Opiniões
jun-ago 2007
Visão Estratégica
Nelson Barboza Leite
Nelson Barboza
Gerente do Programa Nacional de Florestas do Ministério do Meio Ambiente Brasil: uma potência florestal emergente As mudanças que estão se processando no cenário florestal brasileiro poderão refletir diretamente num rearranjo do mercado internacional de produtos florestais. Embora com uma participação ainda insignificante, menos de 4%, num mercado mundial de mais de US$ 800 bilhões/ano, os sinais de novos tempos mostram-se bastante alentadores. Lideramos a produção de celulose de fibras curtas, originadas dos plantios de eucalipto e detemos a melhor tecnologia na formação de florestas plantadas. Estamos crescendo contínua e progressivamente no mercado moveleiro, MDF, aglomerados e outros derivados, principalmente com pinus e, progressivamente, com eucalipto. Temos a maior e mais rica floresta tropical do mundo. E já estão sendo tomadas as decisões estratégicas e inéditas para que a sociedade brasileira possa se beneficiar dessa riqueza natural, até então, à margem de qualquer processo de desenvolvimento. E não param por aí os sinais de bons ventos: as nossas vantagens comparativas e competitivas de florestas plantadas estão se acentuando. Nossas florestas produzem em 7 anos, o que nossos concorrentes produzem em 50 e, nos últimos anos, duplicamos nossos programas de plantio. Saímos de 320.000 ha/ano em 2003, para 630.000 ha em 2006 e ainda temos um grande estoque de áreas em condições de aproveitamento. Essa produção de madeira, com qualidade e custos competitivos, poderá alavancar um extraordinário aumento na capacidade produtiva industrial. Diversos trabalhos técnicos e experientes profissionais afirmam, categoricamente, que nenhum país do mundo tem condições de produzir tanta matéria-prima em prazo tão curto como o Brasil. E ainda mais, temos condições de produzir madeira sem competir em áreas com a produção de alimentos, sem destruir florestas nativas e de acordo com os rigorosos sistemas de certificação. Temos mão-de-obra preparada, com tecnologia e empresas de comprovada capacidade empreendedora.
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Dados setoriais mostram que só o aproveitamento de parte das áreas improdutivas dos pequenos produtores existentes no entorno das indústrias já instaladas, se usadas, através de programas de fomento florestal, produziria o suficiente para duplicar a capacidade das indústrias brasileiras. E o importante é que essa parceria já está sendo incorporada às políticas de expansão florestal das principais empresas. E tudo feito de forma sustentável, sem nenhuma agressão ao meio ambiente e perfeitamente integrado às demandas sociais. Temos também uma diversidade enorme de espécies nativas, com alto potencial de crescimento a ser explorado. Espera-se que, em prazo bem curto, tenhamos conhecimentos silviculturais suficientes, que permitam o uso dessas espécies nativas em grandes empreendimentos. Em síntese, a atividade silvicultural brasileira é imbatível e poderá tornar o Brasil um dos principais líderes no mercado internacional de produtos florestais. Essas vantagens tornaram-se conhecidas e indiscutíveis pelo mundo inteiro, e têm despertado interesse cada vez maior em indústrias e investidores internacionais. Essa tendência tem sido percebida, nos últimos anos, em função do aumento significativo de investidores nacionais e internacionais procurando formar e adquirir ativos florestais. São sinais concretos de que a silvicultura brasileira está caminhando para um novo patamar de crescimento. Esse crescimento extraordinário na capacidade de produção de madeira, indubitavelmente, deverá ser acompanhado de conseqüente aumento de novas
plantas industriais, deslocando o eixo da produção internacional de celulose e de outros produtos florestais para o hemisfério sul, focado no Brasil. Alia-se a essa conjuntura florestal favorável, o avanço tecnológico alcançado nos processos industriais das várias cadeias produtivas e a disposição do Governo Brasileiro em investir em infra-estrutura, estradas, ferrovias, portos, enfim, na logística indispensável para manter o nível de compe-titividade da indústria brasileira. No entanto, para que esse contexto promissor transforme-se em realidade consolidada, algumas medidas governamentais tornam-se imprescindíveis, como: a definição de regras claras para expansão do programa florestal a longo prazo; criação de pólos florestais e investimentos assegurados para desenvolvimento de infra-estrutura; linhas de financiamentos compatíveis com a atividade florestal e industrial; harmonização das legislações federal e estaduais e políticas públicas que demonstrem a