ISSN 1676-2274 A REVISTA DOS MELHORES PROFISSIONAIS DE NUTRIÇÃO
R$30,00 - abril 2022 Ano 30 Número 173 Edição Impressa São Paulo
O PAPEL DA NUTRIÇÃO NA CIRURGIA ONCOLÓGICA DRA.THAIS MANFRINATO MIOLA
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ABRIL 2022
ESPORTE | GASTRONOMIA | SAÚDE PÚBLICA FOOD | CLÍNICA NUTRIÇÃO EM| PAUTA 1
editorial
por Sibele B. Agostini
O Papel da Nutrição na Cirurgia Oncológica
Projeto trinta anos da Nutrição em Pauta A Revista Nutrição em Pauta completou trinta anos e para comemorar estamos convidando importantes profissionais do setor para escreverem um artigo de opinião sobre pontos polêmicos e inovadores relacionados à sua expertise e área de atuação. Nesta edição convidamos a Dra.Thais Manfrinato Miola, que é nutricionista supervisora Clínica do ACCamargo Cancer Center, para abordar o tema “O Papel da Nutrição na Cirurgia Oncológica”. Prepare-se para o Mega Evento Nutrição 2022, englobando o 23o Congresso Internacional de Nutrição, Longevidade e Qualidade de Vida, 23o Congresso Internacional de Gastronomia e Nutrição, 10o Congresso Multidisciplinar de Nutrição Esportiva, 18o Fórum Nacional de Nutrição, 17o Simpósio Internacional da American Academy of Nutrition and Dietetics (USA), 15o Simpósio Internacional da Nutrition Society (United Kingdom), 15o Simpósio Internacional do Le Cordon Bleu (França), que será realizado online em agosto de 2022 e já conta com parcerias com as principais entidades internacionais ABRIL 2022
e nacionais do setor. E o EAD Profissional Nutrição em Pauta, plataforma de ensino à distância que conta com vários cursos online: Mindful Eating, Nutrição Esportiva, Nutrição e Pediatria, Fitoterapia, Nutrição e Estética, Envelhecimento, Emagrecimento, e muito mais.
Aproveite as informações científicas atualizadas desta edição da revista Nutrição em Pauta. Dra. Sibele B. Agostini CRN 1066 – 3a Região NUTRIÇÃO EM PAUTA
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nesta edição ABRIL 2022
5. O Papel da Nutrição na Cirurgia Oncológica 9. Conhecimento das Mães em Relação ao Método de Desmame Guiado pelo Bebê 21. Potenciais Estilos de Vida em Crianças com Dificuldades Alimentares durante o Período de Isolamento Social da Pandemia do COVID-19: Revisão da Literatura e Síntese dos Resultados 29. Influência da Publicidade na Alimentação Infantil 34. Compostos Fenólicos do Cacau e Seus Benefícios na Saúde: Uma Revisão 40. Creme Brulée de Cumaru
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ISSN 1676-2274
Ano 30 - número 173 - abril 2022 - edição impressa
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Publicação Bimestral da Nutrição em Pauta Ltda ME - Atualização Científca em Nutrição - R. Cristovão Pereira 1626 cj101 - Campo Belo - 04620-012 - São Paulo - SP - Brasil - Tel 55 11 5041-9321 redacao@nutricaoempauta.com.br - www.nutricaoempauta.com.br
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Chef Patrick Martin Chef Fabiana B. Agostini Alexandre Agostini assinaturas@nutricaoempauta.com.br A revista Nutrição em Pauta está indexada na Base de Dados PERI da ESALQ/USP Produzida em abril de 2022
NUTRIÇÃO EM PAUTA
The Role of Nutrition on the Oncological Surgery
matéria de capa
O Papel da Nutrição na Cirurgia Oncológica
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Introdução
A cirurgia é um dos principais tratamentos para o câncer e a nutrição tem mostrado cada vez mais a sua importância nos pacientes oncológicos submetidos ao procedimento cirúrgico. O estado nutricional é fator crucial para os desfechos cirúrgicos, onde pacientes com risco nutricional, desnutrição ou sarcopenia, apresentam maiores riscos de complicações no pós-operatório, maior tempo de internação e taxas de readmissão hospitalar, além de aumento das taxas de mortalidade. Condutas nutricionais perioperatórias são cada vez mais incentivadas por mostrarem benefícios na resposta cirúrgica. Porém na prática clínica ainda existem dificuldades para implementação de protocolos assistenciais devido fatores como acesso do paciente ao nutricionista no período pré-operatório, falta de conhecimento das intervenções nutricionais por parte da equipe médica e multiprofissional e ausência do encaminhamento médico ao nutricionista oncológico. Além disso, a orientação nutricional por parte do nutricionista é fundamental para adesão das intervenções pelo paciente. A atuação do nutricionista no paciente oncológico cirúrgico se inicia antes mesmo da cirurgia e, esta ABRIL 2022
etapa, é de fundamental importância, para toda a conti-
. . . . . . . . . . . . . . . . . . nuidade das intervenções. Neste momento o profissional
nutricionista consegue diagnosticar o estado nutricional e já iniciar intervenções nutricionais que serão favoráveis aos resultados do tratamento. Porém, atualmente, ainda não vemos muitos pacientes que passam em consulta com nutricionista antes de uma cirurgia, sendo que a maioria busca um profissional após o procedimento. A falta de conhecimento do paciente e de encaminhamento do médico para o nutricionista são os principais fatores. O nutricionista atua em toda a jornada do paciente cirúrgico e, durante a internação, consegue adequar a alimentação com base na individualidade e cirurgia realizada, aplicando a terapia nutricional para o fornecimento de todos os nutrientes e favorecer a recuperação. Seu papel continua no pós-operatório, onde o cuidado nutricional é essencial para manter ou recuperar o estado nutricional e garantir a oferta de alimentação saudável e equilibrada, dentro das características necessárias da cirurgia. Mas vamos mais além, pois este cuidado pós-operatório deve se manter no mínimo 3 meses após o tratamento, pois sequelas cirúrgicas tardias devem ser tratadas.
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A cirurgia é um trauma programado com indução ao processo catabólico e alterações no sistema inflamatório e imunológico ocorrem com o objetivo de reparar os tecidos lesados e restabelecer a homeostase corporal. O estado nutricional é um dos fatores que mais influenciam nos resultados pós-operatórios e todo esforço deve ser tomado para sinalizar e identificar pacientes com risco de desnutrição ou desnutrição já instalada. A informação e orientação dos cuidados nutricionais perioperatórios é direito de todo paciente e auxilia na adesão e sucesso no tratamento. A avaliação nutricional pré-operatória tem o objetivo de detectar e otimizar o estado nutricional, por isso é parte fundamental de todo o processo. O risco nutricional pré-operatório pode ser identificado através dos critérios propostos pela ESPEN (European Society for Clinical Nutrition and Metabolism): perda de peso >10-15% nos últimos 6 meses; índice de massa corporal (IMC) <18,5 kg/m²; albumina sérica <30g/L; Avaliação Subjetiva Global (ASG) C ou Nutritional Risk Screening (NRS) >5.
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Após a definição do diagnóstico nutricional, é realizada a terapia nutricional pré-operatória, objetivando prevenir a desnutrição ou minimizar seus efeitos. Deve ser iniciada precocemente naqueles que apresentam risco nutricional ou desnutrição. Pacientes com desnutrição grave devem receber terapia nutricional, preferencialmente por via oral, de 7 a 14 dias antes da cirurgia. A terapia nutricional pré-operatória está associada a redução na prevalência de complicações infecciosas e cirúrgicas, como vazamento de anastomoses e pode ser indicada mesmo em pacientes sem risco nutricional ou desnutrição relacionada à doença, se for previsto que o paciente será incapaz de alimentar-se por via oral ou não poderá manter o aporte nutricional adequado por esta via por um período maior no pós-operatório. O uso de nutrientes imunomoduladores neste momento promove a modulação da resposta inflamatória e melhora da síntese proteica após a cirurgia. Desta maneira há redução das complicações no pós-operatório e tempo de internação. Estes nutrientes são ômega-3, arginina e nucleotídeos. A arginina favorece a atividade de linfócitos T, reduzindo a produção de interleucinas 1 e 6 e TNF-α, além de auxiliar na cicatrização de feridas. Os nucleotídeos têm papel essencial na cicatrização das feridas,
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reduzindo o risco de infecção da ferida pré-operatória. Os ácidos graxos ômega-3 modulam a resposta inflamatória, pois reduzem as prostaciclinas e tromboxanos, diminuindo então prostaglandinas G2 e leucotrienos, modulando o sistema imune. Com base nas diretrizes atuais publicadas, recomenda-se o uso da imunonutrição para pacientes que serão submetidos a cirurgias oncológicas de médio a grande porte, independente do estado nutricional 2-3x/dia por 5-7 dias antes da cirurgia. Para pacientes com desnutrição grave recomenda-se o uso por 7-14 dias. O jejum prolongado na noite que antecede a cirurgia traz desconfortos ao paciente, tais como: sensação de fome, sede, dor de cabeça e aumento de ansiedade. Além disso, é desnecessário e pode causar redução da reserva de glicogênio muscular e hepático, aumento da resistência à insulina, diminuição do PH gástrico e como consequência pode aumentar o tempo de internação e morbidade cirúrgica. Visando melhor conforto do paciente e redução dos prejuízos do jejum prolongado, recomenda-se jejum de seis horas para alimentos sólidos; três horas para suplementos nutricionais específicos contendo carboidratos e proteínas e duas horas para líquidos claros. Considera-se líquidos claros: água, sucos sem a polpa, café ou chá e suplementos nutricionais de maltodextrina. Para protocolos institucionais visando a abreviação do tempo de jejum pré-operatório, pode ser ofertado de 200 a 400 mL de suplemento a base de maltodextrina até 2 horas antes do procedimento cirúrgico. Devem ser excluídos pacientes que apresentem retardo do esvaziamento gástrico, refluxo gastroesofágico, gastroparesia, obesidade mórbida ou obstrução do trato gastrointestinal. Uma intervenção questionada, mas promissora é o uso da goma de mascar no pré e pós-operatório. O íleo pós-operatório (IPO) é um dos principais contribuintes para o desconforto do paciente, alta tardia e aumento de custos, portanto sua prevenção é o objetivo de muitos protocolos cirúrgicos. Pacientes submetidos às cirurgias do trato gastrointestinal comumente apresentam IPO devido à extensa dissecção, exaustão pós-operatória e longa duração da anestesia. Existem evidências de que a utilização da goma de mascar no pós-operatório possa reduzir esse quadro, estimulando a recuperação precoce da função gastrointestinal. A goma de mascar estimula o peristaltismo e é segura, além de ser um método barato, sendo indicada no período de jejum antes e depois da cirurgia. Após o procedimento cirúrgico, convencionalmente, o retorno da dieta para cirurgias com anastomoses digestivas ABRIL 2022
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tem sido prescrito apenas após o retorno do peristaltismo, caracterizado clinicamente pelo aparecimento dos ruídos hidroaéreos e eliminação de gases. Com isso o jejum pós-operatório tende a se prolongar por 2 a 5 dias. Essa prática médica baseia-se no pressuposto que o repouso intestinal seria importante para garantir a cicatrização de anastomoses digestivas. Evidentemente que apesar das necessidades nutricionais estarem aumentadas em decorrência do estresse cirúrgico, a oferta de proteínas é zero e o balanço nitrogenado negativo. Alimentação precoce é definida como a ingestão de alimentos e líquidos nas primeiras 24 horas após o procedimento cirúrgico, independentemente da presença ou ausência dos sinais que indiquem o retorno da função intestinal e vários estudos demonstram que a reintrodução precoce da alimentação não é só segura (mesmo na presença de anastomoses digestivas), como diminui o tempo de internação, morbidades pós-operatórias, custos hospitalares e alta mais precoce. A alimentação no pós-operatório requer cuidados específicos de acordo com o procedimento cirúrgico. Pacientes submetidos à cirurgia por câncer de cabeça e pescoço normalmente utilizam a Terapia Nutricional Enteral (TNE) como via de alimentação e, a necessidade da permanência da sonda se dá à extensão cirúrgica e reabilitação fonoaudióloga. O ideal é a TNE atingir a meta calórica e proteica em até 72 horas e as fórmulas indicadas são as poliméricas, hipercalóricas e hiperproteicas. Fórmulas com nutrientes imunomoduladores trazem benefício para o paciente também no pós-operatório, tanto na redução do tempo de internação hospitalar e complicações, principalmente infecciosas, quanto na cicatrização. Nas cirurgias do trato gastrointestinal, a dieta deve iniciar o mais precocemente possível e seguir uma evolução gradativa, sempre adaptada à tolerância do paciente. Alimentos fermentescíveis devem ser evitados nos primeiros dias de pós-operatório e reintroduzidos gradativamente conforme aceitação e tolerância do paciente. Em alguns casos é necessário o uso da nutrição enteral antes da via oral, como nas esofagectomias, gastrectomias totais e algumas cirurgias do pâncreas. A nutrição enteral nestes casos também tem indicação de início precoce, com baixo volume de infusão e evolução gradativa. A dieta enteral pode ser polimérica e sempre que possível, hiperproteica, além de conter nutrientes imunomoduladores. Nas complicações cirúrgicas, onde há necessidade de repouso intestinal, a nutrição parenteral será a via de preferência e seu início deve ser o mais precoce possível. Cirurgia de grande porte com previsão do retorno NUTRIÇÃO EM PAUTA
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da alimentação via oral maior que 1 semana, também tem indicação de nutrição parenteral precoce. Vale ressaltar que, todos os pacientes que tiverem a alimentação via oral já evoluída e com retorno de alimentos restritos nos primeiros dias de pós-operatório, e mesmo assim não atingirem suas necessidades calórico-proteica, apresentem perda de peso importante ou desnutrição já presente, devem fazer uso de suplementos nutricionais para garantir a adequada oferta de nutrientes.
. . . .............. C onclus ã o . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . A nutrição é parte essencial do tratamento do câncer e este conceito necessita urgentemente ser divulgado entre todos os profissionais que tratam pacientes oncológicos. Diversos estudos já comprovaram os benefícios da nutrição em pacientes cirúrgicos, porém na prática clínica ainda falta a implementação de protocolos multimodais que visam a recuperação mais precoce deste paciente.
. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . Sobre os autores
Profa. Dra. Thais Manfrinato Miola - Nutricionista Supervisora Clínica do ACCamargo Cancer Center. Doutora em Ciências na Área de Oncologia. Mestre em Ciências na Área de Oncologia. Especialista em Nutrição Clínica e Oncológica. .
. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . REFERÊNCIAS
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Mother´s Knowledge Related to the Baby-led Weaning Method
clínica
Conhecimento das Mães em Relação ao Método de Desmame Guiado pelo Bebê
RESUMO: O desmame guiado pelo bebê ou também conhecido como método baby-led weaning (BLW) é uma abordagem alternativa de introdução alimentar que incentiva os pais a confiarem na habilidade nata que os bebês têm de se autoalimentar. Assim, o bebê decide quanto irá comer, a quantidade e a duração para fazer sua refeição, tendo um avanço maior na sua autonomia, no controle da saciedade e do hábito alimentar. Neste método, não são feitas alterações na consistência dos alimentos, então eles são oferecidos em formas de bastões, tiras ou pedaços. O objetivo dessa pesquisa foi verificar o nível de conhecimento de 50 mães com filhos de 6 meses até 2 anos de idade, por meio de um questionário online em relação ao método de desmame guiado pelo bebê, em que elas se disponibilizaram para respondê-lo. As mães consentiram sua participação através da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE. Analisando os resultados, a maioria das mães tem idade de 19 a 25 anos (36%), possuem ensino médio completo (32%) e são casadas (64%). Através do questionário foi possível perceber que a maioria das participantes (70%) não conheciam o método de desmame guiado pelo bebê, enquanto apenas 30% relataram conhecer o BLW. Conclui-se que o desmame guiado pelo bebê é um método pouco conhecido ainda, entretanto, eficaz introdução alimentar para as crianças. ABRIL 2022
ABSTRACT: Baby-guided weaning or also known as the baby-led weaning method (BLW) is an alternative feeding introduction approach that encourages parents to trust the babies’ natural ability to self-feed. Thus, the baby decides how much to eat, the amount and the duration to make his meal, having a greater advance in his autonomy, in the control of satiety and eating habits. In this method, no changes are made to the consistency of the food, so they are offered in the form of sticks, strips or pieces. The objective of this research was to verify the level of knowledge of 50 mothers with children from 6 months to 2 years of age, through an online questionnaire regarding the baby-guided weaning method, in which they were available to answer it. Mothers consented to their participation by signing the Free and Informed Consent Form - IC. Analyzing the results, most mothers are aged 19 to 25 years (36%), have completed high school (32%) and are married (64%). Through the questionnaire it was possible to notice that most of the participants (70%) do not know the baby-guided weaning method, while only 30% reported knowing the BLW. It is concluded that baby-guided weaning is a little-known method, however, effective introducing food to children.
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Introdução
A alimentação da criança deve, primeiramente, iniciar com a amamentação, na qual garante um bom crescimento, desenvolvimento digestório e neuropsicomotor. A amamentação favorece o funcionamento dos sistemas, órgãos e previne doenças de curto e longo prazo. Até os seis meses de idade, o leite humano supre perfeitamente as necessidades dos bebês, devido às substâncias imunológicas, que são protetoras, além de assegurar proteção contra alergias, infecções e fortalece, ainda mais, a conexão mãe-filho (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA - SBP, 2018). Desse período em diante, inicia-se a alimentação complementar. Entretanto, os alimentos devem ser introduzidos com atenção, sendo supervisionados pelos pais e considerando a identidade, a cultura de cada família e agregando uma alimentação saudável (BRASIL, 2013). A construção de hábitos alimentares saudáveis ocorre na infância e se estende para o resto da vida. Os alimentos introduzidos precisam suprir as demandas diárias específicas para cada indivíduo quanto aos macronutrientes, micronutrientes e energia (PHILIPPI; AQUINO, 2015). A introdução alimentar infantil é a etapa definida em que ocorre a transição do leite materno exclusivo ou da fórmula láctea pela alimentação complementar, que é caracterizada pelo consumo dos alimentos semi-sólidos, sólidos ou líquidos (SILVA; MURA, 2011). Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), a fase da alimentação complementar é aquela em que são oferecidos alimentos ou líquidos, além do leite materno (OMS, 2003). Normalmente, a introdução complementar consiste em um purê de frutas e de legumes que são dados através de uma colher, deixando o bebê, assim, em uma situação passiva. Já o método Baby-Led Weaning (BLW) é o contrário disso, os bebês são estimulados a se alimentarem sozinhos desde o início da introdução alimentar (CAMERON; HEATH; TAYLOR, 2012). O método baby-led weaning (BLW) foi designado por Gill Rapley (2008), escritora do livro “Baby-Led Weaning: helping your baby to love good food”, esse método pode ser iniciado a partir do sexto mês, no qual os bebês dessa idade demonstram a capacidade motora de conduzir sua própria alimentação, sendo indicados para aqueles que apresentam um desenvolvimento e crescimento adequados. Dessa forma, iniciam o consumo dos
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alimentos em pedaços ou tiras, visto que não são feitas
. . . . . . . . . . . . . . . . . . alterações na consistência (RAPLEY; MURKETT, 2008;
RAPLEY et al., 2015). Através do método BLW, os pais escolhem uma variedade de alimentos saudáveis que planejam oferecer ao bebê e permitem a autonomia dele decidir o que quer comer, quanto comer e duração para fazer sua refeição (PREEL; KOLETZKO, 2016). Entretanto, para iniciar os bebês precisam ter os sinais de prontidão que são alcançar os alimentos e levá-los à boca de forma que apresentem os mecanismos de mastigação, sucção e deglutição (NAYLOR; MORROW, 2001). Os bebês são programados para observar e descobrir, dessa maneira, aprende sobre seus brinquedos, objetos, e isso também se aplica aos alimentos. Assim, vão descobrindo na comida as diversas características organolépticas e sobre como os diferentes gostos se combinam. Além de ensinar o bebê a explorar o alimento, ele é incentivado a ter mais autonomia. Em relação ao engasgo, desde que o bebê tenha controle do alimento que coloca na boca e esteja posicionado com a coluna reta, o BLW não aumenta a chance de ocorrer engasgo comparado com alimentação complementar convencional, na verdade a probabilidade pode ser ainda menor (RAPLEY; MURKETT, 2017). O BLW é também um método que estimula que as refeições sejam feitas em família, permitindo que os laços familiares se fortaleçam ainda mais (BROWN; LEE, 2013). Baby-led weaning é uma metodologia que pode ser divertida tanto para os bebês, quanto para os pais. Os bebês que se alimentam dessa maneira desenvolvem uma rapidez para manusear os diferentes alimentos e os diversos sabores em comparação com as outras crianças. Portanto, os bebês são mais felizes quando os pais permitem que façam as coisas sozinhas e, assim, ajudam que seus filhos consigam aprender ainda mais (RAPLEY; MURKETT, 2017). O primeiro alimento oferecido ao bebê é o leite materno, pois ajuda no desenvolvimento e crescimento desse recém-nascido, proporcionando benefícios psicológicos, nutricionais e imunológicos. É importante tanto para a saúde da criança quanto também para a mulher, que por sua vez colabora para involução do útero, redução de peso, protege contra câncer de mama e é uma estratégia anticoncepcional natural. Entretanto, para que isso ocorra é necessário que a mulher esteja nos primeiros seis meses pós-parto, não tenha menstruado ainda e, também, deve estar amamentando o bebê de forma exclusiva (ACCIOLY; NUTRIÇÃO EM PAUTA
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SAUNDERS; LACERDA, 2009; TOMA; REA, 2008). A prática da amamentação pode não ser incentivada por várias razões, como: falta de apoio e incentivo após a alta hospitalar, idade, cultura, socioeconômico, escolaridade, falta de conhecimento em relação aos benefícios, uso de chupeta e mamadeira, incorporação no mercado de trabalho, paridade e mitos (ALMEIDA et al., 2008; SALIBA et al., 2008). Para prevenir que não haja desmame precoce, os profissionais da saúde precisam trabalhar com as mães desde o início da gravidez as vantagens da amamentação exclusiva tanto para a mulher quanto para a criança, além de oferecer todo o apoio na prática da amamentação (BRASIL, 2001; BRASIL, 2003). De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e o Ministério da Saúde (MS), a alimentação complementar inicia-se aos 6 meses completos, sendo feita gradativamente por meio de papinhas e purês com manuseio de uma colher apropriada para a criança. Aos 12 meses de idade, essas papinhas e purês devem ser aumentados de forma que alcance a mesma consistência da alimentação da família. Quanto ao leite materno, é recomendado que seja mantido até os 2 anos ou mais (BRASIL, 2009; BRASIL, 2013; SBP, 2017). Uma alimentação colorida e diversificada, oferecendo diversos alimentos durante o dia para a criança, abrange sua percepção quanto às várias texturas e formas, tornando-o mais atraente para ela (PHILIPPI; AQUINO, 2015). Dessa forma, se assegura que serão oferecidos diferentes alimentos, garantindo que todos os nutrientes sejam ofertados para a criança. E nos primeiros anos de vida utilizar o sal com cautela e evitar o consumo de alimentos industrializados (gomas de mascar, biscoitos recheados, refrigerantes, etc), pois estão relacionados ao excesso de peso e podem se estender para a vida adulta gerando patologias, modificando a pressão arterial, além de provocarem possíveis anemias e alergias. As crianças amamentadas são mais suscetíveis em aceitar a alimentação complementar por serem expostas antecipadamente aos aromas e sabores que o leite materno pode proporcionar (BRASIL, 2009; BRASIL; 2010; BRASIL, 2013; BRASIL, 2015). Conforme o caderno de atenção básica Nº23 do Ministério da saúde (2015), os alimentos que são recomendados para compor a alimentação complementar da criança, são os tubérculos, cereais e raízes, como por exemplo, a batata doce, inhame, arroz, mandioca, cará, batata inglesa, etc. Além das verduras, frutas e legumes, sendo a maçã, folhosos verdes (couve, espinafre, rúcula, ABRIL 2022
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alface), limão, beterraba, mamão, cenoura, banana, abobrinha, manga, abóbora, melancia, tomate, acelga, laranja, abacate. E incluindo feijões, ervilhas, lentilha, grão de bico, etc. As crianças apresentam o paladar muito acentuado para o sabor adocicado, dessa forma o açúcar não é necessário na alimentação e deve ser evitado até os dois de idade. Essa preferência faz com que a criança tenha menos interesse pelos alimentos mais saudáveis como os legumes, cereais e verduras. Um alimento que é totalmente contraindicado no primeiro ano de idade é o mel, pois tem alto risco de contaminação da bactéria Clostridium Botulinum, causadora do botulismo. Além do óleo usado em frituras que com o superaquecimento, liberam radicais livres que são maléficos para mucosa intestinal da criança, que por sua vez futuramente podem causar complicações a saúde (BRASIL, 2013). A alergia alimentar é uma reação adversa pelo consumo dos alimentos ou aditivos alimentares, advindos dos mecanismos imunológicos (CHANPMAN et al., 2006). Os alimentos alergênicos que geralmente estão presentes na alimentação complementar são: leite de vaca, ovo, trigo, soja, frutos do mar, peixes, amendoim e castanhas. Outros alimentos também foram reconhecidos como causadores de alergias são eles o kiwi, gergelim, mandioca, entre outros (NOWAK WERGRZYN; SAMPSON, 2006). Um dos possíveis causadores da alergia pode ser através da genética, na qual comumente o indivíduo nasce com uma predisposição que se desenvolve. No aparecimento de tendência familiar, é frequente que os pais ou irmãos tenham alergia alimentar, rinite, dermatite atópica ou asma (PEREIRA; MOURA; CONSTANT, 2008; FIOCCH et al., 2010). Outros motivos são em decorrência dos fatores ambientais, sendo as mudanças na microbiota intestinal (uso exagerado de medicamentos inibidores de ácido gástrico, alta taxa de nascimentos de cesariana), consumo de alimentos ultraprocessados, processados e transgênicos, diminuição dos índices do aleitamento materno e a inclusão tardia dos alimentos sólidos às crianças (LUYT et al., 2014). Segundo Rapley e Murkett (2017), a principal fonte de energia permanecerá com leite materno ou a fórmula, até que o bebê alcance a porção de alimentos sólidos que nutricionalmente serão adequados para seu desenvolvimento. O BLW compreende o ritmo do bebê da mesma maneira que o leite materno é por livre demanda, além de NUTRIÇÃO EM PAUTA
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ser uma forma de prevenção contra a obesidade infantil (ARDEN; ABBOTT, 2015). Dessa forma, os pais oferecem os alimentos e o bebê decide qual irá comer, a velocidade e a quantidade, tendo controle de sua fome e autonomia, além de criar o controle da saciedade e do hábito alimentar. Diante isso, o bebê explora a variedade de texturas, cores, sabores e formas dos alimentos, tendo um avanço maior no seu desenvolvimento motor e permitindo que haja uma interação dinâmica com os alimentos. Também adquire as funções orais como a mastigação, sucção e deglutição tranquilamente no seu devido tempo (RAPLEY; MURKETT, 2008). O BLW é um método que oferece os alimentos em bastões, tiras ou pedaços, sendo uma alternativa de alimentação que não utiliza colheres e sem alterações no preparo da consistência desses alimentos (SBP, 2018). Diante disso, os bebês demonstram habilidades que estão prontos para experimentar outros alimentos, além do leite materno, apenas segurando uma porção de alimento e movendo para a boca. Eles conseguem se alimentar sozinhos e não necessitam que seus pais precisem determinar quando a introdução dos alimentos irá iniciar e muito menos que ofereçam em suas bocas. Então, o bebê inicia o método BLW quando estiver pronto e as refeições são feitas com a família (RAPLEY; MURKETT, 2017). As mães que utilizaram o método BLW tinham um grau considerável de educação, cargo gerencial ou profissional e relataram que havia menos receio quanto ao desenvolvimento corporal e o peso do bebê, diferente das mães que aplicavam o método tradicional. Por sua vez, apresentaram menos restrições aos alimentos oferecidos e baixa pressão para comer, dessa forma é transmitido segurança e confiança na habilidade de compreender a saciedade do bebê de iniciar e finalizar as refeições Além do mais, o desmame liberado pelos bebês têm mais possibilidade de fortalecer bons hábitos alimentares futuramente (BROWN; LEE, 2011). No BLW, os bebês comumente consomem os mesmos alimentos saudáveis da família e, assim, partilham os momentos das refeições juntos (ROWAN; HARRIS, 2012; BROWN; LEE, 2013; CAMERON; TAYLOR; HEATH, 2013; D’ ANDREA et al., 2016). A manipulação da comida com as mãos pode ser educativa, pois quando a criança segura um alimento macio ou escorregadio consegue ter uma percepção ao manuseá-lo sem amassar e sem deixar escorregar das suas mãos, entendendo sobre gravidade. Também começam a compreender sobre texturas, formas, tamanhos e pesos.
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Em virtude dos seus sentidos audição, paladar, tato, olfato e visão estarem envolvidos, entendem como lidar da melhor maneira possível com tudo que está em sua volta (RAPLEY; MURKETT, 2017). Algumas mães preferem o método BLW por ser mais em conta do que comprar papinhas prontas, mais fácil do que preparar purês e pela tranquilidade nas refeições, pois não precisam se preocupar em alimentar seus filhos na mesma hora em que se alimentam. Além de vivenciarem uma enorme liberdade de não ter que seguir a forma tradicional da introdução complementar (CAMERON; HEATH; TAYLOR, 2012). Diante disso, concordar que os bebês possam se alimentar sozinhos capacita que acreditem em suas próprias habilidades e aptidões. No momento em que o bebê coloca algo na sua boca, para ele é uma forma de recompensa imediata que tem gosto intrigante ou uma textura interessante. Assim, auxilia na edificação da sua autoestima, confiança e na proporção que seu conhecimento com os alimentos aumenta, ele entende os que são comestíveis e o que esperar de cada comida, desse modo passam a seguir seu próprio julgamento (RAPLEY; MURKETT, 2017). No estudo de Morison et al (2016) em Nova Zelândia, a fim de comparar o perfil alimentar dos bebês do BLW com a introdução complementar tradicional, constataram que os bebês do método BLW consumiram maiores quantidades de gordura total e saturada, menores de vitamina C, vitamina B12, ferro e zinco. Entretanto, não houve distinção quanto ao índice de consumo energético feitos nas crianças do método tradicional e BLW. Townsend e Pitchford (2012) avaliaram o impacto das preferências alimentares e o índice de massa corporal em 155 bebês com idades de 20 e 78 meses, e descobriram que os que pertenciam ao BLW preferiram os carboidratos, enquanto os adeptos ao tradicional tiveram mais preferência aos alimentos adocicados. Essas preferências não tiveram relação quanto às condições socioeconômicas, mas o aumento no consumo de vegetais teve associação diretamente com a classe social de maior renda. As crianças do BLW apresentaram menor índice de massa corporal (IMC) em relação às crianças do método tradicional, na qual obtiveram maior IMC, tornando mais passiveis ao ganho de peso. A única desvantagem para Rapley e Murkett (2017) é a bagunça que o bebê provavelmente fará no início, tendo em vista que a comida para eles será só mais um brinquedo. Todos os bebês aprendem a se alimentar sozinhos a qualquer momento e isso acontecerá, mas norNUTRIÇÃO EM PAUTA
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malmente tende a ocorrer com os bebês que são mais novos, pois suas habilidades ainda estão se desenvolvendo. Dessa forma, ainda não estão aptos a abrir seus punhos conscientes no começo e acabam deixando cair algo que tem em mãos quando se sentem interessados por outra. Mas como ele se alimentará sozinho frequentemente, essa fase de desordem será por pouco tempo. O bebê deve ser estimulado a comer sozinho, mas desde que haja a supervisão dos pais, sendo de extrema importância para que possam evitar possíveis acidentes ou engasgos. Os alimentos mais comuns em engasgos são: nozes, castanhas, uvas inteiras, pipoca, balas duras, etc (SBP, 2012). Muitos pais confundem os bebês tendo engasgos com ânsia de vômito com a comida. Ambos são mecanismos ligados, entretanto, diferentes (RAPLEY; MURKETT, 2017). O engasgo é um bloqueio total das vias aéreas. Um bebê que se sente sufocado faz pouco barulho, pois o ar não consegue passar pelas vias aéreas, desencadeando a falta de oxigênio. A ânsia de vômito é uma reação normal para um bebê que está aprendendo a se alimentar, sendo chamado de “reflexo de gag”. É um mecanismo que ocorre quando o alimento se move para parte de trás da boca e o bebê tosse, em seguida abre a boca trazendo o alimento para frente (BROWN, 2017). O reflexo de gag nos adultos é acionado próximo da parte de trás da língua, em destino a garganta. Já em bebês esse reflexo é liberado mais a frente da língua ocorrendo em torno dos 6 meses de idade, sendo ativado mais fácil e está longe das vias aéreas quando comparado com um adulto. Normalmente, o reflexo de gag costuma ser barulhento e, em seguida, o bebê retorna a comer tranquilamente, diferente se fosse um episódio de asfixia (RAPLEY; MURKETT, 2017). Em uma pesquisa na Nova Zelândia, 199 mães ratificaram que não houve diferença de episódios de engasgos pelo método BLW e pelo método tradicional. Mas 30% da amostra total informaram que ocorreu no mínimo um episódio de asfixia com alimentos integrais, porém no presente estudo, os pais apresentaram dificuldades de diferenciar engasgos para asfixia. E um dos motivos de alguns pais não seguirem adiante com BLW, é o medo de seus filhos engasgarem, já 46% informaram que estariam dispostos a implantar o BLW caso tivessem outro filho (CAMERON; TAYLOR; HEATH, 2013). O BLW pode ser confundido como sendo um método que ocorra frequentes episódios de reflexo de gag. A comida que não é mastigada corretamente volta à parte anterior da cavidade oral antes de engolir, assim será mastigado e engolido ou cuspido (RAPLEY, 2011). ABRIL 2022
clínica
No estudo de D’Andrea et al (2016) sobre desmame guiado por bebês: uma investigação preliminar, na qual a maior preocupação das mães 43% era o risco de ocorrer asfixia antes começar com o BLW, mas isso se tornou menos alarmante quando iniciaram o método. Apenas 3 mães 4,6% tiveram alguma decorrência de engasgo por parte do método. As cuidadoras relataram que entendem a diferença de sufocação para engasgo, mas propuseram que houvesse preparações para primeiros socorros, pois seriam essenciais para os praticantes do BLW. As mães relataram que as crianças que se engasgaram, lidaram bem com o problema e expulsavam a comida para fora através da tosse (CAMERON; HEATH; TAYLOR, 2012).
. . . . . . . . . Mate r i ais e Mé to d o s . . . . . . . ........ Este estudo é do tipo transversal e quali-quantitativo. A pesquisa teve como público-alvo, aproximadamente, 50 mães. Participaram da pesquisa, constituindo os critérios de inclusão: mães com filhos a partir de 6 meses até 2 anos de idade, apresentando desenvolvimento normal para sua idade, que a introdução alimentar da criança tenha sido realizada por ela e que possuísse acesso à internet para responder ao questionário online. Além disso, as mães deviam consentir a sua respectiva participação no estudo, através da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido- TCLE. Os critérios de exclusão da amostra foram mães de crianças: em aleitamento materno exclusivo; crianças que apresentavam problemas no desenvolvimento motor; crianças com idade superior ou inferior ao período estabelecido; crianças em que a mãe não acompanhou o período da introdução alimentar do filho (a); ou, ainda, mães que não tinham acesso à internet. Para caracterizar a população de estudo e verificar o grau de entendimento sobre o método de desmame guiado pelo bebê, foi realizado um questionário de forma online, em que as mães se disponibilizaram para respondê-lo. O questionário abordou questões como: o que é o método, se já ouviram falar ou leram sobre o tema, o que sabem a respeito do BLW, se porventura aplicaram em seus filhos sem saber que se tratava do método de desmame, variáveis socioeconômicas, hábitos alimentares, etc. O estudo foi realizado no segundo semestre do ano de 2020. As mães que aceitaram participar voluntariamente NUTRIÇÃO EM PAUTA
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do estudo assinaram o TCLE e, em seguida, responderam ao questionário. Essa coleta de dados ocorreu de forma online por meio do Google formulário. Este projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa do IESB (CEP/IESB) e só teve início após aprovação. Código de liberação do CEP: 37857120.6.0000.8927. Os dados coletados foram organizados e analisados por meio de tabelas e gráficos, através do programa Microsoft Office®2011.
. . . ...... R esu lt a do s e Dis c uss ã o . . .. . . . . . . A tabela 1 a seguir trata acerca dos aspectos socioeconômicos das mães entrevistadas. De acordo com os resultados da tabela 1, a maioria da amostra foi constituída por mães com faixa etária entre 19 a 25 anos (36%), que tinham o ensino médio completo (32%) e eram casadas (64%). Em um estudo realizado por Brown e Lee (2011), onde investigaram o uso e a origem do desmame guiado pelo bebê, foi revelado que as mães que adotaram o BLW como método de introdução também eram, em sua maioria, casadas, tinham maior escolaridade e ocupavam um cargo gerencial no trabalho. Os aspectos maternos como a baixa idade, baixo nível de escolaridade e socioeconômico, mudança do leite materno por fórmula no primeiro mês de vida, índice de massa corporal alto, quadro psicológico de ansiedade e depressão, crenças e até mesmo o hábito de fumar, são causas que contribuem para que a introdução alimentar seja realizada precocemente (SCOTT et al., 2009; REBHAN et al., 2009; TAVERAS et al, 2013). De acordo com o gráfico 1 a seguir, no que se refere ao conhecimento das mães em relação ao método de desmame guiado pelo bebê, é possível perceber que a maior parte da amostra (70%) não conhece o método do desmame guiado pelo bebê. Poucos estudos investigaram o conhecimento das mães em relação ao método BLW, e grande parte dessas pesquisas, analisam as mães que já aderiram ao método. De acordo comum estudo com mães que utilizam o método BLW, constatou-se que a maioria delas tinha ouvido falar do BLW por meio de um grupo de pais, enquanto outras mães conheceram através dos canais da internet. E somente uma mãe, nunca tinha ouvido falar do
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termo “Baby-Led Weaning”, mas relatou que foi instintivo oferecer os alimentos para seu bebê dessa maneira (CAMERON; HEATH; TAYLOR, 2012). A tabela 2 e 3 a seguir apresenta dados sobre o conhecimento e as experiências das mães com relação aos benefícios e malefícios do método. A tabela 2 aponta que a maioria das mães 57% não conhece os benefícios do método desmame guiado pelo bebê, já 36% relataram autonomia, reconhecimento dos sabores e texturas, saciedade, desenvolvimento motor e hábito alimentar mais saudável. Apenas uma mãe informou que o bebê se sente livre e que aprende a comer mais rápido através do BLW. O desmame guiado pelo bebê estimula o aprendizado em relação aos alimentos através da cor, textura, forma e sabor, incentiva para tenha autocontrole durante as refeições, sendo mais uma forma de interação entre o bebê a família, agregando comportamentos alimentares mais saudáveis e, também, menos estressantes (SBP, 2018). Os hábitos alimentares construídos na infância podem se perdurar na fase adulta, assim os bebês têm liberdade de escolher o que querem comer de uma diversidade de alimentos nutritivos, conforme seu ritmo e que decidem quando não querem comer mais, tendo menos chances de comer em excesso quando crescerem, além de ser um fator importante para a prevenção da obesidade (RAPLEY; MURKETT, 2017). O Baby-Led Weaning ou “desmame guiado pelo bebê” é um método de introdução alimentar na qual os alimentos são oferecidos na sua forma sólida, respeitando e confiando na autonomia do bebê desde o início da abordagem (BROWN; LEE, 2013). Neste método não são utilizados talheres, o encorajamento para levar o alimento até a boca é feita totalmente pelo interesse dele. No momento da refeição o bebê precisa estar sentado junto com a família, como uma maneira de aprender todo o contexto relacionado à alimentação (RAPLEY; MURKETT, 2017). De acordo com a tabela 3, a maior parte das mães (50%) não conhece os malefícios do BLW, 25% responderam que a desvantagem é de ocorrer engasgos, 8,3% relataram a necessidade de uma pessoa com paciência em ofertar os alimentos e 16,3% disseram que não tem malefício em aplicar o método. O BLW não aumenta as chances de ocorrer engasgos em comparação com a introdução com papinhas, mas desde que o bebê tenha controle da comida que entra na sua boca e que também esteja sentado com a coluna erguida. O reflexo de gag é uma reposta do mecanismo de segurança do bebê, pois qualquer alimento que entra NUTRIÇÃO EM PAUTA
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Tabela 1. Aspectos socioeconômicos das mães entrevistadas. Variáveis socioeconômicas
N
%
19 a 25 anos
18
36
26 a 30 anos
12
24
31 a 35 anos
12
24
>36 anos
8
16
Ensino Médio Incompleto
4
8
Ensino Médio Completo
16
32
Ensino Superior Incompleto
13
26
Ensino Superior Completo
11
22
Pós Graduação: Especialização
3
6
Pós Graduação: Mestrado/Doutorado
3
6
Solteira
17
34
Divorciada
1
2
Casada
32
64
Viúva
0
0
Idade
Escolaridade
Estado Civil
Fonte: Elaborado pelo próprio autor.
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Tabela 2. Conhecimentos e experiências das mães com relação aos benefícios do método. Benefícios
N
%
Não sabe dos benefícios
9
57
Autonomia, reconhecimento dos sabores e texturas, saciedade, desenvolvimento motor, hábito alimentar mais saudável O bebê se sente livre e aprende a comer mais rápido
5
36
1
7
Fonte: Elaborado pelo próprio autor.
Tabela 3. Conhecimentos e experiências das mães com relação aos malefícios do método. Malefícios
N
%
Não sabe dos malefícios
6
50
Engasgo
3
25
Precisa de alguém com paciência para ofertar os alimentos Não tem malefícios
1
8,3
2
16,7
Fonte: Elaborado pelo próprio autor.
rápido para o fundo da boca seja empurrado de volta para frente e não para trás, assim evitando que haja o engasgo (RAPLEY; MURKETT, 2017). O gráfico 2 a seguir, apresenta os resultados das diferentes formas de introdução alimentar pelas mães participantes da pesquisa. Segundo os dados do gráfico 2, a maioria das mães 86% aplicam a introdução alimentar tradicional, que por sua vez utiliza a colher para dar comida para seus filhos. Apenas 12% das mães oferecem os alimentos pelo método BLW e o restante 2%, por meio de outro método. Conforme o Ministério da Saúde e a SBP, a alimentação complementar começa a partir dos 6 meses de idade, visto que é necessário que as papinhas e purês sejam dadas gradativamente e com o auxílio de uma colher adequada para a criança. E aos 12 meses de idade, a consistência dessas papinhas e purês devem aumentar conforme a alimentação da família (BRASIL, 2009; BRASIL, 2013; SBP, 2017).
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Em um estudo realizado por Brown e Lee (2013), 58,2% das mães consideravam-se informadas quanto à prática de desmame guiado pelo bebê, sendo que o grau de conhecimento acerca do método foi inversamente proporcional ao uso de colher e a oferta de purês e papas. Também relatou mais ansiedade em relação à adequação nutricional de seus filhos, maior preocupação com a bagunça nas refeições e inseguras quanto à capacidade de mastigação das crianças. As famílias que utilizaram ao método BLW recomendariam para outras pessoas, entretanto mais da metade aconselharia aderir à prática juntamente com a introdução complementar tradicional. Sendo que 46% das mães adeptas a introdução tradicional, caso tivessem outro filho, estariam dispostas a experimentar o método BLW. As principais causas para não optarem pelo método foram: aflição da criança se engasgar, receio quanto à capacidade motora dos bebês de guiarem sua própria alimentação e insegurança acerca da adequação do volume consumido em cada refeição, além de que a introdução complementar tradicional já havia funcionado anteriormente (CAMERON et al, 2013). A tabela 4 a seguir apresenta dados sobre a frequência de hábitos alimentares das crianças de 6 meses a 2 anos de idade. Conforme o resultado da tabela 4 obteve-se que os principais grupos de alimentos oferecidos diariamente aos bebês pelas mães foram: frutas 90%, arroz 76%, feijão 74%, vegetais70% e por último o grupo de leite e derivados 62%. Já semanalmente, o frango 54% foi o mais consumido e em segundo o ovo 50%. O peixe foi consumido 20% de forma quinzenal e 44% raramente. E os temperos prontos 52% das mães relataram que seus filhos nunca consomem. A introdução alimentar dos bebês é a fase em que ocorre a mudança do aleitamento materno exclusivo ou fórmula láctea pela alimentação complementar, que por sua vez é definida pelo consumo de alimentos semi-sólidos, sólidos ou líquidos (SILVA; MURA, 2011). De acordo com a Organização Mundial de Saúde, a alimentação complementar é o período em que são oferecidos líquidos ou alimentos, além do aleitamento materno (OMS, 2003). Cameron et al. (2012), em seu estudo, afirmou que os primeiros alimentos que as mães comumente ofertavam aos bebês eram frutas e vegetais como: banana, abóbora cozida no vapor, abacate, batata inglesa, cenoura, brócolis e batata doce. Outro estudo que analisou a prática do método BLW por mães e profissionais da saúde que relataram que os primeiros alimentos habitualmente oferNUTRIÇÃO EM PAUTA
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Tabela 4. Frequência de hábitos alimentares das crianças de 6 meses a 2 anos de idade, de acordo com as mães entrevistadas (N=50). %
Diário
Semanal Quinzenal Raramente Nunca
Leite e derivados
62
14
0
12
12
Frutas
90
6
0
4
0
Vegetais cozidos
70
22
0
8
0
Hortaliças cruas
22
32
2
22
22
Peixes
6
14
20
44
16
Frango
32
54
0
8
6
Carne vermelha
40
38
8
8
6
Arroz
76
10
0
2
12
Feijão
74
14
2
6
4
Doces/ Chocolates
6
30
4
26
34
Ovo
22
50
2
20
6
Temperos prontos
20
8
4
16
52
Frituras
12
22
6
26
34
Fonte: Elaborado pelo próprio autor.
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tados aos bebês eram frutas e legumes (D’ANDREA et al., 2016). Dessa forma, a introdução alimentar tradicional utiliza-se a colher para dar o purê de frutas ou legumes para o bebê, deixando-o em uma situação passiva. No método Baby-Led Weaning (BLW) é oposto disso, os bebês são incentivados a praticarem à auto-alimentação desde o começo da introdução alimentar (CAMERON; HEATH; TAYLOR, 2012).
. . . ............... C onclus ã o. . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . .
Conclui-se a maioria das mães não têm conhecimento sobre o desmame guiado pelo bebê, e optam em seguir à introdução tradicional. O método BLW apesar de ser pouco conhecido ainda, é uma forma de introdução alimentar bastante eficaz, na qual o bebê adquire autonomia, confiança, controle da saciedade, aprende sobre aparência, textura, cheiro e principalmente sabor. Além de fortalecer bons hábitos alimentares no futuro, e assim diminuir a chance de desenvolver obesidade e outras patologias. Vale ressaltar que a maior parte das mães não sabe dos benefícios do método, quanto aos malefícios têm aflição de ocorrer engasgos, dessa forma sendo necessária a realização de ações educativas e que haja novos estudos para ampliar e favorecer o método BLW.
. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Sobre os autores
Dra. Mariana Fontenele Fernandes – Nutricionista pelo Instituto de Educação Superior de Brasília – IESB. Profa. Dra. Roberta Figueiredo Resende Riquette – Docente Curso de Nutrição de Instituto de Educação Superior de Brasília – IESB.
. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . PALAVRAS-CHAVE: Amamentação materna. Desmame. Alimentação KEYWORDS: Breastfeeding. Weaning. Diet
. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
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RECEBIDO: 8/2/21 – APROVADO: 26/1/22
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ REFERÊNCIAS
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NUTRIÇÃO EM PAUTA
Potential Lifestyle in Children with Feeding Difficulties During Social Isolation COVID-19 Period: Literature Review and Synthesis of Results
esporte
Potenciais Estilos de Vida em Crianças com Dificuldades Alimentares durante o Período de Isolamento Social da Pandemia do COVID-19 RESUMO: Objetivo: Descrever as mudanças na alimentação, tempo de tela, e, atividade física de crianças. Metodologia: Pesquisa online realizadas com pais das crianças atendidas em um centro de dificuldades alimentares, São Paulo. Questões referentes a mudança na alimentação como dificuldades e alterações ocorridas, tempo despendido na frente das telas e, atividade física antes e durante o isolamento social foram utilizadas. Estatística descritiva dos dados foram calculados. Resultados: Participaram 30 pais (85,19% sexo feminino) e média de idade das crianças de 6,57anos. Cerca de 86% dos pais perceberam aumento no tempo telas no lazer, sendo que a média do tempo despendido foi de quase 3horas/dia. A elaboração do cardápio e escolhas de alimentos (63.33%), e, consumo de doces e guloseimas (46,67%) foram as principais dificuldades e alterações na alimentação da criança. Conclusão: Percepções de mudanças na alimentação, e tempo de tela foram observadas pelos pais, porém estudos futuros devem ser adotados. ABSTRACT: Purpose: Describe changes on diet, screentime, and physical activity in children. Methods: Online survey conducted with parents of children attending a feeding difficulty center, São Paulo. Questions regarding changes in diet – difficulties and modifications, screen-time, and physical activity prior and during lockdown were used. DeABRIL 2022
scriptive statistics were calculated. Results: Participated 30 parents (85.19% males) and child mean age of 6.57years. Around 86% of the parents perceived increased leisure screen-time, with average time spent of almost 3hours/day. Meal planning and food choices (63.33%), sweets and candies consumption (46.67%) were the most frequent difficulties and modifications on the child diet. Conclusion: Perceptions of dietary and screen-time changes were observed by parents, but future studies should be conducted.
.................
Introdução
. . . . . . . . . . ........
A pandemia do coronavírus (COVID-19) trouxe mudanças sem precedentes na vida das famílias no Brasil e no mundo(LOPEZ-BUENO; LOPEZ-SANCHEZ; CASAJUS et al., 2021; STAVRIDOU; KAPSALI; PANAGOULI et al., 2021; TEIXEIRA; VITORINO; DA SILVA et al., 2021). Conforme o agravamento da pandemia, medidas mandatórias de fechamento de diversos estabelecimentos, incluindo comércios não-essenciais, creches, escolas, e, o cancelamento das atividades física de lazer e das reuniões sociais; forçaram a maioria das crianças e pais a ficarem NUTRIÇÃO EM PAUTA
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Potenciais Estilos de Vida em Crianças com Dificuldades Alimentares durante o Período de Isolamento Social da Pandemia do COVID-19: Revisão da Literatura e Síntese dos Resultados em casa por longos períodos(LOPEZ-BUENO; LOPEZ-SANCHEZ; CASAJUS et al., 2021). Ademais, devido ao isolamento e restrição no contato, pais foram desprovidos de muitos sistemas disponíveis (ex., membros familiares, amigos, escola, ou outras instituições) e recursos (ex., creches, e, espaços para prática de atividade física)(GARCIA-PRATS; MCADAMS; MATSHABA et al., 2021; LOPEZ-BUENO; LOPEZ-SANCHEZ; CASAJUS et al., 2021). Nesse sentido, a maioria dos pais, e, frequentemente as mães, foram requisitadas para driblar as atividades de trabalho (home office), os cuidados com as crianças, e, lidar com as atividades escolares(LANDOLFI; BARATTUCCI; DE ROSA et al., 2021). Sabe-se que a ocorrência de importantes transições ocorreram durante esse período, e isso inclui mudanças nos comportamentos que são observadas entre as famílias(CARROLL; SADOWSKI; LAILA et al., 2020; JANSEN; THAPALIYA; AGHABABIAN et al., 2021; JULI; JULI; JULI, 2021; LANDOLFI; BARATTUCCI; DE ROSA et al., 2021). Evidências internacionais (ADADMS; SMITH; CACCAVALE et al., 2020; CARROLL; SADOWSKI; LAILA et al., 2020) têm verificado a influência dos padrões alimentares das famílias, ingestão dietética, e, tempo destinado as atividades de tela (i.e., tempo de televisão e computadores). Tais mudanças têm impactado nos desfechos de saúde entre pais e crianças. Enquanto evidências têm explorado mudanças nos comportamentos de saúde entre crianças saudáveis em relação a pandemia do COVID-19(LOPEZ-BUENO; LOPEZ-SANCHEZ; CASAJUS et al., 2021), existe uma lacuna nos estudos investigando esse problema em crianças que já apresentam alguma dificuldade alimentar (DA). As DAs são definidas como um padrão oral de consumo de nutrientes que difere dos padrões aceitos, e são reportados em 20 a 30% das crianças no mundo (BABIK; PATRO-GOLAB et al., 2021) e englobam um amplo espectro de problemas (MILANO; CHATOOR; KERZNER, 2019). As DAs incluem limitar, restringir, e/ ou evitar certos alimentos por diversas razões, por exemplo, a fobia alimentar e aspectos sensoriais, a seletividade alimentar (comedores exigentes), e o apetite limitado (KERZNER; MILANO; MACLEAN et al., 2015). As DAs têm emergido como importante indicador de saúde na população de pré-escolares (HAINES; HAYCRAFT; LYTLE et al., 2019; TAYLOR; EMMETT, 2019; WALTON; KUCZYNSKI; HAYCRAFT et al., 2017). Existe uma forte evidência associando as dificuldades alimentares a aspectos familiares, as práticas parentais de alimentação, e o nível de estresse dos pais, principalmente entre as refeições
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ABRIL 2022
(JANSEN; THAPALIYA; AGHABABIAN et al., 2021). As práticas alimentares parentais, i.e., modo como os pais lidam com a alimentação e outros estilos de vida das crianças, estão ligados aos comportamentos de saúde e status de peso da criança (VENTURA; BIRCH, 2008), e consequentemente podem levar o aparecimento de certas dificuldade alimentares (HAINES; HAYCRAFT; LYTLE et al., 2019). Pais com controles mais rígidos e autoritários estão associados aos desfechos menos favoráveis, enquanto pais estruturados (em termos de rotina), e com maior suporte na autonomia tendem a ter filhos com melhores desfechos na alimentação e demais estilos de vida (VAUGHN; WARD; FISHER et al., 2016). Evidências vêm mostrando que o isolamento social provocado pela pandemia do COVID-19 tem aumentado o nível de estresse dos pais (CARROLL; SADOWSKI; LAILA et al., 2020; SEGUIN; KUENZEL; MORTON et al., 2021) e, aumentando o tempo despendido na frente das telas. Seguin et al., 2021 discutem que o tempo despendido nas telas, se por um lado, foi benéfico para as crianças se conectarem com as famílias/amigos, por outro lado, foi um mecanismo adotado pelos pais para lidar com esse período, e minimizar os conflitos entre pais e filhos. Nesse sentido, as telas podem ter sido um mecanismo de distração utilizado pelos pais/responsáveis para lidar com as dificuldades alimentares das crianças durante o período de isolamento social (OKELY; KARIIPPANON; GUAN et al., 2021). Apesar dos estudos conduzidos em âmbito internacional, pouco se sabe sobre o aumento do tempo de tela e mudança na alimentação de crianças com dificuldades alimentares no Brasil. Descrição desses comportamentos em crianças com dificuldades alimentares é necessária para informar estratégias de atendimento clínico que serão relevantes ao contexto pós-pandêmico.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . Mé to d o s . . . . . . . . . . . . . . . . ....... Procedimentos Pesquisa online com os pais foi conduzida entre agosto-setembro de 2021. Participantes foram recrutados por meio do atendimento ambulatorial prévio das suas crianças com queixas de dificuldades alimentares (M=3,97 anos; 63,33% sexo masculino) na cidade de São Paulo (MAXIMINO; MACHADO; JUNQUEIRA et al., 2016). O fechamento das escolas e o inicio da educação NUTRIÇÃO EM PAUTA
Potential Lifestyle in Children with Feeding Difficulties During Social Isolation COVID-19 Period: Literature Review and Synthesis of Results a distância, assim como outras medidas em resposta ao COVID-19, como o fechamento das comunidades e áreas de lazer e prática de atividade física, foram promulgados a nível federal, certificando que todos os pais tenham experimentado respostas pandêmicas similares ao mesmo tempo (LADHANI, 2021). O protocolo de estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Instituto PENSI, Hospital Infantil Sabará, Fundação José Luiz Egydio Setúbal (CAAE: 47329821.7.0000.5567). Pais/responsáveis forneceram consentimento para participação desse estudo. Questionários Os questionários foram administrados por meio de formulários no Google Forms (Google, 2018). Informações do sexo dos pais, idade das crianças e percepção do aumento da circunferência abdominal foram questionadas durante o seu preenchimento online. As questões relativas à alimentação, atividade física, e, tempo despendido na frente das telas das crianças foram relacionados ao período de fechamento das escolas (março/2020 a agosto/2021) baseado em avaliações retrospectivas. Mudanças na alimentação Questões referentes a mudança na alimentação foram perguntadas aos pais, e, foram as seguintes: (1) se houve mudança (opções de resposta: sim ou não); (2) dificuldades (opções de resposta: beliscos, falta de rotina/ horário refeições, elaboração de cardápios/escolhas dos alimentos para as refeições, e, distrações nas refeições); (3) quais mudanças (opções de resposta: aumento quantidade/tamanho porções, alimentos prontos/entregue em casa, consumo de bebidas açucaradas, e doces/guloseimas). Comportamentos sedentários Inicialmente foram questionados aos pais/responsáveis sobre o controle de uso das telas (i.e., telefones celulares, tabletes, e, computadores), e, o tempo máximo permitido para uso das telas (as respostas variavam entre ½ a >7horas/dia). Os três construtos de atividades sedentárias foram questionados aos pais durante a pesquisa online. Os três construtos abordados foram referentes: tempo despendido assistindo televisão/vídeos/DVDs, lendo/estudando e assistindo aula, e, brincando no computador durante os dias da semana e final de semana(LEABRIL 2022
esporte
ME; LUBANS; GUERRA et al., 2016; LEME; PHILIPPI, 2015). Para cada tipo de comportamento sedentário, os pais deveriam reportar a média diária em horas durante os dias da semana e nos finais de semana, com respostas categóricas variando de ½ hora a >7horas/dia. A média das atividades foram calculadas. Atividade física A atividade física (AF) foi avaliada por meio de questões referentes as percepções antes a após o isolamento social, sendo a frequência (dias semana) e intensidade (duração) foram questionados. O tipo de atividade física praticado durante a pandemia foi questionado pelos pais. Os pais deveriam reportar a média diária em horas da prática de atividade física antes e após o isolamento social, com respostas categóricas variando de ½ hora a >7horas/ dia. A média das atividades foram calculadas. Análise dos dados Estatística descritiva dos dados, sendo que para variáveis contínuas e categóricas, a média± desvio-padrão, e, a frequência (%) foram calculadas, respectivamente. Todas as análises foram realizadas no software estatístico SAS On Demanad (Cary, NC: SAS Institute Inc).
. . . . . . . . . . . . . . . . R e su lt a d o s . . . . . . . . . . . . . . .......
Participaram da pesquisa de modo voluntário 30 pais/responsáveis (85,19% do sexo feminino) de crianças com queixas de dificuldades alimentares. A média de idade dos filhos foi de 6,57± desvio-padrão 3,08 anos. A média de tempo de atividade física pelas crianças antes da pandemia foi de 139,00±109,94 minutos, e durante o período de isolamento social o tempo reduziu para 67,00± desvio-padrão 93,61minutos. Por outro lado, 86,67% dos pais perceberam aumento no tempo despendido na frente das telas, e, a média tempo foi de 193,25±80,03minutos/dia considerando a média dos sete da semana (sem considerar o tempo para estudo). Cerca de 60% dos pais perceberam mudanças na alimentação e, apenas 23,33% observaram aumentando na circunferência abdominal das crianças. As percepções da mudança na alimentação, atividade física, e, tempo de tela das crianças estão descriNUTRIÇÃO EM PAUTA
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Potenciais Estilos de Vida em Crianças com Dificuldades Alimentares durante o Período de Isolamento Social da Pandemia do COVID-19: Revisão da Literatura e Síntese dos Resultados Tabela 1 – Características de indicadores comportamentais de crianças atendidas num ambulatório de referência em dificuldades alimentares. São Paulo, 2021 Média (±DP) Idade, filhos
6,57 (±3,08)
Tempo tela, min/semana
195,00 (±86.99)
Tempo tela, min/fim de semana
191,50 (±90,79)
Tempo total tela, min/semana + fim de semana
193,25 (±80,03)
Atividade física antes do isolamento, min/semana
139,00 (±109,94)
Atividade física após do isolamento, min/semana
67,00 (±93,61)
Frequência (%) Sexo, pais Feminino
26 (85,19)
Masculino
5 (14,81)
Circunferência abdominal aumentada Sim
7 (23,33)
Não
32 (76,67)
Mudança na dieta dos filhos Sim
18 (60,00)
Não
12 (40,00)
Controla tempo tela no isolamento social Sim
24 (80,00)
Não
6 (20,00)
Aumento tela no isolamento social Sim
26 (86,67)
Não
4 (13,33)
Prática de AF antes do isolamento social Sim
21 (70,00)
Não
9 (30,00)
Mudança na AF no isolamento social Sim
1 (33,33)
Não
23 (76,67)
Nota: AF: atividade física, DP: desvio padrão,
tas na tabela 1. A tabela 2 reporta as principais dificuldades e alterações na alimentação da criança durante a pandemia do COVID-19. Dentre as principais dificuldades ques-
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ABRIL 2022
tionadas durante a alimentação da criança foram na elaboração do cardápio e nas escolhas dos alimentos para a preparação das refeições (63,33%), e, o consumo de doces e guloseimas foram as queixas mais frequentes reportadas NUTRIÇÃO EM PAUTA
Potential Lifestyle in Children with Feeding Difficulties During Social Isolation COVID-19 Period: Literature Review and Synthesis of Results
esporte
Tabela 2 – Dificuldades e alterações na alimentação durante o período de isolamento social das crianças atendidas no centro de referência de dificuldades alimentares. São Paulo, 2021 Dificuldades da Alimentação Aumento distração refeições Sim
8 (26,67)
Não
22 (73,33)
Elaboração cardápio/escolha dos alimentos refeições Sim
19 (63,33)
Não
11 (36,67)
Beliscos fora do horário Sim
9 (30,00)
Não
21 (70,00)
Falta de rotina/horária refeições Sim
6 (20,00
Não
24 (80,00)
Alterações da alimentação Compra de alimentos prontos ou delivery Sim
9 (30,00)
Não
21 (70,00)
Aumento de doces e guloseimas Sim
14 (46,67)
Não
16 (53,33)
Aumento quantidade ingerida Sim
12 (40,00)
Não
18 (60,00)
Aumento bebidas açucaradas Sim
5 (16,67)
Não
25 (83,33)
pelos pais (46,67%). Das atividades físicas praticadas durante o período de isolamento social, foi a natação (23,33%), seguido de andar de bicicleta (20,0%), e, corrida/caminhada (16,67%). Outras atividades foram relatadas em menores proporções e por isso agrupadas na categoria outras, sendo elas ballet, futebol, e, fisioterapia (Figura 1). ABRIL 2022
. . . . . . . . . . . . . . . D is c uss ã o . . . . . . . . . . . . . . . .........
O presente estudo descreveu as percepções dos pais/responsáveis perante as mudanças na alimentação e tempo de tela durante o período de isolamento social das crianças com queixas de dificuldades alimentares. Os pais NUTRIÇÃO EM PAUTA
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Potenciais Estilos de Vida em Crianças com Dificuldades Alimentares durante o Período de Isolamento Social da Pandemia do COVID-19: Revisão da Literatura e Síntese dos Resultados
perceberam aumento no tempo despendido na frente das telas, por motivos de lazer, não considerando as aulas online, redução no nível de atividade física, e mudanças na alimentação da família. No total, tempo de tela de lazer foi de mais de 3 horas na semana e final de semana durante a pandemia. A mudança do trabalho presencial para o home-office impactou no aumento do uso de telas dos filhos, como medida de distração dos filhos (SEGUIN; KUENZEL; MORTON et al., 2021). Diversos países no mundo adquiriram medidas para reduzir a propagação do COVID-19, com muitas regiões fechando as escolas e necessitando que as pessoas fiquem em casa. Apesar das medidas do COVID-19 diferirem entre regiões do país, resultados sobre mudanças na alimentação, principalmente para o consumo de doces e guloseimas, e, aumento no tempo de tela durante o isolamento tem sido reportados no Brasil (RUIZ-ROSO; DE CARVALHO PADILHA; MANTILLA-ESCALANTE et al., 2020; TEIXEIRA; VITORINO; DA SILVA et al., 2021), independentemente da presença de dificuldade alimentar. As crianças com dificuldades alimentares devem ser abordadas de modo que a relação dos pais-crianças seja baseada nas interações sociais (WALTON; KUCZYNSKI; HAYCRAFT et al., 2017), e nunca levando em consideração que essa condição seja patologizada (MAXIMINO;
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MALZYNER; LEME et al., Under review ). Os pais podem apresentar metas as crianças, como ensiná-las ou mesmos apoiarem a terem hábitos mais saudáveis. Isso levando em consideração que elas apresentem preferencias e recusas exclusivas, e assim desenvolvendo ideais próprias sobre alimentação e estilos de vida, considerando os significados dos comportamentos parentais (WALTON; KUCZYNSKI; HAYCRAFT et al., 2017). Sabe-se que umas das metas do desenvolvimento sustentável das nações unidas é a certificação da boa saúde e promoção do bem-estar, com principal foco nas crianças. Portanto, futuros estudos devem ser conduzidos para confirmar os resultados do presente estudo para considerar a implementação de estratégias para mudança de comportamentos direcionada não apenas para reduzir o tempo destinado às telas, mas também promover hábitos saudáveis que poderão impactar na saúde global das crianças, e, principalmente, reduzir a problemática das crianças com dificuldades alimentares. Estratégias mais especificas poderão incluir a utilização da técnica da entrevista motivacional, que é bastante utilizada, prática (pode ser utilizada por vídeo-chamada), e, com eficácia comprovada em diversos estudos internacionais(EARLY; CHEFFER, 2019; TANG; BROAD; LEWIS et al., 2021). A entrevista motivacional é uma técnica centralizada no NUTRIÇÃO EM PAUTA
Potential Lifestyle in Children with Feeding Difficulties During Social Isolation COVID-19 Period: Literature Review and Synthesis of Results cliente (i.e., paciente), onde ele cria as metas para mudança de comportamento, com base nas suas necessidades atuais, e, um terapeuta atua apenas como facilitador no desenvolvimento das metas (RESNICOW; DAVIS; ROLLNICK, 2006).
. . . ............ C onclus ã o . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . .
Os resultados do presente estudo sugerem aumento no tempo despendido nas frente das telas por lazer durante o isolamento social, e, redução de quase que 50% na prática de atividade física quando comparados ao período que precede a pandemia. A mudança na alimentação foi percebida pelos pais, porém indicadores de piora ou melhora na sua qualidade deve ser investigado por meio de métodos que os avaliem, por exemplo, a utilização de inquéritos alimentares. Nesse sentido, podendo oferecer resultados mais robustos para adequação das estratégias para mudança de comportamento.
. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Sobre os autores
Eduarda Camillo - Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Curso de Nutrição, Universidade Mackenzie. Priscila Maximino - Centro de Excelência em Nutrição e Dificuldades Alimentares, Instituto de Pesquisa e Ensino em Saúde Infantil (PENSI), Hospital Infantil Sabará, Fundação Luiz Egydio Setúbal. Ana Carolina B. Leme - Centro de Excelência em Nutrição e Dificuldades Alimentares, Instituto de Pesquisa e Ensino em Saúde Infantil (PENSI), Hospital Infantil Sabará, Fundação Luiz Egydio Setúbal. Gabriela Pradas - Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Curso de Nutrição, Universidade Mackenzie. Andrea Romero Latterza - Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Curso de Nutrição, Universidade Mackenzie. Mauro Fisberg - Centro de Excelência em Nutrição e Dificuldades Alimentares, Instituto de Pesquisa e Ensino em Saúde Infantil (PENSI), Hospital Infantil Sabará, Fundação Luiz Egydio Setúbal. Departamento de Pediatria, Universidade Federal de São Paulo. ABRIL 2022
esporte
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ PALAVRAS-CHAVE: Alimentação. Tempo de tela. Crianças. Covid-19. KEYWORDS: Diet. Screen-time. Children. COVID-19.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ RECEBIDO: 22/12/21 – APROVADO: 28/1/22
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ REFERÊNCIAS
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NUTRIÇÃO EM PAUTA
Influence of Advertising on Infant Feeding
saúde pública
Influência da Publicidade na Alimentação Infantil
RESUMO: A publicidade de alimentos tem influenciado negativamente os hábitos alimentares das crianças, por meio de propagandas publicitárias que incitam o consumismo infantil. Um fator este contribuinte para a obesidade infantil, que é definido como um dos maiores problemas nutricionais da atualidade. O objetivo deste trabalho foi estudar a influência da mídia na formação de hábitos alimentares das crianças. O estudo foi realizado a partir de uma revisão literária. Os artigos foram pesquisados nas bases eletrônicas Google Acadêmico, Scielo e PubMed, publicados no período de 1998 a 2021. As palavras-chave utilizadas foram: Publicidade, Mídia, Consumo alimentar e Alimentação infantil. O marketing da indústria de alimentos utiliza artifícios emocionais e afetivos em propagandas publicitarias, como a oferta de brindes e brinquedos, uso de celebridades e personagens infantis com intuito de cativar atenção das crianças. Concluiu-se que a publicidade é capaz de estimular o consumo alimentar das crianças, principalmente de alimentos não saudáveis. ABSTRACT: Food advertising has negatively influenced the eating habits of children, through advertisements that encourage consumerism in children. This is a contributing factor to childhood obesity, which is defined as one of the greatest nutritional problems of our time. The objective of this study was to study the influence of the media on the ABRIL 2022
formation of children’s eating habits. The study was based on a literature review. The articles were searched in the electronic databases Google Scholar, Scielo and PubMed, published from 1998 to 2021. The keywords used: Advertising, Media, Food Consumption, and Children’s Nutrition. The marketing of the food industry uses emotional and affective artifacts in advertisements, such as the offer of gifts and toys, use of celebrities and children’s characters in order to captivate the attention of children. It was concluded that advertising is capable of stimulating food consumption by children, especially of unhealthy foods.
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. . . . . . . . . . ........
A população brasileira vive num cenário de transição nutricional caracterizado pela diminuição da desnutrição e o aumento da prevalência nos casos de sobrepeso e obesidade em adultos e crianças (BATISTA FILHO; RISSIN, 2003). O predomínio da obesidade infantil tornou-se um dos maiores problemas nutricionais da atualidade (LOPES; PADRO; COLOMBO, 2010), definido como um NUTRIÇÃO EM PAUTA
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Influência da Publicidade na Alimentação Infantil
quadro epidemiológico de grande desafio para a saúde pública do país (MARCHI-ALVES et al., 2011). Os registros do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontam que 1 a cada 3 crianças com idade entre 5 e 9 anos estão acima do peso que é recomendado pela Organização Mundial de Saúde (GOVERNO DO ESTADO DE GOIÁS, 2019). Do mesmo modo, os dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) revelam que 9,06% das crianças brasileiras de 2 a 5 anos de idade apresentaram obesidade, e na faixa etária de 5 a 10 anos o percentual é de 18,05% (BRASIL, 2022). A presença da obesidade em crianças e adolescentes os torna mais suscetíveis a desencadear doenças crônicas precocemente na vida adulta (POETA; DURTE; GIULIANO, 2010). O excesso de adiposidade pode trazer complicações como Diabetes Mellitus (DM), Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS), dislipidemia, intolerância a glicose, Síndrome Metabólica (SM), Doença Cardiovascular (DCV) e Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica (DHGNA) (CARVALHO; DUTRA; ARAÚJO, 2019). O tempo de exposição à tela também é considerado uns dos fatores de risco para a obesidade, a Associação Brasileira de Pediatria e a American Academy of Pediatrics (AAP) recomenda que o tempo de exposição de tela seja de até 1 hora por dia para crianças de 2 a 5 anos de idade, com a temática educativa e apropriada para faixa etária. Um estudo feito por Nobre e colaboradores (2021), constatou que 94,5% das crianças estavam expostas às telas principalmente à televisão (61%), seguida do smartphone (41%) e tablet (22%) e 63,3% dessas crianças têm tempo de tela superior a 2 horas por dia. Os meios de comunicação como a internet e a televisão são os mais usados para entretenimento e para aprendizado. Diante da televisão ou de um smartphone as crianças são incessantemente abordadas com propostas de consumo, entre elas, alimentos e produtos alimentícios. Entretanto, uma criança não consegue diferenciar alimento de produtos alimentícios, nem tampouco, identificar alimentos saudáveis. (MOURA, 2010). Um dos fatores que contribuem para o avanço da obesidade infantil é a publicidade, por meio de propagandas que incitam o consumismo infantil. O empenho publicitário é tamanho, que 50% das publicidades infantis são de alimentos, e destes, mais de 80% são de produtos industrializados que contêm elevados teores de sódio, de açúcares e de gorduras (INSTITUTO ALANA, 2009). As crianças não estão preparadas para identificar o poder persuasivo das estratégias do marketing, pois lhes
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faltam capacidade de processar a publicidade de maneira crítica, com isso as mesmas começaram a substituir refeições saudáveis por alimentos não saudáveis. Os comerciais com personagens infantis influenciam na preferência alimentar e na percepção do paladar (ALLEMANDI et al., 2020). Os pais podem influenciar seus filhos por meio de suas próprias preferências, o que pode limitar a oferta de alimentos saudáveis e não saudáveis (MOURA; VIANA; LOYOLA, 2013). Mediante o exposto acima, observou-se que a mídia exerce influência negativa nos hábitos alimentares das crianças, fato esse preocupante. Por isso, é importante tomar medidas para limitar o marketing alimentar/infantil. O objetivo do presente trabalho foi estudar a influência da mídia na formação de hábitos alimentares das crianças.
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O presente estudo foi realizado a partir de uma revisão na literatura disponível acerca da influência da publicidade na alimentação infantil. Foram utilizados artigos científicos publicados em revistas, jornais e periódicos. A pesquisa de artigos foi feita nas bases eletrônicas Google Acadêmico, Scielo e PubMed, usando os termos: Publicidade, Mídia, Consumo alimentar e Alimentação infantil; além de seus nomes traduzidos para o inglês: Advertising, Media, Food consumption and Infant food. Foram incluídos artigos publicados de 1998 a 2021. Consequentemente, foram excluídos artigos publicados antes desse período.
. . . . . . . . . R e su lt a d o s e D is c uss ã o . . ........
No desenvolver de uma criança é nos seus primeiros anos de vida que ocorre a formação dos hábitos alimentares e é durante essa fase que deve ser corrigida sob orientação adequada qualquer inadequação. No processo de desenvolvimento as questões sociais, culturais e comportamentais também estão envolvidas (BLEIL, 1998). A criança, desde muito nova já é capaz de influenciar os cuidados e as relações familiares de que pertence. NUTRIÇÃO EM PAUTA
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Contudo, é um processo que opera em duas direções, ao mesmo tempo que a criança influencia é influenciada pelo seu círculo social (TADDEI et al., 2006). Os meios de comunicação como a televisão atuam com muita predominância no dia a dia do público infanto-juvenil, que desencadeia um papel decisivo na construção e na desconstrução das práticas alimentares e um dos fatores que influencia negativamente na alimentação dessas crianças é o crescimento constante na promoção de alimentos industrializados, principalmente sendo divulgados em comerciais, os quais transmitem constantemente informações incompletas e incorretas sobre alimentação (BRASIL, 2014). Um exemplo de propaganda que teve grande repercussão foi do queijo petit suisse “Danoninho” que transmitia uma mensagem de que esse produto valia mais que um bifinho, desse modo os pais foram influenciados a comprarem para seus filhos. Como estratégia as empresas usam propagandas atrativas para chamar atenção das crianças por meio de brinquedos ou personagens infantis (CAZZAROLI, 2011). Um análise feita por Costa, Horta e Santos (2013) em três emissoras brasileiras de maior número de telespectadores e com programação aberta para o público, verificaram que das 126 horas de exibição, sendo estes observado no período de 10 dias seguidos, no horário de 8 da manhã às 6 da noite, ao todo foram 1.369 propagandas, dentre essas 189 sobre alimentos, com a porcentagem de 48,1% de produtos pertencentes aos grupos dos açúcares e doces e 29,1% pertenciam aos óleos, gorduras e sementes oleaginosas. Outro estudo sobre propagandas de alimentos foi elaborado por Domiciano e colaboradores (2014). Neste, averiguou-se que 129 propagadas estavam relacionados a TV e a internet, e como foco da publicidade 21,1% foi incentivar o ato de comer, em seguida 13,9% abordou uma vida fictícia de fantasia, sonho e ilusão, 13,2% família reunida e amigos e 13,2% sabor. Em contrapartida, o menor foco foi dado a parte nutricional e dietética com apenas 2%; o custo 1,7% e apenas 1% dentre todas as propagandas analisadas foi sobre conscientização. O marketing usa 3 estratégias dirigidas ao público infantil a qual possuem uma grande importância na sociedade, a 1ª é o condicionamento, quando a criança imita ou repete tudo que chama atenção, 2ª a amolação, ou seja, aquilo que aborrece ou incomoda, por exemplo a criança de tanto pedir algo causa estresse familiar, a 3ª estratégia é a diversão, a comida se torna algo que remete a brincar, ou ABRIL 2022
saúde pública
seja, se torna um “comertimento” (LINN, 2006). O marketing utiliza artifícios emocionais e afetivos para induzir o consumo alimentar, como a oferta de brindes e brinquedos, uso de celebridades e personagens infantis com intuito de cativar atenção das crianças (PIMENTA; ROCHA; MARCONDES, 2015). Observou-se também que uma das estratégias utilizadas pela mídia são as cores chamativas em comerciais infantis, essas crianças mesmo ainda não tendo um poder aquisitivo, são adeptas ao consumo e, com isso, a publicidade investe progressivamente mais em produtos infantis (ANGELIM et al., 2018). Os rótulos de alimentos não são utilizados pela indústria apenas como recurso informativo, mas como uma estratégia de venda, visto que estes, juntamente com a mídia e o marketing fazem com que a indústria exerça poder sobre o consumo e a conduta de compra do cliente (NESTLE; LUDWIG, 2010). Além disso, com intuito de vender, usa de artifícios como frases, imagens e cores em suas embalagens e com isso tira a atenção das partes principais na qual oferecem informações importantes como a tabela nutricional (ROSANELI; SILVA; RAMOS, 2016). Nas embalagens de guloseimas e de produtos das redes de fastfood as cores quentes, como vermelho e amarelo são as mais utilizadas, já que as mesmas estimulam o sistema nervoso central, abrem o apetite e são vistas mais rapidamente, já as cores frias como azul são mais utilizadas em alimentos light que remete a leveza, frescor e a diminuição de apetite, o verde quase não é usado em embalagens de guloseimas devido a cor lembrar bolor, e assim aparentar que o produto estar estragado (PONTES et al., 2009). Para resguardar o público infantil da publicidade, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) elaborou um regulamento que limita propaganda, publicidade ou promoção de alimentos com quantidades elevadas de açúcar, de gordura saturada, de gordura trans, de sódio e de bebidas com baixo teor nutricional, e fica vedado utilizar figuras, desenhos e personagens que sejam admirados pelo público infantil (AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA, 2006). Existe também a Resolução 163/2014 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), que considera abusivo o direcionamento da publicidade e da comunicação mercadológica à criança e adolescente (CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, 2014). Além disso, a publicidade direcionada ao público infantil encontra NUTRIÇÃO EM PAUTA
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Influência da Publicidade na Alimentação Infantil
amparo na Constituição Federal do Brasil, no Estatuto da Criança e do Adolescente e no Código de Defesa do Consumidor.
PALAVRAS-CHAVE: Publicidade. Mídia. Consumo alimentar. Alimentação infantil. KEYWORDS: Advertising. Media. Food consumption. Child nutrition.
. . . .............. C onclus ã o . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . .
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Concluiu-se que ao propor publicidade ao público infantil, deveria se respeitar suas etapas de compreensão e discernimento. Percebe-se que a publicidade, ao propor novidades que geram desejo, é capaz de estimular o consumo. Quando este consumo é associado às questões alimentares, corre-se o risco de contribuir para o aumento da obesidade infantil e todas as comorbidades associadas a ela. Visto que geralmente está publicidade aborda apenas alimentos que não são marcadores de uma alimentação saudável, e se há o consentimento dos pais para a compra, a alimentação dessas crianças se torna inadequada. Em relação à legislação são necessárias leis mais específicas e rígidas para obter um maior controle sobre o que é divulgado a esse público.
RECEBIDO: 11/4/22 – APROVADO: 25/4/22
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Sobre os autores
Damaris de Almeida Peixoto - Graduanda no Bacharelado em Nutrição (Universidade Estácio de Sá UNESA). Rita Paes da Silva - Graduanda no Bacharelado em Nutrição (Universidade Estácio de Sá - UNESA). Dra. Larissa Leandro da Cruz - Doutora em Tecnologia de Alimentos (UENF). Mestre em Saúde e Nutrição (UFOP). Pós-graduada em Nutrição Clínica Funcional (VP). Nutricionista (UFOP).
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Compostos Fenólicos do Cacau e Seus Benefícios na Saúde: Uma Revisão RESUMO: O cacau (Theobroma cacao) é o fruto da árvore do cacaueiro, originária da América do Sul, onde, um dos seus principais derivados é o chocolate, produto altamente popularizado. O cacau é considerado um alimento funcional e, um de seus principais compostos bioativos são os flavonoides, pois contemplam propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias que, além de desempenharem funções nutricionais quando consumido de forma regular e moderado, proporciona benefícios à saúde. É um fruto de sabor muito agradável, e com diversas variações, podendo ser introduzido na alimentação em várias formas, como: Em pó, shakes, doces, batido com frutas e até acrescido de mel e cereais ou castanhas. Com sua fórmula considerada energizante, o cacau em pó pode ser acrescido de forma a melhorar o desempenho do indivíduo, como em seu rendimento esportivo, escolar e profissional. Portanto, essa revisão de literatura tem como objetivo identificar os compostos fenólicos presentes no cacau e seus benefícios para a saúde humana. ABSTRACT: Cocoa (Theobroma cacao) is the fruit of the cocoa tree, native to South America, where one of its main derivatives is chocolate, a highly popular product. Cocoa is considered a functional food, and one of its main bioactive compounds are flavonoids, as they have antioxidant and anti-inflammatory properties that, in addition to per-
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forming nutritional functions when consumed regularly and moderately, provide health benefits. It is a fruit of very pleasant flavor, and with several variations, it can be introduced in the diet in several forms, such as: powder, shakes, sweets, fruit smoothies, and even added to honey and cereals or nuts. With its formula considered energizing, cocoa powder can be added in order to improve the individual’s performance, such as sports, school, and professional performance. Therefore, this literature review aims to identify the phenolic compounds present in cocoa and their benefits for human health.
. . . . . . . . . . . . . . . . . Int ro duç ã o
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Segundo Costa e Rosa (2016), em meados dos anos 80 o termo “alimentos funcionais” foi inicialmente introduzido pelo governo do Japão com o objetivo de elencar alimentos que, além de suas funções básicas nutricionais, possuem benefícios fisiológicos ou reduzem o risco de diversas doenças, como cardiovasculares e dislipidemias. É importante enfatizar que esses alimentos não NUTRIÇÃO EM PAUTA
Compostos Fenólicos do Cacau e Seus Benefícios na Saúde: Uma Revisão
possuem a capacidade de curar alguma patologia, mas, sim, de prevenir. Além disso, em casos de pacientes enfermos, os compostos bioativos presentes nos alimentos funcionais contribuem no combate à doença devido sua ação no organismo, de acordo com VIDAL et al (2012). Ainda segundo o estudo deles: A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) determina normas e procedimentos para registrar os alimentos funcionais no Brasil. Para lançar um produto no mercado com um registro de um alimento com alegação de propriedades funcionais de saúde, esta deve seguir a legislação do Ministério da Saúde e apresentar um relatório técnico-científico com muitas informações que comprovam os seus benefícios e a garantia de segurança para seu consumo. Muitos são os alimentos ditos funcionais, como a soja, o kefir, o abacate e o cacau, entre outros. Nesse sentido, tendo como foco deste trabalho o cacau, ele tem propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, que atuam na diminuição do colesterol-LDL, e demonstram resultados positivos na diminuição da prevalência e incidência de doenças cardiovasculares devido à ação de compostos fenólicos (EFRAIM et al., 2011). O cacau é um fruto originário da região central da América, amplamente cultivado pela civilização Maia e com grande importância econômica em diversos países (JAHURUL et al., 2013). Utilizado como principal in-
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grediente do chocolate, ele é obtido a partir de sementes fermentadas, torradas e moídas podendo ser misturadas com diversos outros ingredientes para formação do chocolate como produto final (MINIFIE, 2012). Além disso, esse fruto é considerado uma das maiores fontes de flavonoides. Durante a última década, pesquisas têm demonstrado que o cacau in natura, alguns produtos de cacau e o chocolate são extraordinariamente ricos num grupo de antioxidantes conhecido como flavonóides, que pertencem a uma ampla e diversa classe de fitoquímicos chamados polifenóis (EFRAIM et al., 2011). Os flavonoides têm sido caracterizados como inibidores de células cancerosas, por apresentarem propriedades farmacológicas conhecidas como antioxidantes. Diante disso, o presente trabalho tem como objetivo identificar os compostos fenólicos presentes no cacau e seus benefícios para a saúde humana.
. . . . . . . . . . . . . . . Mé to d ol o g i a . . . . . . . . . . . . . ........
Foi realizada uma revisão narrativa de literatura, compreendida pelas seguintes etapas: Definição do tema e do objetivo, formulação da pesquisa, relevância dos ar-
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tigos encontrados, leitura e análise dos artigos selecionados, interpretação dos resultados obtidos e apresentação da revisão. As bases de dados utilizadas para a pesquisa foram Scielo, pubmed e google acadêmico. Os critérios de inclusão para a seleção dos artigos foram a presença de conteúdos referentes aos compostos fenólicos contidos no cacau e sua relação com a saúde, além disso, materiais publicados no período de 2011 à 2021. Nesse sentido, os critérios de exclusão foram artigos publicados antes do período estabelecido ou que não contemplassem a temática. Com relação às palavras-chave, utilizou-se: “Cacau”, “polifenóis”, “saúde”, “flavonóides” e “chocolate”.
. . . ..... R esu lt a do s e Dis c uss ã o . . . . . . . . . . . Compostos fenólicos presentes no cacau Os principais compostos fenólicos encontrados nas sementes de cacau pertencem à classe dos taninos (polifenóis poliméricos) e flavonoides. Os flavonoides presentes incluem flavonóis, antocianinas, flavonas e flavononas. Efeitos funcionais significativos são associados principalmente ao seu teor de flavonóides, essas substâncias contribuem para o bom funcionamento dos vasos sanguíneos, ponto que será discuto mais a frente, além disso, as epicatequinas, catequinas e procianidinas são apontadas como os compostos que mais contribuem para a saúde cardiovascular. (ARRUDA, 2014; EFRAIM et al., 2011). Os fenóis presentes no cacau apresentam efeitos antioxidantes e antiaterogênico, ou seja, reduz o risco da formação de placas gordurosas fibrosas nas artérias. Além disso, possui atividade anti-inflamatória, proporcionando a inibição da produção de substâncias mediadoras do processo inflamatório, fato que previne a ocorrência de vários eventos cardiovasculares, como o aumento do colesterol-HDL, redução da oxidação do colesterol-LDL, inibição da agregação plaquetária e diminuição da adesão das células vasculares, melhorando a função endotelial e reduzindo a pressão arterial (HENZ et al., 2021; PAZZINATO; CARDOSO, 2019). No que diz a respeito ao endotélio, pesquisas mostram que os polifenóis do chocolate, mais precisamente a epicatequina, seriam capazes de estimular a óxido nítrico-sintase endotelial, com consequente aumento
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da liberação de óxido nítrico (NO). Além de, in vitro, ter mostrado ser capaz também de inibir atividade da enzima arginase, levando à maior disponibilidade de arginase, que é um aminoácido precursor da síntese de NO. Uma vez que a disponibilidade de NO é aumentada, poderá ocorrer uma tendência à vasodilatação. Isso ocorre pois o óxido nítrico promove um relaxamento dos músculos lisos abaixo, ocasionando a vasodilatação, além de reduzir a pressão arterial. (GIRALDO, 2017; D’EL-REI; MEDEIROS, 2011). Benefícios dos compostos fenólicos à saúde As dislipidemias são definidas como distúrbios no metabolismo das lipoproteínas, como o aumento do colesterol total, da lipoproteína de baixa densidade (LDL) e dos triglicerídeos, assim como, uma diminuição da lipoproteína de alta densidade (HDL), sendo desenvolvidas de acordo com a exposição a fatores genéticos e/ou ambientais (SOUZA et al., 2017). O chocolate tem mostrado que exerce um efeito benéfico sobre a saúde cardiovascular. Esse efeito pode ser observado de diversas maneiras: melhorando a função plaquetária, controlando a pressão arterial, reduzindo agregação plaquetária, também atuando no sistema antioxidante e melhorando a sensibilidade à insulina. Com relação à sensibilidade à insulina, as células produtoras têm um melhor funcionamento com o aumento dos flavonóides, epicatequina, no corpo. Esses compostos contribuem para uma maior produção de ATP e, consequente, maior liberação de insulina (D’EL-REI; MEDEIROS, 2011). Segundo Giglio et al. (2018), após a análise de vários estudos sobre o consumo de cacau nas suas diversas formas, como o cacau em pó e o chocolate, ele possui grande influência no sistema cardiovascular através de seus compostos bioativos presentes em todo o cacau, desde a casca até a polpa, os quais são potentes antioxidantes, e têm capacidade de reduzir a pressão arterial significativamente e amenizar os efeitos de radicais livres. Dessa forma, os potentes antioxidantes presentes nos compostos bioativos do fruto reduzem o estresse oxidativo nas membranas plasmáticas, além de ser fonte de magnésio e potássio, nutrientes que possuem um efeito cardioprotetor. Nesse sentido, um estudo experimental feito em ratos alimentados com cacau em pó, mostrou que a utilização desse composto inibe a expressão de estresse no retículo endoplasmático, causando melhoras em situações de hiperlipidemia e aterosclerose. Esse fato pode ser explicado especialmente pela rica concentração em flavoNUTRIÇÃO EM PAUTA
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noides e compostos fenólicos (GUAN, 2016). Os flavonóides presentes no cacau têm a capacidade de inibir a enzima conversora de angiotensina, com essa ação é possível amenizar os efeitos da hipertensão arterial sistêmica. Essa enzima é uma das responsáveis pelo aumento da pressão arterial, que através da conversão angiotensina I e II promove a vasoconstrição. Portanto, ao inibir esse mecanismo, os produtos ricos em cacau são benéficos no sentido de atenuar os efeitos da elevação da pressão arterial (GIGLIO et al., 2018). Segundo Santos (2021), a ingestão de cacau em pó e seus derivados por até 3 semanas, elevou em média, os níveis de colesterol-HDL em 1,8 mg/dL. A hipótese por trás disso é explicada através dos compostos fenólicos que aumentam a síntese de apolipoproteína A-1 (ApoA-1) no fígado e intestino, visto que está é uma das precursoras do colesterol-HDL. (MAGRONE, 2017; BADRIE, 2014). Um estudo prospectivo com mulheres no período da menopausa, sem diagnóstico de doenças cardiovasculares, com 16 anos de seguimentos, mostrou redução do risco de morte por doenças cardiovasculares associado ao alto consumo de alimentos ricos em flavonoides. Neste seguimento, no Zutphen Elderly Study, realizado na Holanda, envolvendo homens idosos, saudáveis, mostrou-se redução da mortalidade por doença cardiovascular no grupo por maior ingestão de cacau (D’EL-REI; MEDEIROS, 2011). Nesse sentido, além da atividade antioxidante, pode-se perceber a ação anti-inflamatória do cacau através da inibição do NF-kB, que é importante no desenvolvimento de doenças inflamatórias, pois ele é um modulador de transcrição dos genes relacionados à inflamação, ou seja, essa ação do cacau é de suma importância para a terapia anti-inflamatória (ROCHA et al., 2019).
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maior compreensão sobre esses limites.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ Sobre os autores
Profa. Dra. Liejy Agnes dos Santos Raposo Landim – Nutricionista. Mestre em Alimentos e Nutrição/ UFPI. Docente do Curso de Bacharelado em Nutrição do Centro Universitário Santo Agostinho – UNIFSA, Teresina, Piauí, Brasil. Anna Victória Morais e Silva; Heloísa dos Santos Nascimento; Karyni Lemos Carreiro; Maria Caroliny Alves Marreiros; Ritielly Oliveira de Sousa - Discentes do curso Bacharelado em Nutrição pelo Centro Universitário Santo Agostinho - UNIFSA, Teresina, PI, Brasil.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ PALAVRAS-CHAVE: Cacau. Alimento funcional. Compostos bioativos. Saúde e chocolate. KEYWORDS: Cocoa. Functional food. Bioactive compounds. Health and chocolate.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ RECEBIDO: 12/3/22 – APROVADO: 14/4/22
. . . ..... C onsi dera çõ es d Finais . . . . .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ O cacau é um alimento funcional, ou seja, sua ingestão frequente está associada à benefícios à saúde, pois tem efeitos antioxidantes e anti-inflamatórios, que se dão pela ação de compostos fenólicos. Esse fruto tem se mostrado benéfico à saúde cardiovascular e em dislipidemias, entre outras. Portanto, se sugere o consumo do cacau e dos seus derivados, porém, ainda são escassos os estudos que mostram o limite mínimo e máximo de consumo diário, sendo necessário mais pesquisas sobre o assunto para ABRIL 2022
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Técnicas Gastronômicas Le Cordon Bleu
Com mais de 120 anos de experiência no ensino da Gastronomia, o Le Cordon Bleu é líder mundial com sua rede de Institutos de Ensino da Arte Culinária e Administração da Hospitalidade. Oferecendo uma ampla gama de cursos de grande prestígio como: Cuisine, Pâtisserie, Boulangerie e diversos cursos de curta duração disponíveis nas unidades de São Paulo e Rio de Janeiro. A rede de 35 escolas em 20 países gradua mais de 20 mil estudantes por ano. O Le Cordon Bleu também se orgulha das suas instalações de última geração e da sua dedicação em manter seus cursos sempre atualizados com a mais recentes tecnologias, viabilizando a colocação dos seus alunos no Mercado. Estamos felizes em compartilhar nossas receitas utilizando as técnicas clássicas e modernas ensinadas nas nossas escolas.
. . . . . . . . . . . . . . . . Ing re d i e nte s . . . . . . . . . . . . ........
A receita do Le Cordon Bleu apresentada nesta edição é:
1. Aquecer o creme de leite, leite, cumaru, raspas de limão até ferver. 2. Verter o líquido quente sobre a mistura de ovo, gemas e açúcar. 3. Peneirar a mistura. 4. Assar em banho maria em forno a 150°C por aproximadamente 20-30 minutos
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125 g de creme de leite 15 g de leite 1/3 de unidade de cumaru ½ raspa de limão tahiti 1 ovo 2 gemas de ovo 35 g de açúcar de confeiteiro
. . . . . . . . . . . Progressão da Receita. . . . . . . . . . ........
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. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Sobre o autor
Chef Patrick Martin - Executive & Technical Director Le Cordon Bleu Anima
. . . ................. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . PALAVRAS-CHAVE - Leite. Açúcar. Ovos KEYWORDS – Milk. Sugar. Eggs
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. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ........ RECEBIDO: 10/2/2022 – APROVADO: 10/3/2022
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“L’École de la Pâtisserie” - Le Cordon Bleu® institute - Larousse.
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