Opiniões
jun-ago 2007
Visão dos Produtores
Máximo Pacheco
Presidente da International Paper do Brasil
Máximo Pacheco
A transformação da IP no Brasil A indústria de papel e celulose, no mundo, é um dos negócios que exige maior capital intensivo, necessitando de grandes aportes financeiros e eficientes aplicações dos investimentos. Um bom exemplo disso é a construção de uma nova fábrica de celulose, com tecnologia state-of-the-art, que exige investimentos acima de US$ 1,2 bilhão. Nos últimos 15 anos, principalmente nos Estados Unidos e Europa Ocidental, esta indústria não conseguiu gerar aos seus acionistas um retorno equivalente ao custo de capital, devido a uma combinação de queda nos preços, resultado de um dese-quilíbrio entre oferta e demanda, e aumento de custos de produção, tais como, energia, químicos e transportes, gerando um retorno médio sobre o capital empregado de 4%. Adicionalmente, a indústria de papel e celulose é grande financiadora de capital de giro, principalmente em face da longa cadeia de distribuição. Desde 2000, a principal estratégia global para reverter tal cenário tem sido buscar a consolidação do setor, por meio de aquisições, fusões e joint ventures, sendo que até o terceiro trimestre de 2006 foram formalizados 374 acordos, envolvendo mais de US$ 180 bilhões. Porém, a maioria dos produtores não conseguiu reverter o quadro de baixa rentabilidade, nota-damente devido a não realização das sinergias esperadas e ao alto valor pago, no caso das aquisições. Desta forma, com o objetivo de buscar o crescimento da rentabilidade de forma efetiva e sustentável, os grandes produtores mundiais têm migrado a estratégia de seus negócios de uma plataforma diversificada de produtos florestais para uma plataforma focada em negócios competitivos. Neste sentido, tem se notado que os grandes produtores mundiais estão tomando algumas ações que incluem: 1) a redução da capacidade de produção em mercados estagnados ou retraídos, onde os custos de produção têm se mostrado muito altos. A IP nos Estados Unidos, por exemplo,
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entre os anos de 2000 e 2007, retirou do sistema produtivo cerca de 1,7 milhão de toneladas de papel branco não revestido; e 2) a realização de investimentos em regiões que apresentam vantagens competitivas e em mercados com amplo potencial de crescimento, destacando-se aí as economias emergentes, como Brasil, Rússia, Índia e China - BRIC. Atualmente, o Brasil é considerado o maior produtor mundial de celulose branqueada de fibra curta - BHKP, e tem atraído investimentos de grandes produtores. A principal vantagem observada é o baixo custo para o cultivo de eucaliptos, em conseqüência da ótima adaptação da espécie ao clima e solo brasileiros. Além disto, o país possui tecnologia inovadora nesta área, resultado do desenvolvimento de clones de mudas de eucalipto com alto rendimento e baixa taxa de lignina, bem como excelência opera-cional e de gestão. No que se refere aos consumidores da celulose brasileira, destacam-se os mercados europeu, norte-americano e
chinês, sendo este último o que apresenta a maior taxa de crescimento e será, dentro de poucos anos, com certeza, o principal alvo das exportações brasileiras. Quanto ao mercado de papel, em especial, o papel branco não revestido - foco dos negócios da International Paper - o Brasil ainda é visto, notada-mente, como um fornecedor para a América Latina (excluindo o México). O mercado latino-americano tem crescido a taxas consideráveis, principalmente por seu consumo per capita ser muito inferior àquele observado nos países desenvolvidos. Dentre os principais fatores relacionados a tal crescimento estão o fortalecimento e a estabilidade econômica, aliados ao aumento do nível de renda da população, melhora do nível de alfabetização e ampliação das vendas de computadores. Tomando em consideração o contexto acima exposto, a International Paper, desde junho de 2005, executa um plano de transformação global, que altera significativamente a estratégia da companhia, não somente no Brasil, mas no mundo todo. Referido plano tem como principal pilar a concentração das atividades da companhia em duas áreas específicas, a produção e venda de papel branco não revestido e embalagens.