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Conservadoras, russas acham que feminismo é ideologia pró-ocidental
ÁSIA / EUROPA
Ativistas dizem que a maioria das mulheres ainda prefere as atividades domésticas e vê com suspeição a luta pela igualdade de gênero, mas o movimento começa a crescer em grandes cidades.
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Por Beatriz Bari e Bruna Berti
Na Rússia, em pleno século 21, o lugar das mulheres ainda é em casa, mesmo que o país tenha sido um dos pioneiros a aprovar o voto feminino, em 1918, e que, durante o comunismo, as mulheres tivessem igualdade no mercado de trabalho, A pesquisa mais recente realizada pelo Centro Levada, é de 2013, e mostra que a Rússia ainda é um país extremamente conservador: 78% das mulheres e homens russos acreditam que a mulher deve se limitar a vida doméstica. Em 2017, uma lei aprovada pelo presidente Vladimir Putin causou indignação entre grupos defensores da igualdade de gênero, permitindo a violência doméstica que não gere lesões. Daria Zhuk, jornalista da emissora de televisão Independent Rain (Dozhd) explicou a “Olhares do Mundo” que a maioria das jovens russas sonha em casar e construir uma família antes de começar a pensar em carreira. “O movimento feminista na Rússia não é tão popular, desenvolvido e forte. Temos algumas mulheres que realmente lutam por nossos direitos, mas suas ações são consideras pró-ocidentais (pró-americanas e pró-europeia).”
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Os homens, segundo ela, também são criados de forma muito conservadora. “ Eles são filhos de sua sociedade e sua cultura e, a partir do momento em que até os filmes nacionais demonstram todo o conservadorismo do país, torna-se difícil viver de outra maneira”, lamenta. A jornalista critica a proteção legal dada aos homens que maltratem as mulheres. “É uma lei maluca e horrível. Eu não consigo entender isso! Eu acho que não é possível ter esse tipo de leis no mundo moderno.” Na última década, alguns grupos feministas ganharam destaque em sua luta pelos direitos da mulher, mas ainda são pequenos e restritos as grandes cidades. “Nosso país é conservador e ortodoxo, e este movimento existe apenas nas grandes cidades, como em Moscou e São Petersburgo, mas a maioria das pessoas nas pequenas cidades e aldeias russas vive de maneira mais patriarcal”, afirma Daria. Aleksandra Vyuzhnaya, professora de Relações Internacionais da Samara University, no sudoeste do país, diz que, apesar da globalização e do maior contato com as culturas ocidentais, a mulher russa não tem consciência da importância da luta feminista . “Eu acho que o conceito de feminismo está longe da maioria das mulheres daqui. É um comportamento incomum para a mulher na Rússia baseado em nossas tradições e educação em família”, diz Aleksandra Vyuzhnaya em entrevista via Whatsapp. O grupo punk rock feminista “Pussy Riot”, famoso por suas ações radicais, virou notícia internacional quando protestou contra Putin cantando uma “oração punk” no altar da catedral de Cristo Salvador, em Moscou. As três manifestantes pediam que a Virgem Maria “livra-se a Rússia de Putin” e foram sentenciadas a dois anos de prisão por vandalismo motivado por ódio religioso. Durante Copa de 2018, o grupo voltou ao noticiário quando quatro ativistas vestidas como policiais invadiram a partida final para novamente denunciar o autoritarismo de Putin e suas políticas machistas. Para Aleksandra, a emancipação feminina na Rússia só vai ocorrer quando as mulheres começarem a se importar mais com suas carreiras. Mas Daria já consegue observar algumas mudanças “Hoje temos mais e mais homens que começam a pensar em parceria e igualdade de direitos. Espero que nossa sociedade pense mais sobre o problema das mulheres e realmente mude alguma coisa”. Moradora no país há quase seis anos, a
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brasileira Cauana Cristina de Souza, estudante de medicina na Universidade Estatal de Kursk, sente o machismo no dia a dia. “Na faculdade ainda há muitos professores que acreditam que as mulheres não precisam aprender tanto quanto os homens”, conta. “Acho que, às vezes, as mulheres não pensam em si mesmas e não querem mudar essa situação. Estão na sua zona de conforto.” Gabriela Martins, que passou um mês na Rússia durante os jogos, se espantou com diversas atitudes dos homens – até mesmo de policiais – e ainda mais com o desprezo da situação pelas mulheres: “Um russo pediu para trocar a camiseta da seleção pela minha do Brasil, pois queria me ver sem a camiseta. Foi assim mesmo que ele falou, com a maior naturalidade.” Cauana se sente, no entanto, mais segura em Kursk, a 500 km ao sul de Moscou, que no Brasil. “Lá eu tenho medo de um homem mexer comigo e realmente acontecer algo a mais, como um estupro, mas a Rússia é mais segura. Apesar do abuso ser absurdo, você sabe que os homens vão mexer com você na rua ou vão te inferiorizar, mas não vão te tocar sem sua permissão”.
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