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Em meio à crise política e econômica, porto-riquenhos falam em independência
AMÉRICA
A ilha caribenha vive como colônia dos EUA, mas anseia por autonomia, principalmente após os comentários preconceituosos de Trump sobre latino-americanos.
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Por Gabriela Cunha, Larissa Guiguer, Luana Figueiredo e Victoria Claramunt
Achegada de Donald Trump à Casa Branca e os constantes ataques do líder americano aos imigrantes latinos aumentou o mal-estar na população de Porto Rico, território depende dos EUA com 3,5 milhões de habitantes e status de estado livre associado. Os apelos pró-independência vêm crescendo em meio à crise política e econômica que assola a ilha caribenha. Recentemente, mais de um milhão de porto-riquenhos foram às ruas para pedir a renúncia de Ricardo Rosselló, que governou Porto Rico em 2017 a 2019 e foi acusado de trocar com seus assessores mensagens racistas e homofóbicas contra seu próprio povo. O mandatário renunciou em julho e foi substituído pela ex- secretária de Justiça Wanda Vasquez.
“Não somos um estado e muito menos somos livres. Somos uma colônia”, lamentou Itxamarie Jimenez, cidadã porto-riquenha, que participou dos protestos contra Rosselló. “Porto Rico vive em total dependência de um país opressor. Embora o mundo tenha uma
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visão distorcida sobre a vivência de seus habitantes e acredite que o país viva com estabilidade, a realidade é bastante diferente. Há muita injustiça, pobreza e falta de educação de qualidade na ilha”, comentou a estudante de pedagogia na Universidade Pública de Porto Rico, única universidade pública do país. Hiraida Velez, estudante de psicologia na mesma universidade, também foi às ruas. Além de protestar contra a postura preconceituosa de Rosselló, reclamou do aumento de 115% o custo da matrícula. “Há dois semestres, paguei US$58 e neste semestre paguei US$125. Não tinha pago pela minha educação antes, mas agora tenho de pagar. Não acho justo pagar para estudar em uma universidade pública”, comenta a estudante. O descontentamento tem gerado também apelos por mudanças em artigos na imprensa. “Sem dúvida, há muitos grupos que expressaram suas diversas posturas em relação à esperança de mudança. Muitos acreditam que a independência é a solução”, confirma Laura González, jornalista do “El Vocero”, jornal diário de San Juan, a capital. Milagros Bauzá, professora de história na Universidade de Porto Rico e cidadã portoriquenha, explica que dentro do país existem vários movimentos que acreditam, de formas diferentes, no futuro da colônia. Segundo Bauzá, há três principais movimentos: um quer a separação total dos EUA, a independência; outro quer que o país continue do jeito que está, sendo um Estado Livre Associado; e o terceiro, que se intitula estadista, querem que Porto Rico se torna o 51º estado dos Estados Unidos. Para Itxamarie Jimenez, a situação é muito complicada. Ao mesmo tempo que considera a independência o melhor para a ilha, ela teme pelo futuro. “Desde que os EUA nos invadiram, dependemos economicamente deles, porque não temos liberdade para exportar nossos produtos, nem temos qualquer tipo de contato político, social ou econômico com outros países.” Já Hiraida ressalta que, para o movimento de independência tomar força e ser colocado em prática, é indispensável que a população porto-riquenha tenha consciência dos fatos que levam o país a ser uma colônia. “É preciso ter educação e ter conhecimento da situação para poder agir”, completa a estudante. Segundo analistas locais, a entrada de
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Donald Trump na presidência dos Estados Unidos também prejudicou a vida dos portoriquenhos que tentavam uma vida melhor fora da ilha. As falas preconceituosas do presidente reforçaram uma ideologia racista contra os moradores de Porto Rico, que antes já sofriam por ser um povo dependente dos EUA. Hiraida menciona que aqueles que se mudaram para outros estados dos EUA sentiram o racismo mais forte do que antes. Porto Rico está vinculado à Washington desde 1898, quando a Espanha perdeu a guerra hispano-americano para os Estados Unidos e a ilha ficou sob o controle político de Washington. Em 1952, Porto Rico foi declarado como Estado Livre Associado, significando que, por um lado, os porto-riquenhos têm direito a votar em sua Constituição e eleger seu governador, o direito de um passaporte estadunidense e de usar o dólar como moeda, mas, por outro lado, Porto Rico cede parte de sua soberania aos Estados Unidos, ou seja, grande parte das decisões em questões fiscais, financeiras, políticas e econômicas, bem como as questões de defesa e migração, dependem de Washington. A economia de Porto Rico é um dos pontos cruciais que mantém a ilha estagnada. Atualmente, há um Conselho de Controle Fiscal para pagar a dívida que a ilha tem com os EUA. No entanto, esse pagamento prejudica severamente a população, que sofre com cortes na saúde e na educação. Por mais de 60 anos, a economia de Porto Rico tem sido baseada em incentivos fiscais. Várias empresas estadunidenses, especialmente empresas farmacêuticas, de produtos eletrônicos e roupas, se instalam no país. Elas eram atraídas por dois fatores: os benefícios fiscais oferecidos pelo governo dos Estados Unidos e os baixos custos de mão de obra, por sua vez, o que permitiu os habitantes de Porto Rico atingir um nível médio de riqueza superior ao resto da América Latina. Contudo, em 2005, quando os Estados Unidos decidiram eliminar esse benefício, as empresas começaram a deixar a ilha e a economia de Porto Rico entrou em recessão. Começaram a surgir problemas para pagar pelos serviços, levando o governo a fazer empréstimos cada vez mais, assim, conduzindo o governo porto-riquenho a declarar falência. Isso forçou o governo de Barack Obama, em 2016, aprovar a chamada Lei Promessa, que promete oferecer um caminho para a reestruturação da dívida de Porto Rico, mas que
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desde sua criação não levou a muitas mudanças na economia local. A jornalista Laura González observa que, atualmente, os problemas são crescentes para a população. “O mais recente foi o corte de 10% para os aposentados e que recebem pensão. Esses grupos são os mais afetados e vulneráveis ao impor essas medidas para reestruturar a dívida pública neste país”, diz. Além da má administração política, Porto Rico é uma região que sofre com desastres naturais constantes o que prejudica o desenvolvimento da ilha. Furacões não são estranhos no território e diversas tempestades marcaram a história. Ao longo dos anos, os ilhéus desenvolveram respostas e técnicas comunitárias que lhes permitam sobreviver após tempestade. Os furacões Irma e Maria, de 2017, estão entre os mais catastróficos e não houve planos para lidar com as tragédias e promover a recuperação. O Departamento de Saúde declarou que as autoridades não estavam preparadas para furacões de categoria 1. A infraestrutura e serviços básicos levaram meses para serem restaurados. Donald Trump foi criticado e acusado por políticos locais de ter demorado a conceder ajuda federal a Porto Rico, em comparação com a rapidez que chegou em Flórida e Texas, após os furacões Harvey e Irma. Isso aumentou a insatisfação local.
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