.

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Apesar de todas as pesquisas e estudos, é mesmo através da música que percebemos a sua contribuição, seja como instrumentista, seja como compositor. Como instrumentista, John Coltrane explorou muito a sonoridade e a técnica no saxofone tenor, além de ter sido o responsável pela popularidade do sax soprano no jazz. É provável que a aceitação do sax soprano no jazz, até então tratado como o mais ingrato da família dos saxofones, tenha aberto as portas para a inclusão de outros instrumentos não comuns no jazz

como o clarone, oboé e o fagote. Os recursos de sonoridade usados por Coltrane resultaram das suas pesquisas e experimentações com os multifônicos (duas ou mais notas tocadas ao mesmo tempo), da exploração dos registros extremos e da utilização dos não-usuais timbres dos harmônicos nas frases através dos chamados ‘alternate fingers’. Sabe-se que Coltrane experimentou também várias combinações de boquilhas, palhetas, além de alterações na embocadura e diferentes formas de respiração. Coltrane se utilizou

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O LEGADO DE JOH N COLTRA NE

JOHN COLTRANE

O legado de John Coltrane

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de vários recursos do Yoga para o aperfeiçoamento da respiração e do sopro. Outro aspecto muito explorado foi o desenvolvimento técnico no instrumento. Para Coltrane, o desenvolvimento da técnica no instrumento sempre esteve relacionado à pesquisa musical. Durante a fase denominada de ‘vertical’ por exemplo, (registrada na maioria dos discos lançados pelas gravadoras Prestige e Atlantic), podemos observar uma exaustiva exploração de acordes substitutos. Trata-se de um grande número de sofisticadas substituições para as progressões, caracterizadas pela abundância de acordes por compasso, chegando muitas vezes a se utilizar de três acordes substitutos para cada pulso do compasso. Para a realização desse sistema de substituição, Coltrane desenvolveu frases assimétricas que incluíam grupos de 7,9,10,11,13 notas, criando uma sonoridade em forma de cascata de sons denominado de ‘sheets of sound’ (veja a partitura abaixo). Dessa forma, Coltrane desenvolve uma técnica quase específica para o conteúdo musical explorado, justificando a virtuosidade dos solos neste período. Após esgotar os recursos das substituições, Coltrane parte para outra pesquisa musical e abandona os ‘sheets of sound. A apreciação da técnica desenvolvida por Coltrane só faz sentido se conseguirmos compreender as razões pelas quais ela foi utilizada. É possível imaginar quantas horas de estudo são necessárias para se alcançar tamanha proficiência. De acordo com próprio Coltrane, em resposta a uma pergunta sobre tempo livre e lazer, ele diz: “Eu não tenho tido muito tempo livre nos últimos 15 anos, e quando eu arrumo algum normalmente estou tão cansado que vou para algum lugar e descanso por duas semanas, se eu conseguir ter duas semanas. Mesmo assim, na maioria do tempo a minha cabeça fica sintonizada em música.”

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POR: REGINA VALENTE

MAURÍCIO EINHORN

Gaita com improviso, melodia e história

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Foto: arquivo pessoal

FOTOS: DIVULGAÇÃO

Gaita com improviso, melodia e história

Maurício Einhorn

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tom de voz é manso, a simpatia é evidente nas primeiras palavras e sua memória é uma relíquia: são muitas histórias para contar. Participou da era de ouro do rádio brasileiro, tocando com nomes como Lamartine Babo e Héber de Bôscoli em programas de calouros da antiga Rádio Nacional. Maurício Einhorn é, além de exímio gaitista, um representante fiel da geração bossa nova, que fez música por paixão e criou um estilo que até hoje influencia os novatos. No caso de Einhorn, nascido em 1932 no Rio de Janeiro, ele praticamente trocou as fraldas pela gaita. Filho de pais poloneses e gaitistas, ganhou seu primeiro instrumento aos 5 anos da mãe, uma gaita diatônica, semelhante às utilizadas pelos camponeses europeus. “Ela me pedia para tocar para as visitas”, lembra Einhorn, que achava o instrumento bem macio, mas não fazia muitos bends (quando o músico sopra com pressão na lateral da boca para forjar o bemol da nota). “Quebrava muito fácil, era um instrumento mais artesanal”, explica. Ele trocou a gaita diatônica pela cromática, e aos 10 anos já se apresentava em programas de rádio. “Co-

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PERFIL

MAURÍCIO EINHORN

mecei tocando no colégio, atrás das cortinas, porque era muito tímido e não queria aparecer”, diz Einhorn, rindo das ironias do destino. Afinal, o palco hoje é seu porto seguro. Com 16 anos, dava suas escapadas da escola para assistir aos ensaios do Broadway Boys, conjunto que fazia sucesso na época (1948). De tanto ver e ouvir apresentações – e participar de muitas, como as do programa da Hering, na extinta Rádio Tupi –, foi assimilando tudo na cabeça. Com os Broadway Boys acabou conhecendo o Brazilian Rascals, conjunto de harmônicas formado por Maurício Strzyzwski, Valdir Latuca Rosadas e Alkindar Calvão. Com esse grupo, fez sua primeira gravação profissional em 1949: um bolero chamado Portate bien. “Colocaram-me como solista, mas era tudo bastante fácil de tocar”, diz. A partir daí, a carreira deslanchou. Para se ter idéia, em 1957 o gaitista participava ativamente do movimento bossa nova com várias músicas gravadas no Brasil e em outros 30 países. Hoje, aos 74 anos – 69 deles dedicados à gaita –, o músico é um completo melodista e improvisador, respeitado nos Estados Unidos e na Europa.

ÉPOCA BOSSA-NOVA

No fim dos anos 1950, o gaitista passou a se interessar pela linguagem do jazz e do choro. Enturmou-se com instrumentistas ligados à bossa nova, em especial o violonista Durval Ferreira, que se tornou um de seus maiores parceiros. Os anos 1960 foram uma década de sucesso e de muito trabalho para o músico. Viajou para as maiores cidades do mundo para se apresentar. Nesse período, se consagrou como compositor, com músicas como Estamos Aí (de 1962, com letra de Regina Werneck), Tristeza de Nós Dois (com Durval Ferreira), além de Alvorada (com Lula

FIM

ESTILO PRÓPRIO Quemé gaitistanão confundeo som de sua harmônica.É reconhecidopela sua enorme capacidadede criação,improvisose interpretação. Autodidata, Maurício Einhorn criou um estilo própriode tocar, baseado, principalmentena sua habilidadede ouvir. “Confessoque nunca fui de muita leitura, tenho uma formaçãode ouvido,mas com o cuidadode não me deixarprejudicarnas aulas”,comentao músico,que sempreouviu muitamúsicaclássicae jazz.“Prefirome considerarjazzístico,mas adoro a música brasileira, da qual sei que faço parte.” Hoje professor, Einhorn desenvolveu

Freire), entre mais de 2 mil músicas escritas na carreira. “Além de dominar a técnica de escalas e solos, Maurício é um compositor nato, capaz de passar muita emoção em tudo Os amigos que lanaram o CD (em destaque):o que faz”, atesta o gaitista carioca Jefferson Luiz Alves (baixo), Einhorn, Alberto Chimelli Gonçalves, um dos grandes nomes da nova (piano) e Joo Cortez (bateria) geração, amigo de Einhorn há 14 anos. Einhorn recebeu vários convites e viajou para os EUA para representar seu ‘jazz-samba’ com parceiros ilustres como Joe Carter, Jim Hall, Ron Carter, Herbie Mann, Richard Kimball, David Sanborn, Monty Alexander, Nina Simoni, Nilson SETUPDEMAURÍCIO EINHORN Matta, Romero Lubambo. Conviveu com Tom Jobim, tocou ao lado de Heraldo • Gaita Hohner Super 64 do Monte e de Elis Regina. Até hoje suas (64 vozes),afinadaem Dó músicas são tocadas em todo o mundo • Gaita Hering Super Cromática e ele coleciona fãs famosos, como o Luxo64 vozes,afinadaem Dó saxofonista cubano Paquito d’Rivera.

umametodologiaespecialde didáticapara facilitaro ensinoda gaita.Ele utilizanúmeros parafalarde tempose setasparaascender e desceros tons. “Sintoque os alunos gostammais dos númerose setas do que da pauta”,explicao gaitista.Ele diz, aliás, que o estudoé fundamental;além das aulas, recomendapelo menos30 minutosde práticadiária.Inovaçõesà parte,seu estilo tem dadoresultado.GabrielGrossi,um de seus pupilos,é consideradoatualmentea granderevelaçãoda gaita brasileira.“Ele tem 27 anos e toca comigodesdeos 19”, atestao professore ‘padrinho’.

“Maurício é uma das maiores referências do Brasil na linha de gaita cromática, de jazz e de música brasileira”, diz Gonçalves. Parceiro de Eumir Deodato, Ugo Marota, Johnny Alf, Durval Ferreira e Taiguara, entre muitos outros, encontrou no amigo e violonista Sebastião Tapajós a parceria mais constante e duradoura. Formou com Hélio Delmiro e Arismar do Espírito Santo um trio dos mais requisitados nas noites cariocas. Apresentou-se também com Leny Andrade, Johnny Alf e Paulo Moura. Participou, entre outros, do Festival de Montreux com a Rio Jazz Orchestra (1978), com Jean ‘Toots’ Thielemans e Nelson Ayres Trio (1980), do North Sea Festival, na Holanda (1981), e do JVC Jazz Festival (1989). Em 1966 gravou pelo selo Forma um disco que marcou época: Tempo Feliz, com Baden Powell. SAX& METAIS JULHO / 2006

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Mesmo influenciado pelo jazz norte-americano, o saxofonista reforça a importância de beber na fonte brasileira, principalmente o choro, a primeira e genuína manifestação musical do nosso país

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Mané Silveira Tempero brasileiro no improviso Seu primeiro CD Sax sob as Árvores (indicado ao prêmio Sharp em 1993) traz, na apresentação, as seguintes palavras, escritas pelo mestre Paulo Moura: “Suas composições fluentes entusiasmam e deixam no ar a expectativa de suas próximas realizações... Como solista, Mané Silveira segue a linha do improviso com matizes brasileiros, deixando nítida uma sensível influência de Victor Assis Brasil”. Outros grandes nomes da música instrumental brasileira também apontam para a sua sensível musicalidade. Trata-se de um saxofonista de grande conhecimento teórico e que conseguiu criar um estilo capaz de torná-lo uma das principais referências da música instrumental brasileira. Por Daniel Neves e Marcelo Soares Edição Regina Valente, fotos Kriz Knack

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ompositor por natureza, Mané Silveira é conhecido pelo seu estilo acústico, quase artesanal. “Não tenho nada contra, mas não me atrai muito o uso da tecnologia”, diz o saxofonista, flautista, compositor, arranjador e professor da Universidade Livre de Música, em São Paulo, que começou a vida musical com outro mestre, Roberto Sion, há quase 30 anos. Deixou a faculdade de Direito e uma aparentemente promissora carreira como advogado para se dedicar à música – para nossa sorte – e, de lá pra cá, construiu uma sólida carreira. Começou tocando na noite paulistana, no início da década de 1980, fez parte do octeto Pé Ante Pé, que tinha, entre outros nomes, o saxofonista

Teco Cardoso, e trabalhou com artistas de expressão nacional como Arrigo Barnabé, Johnny Alf, Nelson Ayres, Roberto Sion, Eduardo Gudin, Naná Vasconcelos e Guilherme Arantes, entre outros. Em entrevista à Sax & Metais, Silveira fala de carreira, técnica, estudo, e apresenta uma música de seu CD Ímã, chamada Choro Moreno, que também toca com a Orquestra Popular de Câmara. Recentemente, participou do projeto Um Sopro de Brasil, que reuniu os principais nomes da música instrumental brasileira. No fim de agosto, grava um novo trabalho com o pianista Tiago Costa, Ricardo Matsuda (violão e viola caipira), Zé Alexandre (baixo acústico) e Kleber Almeida (bateria e percussão).

> Sax & Metais - O que significa fazer música para você? Mané Silveira - É um mergulho que se faz dentro de si mesmo. Na hora de se aprofundar na arte de composição, o artista tenta criar um universo próprio que ele quer comunicar para as pessoas. O mais importante, para mim, é fazer isso sem uma preocupação com o mercado, se sua música é ou não comercial, se vai vender. Tem lugar pra tudo, nada precisa ser tão radical. Cada um sente o que quer fa zer. > O que despertou seu gosto pela música? Na minha família sempre tinha alguém que tocasse um instrumento. Minha mãe e tia eram pianistas, gostavam de música erudita e eu acabei aprendendo a tocar um

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MANÉ SILVEIRA

Te m p e r o b r a s i l e i r o n o i m p r o v i s o pouco de piano, flauta, trompete. Gostava de mexer com instrumentos, mas nunca havia pensado em seguir carreira, não tinha esse universo da música instrumental ainda tão forte. Ouvia a rádio Excelsior, Difusora... Aos 18 anos, fui estudar no CLAM (Centro Livre de Aprendizagem Musical, do Zimbo Trio) com a pianista Eva Gomide, que se tornou minha amiga.

TESTE CAPA CAPA ESTÚDIO

TEMPERO BRASILEIRO NO MPRO I VISO

> Você pensava em ser músico? Na verdade, houve outros projetos além da música. Entrei no curso de Direito na Faculdade São Francisco, fiz até o 3º ano. Mas sempre toquei, a música era uma atividade paralela forte.

TECNOLOGI A REVIEW LIVE!

> Você desistiu do Direito e foi para a música. Foi uma decisão difícil? Ah, é um pouco dolorido, gera um conflito interno. Eu me perguntava: “Será que vou conseguir me sustentar?”, “O que vai ser do meu futuro?”, coisas assim. Pensava que iria abandonar uma carreira, quando na verdade iria me afundar nela. Não era a minha praia fazer Direito. Mas, como comecei a estudar música tarde, com 18 anos, ficava com muito medo de não dar conta. Só que existe algo que te leva, uma intuição. Nesse ponto sou muito grato aos meus pais, eles sempre

SETUP DE MANÉ SILVEIRA Instrumentos • SaxaltoSelmer1951Superbalanced Action • Sax soprano Selmer Mark VI •SaxtenorSelmer1947Superbalanced Action “Sou meio ligado às coisas antigas,é o timbreno qual fui educado,menosagressivo. Os instrumentoshoje são feitos com uma liga de metal mais forte para tornálos mais robustos.” • FlautatransversalMiyasawa- “Essamarca japonesa é muito boa.”

me apoiaram. Ficaram aflitos e angustiados, claro, pois queriam que eu estudasse, tivesse um diploma. E já tinha até trabalhado em um jornal jurídico, fazia estágio em um escritório de advocacia. Mas com essa preocupação constante de “será que vou conseguir ser músico?” eu estudava muito, tocava de frente pro armário pra abafar o som e não incomodar ninguém. Inclusive o Sion até me contou, muito tempo depois, que meus pais foram procurá-lo (risos). > Como foi o início da sua carreira? No período, começo dos anos 1980, havia muitos bares pra tocar à noite em São Paulo, ganhava um cachezinho legal, dava pra viver. Foi na época do Pé Ante Pé, quando a gente tinha esse frescor, um entusiasmo de fazer música pura, experimentar novidades e formatos, sem preocupações comerciais. O Pé Ante Pé era formado por mim, Teco Cardoso, Xico Guedes, do antigo Heartbreakers e que hoje toca no Havana Brasil, e Pete Woolley, baixista. Caito Marcondes, que também toca na Orquestra Popular de Câmara; Beto Caldas, no vibrafone e o Jarbas Barbosa, na guitarra; Homero Lotito, pianista da banda. Aliás, vários baixistas passaram pelo grupo – o Tuco Freire, que gravou o primeiro LP da banda, Nico Assunção, Gerson Frutuoso e o Otávio Fialho, que tocou muito com o Caetano Veloso. Em 1980 lançamos o primeiro LP, e foi aí que começou a brincadeira mesmo. Depois, participei de um grupo chamado Freelarmônica, do guitarrista Fábio Oriente. Era a época do teatro Lira Paulistana, quando houve uma efervescência da música instrumental. Pau Brasil, Grupo Um, todos os grandes grupos passaram por lá. Toquei também na banda Sabor de Veneno, do Arrigo Barnabé, chegamos até a gravar juntos o disco Clara Crocodilo.

> Quais são suas influências? O saxofone é um instrumento muito ligado Boquilhas • Sax alto: “Uso uma B&N número6, anti- ao jazz. O mais natural é que você se intega, no sax alto,feitapeloNorberto,inspira- resse pelo jazz norte-americano, mas ouvi também muito choro, do Paulo Moura, da na Meyer antiga”. • Sax tenor: boquilhaNorbertode massa K-Ximbinho, etc. Independente do rumo número6. ”Gostodessasboquilhasporcau- que o músico queira seguir em termos de sa do som.E os detalhesfazema diferença: composição, performance como instruo tamanhoda câmara,a maneiracomo é mentista, no sax, flauta, clarinete, enfim, construída, a velocidadede passagemdo é importantíssimo beber na fonte do choro. É a primeira manifestação de música ar, isso dá um timbre diferente.” instrumental que começou a acontecer de • Sax soprano:SelmerD forma organizada do Brasil no século 19, Palheta com o flautista Joaquim Antonio da Silva • VandorenJava2,5 (emtodosos saxofones) Callado, Anacleto de Medeiros, Chiquinha

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O CHORINHO Gêneromusicaleminentementebrasileiroe urbano,o ‘chorinho’, como tambémé chamado, é basicamentefruto da mescla de dançaseuropéiascomo a polca,heranças rítmicasafricanase o talentomágicodo músico brasileiro.Villa-Lobos,como é sabido, incorporouo choro em parte da sua obra monumental.Outro elemento importante que temperouessa nossamúsicafoi o jazz norte-americano. Tambémuma misturabem engendradada músicaeuropéiacomos gritos da mãe África,que, dandomais ênfase à improvisaçãoe variaçãosobre os mais diversostemas musicais,influencioumuitos músicosbrasileiroscomo SeverinoAraújo, K-Ximbinho,Luíz Americano,Abel Ferreira, Zé Bodega,o lendário saxofonistaCasé, PauloMoura,NelsonAyres,RobertoSione Victor Assis Brasil, entre muitos outros.

Gonzaga, Ernesto Nazareth. Eles criaram a música instrumental com forma definida, com improvisações. É importante para o músico brasileiro conhecer essa cultura do choro, porque ela te dá muita base instrumental. Esteticamente é muito bonito, mas tecnicamente é difícil. É uma fonte muito importante e dali você pode expandir. A maioria dos compositores, Tom Jobim, Hermeto, Sion, tem essa influência, mesmo que não seja da maneira tradicional. > Qual a diferença mais perceptível entre o instrumentista brasileiro e o norteamericano? Em termos de musicalidade, o Brasil está bem servido, ainda mais com essa molecada que chega pronta, parece que já sabe tocar. Nos EUA, o músico americano tem mais tradição das escolas. Eles dão muito valor ao jazz como forma de arte americana, que é a raiz da música instrumental deles, ao passo que aqui a coisa é mais difusa. Mas é importante pontuar que existe uma influência muito forte da música americana em todos os níveis no Brasil, inclusive instrumental. Vale até como reflexão, para que a gente possa pensar num jeito brasileiro de tocar. E qual é esse jeito? Basta olhar nossas músicas: choro, frevo, baião, maracatu, as regionais, podemos ir pegando um sabor mais brasileiro. O próprio Victor Assis Brasil era um jazzista por excelência, mas com um tempero brazuca, colocava baião, samba. Então, é comum encontrar músicos de sopro com trejeitos e fraseados bem jazzísticos tocando música brasileira. Será que não é interessan-

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MANÉSILVEIRA SILVEIRATEMPERO BRASILEIRO NO IMPRO VISO

QUEMMANÉINDICA 1 Moacir Santos 2 Laérciode Freitas 3 Victor Assis Brasil 4 Banda Mantiqueira 5 GrupoCurupira 6 Radamés Gnatalli 7 Jacobdo Bandolim 8 Hermeto Pascoal 9 Gismonti 10 Nelson Ayres 11 MozarTerra 12 Nenê 13 Toninho Horta 14 Garoto

DISCOGRAFIA Sax sob as Árvores BonsaiMachine Desdobraduras (com o Bonsai) Ímã (com Swami Jr.) OrquestraPopularde Câmara Jogos,Dançase Canções (OrquestraPopularde Câmara)

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MANÉ SILVEIRA TESTE CAPA CAPA ESTÚDIO

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te explorar a rítmica brasileira? Eu tento fazer isso, não colocar frases de jazz e dividir a melodia do improviso ritmada em termos de choro, samba. Um bom exemplo é o Zezinho Pitoco, o José Alves Sobrinho. A formação dele é exclusivamente brasileira, não bebeu no jazz, tem a linguagem solidificada na música brasileira, no frevo, no maracatu, no samba, no rojão. Quando ele toca você percebe um sotaque bem brasileiro.

TECNOLOGI A REVIEW LIVE!

> Você valoriza muito a formação do músico, estudar, treinar. Sempre foi assim na sua vida? Ah, sem dúvida. Comecei meus estudos com aulas particulares com Roberto Sion, que foi meu professor de saxofone em 1977. Fui, então, sendo apresentado aos grandes mestres do jazz e aos do Brasil, como Paulo Moura, Mauro Senise, Hermeto Pascoal, John Coltrane, Charlie Parker. Nossa, é uma loucura! A cabeça começa a pirar (risos). Quando fui chamado pra tocar com o Arrigo, eu também fiquei maluco. Não entendia muito, mas pensava: “Puxa, isso aqui é bom!” (risos). Era uma linguagem dodecafônica, ele usava muito técnicas de composição do que se chama de brincadeira de ‘dodecapop’, quase como um pop rock. A estética das letras é meio como uma história em quadrinhos, que é uma faceta do Arrigo de compositor contemporâneo. Depois aconteceu de formar o Sax sob as Árvores com o Benjamim Taubkin, o Guello. Foi minha primeira incursão nesse universo autoral, de criação musical. Só há um tema, Lenda, do Arrigo, de que ele participa fazendo o teclado. O restante são composições minhas, fiz arranjos para todos os instrumentos. Gosto desse processo em que você leva a composição e o grupo dá sua contribuição pessoal, um jeito de acompanhar, um arranjo. Embora você possa ser o band leader, acho legal trocar idéias.

> Naturalmente, deve ter acontecido uma identificação sua com determinado músico ou estilo, até desenvolver sua própria linguagem. Como isso aconteceu com você? Além do Sion e do Paulo Moura, músicos que sempre admirei, teve uma figura importante, o Victor Assis Brasil, que sempre me chamou muito a atenção, adoro até hoje. Tirei muita coisa dele de inspiração, solos. Fiquei muito contente, porque quando lancei o CD Sax sob as Árvores, na fase de pré-gravação, o Paulo Moura ouviu e gostou muito do trabalho. Eu pedi que ele escrevesse sobre o disco e uma das coisas que ele disse é que o disco tinha exatamente uma influência do Victor. A influência é benéfica e muito importante, principalmente para os jovens que estão ingressando na música. Você tem de se abrir pra receber e transmutar do seu jeito, até porque você não é igual ao outro. > Como é o seu processo de composição? Comecei a compor quando estudava com o Sion. Na verdade, sempre fiz uns temas no piano, mas a coisa tomou forma nessa época, quando passei a tocar profissionalmente. Uso o piano como base de criação de composição. O compositor trabalha 24 horas por dia... De repente vem uma idéia, vou para o piano, toco muitas vezes até a música tomar forma e depois escrevo. É claro que depende da formação, posso acrescentar coisas. Mas primeiro vem a criação, toco no piano, passo para a partitura, levo-a ao ensaio. Às vezes vem mais pronta, às vezes não. No CD Bonsai Machine, o tema Baião Alucinado nasceu assim. Bolei uma frase no saxofone e ela ficou na cabeça, mostrei pro Paulo (Braga), pro Guello, e surgiu o tema. > A fase seguinte seria a de gravação? Costumo levar as composições prontas para o estúdio, já ensaiadas. É bom também to-

QUEM INFLUENCIOU MANÉ SILVEIRA Ricardo Risek: “Grande professor, pensador e musicólogo, que inclusive faleceu este ano. Conhecia profundamente música erudita”.

Nelson Ayres: “Estudei com ele arranjos para big bands”.

Maestro Cláudio Leal Ferreira: “Outro excelente professor de São Paulo. Músicos como Proveta, Walmir Gil e Teco Cardoso estudaram com ele. Arranjador premiado, maestro e professor de harmonia e orquestração”.

Köellreuter: compositor, professor e musicólogo alemão que se mudou para o Brasil em 1937 e desde então tornouse um dos nomes mais influentes na vida musical do País. “Tive o privilégio de estudar composição com ele.”

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Grace J. Henderson: “Flautista indicado pelo Sion com quem eu estudei”.

car antes em alguns lugares – bares, por exemplo –, para amadurecer a música. Gosto de entrar no estúdio e sair tocando, como no jazz. Gravamos o Sax sob as Árvores em dois dias, pré-mixado em dois canais estéreo na fita DAT. Fazemos um ou dois takes de cada música para escolher qual o melhor. Às vezes fazemos alguma edição, mas que não compromete artisticamente, pois foi você mesmo quem tocou. São apenas ajustes. > Você é ligado em tecnologia? Na verdade, não muito. Procuro me aconselhar com as pessoas que conhecem o assunto. Mas não me atrai, embora ache-a uma faceta humana maravilhosa. Eu não tenho estúdio em casa, uso um computador com programa Logic para fazer as partituras, ligado a um teclado MIDI. Não uso muito a parte de áudio, mas vou instalar algo para poder gravar. Sou meio artesanal, pré-histórico (risos). > Hoje você também é professor. É um caminho natural na vida de um músico? Depois de certo tempo de carreira, você sente que pode passar algum conhecimento adiante. Comecei a dar aula particular e em seguida pintou o convite para trabalhar na ULM (Universidade Livre de Música), aqui em São Paulo, em 1995. Dou aula uma vez por semana. Gosto desse trabalho. A ULM é uma escola importante, gratuita (pertence ao Governo do Estado de SP), que pode dar chance para muitas pessoas terem acesso ao ensino musical. Tem o papel de formar músicos e público, porque o aluno também aprende a ouvir, vai a concertos, estuda a história da música. > O que diria para quem está começando a estudar e deseja fazer música instrumental no Brasil? A música instrumental popular brasileira é um campo muito amplo e variado e você pode fazer muitas experiências e mesclas, juntar influências, desde música erudita até música regional. Para isso é necessário buscar a profundidade, não só no instrumento ao qual se dedica, mas também na arte da composição. Aí sim, aprende-se como estruturar e desenvolver um tema, torná-lo coerente, orgânico, para que não fique uma colcha de retalhos, algo desconexo. É importante juntar intuição e inspiração com um conhecimento mais teórico e técnico. Uma coisa puxa a outra. Portanto, vá fundo e ouça de tudo!

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MANÉ SIL MANÉ SILVEIRA VEIRA TEMPERO BRASILEIRO NO MPRO I VISO

CHORO MORENO Mané Silveira

“É, na verdade, um ‘choro balada’ ou um ‘choro bossa’, lento e expressivo. Compus para tocar na Orquestra Popular de Câmara e foi gravada no CD Ímã, com Swami Jr., no violão de sete cordas.”

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FESTIVAL

Rio das Ostras

FESTIVAL LUDMILA CURI E YARA COSTA FOTOS: DIVULGAÇÃO

Mesmo sem o seu líder Proveta, que não pode comparecer por questões de agenda, a banda Mantiqueira foi um dos pontos altos do festival e apresentou um repertório bem brasileiro, de Pixinguinha a Luiz Gonzaga

A FESTA DO JAZZ E DO BLUES O tempo ajudou e o Festival de Jazz e Blues de Rio das Ostras foi um grande sucesso. A quarta edição do evento aconteceu entre os dias 14 e 18 de junho, no balneário fluminense (a 3 horas da capital Rio de Janeiro). Consagrados músicos nacionais e internacionais se apresentaram em três palcos montados na Praia da Tartaruga, na Lagoa de Iriry e em Costazul, o principal. Cerca de 40 mil pessoas ouviram, dançaram e aplaudiram nomes como James Carter, Charlie Musselwhite, Richard Bona, T.S. Monk, Wallace Roney, Banda Mantiqueira e Leo Gandelman, entre outros.

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agito começou já na noite de abertura, com a apresentação da Banda Mantiqueira e o seu admirável naipe de metais. Quem compareceu, teve a incrível oportunidade de ver de perto Vinicius Dorin (sax e flauta), Carlos Malaquias (sax), Vitor Alcântara (sax e flauta) e Mauro Caselatto (sax e flauta). Mais atrás estavam ainda João Lenhari (trompete), Odésio Jericó (trompete e flugelhorn), Valdir Ferreira (trombone de vara), Walmir Gil (trompete) e François Lima, com o seu trombone de válvulas. “Comecei a tocar com 10 anos

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e me apaixonei à primeira vista. Sinto-o como uma extensão do meu corpo, por causa da adaptação anatômica perfeita. Ele me dá uma maior facilidade para executar os arranjos do Proveta (saxofonista e arranjador do grupo), que exigem muita rapidez e articulação”, explica François. Na banda brasileira estão quatro saxofonistas, que também tocam flauta, flautim e clarinete; dois trombonistas e três trompetistas. Como tem uma identidade muito vinculada à música nacional, com Pixinguinha, Chiquinha Gonzaga, Humberto Teixeira e

Luiz Gonzaga, a turma da Mantiqueira apresentou um repertório brasileiríssimo. De O Samba da Minha Terra (Caymmi) a Linha de Passe (João Bosco, padrinho da banda), passou pelos forrós Eu só Quero um Xodó (Dominguinhos) e Último Pau-de-arara (Venâncio, Corumbá, José Guimarães). Para quem esteve no Festival, foi a oportunidade de ver também músicos como o saxofonista AC, que já tocou com o baixista Arthur Maia, o tecladista Kiko Continentino e o baterista Cláudio Infante. “O blues tem um universo específico, então as

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FESTIVAL RIO DAS OSTRAS

progressões dos acordes são mais ou menos predeterminadas, seguem uma forma. Já o jazz abre, tem muito mais informação harmônica, modula muito, a música muda de tom e então você tem de tocar de acordo, pontear essas questões harmônicas. O jazz exige um vocabulário mais complexo. O saxofone tem tanta liberdade no blues quanto no jazz, mas é preciso ter as ferramentas apropriadas”, contou o músico.

Do rock à balada, o sempre elegante saxofonista norte-americano James Carter mostrou técnica e estilo mais acústico, sem efeitos

JamesCarter,exemplode técnica Segundo o dicionário Houaiss, virtuose quer dizer “artista que atingiu um altíssimo grau de conhecimento e domínio técnico na execução de sua arte”. Esta poderia ser a definição de James Carter, o destaque do festival. Em duas apresentações, no palco principal de Costazul e no palco da Lagoa de Iriry, o saxofonista impressionou a platéia com seus improvisos e sua maneira particular de tocar. Seja com o sax tenor, o sax barítono ou a flauta, Carter trocava com freqüência a palheta da boquilha dos instrumentos, que quebravam por não agüentarem seu ritmo. Isso sem falar na elegância do músico, que valeria uma matéria em uma revista de moda. No palco, o saxofonista não trabalha efeiO gaitista Charles Musselwhite trouxe um estilo mais blueseiro do Mississipi (Estados Unidos): muitos bends e som de primeira linha

tos, e tudo surge no momento. As boquilhas que ele usa são bastante abertas e as palhetas, orgânicas e comuns, sem nenhum recurso especial. Ao soprar, Carter desenvolve a técnica de respiração circular, que lhe dá mais ar e potência para frases mais longas e contínuas. O James Carter Organ Trio, que conta ainda com o organista Gerard Gibbs e o baterista Leonard King, cobriu um amplo espectro musical, indo do rock à balada. Esta foi a primeira vez que ele participou do Rio das Ostras Jazz e Blues Festival, mas o músico já havia tocado no Brasil. O saxofonista é o mais novo de uma família de músicos e veio da mãe a influência de cantoras como Billie Holiday, Sarah Vaughan, Ella Fitzgerald e Carmen McCrae, além de nomes como Coleman Hawkins, Lester Young, Sidney Bechet, Eddie Lockjaw Davis, Johnny Hodges, Benny Carter e, claro, John Coltrane. Atualmente, ele diz ter voltado a ouvir mais jazz vocal. Leo Gandelman: saxparatodos Depois da Banda Mantiqueira, subiu ao palco o saxofonista Leo Gandelman. Mal o show começou, o público já se aproximava com suas câmeras, mostrando sua popularidade. (continua na página 33) SAX & METAIS JULHO / 2006

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FESTIVAL

Rio das Ostras

TEXTOS: LUDMILA CURI E YARA COSTA FOTOS: DIVULGAÇÃO

O TROMPETE MÁGICO DE WALLACE RONEY Pela primeira vez no Brasil com sua banda, Wallace Roney foi só elogios ao Festival de Rio das Ostras e ao público brasileiro. “Adorei estar aqui. Fui tratado com muito respeito e as pessoas adoram música”, disse o trompetista. Confira, a seguir, entrevista exclusiva do músico à revista Sax & Metais. > Sax e Metais: Como definiria seu estilo? Wallace Roney: Eu chamaria de ‘jazz inovador’. Estou musicando tudo o que acontece e tentando utilizar o que é legal agora nesse momento da música. É por isso que a gente tem uma DJ, na verdade uma turntable. É bastante relevante considerando-se o que está acontecendo com a música hoje. Atualmente, você nunca se livra de uma coisa, sempre acrescenta. Às vezes você joga fora o que está errado ou o excesso, mas sempre fica com o que é bom. > Há quanto tempo trabalha com essa união de elementos? Há dez anos minha banda faz isso, desde um disco chamado Village. Foi nessa época que começamos a adicionar mais elementos à nossa música. Nós não mudamos, acrescentamos. Ainda fazemos uma música

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influenciada por John Coltrane e Miles Davis, mas estamos atualizando isso. > E quais são as suas influências contemporâneas? Tudo à volta, como o Public Enemy e o Most Death, por exemplo. São pessoas que, na sua música, são bem proeminentes no mundo. Juntando a isso, temos o jazz – que é o melhor da música negra. Então, é possível pegar o que esses grupos estão fazendo “música negra social” e inovar. Assim se tem algo em movimento. Em outras palavras, não estamos tentando fazer o que eles fazem, estamos tentando incorporar o que eles fazem ao que nós fazemos. Não queremos que a música fique no passado. > Qual é o seu trompete preferido? Toco com um trompete Martin Committee porque é o melhor. Tem um som bonito, forte e ao mesmo tempo é muito lírico. Foi o trompete escolhido por Miles Davis, Dizzy Gillespie, Blue Mitchell, entre outros. Todos os músicos líricos tocaram ou tocam este trompete. E eu tive muita influência de Miles Davis, mas ser influenciado pela música não quer dizer que o

instrumento terá a sonoridade adequada. É preciso testá-lo e, quando o fiz, descobri um som incrível. É um instrumento que traduz qualquer estilo musical. > Como o senhor define sua técnica? Técnica é uma palavra muito fria, mas eu entendo que quer dizer a habilidade de se tocar bem um instrumento. A minha habilidade vem de muito trabalho duro, muita prática, muito estudo... Assim consegue-se habilidade para o que for, e deve-se estar sempre em busca de aprimoramento. Mas, além da habilidade, há o sentimento, que dá conta da alma, e a criatividade. O que se quer é que o coração influencie a técnica. > E o que, então, é mais importante? Os dois. Porque é preciso ter a habilidade. Você pode ter muito coração, muita alma, muita criatividade e nenhuma técnica – assim vai estar limitado. Ou você tem bastante técnica ou habilidade, mas não consegue dizer nada, não tem muita imaginação. Nesse caso, precisa esperar alguém te dizer o que tocar. O melhor é ter habilidade, e quando tocar, deixar o coração tomar conta da mente.

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FESTIVAL RIO DAS OSTRAS

(continuação da página 31) “O sax, nos últimos anos, teve um boom inacreditável, se popularizou muito. É novo, tem apenas 100 anos e sempre foi um instrumento solista de destaque. Antes, estava associado ao jazz, mas agora invadiu todas as praias. Na década de 1980, o símbolo de música era uma guitarra, hoje acho que é o sax. Até o som no ônibus é representado por um saxofone. A perspectiva é encontrar o lugar

Ao lado de Marcos Suzano, Leo Gandelman tocou e interagiu bastante com a platéia, que gostou do som obtido com o sampler, utilizado pela primeira vez pelo saxofonista

FIM

dele dentro de outros instrumentos”, avaliou Leo, cuja apresentação marcou o lançamento do CD Lounjazz – o primeiro disco independente do músico em 18 anos de trabalho. “Lounge é uma sala, um lugar agradável para relaxar, bater papo, ouvir uma música. E o jazz já é uma coisa mais intelectual, com um discurso mais criativo e livre. Então, proponho que se escute o jazz de uma maneira relaxada.” No show do balneário carioca, quem

o acompanhou foi o percussionista Marcos Suzano. Além do pandeiro, ele trouxe para o palco um pedal de sampler, exaustivamente usado pelo saxofonista. “Foi uma brincadeira. Essas coisas de eletrônica são muito divertidas e a gente usa de uma forma bem lúdica. Gostei do resultado, foi a primeira vez que usei e quem me emprestou foi o Suzano. Até quis comprar”, brincou o saxofonista. Enquanto apresentava as novas composições, que incorporavam elementos eletrônicos e uma flautinha paraguaia, Leo seguia à risca sua proposta de show: interagir com as pessoas. Comentou com o público o processo de composição de suas músicas, puxou palmas, levantou coros e foi até dançar com a platéia. No último tema de sua apresentação – uma versão moderna de Tico Tico no Fubá (Zequinha de Abreu) –, Leo desceu do palco. No meio do público, trocou beijinhos, fez uma rápida jam com um gaitista-espectador, tirou fotos e animou a platéia, que pediu bis. A postura do saxofonista no palco deixou claro que sua popularidade se deve muito também ao seu carisma. “Quando posso, gosto de chegar dentro do público e tocar de perto para as pessoas sentirem o som real, que é bem diferente do som microfonado”, justificou o instrumentista. Música para todos os estilos No último show, na praia da Tartaruga, a chuva ameaçou, mas o público compareceu mesmo assim para conferir a apresentação do trompetista Wallace Roney. Felizmente o pé d’água anunciado não passou de uns chuviscos. No palco, enquanto o público se despedia do festival, Roney mostrou que anda antenado e soltou o som de seu trompete Martin Committee ao lado de uma jovem DJ, na verdade uma turntable – que o acompanhava nos vinis. (Leia entrevista exclusiva na pág. XXX.) O 4º Rio das Ostras Jazz e Blues Festival terminou com a aprovação de todos. Para o saxofonista AC, que participa pela segunda vez do evento, o balneário promove um dos melhores palcos para se tocar jazz no País. “É o maior festival de jazz nacional e internacional do Brasil. Não tem outro com uma programação tão importante e, o melhor, gratuito. É uma oportunidade de trocar idéias e de ouvir boa música ao vivo”, declarou. Leo Gandelman, estreante em Rio das Ostras, engrossou o coro de músicos que apóiam iniciativas como esta. “O crescimento desse tipo de festival vem mostrar que o público está em busca de diversidade.” SAX & METAIS JULHO / 2006

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Um Sopro de Brasil

SHOW SHOW UM SOPRO DE BRASIL TEXTO E FOTOS: MARCELO SOARES MACIEL

PALCO DOS MESTRES Um Sopro de Brasil, iniciativa histórica que reuniu os maiores nomes do sopro nacional e ficou eternizada em forma de livro, CD e DVD e, acima de tudo, em nossas lembranças.

B

ons ventos nos trouxeram de volta uma das iniciativas mais bem-sucedidas entre os amantes da música, es-

pecialmente dos instrumentos de sopro. Para celebrar o lançamento do CD, livro e DVDs Um Sopro de Brasil, foram

Um dos principais ícones do sopro no Brasil, o clarinetista Paulo Moura realizou uma apresentação impecável e emocionante

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levados ao palco do Sesc Pinheiros, nos dias 27 e 28 de maio, instrumentistas do quilate de Paulo Moura, Vinicius Dorin, Teco Cardoso, Vittor Santos, Léa Freire, Altamiro Carrilho, Adolfo Almeida Jr., Mané Silveira, Maurício Einhorn, Joatan Nascimento e Mauro Rodrigues. Quem esteve por lá não deixou de adquirir o ’pacote’, e se deleitou com os shows dos instrumentistas acompanhados por uma banda formada pelos mestres Benjamim Taubkin (piano), Zeca Assumpção (baixo acústico), Caito Marcondes (percussão), Guello (percussão), Edmilson Capelluppi (violão), Rodrigo Campos (cavaquinho), Mayra Moraes (violino), Simplício Brito Jr. (violino), Eduardo Bello (violoncelo) e Alexandre Razera (viola). Este lançamento foi uma reedição do evento de 2004, com um menor núme-

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SHOW UM SOPRO DE BRASIL

ro de músicos, mas a mesma qualidade musical. Em novembro daquele ano, Um Sopro de Brasil, uma iniciativa de Myriam Taubkin e Morris Picciotto, tornou real um sonho de muitos saxofonistas, flautistas, oboístas, clarinetistas e outros ‘istas’ do sopro: reunir, em um único palco, as riquezas dos timbres e nuances desses instrumentos sempre presentes nas formações populares e eruditas de nossa música, enfatizando a diversidade harmônica criada com a fusão desses instrumentos e as infinitas possibilidades de arranjos.

FIM

Mais de 250 instrumentistas subiram ao palco do SESC Pinheiros, em São Paulo: oportunidade única de ver, reunidos, os grandes mestres da música instrumental brasileira. Abaixo, Carlos Malta e o Pife Muderno durante show

Grandes nomes do sopro Prestigiando 250 instrumentistas no recém-inaugurado palco do Sesc Pinheiros, um público de 5 mil pessoas teve a oportunidade de presenciar momentos indescritíveis de musicalidade e performance. O evento contou com a presença de autoridades da nossa música como Nailor Proveta e a Banda Mantiqueira, Roberto Sion, a Banda Sinfônica do Estado de São Paulo, regida por Abel Rocha, a Spok Frevo Orquestra, entre tantos outros nomes que podemos assistir, ouvir e ler neste pacote, disponível pelo site www. projetomemoriabrasileira.com.br. A partir de Um Sopro de Brasil, muitos músicos e apreciadores tiveram a real dimensão do que o nosso universo do sopro é capaz de atingir tanto em termos de público quanto em requintes harmôni-

cos na execução desses tão desejados instrumentos. Como bem explicou Myriam Taubkin, coordenadora do projeto, “o sopro expressa sensações e cria códigos que fazem parte da cultura de um povo. É o assobio que chama o companheiro de turma, que reconhece a beleza de uma mulher ou

que identifica o passarinho, é o apito do juiz nas quadras, do guarda no trânsito, do mestre de bateria numa escola de samba. E o que dizer dos instrumentos de sopro? É uma viagem sem fim com sua profusão de timbres, sonoridades, estilos e utilizações experimentadas nas tradições brasileiras, não só nos ambientes de música como nas mais diversas manifestações culturais que fazem parte do cotidiano popular”.

Interaçãocomo público

Um Sopro de Brasil também ofereceu oficinas abertas ao público, em que as pessoas tiveram a oportunidade de se aproximar dos instrumentos e arriscar seus primeiros sopros. Entre os temas, foram abordados a construção de instrumentos com materiais inusitados, os ritmos e a técnica do pife, os ritmos nordestinos nos metais, a gaita de boca como medicamento da alma, a história da flauta e a improvisação no sopro brasileiro. Toda essa empreitada aproxima o público do universo musical, dando acesso aos instrumentos e aguçando o desejo pelo estudo dessa arte. Tanto o CD como o livro e os DVDs do show compõem um material de pesquisa indispensável para qualquer músico, além de ser uma oportunidade de assistir a um espetáculo inesquecível. SAX & METAIS JULHO / 2006

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CINCO MINUTOS COM

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CINCO MINUTOS COM:

1

Esdras Gallo

ESDRAS GALLO

ESDRAS GALLO

FOTOS: DIVULGAÇÃOPOR REGINA VALENTE

Música para louvar e aprender

Com uma ampla formação teórica, o saxofonista se tornou uma das principais referências quando se fala em música gospel, dirigindo gravações de CDs e DVDs, além de lançar seu primeiro trabalho-solo instrumental, Lugares Altos

C

ada profissional tem um envolvimento diferente com a música e se revela de uma forma. As bandas e corais de igrejas costumam ser um grande celeiro de talentos. No caso do saxofonista, produtor e arranjador Esdras Gallo, o caminho foi justamente esse. “A música sempre fez parte da minha vida. Sou filho de saxofonista e sempre via meu pai tocando na banda da igreja em Bragança Paulista, onde nasci”, conta Gallo sobre sua infância na cidade do interior paulista. Admirador de Michael Brecker, Vinícius Dorin, Eric Marienthal e Marc Russo, entre outros, o instrumentista estudou nos Conservatórios Villa-Lobos e Dramático de São Paulo até os 20 anos e depois se aperfeiçoou com aulas particulares até os 30. Curiosamente, trabalhou por 15 anos na área de engenharia, mas sempre tendo a música como atividade paralela importante. Entre suas idas e vindas para São Paulo para tocar e gravar em estúdios, conheceu o Ministério Renascer e dali sua carreira como músico e produtor deslanchou. Coleciona participações em eventos, produziu CDs e DVDs, e há 12 anos se dedica totalmente à música e ao seu trabalho como pastor de louvor na Igreja Apostólica Renascer em Cristo.

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> Sax & Metais - Como começou na música gospel? Esdras Gallo - Mesmo trabalhando na área de engenharia, eram comuns as minhas vindas para São Paulo para tocar e gravar em estúdios. Entre essas idas e vindas conheci o Ministério Renascer por meio da banda Troad, no fim dos anos 1980. Em 1994, fui convidado pelo Apóstolo Estevam Hernandes para formar o Coral Renascer e dirigir o primeiro CD ao vivo do Grupo Renascer Praise. A partir daí, deixei meu trabalho no meio secular e passei a estar envolvido no ministério de música da igreja em tempo integral. Atuo como pastor de louvor na Igreja Apostólica Renascer em Cristo – Sede Internacional, da qual sou membro. > Qual é a sua opinião sobre o papel da música na Igreja? É fundamental. Deus habita no meio dos louvores e a música tem para o cristão uma função muito maior do que arte, entretenimento ou até mesmo profissão: atrair a presença de Deus e nos aproximar do seu coração. O louvor é uma arma espiritual de libertação, de guerra, de adoração, de júbilo e de comunhão com o Pai.

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CINCO MINUTOS COM

ESDRAS GALLO

FIM

SETUP DE ESDRAS GALLO Instrumentos • Sax tenorJúpiter889SG • Sax alto Júpiter969GL • Sax sopranoYamahaYSS 675 Boquilhas • BergLarsen100/2SMSde metal- saxalto • Bari 70# de massa- sax soprano • B&N 9# de metal - sax tenor

Acima,capado novoCD e, ao lado,Gallo com a filha Ana Beatriz, que já demonstra interessepelamúsica

> Lugares Altos é seu primeiro CD instrumental e que tem sua participação na produção. Como foi o desenvolvimento desse trabalho? Neste projeto, revisitei vários sucessos que marcaram e inspiraram a música gospel no Brasil e no mundo. São vários estilos como blues, smooth jazz, ballads e instrumental pop. As músicas vão desde hinos tradicionais como Grandioso És Tu e Tu És Fiel até clássicos inesquecíveis cantados em igrejas pentecostais, como Eram Cem Ovelhas, Manso e Suave e Rude Cruz. Esse projeto abrange também canções conhecidas dos últimos 10 anos: Sonda-me, Ao Único, O Nome de Jesus. Há outros sucessos como Voz do Espírito, Tudo Posso, Lugares Altos e Recebe Minha Adoração, do Renascer Praise. As duas últimas são composições minhas. Ainda fazem parte

desse álbum canções que marcaram a música gospel ao redor do mundo, como Amazing Grace, Shout to the Lord e Holy, Holy, Holy. O CD foi produzido e dirigido por mim, com arranjos de Ronaldo Gomes e Ruben Moraes e arranjos vocais de Léo Marx.

> Você já tocou com grandes nomes da música gospel. Quem destacaria dentre tantas parcerias? Meus trabalhos como saxofonista incluem participações em CDs, DVDs, vídeos, turnês e shows, com inúmeros nomes da música cristã no Brasil e no exterior, como Ron Kenoly, Marcos Witt, Paul Wilbur, Bob Fitts, além de Jorge Camargo, João Alexandre, Soraia Moraes, Kleber Lucas, Cristina Mel, Ana Paula Valadão, Bispo Benê Gomes, Vitorino Silva, Priscila Angel, Robson Nascimento, Aline Barros, Shyrlei Carvalhaes, Pastor Massao (Igreja Holiness de Pompéia), Vencedores por Influências musicais Cristo, Troad, Kadoshi... Todos esses nomes Sempre inspirado na música instrumental, têm seu destaque dentro da música cristã, mas EsdrasGalloteve uma grandeinfluênciade quem mais me marcou foi Marcos Witt, pelo David Sanbornno início da carreira.“Mas seu carinho e atenção com músicos que Deus nunca deixei de apreciartrabalhos-solode tem levantado ao redor do mundo. cantoresnacionaise internacionais,dentro de qualquerestiloe gênero”,declara.Entre os instrumentistasque admira,ele destaca: EveretteHarp,NelsonRangel,Kirk Whalum, Andy Snitzer,Ed Calle, Dick Oatts, Michael Brecker,Bob Berg, Gerald Albrigth,Bill Evans,WarrenHill, Bob Malach,Steffanodi Battista,PaulMcCandless, BrandonFields,ViníciusDorin,DaveKoz,Eric Marienthal,Steve Cole,GroverWashington,JustoAlmario, KennyGarret,ErnieWatts,GaryMeek,Steve Tavaglione,David Mann,GeorgeHoward, CourtneyPine,Art Porter,EddieDaniels,Tom Scott, Jeff Kashiwa,SadaoWatanabe,Bob Mintzere o seu predileto,MarcRusso.

> Como é o seu processo de composição? Normalmente me reúno com parceiros de composição, discutimos sobre algum tema específico ou sobre algo que Deus esteja falando em nosso coração naquele momento. Não existe uma regra, mas prefiro fazer a letra e depois musicá-la. Uso meu instrumento na criação das melodias, gravamos e ouvimos várias vezes. Mexemos na música ainda outras vezes até decidirmos pelo melhor resultado. > No quesito tecnologia, você é um adepto da computer music ou prefere

Palhetas • Zonda 2 ½ - sax tenor • Gonzáles 2 ¼ - sax alto • Rico Select Jazz 2M - sax soprano

um som mais acústico? Não tenho equipamentos de gravação em casa, mas uso o software Encore para escrever meus arranjos de metais, que são a minha especialidade. A tecnologia sem dúvida ajuda bastante, mas deve ser utilizada com finalidades específicas. Sempre busco as novidades no mercado de samplers e softwares que tragam novos timbres que ajudem no resultado final de cada trabalho. No dia-a-dia uso um microfone sem fio AKG 419 e um microverb da Alesis. Quando saio com uma banda para workshops e shows, utilizo um notebook com minha pré-produção em Nuendo. > Como faz para se atualizar? Gosto de pesquisar músicas de outros países que normalmente não estão nas rádios e lojas. Sempre que posso, participo de workshops com músicos e saxofonistas experientes para conhecer novas técnicas e ter acesso ao que está rolando dentro e fora do País. Tenho ainda uma rotina de estudos não muito pragmática: gosto de estudar as técnicas que aplico no dia-a-dia. Tenho interesse em estudar sempre os grandes nomes do instrumento para entender suas idéias e a maneira como empregam arpejos, intervalos, linguagem, efeitos e principalmente sua personalidade nas melodias. > Que conselhos daria para quem está começando a tocar? Mergulhe fundo na música e não só no instrumento. Ouça todos os estilos e gêneros de saxofonistas, procure compreender a maneira que cada músico expressa seus sentimentos, procure um bom professor e adquira um bom instrumento com uma boquilha de acordo com o som que lhe agrada. SAX & METAIS JULHO / 2006

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ANÁLISES

Elegante e prático

SAX ALTO YAMAHA YAS-62

O

TESTE NOVIDADE ESTÚDIO TECNOLOGIA

SAXALTOYAMAHAYAS- 62: ELEGANTEE PRÁTICO

saxofone alto Yamaha 62 é um instrumento designado ao saxofonista profissional. Dentre a grande variedade de marcas e modelos de saxofones existentes, o YAS-62 é sem dúvida um destaque no mercado. A aparência é a primeira coisa que o comprador notará. Ele possui um laquê dourado reforçado com uma boa durabilidade, além do desenho impecável em sua campana. Não é qualquer saxofone que brilha como o YAS-62.

RECURSOS DO INSTRUMENTO

REVIEW LIVE!

Mas só um acabamento estonteante não resolve os problemas do saxofonista, o que não é o caso do YAS-62, para a felicidade dos que pensam em adquirir esse instrumento. Nesse modelo diversos recursos estão disponíveis: F# agudo, F frontal, dedeira ajustável, campana destacável e o suporte das chaves principais também é ajustável. É um instrumento excelente de afinação e sua mecânica é extremamente confortável, tornando-o realmente apto à “voar”. Suas molas e altura das chaves podem ser reguladas ao gosto de cada saxofonista sem perder qualidade do timbre e a afinação. Nas notas mais graves ele possui um sistema de deslize entre as chaves que ajuda o dedo a não escorregar ao trocar rapidamente de uma nota à outra. Outro recurso desse instrumento é que o G# pode ser acionado segurando o C# grave, trazendo ainda mais conforto ao saxofonista nas passagens rápidas. E mais: é um instrumento sem grandes complicações até mesmo para o luthier, evitando assim eventuais dores de cabeça para ele e para o saxofonista.

TIMBRE E MECÂNICA Seu timbre é muito puro e claro, diferente de um saxofone antigo. É muito maleável, sujeito a grandes alterações de acordo com a boquilha escolhida. É um ótimo saxofone para quem trabalha com diferentes es-

tilos musicais e precisa dessa maleabilidade de timbres para suprir as necessidades de cada estilo. Mas para quem está acostumado com saxofones antigos o choque é grande ao experimentar esse instrumento. Mas acredito que seja mais uma questão de gosto do que qualidade exatamente. As sapatilhas deixam um pouco a desejar, porque o material não é dos mais resistentes e alguns parafusos tendem a soltar. Além disso, o G# e o C# grave podem colar de vez em quando. O YAS-62 é relativamente leve se comparado a saxofones mais antigos, cujo metal é mais denso. Ele vem com um estojo elegante e resistente, excelente para viagens, uma boquilha Yamaha 4C e uma correia.

CUSTO-BENEFÍCIO Seu preço é de US$ 3.207 (cerca de R$ 7.055,00). Falar que o preço de qualquer saxofone (e da maioria dos instrumentos de sopro) no Brasil é acessível seria um absurdo, ainda mais ao músico, que precisa batalhar muito; mas como já estamos acostumados a preços exorbitantes de instrumentos musicais posso assegurar que o YAS-62 vale o investimento. Prático, com ótimo desempenho e elegante, o YAS62 é a solução para o saxofonista profissional que precisa de um instrumento que não o deixará na mão. Por Ivan de Andrade Foto: Divulgação

SAX ALTO YAS-62 Fabricante:Yamaha Pró:acabamento, sonoridade e timbre Contra:parafusos podem soltar Preço médio: R$ 7.055,00 Garantia:12 meses Afinação finação Sonoridade onoridade Mecânica Mecânica Custo-benefício usto-benefício

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Utilização recomendada J Estudo J Apresentações ao vivo J Gravação em estúdio

Quer falar com o autor desta matéria? Ivan de Andrade, saxofonista: ivan_de_andrade@yahoo.com.br Tire suas dúvidas com o fabricante: Yamaha Musical do Brasil, (11) 3704-1777, www.yamahamusical.com.br

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ANÁLISES

Simples e funcional

FLAUTA MICHAEL WFLM35

L

MECÂNICA Quanto ao aspecto da mecânica da flauta, devemos observar se não

CONCLUSÃO Após o teste, chegamos à conclusão de que essa flauta é um instrumento de média à boa performance, indicado para iniciantes sem grandes pretensões e que queiram investir pouco em um primeiro instrumento com uma boa relação custobenefício. É uma boa flauta que poderá acompanhar o estudante por alguns anos. Por Débora de Aquino

LIVE!

Procuramos avaliar esta flauta em situações em que pudéssemos de fato ouvir o seu som. O instrumento foi submetido, a princípio, a testessolo em forma de estudos, nos quais pudemos sentir bem a sonoridade em toda sua extensão e sua afinação. Como resultado, tivemos uma afinação perfeita, incluindo os superagudos. Quanto à sonoridade, deixou um pouco a desejar. Tem bom desempenho na segunda e terceira oitavas, mas o som da primeira é pobre em harmônicos, o que a faz perder principalmente em volume. Essa característica se mostrou mais evidente no teste realizado em apresentação ao vivo em duo com piano, ambos sem amplificação, quando pudemos sentir falta de presença de som.

ESTÚDIO TECNOLOGIA REVIEW

AFINAÇÃO

NOVIDADE

Testar um instrumento de sopro é sempre uma grande responsabilidade. São muitos os fatores que envolvem a decisão de compra: afinação, sonoridade, mecânica e, claro, custo-benefício. Sob o aspecto custo-benefício, é importante frisar a importância de novas marcas e modelos no mercado musical. Há alguns anos não tínhamos a opção de efetuar a compra de um instrumento de sopro com valor acessível. Havia apenas instrumentos de marcas reconhecidas, mas de alto custo, o que, para alguém que inicia seus estudos musicais e nem sabe se vai gostar ou levar adiante a iniciativa, não seria interessante investir tanto a princípio. O mercado de instrumentos nacionais e importados, principalmente da China, tem crescido e, por que não dizer, se aperfeiçoado pouco a pouco. No caso da fábrica Michael, são instrumentos desenvolvidos nos Estados Unidos e fabricados na China e no Brasil. Um dos fatores mais importantes a se considerar em um instrumento de sopro é a afinação. A construção de um instrumento de sopro deve ser observada com muito cuidado. Os orifícios onde são colocadas as chaves são acusticamente estudados para que determinado dedilhado soe uma determinada nota, e

existem folgas entre os eixos, se as sapatilhas têm boa vedação, se as molas estão com boa pressão para que o dedilhado seja macio e sem barulhos excessivos de chaves. Outro fator importante é a anatomia do instrumento, ou seja, o posicionamento das mãos deve ser o mais confortável possível. Hoje, as novas fábricas de instrumentos estão fazendo verdadeiras cópias dos instrumentos mais consagrados. Como já citamos, isso é positivo, já que as grandes fábricas desenvolvem a ergonomia do instrumento e as outras seguem os mesmos padrões. Em nossa avaliação, verificamos que a flauta testada necessita de alguns ajustes em sua mecânica. É necessário mais pressão em algumas molas para que passagens rápidas tenham uma melhor resposta, porém teve bom desempenho em peças de baixa e média dificuldade.

TESTE

OS CRITÉRIOS

se esses orifícios não estiverem milimetricamente colocados, o instrumento dificilmente será afinado. Outro ponto que interfere na afinação é o comprimento do tubo do instrumento. Essa afinação é medida de acordo com o encaixe do bocal no corpo da flauta. Se o bocal estiver completamente encaixado, será obtida a maior freqüência de afinação comportada pelo instrumento; se estiver o máximo possível desencaixado, será obtida a menor freqüência de afinação (quanto maior o comprimento do tubo, mais baixa será a afinação e vice-versa). Portanto, é necessário que se consiga chegar à freqüência de 440 hz para o Lá da segunda oitava com um determinado encaixe do bocal, o que pode ser medido com a utilização de afinadores eletrônicos. Ainda deve ser avaliado aqui o aperto exato dos parafusos para que as chaves sejam vedadas corretamente e dêem a afinação certa.

SAX ALTO YAMAHA YAS - 62: ELEGANTE E PRÁTICO

ogo de cara tive boa impressão da flauta Michael a ser testada. Ela vem em um estojo resistente, de fibra, com bom acabamento. Dentro dele, a vareta para limpeza e afinação, desumidificador e creme lubrificante. À primeira vista, esse instrumento se assemelha em muito aos modelos de flautas mais conhecidos da Armstrong e Yamaha. A linha de flautas Michael possui três modelos e esse é o segundo na hierarquia. Possui acabamento prateado e mecanismo de Mi para terceira oitava, o que facilita muito a emissão dessa nota, que é considerada uma das mais difíceis de serem tocadas.

FLAUTA WFLM35 Fabricante:Michael Pró:afinação e custo-benefício Contra:precisa de mais pressão nas molas Preço médio: R$ 700,00 Garantia:6 meses, incluindo banho Afinação Afin ação Sonoridade Sonori dade Mecânica Mecânica Custo-benefício Custo-benefício

•••••••••• •••••••••• 10 ••••••• 7 ••••••• •••••• 6 •••••• •••••••• •••••••• 8

Utilização recomendada J Estudo J Apresentações ao vivo J Gravação em estúdio

Quer falar com o autor desta matéria? Débora de Aquino, flautista: debyaquino@uol.com.br Tire suas dúvidas com o fabricante: Michael Instrumentos Musicais, Belo Horizonte - MG, (31) 2102-9270, www.michael.com.br SAX & METAIS JULHO / 2006

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REVIEWSCDs e Livros NoiteRasa

Artista: Quito Pedrosa BiscoitoFino

Misturafina À frente de seu quarteto – formado por Marco Tomasso (piano), Bruno Migliari (baixo) e Cássio Cunha (bateria), além da participação de Gabriel Grossi (gaita) – o saxofonista Quito Pedrosa desenvolve uma sonoridade com elementos de samba, samba-canção, bossa-nova, além da música ibero-americana e do jazz. O saxofonista revela em seu trabalho a experiência adquirida em diferentes países como Espanha, França e Peru, onde viveu parte de sua formação musical. Ele apresenta suas versões para standards da música popular brasileira, como Antonico, de Ismael Silva; A flor e o espinho, de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito; As rosas não falam, de Cartola; Nervos de aço, de Lupicinio Rodrigues; A Rita, de Chico Buarque, além de Quase, de Mirabeau. Da lavra de Quito, estão Eclipse, Clara, Aquela tarde, Sobre árvores e Idílio. O músico, que é também artista plástico, assina ainda as ilustrações do encarte do CD. Por Júlio Moura

ConcertosMillenovecento Artista: ClarinEtc... BrazilbizzMusic

Clássicos paraclarinete Colegas de longa data, dividindo palcos de grandes orquestras e grupos de câmara, o quarteto ClarinEtc... lança seu primeiro CD pelo selo Brazilbizz Music. Formado por Eduardo Pecci “Lambari” (clarinete e sax soprano), Otinilo Pacheco (clarinete), Domingos Elias Yunes (clarinete e requinta) e Luís Afonso “Montanha” (clarone), todos músicos da Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal de São Paulo, eles mostram grande entrosamento e desenvoltura num repertório que inclui clássicos da música brasileira - do choro ao samba, da MPB à bossa nova. O CD apresenta obras de mestres do choro, como K-Ximbinho, Pixinguinha e Severino Araújo, além da bossa de Tom Jobim, Newton Mendonça e Marcos Valle. Eduardo Pecci, responsável pela maioria dos arranjos, assina as faixas Por que não? e Aquecendo). Por Maíra Sales

Paisagens do Rio

Artista: UFRJazz Selo Rádio MEC/ Rob Digital

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Depois de passar seis anos viajando por 11 países e 18 cidades e tirar cerca de 4 mil fotos, o fotógrafo Jefferson Mello criou um livro recheado de imagens do cotidiano jazzístico. Os caminhos do jazz (280 páginas, R$ 200,00, ed. Primeira Impressão), com 280 fotos, é também um maravilhoso roteiro pelo mundo. “Logo na primeira visita a New Orleans, em 1996, já senti que renderia um grande material”, lembra o fotógrafo. Mello encontrou pessoas como o trompetista Gregory Sttaford, que toca na Tuxedo Brass Band (da qual Louis Armstrong fez parte) e o ciceroneou pelos diversos clubes de Nova Orleans, entre eles o clássico Preservation Hall; a cantora Sarah Kramer, na época ainda uma garçonete, e com o brasileiro Hermeto Pascoal. “Estive cinco vezes lá e cada visita me preparava surpresas agradáveis. Presenciei a Jazz Parede, um jazz funeral, pude conhecer os clubes fora do tradicional ‘quarteirão francês’ (Quartier Francês) e, principalmente, a periferia do jazz”, conta Mello, que fotografou Nova Orleans em todo seu esplendor, antes da chegada do Katrina. Por Regina Valente

Paulicéia

Uma big band de verdade A orquestra de sopros UFRJazz Ensemble, acaba de completar dez anos de existência e lança seu terceiro disco. Composta por 5 saxofones, 4 trompetes, 4 trombones mais a base rítmica de guitarra, piano, baixo, bateria e percussão, a orquestra convidou compositores contemporâneos para olhar para o conjunto com jeito de Brasil. O samba é o fio condutor do disco e a orquestração para sopros valorizou as linhas melódicas e as diversidades harmônicas do gênero. Duas das faixas, Balada Mineira, de Francis Hime e Tijuca, de Nivaldo Ornelas, foram compostas especialmente para a UFRJazz. Guinga, Jovino Santos Neto, Carlos Malta, Gilson Peranzzetta e Ornelas, Thiago Trajano e Henrique Band atuaram também como solistas nas gravações realizadas nos estúdios da Rádio MEC. O disco abre com o vigoroso baião Paisagem Brasileira, em

A grande viagemdojazz

Artista:PauloRonchi Fábrica do Som

Trompetevisitaobraspaulistas

que o solo de piano de seu autor, Gilson Peranzzetta, dialoga com a zabumba de Gabriel Güenther e é emoldurado pelos naipes de sopros. Carlos Malta compôs Frevando na Dinamarca em três diferentes andamentos. Duas baladas, Maria’s Mood, de Thiago Trajano, e Balada Mineira, de Francis Hime tiram partido da formação orquestral em suas composições. Na música de Trajano é a própria big band o instrumento criador, gerando o clima, as sensações e os timbres. Hime cria uma fantasia para sopros inspirada no seu concerto para violão e orquestra. Por Jeanne Duarte

A palavra paulicéia aqui empregada, mais que o reflexo da trajetória cultural da cidade de São Paulo, reverencia as composições para trompete escritas por compositores que nasceram e/ou naturalizaram-se paulistas. Como uma das propostas do disco foi demonstrar diversificadas instrumentações, foram escolhidas as obras: Invenção para trombeta, trompa e trombone, de Osvaldo Lacerda, por ser um trio de instrumentos de metal; Concerto n.1 para trompete, de Edmundo Villani-Côrtes que, embora não seja paulista, reside em São Paulo há vários anos e contribui imensamente na produção musical brasileira; Andante e Bollero, de Santanna Gomes, devido ao valor histórico e contraste de composições da obra. Por Regina Valente

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WORKSHOP

Saxofone

PONTO DE BALA Composição e Arranjo: Carlos Malta

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TESTE NOVIDADE ESTUDO

CARLOSMALTA• PONTODE BALA

TECNOLOGIA REVIEW

uando escrevi esta composição, pensei num arranjo para quarteto de saxofones em que a melodia principal e os acompanhamentos mudassem de instrumento a todo instante, exigindo dinâmica, aguçado senso rítmico e muita sutileza nos ataques e volume de som. Cada executante deve estudar individualmente sua parte, verificando a precisão das figuras rítmicas, que se alternam em subdivisões de quiálteras de 3 e semicolcheias. Tente interiorizar (pense numa levada de frevo, por exemplo) essa subdivisão individual e coletivamente. Cante sua parte em conjunto com os outros de modo a deixar bem claras as entradas e saídas de cada um dos instrumentos. Deve-se observar também o trecho musical que está sendo executado, para diferenciar o volume quando é solo ou acompanhamento. Procure trabalhar o pianíssimo com precisão rítmica e cuidado com a afinação.

Carlos Malta é saxofonista, compositor e arranjador. Lidera também a banda Carlos Malta & Pife Muderno, tem 8 CDs-solo gravados. Site: www. carlosmalta.com.br. Contato: cmalta.rlk@terra.com.br A parte do sax tenor pode ser tocada oitava acima quando é solo, o que exige mais do executante desse instrumento. O trecho Ponte para Impro é um momento que pode ser repetido várias vezes para que cada um improvise um pouco. A base harmônica é sobre dois acordes (B sus 4 e E sus 4 concerto), bastante aberta para vôos criativos. A tonalidade resultante não deixa de ser um pouco desconfortável para os instrumentos em Sib e Mib, mas a idéia é justamente esta: trabalhar muito para ficar natural. Após essa ponte, o tema inicial vai voltar e ao ir para Coda, preste bastante atenção na figura rítmica picotada dentro da tercina. O sax barítono apóia dando uma sensação de

deslocamento da acentuação do tempo. Comece tocando lentamente, tanto individual quanto coletivamente, de modo a tocar limpo, e vá acelerando aos poucos. Não tenha pressa! Tenha cuidado e bom gosto! Esta peça está gravada em meu CD O escultor do vento e no CD 100 anos de saxofone, do quarteto paraibano JPSax, e foi composta pensando em aumentar o repertório de música brasileira para quarteto de saxofones – mas também pode ser tocada com três trompetes e trombone, três clarinetes e clarone, etc.; só tenha o cuidado de fazer as devidas transposições. Assim, dou minha contribuição para deixar todo mundo em Ponto de bala.

LIVE!

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WORKSHOP

Saxofone

DIGITAÇÕES ALTERNATIVAS Paulo Oliveira

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TESTE NOVIDADE ESTUDO TECNOLOGIA REVIEW

PAULO OLIVEIRA - DIGITAÇÕES ALTERNATIVAS PARA SAXOFONE

medida que o estudante de saxofone se desenvolve, a familiaridade e a conseqüente integração das digitações alternativas na sua técnica tornam-se uma necessidade. O sax possui, em seu mecanismo, opções para digitar determinadas notas de outras maneiras. Quando escolhidas adequadamente, essas alternativas proporcionam uma maior fluidez e facilidade ao lidar com certas passagens técnicas, além de uma sonoridade mais consistente em relação às notas vizinhas, oferecendo melhor ligação dos sons e controle mais apurado das dinâmicas. As digitações alternativas mais utilizadas são: • Dó nos registros médio e agudo, combinando a digitação da nota Si natural com a chave lateral central apertada com o lado do indicador direito e que chamaremos aqui de Dó Lateral. • Sib (Lá#) também no médio e no agudo, que oferece quatro opções de digitação: a) Lateral, combinando a posição de Lá natural e o lado do dedo indicador direito na chave lateral inferior; b) ID, com a posição de Si natural combinada com o dedo indica-

Paulo Oliveira é saxofonista, de São Paulo, e toca no grupo Zarabatana

dor da mão direita na chave do Fá; c) MD, posição de Si natural combinada com o dedo médio da mão direita na chave do Fá#; d) “Bis”, utilizando o fechamento simultâneo da chave do Si e da chave “bis” com o indicador da mão esquerda (a chave bis é aquela que possui um botão menor logo abaixo da chave do Si). • Fá# (Sol b) Lateral, nos registros médio e agudo, combinando a posição do Fá natural e o pressionamento da chave alternativa do Fá# com o dedo anular da mão direita (esta chave é aquela mais próxima da chave do R# grave). • Mi agudo frontal ou bis, posição de Sol com o dedo indicador esquerdo elevando-se para pressionar o botão (ou espátula) imediatamente acima. • Fá Agudo frontal ou bis, mesma posição do Mi agudo frontal com o dedo anular da mão esquerda elevado.

LIVE!

A utilização dessas digitações obedece basicamente a um princípio de economia de movimentos, ou seja, menos dedos se movimentam e evitam-se inversões de movimentos (um dedo abaixando e outro levantando, ações difíceis de sincronizar). As regras são bem simples: • O Dó Lateral é utilizado sempre em passagens descendentes Dó indo para Si natural ou ascendentemente em passagens cromáticas Si, Dó, Dó# e em trinados de Si para Dó. Descendo a Serra, Pixinguinha

• O Sib (Lá#) Lateral é utilizado nas passagens que envolvem principalmente o movimento ascendente Lá, Sib, Dó ou essas mesmas notas descendentemente e em trinados de Lá indo para Sib. Eu te quero bem, Luis Americano

• O Sib (Lá#) do Indicador da Mão Direita (ID) é utilizado quando o Sib é precedido de um Fá natural e a nota posterior for um Si natural ou qualquer nota que use os dedos da mão direita (o arpegio de Sib Maior é um bom exemplo). Chorei, Pixinguinha

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• Utiliza-se o Sib (Lá#) do Médio da Mão Direita (MD) quando o Sib for precedido de um Gb (Fá#) e a nota posterior for um Si natural ou qualquer nota que use os dedos da mão direita. Sururú na cidade (3ª parte), Zequinha de Abreu

• Utiliza-se o Sib (Lá#) “bis” em passagens que envolvam as notas Sol ou Ab indo ou vindo do Sib e também em passagens entre Sib e Réb (o arpegio de Sol diminuto é um bom exemplo). Tigre da Lapa, Luis Americano

• O Fá# (Sol b) Lateral é utilizado em passagens cromáticas ascendentes e descendentes e nas descendentes de Sol b para Fá. Escorregando, Ernesto Nazareth

• O Mi agudo frontal é utilizado nas passagens entre Dó e Dó# para o Mi agudo. Arpegios de Am7 e A7

• Utiliza-se o Fá agudo frontal nas passagens entre Dó e Dó# para o Fá agudo. Arpegios de F7(#5) e F7

A princípio, algumas digitações podem parecer mais complicadas que as posições usuais, mas isso acontece muitas vezes por falta de hábito em utilizá-las. Colocá-las em prática depende principalmente de um trabalho de análise e escolha aplicado ao material de estudo técnico, como escalas e arpegios. Sempre que nos deparamos com uma nota que possibilita mais de uma digitação, devemos nos fazer aquela antiga pergunta

filosófica: “De onde vim? Para onde vou?” Aqui, no caso, é de qual nota vim? Para qual nota vou? Com esses dados, analise qual alternativa de digitação possibilita executar a passagem com menos movimentos e sem inversões, principalmente na mesma mão. Vale lembrar que a utilização dessas técnicas se justifica notadamente em passagens mais rápidas. Em trechos mais lentos, as posições usuais em geral são mais afinadas. SAX & METAIS JULHO / 2006

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WORKSHOP

Flauta

A FLAUTA NO CHORO Andrea Ernest Dias

TESTE NOVIDADE ESTUDO TECNOLOGIA REVIEW

ANDREAERNESTDIAS• A FLAUTA NO CHORO

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Andrea Ernest Dias é flautista da Banda Ouro Negro, Pife Muderno, Quinteto Pixinguinha e Orquestra Sinfônica Nacional; Mestre em Flauta pela UFRJ e autora da dissertação “A expressão da flauta popular brasileira – uma escola de interpretação”. Discografia-solo: Andrea Ernest Dias e Tomás Improta - flauta e piano (Biscoito Fino, 2005). Contato: andreaernest@uol.com.br Como não há regra específica para a articulação no choro, raramente são feitas indicações nas partituras. As combinações ficam a critério do músico, refletindo a sua individualidade. A articulação não deve, portanto, ser encarada com rigidez. O mais importante é a distinção e clareza da pronúncia, fundamentada principalmente na vivência e prática do gênero. Basicamente, são usados quatro tipos de golpe de língua, com variações fonéticas - Simples: TU ou DU, TE ou DE, TI ou DI (para choros médios); Médio ou subligado: TERE, TURU, TIRI (para choros lentos e médios); Duplo: TUKU ou DUGU, TEKE ou DEGE, TIKI ou DIGI (para escalas e

arpejos em choros rápidos) e Triplo: TUKUTU ou DUGUDU, TEKETE ou DEGEDE, TIKITI ou DIGIDI (idem). Esses golpes de língua associados à pulsação binária do choro, ou seja, o agrupamento de quatro semicolcheias a cada tempo e suas variações rítmicas, terão, a critério do instrumentista, inflexões variadas, dependendo do andamento estabelecido pela música ou pelo grupo de executantes. Num grupo de quatro semicolcheias existem algumas possibilidades de articulação. As mais freqüentes na execução do choro e combinadas entre si são: todas ligadas; todas desligadas; subligadas; duas ligadas e duas soltas; uma solta e três ligadas; ligadas duas a duas.

Este choro de autoria do mestre Pixinguinha e de bela expressão melódica é uma das músicas mais executadas pelos flautistas nas rodas de choro. Sua estrutura segue o padrão tradicional do gênero AA BB A CC A, cada parte contendo 16 compassos, em tons relativos, vizinhos

ou homônimos à tonalidade da primeira parte. Neste caso, temos: A - Ré menor; B - Fá maior e C - Ré maior. Alguns elementos são marcantes nesta partitura: as expressivas anacruses cromáticas; as apojaturas e os mordentes escritos, configurando uma aplicação do estudo das

‘pequenas notas’; o legato, que apesar de não indicado é sugerido pelo contorno melódico, sem a presença da síncopa. Pode-se optar também por uma articulação subligada; na segunda parte encontramos um desenho rítmico quialterado em sextinas que pode ser articulado de diversas formas:

LIVE!

choro é um gênero musical em que a liberdade de interpretação é fator relevante. O fraseado é o meio expressivo mais elevado para um chorão. Como na música de câmara, o choro requer de seus intérpretes bastante desenvoltura técnica e percepção geral do grupo em sua base rítmica e harmônica, além de uma capacidade de improviso em detalhes que marcarão particularidades da expressão musical de cada um, como variações rítmicas por meio de antecipações ou deslocamentos dos tempos, ornamentações da melodia e improvisos sobre a harmonia. Para o flautista, existem alguns elementos de ornamentação já sedimentados na linguagem do choro, como trinados, mordentes, apojaturas, glissandos ascendentes e descendentes e frulato (rolamento de língua ou garganta).

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NAQUELE TEMPO Pixinguinha

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WORKSHOP TESTE NOVIDADE ESTUDO TECNOLOGIA REVIEW

ANDREAERNESTDIAS• A FLAUTA NO CHORO

LIVE!

OBSERVAÇÕES • Paraque hajaclarezana emissãodestafrase,seja qualfor a opçãode articulação,sugiroestudá-lapreviamenteinteiramente ligada,buscandohomogeneidadena sustentaçãodo som entre os intervalos.

talvezcomouma artimanhade Pixinguinhadirigidaaos solistas, aparecenovamenteo desenhoquialterado,conduzindoà repetição.Para tocá-locom clarezaé precisoestar com a pulsação rítmicabem estabelecidae valer-sede uma boa respiração,de modo que não ocorra precipitação.

• A terceiraparte,em Ré maior,é ritmicamentemais tranqüila, com desenhopredominantede colcheias.Assimcomona primeira parte,as apojaturasestão marcadas.A extensãodas frases e a conduçãodos intervalos,atingindoo ponto culminantenas oitavasdo compasso49, oferecemao flautistacampofértilpara a expansãoe a flexibilidadeda sonoridade.Ao finaldestaparte,

• Os planosde dinâmicadevemseguir as linhas das frases, conduzindoo sopro com liberdade.Belos contrastespodem ser feitosapenasmudandoo registro,isto é, transpondoa música para uma oitavaacima.Ao fazerisso, o intérpreteconseguirá,alémde maisvariedadena interpretação,um excelente progresso no estudo do registro agudo da flauta.

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WORKSHOP

Gaita

DICASDE IMPROVISAÇÃO 2 André Carlini

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André Carlini é gaitista e professor da Escola de Música & Tecnologia, de São Paulo. www.andrecarlini.com.br

Estudaremos os seguintes padrões na Escala Blues de G (G Bb C Db D F G)

Carlini II (vai subindo uma nota de cada vez dando salto na ida e voltando todas as notas até chegar à tônica) G Bb G ‘ C Bb G ‘ Db C Bb G ‘ D Db C Bb G ‘ F D Db C Bb G ‘ G F D Db C Bb G

LIVE!

Primeiro você estudará esses padrões até obter muita habilidade e precisão. Depois separe cada trecho desses padrões e crie um lick, tocando-o separadamente em ‘ida e volta’, ‘ida e ida’, e ‘volta e volta’, como mostra o exemplo a seguir. - G Bb C (primeiro trecho da tercina)

TECNOLOGIA REVIEW

Carlini I (vai subindo uma nota de cada vez sempre voltando até a tônica) G Bb’ G Bb C Bb ‘ G Bb C Db C Bb ‘ G Bb C Db D Db C Bb ‘ G Bb C Db D F D Db C Bb ‘ G Bb C Db D F G F D Db C Bb G

ESTUDO

4x4 (vão quatro notas e voltam duas) G Bb C Db ‘ Bb C Db D’ C Db D F ‘ Db D F G

NOVIDADE

Tercina (vão três notas e volta uma) G Bb C ‘ Bb C Db ‘ C Db D ‘ Db D F ‘ D F G

TESTE

ANDRÉ CARLINI - DICAS DE IMPROVISO: PARTE 2

amos seguir o raciocínio das dicas dadas na edição passada. Agora veremos como usar os padrões de forma mais prática, os padrões. Eles não servem somente para dar habilidade e virtuosismo, mas também na formação de licks e frases, como veremos a seguir.

1º ida e volta - G Bb C Bb G Bb C Bb G... 2º ida e ida – G Bb C G Bb C... 3º volta e volta – C Bb G C Bb G ... Observação: Fazer isso com todos os trechos possíveis. Criei uma tabela para facilitar a visualização. G Bb C G Bb C Db Bb C Db

G Bb C Db D Bb C Db D

C Db D

G Bb C Db D F Bb C Db D F

C Db D F Db D F

G Bb C Db D F G Bb C Db D F G

C Db D F G Db D F G

DFG Estude bem os licks Só nessa tabela você terá 45 licks. Então, decore cada um deles, crie suas frases e coloque em prática em vários ritmos e estilos diferentes. Um mesmo lick pode ser tocado de várias formas. Pensando assim, você aumentará consideravelmente suas possibilidades de improvisação. Outra dica é ouvir e identificar os licks de todo tipo de músico. Entre os gaitistas, gosto muito de Sugar Blues, Mark Ford, Rod Piazza, Bill Barrett, Toots Thielemans e Gregoire Maret. Dos músicos de outros instrumentos de sopro ouço bastante Wes Montgomery, Pat Martino, Charlie Parker, John Scofield, Soulive, Greyboy Allstar e o grande mestre Maceo Parker. Bons estudos!

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WORKSHOP

Tr o m p e t e

LÍDER DO NAIPE NA BIG BAND Júnior Galante

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JÚNIOR GALANTE: LÍDER DO NAIPE NA BIG BAND

a seção dos trompetes em big bands, o trompete Bb (Si bemol) é o mais comum hoje. As orquestras empregam dois, três ou quatro trompetes no naipe e são eles que representam a força sonora. O líder do naipe, chamado de 1º trompete, usualmente indica de que maneira e onde os metais respiram, e o exato ponto em que a frase é ‘cortada’. Essa função não afasta do arranjador a obrigação de marcar cuidadosamente tais detalhes, mas aponta quais especificações parecem inapropriadas ou impraticáveis. O 1º trompete é responsável por criar ou compor sua própria e importante contribuiSom real

Júnior Galante é trompetista na Orquestra Jazz Sinfônica do Estado de São Paulo, 1º trompete da Soundscape Big Band Jazz. Contato: galantejunior@yahoo.com.br ção, desde que haja entendimento preestabelecido entre o arranjador e o trompetista. Um líder deve ter em sua personalidade características de comando, precisão rítmica e disciplina com a partitura, embora tenha liberdade para decidir alguns critérios. A função de um líder é abrangente, mas acima de tudo é quem personifica o swing dos metais numa banda. É necessário ouvir ana-

Notação

LIVE!

Observação: O arranjador deve evitar intervalos longos e incômodos entre duas notas, de modo que o trompetista possa ter tempo

Extensão real

para ajustar seu ouvido e lábios para a nota que está por vir. O músico que não conseguir ouvir ou identificar naturalmente não conse-

liticamente os estilos de big band ou mesmo outras combinações orquestrais para saber diferenciar estilos de acordo com a respectiva época. O trompete Bb é um instrumento transpositor, ou seja, a nota é escrita um tom acima da nota de sonoridade real. A extensão pode ser grande, dependendo da habilidade do trompetista, mas a praticável para um bom 1º trompete deve ser: Extensão Escrita

guirá executar bem uma música. As notas, ambas as extremidades, agudas ou graves, devem ser encaminhadas com naturalidade.

Há os grandes arranjadores que escrevem acima da extensão para o 1º trompete. Este exemplo é o clímax de uma composição de Thad Jones, ícone do jazz.

Trompete 1

Trompete 2

Trompete 3

Trompete 4

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