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Flauta
A FLAUTA NO CHORO Andrea Ernest Dias
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ANDREAERNESTDIAS• A FLAUTA NO CHORO
O
Andrea Ernest Dias é flautista da Banda Ouro Negro, Pife Muderno, Quinteto Pixinguinha e Orquestra Sinfônica Nacional; Mestre em Flauta pela UFRJ e autora da dissertação “A expressão da flauta popular brasileira – uma escola de interpretação”. Discografia-solo: Andrea Ernest Dias e Tomás Improta - flauta e piano (Biscoito Fino, 2005). Contato: andreaernest@uol.com.br Como não há regra específica para a articulação no choro, raramente são feitas indicações nas partituras. As combinações ficam a critério do músico, refletindo a sua individualidade. A articulação não deve, portanto, ser encarada com rigidez. O mais importante é a distinção e clareza da pronúncia, fundamentada principalmente na vivência e prática do gênero. Basicamente, são usados quatro tipos de golpe de língua, com variações fonéticas - Simples: TU ou DU, TE ou DE, TI ou DI (para choros médios); Médio ou subligado: TERE, TURU, TIRI (para choros lentos e médios); Duplo: TUKU ou DUGU, TEKE ou DEGE, TIKI ou DIGI (para escalas e
arpejos em choros rápidos) e Triplo: TUKUTU ou DUGUDU, TEKETE ou DEGEDE, TIKITI ou DIGIDI (idem). Esses golpes de língua associados à pulsação binária do choro, ou seja, o agrupamento de quatro semicolcheias a cada tempo e suas variações rítmicas, terão, a critério do instrumentista, inflexões variadas, dependendo do andamento estabelecido pela música ou pelo grupo de executantes. Num grupo de quatro semicolcheias existem algumas possibilidades de articulação. As mais freqüentes na execução do choro e combinadas entre si são: todas ligadas; todas desligadas; subligadas; duas ligadas e duas soltas; uma solta e três ligadas; ligadas duas a duas.
Este choro de autoria do mestre Pixinguinha e de bela expressão melódica é uma das músicas mais executadas pelos flautistas nas rodas de choro. Sua estrutura segue o padrão tradicional do gênero AA BB A CC A, cada parte contendo 16 compassos, em tons relativos, vizinhos
ou homônimos à tonalidade da primeira parte. Neste caso, temos: A - Ré menor; B - Fá maior e C - Ré maior. Alguns elementos são marcantes nesta partitura: as expressivas anacruses cromáticas; as apojaturas e os mordentes escritos, configurando uma aplicação do estudo das
‘pequenas notas’; o legato, que apesar de não indicado é sugerido pelo contorno melódico, sem a presença da síncopa. Pode-se optar também por uma articulação subligada; na segunda parte encontramos um desenho rítmico quialterado em sextinas que pode ser articulado de diversas formas:
LIVE!
choro é um gênero musical em que a liberdade de interpretação é fator relevante. O fraseado é o meio expressivo mais elevado para um chorão. Como na música de câmara, o choro requer de seus intérpretes bastante desenvoltura técnica e percepção geral do grupo em sua base rítmica e harmônica, além de uma capacidade de improviso em detalhes que marcarão particularidades da expressão musical de cada um, como variações rítmicas por meio de antecipações ou deslocamentos dos tempos, ornamentações da melodia e improvisos sobre a harmonia. Para o flautista, existem alguns elementos de ornamentação já sedimentados na linguagem do choro, como trinados, mordentes, apojaturas, glissandos ascendentes e descendentes e frulato (rolamento de língua ou garganta).
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SAX & METAIS JULHO / 2006
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