Sax & Metais #23

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ARTICULAÇÃO COM PROBLEMA?

Elimine essa questão e toque muito melhor

“DEDIQUEI-ME AOS ESTUDOS E NÃO PAREI MAIS” Saxofonista da banda Mastruz com Leite revela detalhes da carreira como músico popular e produtor

SAX&METAIS•2009•Nº 23•R$ 8,90

A REVISTA PARA QUEM TOCA E AMA INSTRUMENTOS DE SOPRO

GERALD ALBRIGHT

O músico que acompanhou Quincy Jones, Whitney Houston e Phil Collins em um papo sobre sua carreira e técnica

MOS TESTAnonball

Sax Caian é excelente em

ânc “A resson extensão, assim toda a finação” como a a

Ever-tonbre s a h il u q m Bo procura ti

em “Para qu fusion ou pop” zz ja is a m

ARRANJOS IRADOS! Passo a passo fácil para escrever com duas vozes + exemplo completo para dois saxofones. Imperdível!

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Teco Cardoso usa palhetas Rico Hemke para saxofone

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Marco Aurelio Olimpio

Teco Cardoso Final.ai 3/4/2009 10:02:54



índice edição 23

CAPA

Gerald Albright

40 Vitrine

32 SEÇÕES 6 EDITORIAL 8 CARTAS 10 LIVE!

18 Amedício Júnior

22 Biu do Pife

20 Ricardo Serpa

16 VICE-VERSA Léa Freire e Teco Cardoso 18 VIDA DE MÚSICO Amedício Júnior 30 REVIEWS – CDs e DVDs 38 ANÁLISES Boquilha Ever-Ton Sax Tenor Sax Alto Cannonball Vintage 40 VITRINE 50 CLASSIFICADOS

MATÉRIAS 5 MINUTOS COM

20

Ricardo Serpa

TÉCNICA

24

A trajetória do saxofonista que após 23 anos de carreira lança seu primeiro trabalho-solo 5 MINUTOS COM

22

Biu do Pife

A vida e as histórias de uma das principais figuras das bandas de pifes de Caruaru

4

SAX & METAIS

42 Fernando Dissenha TROMPETE

Aprenda a técnica de escrita em bloco para duas vozes

44 Ivan Marcio GAITA

CAPA 32

WORKSHOPS

Escrevendo para duas vozes

Gerald Albright Foram necessários 30 anos de carreira para o saxofonista chegar ao que considera o seu melhor trabalho, Sax on Stax

Articulação Posições na gaita diatônica II

46 Rafael Velloso SAXOFONE Improvisação pela superposição de acordes

48 Rodrigo Capistrano SAXOFONE O papel do saxofone e do saxofonista na orquestra sinfônica


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c a r t a a o l e i t or

Versatilidade

de sobra E

ste mês, seguindo os passos da edição anterior da Sax & Metais, novamente estampamos em nossa capa uma figura da música internacional. Agora é a vez do saxofonista Gerald Albright. Que, aliás, também é baixista, produtor e ator. Sabia dessa? Pois é, o músico nos contou como substituiu um baixista certa vez em uma turnê, além de outras histórias sobre sua vida e carreira. E revela: “Nunca se sabe em que você é bom se não tentar fazer as coisas”. Para você começar a arriscar seus primeiros arranjos para duas vozes, preparei uma matéria sobre como escrever em bloco para dois instrumentos. De quebra, vai de presente um arranjo completo de Groovin Hight para você se divertir. Este mês também contamos com uma colaboração superespecial do músico Marcelo Monteiro. Ele foi até Caruaru, cidade pernambucana, e conversou com uma das maiores figuras das bandas de pifes do Ceará, Biu do Pife. Conheça um pouco da cultura musical do Nordeste e das histórias desse grande ‘tocador’. Para mostrar mais um grande talento da música instrumental brasileira, conheci o trabalho de Ricardo Serpa. O saxofonista e flautista tem 23 anos de carreira, já foi sideman de diversos artistas e agora lança seu primeiro Sonny Rollins: trabalho-solo. simpatia e talento No mais, saiba das novidades em Live!, onde trazemos dicas de alguns dos festivais de inverno/férias que rolam no mês de julho e que já estão com inscrições abertas. Aproveite nossas dicas e workshops e até breve!

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SAX & METAIS

EDITOR / DIRETOR Daniel A. Neves S. Lima EDITOR-CHEFE Rogério Nogueira MTB: 43.362 SP EDITORA TÉCNICA Débora de Aquino DIREÇÃO DE ARTE Alexandre Braga alexandre@lupecomunicacao.com.br REVISÃO Hebe Ester Lucas DEPARTAMENTO COMERCIAL Carina Nascimento e Eduarda Lopes ADMINISTRATIVO / FINANCEIRO Carla Anne ASSINATURAS Barbara Tavares assinaturas@musicaemercado.com.br Tel.: (11) 3567-3022 IMPRESSÃO E ACABAMENTO Vox Editora FOTOS Dani Gurgel, Dani Godoy, Kristian Knock, Robson Vasconcelos, Victor Vargas e Marcelo Monteiro COLABORADORES Marcelo Monteiro, Victor Vargas, Alfredo Bello, João Máximo, Rodrigo Bento, Fernando Dissenha, Ivan Marcio, Rodrigo Capistrano e Rafael Velloso DISTRIBUIÇÃO NACIONAL PARA TODO O BRASIL Fernando Chinaglia Distribuidora S/A Rua Teodoro da Silva, 907 • Grajaú CEP 20563-900 • Rio de Janeiro • RJ Tel.: (21) 2195-3200 ASSESSORIA Edicase Soluções para Editores SAX & METAIS (ISSN 1809-5410) é uma publicação da Música & Mercado Editorial. Administração, Redação e Publicidade: Caixa Postal 21262 • CEP 04602-970 São Paulo • SP • Brasil Todos os direitos reservados. PUBLICIDADE Anuncie na Sax & Metais comercial@musicaemercado.com.br Tel./Fax: (11) 3567-3022 www.saxemetais.com.br e-mail: ajuda@saxemetais.com.br editorial@saxemetais.com.br



cartas

Fale com a Sax & Metais: envie suas dúvidas e sugestões para editorial@saxemetais.com.br

Sonny Rollins

Microfones

Sax erudito

Parabéns pela matéria com Sonny Rollins! Muito bom gosto nas questões elaboradas. Considero um privilégio fazer chegar às nossas mãos o pensamento do mestre sobre música e sax. Ronaldo Aguiar Rio de Janeiro, RJ

Para mim foi muito útil a matéria sobre microfones. Estou querendo comprar um, mas faltavam informações a respeito. Parabéns ao Josec Neto e à equipe da revista, que sabe identificar nossas necessidades. Cláudio Medina São Paulo, SP

Vocês foram demais na entrevista com Sonny Rollins. Perguntaram tudo o que eu gostaria de saber. Marcelo Souza Juiz de Fora, MG

Leo Gandelman

É bom saber que o saxofone tem seu lugarzinho ao sol também no mundo erudito. Gostei da matéria com o Rodrigo Capistrano e a anterior, com o Dílson Florêncio, duas feras no assunto. Agora, para complementar, vocês poderiam fazer workshops voltados à música erudita. Janete Ferreira São Paulo, SP

Sensacional a matéria de capa da última Sax & Metais, com o Sonny Rollins! Concordo quando ele disse que o estilo de vida de Charlie Parker não teve influência em sua música. Talento não tem nada a ver com o modo de vida que você leva. Mais uma vez, parabéns por mais uma excelente edição. Antônio Bueno Belo Horizonte, MG

Gostei muito da entrevista com o Leo Gandelman na seção Live. Aliás, estive na última apresentação dele no Rio de Janeiro. Foi fantástico! Cleiton S. Realengo, RJ

ERRATA

Na seção Live!, erramos o endereço eletrônico do Atelier Daniel Tamborin. O correto é www.danieltamborin.com.br

ORKUT Para saber informações da revista e trocar ideias com outros músicos de sopro, participe da comunidade da Sax & Metais no Orkut – http://www.orkut.com/Community. aspx?cmm=12315174. Já são mais de 2.100 integrantes que enviam comentários sobre instrumentos, músicas, críticas e sugestões para fazer a revista cada vez melhor.

TIRE SUAS DÚVIDAS Acabei de comprar um sax soprano, mas estou com muita dificuldade de obter afinação perfeita do Dó (agudo) em diante. Está uma luta! Agradecerei se puder dar algumas dicas. MARCELO SOUZA – JUIZ DE FORA (MG) Oi, Marcelo. Uma coisa muito importante é a qualidade do instrumento. Tive um soprano que era difícil de afinar, era do instrumento mesmo. Segundo, o soprano possui uma embocadura um pouco mais ‘apertada’, então é preciso equilibrá-la. Cuidado para não morder demais a boquilha na região aguda. Se estiver ficando alto, tente relaxar e ver se consegue chegar à afinação; se estiver baixo, faça um pouco mais de pressão. Estude notas longas, isso é fundamental. Nós, instrumentistas de sopro, tocamos ‘afinando’. Tocar afinado notas isoladas é mais difícil do que tocar afinado quando se tem uma referência. Não fique neurótico querendo afinar nota por nota com o afinador porque sempre haverá uma variação. No mais, estude... estude... estude. POR DÉBORA DE AQUINO – EDITORIATECNICA@SAXEMETAIS.COM.BR

!

CIPE PARTI

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SAX & METAIS

Ganhei de presente uma gaita em D e quero começar a estudar, porém os tutoriais sempre recomendam a gaita em C. Também ouvi dizer que as palhetas da gaita em D são mais moles que a gaita em C, e que isso é ruim. GUSTAVO PEREIRA – PIRACICABA (SP) Você pode começar seus estudos com a gaita em D, sem nenhum problema. Os métodos indicam a gaita diatônica em C (Dó) por ela estar em um registro médio e também porque a escala de C (Dó) maior é bem conhecida e de mais fácil compreensão. A referência que vai usar é a numeração em cima da tampa da gaita e as músicas e exercícios que você tocar na sua gaita vão ficar no tom de D (Ré). Com relação às palhetas, a única diferença está no fato de ser uma gaita mais aguda que a gaita em C (Dó). O que muda é que você vai sentir uma diferença na forma de soprar e aspirar as notas, mas com o tempo você se acostuma. Sugiro que procure um professor, para que ele possa orientá-lo em relação aos conteúdos teórico e prático. Abraços e tudo de bom! POR RODRIGO EISINGER – RODRIGOEISINGER@BENDS.COM.BR

A Sax & Metais abre um espaço para você ter suas dúvidas respondidas por profissionais especializados. Encaminhe suas perguntas para o e-mail editoriatecnica@saxemetais.com.br. A revista se reserva o direito de resumir o conteúdo das dúvidas recebidas.



LIVE!

Aqui você confere a agenda de shows e encontros de músicos em todo o Brasil e fica antenado com as novidades do mundo do sopro

Adeus a Bud Shank

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aleceu aos 82 anos o saxofonista alto Bud Shank, um dos ícones do cool jazz. Shank surgiu nos anos 50 junto com os músicos do jazz West Coast, muito influenciados pelo cool jazz de Miles Davis e do saxofonista Lester Young. Foi integrante na banda de Short Rogers e de Stan Kenton no início da década de 1950. Teve notáveis colaborações com o compositor indiano Ravi Shankar e com o grupo The Mamas & The Papas através do grande sucesso California Dreamin. O saxofonista foi um dos primeiros jazzistas a se interessar pela música brasileira e teve uma longa ligação com ela. Tudo começou com o violonista Laurindo de Almeida em 1953, com o primeiro volume da série Bud Shank, ícone do Braziliance. Depois cool jazz, se interessou disso teve parcerias pela música brasileira com Sergio Mendes e João Donato, com quem fez dois trabalhos, um em 1960 e outro em 2000, que gerou o CD Uma Tarde com Bud Shank e João Donato, e o DVD João Donato e Bud Shank Ao Vivo no Rio de Janeiro, ambos pela gravadora Biscoito Fino.

Tributo a J.T. Meirelles

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inegável que a música instrumental brasileira tem excelentes artistas, mas tem também um divisor de águas, J.T. Meirelles. E é precisamente este pilar da modernidade que o Sesc homenageia no show Tributo a J.T. Meirelles. João Teodoro Meirelles, mais conhecido por J.T. Meirelles, é considerado um dos criadores do samba-jazz. Pertenceu à geração que surgiu no início dos anos 1960 e que foi pioneira na formação de grupos instrumentais de música brasileira. Meirelles sempre esteve acompanhado de exímios instrumentistas, desde seu primeiro trabalho com Os Copa Cinco, por meio do disco O Som, de 1964.

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SAX & METAIS

Vale a pena conferir essa justa homenagem idealizada pela produtora Carmem Guimarães no Sesc Santana, em São Paulo. Para a ocasião, Carmem reuniu a fina flor do cenário instrumental brasileiro. Serão dois shows: no dia 18/06 participam Roberto Sion, João Donato e Leny Andrade; no dia 19/06 é a vez de Mauro Senise, Alaíde Costa e Johnny Alf. Para acompanhá-los, uma nova formação de Os Copa Cinco, conjunto formado pelo próprio Meirelles: Fernando Merlino (piano), Adriano Giffoni (contrabaixo), José Arimatea (trompete) e Kleberson Caetano (bateria). Serviço: Teatro Sesc-Santana. Dias: 18 e 19/06/09, às 21h. Ingressos: R$ 16,00 (inteira), R$ 8,00 (meia), R$ 4,00 (comerciário)


Paulinho Trompete lança novo CD com show na Modern Sound

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trompetista Paulinho Trompete tem 40 anos de carreira e já tocou com grandes artistas da música nacional, como Gilberto Gil, Chico Buarque, Cazuza e Gal Costa. Agora Paulinho lança seu mais novo trabalho, o CD Tema Feliz. Nesse álbum, o trompetista faz um tributo ao violonista e compositor Durval Ferreira. Porém, não estão registrados aqui os maiores sucessos de Durval, como Batida Diferente, Nuvens e Estamos Aí. Para esse álbum, o músico escolheu outras pérolas do compositor, menos conhecidas, como Diagonal e Beijo Distraído. O show de lançamento foi no início de maio, com as presenças de Widor Santiago (sax tenor e flauta), Hamleto Stamatto (piano), Ney Conceição (baixo) e Erivelton Silva (bateria). Teve ainda participações especiais de Jessé Sadoc ‘Pai’ (trombone), Jessé Sadoc ‘Filho’ (trompete) e Val Oliveira (sax tenor).

Música no Museu

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starão abertas até dia 18 de julho as inscrições para o II Concurso Jovens Músicos, promovido pela série de concertos Música no Museu. Serão selecionados estudantes de até 28 anos especializados em cordas, sopros (flauta, flautim, oboé, corne inglês, saxofone, clarineta, requinta, fagote, trompa, trompete, trombone e tuba), piano e percussão. Os vencedores serão contemplados com prêmios em dinheiro que somam R$ 6.000,00 e participarão de recitais da série Música no Museu. O concurso também oferecerá um prêmio especial que consiste em uma bolsa de estudos para mestrado na James Madison University, avaliada em R$ 40.000,00. O bolsista será selecionado por representantes da universidade americana e deverá possuir graduação em música e aprovação na prova de proficiência em inglês (TOEFL). Os interessados podem conhecer melhor o regulamento pelo site www.musicanomuseu. com.br, onde também está disponível a ficha de inscrição.

IX Festival de Música de Ourinhos

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Prefeitura Municipal de Ourinhos, por meio da Secretaria Municipal de Cultura, vai realizar o IX Festival de Música no período de 19 a 26 de julho e contará com uma ampla programação que abrange diversas tendências e gêneros musicais. O festival oferecerá 40 cursos voltados aos segmentos de música popular e erudita, que serão ministrados por renomeados professores, entre eles Adélia Issa, Júlio Medaglia e Alessandro Penezzi. Na área de sopros já estão confirmados Hudson Nogueira, Nailor ‘Proveta’ Azevedo, Paulo Flores e Michel Moraes. As inscrições vão de 01/06 a 06/07/2009. Os interessados deverão preencher ficha que estará disponível no site oficial do evento (www.ourinhosfestivaldemusica.com.br) e enviá-la junto com comprovante de pagamento bancário para a Secretaria de Cultura de Ourinhos. Para mais informações: contatofmo@hotmail. com e (14) 3302-3344 / 3302-3343.

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LIVE! Projeto Música nas Escolas

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om sede no Parque da Cidade de Barra Mansa, RJ, o Projeto Música nas Escolas, desenvolvido pela Fundação de Cultura, Esporte e Lazer da prefeitura, transformou as instituições públicas de ensino fundamental de Barra Mansa em subsedes voltadas para o aprendizado musical. Direcionadas a crianças e adolescentes, as aulas de música cumprem um papel educativo-social. A iniciação instrumental começa com alunos da segunda série do ensino fundamental, com aprendizado do pífano, para aqueles que optarem pelos instrumentos de sopro e percussão, e método Suzuli, para quem escolher as cordas. Os trabalhos são divididos em quatro polos: cordas, madeiras, metais e percussão. O projeto conta ainda com

subgrupos: quartetos, quintetos e grupos maiores, como Orquestra Sinfônica, Orquestra Sinfônica Infanto-Juvenil, Banda Sinfônica, Orquestra de Metais e o Grupo Drum Latas (com instrumentos recicláveis). Para saber mais, acesse: www.musicanasescolas.com.

Duo piano e clarinete – Miramari

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pianista André Mehmari e o clarinetista italiano Gabriele Mirabassi lançaram o CD Miramari com show no Sesc Pompeia, em São Paulo, com participação especial do violonista Guinga, ‘padrinho’ musical do duo. Mehmari e Mirabassi foram apresentados por Guinga quando ele fazia o lançamento nacional do seu álbum Graffitando Vento. A partir daí, os dois resolveram se apresentar em duo pela primeira vez em um show no Sesc Vila Mariana (SP) em 2007. A semente estava lançada e no ano seguinte concretizaram as afinidades musicais gravando o álbum Miramari, lançado no Brasil em 2009 pelo Estúdio Monteverdi. Na Europa, será lançado a partir do segundo semestre deste ano.

Sax erudito com Dílson Florêncio

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Banda Sinfônica do Conservatório de Tatuí recebeu o saxofonista Dílson Florêncio em concerto realizado sob regência do maestro convidado Roberto Farias. Florêncio é o único músico sulamericano detentor do 1º Prêmio de Saxofone no Conservatoire National Supèrieur de Musique de Paris, e um dos responsáveis pela criação do primeiro curso de saxofone erudito no Brasil. O repertório do show contou com a peça Rapsódia para Sax Alto e Banda, de Wildorf Holcombe.

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SAX & METAIS


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Live!

Patrimônio artístico

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osé Teixeira Barbosa, o ‘seu’ Juca, já é velho conhecido da turma do Conservatório de Tatuí. Aos 93 anos, o professor de música e clarinetista leciona há 38 no conservatório, mas a novidade é que agora ele foi finalmente contratado pelo sistema CLT. ‘Seu’ Juca é pedagogo, foi professor de artes e se aposentou como diretor de escola. Na música é autodidata e soma 69 anos de carreira. No Conservatório de Tatuí, mais da metade dos clarinetistas e professores foram seus alunos. A contratação efetiva deu-se porque até o final do ano passado ‘seu’ Juca trabalhava no conservatório por meio de uma cooperativa, porém essa prestação de serviço foi considerada irregular. Então, o professor foi informado de que deveria prestar concurso para poder continuar lecionando na escola. Quando soube que precisaria passar pelo processo de seleção, ‘seu’ Juca pensou em desistir. Passado o impacto da notícia, inscreveu-se e, claro, foi aprovado. Parabéns ao ‘seu’ Juca, músico considerado um ‘patrimônio artístico’ pela direção do Conservatório de Tatuí.

Bridgestone Music Fest

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correu em São Paulo, nos dias 14, 15 e 16 de maio, o II Bridgestone Music Fest. Dessa vez o evento teve mais repercussão do que em sua primeira versão. Uma das grandes estrelas da segunda edição do festival foi o baterista Jimmy Cob. O músico veio com a banda Jimmy Cob So What Band e as homenagens foram aos 50 anos do disco Kind of Blue, do trompetista Miles Davis, um dos discos mais importantes e celebrados de todos os tempos. Cob é o último instrumentista vivo que participou das gravações do lendário álbum, mas os músicos que integram sua banda não ficam atrás da estrela: Vincet Harring (sax alto), Javon Jackson (sax tenor) e Wallace Roney (trompete). A cozinha é composta por Larry Wills (piano), Buster Willians (baixo) e o próprio Jimmy Cob à bateria.

Bandas e fanfarras terão estímulo em Cubatão

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ubatão retoma o objetivo de se tornar capital estadual das bandas e fanfarras. Além da organização do 7º Encontro Técnico da Afaban (Associação de Fanfarras e Bandas da Baixada Santista, Litoral Sul e Vale do Ribeira) e de um concurso municipal para o setor, deverá oficializar o evento no calendário municipal e incrementar a participação dessa atividade no contexto dos currículos escolares de tempo integral, com apoio da Secretaria Municipal da Educação (Seduc). Para incrementar ainda mais o calendário da cidade, a Afaban promove entre os

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SAX & METAIS

dias 6 a 8 de junho, em Cubatão, o 3º Concurso de Fanfarras e Bandas. No dia 6, as bandas de percussão farão a abertura oficial do evento. No dia 7, as bandas marciais estarão concorrendo e no dia 8, as fanfarras farão o encerramento. A previsão é que, diariamente, cerca de 800 instrumentistas façam suas apresentações no Concurso. A iniciativa da Associação tem sido uma forma de suprir a ausência de ações nesse sentido por parte do Governo do Estado, que há sete anos não investe na organização de atividades como esta.



vice-versa

LÉA FREIRE

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COMENTA SOBRE TECO CARDOSO

“Mistura da elegância da forma erudita com o suingue e a simplicidade da música popular.” Teco Cardoso

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SAX & METAIS

Foto: Kristian Knack

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onheci o Teco Cardoso quando ainda não tínhamos 20 anos, no Clam – escola dirigida pelo Zimbo Trio –, onde inicialmente entrei para estudar violão com o saudoso Luiz Chaves. O Teco é dessas pessoas unânimes: impossível não gostar dele. Ficamos amigos desde então. A gente ficava estudando no Clam as partituras que o Teco trazia, enquanto ele, que na época também fazia um curso de mágica, desaparecia com borrachas, canetas e o resto que estivesse à mão. Nessa época eu dava aulas de flauta, solfejo e violão… pois é! Fui para os EUA, onde fiquei um ano e meio e, na volta, encontrei o Teco já tocando muito bem o sax num grupo chamado ZonAzul, com o Michel Freidenson no piano, Sylvinho Mazzuca no baixo e AC Dal Farra na bateria. Ia sempre assistir aos meninos num bar chamado Sanja, na Rua Frei Caneca, em São Paulo. Fiquei chapada com essa novidade de tocar sax em tão pouco tempo! Ainda mais porque ele estava cursando medicina quando fui viajar e acabou se formando médico no mesmo período. O melhor: manteve aquele sonzão de flauta, apesar de estar tocando sax, coisa que não é comum. O ‘Tecão’ tem uma capacidade fantástica de ser disciplinado sem perder o humor! E ainda por cima cozinha um monte, é um verdadeiro chef. Como consegui uma vaga na família, sou madrinha do Theo, filho do Teco e da Mônica Salmaso. Tenho a sorte de me dar bem, frequentemente, nas refeições maravilhosas na casa deles no bairro da Aclimação, em São Paulo. Sem o Teco, o meu CD Cartas Brasileiras não existiria. Ele produziu do começo ao fim, desde a escolha do repertório (eu deixava gravações de piano na secretária eletrônica dele, uma verdadeira mala sem alça…), ideias sobre os arranjos, a arregimentação de pessoas-chave, como o maestro Gil Jardim, produção das gravações no estúdio, capa, títulos, tudo. O Teco sempre acrescenta, assim como fez no DVD/CD Jobim Sinfônico, na Banda Outro Negro, do saudoso maestro Moacir Santos, e no CD/DVD Um Sopro de Brasil, entre outros. Todos os projetos onde ele estiver na ficha técnica têm uma ‘garantia de qualidade’. Músico, médico, mágico, chef. Acho as quatro atividades muito parecidas em seus aspectos humano e de saúde. A medicina e a culinária por motivos óbvios, a mágica porque produz encantamento, rejuvenesce a gente, e a música… Música faz bem para a saúde. Primeiro para a saúde do músico, depois, se o músico é bom, para a saúde dos ouvintes. Tecão, sou sua fã!


Foto: Dani Godoy

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á pelo meio da década de 1970, os melhores músicos e futuros também, assim como o melhor da cena musical paulista, estavam ao redor do Clam (Escola do Zimbo Trio). Lá fui ter aulas ainda bem jovem, com uma igualmente jovem flautista, Léa Freire. Na segunda aula, a Léa já havia decidido que não ia mais ter “esse negócio de aula” e que sim, estudaríamos juntos e, como morava bem perto da escola, quase todo fim de tarde ia pra lá e líamos de tudo. Sem dúvida este foi o ano em que mais aprendi música na vida. Duas semanas após começar a estudar com a Léa no Clam, nós já estávamos tocando juntos num grupo de jovens promissores músicos que acompanhavam o compositor/cantor Filó Machado. O que sempre me fascinou foi a personalidade forte dela, presente no seu som e nas suas composições, aliada a um lado delicado e feminino. Compositora da pesada, daquelas que aliam a tradição e a brasilidade a uma coisa contemporânea, que ao mesmo tempo nos aponta para um futuro possível e também ideal. Mesclando com maestria suas influências eruditas e populares, Léa compõe hoje uma música ímpar, daquelas difíceis de ser comparadas. Tem uma coisa de ser simples de ouvir, mesmo sendo às vezes complicada de tocar, e uma alquimia que até então só havia conhecido na obra do maestro Moacir Santos. Uma mistura da elegância da forma erudita com o suingue e a simplicidade da música popular. Com essa mistura, ela vem agregando uma legião de fãs, sobretudo internacionais, que cada vez mais querem tocar sua música. Foi com imenso prazer e com muita honra que produzi seu último projeto, Cartas Brasileiras, CD que acabou proporcionando um panorama da amplitude da obra dela, ao mesmo tempo que reúne o melhor de uma geração de músicos de São Paulo. Como improvisadora, cada vez mais me parece que ela está compondo um comentário sobre a música, dispensando clichês preconcebidos e criando sempre uma história sem nunca perder contato com o assunto da composição. Parceira mais do que generosa, tem produzido com o selo musical Maritaca um importante segmento da nova música instrumental brasileira. Atualmente estamos envolvidos na produção de um novo quinteto, Vento em Madeira (às vezes sexteto, com a participação especial da cantora Mônica Salmaso), grupo que pode bem ser um exemplo dessa tendência de fazer uma música popular e erudita, improvisada e estruturada, camerística e com um pouco das ruas também. Léa é família, literalmente. Madrinha de meu filho, irmã de coração, parceira de todos os sons. Um verdadeiro privilégio estar ao seu lado em tantas aventuras, e que muitas venham ainda, porque agora é que está ficando ‘bem bom’.

“O ‘Tecão’ tem uma capacidade fantástica de ser disciplinado sem perder o humor!” Léa Freire

COMENTA SOBRE LÉA FREIRE

TECO CARDOSO SAX & METAIS

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POR DÉBORA DE AQUINO

AMEDÍCIO JUNIOR

Saxofonista da Mastruz com Leite revela detalhes do seu trabalho como produtor e arranjador

O

músico pernambucano Amedício Junior é o saxofonista da mais tradicional banda de forró do Brasil, Mastruz com Leite. Define seu estilo como pop romântico e sua sonoridade como “moderna, alegre e com brilho e projeção”. O gosto pela música começou na adolescência. Escutava MPB e instrumental “24 horas por dia”, até que seus pais e avós resolveram incentivá-lo a ingressar na Banda Filarmônica 23 de Dezembro, da cidade de Salgueiro, Pernambuco. Nessa banda passou pelo trombone, trompete e finalmente o saxofone, como substituto de um músico que havia se acidentado. Hoje, além de saxofonista, é produtor e arranjador. Um de seus principais trabalhos acumulando todas as funções foi o disco Banda Limão com Mel Acústico. Em seguida veio a continuidade desse feito, por meio do DVD Limão com Mel in Concert, com participação de orquestra sinfônica.

INÍCIO “Quando entrei na Filarmônica, os maestros davam aula de para quem quisesse aprender música. O meu objetivo era tocar saxofone, mas como

graça

não tinha sax disponível na época, o maestro me deu um trombone para ver se eu levava jeito para a coisa.”

o disco todo instrumental, que foi lançado em edição especial pela gravadora Atração Fonográfica.” (www.atração.com.br)

FINALMENTE O SAXOFONE “Aconteceu um incidente com um aluno que tocava sax soprano, que o prejudicou e me favoreceu. Ele quebrou o braço e passou seis meses engessado. Foi quando eu pedi para estudar o sax soprano enquanto ele se recuperava. Seis meses depois ele voltou e assumiu o seu lugar, aí fiquei sem instrumento. Mas um mês depois, meu pai e meu avô compraram um sax usado para mim, me dediquei aos estudos e não parei mais.”

O 2º

SIDEMAN “Por ser pernambucano, onde a cultura é o frevo, caboclinho, ciranda, coco de roda, maracatu e forró, fui me direcionando a tocar forró, até porque a maioria das minhas produções e gravações foi de bandas desse estilo. O mercado no Nordeste é mais voltado para o forró. O interessante é que sou um saxofonista pop que toca forró moderno, dando uma sonoridade diferente ao forró tradicional. A banda em que toco atualmente é a Mastruz com Leite, a primeira e a maior banda de forró do mundo, com 19 anos de estrada e 43 CDs gravados.

O NOVO CD “Nesse novo disco surgiu a von-

1º CD-SOLO “Prestei uma homenagem à

banda Limão com Mel por ter trabalhado na empresa por dez anos, e também foi um pedido do meu tio Ailton Souza (dono da Talismã-Limão com Mel), por ter visto uma brincadeira que fiz no estúdio, gravando uma das músicas da banda em instrumental romântico. Daí surgiu a vontade de fazer

DESAFIO “Escolhi gravar em meu segundo CD músicas internacionais consagradas, e por conta disso a responsabilidade aumentou. Afinal de contas, as músicas que regravei já foram interpretadas por grandes ídolos meus. Fazer a diferença da minha interpretação em relação à deles, sem deixar a desejar, foi um desafio. Mais uma vez a Atração Fonográfica se interessou por esse trabalho e o distribuiu pelo mundo inteiro.”

tade de colocar músicas minhas que há muito tempo eu vinha guardando, mas o disco não tem somente composições minhas, tem regravações nacionais e internacionais. Fazer um trabalho inteiro autoral ainda está em meus projetos.”

A

PRODUÇÃO “A produção do terceiro CD está mais ‘relax’ porque fiz quase tudo sozinho, com a ajuda de samples e programações, o que facilita muito o trabalho. Em relação aos músicos, acabei precisando de poucas pessoas. Chamei alguns amigos para participar de algumas faixas. No repertório, além de colocar algumas composições minhas, regravei algumas MPBs, como: Não é Fácil, Retratos e Canções e Só a Lua. Além de algumas internacionais, como: The Closer I Get To You, Part-Time Lover, You Are Everything. Logo poderão conferir os resultados em meu site e nas lojas.”

www.amediciojunior.com.br www.myspace.com/amediciojr

O que Amedício Junior usa Sax alto Selmer Super Action 80 série II, boquilha Ever-ton metal e massa 7 Smooth jazz e Full-pop 7, palheta Rico Royal 3. Sax tenor Super Action 80 série I, boquilha Ever-ton metal e massa 8 Studio e Mb1, palheta Rico Royal 3. Sax soprano Michael WSSM 45, boquilha Ever-ton massa com anel de metal 7 e K-Serie-7, palheta Rico Royal 3. Sax MIDI WX5 Yamaha Yamaha.

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SAX & METAIS

Foto Divulgação

vida d e mú s i co

v i d a d e m ú s i co



5Serpa Ricardo

5 MINUTOS COM

m in u t o s c o m

POR DÉBORA DE AQUINO

Música instrumental é a alma do negócio

Após 23 anos de carreira, o saxofonista lança seu primeiro CD solo, Aquariando

P

ense no que há de melhor em matéria de música brasileira, ritmos, gêneros e instrumentistas. Ricardo Serpa é uma mistura de tudo isso, no que o saxofonista chama de Música Universal Brasileira. Bisneto de Canhoto do Bandolim e de dona Alzira Brandão, principal intérprete de Noel Rosa, o gosto por música surgiu muito cedo na vida de Serpa. “Comecei tocando violão aos 8 anos. O sopro veio aos 15, quando descobri o sax e a flauta quase ao mesmo tempo”, lembra o músico. Ao longo de 23 anos de carreira, Ricardo já fez de tudo. Acompanhou grandes artistas como Nana Caymmi, Raul de Sousa, Paulo Moura, Cidade Negra, Nó Brasileiro, Might Reggae Beat, de João Barone e Bi Ribeiro. Foi diretor, músico e arranjador do espetáculo Rio Jazz, de José Roberto Ferreira. Foi o solista convidado a inaugurar o Memorial Tom Jobim no Horto do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro. Participou de trilhas para novelas da Rede Globo, como Direito de Amar e Chocolate com Pimenta, e agora se prepara para lançar seu primeiro disco-solo, Aquariando, com a participação de músicos que são a ‘nata’ da música instrumental brasileira. » Então você é um músico de família? Ricardo Serpa Tive uma excelente formação auditiva em casa. Uma coisa que ouvia

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SAX & METAIS

muito era Metais em Brasa, um disco da época, meu pai adorava. Ouvi Elis Regina, Milton Nascimento, temas de filmes de cinema, trilhas sonoras. Descobri os instrumentos de sopro quando fui a um show do grupo Alquimia, com o Mauro Senise ainda garoto e o Robertinho Silva. Aquele

show ‘me pirou’ e pensei: “Meus Deus, eu quero tocar isso”. Comecei tocando soprano e flauta. » Por que somente depois de 23 anos resolveu fazer seu primeiro trabalho-solo? RS Acabei entrando num circuito em


que comecei a tocar muita coisa ruim, é aquela história de ter de ganhar dinheiro. Entrei num bom universo financeiro, mas passei a me sentir muito mal porque a música ficava em segundo plano. Comecei a me sufocar, perder o amor por aquilo que mais amava, a música boa, de me dedicar às minhas raízes, do que eu gosto realmente. Comecei a pirar, me fingia de morto em viagens (risos), que absurdo! Para não parar no psiquiatra resolvi ‘chutar o balde’ e pensei: “Ou é agora, ou não sei mais o que vou ser”. Tomei a atitude de parar com tudo, e dar um tempo de acompanhar artistas para poder fazer meu próprio trabalho. Assumir as minhas raízes e me apaixonar novamente pela música. » Além dessas razões, você acabou aproveitando uma oportunidade que surgiu, não? RS Com muita dificuldade comecei a pensar no meu trabalho e, tocando jazz na noite, dei muita sorte porque conheci o guitarrista Flávio Goulart de Andrade. Ele tem um selo, o Ethos Brasil. O Flávio me ouviu tocando e fez o convite, que agarrei com tudo. Fiz o projeto ao longo de um ano, fui escolhendo as músicas, escrevendo os arranjos, o universo conspirou a meu favor e o trabalho aconteceu. Por meio do encontro com o Flávio, o estúdio foi gratuito. Aos poucos fui falando com os músicos que participaram do CD, todos amigos que gravaram sem cobrar um centavo. Gravaram por acreditar no meu trabalho, o que me envaideceu muito, fiquei muito feliz. Tem o Robertinho Silva, o Nivaldo Ornelas, o Arthur Maia, o Carlos Malta, a nata da música instrumental. Dessa forma o trabalho pôde ser viabilizado, o dinheiro deixou de contar e pude realizar esse disco. Deu tudo certo e fluiu maravilhosamente bem. Agora,

com o CD Aquariando pronto, é trabalhar para divulgá-lo. » A escolha do repertório foi difícil, por ser um primeiro trabalho? RS Não, não foi. Quando entrei no estúdio já sabia exatamente o que queria gravar. Minha única dúvida em alguns momentos foi estar fazendo alguma coisa ‘louca’ demais, sem pensar no lado comercial. Eu realmente quis fugir disso. Gravei o que gosto de tocar e pessoas que são minhas influências, como Toninho Horta, Dori Caymmi e Nivaldo Ornelas. » Aliás, Nivaldo Ornelas é uma presença muito viva em sua música. Como foi o encontro entre vocês? RS Nosso encontro vem de longa data, é uma amizade muito grande, de mais de 20 anos, posso dizer que é o meu melhor amigo. Sempre fui o caçula da turma no meio dos músicos, e felizmente fui ‘ado-

“Tenho muita influência da música brasileira como um todo, é a mais rica do planeta” tado’ por um time de uma geração maravilhosa. Ainda muito novo toquei em naipes com o Serginho Trombone, com Leo Gandelman, Bidinho, isso por volta dos anos 1990. Eu pegava no pé de todo mundo para aprender e eles gostavam de mim tocando, sempre fui muito esforçado e estudioso. O Nivaldo sempre me incentivou e influenciou, principalmente por sua música, seu profissionalismo e postura. Ainda hoje, sendo esse músico consagrado, conserva aquele ‘coração de estudante’, que é uma coisa fantástica. Enfim, temos uma grande amizade dentro e fora do palco. Recentemente gravei no disco dele Fogo e Ouro e também participei do show de lançamento.

O que Ricardo Serpa usa Flauta transversal Yamaha 411

Fotos: Divulgação

Sax soprano Selmer Série III, com boquilha Selmer Super Section J e palheta Vandoren Java 2/12 (gravação) e 3 (show). “Prefiro palheta mais macia para gravar, é mais fácil de timbrar e de tocar em naipe. Uso a 3 para ter mais ‘pegada’ no som.” Sax alto Yamaha 62 com boquilha Vandoren A45, palheta Java 3 e Plasticover 3. “Uso a Java normalmente para gravar e a Rico Plasticover em shows.” www.myspace.com/ricardoserpabrasil

» Será essa uma das razões de sua música ter um ‘quê’ da música mineira? RS Essa vertente mineira é muito interessante. O mineiro sempre foi uma mistura jazzística com algo de europeu e isso me atrai muito, mesmo porque sou fã da gravadora ECM (selo europeu). Minha formação foi ouvindo os artistas desse selo, Keith Jarret, Jan Garbareck e também Milton Nascimento, Toninho Horta, que inclusive escreveu uma crítica sobre meu disco que me deixou muito honrado. Tenho muita influência da música mineira e da música carioca, sou mesmo essa mistura, mas também não posso deixar São Paulo de lado. Ouvi muito Grupo Rumo, aquela vertente da música contemporânea que vinha de lá, Asdrúbal Trouxe o Trombone, Clara Crocodilo, esse negócio meio maluco dos anos 1980. Acredito que tenha muita influência da música brasileira como um todo. Toquei com Xangai, com Jatobá, influências da música nordestina,

Hermeto Pascoal, Toninho Horta, Nivaldo Ornelas, samba carioca, aquela malandragem do samba e da bossa nova. A música brasileira é a mais rica do planeta, temos todos os ritmos, todas as levadas. » O que você espera desse trabalho daqui para a frente? RS Tudo isso está me fazendo amadurecer muito, a olhar menos para o próprio umbigo. Passei a olhar o trabalho dos meus colegas e ver que eles têm as mesmas dificuldades que eu tenho. Hoje espero poder levar adiante tudo o que aprendi com toda essa gente. Sempre exalto o nome dos instrumentistas brasileiros. Daqui para a frente espero poder ter a dignidade de viver da música instrumental também, ter um retorno cada vez maior e poder dar continuidade à minha música. Meu disco tem uma forte influência dos anos 1980 e 1990, de tudo o que ouvi, diversos ritmos, compositores e até duas músicas minhas. Com esse trabalho eu quis mostrar um pouco de tudo, meu lado como intérprete, improvisador, arranjador e compositor, ou seja, quis colocar um pouco de tudo que faço. SAX & METAIS

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5Biu do Pife

5 MINUTOS COM

m in u t o s c o m

POR MARCELO MONTEIRO E VICTOR VARGAS – COLABOROU ALFREDO BELLO

A tradição não pode morrer minha tia, em maio de 1958. É um dom que Deus me deu e que eu vendo tocando e fabricando pife.

H

oje em dia é cada vez mais comum ouvirmos falar nas bandas de pífanos. Até grandes artistas do eixo Rio/São Paulo se aventuram em gêneros musicais tipicamente nordestinos, usando a formação das bandas de pífanos, como é o caso de Carlos Malta e o seu Pife Muderno. Atualmente, as bandas de pifes possuem características um pouco diferentes das de suas origens. As primeiras bandas tinham um caráter especificamente social e religioso e tocavam exclusivamente em novenas e festas religiosas, como a de São João. As bandas de pífanos estão presentes na região que vai desde o sertão baiano, que faz fronteira com Sergipe, até o Ceará. Porém, é em Pernambuco, mais precisamente em Caruaru, no agreste do Estado, que ela se faz mais forte. Hoje, apesar de todo o apelo da mídia e das mudanças de hábitos, as bandas continuam tocando e mantendo o fôlego de levar adiante a tradição, mesmo que já sem a proposta sociorreligiosa inicial. Para falar e entender um pouco sobre essa tradição cultural brasileira tão impor-

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SAX & METAIS

tante, conversamos com um dos músicos, ou ‘tocadores’, mais experientes de Pernambuco, Biu do Pife. Biu completou 50 anos de carreira em 2008. Tocou pela primeira vez na banda de seu pai quando tinha apenas 9 anos, na cidade de Bezerros (PE). Depois mudou-se para Caruaru. Daí em diante foi para o Rio de Janeiro, gravou com Jackson do Pandeiro em meados da década de 1970 e foi líder da Zabumba Cultural de Caruaru por 20 anos, tendo gravado diversos discos. Hoje, Biu do Pife está à frente da banda Princesa do Agreste. » Como foi o seu primeiro contato com as bandas de pífanos? Biu do Pife Quando nasci, meu pai já tinha uma banda de pífanos. Antigamente, as bandas não tinham esse nome, eram os Ternos de Zabumba. Isso porque as roupas que se usavam eram parecidas com os uniformes de soldados, aquelas roupas cáqui com quepe de bico. Então essa música já estava dentro de casa. Aprendi a tocar pife com meu pai e com 9 anos toquei pela primeira vez em uma festa. Foi no sítio de

» Conte um pouco sobre a tradição das bandas de pífanos. BF Muita coisa mudou, a começar pela formação, que variou e varia de lugar para lugar. Antes, as bandas eram formadas por prato, dois pifes, zabumba, caixa e triângulo. Não tinha o contrassurdo que tem hoje. Tocávamos sempre em festas religiosas, hoje fazemos shows até em grandes capitais. A origem da banda de pífanos é da tradição indígena e todos os instrumentos são artesanais. Os pifes são feitos de taboca (taquara, bambu), a zabumba era feita com couro de bode. Hoje, os pifes já não são mais de madeira, usamos o PVC para fazê-los. É difícil conseguir o bambu, até mesmo por problemas com o Ibama. Tenho um par de pifes de taboca que uso somente em ocasiões especiais, para uma gravação, um show

de rádio, uma foto. Eu o tenho há mais de 30 anos. Apesar de toda a tradição, ampliamos bastante nossa atuação e tocamos até em bandas de rock. Já gravei até um disco com a banda Os Cachorros das Cachorras, em Brasília. » Mas as bandas de pifes não tocam mais nas festas da cidade? BF Tocam sim, não deixamos esses costumes de lado, mas também fazemos outras


Fotos: Victor Vargas e Marcelo Monteiro

coisas. Para serem contratadas, as bandas passaram a tocar repertório bem variado, como forró, baião, frevo, cirandas. Assim foram sendo criadas as ‘bandas que animavam as festas populares’. Em minha banda, incluímos músicas de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro. Apesar de tudo isso, ainda existem bandas pelo sertão que só tocam em novenas. Enfim, as bandas de pífanos são grupos que tocam em diversos eventos, sejam eles religiosos ou profanos, para dançar ou para acompanhar procissão. » Hoje você tem a sua banda, mas tocou com seu pai até quando? BF Toquei durante um bom tempo, até que ele adoeceu e não pôde mais tocar. Foi quando eu o substituí. Peguei a banda de papai e coloquei outros ‘tocadores’. Ele ia observando e gostando. Em maio de 1977, vim embora para Caruaru, a convite de amigos das rádios, fazendo shows com Ivan Bulhões, Canarinho, Caravana da Alegria, Lídio Cavalcante.

e ganhamos. Depois fomos para um grande concurso no Recife. Participaram grupos de todos os cantos. A Banda Cultural se apresentou por volta das 2h da manhã. Na ocasião, estava presente até o governador de Pernambuco, Marco Maciel.

» Foi nessa época que gravou seu primeiro disco? BF Gravei o primeiro disco em 1976, Biu do Pife, Pife do Biu. No ano seguinte fui para o Rio de Janeiro e gravei pela gravadora Esquema, com Manuel Maurício. Na época, Jackson do Pandeiro era contratado da gravadora, e foi ele quem fez o acompanhamento e o violão desse trabalho. Esse

» Quando chegou a Caruaru já existia a Banda de Pífanos de Caruaru, uma das mais conhecidas até hoje, certo? BF Essa banda é da família dos Biano e já existia quando cheguei. Em uma ocasião, substituí o João Biano. Ele tinha um compromisso em São Paulo e pediu que eu tocasse na inauguração do Terminal Rodoviário de Caruaru e do Hotel Sol. Nessa época,

LP era de forró, com formação típica das bandas do gênero, com sanfona e também baixo elétrico. Até aqui não tinha nada de gravação com banda de pífanos.

1978, as duas bandas em evidência eram a dele e a minha, a Banda do Biu.

» Então não se tinha a ideia de gravar as bandas de pifes com os seus repertórios? Pois é, o meu primeiro trabalho da banda de pífano em disco foi com a Banda Cultural, em 1981. Participamos do Festival Música Hoje, com a música Baião do Nordeste,

» A Banda Cultural era um grupo seu que durou vários anos e acabou revelando outros músicos. BF Só para seguir um raciocínio, a Banda Cultural surgiu a partir da Banda de Pífanos de Caruaru, quando os Biano foram para São Paulo. Depois a Banda Cultural gerou mais duas bandas, a Dois Irmãos

e a banda do Compadre Peba. A Banda Dois Irmãos é de um grande ‘tocador’ de pife, o João do Pife. Ele trabalhou comigo durante 22 anos. » Hoje sua banda é a Princesa do Agreste. Como estão os trabalhos? BF Fazemos de tudo um pouco. Tocamos em festas religiosas tradicionais, novenas e também em shows. Se não diversificamos o repertório, ficamos sem trabalho. Como podemos tocar em uma festa se só soubermos uma novena? Vamos ficar a noite inteira tocando a mesma coisa? Recentemente fomos nos apresentar em uma festa religiosa em Lagoa da Princesa, a festa de São José.

Tocamos bendito, dobrado, peças de novena, marcha de novena. No fim da apresentação até os ‘bacamarteiros’ festejaram dando tiros para o alto. Para se ter uma ideia de como o povo gostou, até o padre entrou na festa e pediu para que tocássemos algo mais ‘quente’. Não é que deixamos a tradição de lado, mas as coisas mudam, a banda tem de tocar desde novena até samba, chorinho, forró e frevo. O frevo é importante no repertório para lembrar Recife e Olinda. SAX & METAIS

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técnica

Escrevendo para duas vozes

TÉCNICA

Aprenda como fazer arranjos na forma de melodia em bloco

N

esta edição da Sax & Metais vamos entender como funciona a técnica de arranjo em bloco para duas vozes. Em nosso caso, poderá ser utilizada para dois instrumentos de sopro. Não necessariamente dois instrumentos iguais, como dois saxofones ou dois trompetes, mas combinações entre eles, como um trompete e um sax tenor, um sax alto e um tenor, e tantas outras combinações possíveis. As formas mais comuns de arranjo para duas vozes são canto e contracanto (técnicas de contraponto) e melodia em bloco – que é a que vamos abordar nesta matéria. Para entender o conteúdo, é preciso ter algum conhecimento de harmonia, como construção de escalas, formação de acordes e análise interválica. Então, mãos à obra!

mesma divisão rítmica e melodias diferentes. Tocar dessa forma cria uma nova ‘textura’ ao que estamos ouvindo. Há um enriquecimento da melodia principal. Essa técnica de escrita pode também ser executada à capela, ou seja, sem acompanhamento harmônico. Normalmente, ele está presente e pode ser executado em forma de um quinteto, piano, baixo, bateria e dois sopros. Ou apenas em trio, piano, dois sopros e o que mais sua imaginação permitir. Para ‘compor’ a segunda voz é necessário ajustá-la em relação à harmonia original da melodia principal (primeira voz). Ao mesmo tempo, tem de se criar um canto que soe bem e que não seja simplesmente matemático.

melodia em bloCo para duas vozes

Para começar o nosso ‘arranjo’, é necessário primeiro fazer uma análise da melodia principal em relação à sua harmonia. Essa análise nada mais é do que identificar o intervalo formado entre a nota da melodia e a tônica do acorde, como no exemplo 1:

Primeiro, vamos entender o que isso significa. Bloco é quando dois ou mais instrumentos tocam simultaneamente, com a

anÁlise melÓdiCa

Exemplo 1

No exemplo anterior, temos somente intervalos presentes na escala maior natural. Quando a melodia forma com o acorde um intervalo alterado, em relação à escala maior natural, ele Exemplo 2

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SAX & METAIS

deverá ser identificado com um # ou um b antes do número do intervalo, indicando que houve uma alteração para cima (#) ou para baixo (b).


Vale a pena lembrar que a nota identificada com alteração não será necessariamente uma nota alterada em relação ao acorde. Exemplo 3

Outra observação que devemos fazer aqui é em relação aos graus altos, intervalos de 9ª, 11ª e 13ª, que são equivalentes a 2ª, 4ª e 6ª. Esses graus altos são chamados de tensões. Lembrando: intervalos

de 9ª e 13ª são maiores dentro da escala maior e o intervalo de 11ª é justo. Observe a análise melódica.

Exemplo 4

Para uma melodia soar bem com um acorde, deve-se utilizar a própria nota do acorde, nota de tensão ou ainda nota de aproximação. A nota de aproximação é aquela que não pertence ao acorde nem é uma tensão dele. Ela funciona como uma nota diatônica (presente na

escala) ou cromática e devem resolver em notas que resultem em boa sonoridade, que obviamente serão de acorde ou de tensão. Outra característica das notas de aproximação é que possuem duração curta e estão em um lugar metricamente fraco em relação ao compasso.

Exemplo 5

Aquarela – Toquinho e Vinicius de Morais

Batida Diferente – Maurício Einhorn e Durval Ferreira

Compondo a seGunda voz Para escrever a segunda voz são necessárias mais algumas observações. Primeiro, fazer a análise melódica e entender que quando a 1a voz usar nota de aproximação ou cromática, o mesmo deverá acontecer na 2a.

Segundo, é importante identificar pontos harmônicos que evidenciem fortemente a harmonia. Esses pontos normalmente possuem duração longa (um tempo ou mais), estão em tempo forte do compasso, são atacados na mudança de compasso ou ainda vêm seguidos por salto ou pausa.

Exemplo 6

SAX & METAIS

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técnica sobre o movimento das vozes Quanto à movimentação das vozes, podemos ter três possibilidades: movimento paralelo (quando as duas vozes caminham sempre no mesmo sentido – se uma voz sobe, a outra também sobe e vice-

versa); movimento contrário (quando o encaminhamento é oposto – quando uma voz sobe, a outra desce e vice-versa); e movimento oblíquo (quando uma voz se movimenta e a outra permanece na mesma nota).

Mais algumas regras que devem ser seguidas

TÉCNICA

✓ Evite a distância de um semitom entre as duas vozes. Isso não soa bem e causa confusão auditiva com a nota da melodia.

✓ Normalmente, a tessitura para bloco para duas vozes não ultrapassa uma oitava.

✓ Para evitar repetição de notas nas duas vozes ao mesmo tempo, é bom utilizar as três formas de movimentação de vozes descritas acima.

✓ Evite o cruzamento entre as vozes (quando a segunda voz fica mais aguda que a primeira). Eventualmente pode ocorrer, mas não é o ideal.

✓ Pensando na série harmônica, os intervalos de 5ª e 8ª deixam a sonoridade das vozes mais pobres. Isso porque na nota inferior está contido o som da nota superior presente na série harmônica. Esses intervalos devem ser evitados.

✓ Utilizar o movimento paralelo em um trecho muito grande da música também traz prejuízo à riqueza harmônica. Em contrapartida, evidencia a melodia. Tome cuidado com trechos longos que utilizam esse tipo de movimento.

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SAX & METAIS


Combinando a movimentação das vozes Como vimos nos exemplos acima, há diversos tipos de movimentação entre as vozes que devemos evitar. Porém, a combinação entre eles torna a ‘ligação’ entre as vozes mais bonita e interessante auditivamente. Conduzir duas vozes em intervalos de terças ou em sextas (paralelismo) frequentemente traz um bom resultado, pelo simples fato de

que a própria harmonia tem estrutura de terças sobrepostas. Mas isso, além de não ficar auditivamente interessante, pode gerar algumas notas indesejáveis. Uma boa saída para esse ‘problema’ é a substituição de terças por sextas onde surgirem as notas indesejáveis e vice-versa. Outra saída ainda mais interessante é utilizar a combinação de movimento paralelo, contrário e oblíquo. Isso quebra a monotonia e dá à segunda voz uma movimentação com maior sentido melódico, além de variação na sonoridade.

Substituição de intervalos de terças por sextas Cai, Cai, Balão

continua...

Lexan

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SAX & METAIS

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técnica

TÉCNICA

Cai, Cai, Balão (continuação)

mistura de paralelismo, movimento ContrÁrio e oblÍQuo

A seguir, mais um exemplo de bloco a duas vozes. Escrevi a primeira parte da música All Of Me, tente terminar esse arranjo e inclua-o em seu repertório. Analise os intervalos e o tipo de encaminhamento

de vozes que utilizei. E, por fim, um arranjo completo de mais um standard de jazz, Groovin Hight.

all oF me

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Simon / Marks


Groovin’ HiGHt

Últimas ConsideraçÕes Falamos muito da utilização de intervalos de terças e sextas e também um pouco sobre quintas e oitavas, porém não são somente esses que existem. Os intervalos por quartas são muito utilizados para uma sonoridade específica. Como exemplo, cito a introdução de Samba do Avião, de autoria de Tom Jobim. Nessa música ele quis essa sonoridade e buscou esse tipo de intervalo, que a princípio pode parecer

Dizzy Gillespie

‘errado’ e bastante dissonante. Os intervalos de segundas e sétimas também são bastante dissonantes, mas perfeitamente utilizáveis. O objetivo desta matéria não é esgotar esse assunto, mas sim introduzir alguns conceitos e dar a você ferramentas necessárias para começar a ‘arriscar’ seus primeiros arranjos para duas vozes. Pratique, experimente e não tenha medo de ousar. Bons estudos e até a próxima! SAX & METAIS

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r e v i e w s CDs e livros

ANÁLISES

SAUDADE DO CORDÃO

LUA CHEIA

ARTISTA: GUINGA E PAULO SÉRGIO SANTOS SELO: BISCOITO FINO

Mauro Senise toca Dolores Duran e Sueli Costa ARTISTA: MAURO SENISE SELO: BISCOITO FINO

A parceria entre Guinga e Paulo Sérgio Santos já é de longa data – 15 anos atrás, quando Paulo substituiu o saxofonista Zé Nogueira em um espetáculo na Casa Rui Barbosa. Agora, depois de longos anos, a dupla nos brinda com esse maravilhoso trabalho em DVD e CD, Saudade do Cordão. No repertório, como não poderia ser diferente, somente músicas do violonista e compositor Guinga, que Paulo Sérgio interpreta com maestria, como tudo o que faz, em seu clarinete inconfundível. É um álbum camerístico, no qual é revelada a verdadeira essência do trabalho: a inspiração. Dentre as escolhidas para compor o trabalho, estão Cine Baronesa, O Côco do Côco, Cheio de Dedos e Por Trás do Brás de Pina. Há também as participações do baterista Jurim Moreira e do cantor e compositor Lenine.

Dois caminhos levaram Mauro Senise à Lua Cheia. O primeiro, o antigo desejo de gravar com seu quarteto alguma melodia de Sueli Costa. O segundo, as repetidas audições de CDs em que Nana Caymmi canta canções de Dolores Duran. Nasceu aí a ideia de unir as duas principais mulheres compositoras do Brasil num trabalho que a boa música estava devendo a elas. Mauro pensou logo em um CD de belas melodias para serem entregues às mãos de Gilson Peranzzetta, pianista, compositor e arranjador dos mais completos neste País de músicos completos. De Dolores, estão Olha o Tempo Passando, O Que é Que Eu Faço, Fim de Caso, Ideias Erradas, A Noite do Meu Bem e Por Causa de Você. Esta última cantada por Olívia Hime, quebrando o conceito instrumental do disco, que Mauro explica: “Queríamos mostrar o maravilhoso lado letrista de Dolores”. Por João Máximo

Meirelles e Os Copa 5 O SOM (1964) Gravado em 1964, reúne o saxofonista J.T. Meirelles com um quarteto de primeiríssima: Luis Carlos Vinhas, piano, Dom Um Romão, bateria, Manuel Gusmão, contrabaixo e Pedro Paulo, trompete. Meirelles é considerado o pai do samba jazz, que pode ser conferido nesse álbum, originalmente lançado com seis faixas. Agora sua versão em CD ganhou mais três, tiradas do LP que veio na sequência, O Novo Som.

Zimbo Trio HERALDO DO MONTE E HECTOR COSTITA (1976) Zimbo Trio é o mais antigo trio brasileiro e ainda em atividade no cenário musical instrumental. Esse álbum, de 1976, vem com as presenças do guitarrista Heraldo do Monte e do saxofonista, clarinetista e flautista Hector Costita. É um álbum quase autoral, com direito a composições de Amilton Godoy, de Luiz Chaves e de Rubinho Barsotti.

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SAX & METAIS

POR DÉBORA DE AQUINO

THE COMPLETE IBEJI SESSIONS

ARTISTA: IVO PERELMAN SELO: EDITIO PRINCEPS

Esse CD é uma edição especial e limitada que comemora os 20 anos de carreira do saxofonista Ivo Perelman. Esse trabalho é a união de dois discos: Soccer Land e Tapeba Songs. Os dois álbuns possuem ainda uma temática bem brasileira. Soccer Land foi lançado em 1994, ano da Copa do Mundo, e traz faixas como Samba de Ogum, Tristeza do Jeca e o clássico forró de Luiz Gonzaga, Forró de Cabo a Rabo, com participação de José Eduardo Nazário nos teclados e Lelo Nazário na bateria. Já o Tapeba Songs faz parte da trilogia de músicas infantis de Ivo Perelman sobre o legado das crianças europeias no Brasil. Esse álbum foca as crianças indígenas do Grupo Tapeba, que vive próximo de Fortaleza e traz músicas inspiradas em canções tradicionais. Participam Paulo Belinatti no violão e Rodolfo Stroeter no contrabaixo. As crianças da tribo compõem o grupo de músicos convidados.

CERTAS COISAS

ARTISTA: MILTON GUEDES SELO: SOM LIVRE

Em seu quinto álbum de estúdio, o saxofonista e gaitista Milton Guedes mostra mais uma vez toda a sua versatilidade. Com toda a experiência e malícia de seus anos de estrada, Certas Coisas é uma verdadeira ‘viagem musical’. A começar pela faixa-título, que ganhou uma bela versão na gaita. Mesmo quem já está acostumado a ouvi-la nos shows que Guedes realiza com Lulu Santos irá se surpreender. Outro destaque é a versão de Roxanne, do cultuado grupo inglês The Police. Nela podemos mais uma vez reconhecer o famoso ‘assovio’ de Guedes. Também presente no repertório do CD está uma linda versão de Careless Whisper, do cantor britânico George Michael. Entre as participações especiais, destaque para o jovem Júnior Lima, mostrando seu talento na bateria nas faixas Rise e Maria Fumaça, esta última uma justa homenagem à banda Black Rio. Mais um registro digno do talento de Milton Guedes. Por Rogério Nogueira

Quarteto Novo QUARTETO NOVO (1967) O Quarteto Novo foi formado em 1966 e criado originalmente para ser trio composto por Theo de Barros, contrabaixo e violão, Heraldo do Monte, viola e guitarra e Airto Moreira, bateria. Mais tarde, o trio virou quarteto com a entrada de ninguém menos que Hermeto Pascoal na flauta, virando então Quarteto Novo. Esse disco, de 1967, trouxe aos ouvintes o som do Nordeste e quebrou preconceitos com relação a essa música.

Brazilian Jazz Quartet COFFEE & JAZZ (1958) Sempre ouvi muito falar do grande saxofonista Casé. Nesse álbum pude finalmente ouvir o seu som no sax alto em standards da música americana como Don’t Get Around Much Anymore e Old Devil Moon. Compondo a cozinha, Moacyr Peixoto, piano, Luiz Chaves, contrabaixo, e Rubinho Barsotti, bateria.



C A PA

capa

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SAX & METAIS


A Sax & Metais conversou com Gerald Albright, saxofonista e baixista que já atuou como sideman e hoje trabalha como artista-solo

Arte sem limites Por Rogério Nogueira e Débora de Aquino | Fotos Divulgação

T

ocar com músicos do calibre de Quincy Jones, Whitney Houston, Phil Collins, Anita Baker, entre muitos outros, não é para qualquer um. Atuar ao lado desses nomes tocando mais de um instrumento é tarefa para Gerald Albright. Com mais de 30 anos de carreira, o músico conta como deixou seus trabalhos de sideman para investir em carreira-solo, técnicas de estudo do saxofone, diferenças de sonoridade, trabalhos como ator e muito mais.

SAX & METAIS

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C A PA

capa » Fale um pouco sobre seu início na música. O que o motivou ao estudo da música? Gerald Albright Comecei aos 8 anos, aprendendo piano. Toquei por cerca de um ano e, por ser tão jovem, não estava muito interessado. Queria saber mais de esportes e de brincar com os amigos. Após esse tempo, meu professor me colocou para aprender saxofone. Foi interessante para mim, porque é um instrumento para soprar, apertar chaves, enfim, mais interessante para uma criança. Acabei me apaixonando, toquei por todo o meu tempo de escola até a faculdade e vem sendo uma parte da minha vida desde então. Sinto como se estivesse apenas começando, mesmo já tocando há mais de 40 anos. Ainda há muito para aprender, muitas canções para escrever. Depois aprendi a tocar contrabaixo. Foi por volta de 1978. Com a música, pude me sustentar. » Qual a importância de um instrumento harmônico, como o piano, na formação de instrumentistas de sopro? GA Considero muito importante, porque o piano é como o ‘pai’ de todos os instrumentos harmônicos. Qualquer coisa que vá fazer, como produzir um disco ou escrever uma música, é comum começar pelo piano. O tempo que passei aprendendo a tocar o instrumento ajudou a sentir as habilidades que passei mais tarde para o saxofone. Ainda toco piano de vez em quando, escrevo algumas músicas e coisas assim. É muito útil no sentido de descobrir o que se pretende fazer harmonicamente. É um importante instrumento para sentir a música. Como foi o início no saxofone e qual foi o primeiro (alto, tenor, soprano)? GA Comecei pelo sax alto. Comprei o primeiro sax de meu professor. Ele to-

O que Gerald Albright usa • Saxofone: Cannonball GA5 Alto • Boquilha: Beechler Hard Rubber • Palheta: Rico Reeds

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Criativo: aprender a tocar todos os tipos de sax tornou Albright versátil em vários estilos


cava com esse sax no exército. Meu pai negociou com ele e acabou comprando. Toquei alto por alguns anos. Quando estava na faculdade, adquiri um sax tenor, comprado também pelo meu pai. Daí parti para o soprano. Mais tarde toquei flauta, um pouco de clarinete e, finalmente, o baixo. » Em sua opinião, quais são as principais semelhanças e diferenças entre os saxofones alto, tenor e soprano? Qual prefere? GA Meu preferido é o sax alto, pois é o instrumento que toquei a maior parte da vida. As pessoas me conhecem pela sonoridade no alto, embora eu ame todos os outros saxofones. A diferença, acredito, é que cada saxofone tem seu próprio som, sua própria voz, que agrega uma variedade. Algumas músicas tocadas em alto não soam tão bem em um tenor e vice-versa. Aprender a tocar todos os tipos de sax me deu uma variedade e um número de opções para usar de acordo com o que acho necessário. Sei quais tipos funcionam melhor para determinadas situações. Mas se tiver de escolher, minha primeira opção é o alto. » Conte como aprendeu a tocar baixo. GA Inspirei-me para tocar baixo por conta de Louis Johnson, que fazia parte do grupo Brothers Johnson, que Quincy Jones estava produzindo na época, cerca de 20 anos atrás. Ele era um dos meus baixistas preferidos naquele tempo, e ainda é. Tive a chance de vê-lo ao vivo com o Brothers Johnson e ele me impressionou a ponto de eu fazer uma promessa: quando tivesse dinheiro, compraria meu próprio contrabaixo e aprenderia a tocar. Durante a faculdade, acabei comprando de um amigo. Aprendi a tocar sozinho. Nunca tive um professor de contrabaixo. Mas aprendi muito observando e ouvindo outros baixistas, que acabavam me dando dicas sobre o instrumento. Eles foram meus professores, mesmo não me dando aulas formais. Sempre toquei com baixistas que puderam me ensinar muito.

» É verdade que certa vez substituiu o baixista em uma turnê de que participava? Como foi? GA Estava em turnê com Patrice Rushen e o baixista dela na época era Fred Washington. Ele já tocou com Michael Jackson e outros. Mais ou menos na metade de nossa turnê de verão, ele recebeu um telefonema de sua produtora convocando-o para a participação em um projeto. Patrice Rushen precisava arrumar outro baixista e comentei com ela que eu tocava baixo também. Já estava participando da turnê tocando saxofone, mas pensei: “Bem, se você fizer audições para arrumar outro baixista, eu gostaria de participar”. Ela disse que tudo bem. Quando chegamos a outra cidade, toquei um pouco na passagem de som. Estava estudando o material dela na turnê e fiquei muito confortável com as músicas. Estava confiante o suficiente para a audição. Ela gostou do que ouviu e acabei finalizando a turnê tocando baixo. Fiquei muito empolgado, pois agora eu era o baixista da turnê de Patrice Rushen. Isso me ajudou a conseguir outros trabalhos mais tarde. Toquei com Rodney Franklin e Anita Baker, entre outros.

cada um deles. Ter a oportunidade de estar no mesmo estúdio com Quincy Jones e aprender como ele faz álbuns é algo que me ajudou muito como músico e compositor. Estive na estrada com Whitney Houston por três anos. Toquei para multidões com ela. Todas essas experiências me permitiram aprender mais sobre a indústria musical e minha metodologia de trabalho. Todas são especiais para mim. » Depois de toda a projeção conquistada como sideman, fale um pouco sobre seu disco-solo de estreia. Como foi essa transição? GA Estava em uma turnê com Anita Baker, tocando contrabaixo, em Long Island, Nova York, nos EUA. Estávamos fazendo o show e eu não sabia que Sylvia Rhone, da Atlantic Records, estava na plateia. Ela me procurou depois do show, pois havia ficado impressionada pelo fato de eu tocar saxofone e baixo com Anita. Perguntou se eu possuía alguma demo ou algo gravado como artista-solo. Depois disso conversamos

» Durante um bom tempo você foi sideman de diversos artistas, como Quincy Jones, Whitney Houston, Phil Collins. Como surgiram os primeiros convites para atuar nesse segmento? Que trabalhos você destacaria como mais importantes? GA Todas as experiências que tive como sideman dos músicos que citou foram maravilhosas. É difícil escolher um ou definir o mais importante. Fiz diferentes coisas com

5 discos favoritos de Gerald Albright Cannonball Adderly Work Song Grover Washington Jr. Mister Magic Stevie Wonder Songs In The Key Of Life John Coltrane Giant Steps Gerald Albright Sax For Stax

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capa

C A PA

e expliquei quais eram minhas pretensões para gravar um álbum. Acabamos assinando um contrato e isso mudou minha vida. Gravei sete discos pela Atlantic Records. » Qual é a diferença entre um saxofonista sideman e o saxofonista solista? Como deve ser o comportamento do músico nos distintos trabalhos? GA É bem diferente. Sendo líder de uma banda, você precisa assumir mais responsabilidades. Como sideman, apenas fazia meu trabalho como músico. Hoje preciso estar com os cheques em dia, pagar meus músicos, trabalhar com

meu empresário. Existem muito mais responsabilidades, principalmente para se manter em um meio tão competitivo como o da indústria musical. Preciso ter a consciência de que tenho que oferecer ao meu público a melhor música possível. É preciso muito tempo e energia para compor músicas, desenvolver conceitos e reinventar a mim mesmo constantemente. Estou nesse meio há mais de 30 anos, mas ainda consigo fazer os dois tipos de trabalho. Recentemente, trabalhei no programa de televisão American Idol como sideman. As responsabilidades aumentam, mas eu gosto, porque a música é minha paixão.

“É preciso saber como sentar e conversar com empresários e fazê-los saber o que você deseja exatamente de sua carreira”

» O que pode dizer aos saxofonistas mais jovens? GA Bem, nesse estágio de minha carreira, realmente gostaria de incentivar a todos os mais novos, pois são eles que irão ‘carregar a tocha’ para que a música continue. Meu conselho é que pratiquem bastante, desenvolvam sua própria sonoridade. Uma coisa é se espelhar em outro músico e adaptar certos conceitos dele. Outra é simplesmente copiar outro saxofonista. Ninguém quer isso, pois esse tipo de som já existe. Aconselho também a manter contato com outras pessoas, enviar seu cartão, sua demo ao máximo de pessoas que conseguir. Fazer com que os outros saibam que você está na ativa. Montar sua reputação. Preste atenção tanto no lado dos negócios quanto no lado musical. Saiba corretamente que tipo de contrato irá assinar, essas coisas. É preciso saber como sentar e conversar com empresários, advogados etc. e fazê-los saber o que você deseja exatamente de sua carreira. Se conseguir juntar tudo isso ao mesmo tempo, terá grandes chances de sucesso nesse meio. » Qual é o melhor estudo para as high notes, uma de suas características mais marcantes? GA Praticar as high notes, ou altíssimo, é algo que faço há muitos anos e não se desenvolve da noite para o dia. Os mesmos exercícios que se costumam usar nas notas regulares podem ser usados no altíssimo. Tudo gira em torno da memória muscular. Quando pratico, geralmente começo nas notas mais baixas e vou fazendo todas as oitavas. Quando seu cérebro decora o tipo de pressão que necessita fazer na boquilha, as coisas ficam mais fáceis. Vai das oitavas, passando pelas escalas, e com o tempo você sugestiona seu cérebro a saber qual a pressão necessária a fazer na boquilha para que a nota saia limpa e forte. É um processo longo, não é algo que exista em algum livro específico. Muito depende do tipo de sax que você possui. Existem variações em diferentes saxofones alto e é preciso saber como tirar o melhor som de cada um. Determinada nota funciona melhor em um sax alto do que em outro.

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» Quem foram suas principais influências? O que tem ouvido ultimamente? GA Minhas influências são John Coltrane, Earl Bostic, Stanley Tarantine, Charlie Parker, Grover Washington Jr. Adoro o jeito como Kirk Whalum toca. Estamos em turnê juntos há alguns meses e é maravilhoso dividir o palco com alguém que você realmente admira como músico. Ele é famoso pelo seu jeito de tocar o sax tenor, eu sou mais conhecido por tocar alto e há um contraste interessante no palco. Esses que citei são os que costumo ouvir e que continuam me inspirando como músico. » Além de saxofonista, você é produtor e até ator, já tendo atuado em diversos programas de TV. Como essas atividades se complementam? GA Nunca tentei fazer apenas uma coisa. Gosto de me expandir. Quando tenho a oportunidade de fazer algo diferente, como atuar em frente a uma câmera de TV, aceito o desafio. Tive o prazer de atuar em diferentes programas de televisão, como o seriado Melrose Place, The Arsenio Hall Show e Different Worlds, entre outros, além de programas esportivos. Gosto de misturar e tentar expandir minha carreira o máximo que posso, pois nunca se sabe no que você é bom se não tentar. O mesmo vale para o meu trabalho como produtor. É uma experiência muito agregadora poder trabalhar com outros aspectos da música e composição. Pegar algo que começou com apenas algumas notas ou uma batida de bateria e transformar em música. É como criar uma criança. Ela cresce e aprende mais e é assim com a música também. » Seu trabalho mais recente é Sax for Stax e você afirma que foi um dos trabalhos mais divertidos que já fez. GA Sim, foi muito divertido para mim. É um dos meus trabalhos preferidos. Foi legal porque tive a chance de tocar músicas que amo há muitos anos, como de Isaac Hayes e Johnnie Taylor, entre outros. É um tipo de música muito viável ainda. Fiquei feliz pelos mais jovens ainda apreciá-las, pessoas com 16 e 17 anos. Foi ótimo trabalhar com tantos músicos que admiro, uma experiência memorável.

“Os mesmos exercícios que se costumam usar nas notas regulares podem ser usados no altíssimo. Tudo gira em torno da memória muscular”

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análises PARA

POR RODRIGO BENTO

Q U E M G O S TA D E J A Z Z F U S I O N E P O P

BOQUILHA EVER-TON SAX TENOR

ANÁLISES

É

cada vez mais comum a utilização das chamadas ‘boquilhas genéricas’. Primeiro por seus preços serem mais acessíveis que os das originais e segundo porque as originais não são tão fáceis de encontrar por aqui. Com o aumento da demanda por esse tipo de boquilha, diversos luthiers começaram a se arriscar nesse mercado e com Everton Tosta não foi diferente. Para suprir a necessidade de obter um produto mais barato e de boa qualidade, Tosta iniciou pesquisas sobre boquilhas e materiais e viu que era perfeitamente viável fazer um produto de qualidade a preços acessíveis. Com o passar dos anos, suas pesquisas foram evoluindo, novos materiais foram introduzidos e o resultado são excelentes boquilhas, que atendem tanto músicos profissionais como iniciantes e amadores. Um dos diferenciais da boquilha testada, a Ever-Ton Estúdio 8, é o fato de ela ser feita em massa e metal. Possui o corpo de massa e o tubo interno em latão. Então, vamos conferir o resultado do nosso teste.

PRIMEIRAS IMPRESSÕES O material de composição da boquilha EverTon Estúdio 8 para sax tenor é interessante. A parte final da boquilha é feita em metal, enquanto a câmara e toda a parte que entra em contato com os dentes superiores é confeccionada em uma espécie de resina, que lembra as boquilhas de massa, mas com molde de boquilha de metal, mais fina. Internamente, percebe-se uma rampa bastante pronunciada, o que confere um timbre mais agressivo, típico da música pop.

SONORIDADE Ao experimentar a boquilha Ever-Ton, percebi de cara que se tratava de um equipamento mais voltado para o jazz fusion ou música pop. Apesar da numeração 8 (considerada aberta), a melhor adaptação foi com palhetas 3.5, mais pesadas, conferindo um timbre mais robusto. Lembra muito o estilo das Dave Guardala Brecker, brilhante, porém menos encorpado que as Guardala originais. Os graves não são tão presentes quanto a região média, que sobressai bastante se utilizarmos palhetas um pouco mais macias. Por isso, escolhi tocar com palhetas mais pesadas, atenuando algumas frequências e deixando o som mais equilibrado.

AFINAÇÃO, VOLUME E EMISSÃO A afinação é muito precisa, não apresenta oscilações. Manteve uma boa média em diversas regiões, inclusive superagudos. O volume de som não é tão grande, o que me chamou a atenção. Geralmente esse tipo de boquilha costuma projetar um pouco mais. Ao fazer experiências tocando jazz tradicional, por exemplo, achei um pouco brilhante, mesmo com as palhetas 3.5. A região grave, apesar de confortável para executar, soa

ainda um pouco ‘magra’, principalmente nos subtones. Falta aquele som mais ‘cheio’ e ‘gordo’ nessa região. Em compensação, a parte de superagudos é extremamente fácil de emitir e aparece muito bem, quando o estilo musical é mais propício, como soul, gospel, funk etc. Fiz um teste de gravação em naipe de sopros e respondeu muito bem. Nesse caso, o que analisamos mais é a afinação, que se manteve perfeita. Senti falta de um pouco mais de projeção e volume, por estar junto com trompete e trombone, o que foi compensado depois, na mixagem. Tocando como solista, numa intenção mais fusion, o resultado é muito interessante. Soa bem e destaca as frequências médias, características desse estilo. Ideal com palhetas mais macias, entre 2 e 2.5, para acentuar a agressividade natural desse tipo de equipamento.

CONCLUSÃO É uma boquilha bem atual, para quem procura um timbre mais pop, com facilidade de execução e confiabilidade na afinação.

BOQUILHA EVER-TON SAX TENOR ESTÚDIO 8 Fabricante: Ever-Ton Prós: Afinação e fácil emissão. Contra: Pouco ‘corpo’ de som na região grave. Preço médio: R$ 320,00 Garantia: Seis meses. Emissão......................... Afinação ....................... Sonoridade.................... Projeção........................ Custo-benefício............... Utilização recomendada ❏ Estudo ❏ Apresentações ao vivo ❏ Gravação

Tire suas dúvidas com o fabricante: (34) 3313-2696 ou evertontosta@yahoo.com.br. Quer falar com o autor desta matéria? Rodrigo Bento, saxofonista. Contato: magichorns@gmail.com.

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POR DÉBORA DE AQUINO

INSTRUMENTO

PERSONALIZADO

SAX ALTO CANNONBALL VINTAGE E

sse saxofone alto Cannonball chamou muito minha atenção ao vê-lo. Possui um estojo muito bonito e o instrumento é de encher os olhos, um acabamento fantástico e um engraving personalizado e certificado um a um. O instrumento em questão é de edição limitada, sendo que foram produzidos apenas 400 peças. Para entender por que é um instrumento tão equilibrado, vamos conhecer um pouco da história dos Cannonball.

HISTÓRIA A fábrica Cannoball é resultado do encontro de dois amantes do saxofone, Sheryl e Tevis Laukat. Sempre bons instrumentos caíram em suas mãos, até que uma nova marca chegou e, ao experimentar, perceberam que não possuía uma boa sonoridade. Passaram a tentar várias mudanças no instrumento. Conseguiram encontrar uma sonoridade muito semelhante à dos instrumentos vintage. Ficaram tão animados que pensaram em ter sua própria fábrica de saxofones. A ideia era fazer saxofones a partir do zero, com seus próprios moldes, posição de chaves, ligas etc. A resposta dos produtores para essas mudanças é que o preço se tornaria mais alto, mas Tevis e Sheryl aceitaram a proposta.

MECÂNICA E ERGONOMIA A Cannonball possui diversos modelos de saxofone, desde os de linha estudante até os profissionais. O instrumento testado foi o Cannonball Vintage Professional Serie Lady Godiva. Esse instrumento possui uma cor dourada cobre, mais escura do que o tradicional amarelo-ouro. Os parafusos são em aço inoxidável e as molas são agulha de aço azul, o que confere maior durabilidade. Sua mecânica é muito macia. Nunca peguei um instrumento tão macio e fácil de tocar. A posição das chaves é de mecânica moderna, bem ergonômica, e as chaves das notas agudas da mão esquerda são mais baixas, semelhantes à mecânica da Selmer. A chave de porta-voz (chave de oitava) é diferente das que estamos acostumados. É recortada ao redor do apoio do polegar, como todos os saxofones modernos são. Porém, possui uma leve ‘rampinha’ que facilita a pegada e a torna mais leve. Nas chaves das notas graves da mão esquerda, possui um ‘trilho’ de alinhamento, o que facilita as passagens entre Sol# e Dó# e entre Sib e Si natural.

SONORIDADE E AFINAÇÃO O sax Cannonball Vintage Series é um instrumento muito equilibrado, de sonoridade mais aveludada, mas muito clara. A ressonância é excelente em toda a extensão, assim como a afinação. Possui uma boa projeção desde os graves até os agudos, com volume igual em todas as regiões. Esse saxofone vem com uma boquilha de marca Cannonball número 5. Ela é fechada e não rendeu muito com o instrumento, que merece coisa melhor. Entretanto,

pensando que este é um modelo profissional, dificilmente o músico irá utilizá-la, pois segura bastante a projeção do som. Testei com uma boquilha Meyer 5 (EUA) e o timbre ficou mais escuro, mais vintage. Para quem gosta da sonoridade dos ‘clubes de jazz’, é um bom conjunto. Em seguida, utilizei uma boquilha de metal e mais aberta. Aí o Cannonball mostrou o seu potencial, com bastante projeção e volume.

CONCLUSÃO A Cannonball está querendo conquistar agora o mercado brasileiro e tem tudo para conseguir. Se a proposta dos seus idealizadores foi fazer um instrumento de qualidade e com diferencial, conseguiram. Minha única ressalva é quanto ao preço praticado por aqui, já que é equivalente ao de grandes marcas já estabelecidas no mercado. Poderiam tentar entrar com preços mais competitivos. Mas, quem puder experimentá-lo antes de comprar, com certeza ficará encantado com o resultado, assim como eu!

SAX ALTO CANNONBALL VINTAGE – LADY GODIVA Importador: H3m Music Fabricante: Cannonball Prós: Mecânica, acabamento, sonoridade, afinação. Contra: Preço. Preço médio: R$ 6.900,00 Garantia: 3 anos. Emissão......................... Afinação ....................... Sonoridade.................... Projeção........................ Custo-benefício............... Utilização recomendada ❏ Estudo ❏ Apresentações ao vivo ❏ Gravação

Tire suas dúvidas com o fabricante: contato@cannonballmusic.com.br. Quer falar com o autor desta matéria? Débora de Aquino, saxofonista e flautista. Contato: editoriatecnica@saxemetais.com.br. SAX & METAIS

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vitrine Sax

& Metais recomenda

Confira sugestões de INSTRUMENTOS e ACESSÓRIOS que estão chegando às lojas e prometem fazer sucesso entre os músicos Braçadeira Rico Ligature Saxofone soprano modelo VSSP 701 Instrumento da Vogga laqueado, com ressonador metálico, cortiça natural e botões em madrepérola. Acompanha case.

Feita em níquel banhado com quatro pontos de contato. Distribuição da pressão sobre a palheta sem interrupção da vibração. INFORMAÇÕES:

www.musical-express.com.br .com.br

VITRINE

INFORMAÇÕES:

www.vogga.com.br

Palheta Bari Palheta sintética transparente, nas medidas Soft, Medium e Hard, para clarineta e saxofones soprano, alto, tenor e barítono. INFORMAÇÕES:

www.arwel.com.br

Flugelhorn modelo WFHM55 Lançamento da Michael, o instrumento possui pistão em aço inoxidável, botões de digitação e capelotes em madrepérola, afinação no tubo e gatilho de afinação na terceira pompa. Acompanha estojo.

Gaita Marine Band Gaita Hohner com a sonoridade clássica da Marine Band. Possui placa de latão, corpo em pearwood, montada com três parafusos na placa de palhetas e quatro parafusos na cobertura. INFORMAÇÕES:

www.izzomusical.com.br

INFORMAÇÕES:

www.michael.com.br Informações cedidas pelas empresas. A revista Sax & Metais não se responsabiliza por qualquer alteração nos produtos apresentados pelos fabricantes e/ou distribuidores.

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workshop T R O M P E T E

Por Fernando Dissenha

N

este artigo abordo a articulação na performance dos instrumentos de metal. O verbo articular (do latim articulare) significa separar, dividir, pronunciar distintamente. Segundo o Dicionário Aurélio, articular é tocar com clareza e nitidez. Já a definição do Dicionário Houaiss ensina que articular é “separar (grupos rítmicos ou melódicos) para tornar o discurso musical inteligível”. Cada família de instrumentos usa recursos distintos para criar as articulações. Os instrumentos de cordas variam a velocidade, o ponto de contato e a pressão do arco. Já os percussionistas alteram a velocidade, a distância e o ângulo em que a baqueta toca na superfície sonora. Os instrumentistas de sopro usam a língua que “separa em fatias” o ar que vem dos pulmões. Uma vez que já escrevi sobre o uso do ar em dois artigos anteriores, é importante agora uma análise da função da língua no processo de articular. Antigamente, alguns professores ensinavam que o início das notas deveria ser como se estivéssemos ‘cuspindo’ um objeto da língua. Talvez esse equívoco venha em parte de alguns termos encontrados em métodos de trompete. Palavras como ataque (do inglês stroke), ou o terrível ‘golpe de língua’, não parecem descrever atividades musicais, mas sim movimentos de uma luta. Devemos lembrar que o início das notas não é uma função da língua, mas do ar. Nesse processo, a língua deve funcionar como uma válvula reguladora que define a duração das notas. Os lábios vibram pelo ar em movimento, e não por golpes ou ‘pancadas’ da língua. Se tiver dúvidas sobre esse conceito, experimente iniciar uma nota só com o ar. Provavelmente o som não terá um começo definido, mas ainda assim é possível produzi-lo. Por outro lado, se você tentar tocar a mesma nota ‘só com a língua’, perceberá que isso é fisicamente impossível. Não existirá vibração dos lábios e, por consequência, nenhum som musical será criado.

O controle total das articulações é o objetivo técnico de todos os instrumentistas de metal. A meu ver, os problemas aparecem quando esquecemos o ar e focamos nossa atenção exclusivamente nos movimentos da língua. Deficiências como falta de velocidade e clareza têm fácil resolução se deixarmos que a coluna de ar ‘controle’ a língua relaxada. Uma analogia que uso para explicar isso é a de um pedaço de pano preso na janela de um carro em movimento. Já fez essa experiência? Reparou como o pano se move rapidamente? Outro fator importante é o correto balanço entre o uso do ar e os movimentos da língua. Para que esse equilíbrio aconteça, grandes professores insistem que a língua não bloqueie a coluna de ar. A ideia é que a coluna de ar seja fluente e sem interrupções – independentemente do tipo de articulação a ser executado. Uma pergunta vem após essas considerações: onde a língua deve ficar no momento da articulação? Obviamente a língua deve sempre se posicionar atrás dos dentes. Na minha primeira aula nos EUA, o professor Chris Gekker falou sobre o conceito de brush articulation – algo que pode ser traduzido como ‘articulação pincel’. De acordo com essa ideia, a ponta da língua funciona atrás dos dentes incisivos superiores para criar diferentes sons e cores. Ideia semelhante foi defendida em julho de 2004, no Festival de Campos do Jordão, por Philip Smith – primeiro trompete da Filarmônica de Nova York. Ele afirmou que pensa no funcionamento da língua exatamente como o pincel de um artista que cria texturas e estilos distintos na tela. Existem também grandes instrumentistas que usam a ponta da língua ‘ancorada’ (em inglês: anchor tongue) nos dentes inferiores. Um consenso entre bons professores é que a língua se posicione o mais próximo dos dentes e execute movimentos de pequena amplitude, o que ajuda a criar maior agilidade.

“É essencial que o instrumentista conheça o significado e a forma de execução dos símbolos criados na música ocidental para indicar as articulações”

BIBLIOGRAFIA

AQUI VOCÊ ENCONTRA OS LIVROS ESSENCIAIS SOBRE ESTE ASSUNTO

BURBA, Malte. Brass Master-Class. Mainz: Schott Musik International, 1997. FARKAS, Philip. The Art of Brass Playing. Rochester: Wind Music, 1962. GEKKER, Chris. Articulation Studies. New York: Transition Publication, 1995. ________. Endurance Drills for Performance Skills. New York: Transition Publication, 2002. KLEINHAMMER, Edward; YEO, Douglas. Mastering the Trombone. Hannover: Edition Piccolo, 1997.

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SAINT-JACOME, Louis A. Grand Method for Trumpet or Cornet. New York: Carl Fischer, 1870/1996.

WORKSHOP

Articulação


Pode-se criar uma analogia entre o papel das consoantes e vogais, à forma de iniciar as notas. Esse conceito é citado na definição de articulação do Dicionário de Termos e Expressões da Música, escrito pelo dr. Henrique Autran Dourado. Quando ‘pronunciamos’ diferentes sílabas no instrumento, produzimos distintos estilos de articulações. As consoantes ‘t’ (oclusiva) e ‘d’ (explosiva) são as mais recomendadas em vários métodos de trompete. Não por coincidência, essas consoantes são chamadas linguodentais. Ou seja, para pronunciá-las temos de encostar a língua nos dentes. As consoantes ‘l’, ‘n’, ‘p’ e ‘r’ também são usadas para criar diferentes ‘cores’. Em um próximo artigo, pretendo abordar o uso das consoantes ‘g’ e ‘k’, que são utilizadas na execução de articulação dupla, tripla e múltipla. Com relação às vogais – que também alteram os timbres –, sugiro uma pesquisa ampla sobre os sons de outros idiomas. Defendo isso, pois infelizmente alguns professores mal informados insistem em ensinar conceitos equivocados como, por exemplo, a sílaba ‘tu’ – que aparece no famoso método de Jean Baptiste Arban (1825-1889). É importante ressaltar que o som dessa síla-

ba em português não é igual ao francês. Além disso, a pronúncia correta (em francês) da vogal ‘u’ implicará mudanças na posição dos lábios. Mas qual é a sílaba melhor ou a ‘correta’? A resposta não é simples, pois temos de levar em conta vários fatores como: estilo e dinâmica da música a ser tocada, a articulação de outros colegas, o desejo dos maestros, a acústica da sala, entre outros. É essencial que o instrumentista conheça o significado e a forma de execução dos símbolos criados na música ocidental para indicar as articulações. Porém, a pesquisa é sempre importante, pois nem sempre esses símblos devem ser executados da mesma forma. Cito por exemplo um staccato em Brahms, que tem um caráter de separar as notas. Já o staccato de Stravinsky denota quase sempre um som mais seco. Outra observação necessária diz respeito aos fundamentos da teoria musical que definem o valor que devemos sustentar uma nota. Infelizmente, às vezes esquecemos algumas regras básicas e tocamos as notas mais curtas do que elas realmente são. A seguir incluo uma breve descrição de alguns símbolos que frequentemente encontramos nas partituras.

Staccato: significa separar, desligar (do italiano staccare). É a execução de sons curtos e separados, indicada com um ponto abaixo ou acima das notas (Houaiss). As notas com esse símbolo devem ser executadas com a metade do seu valor original. Portato: denota carregar, levar, trazer (do italiano portare). Com uma coluna

de ar constante, as notas são “articuladas no som”, como é descrito no método de SaintJacome (1830-1898).

Acento: (do italiano accento). As notas devem ser articuladas com mais intensidade no início e um decrescendo no final, mas ainda assim, sustentadas com o valor integral. A ideia é reproduzir um som de sino (do inglês bell tone). Tenuto, ou simplesmente [ten]: significa ter, manter (do italiano tenere). Indica sustentar as notas com o valor exato ou um pouco prolongado.

Marcato: esse termo significa marcar, colocar em evidência, ressaltar (do italiano marcare). As notas são articuladas com muita intensidade e mantidas assim na duração integral.

Discussões intermináveis sobre a articulação têm, infelizmente, gerado muita confusão e até desentendimentos entre instrumentistas e professores. Um ponto de partida para o fim das discórdias é respeitar a vontade do compositor expressa na partitura. Mais uma vez, cito Philip Smith, que em Campos do Jordão disse aos alunos: “Play what the man wrote”, traduzindo: “Toque o que o homem (compositor) escreveu”. É fundamental também lembrar que quase sempre tocamos com outros colegas, e isso implica seguir algumas regras essenciais como: ouvir o grupo, esquecer o individualismo e, se necessário, mudar a articulação. Por fim, o

objetivo desse artigo — apesar da complexidade do assunto — não é somente tratar de ‘técnica’. Nesse contexto, a articulação é uma poderosa ferramenta que temos para ‘contar a história’ que o compositor escreveu de uma forma clara e mais expressiva. autor

Fernando Dissenha é trompete-solo da Osesp (Orquestra Sinfônica de São Paulo). Contatos fernando@dissenha.com ou www.dissenha.com

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workshop G A I TA

Por Ivan Marcio

gaita diatônica II

E

stou retornando para dar continuidade aos nossos estudos das posições ou blues positions na gaita diatônica. Vale lembrar que também podemos utilizar essas posições na gaita cromática. Nesta edição vamos estudar a terceira posição, draw harp, ou gaita aspirada, em que estaremos tocando em Dm (Ré menor)

com nossa gaita diatônica afinada em C (Dó). Essa escala é muito utilizada para tocar blues em tons menores, mas não é ‘proibido’ executá-la em músicas nos tons maiores. Vamos primeiro trabalhar o desenho dessa posição, para em seguida podermos praticar com algumas rotinas ou riffs, para dar abertura à novas possibilidades de melodias em nossa gaita.

Terceira Posição – Draw Harp Exercício 1

Agora o próximo passo é aplicar as três primeiras posições em forma de rotinas. Para o estudo, estarei disponibilizando uma base simples de blues que será executado apenas com a tônica, ou seja, I° Grau*. Vamos tocar? *Nota: Grau é cada nota da escala musical.

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Rotinas para estudo das três posições de blues

WORKSHOP

Posições na


Depois de muito praticar essas rotinas, você poderá alternar as posições das notas musicais, dobrá-las, trabalhar em tercinas ou saltos. Isso facilitará muito o seu desenvolvimento e habilidade no instrumento. Mantenha sempre a atenção aos acidentes ou blue notes. Deixo aqui uma dica para apreciação musical: http://www. youtube.com/watch?v=IG3Z_R9wJ-w, o gaitista e vocalista Sonny Boy Williamson II tocando I’m Lonely Man, utilizando gaita em C (diatônica). O conteúdo deste workshop – terceira posição, acompanhamento e as rotinas – estará disponível no www.youtube.com. Digite “Ivan Marcio – gaita diatônica – revista Sax e Metais” na busca. Forte abraço, vamos soprar e até a próxima edição!

autor

Ivan Marcio é músico, pedagogo, consultor musical, estudante de musicoterapia e endorser Bends Harmônicas. Informações e contato www.ivanmarcio.com e ivanmarcio@bends.com.br

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workshop S A XO F O N E

Por Rodrigo Capistrano

O papel do saxofone e do

REPERTÓRIO Atualmente, temos um vasto repertório que inclui o saxofone como membro da formação instrumental de uma orquestra sinfônica. Seguem alguns poucos e breves exemplos: Heitor Villa-Lobos. A Floresta Amazônica. (S-A) Heitor Villa-Lobos. Choros N° 6. (S) Heitor Villa-Lobos. Choros N° 8. (A) Heitor Villa-Lobos. Choros N° 10. (A) Heitor Villa-Lobos. Choros N° 11. (S-A) Heitor Villa-Lobos. Choros N° 12. (A-A) Heitor Villa-Lobos. Introdução aos Choros. (A) Heitor Villa-Lobos. O Descobrimento do Brasil. (A nas suítes N.1, 2 e 3) Heitor Villa-Lobos. Bachianas Brasileiras N° 2. (T-B) Heitor Villa-Lobos. Momo Precoce. (A) Heitor Villa-Lobos. Uirapuru. (S) Heitor Villa-Lobos. New York Sky Line Melody. (A) Edino Krieger. Variações Elementares. (A) George Bizet. L’Arlésienne. (A) Maurice Ravel. Bolero. (S-T) Léo Delibes. Sylvia. (A) Darius Milhaud. La Creation Du Monde op. 81 a. (A) Modest Mussorgsky. Quadros de uma Exposição. (A) George Gershwin. Um Americano em Paris. (A-T-B) George Gershwin. Rhapsody in Blue. (A-T-A) Leonard Bernstein. Danças Sinfônicas de West Side Story. (A) Leonard Bernstein. Prelude, Fugue and Riffs. (A-A-T-T-B) Sergei Prokofieff. Suíte Tenente Kijé op. 60. (T) Sergei Prokofieff. Romeu e Julieta. (T nas três suítes) Alban Berg. Concerto para Violino e Orquestra. (A) Alban Berg. Lulu Suite. Para orquestra e vozes (A) Zoltán Kodály. Háry János – Suite. (T) Igor Stravinsky. Ebony Concerto. (A-A-T-T-B) Igor Stravinsky. Praeludium. (A-A-T-B) Igor Stravinsky. Scherzo à La Russe. (A-A-T-B) Benjamin Britten. Sinfonia da Réquiem op. 20. (A)

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tos, já que as obras mais modernas ou contemporâneas exploram mais o efetivo orquestral em comparação com a instrumentação da orquestra clássica. Isso encarece as produções para os teatros. • Como o saxofone é um instrumento relativamente novo, com menos de 170 anos, os chamados grandes mestres da música, e constantemente interpretados pelas orquestras, como Johann Sebastian Bach, Wolfgang Amadeus Mozart, Ludwig van Beethoven, George Frideric Handel, Joseph Haydn, Antonio Vivaldi, Georg Philip Telemann, entre outros, não escreveram peças para o instrumento. • Um fato menos corriqueiro, porém ainda verificado esporadicamente, é o da função do saxofonista ser executada por um dos clarinetistas do naipe. Uma vez que temos tal cenário musical estabelecido, devemos pensar na necessidade dos saxofonistas de se interarem de tal repertório e se mostrarem preparados. Nós, saxofonistas, raramente costumamos incluir em nossos estudos os chamados ‘trechos orquestrais’, como fazem os colegas de outros instrumentos, embora existam cadernos destinados a esse tipo de estudo. Esses cadernos são extremamente positivos. Trazem apenas os trechos solistas das partes que tocamos na orquestra e não reproduzem a parte na íntegra, o que facilita a prática. Outra coisa muito importante é poder tocar em bandas sinfônicas, caso seja possível (na orquestra de sopros, o saxofone é membro efetivo). Nesse tipo de orquestra podemos nos habituar a tocar sob a regência de um maestro e, assim, compreender o funcionamento de um grupo orquestral e a sua dinâmica de trabalho. As participações do saxofone costumam ser de grande importância por quase sempre se tratarem de intervenções solistas. Os compositores gostam de buscar na voz do saxofone um timbre marcante e diferenciado para assim enriquecer as cores de sua obra e contrastar com os instrumentos mais tradicionais que compõem a orquestra. Muitas vezes essas intervenções são breves e definitivas, como na peça Quadros de uma Exposição, no movimento O Velho Castelo. Essa peça original para piano de Modest Mussorgsky foi orquestrada por Maurice Ravel em 1922, que utilizou o saxofone alto apenas em um único e marcante movimento, não tocando mais nada até o final. Além dessa página, Ravel, no seu célebre Bolero, utilizou o saxofone tenor e também o soprano como dois dos solistas de destaque da sua mais famosa obra. Nesse caso, após os solos, os saxofonistas voltam a tocar até a conclusão da obra. Interessante citar um aspecto prático do trabalho do saxofonista em uma orquestra, pois não tocamos durante grande parte da duração das obras, ao contrário do trabalho em uma banda sinfônica. Portanto, devemos nos habituar a contar muitos compassos. Muitas vezes devemos pegar o instrumento totalmente frio para iniciar um solo descoberto e de suma importância, além de não podermos, ao longo da introdução e desenrolar da peça, ir testando nossa palheta, já que nos encontramos parados em nossa posição no palco. É importante também frisar a questão da afinação, uma vez que nos afinamos com todo o grupo no início

C

omo o saxofone e o saxofonista se encaixam na orquestra? Abordarei este assunto pois percebo que o tema costuma ser deixado de lado pelos saxofonistas, que acabam se voltando mais para outros campos da atividade musical. E com uma boa dose de razão. Mas a intenção deste artigo é tão somente provocar a reflexão a respeito dessa temática. Talvez a existência de poucas oportunidades de trabalho no meio musical orquestral explique o baixo interesse, já que nem sempre se priorizam as peças que contam com a presença do saxofone em seu efetivo instrumental. Mas por que isso ocorre? Podemos contextualizar algumas possíveis razões: • O repertório costuma demandar orquestras completas em suas formações. Ou seja, às vezes existe a obrigação da contratação de muitos músicos extras (cachês), além do saxofonista, para viabilizar os concer-

WORKSHOP

saxofonista na orquestra sinfônica


Eb Sax Alto

L’arlésienne First Orchestral Suite

I. Overture

da audição e, dependendo da peça, só tocamos algum tempo depois, quando todos os outros instrumentos já estão mais aquecidos e levemente mais altos do que no momento da afinação. Nesse caso, devemos nos afinar levando isso em conta para não entrarmos com a afinação baixa no início do solo. Outro tópico é com relação à concepção timbrística e estilística do que se está tocando. Devemos tentar sempre nos moldar à sonoridade da orquestra e nos amalgamarmos ao timbre produzido por esse conjunto, sem soar como um elemento estranho. Temos de dedicar atenção especial à sonoridade específica do naipe de madeiras, que é onde nós, saxofonistas, nos inserimos. Sobre o estilo, para que cumpramos nosso papel dentro do padrão desejado, é de suma importância que tenhamos uma interpretação

Georges Bizet (1838-1875) arranged by Fritz Hoffman

condizente com a obra executada, respeitando ao máximo o texto dos autores, e que usemos material erudito (conjunto boquilha/palheta). A escola erudita do saxofone prepara o saxofonista para esse tipo de função, pois para tocar em um conjunto sinfônico não basta ser bom leitor de partituras. É preciso conhecer o contexto no qual se está inserido. Enfim, o papel do saxofonista em um conjunto orquestral merece grande atenção por parte dos saxofonistas eruditos por ser de grande responsabilidade e transparência. autor

Rodrigo Capistrano é saxofonista, diplomado e pós-graduado em música de câmara pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná.

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workshop S A XO F O N E

Por Rafael Velloso

Improvisação pela

N

a Idade Média, a improvisação tinha um alto prestígio e era associada à liberdade e à imprevisibilidade, enquanto a composição era associada à disciplina e à previsibilidade. Porém, esta associação, com o tempo, passou a figurar como um contraste à ideia de precisão e planejamento. Em sua definição mais acadêmica, fornecida pelo Dicionário Groove de Música, por exemplo, a improvisação é definida como “a arte de executar a música espontaneamente, sem a ajuda de manuscritos, rascunho ou memória”. Esta definição demonstra, em parte, como a improvisação ainda é associada a uma prática pouco estudada e preparada. Sim, é verdade que a improvisação em si não deve ser limitada por um suporte físico como o papel, mas o conhecimento sobre a música e as técnicas de improviso deve ser praticado e estudado, de forma a nos fornecer sempre mais recursos para exercer plenamente a liberdade de criação. Particularmente no que se refere aos instrumentistas de sopro, podemos perceber a sua desvantagem em relação aos instrumentos de harmonia, por não trabalharem diretamente com o acompanhamento harmônico e por isso desconhecer sua estrutura, seus caminhos e encadeamentos. Para tentar diminuir essa desvantagem, o instrumentista de sopro deve sempre estudar as harmonias, não só as partes melódicas, procurando também tocá-las, de preferência em um instrumento harmônico, para que essa compreensão se torne também vivenciada. Outra forma de estar sempre conectado com a harmonia da música é arpejar os acordes, de forma a seguir seu caminho harmônico básico. Para isso é fundamental ter todos os arpejos de tétrades, ‘embaixo do dedo’, maiores, menores, diminutos, dominantes, e conhecer todas as suas tensões principais e notas evitadas. Após esse estudo inicial, podemos seguir para o próximo passo, que é experimentar a superposição de acordes, que nos dará as

tensões da harmonia, criando assim novas cores e sonoridades, diferentes do som básico do arpejo. Essas opções, porém, devem estar sempre de acordo com a função do acorde, respeitando sua escala e evitando as conhecidas ‘notas evitadas’. Dessa forma, somente algumas combinações de acordes serão possíveis. (Figura 1) Apresentamos então a harmonia da música Choro da Marcele, composição de Juarez Araújo, gravada por este grande saxofonista em meu CD Sax Chorando, sendo este seu último registro em vida. A harmonia da música, bem jazzística, pode ser lida por diferentes caminhos. Assim, optamos por certas tríades específicas que destaquem mais ou menos suas tensões. Na figura 1 demonstramos algumas opções de superposição de arpejos para os acordes da música, sendo este um dos caminhos possíveis. O compositor, em seu improviso, utiliza, além dos arpejos, escalas de acordes, criando assim uma rica teia de efeitos melódicos em seu improviso. Dessa forma, outras combinações, como escalas e frases rítmicas que se assemelham à melodia, são muito desejáveis para dar efeitos diferentes a cada trecho do improviso. Como podemos observar, uma improvisação envolve a realização de uma ou mais partes musicais, constituídas por um modelo, uma melodia, uma célula rítmica e uma progressão harmônica, a qual, tocada ou não, é conhecida pelo improvisador. Por isso, citações ao tema ou ao modelo, de forma reconhecível, são bem desejáveis, criando assim alguns pontos de referência. Espero que este breve artigo possa ter produzido alguma reflexão tanto em relação à forma como pensamos a improvisação, quanto à pesquisa de técnicas alternativas à estruturação de caminhos harmônicos. O objetivo é o mesmo: fornecer ferramentas necessárias não somente para demonstrar uma habilidade musical adquirida, mas também para exercitar a liberdade em seu grau mais puro.

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Figura 1

WORKSHOP

superposição de acordes


Choro de Marcele

Juarez Araújo

autor

Rafael Velloso é saxofonista, arranjador e compositor. Bacharel em saxofone pela Universidade Estácio de Sá (RJ) e mestre em Etnomusicologia pela Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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